O DISCÍPULO VERDADEIRO

Este artigo é uma tentativa de apresentar alguns, princípios do discipulado do Novo Testamento. Alguns de nós tendo visto esses princípios durante anos na Palavra de Deus, por alguma razão, concluímos que eram exagerados e impraticáveis para a época complicada em que vivemos. Entregamo-nos, portento, à frieza de nosso ambiente espiritual. 
 
Encontamo-nos, depois, com um um grupo de jovens crentes resolvidos a demonstrar que os termos do discipulado do Salvador não somente são praticáveis, como são os únicos têrmos capazes de evangelizar o mundo. 
 
Reconhecemos a nossa dívida a êsses jovens por serem exemplos vivos das verdades aqui apresentadas. 
 
Apesar dessas verdades estarem, pelo menos em perte, ainda aquém de nossa experiência pessoal, apresentamo-las como as aspirações de nosso coração. 
 
William MacDonald 
 
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AS CONDIÇÕES PARA SER UM DISCÍPULO 
 
Cristianismo verdadeiro é um compromisso sem reservas ao Senhor Jesus Cristo. 
 
O Salvador não está procurando pessoas que Lhe deem o tempo que Lhes sobra. Procura, porém, aquelas que Lhe deem o primeiro lugar em suas vidas. 
 
"Ele procura hoje, como sempre, não as multidões andando vagamente no Seu caminho, mas indivíduos cuja dedicação e fidelidade terão início logo após terem reconhecido que Jesus Cristo está à procura daqueles que estão preparados para andar num caminho de renúncia de si próprios, o qual ele também trilhou" (H. A. Evan Hopkins). 
 
Nada menos que urna rendição incondicional deve ser a resposta adequada ao Seu sacrifício na cruz do Calvário. 
 
Amor tão sublime, tão divino, nunca poderia satisfazer-se com menos do que nossas vidas, nossas almas, tudo quanto temos. 
 
O Senhor Jesus deu ordens bem rigorosas àqueles que seriam Seus discípulos - ordens que quase não se observam nesta época d'e vida suntuosa. Com muita frequência consideramos o cristianismo - como um escape do inferno e uma garantia para alcançar o céu. Além disso, achamos que temos todo o direito de gozar o melhor que esta vida tem para oferecer. Sabemos que há, na Bíblia, aqueles versículos claros sobre o discipulado, mas temos dificuldade em concilia-los com as nossas ideias sobre como o cristianismo deveria ser. 
 
Podemos aceitar o fato de que soldados deem as suas vidas por razões patrióticas. Não achamos esquisito que comunistas deem as suas vidas por motivos políticos. Mas, que "sangue, suor e lágrimas" devam caracterizar a vida de um seguidor de Cristo, por uma razão qualquer, parece remoto e difícil de entendermos. 
 
E, ainda assim, as palavras do Senhor Jesus são suficientemente claras. Não há lugar para enganos se as aceitarmos com o seu próprio valor. Eis aqui as condições para que se possa ser um discípulo, como elas foram dadas pelo Salvador do Mundo: 
 
1) UM AMOR SUPREMO POR JESUS CRISTO  
 
"Se alguém vem a Mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo" (Lucas 14:26). Isso não quer dizer que devemos guardar animosidade ou hostilidade em nossos corações contra nossos parentes; quer dizer que nosso amor para com Cristo deve ser tão grande que todos os outros amores sejam ódio quando comparados com o amor que Lhe devotamos. A frase mais difícil nesse trecho é "e ainda a sua própria vida". O amor próprio é um dos maiores obstáculos para ser um discípulo. Somente quando estivermos prontos a sacrificar até mesmo as nossas próprias vidas por Cristo é que estaremos no lugar onde Ele nos quer. 
 
