Fundamentos

Capítulo 1
Ler: Salmos 11:1-7 (Observar verso 3); 1 Cor. 3:11; 2Tim. 2:19
“Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?”
“Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”.
“Todavia o fundamento de Deus permanece firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade”.
 
Em referência a este salmo onze, não podemos estar exatamente certos em relação a quando ele foi escrito, ou, quais eram exatamente os incidentes, ou eventos históricos que deram origem a ele; mas seja lá quando tenha ele sido escrito, claramente foi num tempo de estresse muito severo, quando as circunstâncias estavam muito difíceis, e a posição do salmista, do ponto de vista humano, era muito precária, cheia de perigo, e, como julgava o homem, cheia de iminente desastre.
Era um tempo quando, embora aqueles fundamentos fossem literais, eles foram atacados; os próprios fundamentos tinham ficado sujeitos a um amargo ataque; e de novo, do ponto de vista humano, os fundamentos estavam destruídos; da forma como o homem olhava para as coisas, os fundamentos tinham sido destruídos. Davi estava no centro daquele tumulto com o qual não estamos familiarizados, constituído por coisas totalmente exteriores, que pareciam mostrar que a situação era sem esperança.
Contudo, interiormente havia algo firme, que não concordava com aquilo, simplesmente uma realidade inexplicável e indefinida no coração que em efeito dizia: A coisa não é assim. Devido às aparências e a todas as evidências externas que iriam mostrar que a situação realmente era daquela forma, Davi foi aconselhado a fugir, a abandonar toda a situação, a fim de salvar a sua própria vida; a fugir para a montanha, a se refugiar em algum lugar terreno de segurança.
Uma montanha às vezes parece ser um lugar muito seguro. Mas a coisa não é sempre assim, do ponto de vista espiritual, e aqui está uma daquelas ocasiões quando não importa quão substancial um refúgio, uma montanha, possam parecer, é um lugar de fraqueza se o esconder-se nela for fruto do medo. Eles aconselharam Davi a fugir para a montanha, a se refugiar numa montanha, mas ele recusou o conselho e disse: “No Senhor eu me refugio”.
Concluímos, a partir do salmo 11, e do anterior, que um ímpio, ou que os ímpios ocupavam uma posição e tinham poder. O salmo 10 traz uma meia-dúzia de referências ao ímpio. Seja lá quem fosse ele, ou eles, ocupava um lugar de grande poder e estava ameaçando a herança de Deus, e atacando o próprio fundamento da herança de Deus. Agora, no meio daquilo tudo, uma questão surgia. Uma questão única; e toda a situação é resumida em uma só questão: “Se forem destruídos os fundamentos, o que poderá fazer o justo?” Isto não significa que Davi concordava com a sugestão de que os fundamentos estavam destruídos: embora haja uma nota marginal que torna este verso uma parte do aviso e do conselho de seus amigos medrosos. A nota marginal faz o verso seguir como uma declaração: “Pois os fundamentos estão destruídos”; e, se for assim, “o que poderá fazer o justo?”
Bem, se esta é a forma correta de ler o versículo, então ele exclui a Davi, e mostra que ele não estava envolvido na questão. Mas, se é uma questão na qual Davi entra simplesmente como uma matéria de consideração – pois está perfeitamente claro que ele não se rende a ela – então o verso nos dá uma base muito valiosa para uma consideração muito importante. “Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?” A resposta, naturalmente, é óbvia; há apenas uma resposta: “Nada”.
Se os fundamentos forem destruídos, o justo nada poderá fazer, a situação é absolutamente sem esperança; então o conselho daqueles homens passa a ser um bom conselho. Abandone a situação e arranje algum lugar de segurança terrena, largue tudo, abandone sua visão, pois ela é uma visão falsa, ela não oferece nada. Agora, esta é uma linha ao longo da qual uma consideração deve ser perseguida por um pouquinho mais de tempo. A outra linha está em colocarmos um forte traço debaixo da nota de interrogação. Isto é, ela ainda continua sendo um assunto em questionamento: “Se os fundamentos forem destruídos, que poderá fazer o justo?”
“Se os fundamentos forem destruídos...” Estão eles, afinal de contas, apesar de todas as aparências, estão destruídos? Não importa como as coisas possam parecer estar e o que os homens digam a respeito delas, em relação à situação desesperadora, e em relação ao grande poder e também da traição do ímpio, estão os fundamentos destruídos? Há motivo para se abandonar a visão? Devemos nós tomar o que os homens chamam de curso seguro, e encontrar nós mesmos alguma linha de maior segurança nesta situação tão precária?
Estou muito certo de que aqueles de vocês que estão pensando e olhando com os seus olhos do interior para as coisas como elas estão hoje, já entenderam o significado deste salmo, e deste versículo. Há, sem dúvida alguma, um ataque violento da parte do maligno sobre os fundamentos; os fundamentos da herança de Deus estão terrível, feroz e traiçoeiramente sendo atacados _ pois você observa no salmo os elementos da emboscada associados com a atividade do inimigo, do ímpio. Ele atira no escuro. Ele não vem para um lugar aberto, e ele não respeita as regras da guerra, é um assassino. Ele se esconde. Não dá chance para uma batalha justa. Mantém-se escondido e atira da emboscada, de lugares escuros. E seu antagonismo, sua emboscada é direcionada diretamente contra os próprios fundamentos da vida do povo de Deus.
Agora, há duas maneiras nas quais temos que olhar para esta questão de destruir os fundamentos. Num sentido, e no sentido mais profundo, esta é uma impossibilidade absoluta. É impossível destruir os fundamentos. As outras duas passagens foram colocadas para embasar este aspecto. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. Pode ser Ele destruído? Jamais! Tudo tem sido permitido a fim de provar o seu poder de destruição sobre Ele, toda martelada de amargura e traição satânica tem sido desferida sobre esta bigorna e a bigorna tem quebrado o martelo, e permanece sem qualquer marca: “Contudo o firme fundamento de Deus permanece”. Assim sendo, a partir deste ponto de vista, do ponto de vista verdadeiro, os fundamentos não podem ser destruídos.
Mas há outro ponto de vista a partir do qual isto tem que ser considerado, que se refere a uma destruição virtual do fundamento, não uma destruição real, mas virtual, este ponto de vista se refere a este tipo de destruição em efeito. Quero dizer o seguinte, que o inimigo está tão investido contra os fundamentos, visando à destruição deles, que está fazendo tudo que pode para fazer com que as pessoas coloquem uma superestrutura de profissão, de uma suposta vida cristã, de um suposto relacionamento com Deus sem qualquer fundamento, absolutamente. E isto é uma sabotagem no trem sobre o qual virá grande desastre, porque todos aqueles que fazem isto estão prestes a cair, estão a um pulo do colapso, e, então, irão culpar a Deus. O inimigo irá imediatamente correr para dentro de suas mentes e dizer: Você colocou a sua confiança em Deus; Ele o deixou cair. Neste sentido, os fundamentos estão destruídos, estão anulados. Há muito disso hoje.
Agora, é a partir desses dois pontos de vista que nós, por um momento, temos que olhar para esta primária proposição: ”Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?” Isto significa que bem no início temos que dar atenção muito especial à questão de se ter o fundamento de Deus. Este fundamento se torna impregnável e indestrutível uma vez que seja estabelecido, mas é de importância além de qualquer outra, para você e para mim, termos o fundamento de Deus, e este fundamento verdadeiramente lançado. A situação toda é completamente sem esperança, a menos que se tenha este fundamento.
Estamos rapidamente entrando num período da história deste mundo quando os fundamentos da fé estão para ser submetidos ao teste final. A grande ênfase de Deus hoje está sendo trazida sobre o estado de Seu próprio povo. Ele está focando a Sua atenção sobre o Seu povo. Houve grandes períodos quando toda a Sua atenção estava voltada através de Seu povo para as multidões de não salvos; foram grandes dias de colheita por meio do evangelho. Pode vir, na ordem dos propósitos de Deus, ainda mais ênfase deste tipo, quando novamente Ele irá estender a mão de um modo especial, a fim de reunir as ovelhas perdidas. Ele não está ignorando inteiramente esta obra hoje, e Ele não quer que nós a ignoremos. Mas qualquer um que conheça a atual situação verá que a principal obra de Deus hoje, para qual Ele está se doando, não é pelo ajuntamento de multidões de almas não salvas; mas você realmente descobre que em toda parte há um crescente movimento de Deus em mexer o coração do Seu próprio povo, aumentando a fome, tornando manifesto a fraqueza e a necessidade, e submetendo os cristãos de toda parte ao teste.
Você está enfrentando tempos de prova e teste espiritual? Você está achando mais fácil viver a vida santa hoje do que costumava ser? Se formos honestos em nossos corações, iremos dizer: Não, certamente está mais difícil, e a nossa vida espiritual fica muito raramente fora do fogo. Parece que constantemente somos trazidos ao lugar da prova, e cada prova parece ser mais profunda que a anterior. O Senhor está focado em Seu povo, e o objetivo de tudo é chegar aos fundamentos, e, nesse dia, quando Deus está se focado sobre os fundamentos, o diabo está particularmente preocupado em deixar as pessoas sem fundamentos, e isto explica grandes movimentos de hoje que não têm quaisquer fundamentos.
 Estamos passando rapidamente pelo tempo da última prova do nosso fundamento. A questão para cada um de nós será em relação a se temos o fundamento de Deus adequada e suficientemente colocado como a base para a nossa fé. Temos que ver, obviamente, que fundamentos são esses, mas eu agora apenas chamo a atenção para a necessidade. Uma vida espiritual de superficialidade não irá muito longe. Os ventos de Deus irão soprar e, então, iremos descobrir quão profunda é a nossa raiz. Daí a necessidade de considerarmos a questão dos fundamentos.
Então, por outro lado, o outro ponto de vista: o fundamento uma vez posto, não importando quais sejam as aparências, as circunstâncias, o expoente humano, a opinião do homem, não há motivo para abandonarmos a visão. É exatamente aí que eu quero colocar meu dedo por um ou dois minutos, não pretendendo entrar na natureza do fundamento no momento, mas apenas mostrar o que surge com esta questão.
Há um conselho de desespero hoje sobre condições espirituais, e Davi não era exclusivo nesta questão; todos sabem o que é ter uma sugestão dada a nós: “Você está procurando realizar algo impossível, o seu padrão é um padrão impossível; isto que você tem estabelecido como alvo é impossível. Sua visão é a visão de um idealista, mas é completamente impraticável, impossível de realizar. Veja, olhe para a destruição que o inimigo fez. Sempre que havia alguma coisa que representasse algo extra, algo mais pleno, algo maior, mais profundo, a grandeza de Cristo, sempre que havia algo que apontasse para o propósito final de Deus e que ia para além daquilo que se obtinha em seu dia, então o inimigo fazia uma terrível confusão, atacava e fazia um massacre. A história se repete sucessivamente, e olhe para a confusão que o inimigo tem feito na terra entre o povo do Senhor. Olhe para a situação, para o poder, para a perspicácia e traição do inimigo, e como ele está em posição de poder, quanto ele tem as coisas do seu jeito, quão sem esperança, quão fraco você é diante disso.
Olhe para o estado espiritual do povo do Senhor hoje. A grande maioria deles está sem uma real fome espiritual, estão contentes com a sua religião meramente formal, e até mesmo onde há alguns que estão espiritualmente famintos e honestamente querem andar com Deus, mas, quando são colocados à prova, não pagam o preço. De um modo ou de outro, esta tradição comunicada, esta longa e permanente aceitação, este sistema histórico, tem valor apenas enquanto estão começando a se mover com o Senhor, e, embora tenham mostrado seu desejo, sua vontade de seguir com o Senhor, e tenham real e honestamente pretendido assim fazê-lo, exatamente no instante em que alguns passos são dados, passos que os conduzirão para fora e os levarão com o Senhor, alguns, então, se amedrontam em seu interior pelas conseqüências de seus passos, e isto os faz recuar.
