OS ANJOS QUE PECARAM

Gênesis 6
 “As filhas dos homens” e “os filhos de Deus”.
 
“Se há um período da história sobre o qual gostaríamos de mais informações é o período antediluviano, entre a queda e o dilúvio. A narrativa de Gênesis mostra-se muito reticente, por uma razão muito simples. Mil e seiscentos anos são concentrados em duas páginas, de modo que não podemos ignorar a ligação significativa entre a queda e o dilúvio, quer vejamos ou não qualquer outro elemento. O escritor inspirado omite tudo que não é vital ao seu propósito. A narrativa bíblica jamais se preocupa com o simples lapso de tempo, e sim com a importância moral dos eventos. Entre a queda e o dilúvio, o desenvolvimento dos fatos é quase dramático. Vamos observá-los com cuidado. 
No capítulo 3 vemos a queda. No capítulo 4, temos Caim e sua linhagem — “os filhos dos homens”. No capítulo 5 aprendemos sobre Sete e sua linhagem — “os filhos de Deus”. No capítulo 6 as duas linhas se cruzam, com resultados morais trágicos. No capítulo 7 o juízo é executado — o dilúvio. 
Esta sequência dramática, uma vez observada, não pode mais ser esquecida. A separação entre as duas linhagens era vital; sua mistura, fatídica. A condição moral resultante foi espantosa; a corrupção, extrema. Tornou-se inevitável a intervenção divina, assim como o castigo. O dilúvio foi enviado como um ato de juízo e também como uma medida de salvação moral. Esta é a primeira grande lição bíblica de que são indispensáveis a separação e a intransigência. A insistência divina em todo o tempo é para que a descendência espiritual “saia e se separe”.
Alguns afirmaram que os “filhos de Deus” mencionados no capítulo 7 são anjos decaídos, isto é, anjos “que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio”, referidos em Judas 6. 
O falecido Dr. E. W. Bullinger, exegeta capaz, mas frequentemente fantasioso e falho, defende esta ideia. Um pouco de reflexão mostrará como ela é absurda. Os anjos são seres espirituais, assexuados, e, portanto, incapazes de experiências sensuais ou processos sexuais; também não podem reproduzir-se. A sugestão de esses anjos perversos de alguma forma terem tomado a forma humana e se tornado capazes de uma atividade sexual não passa de um disparate, como qualquer um pode verificar. A ideia é inconcebível tanto no terreno psicológico como no fisiológico. 
Todos sabemos como é peculiarmente delicada, sensível e intrincada a inter-reação que existe entre o corpo humano e a mente ou a alma humana. Isto se deve ao fato de a alma e o corpo terem nascido juntos e estarem misteriosamente unidos em uma personalidade humana. É assim que as sensações do corpo se tornam experiências da mente. Se os anjos simplesmente tomassem corpos e habitassem neles, isso não os capacitaria de modo algum a experimentar as sensações desses corpos, pois os anjos e os corpos não estariam unidos em uma personalidade, como no caso da mente e corpo humanos. Na verdade, os corpos não poderiam ser de carne e osso, pois, não habitando neles o espírito humano, o corpo humano de carne e osso morre. Quando o Senhor Jesus veio a este mundo para tornar-se nosso Salvador, Ele não tomou para si apenas um corpo humano e habitou nele. Tal coisa não o tornaria humano, não seria uma encarnação real. O Filho de Deus não tomou somente um corpo humano, Ele tomou para si a nossa natureza humana; e para isto teve de nascer. 
Se esses “filhos de Deus” em Gênesis eram anjos decaídos, a única maneira de se tornarem humanos e se casarem e terem filhos (6.1, 4) seria submetendo-se a um nascimento humano real — isto é, sendo encarnados e nascidos de mães humanas, mas sem pais humanos! Pensar que isto aconteceu é absurdo. 