2) UMA NEGAÇÃO DE SI PRÓPRIO 
 
"Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue ... " (Mateus 16:24). Negação de si mesmo não é o ato de abster-se de certos alimentos, prazeres ou possessões, mas, uma submissão tão completa ao domínio de Cristo, que a vontade própria não tenha qualquer autoridade ou direito. Significa que o "ego" abdica ao trono. Isso é expresso nas palavras de Henry Martyn: 
 
"Senhor, não permitas que eu tenha vontade própria ou que considere a minha verdadeira felicidade como dependente, mesmo no menor grau, de qualquer coisa que possa acontecer externamente, mas que ela consista em fazer totalmente a Tua vontade". 
 
"Príncipe divino, glorioso Vencedor, Toma nas Tuas estas mãos submissas, Servas felizes do trono do Salvador; Minha vontade é só a Tua". (H. G. C. Moule) 
 
3) UMA ESCOLHA INTENCIONAL DA CRUZ 
 
"Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, torne a Sua cruz ... " (Mateus 16:24). A cruz não é uma enfermidade física, nem uma angústia mental; essas coisas são comuns a todos os homens. O caminho da cruz é um caminho escolhido intencionalmente. 
 
''É um caminho que, aos olhos do mundo, torna-se desonroso e cheio de afrontas" (C. A. Coates). 
 
A cruz simboliza a vergonha, a perseguição e o abuso do mundo para com o Filho de Deus e que se manifestará a todos aqueles que ficarem firmes contra a correnteza. 
 
Qualquer crente pode evitar a cruz, conformando-se com o mundo e seus prazeres. 
 
4) UMA VIDA GASTA EM SEGUIR A CRISTO 
 
"Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me" (Mateus 16:24). Para entendermos isto, é necessário tão somente perguntarmo-nos: "O que caracterizou a vida do Senhor Jesus?". Foi uma vida de obediência à vontade de Deus. Foi uma vida vivida no poder do Espírito Santo. Foi uma vida de altruísmo. Foi uma vida de paciência e longanimidade, mesmo enfrentando as maiores injustiças. Foi uma vida de zelo, de entrega, de domínio próprio, de mansidão, de bondade, de fidelidade, de devoção (Gálatas 5:22,23). Para sermos Seus discípulos; temos que andar como Ele andou. Temos que demonstrar os mesmos frutos que Ele demonstrou (João 15:8). 
 
5) UM AMOR FERVOROSO A TODOS OS QUE PERTENCEM A CRISTO
 
"Nisto conhecerão todos que sais Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (João 13: 35 ). Este é o amor que estima os outros mais do que a si próprio. É o amor que cobre uma multidão de pecados. Esse é o amor que é paciente e benigno; que não se ufana, trem se ensoberbece; que não se conduz inconvenientemente, não procura seus próprios interesses, não se ressente do mal, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Coríntios 13:4-7). Sem esse amor o discipulado seria um frio ascetismo legalista. 
 
6) UMA CONTINUAÇÃO CONSTANTE NA SUA PALAVRA
 
"Se vós permanecerdes na Minha Palavra. sois verdadeiramente Meus discípulos" (João 8:31). Para um discipulado verdadeiro há necessidade de haver continuação. É fácil começar bem, com entusiasmo e disposição; mas a prova real do discipulado é a permanência até o fim. Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus (Lucas 9:62). Obediência esporádica às Escrituras não serve. Cristo quer que pessoas O sigam em constante e incondicional obediência. 
 
"Não permitas que eu volte. 
 
Os cabos de meu arado estão molhados de lágrimas, 
 
As relhas se estragam com ferrugem, mas, mesmo assim
 
Meu Deus, não permitas que eu volte!" 
 
