O DÍZIMO E A COLETA

A NOSSA CONTRIBUIÇÃO

Como crentes salvos pela graça de Deus; é um dos temas mais sugestivos e de premente atualidade. Acima da atitude que tenhamos para com o mundo corrompido, é o que damos e fazemos que melhor define o nosso relacionamento com Deus e a Sua Obra. Este assunto, convenhamos, é de uma grande sensibilidade. Para o desenvolvermos com exatidão e aceitação, carecemos muito da sábia assistência do Espírito que está em nós.

Confrange-nos saber dos maus tratos que a doutrina sobre a contribuição dos crentes tem sofrido. Muitos são, infelizmente, os que, a este respeito, procedem na Dispensação da Graça como se ainda estivéssemos na Dispensação da Lei. Ninguém tem o direito de abusar da ignorância dos crentes. Daqueles crentes que não sabem mais do que aquilo que esses mestres lhes dizem.

Nenhum filho de Deus deve ser instigado a dar dízimo sob a ameaça de que, se o não fizer, haverá maldição na sua vida. Também não deve ser mentalizado no sentido de que, se ele for dizimista, Deus lhe dará mundos e fundos. Isso é uma barganha. É ensina-lo a fazer qualquer coisa com os olhos postos no lucro. É o "dou-Te, para que Tu me dês". É assim como que um "tododízimo" evangélico. A generosidade cristã seja exercida espontaneamente, mas nunca pressionada pelo medo ou motivada pela usura. Há razões muito mais convincentes e inquestionáveis, que se sobrepõem a quaisquer outros motivos, para honrarmos e servirmos com os nossos bens o Senhor que graciosamente nos salvou. Essas, sim, importa conhecê-las e concretizá-las.

Essas razões são-nos incutidas na mente e no coração pelo exemplo mais sublime, que é o amor divino - tanto do Pai como do Filho. São elas que nos inspiram o mais profundo sentido da gratidão, devida a Quem tanto fez e continua a fazer por nós e em nós.

Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito". Deu o Seu Filho único. Não podia Dar mais do que deu. " Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" - Jo. 3:16; 15:13. Se a dádiva da vida pelos amigos é assim valorizada, de quanto maior apreço não é ela merecedora, sabendo-se que isso foi feito a favor de inimigos! O Senhor Jesus deu a Sua Vida por nós, quando éramos Seus inimigos . Também Ele não podia dar mais do que deu. "Cristo amou a Igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela" - Efés. 5:25. O Pai amou o mundo. Ele amou a Igreja. Cada Um deu o máximo que tinha pelo objecto amado. Nós éramos mundo. Agora somos Igreja. A dádiva da Sua vida envolveu a entrega de SI mesmo. Tudo isto nos diz diretamente respeito. Por consequência destas verdades lapidares, e muitas mais, também nós queremos dizer com Paulo: "Graças a Deus pelo Seu Dom inefável" - II Cor. 9:15.

Pelo que vimos, a salvação gloriosa e eterna que agora possuímos é fruto das duas dádivas referidas. O efeito deste conhecimento deve ser tão fonte e decisivo sobre a nossa vontade que nos leve a também dizer como Paulo: "O amor de Cristo nos constrange!" - II Cor. 5:14. Estas são algumas das muitas razões pelas quais cada crente é, ou deve ser, um contribuinte agradecido e generoso. E assim, tanto o que fazemos como o que damos nada tem a ver com medo ou ambição. Somos tão somente constrangidos pelo amor de Cristo.

DÍZIMO

Não existe doutrina nem mandamento específicos relativamente à entrega do dízimo, no Novo Testamento. Isso teve força na Dispensação da Lei, a qual deu lugar à da Graça. O dízimo foi fixado e era exigido pelo Senhor em conformidade com as bênçãos prometidas a Israel. Ora, como sabemos, essas bênçãos, condicionadas pela obediência, eram de natureza terrena e temporal. Encontramo-las expostas ordenadamente em Deut. 28:1-14. -

Connosco, porém, não acontece o mesmo. Não nos é garantida a totalidade dos benefícios materiais e terrenos prometidos a Israel. Em vez disso - mas com grande vantagem - fomos abençoados " com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" - Efés. 1:3. Paulo, cheio do gozo que este conhecimento produz, orava para que os crentes de Éfeso - e nós também - com os olhos do entendimento iluminados soubessem quais são as riquezas gloriosas da herança que temos em Cristo. E ás mesmas chamou ele também " as riquezas incompreensíveis de Cristo" - Efés. 1:18; 3:8. Somos, por isto e pela parte restante que as Escrituras contêm, incomparavelmente mais devedores de gratidão ao Senhor do que quaisquer crentes de todas as dispensações passadas.