É melhor você abandonar sua visão, é melhor você tomar algum caminho mais baixo. É melhor você encontrar algum lugar de muita segurança, alguma montanha de um curso de coisas mais normal e natural. Você está almejando algo muito alto, a situação é sem esperança, abandone-a!
Suponho que muitos de nós conhecemos algo deste conselho que vem tanto do interior quanto do exterior. O Senhor Jesus experimentou algo parecido. Esta foi a soma total de Sua tentação por quarenta dias e quarenta noites no deserto. Ele tinha entrado num terreno que era o terreno mais alto que este mundo jamais conhecera, e todo o objetivo do inimigo era fazê-Lo descer dali – por sugestão, por traição, por argumento – e descer para um nível mais baixo. Ele dizia: Teu curso é impossível. Há um chão mais seguro debaixo de seus pés do que este.
Toda questão surge diante dos seguintes argumentos: ”Estão os fundamentos destruídos?” Se estão, bem, então, o conselho é bom, seria melhor desistirmos; se não, então não há motivo para abandonarmos a visão. Estão os fundamentos destruídos? Vamos colocar isto de maneira prática. Deus colocou um fundamento? Nós podemos colocar muitos fundamentos e achar que eles não são bons. A questão é: Deus colocou um fundamento? A Palavra nos diz muito claramente que sim. Deus colocou um fundamento sem pretender que uma estrutura fosse construída sobre ele? Certamente isto seria tolice, e quem iria acusar Deus de tolo? Então, se Deus colocou o fundamento e Seu fundamento é indestrutível, logo Ele almeja construir sobre este fundamento, e deseja construir um edifício.
Pode o plano de Deus ser frustrado pelo inimigo? Não, assim como não pode ser destruído o Seu fundamento! Ele alcançará o Seu objetivo. Qual é o fundamento de Deus? É Jesus Cristo. Ele está agora fora do alcance de quaisquer forças de destruição. Qual é a estrutura de Deus? É Cristo. Chame-a de outro nome se quiser: a Igreja que é o Seu Corpo, a Companhia conformada à imagem de Seu Filho; mas seja lá que nome você possa dar, ele está no propósito de Deus, Cristo desenvolvido em plenitude nos Seus santos. Isto jamais poderá ser destruído. Isto jamais poderá ser vencido. Deus irá obter isto.
Se nós estivermos pensando na edificação como sendo algum movimento, alguma organização, algum sistema formulado pela obra e empresa do cristão, bem, então temos um conceito errado do que seja a obra de Deus. A obra de Deus é os santos crescendo à imagem de Seu Filho, e, enquanto Cristo permanece, o propósito de Deus acerca daqueles que estão em Cristo também permanece, e o propósito de Deus jamais pode ser impedido. Se temos renunciados a nós mesmos para ver algo realizado com sucesso na terra, bem, então, chegaremos ao lugar onde o conselho será muito bom para abrirmos mão dele, e seremos muito estúpidos em nos agarrarmos a ele. Mas, se renunciamos a nós mesmos para apresentar todo homem perfeito em Cristo, então não estaremos numa direção sem esperança. Este é o propósito de Deus, fixado e estabelecido muito antes que este mundo com todas as suas mudanças e o Maligno viessem a existir. “...As obras foram terminadas desde a fundação do mundo”. Você está tentando fazer a obra para o Senhor? Você está tentando aumentar a obra do Senhor? Desista. Entre para as obras que já estão acabadas e você terá um caminho claro para seguir.
Se você está contemplando alguma chamada, se o Senhor tem chamado você para o ministério, deixe-me contar a você o segredo para seguir e chegar até o final em triunfo, com fruto. Sim, certamente _ você poderá não vê-lo _ mas você irá fazer assim. Comece dizendo: “Senhor, tudo já está feito antes que o mundo existisse; estou entrando em coisas já feitas, e estou trabalhando contigo na realização de algo já realizado. Vou entrar em algo que já foi feito na eternidade, no Conselho de Deus, que diz respeito a este ministério específico. Entro nisto pela fé; trabalhando a partir do propósito de Deus na eternidade passada.” E você irá entrar no ministério com fruto.
Deus jamais irá enviar você a algum lugar por Seu Espírito Santo, onde não haja fruto. Você poderá não vê-lo agora, mas verá mais tarde; Deus sabe. Ele trabalha sobre uma obra já conhecida. Ele diz para um apóstolo, conduzindo-o para uma cidade pagã de pecado e sujeira: “...não temas... pois tenho muito povo nesta cidade.”  Ele não diz: “Eu vou ter muito povo”, mas “Eu tenho muito povo nesta cidade”. “Senhor, quando Tu os teve?” “Muito antes que você viesse a existir, antes que este mundo existisse!” Este é o princípio de Deus. A necessidade de fazer as obras do Senhor, e por meio de uma vida governada e direcionada pelo Espírito. Isto é chegar diretamente ao fundamento, onde não há espaço para qualquer argumento de desespero e abandono; é permanecer sobre algo sólido, que não pode ser destruído.
Oh, ter a nossa vida fundamentada sobre isto. Nossa fé para salvação, ter todo o serviço, nosso ministério fundado sobre isto. Oh, ser liberto de coisas que, sendo do homem, mesmo religioso, não irá passar no teste; e ser trazido para as coisas que são de Deus e que irão sobreviver à prova. “...o firme fundamento de Deus permanece”. Não pode ser destruído. Permanecer naquilo que não há necessidade de desistir. Haverá momentos de dor, quando o conselho de nosso coração irá nos sugerir que fujamos, abandonemos, desistamos, mas este é o conselho do medo. Há uma coisa sobre o conselho do medo que você deve sempre ter em mente. O medo nunca enxerga tudo. O medo apenas enxerga uma coisa. O medo apenas enxerga a coisa presente e está cego para todos os demais fatores.
O medo, da parte dos espias que primeiro chegaram a terra, fez com que eles enxergassem apenas uma coisa: as dificuldades, e os cegou para a posse, Deus. A fé enxerga todas as dificuldades e, embora ela possa talvez não ver Deus como iminente, porém sempre O vê como transcendente. O medo tem visão curta. O medo é muito limitado em sua compreensão; e este era o conselho do medo: “Fuja... para o seu monte.” A fé vê que o fundamento de Deus não pode ser movido, não pode ser destruído, e sejam quais possam ser as aparências, a fé olha para além das aparências, para além das circunstâncias, olha para o Senhor e faz Dele o refúgio, e prossegue adiante.
Algumas pessoas têm sugerido que o salmo 11 foi escrito por Davi no dia quando Saul o estava perseguindo. Eu não entendo como isto pode ser assim, pois, quando Saul perseguia Davi ele fugia, e aqui ele está dizendo que não fugiria. Outros dizem que foi nos dias da traição de Absalão, e o conselho dado a Davi foi para fugir. E ele realmente fugiu, mas aqui ele está dizendo que não fugirá. Você terá que achar algum outro cenário para isto. Ele não fugiu, este é o ponto. Por que ele não fugiu e não abandou aquela situação, e disse: “Sim, vocês estão certos, ele está fazendo uma confusão, ele está soprando bem no fundamento das coisas; é melhor eu encontrar uma linha de menor resistência”. Por que ele não tomou esta atitude? Simplesmente porque os olhos de seu coração estavam fixos no Senhor, e ele não tinha nenhum interesse pessoal a servir; nenhuma organização, nenhuma sociedade, nenhum movimento ao qual ele estivesse tão ligado que, se aquilo fosse feito em pedaços, toda a sua vida iria ter o mesmo destino. Não, era o Senhor. É algo tremendo estar com o Senhor e ser liberto das coisas menores, ser um com o Senhor em Seu propósito. O que será se todas as demais coisas se dissiparem como fumaça? Você não estava nelas, absolutamente, elas não eram algo no qual o seu coração estava firmado. O que você estava seguindo não era algo temporário, algo terreno, mas era algo espiritual e eterno, e nada pode destruí-lo.
Agora, amado, você entende a questão. Você e eu temos que estar fundamentados sobre o plano de Deus. O que deve determinar toda a nossa vida, toda a nossa atividade tem que ser o propósito de Deus. E qual é o propósito de Deus? Que fique estabelecido de uma vez por todas que o propósito de Deus não é ter algo ancorado nesta terra, mesmo com o Seu nome sobre aquilo. Tudo que estiver preso a esta terra irá passar com a terra. O propósito de Deus é ter algo espiritual na vida de Seu povo; algo que os relacione a Seu Filho, de maneira crescente _ o aumento de Cristo. O resto não interessa.
Todos os aspectos temporários da obra são de muito pouca importância. O que importa é que os homens e mulheres estejam sendo aperfeiçoados em Cristo. Nós não estamos aqui para estabelecer algo e, então, tentar conseguir que homens e mulheres se unam a isto, se associem a algo _ nem mesmo um ‘testemunho’, como nós podemos chamá-lo. Vamos ser cuidadosos para que comecemos com o propósito correto. Não estamos aqui nesta terra para implantar um ensino, e, então, tentar conseguir pessoas que aceitem este ensino. Se você for para o seu Novo Testamento, irá descobrir que as pessoas andavam juntas porque elas já estavam ligadas ao negócio. Elas não vinham para se juntar. O testemunho não é algo a que você se une. Você é unido por estar no testemunho. Você entende isto? Esta é uma coisa de importância tremenda em relação a toda esta questão que estamos considerando.
Ficaremos desapontados, e teremos um tempo duro se tentarmos conseguir pessoas para adotarem algo, tomá-lo, aceitá-lo. Vamos, no poder do Espírito Santo, dar o nosso testemunho, vamos deixar o Senhor fazer a obra em nossos corações, e, quando Ele faz a Sua obra em nossos corações, iremos nos unir a outra pessoa. Você terá a expressão da Igreja aqui nesta terra como um resultado da obra realizada dentro de você e não em alguma coisa que você trouxe junto, até mesmo um ensino, um testemunho, ou um sistema que até possa ser chamado de ‘comunhão’. Vamos ser cuidadosos em pensar que podemos nos associar a uma comunhão. Comunhão é algo que ‘é’; é o resultado de algo interior.
Agora, eu concentro tudo o que tenho dito nesta lei. O objetivo é ter uma vida interior em Deus, e, se estivermos nesta linha, estamos sobre algo que jamais pode ser destruído. Se o teu objetivo é uma outra coisa, ter alguma forma ou ordem exterior, você está numa linha que será destruída, a coisa irá se quebrar. Este é o porquê de encontrarmos tantas fragmentações nas coisas. Aqui está uma coisa pura que tem sido trabalhado dentro de poucas vidas, e, devido esta mesma coisa ter sido realizada nesta pequena companhia, eles estão juntos numa maravilhosa união, e aí eles realmente representam algo de Deus; mas, então, outros começam a se unir ao negócio, a se juntarem, aceitando o ensino. Chega uma nova geração e recebe o ensino daquela geração anterior, e a obra não foi realizada no interior dessas pessoas que se associaram, ou dos sucessores, e você tem apenas uma transmissão de um ensino, de uma tradição, sem uma obra realizada no interior. O que acontece? Não demora muito e a coisa se divide, e a divisão é interminável. Você não consegue dividir aquilo que é de Cristo em cada coração; que é indestrutível. Porém, se é algo meramente externo, histórico, tradicional, doutrinário, ele pode ser dividido em tantos fragmentos quanto hajam pessoas envolvidas nele. O fundamento é Jesus Cristo; e Jesus Cristo no coração, crescendo, se desenvolvendo, sendo completamente formado nos santos. Esta é uma linha indestrutível _ Cristo como o fundamento dentro de nós.
Penso que nós devemos estar muito mais interessados no crescimento espiritual da outra pessoa. Tudo mais deve se encaixar neste propósito. O crescimento espiritual do outro. As demais coisas virão, desde que sejam boas e corretas; qualquer tipo de expressão exterior será o resultado disto, mas esta é a coisa principal, nosso mútuo desenvolvimento espiritual, o aumento de Cristo, e isto nenhuma atividade do inferno, nem traições poderão destruir. É o fundamento de Deus em nós que permanece.
 