Bullinger afirma que “filhos de Deus” é uma descrição aplicada apenas às criações diretas de Deus — isto é, os anjos, o primeiro homem, Adão (Lc 3.38) e aqueles na presente dispensação que constituem uma “nova criação” em Cristo (2 Co 5.17; Rm 8.14 etc.); mas ele certamente se esquece de versículos como Isaías 43.6 e 45.11, onde a expressão “meus filhos” é equivalente a “filhos de Deus”. 
Porque só agora, e não antes, quando ainda Eva estava no Éden, sendo a mais linda e perfeita mulher já criada, ou também depois.
Ignoremos completamente, então, a estranha ideia de que esses “filhos de Deus” em Gênesis eram os anjos decaídos, que “não guardaram o seu estado original” a fim de coabitar com as mulheres da terra. Além das objeções que já levantamos, a impressão que a Escritura nos transmite é de que a queda desses anjos — como a de Satanás — ocorreu muito antes de o homem ser criado na terra.”
 
1ª Pedro 3:18-22 
 
3:18. Se o Senhor está pedindo, através do Seu servo Pedro, que o Seu povo esteja pronto para fazer o bem e sofrer por causa disso, Ele somente está pedindo que façam, de acordo com a sua capacidade, aquilo que Ele mesmo já provou plenamente. Nas profundezas escuras e solitárias, Ele foi até os "fundamentos dos montes", às profundezas negras e solitárias, onde nenhum outro jamais poderia ir. Nós frequentemente sofremos como resultado do nosso próprio pecado. Quando Ele, o Cristo impecável, sofreu, foi pelos pecados de outros.
A aplicabilidade do que se segue e como isto se encaixa no contexto geral da epístola, é importante. Se o povo de Deus, aparentemente "poucos", sofre agora por amor da justiça, eles não devem ficar desanimados, embora a multidão dos ímpios pareça ganhar a vitória. Deus é soberano, e Seu domínio sobre todas as coisas não pode ser frustrado. O Seu justo juízo já foi estabelecido e será realizado, embora, com longânima paciência para com os ímpios, Ele adia a execução desta Sua estranha obra. A evidência suprema disso se vê nos sofrimentos solitários do Senhor Jesus por nossos pecados, na Sua morte, ressurreição e ascensão à glória sobre o trono de todo o poder e autoridade.
Cristo realmente sofreu, mas aquele sofrimento profundo pelos pecados foi "uma vez". Esta palavra não é pote (uma certa vez), mas hapax (uma vez somente), "uma vez por todas ... de validade perpétua, não necessitando repetição" (W. E. Vine). O grande propósito daquele sofrimento foi pelos injustos "para levar-nos a Deus". Adão e a sua posteridade pecaminosa foram banidos da presença de Deus por causa do pecado. Cristo sofreu para desfazer aquela separação e "levar-nos a Deus". Ele mesmo abriu caminho ao lugar santíssimo. Isso é maravilhoso! Ele mesmo tornou-se o verdadeiro caminho para Deus, o Pai. Isso é ainda mais maravilhoso! Ele mesmo traz o pecador perdoado, por meio daquele caminho santo, a Deus. Isso é maravilhosíssimo! 
"Vários significados técnicos foram encontrados em, ou atribuídos a, prosago ('trazer') ... Como muitas vezes acontece, a interpretação mais simples é a mais profunda: o sacrifício expiador de Cristo nos leva a Deus" (E. G. Selwyn).
"A Deus" sugere muito mais do que direção ou localização. Para o impenitente, ser trazido finalmente a Deus e estar diante dEle, será motivo de terror. O Senhor Jesus Cristo, baseado na Sua obra consumada, traz o cristão ao coração de Deus, à casa de Deus, e a estar, aceito, em meio da chama eterna da santidade de Deus, e sentindo-se em casa ali. Finalmente, o cristão será trazido ao céu de Deus; mas Deus é mais do que o céu, e o Abençoador mais do que a bênção. Assim o cristão não é chamado somente para ter um conhecimento do céu, embora isto seja uma inspiração, mas ao conhecimento do Deus a quem fomos trazidos. Diante de tal revelação de amor e graça, é impossível deixar de cantar o seu louvor.