Com a Dispensação da Graça, Deus introduziu no mundo uma nova ordem, visando, particularmente, a Igreja e seu desenvolvimento. Este processa-se harmoniosamente na área espiritual, com base numa fé viva, e na material, em função de uma vivência responsável e consagrada por parte de cada verdadeiro crente. Uma das primeiras noções de que o crente se dá conta, a seguir à conversão, é a de que foi salvo para servir. Este conhecimento que ele adquire é fruto de um ensino fiel e persistente, que nunca deve faltar nas igrejas locais.

1 Cor. 16:1 - 4. Paulo aparece neste passo com o perfil de um mestre e pioneiro na missão de instruir os crentes quanto ao uso dos seus haveres. O que mais ressalta do ensino do nosso senhor, transmitido por meio do apóstolo, é que para o crente o seu contributo é, muito além de um dever, um grato privilégio. O Senhor Jesus disse e Paulo o lembrou, que mais bem-aventurada coisa é dar do que receber" - At. 20:35.

A COLETA

"Ora, quanto à colecta que se faz..."

Paulo não usou meias palavras, como quem fala de alguma coisa proibida. Antes, tratou as coisas pelos seus próprios nomes. Os crentes apreciam a linguagem clara. Linguagem capaz de lhes explicar que colecta é dinheiro, e que sem dinheiro a obra de Deus é materialmente impossível. É que a mão que o dá deve ser movida por um coração cheio de gratidão e amor.

"Para os santos". Este é o homem que disse, bem perto do fim da sua carreira: "De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem vestido" - At. 20:33. Para si, propriamente, Paulo nunca pediu. Mas em se tratando de necessidades, de crentes ou da Obra, do mesmo modo como ensinava acerca do privilégio de dar também sabia indicar o tempo em que isso devia ser praticado. Ao crente no Senhor Jesus, obreiro ou não, incumbe dar conhecimento de situações de carência que existam. Quanto às que lhe digam diretamente respeito, espere que outros falem delas. Paulo não ocultou as necessidades dos outros.

"Para os santos". Os crentes coríntios estavam sendo exortados a darem do seu dinheiro, e esse dinheiro tinha um destino identificado: os santos em Jerusalém. E uma alegria sabermo-nos convidados pelo Senhor a fazer uso daquilo que Ele nos tem dado para fins claramente reconhecidos e justificados. Quem informa, assume uma enorme responsabilidade, tanto para com os crentes como em relação a Deus. Se uma entrega de quaisquer meios é feita às cegas, corre-se o risco de isso ter um destino errado e injusto e de se deixar em falta necessidades que são reais. Cuidado, porque isso é um pecado e uma perda!

"Fazei vós o mesmo que ordenei..." O apóstolo não se pôs de joelhos nem pediu. "Ordenei" - diz ele. Mais importante que a sua autoridade, era a razão que lhe assistia. Em Jerusalém, havia crentes ameaçados pela fome. Não podiam contar com os seus bens, porque os repartiram, enquanto os tiveram - - At. 2:44-45; 4:32, 34-37. Agora, os crentes em Corinto possuíam muito mais do que eles. Esta a razão pela qual Paulo lhes ordenou a partilha do que eles tinham com os que precisavam. E um pecado - grande pecado mesmo, ter conhecimento de uma necessidade autêntica, talvez aflitiva, e não lhe acudir, quando se tem possibilidade c o fazer. "Se o irmão ou irmã estiverem nus e tiverem falta mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide e paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?" - Tiago 2:15-16.

UM ENSINO UNIFORME

"Às Igrejas na Galácia". Um ensino uniforme relativo contribuição, foi levado às igrejas em quatro regiões, pelo menos: Antioquia, Macedônia, Acaia e Galácia - At. 11:2 30; Rom. 15:26; l Cor. 16:1. Acontece, não poucas vezes que em uma mesma terra as pessoas de dois lugares vizinhos diferem surpreendentemente nas suas maneiras de pensar e agir. Tomando isto por referência, é fácil calcular que diferentes seriam estes crentes uns dos outros. Paulo não desconhecia essa realidade no seu campo missionário. E que fez ele? Ministrou ensinos diferentes, porque as passo eram diferentes? - De modo nenhum. Todos os crentes e igrejas em todos os lugares foram instruídos da mesma maneira porque outra não era, nem é, a vontade de Deus. E o ensino uniforme uniformizou todas aquelas Igrejas no pensamento, no sentimento e na ação. O Espírito do Senhor atuou com tanta graça nas mentes e nos corações daqueles crentes, que a generosidade deles atingiu, e muitos casos, as raias do que parecia impossível.