Capítulo 2 – O Natural e o Espiritual
Ler: Salmo 11:1-4; 1Cor. 3:9-17
 
Na medida em que prosseguimos com a nossa consideração sobre os fundamentos, há uma terceira coisa. Na primeira carta aos Coríntios, temos outra forma em que fundamentos são virtualmente destruídos, pelo menos numa medida muito real. É por aquilo que é colocado neles; o edifício que é colocado sobre eles. Os fundamentos não são destruídos completamente, mas o seu valor supremo lhe é roubado, e assim, são destruídos em sua principal virtude. Você irá entender o que eu quero dizer pelas palavras do apóstolo: “Eu coloquei o fundamento, e outro edifica sobre ele. Mas veja como cada um edifica sobre o fundamento” E, então, Paulo diz que algumas pessoas edificam com certos materiais, e outras pessoas edificam usando outros tipos de materiais. Então vem o teste de fogo da parte de Deus, a fim de provar aquela estrutura; e a madeira, a palha e o feno se reduzem a fumaça, e, quando tudo se vai, fica a pergunta: Qual era o valor daquele fundamento se de tudo que foi dito e feito nada ficou sobre ele?
Neste sentido o fundamento está destruído em seu significado e valor supremo. O apóstolo nos diz que aqueles que assim agem podem ser pessoas salvas, e, porque elas têm Cristo, o fundamento está lá; elas mesmas podem não perder a sua salvação, porém elas não foram salvas apenas para ficarem salvas. Cristo não veio a elas apenas para isto. Ele não era o fundamento apenas para permanecer o fundamento. Um fundamento pressupõe uma estrutura, ele aponta para isso, implica isso, necessita disso. Não há justificativa em se ter um fundamento se você não tem uma estrutura. A estrutura é a justificativa do fundamento.
O que você iria pensar de um construtor que fosse por toda a parte colocando fundamentos, e então você percorresse a terra e visse um monte de fundações, e fosse apenas isso o que você visse; fundamentos colocados ano após ano, e quando você passasse por lá, não visse nada a não ser fundações. Você diria: Aquele camarada não justifica a sua existência, não justifica o seu trabalho. A única justificativa para se colocar aquelas fundações é que se coloque algo sobre eles. A justificação de nossa salvação é que existe uma edificação; pois a nossa salvação envolve isto, e não estamos justificados como salvos até que o edifício de Deus esteja em pé. Deus é justificado em nos salvar quando tem o Seu edifício. Esta é a justificação da graça de Deus.
Assim, o apóstolo segue com a linguagem sobre o templo de Deus: “Vois sois o templo de Deus” Templo de Deus. Agora, o que nós estamos colocando sobre a nossa salvação, o que estamos edificando ou irá justificar o fundamento, ou, virtualmente, irá destruí-lo; isto é, torná-lo vão no pleno propósito de Deus. Isto é simples. Você entende o que quero dizer? Há um modo de levar até mesmo o divino fundamento a se tornar quase sem valor, e roubar a sua real virtude: colocando algo que não seja conforme Cristo. Agora, isto é muito simples e elementar, mas irá nos ajudar muito. A estrutura tem que estar de acordo com a fundação. Tem que ser espiritual e moralmente do mesmo material, tem que ser semelhante. Como é a fundação, assim deve ser a estrutura. A estrutura tem que adquirir o caráter da fundação.
É dito que o fundamento é Jesus Cristo e todo o edifício tem que ter o mesmo caráter e natureza do fundamento. Pense nas fundações desarraigadas após uma escavação feita até as partes mais profundas do inferno; pois lá é onde Cristo lançou o fundamento. Ele escavou até as partes mais profundas do pecado; Ele tocou a rocha lá em baixo para lançar o fundamento da nossa salvação. Mais fundo Ele não poderia ir. Ele atravessou o inferno para lançar os fundamentos da nossa eterna redenção. Agora pense sobre colocar uma estrutura frágil de madeira, palha e feno sobre isto. Será que isto justifica aqueles fundamentos? Algo digno de Cristo é exigido, algo digno da obra que Ele realizou, algo que irá falar da grandeza de Sua graça e de Sua glória. Esta é a construção de Deus.
Dito isto, podemos voltar à carta de coríntios e deixar que ela mesma explique a questão para nós. Você está lembrado de que estamos falando sobre a destruição dos fundamentos neste sentido, que algo que não é digno de Cristo é colocado sobre eles. Agora abra na carta aos coríntios e vamos percorrer algum terreno familiar. Lembre-se de que toda esta carta representa o problema que confrontou o apóstolo quando ele esteve em visita a Corinto. Havia uma situação lá com muitos aspectos, que representava para ele um problema destinado a desanimar e a destruir a fé de qualquer pessoa cujos fundamentos não estivessem bem colocados. Estou bem certo de que, antes de terminarmos, você irá perceber que, para se enfrentar uma situação como aquela, você precisará ter os fundamentos bem colocados em você mesmo.
 