O Senhor Jesus foi morto na carne: "Ele foi a vítima de assassinato judicial". Pedro acusou os homens de Israel da Sua morte, a quem tomaram e pelas mãos de injustos crucificaram e mataram (Atos 2:23).
Ele foi vivificado, isto é, trazido à vida, pelo Espírito. É justamente aqui que começa uma controvérsia que se estende pelos próximos versículos. Homens muito melhores do que nós, discordam sobre a sua interpretação, portanto vamos apresentar aquilo que nós entendemos, e dar as razões das nossas convicções. Convém que os nossos prezados leitores sejam como os nobres de Beréia, que examinavam as Escrituras para provar a exatidão do ensino que recebiam.
Não há dificuldade em aceitar que o Senhor Jesus foi morto na carne, embora algumas seitas, na sua auto-imposta ignorância, negam até isto. O testemunho, porém, é indisputável. Os soldados romanos maravilharam-se com a Sua morte, o centurião que comandava os soldados que O crucificaram a confirmou, as Escrituras a declaram e o próprio Senhor Jesus afirmou: "fui morto" (Apoc. 1:18).
Porém, vários pensamentos surgem por causa das interpretações das palavras: "vivificado pelo Espírito" (ARC). Não há artigo antes das palavras "carne" e "espírito", no grego, e assim a tradução poderia ser: "em carne" e "em espírito". Entretanto, idiomaticamente, na nossa fala normal, acrescentamos o artigo: "em [a] carne" e "em [o] Espírito "(ARA). O problema ao fazer isso, neste caso, é que "estes seriam o contraste entre as duas partes do ser do Senhor como homem, a externa e a interna" (W. Kelly). 
Isso nos levaria ao erro de afirmar que foi o espírito do Senhor que foi vivificado; mas sabemos que Seu espírito nunca morreu, mas foi entregue nas mãos do Pai (Luc. 23:46).
Detalhes técnicos são apresentados para apoiar a ideia de que "no grego é literalmente: "morto em carne, vivificado em espírito".
Vemos o falso conceito que surge disto ao lembrarmos das palavras do Senhor em Luc. 24:39, onde Ele afirma que estava num corpo ressurreto de "carne e ossos", embora fosse um corpo espiritual. 
"Se há um corpo natural, há também um corpo espiritual" (I Cor. 15:44). William Kelly diz: "A mera insistência, das escolas, em detalhes técnicos sempre erra na interpretação das Escrituras".
A palavra "vivificar" não significa revigorar, nem permanecer vivo, mas fazer voltar definitivamente de entre os mortos. É usada desta maneira no "NT (veja Rom. 4:17; 8:11; I Cor. 15:22 etc.).
"Vivificado" está em contraste com "mortificado". O que foi morto foi o corpo do nosso Senhor. O que foi vivificado também foi aquele precioso corpo (João 2:21). "E tão impossível aplicar a palavra 'vivificar' ao espírito de Cristo, como é à Sua natureza divina" (W. Kelly).
Para a interpretação desta seção é necessário entender o significado de "em [o] Espírito". Qual espírito? Ou é realmente
"Espírito"?
Alguns sugerem que, por causa da ausência do artigo, esta palavra não pode indicar o Espírito Santo. É verdade que a forma da palavra sem artigo aponta mais para o caráter dos atos do que para a pessoa que age. Entretanto, fica claro através de numerosas Escrituras, onde o artigo está ausente (no grego), que elas se referem claramente ao Espírito Santo, "caracterizando a ação mais do que especificando a pessoa ...". William Kelly apresenta uma lista de mais de vinte destas referências, e entre elas estão João 3:5; 4:23-24 e Rom. 8:1, 4, 9, 13.