7) UMA RENÚNCIA DE TUDO PARA SEGUI-LO 
 
"Assim. pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo" (Lucas 14: 33). Talvez seja esta a condição menos popular em toda a Bíblia. Teólogos espertos podem dar mil razões pelas quais este versículo não quererá dizer o que realmente diz; porém, discípulos simples o tomam zelosamente, certos de que o Senhor Jesus sabia o que estava dizendo. Que quer dizer renunciar a tudo? Quer dizer um abandono de todas as possessões materiais que não são inteiramente necessárias e que podem ser úteis na expansão do Evangelho, O homem que renuncia a tudo não se torna um vadio desamparado, mas trabalha para suprir as necessidades presentes' de sua família e de si mesmo. Desde que a paixão de sua vida é o engrandecimento da causa de Cristo, ele investe tudo o que esteja além das necessidades presentes na obra do Senhor e deixa o futuro nas mãos de Deus. Buscando primeiro o reino de Deus e Sua justiça, ele acredita que nunca lhe faltará nem alimento nem roupa. Ele não pode, conscienciosamente, guardar reservas monetárias em excesso, enquanto almas perecem por falta do Evangelho. Ele não quer gastar a sua vida acumulando riquezas na terra. Renunciando a tudo, ele oferece o que não pode guardar de jeito nenhum, e o que já deixou de amar. 
 
Estas são as sete condições para o discipulado cristão. 
 
São claras e inequívocas. O autor reconhece que, no ato de apresentá-Ias, ele se condena como um servo inútil. Será, entretanto, suprimida para sempre a verdade de Deus por causa do fracasso de Seu povo? Não é verdade que a mensagem é sempre maior que o mensageiro? Não é correto que seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso? Deveríamos dizer como um velho e ilustre senhor: 
 
"A Tua vontade seja feita, mesmo na minha própria queda". 
 
Confessando nossos próprios fracassos, reconheçamos corajosamente os direitos de Cristo sabre nós e procuremos ser, daqui por diante, discípulos verdadeiros do nosso Mestre glorioso. 
 
"Meu Mestre, guia-me à Tua porta: Fura esta orelha mais uma vez, Teus laços são liberdade; permite' que eu fique 
 
Contigo a trabalhar, suportar e obedecer". 
 
(Leia-se Êxodo 21: 1-6).  H. C. G. Moule 
 
RENUNCIANDO A TUDO 
 
"Assim, pois, todo aquele que dentre vós 'não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo" (Lucas 14:33) 
 
Para ser discípulo do Senhor Jesus, é necessário renunciar a tudo. Este é o significado inconfundível das palavras do Salvador. Não importa o quanto nós possamos reclamar contra uma exigência tão extrema; não importa o quanto nós possamos nos rebelar contra uma política tão "impossível" e "imprudente": o fato é que esta é a Palavra do Senhor e o seu significado não muda. 
 
Ao começarmos a estudar estas palavras, devemos enfrentar estas verdades inflexíveis: 
 
a) O Senhor Jesus não faz essa exigência a uma certa classe especial de obreiros cristãos. Jesus disse: "Todo aquele que dentre vós ... " 
 
b) Ele não disse que temos simplesmente que estar dispostos a renunciar a tudo. Jesus disse: "Todo aquele que dentre vós não renuncia ... " 
 
Ele não disse que temos somente que renunciar à uma parte. Jesus disse: "Todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto tem ... " 
 
Ele não disse que uma forma cômoda de discipulado seria possível para o homem apegado às riquezas. Jesus disse: " ... não pode ser Meu discípulo". 
 
Realmente, não devemos ficar surpreendidos com essa exigência tão restrita como se fôsse a única referida na Bíblia. 
 
Jesus também disse: "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu" (Mateus 6: 19,20). 
 
É como Wesley, com toda, razão, afirmou: 
 
"Ajuntar tesouros na terra é tão claramente proibido quanto o adultério ou o homicídio". 
 
Disse também Jesus: "Vendei os vossos bens e dai esmola" (Lucas 12:33). Jesus instruiu o jovem rico, dizendo-lhe: "Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me" (Lucas 18:22). 
 
Se isto não significa exatamente o que Ele disse, o que é então que Jesus queria dizer? 
 
Não é verdade que os crentes, na Igreja Primitiva, "vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade"? 
 