A Sabedoria do Mundo e as Coisas do Espírito. 
O primeiro capítulo leva você à primeira fase do problema de Paulo. Antes de você terminar este capítulo, você descobre que naquela assembléia de crentes em Corinto, o espírito do mundo lá fora, o espírito de Corinto, tinha entrado e tomado conta. O espírito do mundo em Corinto era o espírito da sabedoria mundana; Corinto era o centro e a cidadela da filosofia. Eles não tinham melhor entretenimento do que discutirem a última fase da filosofia, a última questão em termos de pensamento. E Corinto era um lugar onde a razão humana tinha plena atividade, e tudo era determinado em seu valor pelo poder do arrazoamento da mente; do argumento, do debate, da discussão. Era o centro mundial do racionalismo, e isto tinha entrado na assembléia do povo do Senhor. E o que descobrimos é que o povo do Senhor neste espírito, nesta mente, tinha pegado as coisas espirituais, as coisas celestiais, as coisas de Deus, e as trazido para baixo, ao nível do mero argumento humano, do debate, da discussão, e da razão; aplicando o tempo todo o teste da razão humana a eles, buscando, assim, manipulá-los através da faculdade intelectual, de modo a mantê-los dentro do espaço limitado do próprio poder mental do homem.
Assim, eles estavam discutindo o que o apóstolo chama de coisas do Espírito de Deus, e trazendo as coisas celestiais, eternas e espirituais aqui para baixo; arrastando as coisas da eternidade para dentro da escola do racionalismo mundano, do debate e do argumento. Naturalmente, isso não era um modo de viver exclusivo dos corintos dos dias de Paulo. Há muito disso nos dias de hoje. Cada vez mais temos nos deparado com pessoas cujo maior obstáculo às coisas do Espírito de Deus é a sua própria cabeça. Elas atravessam suas mentes no caminho; e, o que não conseguem reduzir à sua própria compreensão intelectual, rejeitam. E quando você diz: Olhe aqui, você vai ter que parar de argumentar, de discutir, dê a Deus uma chance na linha da fé, elas respondem: Pra que temos cérebro?
Isto significa que nossos cérebros são a capacidade para as coisas eternas. Se for assim, Deus ajude as coisas eternas! Bem, esta foi a primeira fase do problema de Paulo, e não é um problema pequeno. Aqueles de nós que têm encontrado isso, mesmo de maneira pequena, sabem que grande dificuldade é. As predileções, simpatias e antipatias humanas. Passamos para o capítulo dois e encontramos a mesma coisa prolongada um pouco mais, e, então, quando avançamos e começamos o próximo capítulo, descobrimos que entramos no campo das preferências humanas, gostos e desgostos humanos na direção do ensino e dos mestres, pregações e pregadores, os mensageiros de Deus e suas mensagens.
Uma escola diz: Paulo é o homem que gostamos, e a linha das coisas de Paulo é a linha que gostamos. Vocês podem gostar de Apolo ou Pedro, mas nós, bem, Paulo é o nosso homem. Dentro da mesma assembléia uma outra companhia dizia: Preferimos Apolo e sua linha de coisas. Vocês podem ter Paulo, e vocês outros podem ter Pedro, mas nós gostamos de Apolo. A terceira companhia dizia: Tudo bem, se vocês gostam de Paulo e se eles gostam de Apolo, podem tê-los, nós iremos aderir a Pedro. Havia uma quarta classe que dizia de forma superior: Bem, se vocês preferem ter Paulo, eles outros preferem Apolo, e aqueles, Pedro, vocês podem, mas nós pertencemos a Cristo (algo muito diferente dos demais, naturalmente. Esta é a implicação, veja você, fazer de Cristo um partido. Você sabe, quando as preferências humanas se chocam, são coisas muito difíceis de lidar com elas.
Isto estava lá; as suas simpatias e antipatias; e estas são coisas profundamente enraizadas na natureza humana. Requer muita graça para removê-las. Naturalmente, esta era a condenação deles. Se de fato é necessária muita graça para remover essas coisas, e você não às tem removidas, então você não tem muita graça. Este era o problema de Paulo, a coisa que ele tinha que enfrentar e lidar, e para os quais tinha ele responsabilidade diante de Deus. A tragédia do Crescimento Impedido.
No capítulo três novamente você descobre uma situação que talvez seja mais difícil, a da maturidade atrasada. Após um tempo considerável de ser povo de Deus e de ter as coisas de Deus no meio deles, Paulo diz que ele não podia lhes falar como a espirituais, mas como a carnais, como a bebês. Isto é uma tragédia. Há, talvez, poucas tragédias mais patéticas na vida humana do que ver o crescimento impedido na infância enquanto os anos prosseguem. É assim que estavam as coisas em Corinto. Paulo diz que a carnalidade tinha causado o impedimento, e, quando eles deviam já ser maduros, ainda estavam impotentes, dependentes, eram crianças espirituais, sem compreensão, percepção, capacidade para assumir responsabilidade espiritual. Uma coisa muito difícil de se lidar com ela.
Amado, isto não era peculiar de Corinto, ou dos dias de Paulo. Multidões do povo de Deus estão assim nos dias de hoje. Oh, sim, é uma situação patética encontrar pessoas que têm conhecimento do Senhor por anos, décadas, que estão ainda sem suas faculdades espirituais desenvolvidas de modo que possam assumir responsabilidade espiritual, onde conheçam e não precisam ser ensinadas! Há multidões assim. As razões não são sempre as mesmas. É verdade que a carnalidade é a causa disto muito freqüentemente, mas temo que o ensino pobre também seja responsável por isto em muitos casos. Elas não têm sido alimentadas e nutridas. É uma situação trágica com a qual nos deparamos hoje; mas aí está, seja qual for a causa.
Neste caso, em Corinto, era responsabilidade deles mesmos, a sua própria falta, a sua carnalidade. A Vergonha do Orgulho Espiritual. Você passa para o capítulo quatro e encontra o apóstolo falando com linguagem que indica orgulho espiritual. Ela assume a seguinte forma. O Senhor os tinha abençoado com dons espirituais e realizado coisas graciosas para eles, colocado-os na possessão de Suas riquezas espirituais, e eles estavam se vangloriando dessas possessões, dessas coisas como se as tivessem adquirido por suas próprias habilidades, como se as tivessem realizado por seus próprios esforços; e o apóstolo diz: “…se os recebestes, por que vos gloriais como se não os houvesse recebido?” Em outras palavras: Por que vocês estão tentando fazer com que as pessoas pensem que as possessões de vocês são resultado de sua própria habilidade espiritual, que vocês têm por seus próprios esforços? Por que vocês não reconhecem que tudo é pela graça de Deus, e que vocês são humildes dependentes do Senhor? Eles estavam se vangloriando de seus dons espirituais, como se fossem suas realizações espirituais e não dons. O orgulho espiritual é uma coisa terrível. O orgulho ordinário já é mau o suficiente, sempre a marca da ignorância, mas o orgulho espiritual é muito pior.
Então, há a próxima fase do problema que confronta Paulo. Somente isto já iria desanimar bastante, mas coloque tudo junto! Capítulo cinco. Aqui nós não nos alongaremos. “E de fato é informado que há fornicação entre vós...” Entre crentes? Na assembléia do povo do Senhor? Sim, uma trágica história que tem se repetido vezes após vezes através dos anos. Mas oh, o desgosto para qualquer homem que tinha algum senso real de responsabilidade espiritual pelas almas, revoltar-se contra isto. Capítulo seis. Crentes, membros do Corpo de Cristo levando uns aos outros para as cortes terrenas, tendo demandas uns contra os outros, intimando uns aos outros diante do magistrado, acusando uns aos outros, processando perante os incrédulos. Companheiros membros do Corpo de Cristo! Oh, que conceito errado do Corpo de Cristo. Isto é, eles se levantavam e lutavam pelos seus próprios direitos.
Ele prossegue. Logo vocês descobrem algumas terríveis desordens à Mesa do Senhor. Uma é que eles estavam transformando a Mesa do Senhor numa farra, numa festa. As pessoas mais ricas nos negócios deste mundo estavam trazendo suas pompas para o banquete, e os pobres podiam apenas trazer o seu pouco, e havia a distinção de classe, e todo esse tipo de coisa. O apóstolo diz: Não tendes vós casas? Se quiserem se fartar, pelo menos tenham a decência de fazê-lo em suas próprias casas, não façam isso na assembléia do povo do Senhor. Como você vê eles transformavam as suas refeições comuns num sacramento. Eles se ajuntavam, comiam e bebiam juntos e, então, espontaneamente, como se aquilo fosse uma coisa natural, faziam de sua refeição um testemunho, mas isto tinha, assim, se degenerado, a ponto de tornar aquilo algo vulgar, como mencionamos, e toda glória, beleza, e santidade do Corpo de Cristo e do Sangue de Cristo tinha sido transformado nisto. Não era um problema pequeno de se lidar com ele. Havia outros aspectos desta questão os quais não iremos tratar.
Você prossegue um pouco mais e chega às desordens na assembléia em geral. Pessoas usurpando autoridade, e você sabe o que o apóstolo é obrigado a dizer sobre a desordem na Casa de Deus. A posição dos homens é estar debaixo da liderança soberana de Cristo, num espírito de sujeição, cumprindo os seus ministérios na Casa de Deus. Mas aqui os homens estavam tomando a autoridade para si mesmos e não tendo a sua autoridade em sujeição a Cristo. E, então, as mulheres, fora de sua Divina e ungida posição, violavam toda a ordem da assembléia. O apóstolo lhes fala o que isso significa: “Vocês deixam a cobertura divina e entram em contato com os maus espíritos que enganaram Eva. O diabo está determinado a desintegrar esta assembléia seguindo a mesma linha, e vocês estão dando a ele a chance que ele quer por meio desta desordem”. A questão toda era uma questão de ordem. O Senhor tem uma ordem para a Sua Casa, e todos poderão cumprir os seus ministérios – mulheres e homens – se obedecerem a Sua ordem.
Penso que qualquer um que não tivesse os fundamentos bem estabelecidos em si mesmo iria desistir desta situação, abandoná-la, fugir, fazer o que os conselheiros disseram para Davi, fugir para as montanhas. “Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?” Será que numa situação como aquela os fundamentos estavam destruídos? Nem um pouquinho! Vejo que Paulo, apesar de tudo, não foge, ele não aceita que os fundamentos estejam destruídos, porém ele vê que esses fundamentos estão sendo roubados de seus valores com tudo isto. O Natural e o Espiritual. Agora, quer você uma exposição do que Paulo quer dizer com madeira, palha e feno? É isto! A Palavra interpreta a si mesma. O que Paulo quis dizer com edificar uma estrutura de madeira, palha e feno sobre o fundamento? Ele quis dizer tudo isso: divisões, ismos, sabedoria mundana, glorificação intelectual, e tudo mais. Estas são as coisas que serão destruídas pelo fogo. O que irá sobrar? Quando você está edificando com esse material, você não pode estar edificando com outro material ao mesmo tempo, portanto, não irá sobrar nada.
Você quer uma exposição do que Paulo quer dizer no segundo capítulo, com espiritual e com natural? “Agora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus porque para ele parecem loucura; e não pode compreendê-las porque são discernidas espiritualmente”. Natural e espiritual. Sabemos que esta palavra natural, em Grego, é a palavra almático, ou homem almático, e ele se coloca contra o homem espiritual. O que é homem almático? Coríntios um lhe fala tudo isso. O homem que está tratando das coisas espirituais com a sabedoria natural, este é o homem almático. O homem que é influenciado e movido por seus gostos e desgostos naturais, pelas suas preferências, por suas simpatias e antipatias – Paulo, Apolo, Pedro – este é o homem almático. Mas em oposição a ele está o homem espiritual. O homem que não é movido primariamente por sua razão humana, mas que olha para o Senhor, o Espírito, para a sua compreensão das coisas do Senhor. O homem espiritual nunca é influenciado, ou governado, por suas próprias preferências quanto a pessoas, ou ensinos, ou outra coisa qualquer. Ele é influenciado por aquilo que o Senhor gosta. Ele não diz: Prefiro este homem a aquele, esta linha de ensino a aquela. Ele diz: Tem Paulo alguma coisa de Cristo? Bem, eu terei tudo, é Cristo que eu quero. Nunca me importo pelo tipo de vaso, é Cristo que eu quero.
Não há divisões no homem espiritual, não há preferências. Ele pode saber secretamente o que naturalmente ele gostaria, mas não permite que essas coisas venham prejudicar a sua mente ou de alguma forma afetar o seu relacionamento. O homem espiritual não recorre à lei contra um irmão para brigar por seus próprios direitos. O homem espiritual não é culpado por fornicação. O homem espiritual não traz desordem para a Casa de Deus; é o homem almático que faz isto. Como vê, você tem uma exposição clara com toda a carta do significado do natural e espiritual. Como Paulo venceu em Corinto. Você entende onde estou querendo chegar?
Isto me traz diretamente de volta para o meu inicio. Que tipo de edifício é adequado à divina fundação? Bem, vimos como Paulo enfrentou o seu problema. Oh, magnífico exemplo de como enfrentar um problema espiritual. Eu não estou desejando enfrentar um problema como aquele em uma assembléia. Deus me livre que isso aconteça, mas vejo aqui o exemplo mais magnífico de como uma situação humanamente impossível é enfrentada, lidada, com triunfo. Estou tão feliz que Paulo tenha vencido. Leia a segunda carta e você irá ver que ele venceu, ele está no topo, e eles estão lá com ele. Tudo estava numa situação de suspense, no que se referia ao ministério, nesta primeira carta. A segunda carta é a carta do ministério. “Pelo que, tendo recebido este ministério segundo a misericórdia que nos foi dada, não desfalecemos; mas rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia, nem falsificando a Palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Então, um maravilhoso capítulo sobre a tristeza que segundo Deus conduz ao arrependimento, e qual o fruto desse arrependimento.
Mas Paulo venceu, este é o ponto; resolveu o problema em todos os aspectos. Como ele fez isto? Abra no capítulo um novamente. Vejo Paulo aí com todo este problema espalhado diante dele. Sim, oprimido, preocupado, orando, dizendo: Senhor, este é um problema terrível, somente Tu pode resolvê-lo, mas algo precisa ser feito, isto não Te glorifica. Dá-me a chave para a situação, coloque na minha mão a chave para toda essa situação. E, enquanto buscava o Senhor, brilhou dentro dele, e talvez tenha gritado: Encontrei, e sentou para escrever. Capítulo um, sublinhe cada referência ao Senhor Jesus e você terá dezessete marcas de lápis em trinta e um versículos, uma media de mais de um para cada dois versículos. Resuma tudo na grande declaração: “Porque nada me dispus a saber entre vós, a não ser a Jesus Cristo, e este crucificado”. “Pois ninguém pode por outro fundamento além do que já está posto, que é Jesus Cristo”. Qual é a solução? Dar ao Senhor Jesus o Seu pleno e correto lugar! Coloque o Senhor Jesus em Seu lugar como absoluto Senhor no coração, na vida, na assembléia, e todas essas aves imundas irão se dissipar diante da luz. Se o Senhor Jesus é dominante em nossos corações, as divisões irão embora. O que precisamos para todas as nossas divisões, nossa falta de amor, nossos ismos, nossos gostos e desgostos, é a plenitude de Cristo. Cristo como Senhor, como Mestre, Cristo reinando. E, do mesmo modo que as criaturas malignas das trevas fogem quando chega a luz, assim também irá acontecer com as divisões, ismos, e todo esse tipo de coisa, quando Cristo vier para o Seu lugar. Isto é a cura para todas as coisas.
Se o fundamento precisa ser justificado, então deve ser justificado numa estrutura segundo a sua própria natureza. Cristo na raiz, e Cristo no tronco, nos galhos, no fruto. Tudo é Cristo. Temos algo no qual precisamos pensar. “Se os fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer o justo?” Destruídos neste sentido, que foram feitos vazios pelo que está sendo colocado sobre eles. O que poderá fazer o justo? Bem, não há nada a ser feito, a não ser uma coisa, porém esta única coisa irá fazer todo o resto: isto é, trazer o Senhor para o Seu lugar. Oh, Paulo deve ter tido uma fé maravilhosa em Cristo, enfrentando uma situação como aquela, amado. Pegue cada fase disto e veja como você gostaria de lidar com ela; e, então, pegue a coisa toda _ mais do que temos dado a você _ e veja que você tem uma responsabilidade por esta situação, você precisa de uma fé poderosa para crer que toda a situação irá render frutos apenas se o Senhor puder ser trazido para o Seu lugar.
Não há problema, dificuldade que não possa ser resolvida pela entronização de Cristo. Todos os problemas neste mundo, e de todas as nações, serão resolvidos pela entronização de Cristo. Não há outra solução, mas esta é a solução segura. Deus tem sujeitado tudo a isto, que todas as coisas serão estabelecidas quando Seu Filho tiver Seu lugar. Porém, o julgamento deve começar pela Casa de Deus; tem que começar conosco. Tenho usado tudo isto por meio de lustração. Pode ter uma aplicação para nós de uma maneira ou de outra. Se é ou não desta maneira cabe a nós determinarmos diante do Senhor.
Se somos culpados por algumas dessas coisas em espírito, em princípio, se não em ato. Se isto não cabe para nós de alguma forma específica, seguramente a grande verdade deva ajudar os nossos corações. Como iremos nós enfrentar os nossos problemas, seja dentro de nós mesmos, seja fora, nas outras pessoas? Somente de uma forma. Procurar ter o Senhor Jesus exaltado em seu próprio coração, e no coração dos outros. Trazê-Lo primeiro à vista e, então, com Ele em vista, todas as outras coisas poderão ser lidadas.
Eu apenas abordei um aspecto neste capítulo. Não irei, além disto. Paulo disse: “Jesus Cristo, e este crucificado”. Você irá ver do que o fundamento é composto. Jesus Cristo como o fundamento nesta carta inclui Cristo crucificado, o significado de Sua morte para nós: Cristo Ressurreto, Cristo exaltado na posição de líder supremo. Essas três coisas compõem o fundamento. Quando soubermos o que significa a morte de Cristo, no que diz respeito a nós, Cristo crucificado; que nós morremos quando Cristo morreu, como, então, poderemos ainda ficar com o homem natural, com o homem carnal? Ele se foi. Quando soubermos o que é estar ressuscitado com Cristo, isto é, vivos para Deus, somente para Deus; para mais nenhum outro ser ou interesse, e certamente não para nós mesmos, somente para Deus. Quando soubermos que o governo absoluto do Senhor Jesus significa nos trazer para o Seu governo, como ainda poderemos dizer: Eu sou de Paulo, de Apolo, ou de Pedro? Eles não podem aparecer aí se Cristo for tudo em todos. Você encontra estas três coisas correndo através desta carta. O Espírito fala a você do Cristo crucificado, ressuscitado e exaltado. Este é o fundamento e a estrutura que deve estar de acordo com isto. Que a Palavra nos leve para a glória em Cristo, pois é aí onde o capítulo um termina: “Aquele que se Gloria, glorie-se no Senhor”.
 