"Em espírito" não pode significar o espírito humano de Cristo pois "não é pelo espírito humano que o corpo é ressuscitado" (F. W. Grant). Referindo-se ao Espírito Santo, lemos: "o Espírito é o que vivifica" (João 6:63). Ele "também vivificará os vossos corpos mortais, peio seu Espírito que em vós habita" (Rom. 8:11). "O Espírito de Cristo" é um dos títulos do Espírito Santo, e não a Pessoa divina de Cristo (1:11).
3:19-20. Para o crente, o sofrimento findará. Há glória além deste vale de lágrimas. Cristo, nosso precursor, já entrou. Ele padeceu uma vez, mas foi ressuscitado dentre os mortos pelo Espírito Santo. Ele subiu ao céu naquele corpo ressurreto, e está assentado em glória sobre-excelente. Ele é Senhor dos mundos e Soberano dos céus:
"havendo sê-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências" (v. 22).
Foi pelo mesmo Espírito Santo que "foi, e pregou aos espíritos em prisão". Esta Escritura difícil tem sido usada para pregar sobre "uma segunda oportunidade" para alguns, ou um tipo de universalismo, em que todos finalmente chegarão ao céu, alguns diretamente e outros através de um tipo de purgatório. Precisamos procurar respostas às seguintes perguntas: Quem são estes prisioneiros? e, quando foi que Cristo pregou a eles e onde?
Temos visto que foi o Espírito Santo que realizou a obra vivificadora no corpo do Senhor Jesus. Então foi "também" pelo mesmo Espírito que Cristo pregou.
"Os espíritos que estão em prisão" (JND) são descritos como havendo sido desobedientes à mensagem que foi pregada, e não deram ouvidos a ela durante os longos dias da paciência de Deus antes do dilúvio. Por causa daquela desobediência e incredulidade "veio o dilúvio, e os levou a todos" (Mat. 24:39) e seus espíritos ficaram aprisionados.
Alguns sugerem que quando o Senhor Jesus morreu Ele foi "em espírito" ao mundo invisível. Lá Ele pregou a a) espíritos aprisionados de homens, mortos há muito tempo; ou b) a anjos caídos, para proclamar a Sua vitória; ou c) aos santos do VT, a quem Ele livrou para habitarem nos lugares celestiais.
Em primeiro lugar, já vimos que este não pode ser Seu espírito humano, a não ser que Seu espírito humano pudesse ter morrido. Ele foi ressuscitado pelo Espírito Santo: "No qual [no Espírito Santo] também foi e pregou ..." É por meio deste mesmo Espírito Santo, agora neste dia da graça, que se prega o evangelho. Em todo lugar onde se prega o evangelho no poder do Espírito, o Senhor está presente, pois Ele disse na Sua grande comissão: "eis que Eu estou convosco todos os dias" (Mat. 28:20) Efésios 2:16-18 fala deste mesmo ministério de Cristo, pregando. Depois da cruz e depois da derrota do inimigo, "vindo, Ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto". Ele não desceu novamente à terra, mas pregou através de Seus servos, pelo poder do Espírito Santo. Depois da ascensão de Cristo à destra de Deus, os discípulos, "tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor ..." (Mar. 16:20).
Devemos notar com cuidado que as Escrituras não dizem que Cristo foi à prisão e pregou aos espíritos, mas entendemos deste versículo que o Espírito de Cristo, em Noé, "pregoeiro da justiça" (II Ped. 2:5), pregou aos antediluvianos. Eles ouviram esta proclamação de justiça, mas foram desobedientes (ARA) ou "não creram" conforme a nota de rodapé de JND. Levados pelo dilúvio, seus espíritos estão presos, aguardando o juízo final.
Dos anjos caídos, lemos que "havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo". Não há nenhum intervalo de alívio, mencionado nas Escrituras, para aqueles seres outrora tão privilegiados. O Senhor é conhecido nas legiões infernais (Mar. 1:24; Luc. 8:28). Ele não precisa fazer qualquer proclamação a esses seres maus, pois eles hão de vê-L0 no dia do juízo.