(Atos 2:45). 
 
E não é verdade que nos tempos passados muitos homens e mulheres querendo seguir a Jesus deixaram tudo, literalmente? 
 
Anthony Norris Groves e sua esposa, missionários pioneiros em Bagdá, convenceram-se de que não mais podiam os nossos corações descrentes nos dizem que seria impossível aplicar literalmente as palavras do Senhor, Se renunciássemos a tudo, morreríamos de fome. Afinal de contas, temos que tomar providências para o nosso futuro e o futuro de nossos queridos. Se cada cristão renunciasse a tudo, então, quem financiaria a obra do Senhor? Se não houvesse alguns ricos, como seria a classe social mais elevada atingida pelo Evangelho? Assim, pois, os argumentos vêm, uns após outros, todos para provar que o Senhor Jesus falou figuradamente. 
 
O fato é que, a obediência ao mandamento do Senhor é a vida mais sadia, mais razoável e que dá maior gozo, O testemunho das Escrituras e das experiências testifica que, para aquele que se sacrifica por Cristo, jamais faltará o suficiente. Quando um homem obedece a Deus, o Senhor Se responsabiliza por ele. 
 
O homem que renuncia a tudo para seguir a Cristo não é um indigente desamparado, esperando que seus irmãos supram suas necessidades. Antes: "ajuntar tesouros na terra", mas que deviam dedicar o total de uma renda considerável à obra do Senhor. As convicções de Groves sôbre êste assunto são apresentadas no folheto Christian Devotedriess (Devoção Cristã). 
 
Sabe-se que C. T. Studd: 
 
"resolveu dar toda a sua fortuna a Cristo, aproveitando a oportunidade que lhe foi oferecida: fazer o que o jovem rico não havia feito. Foi uma simples obediência às frases claras da Palavra de Deus. Depois de distribuir milhares de dólares para a obra do Senhor, reservou, ao casar-se, 9.588 dólares para a sua esposa, Mas, ela não permitiu que o marido fizesse mais do que ela. "Charlie", perguntou-lhe", o que foi que o Senhor mandou o moço rico fazer?". "Vende tudo", respondeu ele, "Então", disse ela, "começaremos' assim nossa vida conjugal, com tudo em dia com o Senhor". E o dinheiro foi para a Sua obra". 
 
O mesmo espírito de dedicação animava Jim Elliot. 
 
Ele escreveu em seu diário: 
 
"Pai, permite que eu seja fraco, para que perca todo o meu apego a tudo quanto é temporal: Minha vida, minha reputação, minhas possessões. Senhor, que eu perca a tensão da mão ávida. Até mesmo, Pai, perderia o prazer de acariciar. Quantas vezes já soltei algo, mas na realidade, retinha o que apreciava por meio de "saudades inocentes". Antes, abre a minha mão para receber os cravos do Calvário como a mão de Cristo foi aberta para que eu, soltando tudo, possa ser libertado de tudo que agora me prende. ~le não teve por usurpação ser igual a Deus. Que eu perca a minha vontade de reter". 
 
Ele é laborioso. Trabalha diligentemente para suprir as necessidades presentes dêle mesmo e de sua família. 
 
Ele é frugal. Vive o mais economicamente possível para que tudo, além das necessidades presentes, 
 
possa ser dado à obra do Senhor. 
 
Ele é previdente. Em vez de acumular riquezas na terra, ele as acumula nos céus. 
 
Ele confia a Deus o seu futuro. Em vez de empregar a melhor parte de Sua vida providenciando segurança para sua velhice, ele dá o seu melhor ao trabalho de Cristo e confia a Ele o seu futuro. Ele crê que, buscando primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, nunca lhe faltará o alimento ou a roupa (Mateus 6:33). 
 
Para ele, é irracional acumular riquezas aqui na terra. 
 