Capítulo 3 – Por que os fundamentos devem estar postos corretamente?
Ler: Salmo 11:3; Efésios 4:7,8,11-16.
 
Nós, agora, iremos prosseguir com mais um aspecto da importante questão dos fundamentos. Naquele salmo décimo primeiro, de onde iniciamos a nossa meditação, há um aspecto que é comum à matéria toda sobre fundamentos e edificação na Palavra de Deus. Quando consideramos aquele salmo mais completamente, você irá se lembrar de que Davi estava, na ocasião em que escrevia esse salmo, no meio de grande traição, oposição e antagonismo. Os ímpios estavam puxando os seus arcos nas trevas, debaixo de uma cobertura, a fim de atirar nos justos, e, no meio desta hostilidade, o salmista se refere aos fundamentos, e diz: “Jeová está no seu santo templo”; de modo que você tem duas coisas que constituem o todo, isto é, a edificação e a batalha. O templo, os fundamentos, o adversário e a atmosfera de conflito. Você irá descobrir que, por toda a Palavra de Deus, essas duas coisas estão sempre juntas. 
Se for Neemias edificando o muro de Jerusalém, a espada e a colher do pedreiro são encontradas juntas; a edificação e a batalha estão juntas. Se for a edificação do templo de Salomão, Davi teve que sujeitar todos os inimigos dos arredores, para tornar possível aquela edificação. A edificação não foi possível até que a batalha tivesse realizado a sua obra. Quando você entra na interpretação espiritual das ilustrações do Velho Testamento, descobre que essas coisas estão sempre juntas. Sempre que você tiver a ver com a edificação, também terá a ver com a batalha.
Quando olhamos para a primeira carta aos coríntios, certamente há lá um evidente exemplo desta verdade. A edificação nesta carta está lado a lado com uma tremenda batalha. A batalha está associada com a edificação. Agora, quando você chega à carta aos Efésios, você vê novamente a mesma coisa. Aqui está a Casa, “a habitação de Deus através do Espírito”, aqui está a igreja que é o corpo de Cristo, e aqui há muita coisa dita sobre a edificação do corpo;  mas você irá descobrir nesta carta que tudo isto está diante do inimigo, dos principados e potestades, dos dominadores deste mundo tenebroso. A edificação prossegue na batalha, no conflito, e este quarto capítulo contém em si aqueles elementos.
Se você estivesse lendo ponderadamente esses versos neste momento, estaria discernindo que o apóstolo, naquilo que se refere à edificação do corpo e tudo mais, estava enfrentando antagonismos, riscos, perigos, oposição espiritual. Que negócio é este de truque e astúcia do engano, ventos de doutrina, ondas de falsidade? Esses são os elementos da batalha, do conflito, essas são as forças que se opõem à igreja, ao corpo de Cristo. Essas são as coisas com as quais o crescimento, o aperfeiçoamento, a consumação do propósito de Deus na igreja estão associados, e com os quais este progresso tem que contender. E o apóstolo está dizendo que o importante aqui é que os santos devem estar bem fundamentados; bem estabelecidos, e estabelecidos em plenitude, onde cada um deles seja um membro responsável, um membro confiável do corpo de Cristo.  Esta é a força de todo este parágrafo. 
 