Os demônios são outra espécie; eles estão em liberdade, no presente, para percorrer a terra, e estão sempre procurando corpos nos quais possam habitar. Mesmo o corpo de uma mosca (Belzebu quer dizer "senhor das moscas'; Mat. 12:24), ou de um porco (Mar. 5:12) é melhor, para eles, do que o abismo (Luc. 8:31). Alguns destacam que a palavra pneuma, quando sozinha, sempre se refere a uma ordem superior ao homem e inferior a Deus. Aqui, eles dizem, pneuma está sozinha e portanto deve indicar algum tipo de anjo caído. J. B. Rotherham mostra, porém, que "Esta frase é destacada enfaticamente ... [é] literalmente aos 'em-prisão espíritos', portanto pneuma não está sozinha aqui". Vemos a longanimidade de Deus para com os ímpios, pois Ele adiou o juízo durante 120 anos "enquanto se preparava a arca". Os incrédulos zombam da história da arca e da honestidade de Deus. 
Eles dizem que não haveria espaço suficiente na arca para salvar todo o mundo. Estes pensamentos insensatos surgem porque não conseguem entender o significado da arca. 
Existem muitas idéias erradas acerca de Noé e da arca. A ênfase não está no navegar da arca mas no "preparar" dela. Ela navegou por um ano e dez dias, mas levou cento e vinte anos para ser preparada. Cada tábua era um sermão, cada martelada foi um aviso e enquanto a estrutura tomava forma, assim também aumentava a responsabilidade dos ouvintes.
Era a demonstração prática da mensagem de Deus, executada diante de seus próprios olhos: "arrependei-vos ou perecereis". Ela não foi construída para salvar o povo no dilúvio, mas do dilúvio.
Não foi preparada para salvar a população do mundo, mas Noé e sua família (Heb. 11:7), depois que o mundo recusou a mensagem de Noé. A arca não é uma figura de Cristo, mas de salvação e segurança. A Terra é a figura de Cristo: o pecado foi cometido sobre a Terra, mas não havia pecado nela. Aquilo que, em si mesmo, era sem pecado suportou as ondas e vagas do juízo de Deus. Noé e sua família foram salvos "através" das águas do juízo.
3:21. Noé e sua família passaram "através da água" (JND) e foram salvos. Aquela água os separou para sempre da sua velha vida no velho mundo. Não havia como voltar. Eles foram trazidos a uma vida nova sob novos princípios de governo. A arca "veio a repousar sobre o monte Arará com seu frete vivo, num mundo novo, sobre o qual se estendia um arco sem flecha" (W. Lincoln). Este seu novo começo foi marcado por um sacrifício ao Senhor. Eles foram salvos da contaminação do mundo e suas consequências, pela água. Eles foram salvos para andar numa vida totalmente nova.
O batismo também é uma figura; simboliza a morte, sepultamento e ressurreição, que capacita ao obediente andar em novidade de vida. O batismo testifica visivelmente daquilo que já aconteceu espiritualmente e justamente, isto é, a identificação do cristão com Cristo na Sua morte, sepultamento e ressurreição. O batismo da cruz foi a realidade. O batismo do Espírito Santo é o resultado e o batismo do cristão, em água, é a declaração. 
Isto não é regeneração pelo batismo, que é uma idéia falsa, atribuindo poder vivificador a uma ordenança que, em primeiro lugar, é figura de morte. A água do batismo alcança somente a pele, mas não o pecado. As Escrituras dizem claramente: "não sendo a remoção da imundícia da carne" (ARA). "E impossível não ficar impressionado com a cautela do Espírito de Deus em tratar deste assunto, ao declarar que não é o mero lavar da sujeira da carne, como por água, mas 'a indagação de uma boa consciência para com Deus' " (C. H. Mackintosh).