Ele argumentaria da seguinte forma: 
 
  • a) Como podemos nós, conscienciosamente, ajuntar reservas monetárias quando esse dinheiro poderia ser usado agora para a salvação de almas? "Aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?" (I João 3: 17).  "Consideremos também o importante mandamento "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico 19: 18).Podemos realmente dizer que amamos o nosso próximo como a nós mesmos, se o deixamos morrer de fome quando temos o suficiente e de sobra? Eu poderia fazer um apelo àqueles que já experimentaram o gozo de conhecer o Dom inefável de Deus e perguntar: "Vocês trocariam esse conhecimento por cem mundos? Portanto, não retenhamos os meios pelos quais outros podem obter esse conhecimento santificador e essa consolação celeste" (A. N. Groves).  
  • b) Se realmente cremos que a Vinda de Cristo é iminente, então queremos usar nosso dinheiro imediatamente para a Sua causa, ou então nos arriscamos a que o dinheiro caia nas mãos do diabo, dinheiro êsse que poderia ter sido usado para bênçãos eternas! 
  • c) Como podemos nós, conscienciosamente, Senhor pedindo que forneça as finanças obras cristãs, quando nós mesmos temos orar ao para as dinheiro que não estarmos dispostos a dar para tal fim? Renunciando a tudo, por Cristo, nós nos salvaguardamos da hipocrisia na oração. Como podemos ensinar a Palavra de Deus aos outros, se há verdades, como essa, que não obedecemos? Em tal caso, as nossas vidas fechariam nossos lábios. 
  • d) Homens espertos deste mundo ajuntam reservas abundantes para o futuro. Este não é o andar por fé, mas por aquilo que vemos. O cristão é chamado para uma vida de dependência total de Deus. Se está ajuntando tesouros na terra, de que forma ele é diferente do homem do mundo? O argumento frequentemente ouvido é que temos que providenciar para as necessidades futuras de nossas famílias; serrão, somos piores do que os descrentes. Para este ponto de vista, são usados os dois seguintes versículos: ''Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos" (2 Corintios 12: 14) e "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8). Um estudo cuidadoso desses versículos mostrará que tratam de NECESSIDADES PRESENTES e não de CONTINGÊNCIAS FUTURAS. 
  • e) No primeiro versículo, Paulo usa de ironia. Ele é o pai e os corintios são seus filhos. Ele não os encarregou de sustentá-la, apesar de, como um servo de Deus, ter todo o direito de assim fazer. Afinal de contas, ele era seu pai na fé e, geralmente, os pais tomam providências para as necessidades dos filhos e não vice-versa. Não é, de maneira nenhuma, uma questão dos pais providenciarem para o futuro de seus filhos. O trecho todo tem relação Com o suprimento das necessidades presentes de Paulo e não, com as suas necessidades futuras. 
Em I Timóteo 5:8, o apóstolo está tratando do cuidado para com as viúvas pobres. Ele insiste em que os parentes são os responsáveis por elas. Se não há parentes, ou se estes não estão cumprindo suas responsabilidades, então é a igreja  local quem deve cuidar delas. Mas, aqui também, o assunto é necessidades presentes e não passives necessidades futuras. 
 
O ideal de Deus é que os membros do corpo de Cristo cuidem das necessidades de seus irmãos em Cristo. "É uma questão de repartir e de repartir igualmente! Que no presente a vossa abundância supra as suas necessidades, para que mais tarde a abundância deles possa suprir as vossas. 
 
Deste modo seremos uns para os outros, conforme as palavras da Escritura: Aquele que colheu muito não teve a mais e o que colheu pouco não teve a menos". (2 Corintios 8: 13-15) 
 
Um cristão que acha que precisa tomar providências para as necessidade futuras, enfrenta o difícil problema de saber de quanto vai precisar. Gasta, portanto, a sua vida em procurar uma fortuna, de quantia indefinida, e sacrifica o privilégio de dar o seu melhor ao Senhor Jesus Cristo. Chega ao fim de uma vida desperdiça da e descobre que as suas necessidades teriam sido supridas se ele tivesse apenas vivido interamente para o Salvador. 
 