Por que os fundamentos devem estar bem colocados? 
Agora, então, vamos imediatamente trazer diante de nós o fim, o objetivo, e depois, veremos o que se segue em direção a realização deste objetivo. Qual é o objetivo aqui? É que cada membro do corpo de Cristo seja um membro operante, responsável, efetivo, que esteja numa posição onde seja capaz, com a capacidade de Cristo, de se manter contra os enganos, a astúcia e a falsidade do maligno, os ventos do erro.  Mas, amado, certamente você e eu estamos cônscios nestes dias da necessidade de cada membro de Cristo estar nesta posição. As condições com as quais o apóstolo Paulo contendia naquele tempo são condições que abundam hoje, tanto quanto antes. Naturalmente, a coisa entrou nos dias de Paulo através dos gnósticos, pessoas que afirmavam ter sabedoria, estarem na possessão de conhecimento. Sobre gnósticos, que afirmavam ter conhecimento e sabedoria religiosa, Paulo disse que o gnosticismo deles operava naqueles dias: astúcia, ardil, ventos e ondas de erro, falsa doutrina, falso ensino.
Seja quem forem as pessoas que correspondem aos gnósticos hoje, o gnosticismo está muito difundido. Isto é, há ondas e ventos do erro varrendo toda a terra, e é tão sutil que nenhuma mente natural pode perceber, nenhum julgamento ou juízo ordinário pode detectar o vício, o erro. Está tão enrustido em formas bíblicas e fraseologias escriturísticas que os infantis, as crianças de quem Paulo fala serão facilmente carregados, aqueles que são espiritualmente crianças num sentido errado. Não é errado ser uma criança de Deus, ser um bebê recém-nascido, porém é errado ser uma criança quando você deve ser um homem, e é sobre isto que o apóstolo está falando.
Diante dessas coisas, e na expectação assegurada pela Palavra de Deus de que essas coisas irão aumentar, irão se desenvolver e se tornar mais sutis, com os próprios milagres que os acompanharão, a necessidade que o apóstolo viu então, e que nos é tornada clara através da Palavra do Espírito por meio dele, é que cada membro de Cristo deve ter os seus fundamentos bem colocados, e deve estar arraigado e fundado, de modo a não serem levados ao redor. O ministério que se necessita hoje é um ministério neste sentido. Dê atenção a esta palavra, você irá precisar dela. Se você ainda não fez isto, não irá demorar muito até ser confrontado com algumas dessas astúcias do erro, este artifício do falso ensino, essas ondas e esses ventos de doutrina, e, a menos que você esteja firmado e estabelecido, será levado ao redor, irá perder seu ponto de apoio e será arrastado.
Agora, com a consciência de uma situação tão séria e solene, esta palavra é, creio eu, dada a nós pelo Senhor, e devemos guardá-la no coração. Cada membro de Cristo, sem exceção, deve ser um membro responsável, inteligente, efetivo, e, se isto não for verdade de algum membro, o mesmo está numa posição perigosa.  Mas você não ficará surpreso de que a vinda desses ventos e dessas ondas carregue multidões de cristãos. Mais cedo ou mais tarde eles estarão numa pior e não vão saber onde estão, porque, apesar de terem o Novo Testamento, apesar de terem a carta aos Efésios, que por si só é suficiente para este propósito, muitos dos filhos do Senhor não estão ensinados, instruídos e firmados em Cristo, a fim de que possam discernir, compreender, julgar, e permanecer firme no dia mal. 
 
Os santos como edificadores 
Agora, então, vamos olhar um pouco mais de perto para esta passagem da Palavra. “Ele deu dons aos homens”, isto é, “Ele deu uns para apóstolos”. Ele deu apóstolos aos homens. “…outros para profetas”. Ele deu profetas aos homens. “outros como evangelistas, outros como pastores e mestres”.  Esses são os dons que Ele deu aos homens.  “homens” aqui, naturalmente, representa a companhia toda dos eleitos. Os evangelistas para trazer os eleitos, e os outros têm a ver principalmente com as pessoas que são trazidas.  De modo que é a igreja, o corpo de Cristo, que está em vista, e é em relação à igreja como corpo de Cristo que esses dons foram dados pelo Senhor em Sua ascensão.  Esses são os dons – mas observe, eles são dados para um propósito expresso, e com um objetivo específico. Eles foram dados para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé...” Não interrompa aqui com uma pontuação. Não deve haver pontuação. “para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério”, como se a obra do ministério aqui se referisse aos apóstolos, profetas, pastores, mestres e evangelistas. Não se refere a eles. A obra do ministério aqui se refere aos santos, na medida em que são aperfeiçoados pelos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. 
A obra desses dons é fazer com que os santos estejam em posição de ministrar, e é somente quando estão nessa posição de ministrar (isto é o que eu quero dizer por funcionar) que estão seguros. Não é somente os apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres que estão no ministério, são todos os santos que são chamados para estar no ministério. Todos os santos, cada membro do corpo de Cristo é um ministro, de acordo com o propósito divino. E é somente quando eles estão nesta posição de ministrar, num estado que os qualifique a ministrar, que a igreja está segura. Os ministérios podem ser tão variados, quanto numerosos forem os membros do corpo de Cristo.
Sejamos bem claros em nossos termos. Veja a palavra “aperfeiçoamento”. Você pode dizer: Bem, naturalmente, se estivéssemos aperfeiçoados, poderíamos ministrar. Certamente este é um longo caminho a seguir, isto é algo em direção ao qual temos que nos mover, a que temos que chegar. Porém a palavra aperfeiçoamento aí não tem este sentido.  Muito freqüentemente esta palavra é usada como um termo médico, e, uma tradução mais literal seria “consertar”, para o concerto dos santos. Se você tem um acidente e quebra algum membro do corpo, e é levado para um hospital, você é consertado, e este é exatamente o que esta palavra quer dizer. Concertar os santos, fazê-los completos. Outras vezes a palavra é usada como o mobiliar uma casa. Você não gostaria de morar numa casa desmobiliada. Precisamos mobiliá-la antes de podermos viver nela. A palavra é usada em Mateus em relação às redes, quando o Senhor viu certos homens remendando as suas redes. Esta é a mesma palavra. Havia buracos em suas redes, e elas tinham que ser colocadas em boas condições, para que ficassem inteiras, adequadas ao uso.
Elas podiam não ser as redes mais perfeitas que você pudesse encontrar, mas eram redes inteiras, completas. E o que o apóstolo está mostrando aqui é exatamente isto. Não um estado de divina perfeição em nós, mas um estado de completude em Cristo. “ Para o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério”. O remendar das redes era de alguma esperança para se apanhar peixes. O problema de muitas pessoas, e a razão do por que tantos são levados ao redor pelos ventos de doutrina é que existem brechas, falhas em sua compreensão sobre Cristo, em seu conhecimento de Cristo, em sua compreensão da verdade; brechas, rupturas, aberturas através das quais o erro entra, e elas precisam ser ‘consertadas’. E esses dons são dados exatamente para ‘consertar’ os santos, para que possam cumprir o ministério.
É tão diferente da ordem tradicional a que estamos acostumados, de que o ministério é algo que nos colocamos debaixo tantas vezes por semana, de um púlpito ou de uma plataforma. E, tendo nos colocado debaixo do ministério, e até apreciado, ou suportado, que isto é tudo, em relação a nós; temos feito o que nos é incumbido, temos cumprido o nosso dever, “nos colocamos debaixo do ministério”.  Isto não é ministério, absolutamente. O ministério é o resultado em nosso funcionamento prático daquilo que o pastor, o mestre, ou o evangelista faz, é aquilo que fazemos como conseqüência. Isto é ministério: o exercício resultante no coração de cada membro de Cristo. Se realmente entendêssemos que deveríamos estar bem lá na frente, certamente estaríamos mais adiantados do que estamos.  Apenas imagine onde estaríamos se este tivesse sido sempre o caso. Os evangelistas, profetas, pastores, mestres, teriam cumprido suas funções em nosso meio e nós teríamos partido, chegado diante do Senhor e dito: Senhor, isto agora tem que ser trabalhado em mim, vou me apropriar dele, e trabalhar movido por ele.
Vamos supor que tivéssemos feito isso com cada mensagem que já recebemos. Você não acha que a igreja estaria solidamente mais estabelecida? Uma história muito diferente teria sido escrita ante os enganos do maligno e das astutas artimanhas, se este tivesse sido o caso. Nós não iremos olhar muito para o exterior, olharemos para dentro de nossos corações, e diremos: Isto é para mim. Temos que olhar para dentro de nossos corações e dizer: Qual é o resultado prático e qual é o valor permanente em minha vida como um membro efetivo de Cristo deste ministério a que tenho ouvido, desta obra dos dons do Senhor, o apóstolo, profeta, pastor, mestre, evangelista. Onde eu me encaixo como fruto disso? Tenho eu ouvido, me referido a isto como ministério, mas o deixado de lado, fazendo com que eles (os apóstolos,...) continuem com seus ministérios? Ou sou eu um fruto, um ministro de Cristo? Esta é uma questão importante, não é? Oh, para a força no povo de Deus, na igreja que é o Seu corpo, que seria o resultado certo de nossa compreensão da Palavra do Senhor. Necessitamos urgentemente desta força hoje, desta segurança, deste estabelecimento. 
 