A "indagação" (eperotema), que também pode ser traduzida "exigência" ou "apelo", de uma boa consciência, é a obediência. "O batismo, portanto, é a base de um apelo feito por uma boa consciência contra obras más" (W. E. Vine). O que se espera é que "assim andemos nós também em novidade de vida". A morte, o sepultamento e a ressurreição, representados pelo batismo, são judiciais e reais. A boa consciência interroga e apela ao crente com base no compromisso que ele expressou pelo seu batismo. 
3:22. A consequência dos sofrimentos de Cristo é, para Ele, exaltação à glória. É imensurável e inestimável o conforto que este fato traz aos cristãos de todas as eras. As potestades satânicas podem atacar, os governos terrestres podem oprimir, os ímpios podem aterrorizar e o povo pode zombar da bondade dos santos e difamar o seu caráter, mas há uma Pessoa assentada à destra de Deus, Jesus Cristo, que é seu Senhor ressurrecto e seu Salvador. Ele está em controle de tudo, decretando, permitindo, movendo e dirigindo todas as coisas de acordo com o eterno propósito e ninguém pode deter a Sua mão. FIM
 
2ª Pedro 2:4 
 
Pedro agora mostra exemplos tirados da história: anjos (v. 4), antediluvianos (v. 5) e sodomitas (v. 6). Cada um ilustra a afirmação de Pedro: a punição espera os falsos mestres, porque Deus não se deixa zombar, nem pelos habitantes dos Céus nem pelos da Terra. 
As Escrituras revelam pouco a respeito de quando e o que estava envolvido nessa referência aos anjos que caíram em pecado. Com certeza a grandeza de seus pecados deve ter sido tremenda (a retribuição é justa e na medida do pecado cometido), porque eles estão presos no Tártaros que, no mundo grego, era o inferno mais baixo — bem pior do que o Hades, e reservado para aqueles que perversamente desprezaram sua posição e inescrupulosamente contaminaram os inocentes. Deus não levou em consideração a posição de influência desses seres, pelo contrário, julgou o pecado com justiça. Presos aos abismos ou às correntes de escuridão, eles não poderiam continuar em seus pecados sujos e vis, que haviam causado tanta confusão na criação de Deus. De acordo com o pensamento deste autor este não é o acontecimento descrito em Gên. 6. A seqüência dos exemplos mostra que o que ocorreu em Gên. 6 é o segundo exemplo. Essa referência aos anjos e ao prejuízo causado por eles nos leva ao passado, à entrada do pecado no jardim do Éden. A serpente que pregou era um falso profeta, primeiramente colocando dúvidas quanto ao caráter de Deus, depois quanto ao estado desnecessariamente restrito do homem, e em terceiro lugar falsamente consolando a mulher obrigada à sujeição. 
O fato de estar no plural não afeta a história da visita da serpente ao Éden. Pelo contrário, indica que a queda de Satanás, da posição de administrador a serviço de Deus para a posição de adversário de Deus, foi uma queda real, na qual Satanás arrastou consigo, à destruição, muitos dos poderes invisíveis (comp. Apoc. 12:4). Em Jó 1:6; 2:1-7, Satanás aparece perante Deus junto com uma legião de outras criaturas celestiais, mas obviamente diferente delas (o que é destacado quando o Senhor fala a ele pessoalmente). Os filhos de Deus vieram se apresentar perante o Senhor e receber instrução para serviço. Satanás também chegou entre eles, mas não para receber instruções. Em Apoc. 12:4 Satanás, como o dragão, também tem muitos seguidores. A maravilha está no céu (v. 3); a legião que o segue é celestial, indicando que poderes celestiais seguiram o dragão no seu trabalho.