Se todos os cristãos tomassem as palavras do Senhor Jesus literalmente, não haveria falta de financiamento na obra do Senhor. O Evangelho sairia com poder e volume aumentados. Se um discípulo em particular estivesse enfrentando uma necessidade, seria o gozo e privilégio de outros discípulos repartirem tudo o que tivesse com o necessitado. 
 
Dizer que há necessidade de cristãos ricos para alcançarem as pessoas mais ricas deste mundo é absurdo. Paulo chegou até a casa de César, estando preso (Filipenses 4:22). 
 
Se obedecemos a Deus, podemos confiar nele para arranjar os meios. 
 
O exemplo do Senhor Jesus Cristo deve ser conclusivo a este respeito. O servo não está acima de seu senhor. 
 
"O servo não deve procurar ser rico e honrado neste mundo, onde seu Mestre foi pobre e desprezado" (George Muller). 
 
"Os sofrimentos de Cristo incluíram pobreza (2 Coríntios 8:9). Logicamente, pobreza não quer dizer sujeira e roupa que não presta, mas sim, a falta de reservas e os meios de ser luxuoso. Uns trinta anos atrás, Andrew Murray observou que o Senhor e Seus apóstolos não podiam ter realizado a obra que lhes foi confiada se não fossem realmente pobres. Aquele que quer levantar alguém precisa descer, como o samaritano, pois a maioria infinita da raça humana sempre tem sido e ainda é pobre" (A. N. Groves). 
 
Diz-se que há certas possessões materiais necessárias para a vida do lar. Está certo. 
 
Diz-se que negociantes cristãos precisam de um certo capital para continuar um negócio. Está certo. 
 
Diz-se que há posses, como um automóvel, que podem ser usadas para a glória de Deus. Também está certo. 
 
Mas, além destas necessidades legítimas, o cristão deve viver frugal e sacrificadamente para a causa do Evangelho. 
 
"O seu lema deve ser: Trabalhar bastante, consumir pouco, dar muito e tudo para Cristo" (A. N. Groves). 
 
Cada um de nós tem responsabilidade perante Deus, com respeito à interpretação de renunciar a tudo. Um cristão não pode interpretar para outro; cada um tem que agir de acordo com a sua própria convicção diante de Deus. É um assunto absolutamente pessoal. 
 
Se, como resultado de tal convicção, o Senhor elevar um cristão a um grau de devoção até então desconhecido, mão haverá lugar para orgulho pessoal. Quaisquer sacrifícios que fizermos não serão sacrifícios, quando vistos à luz do Calvário, Além disto tudo, damos ao Senhor apenas aquilo que não podemos guardar de jeito nenhum e o que já cessamos de amar. 
 
"Não é nenhum insensato aquele que dá o que não pode guardar para ganhar o que não pode perder" (Jim Elliot). 
 
EMBARAÇOS AO DISCIPULADO 
 
Qualquer pessoa que quiser seguir a Jesus pode ter a certeza de que lhe aparecerão, escapes, tentando desviá-la de seu intento. Ela terá várias oportunidades para voltar. Outras vozes a chamarão, oferecendo-se para diminuir-lhe alguns centímetros de sua cruz. Doze legiões de anjos estão dispostos a livrá-Ia do caminho de renúncia própria e de sacrifício. 
 
Isto está notavelmente ilustrado na passagem dos três pretendentes ao discipulado que permitiram que outras vozes sobrepujassem a voz de Cristo. 
 
"Indo eles caminho fora, alguém Lhe disse: Seguir-Te-ei para onde quer que fores, Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse Jesus: Segue-Me. Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus insistiu: Deixa a os mortos sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus. Outro Lhe disse: Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para ,trás, é apto para o reino de Deus" (Luc. 9:57-62). 
 