As igrejas carecem de ensino cem por cento fiel no tocar à contribuição. Bem sei quão custoso é dá-lo. Todavia, o Senhor, que operou naqueles dias nas igrejas por meio de Paulo e outros, está pronto para fazer o mesmo hoje, por meio uns em relação aos outros com a mesma graça.

NO PRIMEIRO DIA DA SEMANA

ICOR. 16:2 - A vida sistematicamente bem organizada é fator de segurança para e crente. Tudo que fazemos deve ser pautado por princípios de ordem e método. Isso garante maiores probabilidades de êxito e constitui uma notável prova de bom testemunho. O facto é tão importante e necessário que até o nosso Deus agiu com método e ordem na criação e disposição de todas as coisas. Estes breves pensamentos enquadram-se na sentença inspirada de Paulo: "No primeiro dia da semana".

O Senhor é sábio e justo. O que Ele requer de nós baseia-se no que temos, nunca no que não temos. O "primeiro dia da semana" também pode ser o primeiro do más nos tempos atuais. Essa é a altura em que estamos na posse de tudo que granjeamos no mês ou semana anteriores. E então que, por termos mais, menos nos custa oferecer algo para o Senhor. Para contribuirmos com esta precisão necessitamos não apenas de meios mas, também, de ordem na vida.

CADA UM DE VÓS

A recomendação destina-se a crentes individuais, ainda que pertençam á mesma família. "Cada um" é a regra que temos. O Senhor instrui Paulo para escrever assim, por Lhe ser mais agradável receber esta forma de serviço de cada um dos Seus remidos. E, como facilmente se entende, cada um de nós deseja sentir em si mesmo o profundo prazer de dar. E que a prática de dar é um prazer verdadeiro, quando o coração se envolve nisso. Tanto basta para que nenhum de nós se prive ou deixe privar do gozo e moral que este privilégio nos causa. A minha mulher e eu sempre usamos a mesma bolsa para os gastos correntes. Para as coletas, cada um do nós faz a sua oferta independentemente. 

PONHA DE PARTE

O ensino continua a incidir sobre a importância do método na vida cristã. Pôr de parte, é destinar e separar aquilo, que reconhecemos pertencer ao Senhor; temos aqui e sentido da reciprocidade. Ele é magnânimo. Salvou-nos segundo a Sua graça, e tem-nos feito participantes dos Seus benefícios, que não têm conta. E, por isto- mesmo, justo que O convidemos a tomar para Si uma parte do muito que Ele nos dá. "Quem sou eu, e quem é o meu povo, para que pudéssemos fazer ofertas tão voluntariamente? Porque tudo vem de Ti, e do que é Teu - da Tua mão - te damos" - l Crón. 29:14.

Por muito que Lhe demos isso nunca passará de uma insignificância, em comparação, com a abundância que Ele nos dá. Não separar a parte do Senhor é correr o risco de gastarmos desordenadamente o que é dEle juntamente com e "nosso". Mas quando pomos de parte o que pertence ao Senhor, isso é dEle definitivamente. Os nossos direitos cessaram, pelo que não mais usaremos isso em proveito próprio.

O QUE PUDER AJUNTAR

A nossa contribuição é uma das formas de culto que prestamos a Deus. Ele, que a aceita, não pede de nós sacrifício. Porém, se e houver da nossa parte, terá de ser voluntário, porque o nosso coração assim e deseja. Ora a exortação diz: "O que puder". Pensemos na mulher que ungiu o Senhor com bálsamo de nardo puro, "de muito preço". Este ato de culto especial concitou contra ela a indignação de alguns. O Senhor depressa os moderou com a seguinte apreciação: "Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-Me boa obra. Esta fez o que PODIA" - Marcos 14 - Ela fez o que podia. O que fazemos é, ou deve ser, também para o nosso Senhor. Terei eu feito nesta área sempre tudo que posso? E tu, meu irmão, também tens feito exatamente e que podes? Ou, pelo contrário, temos feito e dado menos do que pudemos? O ensino é sempre o mesmo: "Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar".

CONFORME A SUA PROSPERIDADE

Esta prosperidade resulta do que se adquire por meio do trabalho, ou do negócio ou de outros rendimentos. Na Dispensação da Graça não existe nenhuma tabela fixa que regulamente o nosso contributo para e Senhor. A lei do dízimo foi abolida. Muito cuidado, porém: A lei do dízimo terminou, mas o dízimo não.