O trabalho de Satanás, a serpente no Éden, o revela como líder de todos e de tudo o que é falso e enganoso. O ataque ocorrido no Éden foi planejado para enganar Eva e para arrastar a humanidade ao pecado. Nós conhecemos o triste resultado. O método utilizado, a maneira de se aproximar e o resultado final são uma sombra dos astutos movimentos dos falsos profetas do VT e dos falsos ensinadores do NT. A promessa de Deus foi feita ainda no Jardim do Éden. De uma maneira especial, Satanás utiliza não somente emissários da legião celestial, mas também homens e mulheres na
Terra, como agentes para trazer descrédito à promessa de Deus. Ele se opôs violentamente ao cumprimento da promessa e continuará a se opor. Deus agiu naquela ocasião, pois Ele nunca vai tolerar o pecado; o Seu julgamento será justo, a penalidade será de acordo com a severidade do pecado cometido, e o resultado final será o cumprimento da Sua promessa. Deus não reteve a Sua condenação até mesmo dos anjos que pecaram, incluindo Satanás; evidência clara que os falsos mestres que se utilizam das sórdidas táticas de Satanás devem temer o fim que os espera. FIM
 
Judas 6 
 
O segundo exemplo do juízo de Deus é dos anjos que pecaram.
Estes apresentam a Judas mais uma prova de que os ímpios serão também julgados no tempo devido. Entrando na esfera dos céus, e procurando estabelecer o que acontece ali, temos muito pouca informação.
Contudo, de algumas referências das Escrituras, podemos entender que estas criaturas, apesar da sua posição elevada, tinham a capacidade de pecar. O seu chefe foi indubitavelmente Satanás, e ele liderou a rebelião, querendo ser semelhante ao Altíssimo. A raiz da sua queda, e da deles, foi o seu orgulho. Não ficaram contentes com a sua posição, ou estado, mas deixaram-no para atingir algo mais elevado. A palavra "principado", também usada em Ef. 6:12, indica
não somente a primeira posição deles, mas a alta dignidade desta posição. Para sugerir que eles deixaram este estado maravilhoso de glória para se tornarem companheiros das mulheres na terra, parece dar a eles a graça manifestada em Cristo, quando Ele desceu à terra para ser o nosso Salvador. Não, o seu pecado não foi em descer, mas em seu desejo de subir, e por causa disto foram lançados para baixo por Deus. A sua "habitação" era sem dúvida o céu, onde eles viviam na luz da glória de Deus. Uma vez caídos, perderam sua liberdade e foram presos, e ao mesmo tempo perderam a luz do céu e foram confinados à escuridão. Paulo os chama de "principados e potestades", os "dominadores deste mundo tenebroso" (Ef. 6:12 ARA). Nesta prisão de trevas ficarão até ao dia quando serão julgados e lançados no lago de fogo. Como todos os ímpios, eles não estão ainda no seu destino final, mas estão guardados, sem esperança de escapar, até seu fim chegar. O significado deste versículo é que, como as criaturas mais elevadas foram julgadas por causa do seu pecado, assim também os obreiros maus sofrerão seu justo castigo.
É surpreendente ler as palavras: "anjos ... não guardaram seu estado original" (ARA). Eles se tornaram descontentes com a sua sorte e também com o propósito do seu Criador para eles. O seu pecado não foi por falta de inteligência, porque são sempre representados como seres inteligentes; também não surgiu por causa de uma natureza depravada herdada, porque eram tão perfeitos como a obra de Deus; e nem foi porque receberam uma posição inferior, pois eram muito mais elevados do que o homem sobre a terra. Não podemos culpar a Deus por ter criado seres com a capacidade de pecar, pois nunca foi da Sua vontade que pecassem. Contudo, tem sido Seu propósito ter, ao redor de Si, seres livres e responsáveis que, voluntariamente, Lhe deem a glória devida ao Seu nome. Mesmo nós, que somos feitos à Sua imagem, nunca podemos achar companhia ou satisfação em meras máquinas. Elas nos obedecem, mas não podemos agradecer-lhes por isto, pois não são capazes de outra coisa. O que traz gozo ao coração de Deus é obediência, e devoção a Ele, subindo espontaneamente dos corações dos Seus. Ele achou isto, com perfeição, na pessoa do Seu Filho. O livre arbítrio somente cessa de ser uma bênção às Suas criaturas quando sai do caminho certo e se rebela contra Deus.