Três homens desconhecidos chegaram-se face a face a Jesus Cristo. Sentiram um impulso dentro de si mesmos para segui-Lo. Entretanto, eles permitiram que alguma coisa permanecesse entre as suas almas e a completa dedicação" a Jesus Cristo. 
 
O SENHOR APRESSADO DEMAIS 
 
O primeiro homem tem sido chamado Sr. Apressado Demais. Ele entusiasticamente se ofereceu para seguir a Jesus em qualquer lugar. "Seguir-Te-ei para onde quer que fores". Não haveria preço alto demais. Não haveria cruz pesada demais. Não haveria caminho difícil demais. 
 
À primeira vista, a resposta do Salvador parece não ter conexão com a oferta, feita com toda a boa vontade, do Sr. Apressado Demais. Jesus disse: "As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça". Realmente, a reposta do Senhor foi bem apropriada. Foi como se tivesse dito: "Você se diz pronto a seguir-Me, onde quer que seja, mas será que está pronto a ficar sem conforto material desta vida? As raposas têm mais do conforto deste mundo do que Eu. As aves têm ninhos que podem chamar seus, mas Eu sou um viajante sem lar no mundo feito por Minhas próprias mãos.
 
Você está pronto a sacrificar a segurança de um lar para Me seguir? Está pronto a deixar os confortos legítimos da vida para que possa Me servir com toda a devoção?" 
 
Evidentemente, não estava pronto, pois não ouvimos mais dele nas Sagradas Escrituras. Seu amor pelas conveniências terrenas era maior do que a sua dedicação a Cristo, 
 
O SENHOR VAGAROSO DEMAIS 
 
O segundo homem tem sido chamado o Sr. Vagaroso Demais. Este não se ofereceu, como o primeiro homem; porém, o Salvador o chamou para ser um seguidor. Sua resposta não foi uma recusa imediata. Estee não estava completamente desinteressado no Senhor. Porém, houve uma coisa que ele quis fazer antes de seguir a Jesus. Esse foi o seu grande pecado. Este colocou seus interesses antes dos direitos Ide Cristo. Note sua resposta: "Permite-me ir primeiro sepultar meu pai". 
 
Ora, é perfeitamente legítimo para um filho mostrar respeito a seus pais. Se um pai morreu, está certamente dentro dos limites da fé cristã que tenha um enterro decente. 
 
Mas as atenções legítimas da vida tornam-se positivamente pecaminosas quando tomam a prioridade sobre os interesses do Senhor Jesus. A ambição real da vida deste homem se expõe em seu pedido: "Permite-me ... primeiro ... " 
 
As. outras palavras ditas foram apenas camuflagem para esconder seu desejo fundamental de colocar-se a si próprio em primeiro lugar. 
 
Aparentemente, ele não compreendeu que as. palavras "senhor, permite-me primeiro" são um absurdo moral e uma impossibilidade. Se Cristo é o Senhor, então Ele tem que ser o primeiro. Se o pronome pessoal "eu" está no trono, Cristo não tem o controle, O Sr. Vagaroso Demais tinha um serviço a fazer e deixou que este serviço ocupasse o primeiro lugar. Foi, portanto, apropriado o que Jesus lhe disse: "Deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega reino de Deus". Poderíamos parafrasear as Suas palavras da seguinte maneira: "Há certas coisas na vida que somente um cristão pode fazer. Veja se não gasta a sua vida fazendo aquilo que um homem não convertido pode fazer tão bem quanto você. Deixe os mortos espirituais enterrarem os mortos físicos. Que a maior motivação de sua vida seja ampliar a Minha causa na terra". 
 
Parece que o preço era muito alto para o Sr. Vagaroso. Demais para pagar. Ele passa do palco do tempo a um silêncio anônimo. 
 