"Cada um ponha de parte o que puder". Ás vezes só se pode dar menos que o dízimo. Noutras, é precisamente o dízimo que se pode dar - nem mais, nem menos. Todavia também há ocasiões em que se pode dar mais que o dízimo - mesmo muito mais. O Senhor conhece bem a situação do cada um de nós. O ensino não pode ser mais claro: Cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade". Ou, dito doutro modo: Conforme os rendimentos de cada um no mês ou semana anterior. A inobservância desta doutrina é um grande pecado, que vai ser julgado no tribunal de Cristo. Em muitas igrejas locais as colectas são de miséria. São sempre iguais. Nunca medram, apesar dos seus membros verem os seus ganhos aumentados muitas vezes. Também acontece, frequentemente, que um ou outro crente fica mais que contristado, depois de ouvir dizer quanto rendeu a coleta. Isto, porque ele sozinho contribuiu mais, ou quase mais do que os outros todos juntos! "O amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" - 1 Tim 6:10. Estas palavras devem ser lidas e entendidas com santo temor. Elas dão-nos conta de que o Senhor entra em Juízo com os tais, apesar de crentes, mesmo antes do tribunal do Cristo. Deste modo fica explicada a magreza das dádivas de muitos que podem dar infinitamente mais do que dão. Estes chegam a ser traspassados com muitas dores, começando assim a sofrer os efeitos do pecado da sua avareza. Toda a igreja que é feita de crentes que idolatram e dinheiro nunca será missionária. Nem ela prosperará, nem os seus membros. "Semeais multo, e recolheis pouco; comeis mas não vos fartais; bebeis, mas não vos saciais; Vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe salário num saco furado".

"PARA QUE SE NÃO FAÇAM COLECTAS QUANDO EU CHEGAR"

Paulo, que estava ausente do Corinto, transmitiu aos crentes o ensino que recebeu do Senhor. Fá-lo por escrito. Pouco depois, seguiria para lá. Ao escrever recomendou que as colectas fossem feitas antes da sua chegada, e não depois. O servo de Senhor procedeu desta maneira a fim de evitar que a sua presença exercesse alguma pressão psicológica sobre os crentes. Os corações deles deviam ser tocados e movidos semente pele Senhor e por uma boa consciência. Eles deviam fazer tudo livre, voluntária e alegremente, sem a mínima coação humana. Eu próprio não simpatizo com quaisquer apelos insistentes, seja qual for e fim em vista, embora respeite quem os faça. Mas quando me expõem uma situação de necessidade, eu levo-a ao Senhor em oração. Depois, sim, se Ele move o meu coração nesse sentido, corresponde com muita alegria, porque o faço livremente. Acontece o mesmo contigo, meu irmão?

A GRAÇA DE DEUS

"Fazemo-vos conhecer, Irmãos, a graça de Deus às igrejas na Macedônia" - II Cor.8:1-9. Paulo faz referência a estas igrejas e ao seu espírito de sacrifício a favor dos outros nos termos mais encomiásticos e justos. Esta sua apreciação está em consonância com a recomendação também feita por ele: "Dai a cada um o que deveis: a quem honra, honra -Rom.13:7. Se os homens nos honram, espontaneamente, por honrarmos o Senhor com todos os bens que temos, incluindo os materiais, também Ele nos honrará.

"A graça de Deus dada às Igrejas". Logo que as necessidades dos santos em Jerusalém foram conhecidas na Macedônia, os crentes iniciaram uma recolha de fundos de tal envergadura que excedeu tudo quanto se poderia julgar humanamente possível. Foi a graça de Deus que fez isto. Fez, e faz ainda hoje. Esta graça traduz-se em pensamento e ação na nossa vida. Ela desencadeia em nós sentimentos e capacidades que supúnhamos inexistentes. Os santos macedônios experimentaram o poder desta graça ao serem tomados por uma grande vontade e um profundo desejo de darem o que tinham. Também eles podiam afirmar: "A Sua graça para connosco não foi vã"-I Cor. 15:1 0.

"Em muita prova de tribulação". Estes irmãos atravessavam tempos muito difíceis, quando chegaram de Jerusalém noticias tão dolorosas. Estavam sendo muito atribulados e sofriam "profunda pobreza". Face a este quadro, que faria eu? E tu, meu irmão, que farias também? E que fariam eles mesmos sem a graça de Deus a operar em seus corações? - Simplesmente nada! Sim mas a graça atuou e o milagre consumou-se, criando neles a bendita disposição de dar. E, porque do fraco saíram forças, houve abundância de gozo e riquezas de generosidade. Sem a menor dúvida, este gozo foi já uma parte da recompensa do Senhor para eles aqui na terra.