A responsabilidade individual na edificação 
Agora observe: “Para o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo”.  Então a obra do ministério, que é a obra de cada membro de Cristo, visa a edificação do corpo de Cristo. Agora vamos testar isto ao inverso. Quanto você e eu estamos contribuindo para a edificação do corpo de Cristo? Quanto estamos funcionando para este resultado, a edificação do corpo? Este é o nosso negócio, cada um de nós. Este é o nosso ministério. Você está preparado para aceitar esta responsabilidade, para assumi-la, pela graça de Deus, esta obra em seu coração, não ser um partidário, um seguidor, um passageiro, um freqüentador, mas um membro vivo, efetivo, cuja existência no corpo de Cristo signifique a sua edificação?
Mais tarde você observa que o apóstolo põe o seu dedo nesta questão de forma específica. Ele diz: “para que pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para a sua edificação em amor”  Pelo auxílio de cada parte, resultando na edificação do corpo em amor. Paulo tem o corpo físico como analogia. O quanto ele conhecia sobre o corpo físico como nós o conhecemos hoje eu não sei, mas o Espírito Santo conhece tudo sobre o corpo, e quando você se lembra daqueles diminutos organismos do corpo humano, as células, e como o crescimento de todo o corpo físico depende do funcionamento de cada uma delas, e o corpo somente é edificado, aumentado se cada célula funcionar e desempenhar a sua função, você tem uma maravilhosa, perfeita e verdadeira ilustração de como o corpo espiritual de Cristo é edificado e aumentado.
Você diz: “Eu sou apenas uma pequenina parte, não conto”.  Bem, experimente contar as células do seu corpo, quantas células você pode agrupar numa polegada quadrada de seu corpo físico?  — quase incontável.  Em sua mente você pode se achar como uma delas, perdidas na multidão, porém há uma grande responsabilidade por todo o corpo pesando sobre você. O ponto é o seguinte: não é o quão grande você é, mas se você está contribuindo com a sua medida. Pelo auxílio de todas as partes. O sentido é que cada parte deve contribuir com a sua medida, visando a edificação do corpo de Cristo. Esta é a nossa função e o nosso ministério.
Oh, amado, temos que encarar isto como uma ordem de serviço, e sair, considerando-nos como estando no ministério, sendo responsáveis por todo o corpo de Cristo, conforme a nossa medida. Nós não conseguimos compreender isto; nunca iremos entender; estamos diante de um mistério. Quem pode entender completamente o corpo físico?  Há mistérios que nunca foram entendidos, e eu duvido que o serão no futuro.  Freqüentemente temos ilustrado o mistério do corpo humano desta forma, que  o discurso de um Demóstenes deve ser fruto de um Demóstenes em seu café da manhã.  Você já leu alguns desses discursos que influenciaram multidões, forçando os homens a fazerem o que não tinham intenção de fazer, é o poder do raciocínio e da linguagem humana. Se o orador tivesse parado de comer, ele teria parado de fazer seus discursos, e, portanto, suas orações seriam de alguma maneira fruto de sua comida, mas como você transforma bacon e ovos em orações eu não sei. Mas é verdade! Você entende o que eu quero dizer.
É como você e eu, sendo os átomos que somos, as células que podem ser tão pequenas para serem reconhecidas, mas que podem afetar todo o corpo de Cristo para o bem ou para o mal eu também não sei, mas é assim.  É uma verdade absoluta na Palavra de Deus: “E se um membro padece, todos os demais padecem; e se um membro se alegra, todos os demais se alegram”. E, se você e eu não estamos contribuindo com a nossa medida, então todo o corpo está sofrendo, está fraco. Aqui, então, está a chamada, o desafio, para que cada membro de Cristo seja um membro operante, inteligente e responsável, cumprindo o seu ministério.
Sim, mas há algo mais, “…até que todos cheguemos à unidade da fé...” Bem, agora temos o nosso dedo sobre algo que é realmente vital.  Estamos muito preocupados com a unidade. Nós oramos por ela, nos agonizamos pela falta de sua manifestação, nós a desejamos.  Mas como ela virá? Qual é o princípio da chegada à unidade da fé?  Cada membro cumprindo o seu ministério, sendo um membro que funciona. Qual é a causa da discórdia, da divisão, das ‘cismas’? Bem, olhe novamente para a primeira carta aos coríntios: “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como criancinhas em Cristo… pois ainda sois carnais, pois havendo entre vós invejas, contendas, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Pois quando um diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu sou de Apolo, não sois carnais?”  Há divisões entre vós, fruto de vossa carnalidade, e carnalidade significa imaturidade espiritual, e não unidade de fé.
Quando alguém entra em pleno funcionamento isto passa a ser um poderoso fator para se trazer a unidade da fé.  O inimigo procura dividir o corpo de Cristo sobre a terra em tantos fragmentos quanto possa. Como ele faz isso?  Basicamente por meio da ignorância do povo do Senhor. Geralmente por meio de seu crescimento espiritual retardado, e também porque os crentes estão num estado passivo, ao invés de estarem num estado espiritual ativo. Você irá descobrir que essas coisas estão por trás de muitas das atividades do inimigo ao longo da linha da cisma. A unidade da fé, diz a Palavra muito claramente, se dá através de cada membro funcionando, dando a sua contribuição de forma viva para o todo.
Certa ocasião uns homens foram até Moisés se queixar de que havia algumas pessoas no arraial que estavam profetizando, e esses homens achavam que aquilo era um movimento sectário, ou uma divisão, ou algo parecido, achavam que era uma ruptura na comunidade, porém Moises disse: “Oxalá todo povo do Senhor fosse profeta”.  A linha positiva é melhor. Quando alguns estão cumprindo o ministério e outros não, fica impossível chegar à unidade da fé. Todos nós estamos engajados no negócio.
Então, novamente: “…e do conhecimento do Filho de Deus.”  O grego aí é literalmente: “ao pleno conhecimento do Filho de Deus …até a estatura de varão perfeito, até a estatura da plenitude de Cristo”. Tudo isto está associado à vida ativa de todos os membros de Cristo. Não iremos nos delongar aqui, em seus fragmentos, mas leia novamente o texto de forma mais cuidadosa. 
O apóstolo tem em vista o seguinte: “para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela astúcia dos homens que enganam fraudulosamente, pelo espírito do erro”. Se apenas pudéssemos examinar a linguagem do apóstolo, isto traria muita luz a este assunto: “pela astúcia dos homens”. Literalmente, engano, mas as palavras gregas fazem referência ao lançar dos dados de modo fraudulento, é algo como tirar vantagem, um engano, e é isto que está aqui na linguagem. A astúcia do erro. É um lançar de dados de forma arranjada, de modo que venha a beneficiar somente a pessoa que os está usando. Este erro que anda ao redor é para defraudar os santos de sua superioridade em Cristo, para defraudá-los de sua posição.  Não é este o efeito do erro durante toda a caminhada? 
Sim, os crentes que são levados ao redor, para que não despertem para o fato de que têm sido eles enganados da realidade por meio de uma fraude, esses crentes têm perdido o alimento por meio de algo que aparentou ser para eles um lucro. As palavras “pela astúcia” são muito ricas.  Paulo usa a palavra aqui que é “em cada feito, ou em cada obra, em cada velhacaria”.  Cada feito deles contém algo de astúcia sutil. Astúcia sutil do maligno em sua falsa doutrina. A coisa parece direita, totalmente boa, em conformidade com a Palavra, mas há algo escondido nele, um truque, um laço.
O povo do Senhor precisa se conscientizar disto, e é somente quando estamos em plena força, ativos, positivos em nossa vida espiritual que alcançamos uma posição onde as nossas faculdades fiquem exercitadas, a fim de podermos discernir entre o bem e o mal, discernir o truque. Que algo tremendo seria se cada filho de Deus pudesse, em razão do tempo, estar nessa posição, ser capaz de enxergar esses enganos, esses ventos da falsa doutrina, de enxergar o erro,  de enxergar onde está a falha, o truque, e estar em posição de alertar com aqueles que são crianças no sentido correto, que ainda não estão no tempo da maturidade; ser um guarda para eles. Esses fundamentos são muito importantes.
Tudo isso é obra de fundação, e devemos, sem esgotar tudo que está nesses versos,  apenas deixar que a ênfase principal do apóstolo nos envolva. Embora tudo pareça ter sido dito, contudo muito ainda devemos acrescentar a ele, é isso, que você e eu, cada um de nós sem exceção, possamos nos lançar e nos mover com o Senhor numa forma ativa e positiva, para que a nossa vida e faculdades sejam desenvolvidas, e alcancem a maturidade, onde não importa quais enganos haja, que as ondas varram como um tornado,  ou mesmo como brisas sobre a terra, nós jamais nos moveremos, jamais seremos levados, estamos conscientes das armadilhas secretas, e ficamos firmes. Estamos numa batalha. A edificação é a nossa batalha. Não há nenhum campo em que a batalha seja mais real, mais furiosa, mais cruel do que o campo do aperfeiçoamento dos santos, o campo da edificação do corpo de Cristo.
Este é o porquê desta carta excepcionalmente trazer todas aquelas coisas juntas. Por um lado há a igreja, o Seu corpo, a ser edificada e aperfeiçoada, de outro lado há a furiosa e a sutil obra do inimigo. O inimigo procura enganar os santos, destruir a igreja, e a única maneira em que ele pode ser derrotado é você e eu nos movermos para a plenitude de Cristo, seguirmos de modo ativo, não ficando satisfeitos apenas por estarmos salvos, recebermos toda plenitude que é possível em Cristo. Com todos os santos na comunidade até que cheguemos à estatura da plenitude de Cristo. O Senhor imprima a Sua Palavra em nossos corações.
 
Capítulo 4 – Um novo começo
Ler: Hebreus 5:11-14; 6:1-3.
 
Esta porção, que poderia ser acompanhada por mais uma grande quantidade vinda das cartas aos Romanos, Coríntios, Efésios, Colossenses e das cartas de Pedro, traz algo muito fundamental em vista. Fundamental porque, neste caso, está endereçada a muitos religiosos, e aqueles que herdaram todo este sistema que o próprio Deus produziu. Ela traz em vista o fato de que com Cristo, e de que com um verdadeiro relacionamento com Cristo, algo novo se inicia.  Tudo mais, não importa o que seja, chega ao fim. Ela deixa claro o que Paulo gostava de dizer, que com a morte de Cristo tudo acabou, tudo!  Religiosamente a coisa central, em relação à velha ordem, em tipo, era o véu do templo; tudo se encontrava naquele véu.
Com a morte de Cristo, o véu se rasgou de alto a baixo pelas mãos de Deus. A velha ordem foi golpeada em seu âmago. A morte do Senhor Jesus realmente traz um fim a todas as coisas - religiosamente – da velha ordem, do velho sistema, da velha criação. A ressurreição do Senhor Jesus foi Deus começando tudo novamente, a partir do zero. E nenhum fragmento ou fração da velha criação foi levada para a nova. 
 
Ressurreição e não elevação 
Penso que um bom número de pessoas tem a idéia, mesmo que não numa forma expressa e positiva, de que se tornar um crente, um filho de Deus, um cristão, é chegar a certo ponto de sua história onde você, metaforicamente falando, sobe para uma plataforma mais alta e prossegue. Está na natureza de continuidade da vida, num andar superior. Isto é, que agora você tem interesses religiosos, interesses cristãos, que não tinha antes, e que suas atividades e energias são direcionadas ao longo da linha em relação a Cristo, o que não acontecia antes. 
Você simplesmente continua agora num diferente nível de vida, e, assim, eles confundem ressurreição com elevação, e elevação com ressurreição. Agora, é tremendamente importante (e eu não me preocupo em ser tão elementar) que pudéssemos reconhecer que, quando nos tornamos filhos de Deus, chegamos à posição onde não temos subido para um pavimento superior, como num elevador, mas sim temos caído numa sepultura, havendo sido enterrados, e, em relação a Deus, nunca mais seremos vistos como éramos anteriormente. Você diz: Aqui estamos, é o mesmo velho EU de sempre, o mesmo velho EGO, a mesma velha personalidade. Isto pode ser assim do seu ponto de vista, mas não do ponto de vista de Deus! 
O que você e eu temos que fazer é aceitar o ponto de vista de Deus.  Isto é o que Paulo quer dizer com: “considerai-vos como mortos...”. Isto é, aceitar o ponto de vista de Deus. Uma vez que você tenha aceitado isto de modo inteligente e deliberadamente, você está destinado a conhecer de forma contínua e progressiva que o ponto de vista de Deus é real. Isto é, que Deus considera você como morto, e de fato reconhece você como morto, e Ele não quer ter nada a ver com você naquele velho nível; e, quando você traz alguma coisa do natural, você tem um tempo desfavorável, e descobre que Deus está contra você. Você entra nessas crises e diz: Qual é o problema, Senhor?  E o Senhor diz: Isto foi descartado no início! Você entende que trata-se de um aceitar de uma vez por todas o ponto de vista de Deus, e descobre que não é uma teoria, nem uma doutrina, mas uma realidade. 
 