Um grande número de escritores liga este trecho com Gên. 6, e dizem que foi quando os anjos (filhos de Deus) deixaram o céu para obter esposas dentre a descendência de Adão que "deixaram a sua própria habitação". Não é fácil para alguns de nós acreditar que espíritos, sem sexo, desejariam mulheres e que deixariam o céu para gratificar a sua paixão. É necessário muita imaginação para aceitar que seres sem corpos poderiam ser perturbados com concupiscências carnais. Não é estranho que demorou mais de mil anos para eles observarem a beleza feminina? Por que não cobiçaram
Eva? Pois observaram a sua criação, e sem dúvida ela foi a mais linda de todas as mulheres! Será que temos de pensar que seu lar celestial lhes significava tão pouco, que o deixariam para serem sujeitos às limitações de uma terra amaldiçoada? A segunda ideia baseada neste trecho de Gênesis é que os gigantes eram o produto desta união de anjos com mulheres, e que eram a evidência deste relacionamento anormal. Dizem que o significado da palavra hebraica para "gigante" (nephilim) apoia isto, pois dizem que quer dizer "os que caíram"; mas conforme Gesenius, o significado mais provável é "os que caem sobre". A maneira como os gigantes tratavam os mais fracos lhes deu esse nome. É evidente, pelo trecho, que os gigantes estavam na terra antes dos "valentes", e não eram o fruto do relacionamento imaginado. Gigantes apareceram nos dias de Israel, no deserto, e mais tarde nos dias de Davi. 
Será que temos que acreditar que houve várias quedas de anjos, e sempre que vemos alguém de estatura e físico enormes, temos que pensar que foi um anjo que o gerou? Mesmo na natureza ao nosso redor Deus controla, pois embora espécies diferentes podem ser cruzadas e reproduzir, como no caso da mula, termina aí, porque nenhuma mula pode se reproduzir. Assim, é estranho se anjos e mulheres podem se unir e produzir gigantes, pois lemos dos filhos dos gigantes. Tudo isto é tão absurdo que quase não merece uma tentativa de refutá-lo. Anjos pecaram e foram lançados da sua posição elevada, sua humilhação seguiu o seu pecado, mas não foi a causa dele.
Tem havido muita dificuldade em entender as várias posições ocupadas por Satanás e suas hostes; lemos dele nos céus e com acesso a Deus (Apoc. 12:10), do seu andar como leão que ruge (I Ped. 5:8), da sua queda do céu (Luc. 10:18), da sua transformação em anjo de luz (II Cor. 11:14), dele amarrado no abismo e lançado no lago de fogo (Apoc. 20:2, 10). Muita da confusão que surge destas várias afirmações é removida quando lembramos que Deus pode falar de eventos futuros como se fossem já realizados. Embora Satanás não é onipresente, ele tem agentes por toda a parte, e o que é feito por estes é considerado a obra dele.
As Palavras: "Guardaram", veja "conservados" (v. I) e "guardaram" (v. 6). "O seu principado" (arche), também em Ef. 1:21; 3:10; Col. 1:16, se refere à alta posição ocupada pelos anjos, enquanto que a sua "habitação" (ioiketerion) se refere à sua morada. "Prisões" (desmos), são as algemas (ARA) que prendem prisioneiros, etc., e a palavra é usada geralmente no plural. Veja Col. 4:18; II Tim. 2:9. Há um jogo de palavras neste versículo.
Os anjos "não guardaram" (tereo) o seu principado, mas Deus os "reservou" (tereo) na escuridão. Assim por não guardarem a sua dignidade, são guardados na escuridão, pelo Senhor. FIM
 
 
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