Se o primeiro homem mostrou o conforto material como um obstáculo ao discipulado, o segundo, podemos dizer que mostrou um serviço ou uma ocupação como tendo primazia sobre o maior motivo de ser de um cristão. Não é que haja alguma coisa de mal em um emprego secular; a vontade de Deus é que o homem trabalhe para poder suprir as suas necessidades e as de sua família. Mas a vida de um discípulo verdadeiro exige que o reino de Deus e a Sua justiça sejam buscados em primeiro lugar; que o cristão não gaste a sua vida fazendo o que uma pessoa não regenerada poderia fazer tão bem, senão melhor; que a função de um emprego seja apenas suprir as necessidades presentes, enquanto a vocação principal de um cristão deve ser o pregar o reino de Deus. 
 
O SENHOR MOLE DEMAIS 
 
O terceiro homem chama-se Sr. Mole Demais. É parecido com o primeiro quando se oferece ao Senhor para segui-Lo. É parecido com o segundo quando usa aquelas palavras contraditórias: "Senhor, deixa-me... primeiro". Ele disse: "Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa". 
 
Novamente temos que confessar que, em si, não houve nada errado, basicamente, com o seu pedido. Não é contrário com a lei de Deus mostrar um interesse amoroso aos parentes ou observar as regras de etiqueta quando os deixamos. Qual foi, então, o ponto no qual este homem foi reprovado? Foi este: ele permitiu que os laços afáveis da natureza substituíssem o lugar de Cristo. 
 
E assim, com Seu discernimento penetrante, o Senhor Jesus disse: "Ninguém que, tendo pôs to a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus". Em outras palavras: "Meus discípulos não se compõem de u'a matéria egocêntrica e mole, tal como você mostrou ser. Eu quero aqueles que estejam dispostos a renunciar aos laços familiares, que não sejam perturbados por parentes sentimentais, que Me coloquem acima de qualquer outra pessoa em suas vidas". 
 
Somos forçados a concluir que o Sr. Mole Demais deixou Jesus e foi-se embora triste. Suas aspirações demasiadamente seguras de ser um discípulo tinham-se despedaçado nas rochas dos laços agradáveis da família. Talvez fosse sua mãe que em lágrimas dissesse: "Você quebrará o coração de sua mãe se me deixar para ir ao campo missionário."
 
Nós não sabemos. Sabemos apenas que a Bíblia bondosamente não menciona o nome desse homem pusilânime que, por voltar s trás, perdeu a maior oportunidade de sua vida e mereceu o epitáfio: "Não apto para o reino de Deus". 
 
SUMÁRIO 
 
Estes são três dos embaraços principais ao discipulado verdadeiro, ilustrados por três homens que não estavam dispostos a pagar o preço de seu discipulado. 
 
Para o Sr. Apressado Demais era o amor ao confôrto do mundo. 
 
Para o Sr. Vagaroso Demais era a primazia de um emprêgo ou ocupação. 
 
Para o Sr. Mole Demais era a prioridade dos amorosos laços de família. 
 
O Senhor Jesus ainda chama, como sempre tem chamado, homens e mulheres para Seguirem-No heróica e sacrificadamente. 
 
Os caminhos de escape ainda se apresentam com palavras solícitas: "Poupa-te! Longe de ti isto!" 
 
Poucos estão dispostos a responder: 
 
"Jesus, a minha cruz tornei 
Para tudo deixar e a Ti seguir. 
Nu, pobre, desprezado, desamparado, 
Desde já meu tudo serás. 
Pereça cada almejada ambição, 
Tudo que procurei, esperei ou conheci. 
Quão rica é minha condição 
Pois Deus e o céu são meus. 
Permite que o mundo me deixe, me despreze, 
Também o fizeram ao meu Salvador. 
As aparências e os corações humanos me decepcionam
Porém, falso, como eles, não és.
Enquanto gozo. do Teu favor, 
Deus de amor, poder e sabedoria, 
Os inimigos podem odiar-me e os amigos afastar-se. 
Mostra o Teu rosto e tudo se ilumina". 
(H. F. Lyte). 
 
Por William Macdonald - Abril de 1966

 

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