Quando você morreu? 
Consegui um pequeno livro esta semana. O título na capa me chocou.  Provavelmente muitos de vocês o conheçam.  “Quando você morreu?” Eu apenas vi algumas palavras dele, e o escritor diz: “Uma estranha questão para perguntar a alguém”, e, então, um pouco mais adiante e ele diz: “Você morreu muito tempo atrás, quando o Senhor Jesus morreu na cruz.” Eu sei, naturalmente, o que ele terá que dizer sobre isto, eu sei o que se seguirá, mas esta é a verdade que o Senhor exige que nós aceitemos. 
O ponto de vista do Senhor é que você e eu morremos antes de termos nascidos, antes que entrássemos literalmente neste mundo. Em relação à velha criação, nós morremos, morremos com Cristo, e o Senhor não tem nada o que dizer para nós, ou fazer conosco até que aceitemos esta posição. A primeira palavra para qualquer homem do ponto de vista do Senhor é “arrependa-se de suas obras mortas”.  Tudo está morto até que você experimente a união com Cristo pela ressurreição, não importa o que seja, religião ou qualquer outra coisa. Tudo está morto até que você experimente a união com Cristo na vida ressurreta.
Esta é a posição de Deus, e a Cruz do Senhor Jesus apresentada a todo homem ou mulher representa, em relação a este homem ou mulher, um absoluto fim, e, do outro lado, o início de uma ordem completamente nova. Paulo chama a diferente ordem: “…a novidade de espírito.” Esta não é a novidade do Espírito Santo, mas é a novidade do espírito, isto é, o nosso espírito tornou-se algo novo, e  é a partir disto que tudo mais se desenvolve. Você pode ver isto em seu próprio caso. Se já houve uma ilustração do que significa novidade de espírito, Paulo foi o tal.  Por que, isto aconteceu rapidamente com ele?  Num dia ele está respirando ameaças e massacres contra os membros de Cristo, com uma determinação apaixonante de acabar com aqueles cristãos, e, em poucas horas, ele está humilhado perante uma pequena assembléia em Damasco, a qual ele estava indo destruir, tomando suas instruções para o resto de sua vida.
Esta é uma mudança de espírito, não é?  Isto é novidade de espírito.  E você encontra esta tremenda mudança manifestada em todos os tipos e direções. Pense neste fariseu de fariseus em sua atitude em direção aos “case” gentios, como ele os chamava (todo que não fosse judeu era um “cachorro” perante os olhos de um judeu).  Veja este homem em cujo próprio sangue isto estava, agora colocando os gentios pelo menos em posição igual a dos judeus, e pondo a sua vida em contínuos sofrimentos para que esses gentios pudessem desfrutar de Cristo.  Algo tinha acontecido no interior, um novo espírito! 
Isto somente vem através da crise de uma morte em um terreno e de uma ressurreição em outro; algo que somente Deus pode fazer. E tudo que não for desta novidade de espírito é da velha criação, e significa a barreira intransponível da Cruz do Senhor Jesus Cristo, sempre que isto se levanta. Deixemos o nosso velho homem, seja nosso mau temperamento, nossa velha maneira de julgar, nossa velha disposição, deixemos tudo isso ir para a cruz. Se somos filhos de Deus, sabemos bem que naquele ponto uma barreira é colocada e não podemos passar, estamos guardados em nossa vida espiritual, e temos que voltar atrás e ter a coisa colocada em ordem.   É para nós algo tão real quanto qualquer outra coisa neste universo.
Naquele momento ficamos tranqüilos espiritualmente, e a espada flamejante está atravessada em nosso caminho.   Não há caminho para aquilo aqui.  Traga aquilo aqui e você será julgado.  Você irá conhecer o julgamento de Deus.  Você será quebrado.  Está vindo contra o fato de que Deus acabou com tudo aquilo, e nós temos que aceitar o ponto de vista de Deus.  Quando tivermos aceitado este fato, então a coisa irá funcionar, ela sempre funciona.  Assumimos esta posição, aceitamos esta verdade. Não podemos nós mesmos acabar com a velha criação, mas dizemos de forma positiva: Eu considero como Deus considera.  Bem, então, iremos descobrir, na medida em que prosseguirmos, que Deus colocou tudo debaixo da morte, e sempre que a coisa surgir, novamente a sentença de morte é dada.
Se começamos a trabalhar para o Senhor com a nossa própria força natural, encontraremos a morte, e a nossa força ficará debaixo da morte.  Se começamos a usar o nosso velho julgamento nas coisas de Deus, encontraremos a sentença e chegaremos numa encruzilhada, incapazes de prosseguir. Tudo que trouxermos do natural para as coisas de Deus irá nos confrontar com _ não uma nova questão _ mas com a velha questão, a morte, que repousa sobre a velha criação. Na medida em que nos movemos em novidade de vida, em que trabalhamos pelo Espírito de Deus, em que andamos no Espírito, a morte é abolida e ficamos na vida, e podemos prosseguir e podemos chegar ao destino, não importa o quanto possa haver de deficiência e fraqueza em natureza, nós conseguimos avançar, na medida em que caminhamos no Espírito. “A lei do Espírito de vida em Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da morte”. Estamos livres! 
 
Morte — O ponto de partida de Deus
Agora, isto é um terreno muito familiar para muitos, contudo é algo que continuamente temos que nos lembrar.  É o fundamento.  A menos que tenhamos o fundamento muito bem colocado, chegaremos a um obstáculo.  Sabemos de muitos filhos de Deus, que têm sido filhos de Deus por anos, e muitos deles têm estado trabalhando para o Senhor, mas que chegaram a um estado de paralisação, estão presos.  Por quê?  Bem, em certo sentido, de alguma forma, algo deles mesmos, o velho EU ressurgiu, ficou em evidência, atravessou no caminho.  Pode ser algo de suas velhas mentes, algo de suas velhas vontades, algo de suas velhas afeições, desejos e sentimentos. Eles, de alguma forma, estão em seus próprios caminhos.
O que é necessário não é que eles devem morrer novamente, mas que precisam aceitar a sua morte em Cristo de uma vez por todas em relação a tudo o que possa surgir, e ficar livre da lei do pecado e da morte.  “Arrepender-se das obras mortas”.  É exatamente isto que o apóstolo está dizendo aos hebreus: Vocês estão estagnados. Simplesmente pararam de caminhar. Vocês foram tão longe, e agora chegaram a um ponto em que por anos não se moveram nem um pouquinho daquela posição.  Vocês não podem se agarrar às velhas bases, pois não irão atingir o crescimento pleno. Vocês ainda não aceitaram de vez que morreram quando Cristo morreu.  Vocês acabaram com todo o sistema e ordem da velha criação quando vieram a Cristo. Cristo é o fim da lei e da velha criação, e Ele é o início de tudo novo. Não fiquem enfadado repetindo velhas verdades, elas são importantes como fundamentos.
Nós estamos destinados, quer aceitemos ou não, quer gostemos ou não, a descobrir que o fundamento de Deus permanece. Isto é verdade, e ninguém jamais irá alcançar o alvo em relação a Deus e Suas coisas enquanto ainda estiver preso à velha criação, enquanto estiver no nível da velha criação.
Bem, agora, esta é uma posição assumida, e o que as pessoas que estão sendo batizadas estão fazendo é declarar de forma prática que aquela é a posição que assumiram. O que elas vão descobrir é que não têm apenas obedecido a uma forma de doutrina, mas que entraram numa situação muito viva e que a partir daí o Senhor irá sustentar as implicações disso. Ele irá dizer: Isto morreu, você não pode trazê-lo junto, não o tire da sepultura, deixe lá. E elas irão descobrir em todo o percurso que o Senhor somente coloca o Seu dedo sobre coisas as quais Ele reconhece como aniquiladas na morte de Seu Filho. Porém, naturalmente, sempre que houver aceitação da atitude e da posição do Senhor em relação àquelas coisas no lado da morte, nós conseguimos mais de Cristo e nos livramos de nós mesmos.
Eu realmente desejo que você reconheça que cada um de nós, do mais sábio ao mais tolo, como julgamos, cada um de nós quando realmente vamos a Cristo, temos que aprender tudo novamente. É verdade que podemos possuir uma tremenda quantidade de conhecimento e informação deste mundo, e, contudo, o mais sábio, o mais rico em conhecimento, ou em qualquer outra área, vindo a Cristo tem que aprender o ABC das coisas espirituais.  As pessoas irão descobrir isso. Tudo precisa ser aprendido desde a classe infantil, desde o berço da vida espiritual. De nada adianta virmos a Cristo achando que sabemos alguma coisa. Não irá demorar muito até sabermos que realmente não conhecemos nada.
O Senhor disse: “Quão dificilmente aqueles que têm riquezas entrarão no reino de Deus!”  Penso que se Ele estivesse num outro mundo diferente daquele que estava naquele tempo, se Ele estivesse no mundo ocidental, Ele provavelmente teria dito: Quão dificilmente aqueles que têm conhecimento entrarão no reino. O conhecimento jactancioso, a sabedoria, o intelecto do mundo ocidental é a grande obstrução para o reino. Ela não está preparada para aprender algo.
Quando Paulo foi para o mundo exterior ao dos judeus, este foi o tipo de coisa que ele falava o tempo todo, que a sabedoria deste mundo era o grande impedimento. Com os judeus, era o ganho na linha da riqueza; com os gentios, era o ganho na linha do conhecimento; para os gentios, o conhecimento era o impedimento, e tudo o que pertence ao natural tem que ser colocado de lado. É um obstáculo à nossa entrada no reino.  Quanto mais vivemos em comunhão com o Senhor, mais descobrimos que nada sabemos. Um pedaço de conhecimento que temos é que não conhecemos nada, absolutamente, e nós ficamos desejando o tempo todo obter algum conhecimento. Não há nenhuma estrada real para o conhecimento espiritual, nós temos que começar bem do início e aprender as coisas do Senhor na medida em que prosseguimos.
Quando começamos na condição de crianças cristãs, nós até achamos que conhecemos alguma coisa.  Porém, naturalmente, esta é uma insensatez da infância.  Nós estamos aprendendo tudo novamente. Com todo o conhecimento que possamos ter naturalmente, se isto pudesse ser considerado alguma coisa, porém nada conta aqui. O conhecimento espiritual é algo diferente. Nós temos começado tudo novamente, porém, quando aceitamos aquela posição: Agora eu tenho tudo a aprender, estou aberto e sedento para aprender, eu não sei nada, então o Senhor pode ensinar. Este é o orgulho de alguém que nunca aprende tudo. O Senhor nos mostra o que significa começar, qual é o significado da cruz em nosso fim para o velho e o começo para o novo.
 
FIM

 

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