VOLUNTARIAMENTE

"Segundo o seu poder, e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente". Aos crentes da igreja em Corinto, foi dito: "Cada um de vós ponha a parte o que puder ajuntar". Os macedônios, porém, não se cingiram ao que podiam. O exemplo da mulher que, ao ungir o Senhor, fez o que podia, não significou para eles o limite máximo. E de crer que tenham preferido a lição da viúva pobre. O nosso Senhor comentou o ato dela com estas palavras: "Todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento" - Marcos, 12:44. Daqui se depreende que ela, depois disto, fico na total dependência de Deus para sobreviver. E os macedônios, como terão ficado, depois do que fizeram?

Muitos outros crentes se têm desfeito dos seus haveres - mesmo de riquezas, em alguns casos - no interesse da obra do Senhor. Fazem-no voluntária e confiadamente, por saberem que "Deus é fiel". Pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação deste serviço que se fazia para com os santos". A expressão "para com os santos", parece indicar, com uma grande margem de segurança, que se tratou de um esforço especial, além da contribuição que eles costumavam dar. O facto prova que eles não estavam submetidos a qualquer regra sobre o dízimo. Uma vez instruídos quanto à maneira de socorrerem os seus irmãos em dificuldades, eles agiram prontamente, sem a mínima imposição. Profundamente tocados pela graça do Senhor, pediram encarecidamente que lhes fosse concedido juntarem as dádivas do seu sacrifício de amor às dos outros crentes. Examinando bem o texto, conclui-se que eles procederam com tal solicitude junto de Paulo como sentindo medo de que este privilégio lhes fosse negado, por causa da sua "profunda pobreza". Assim se vê como a graça de Deus pode vencer todo o egoísmo e as nossas "inquietações pelo dia de amanhã". Fica assim também provado que onde a graça de Deus opera ninguém é demasiadamente pobre para contribuir. E de que o amor fraternal é uma realidade atuante, mesmo em tempos difíceis. Foi deste modo que os crentes macedônios tomaram parte nas aflições dos de Jerusalém e estes participaram no amor sacrificial dos primeiros.

POR AMOR E NÃO POR UMA REGRA

"Primeiramente a si mesmos se deram ao Senhor, e a nós pela vontade de Deus". O que foi feito pelos macedônios para o bem dos crentes de Jerusalém não obedeceu a qualquer regra relacionada como dízimo. Foi muito além disso. Esta revelação do apóstolo oferece-nos um quadro vivo de uma entrega real e completa destes queridos irmãos. Foi, inegavelmente, um verdadeiro sacrifício de amor.

O princípio que os orientou neste comportamento deve ser observado à luz de Rom. 12:1 -"Rogo-vos pois, Irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Estou a usar as palavras "entrega real e completa", sabendo que uma consciência santificada pelo Espírito de Deus não se conforma com simples dádivas monetárias, por muito regulares e generosas que elas possam ser. "Fostes comprados por bom preço; Glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" - 1 Cor. 6:20. Cada crente foi objecto de uma salvação total. Eis a razão pela qual tudo que somos, sabemos e possuímos pertence justamente ao Senhor. A Lei não se esgotou com o fim da sua dispensação. Parte da sua riqueza transitou para a Dispensação da Graça. Um exemplo: "Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento". - Marcos 12:30. Os macedônios assim o entenderam e cumpriram.

O DINHEIRO NÃO É TUDO.

Meu irmão, não só o dinheiro, também as nossas forças, a nossa inteligência, o nosso tempo e tudo o mais em nossa vida devem estar tão disponíveis para o Senhor de quem somos que Ele possa dispor destes talentos e dons como e quando queira. Não O podemos glorificar com menos do que' isto, podes crer. Todos nós somos mordomos daquilo que Deus nos confiou. De um momento para o outro seremos chamados a prestar contas da nossa mordomia no Tribunal de Cristo. Que o Senhor nos dê a alegria de sermos achados fiéis, mesmo no uso e prática das coisas mínimas.

Por José Fontoura

Ao encerrar a sua primeira epístola aos coríntios, o apóstolo Paulo determinou àquela igreja local, como já tinha feito às igrejas da Galácia, que, no primeiro dia da semana, cada cristão colocasse à parte as suas dádivas ao Senhor , as quais seriam levadas aos santos em Jerusalém (1 Co 16:1-3).

Por que estaria ele orientando para que essa colecta ocorresse no primeiro dia da semana? A resposta é simples! Aos domingos, a igreja primitiva se reunia para partir o pão (At 20.7), e, para Paulo, as dádivas enviadas pela igreja chegavam a ele como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus (Fp 4.18), ou seja, Paulo está afirmando que as nossas ofertas ao Senhor fazem parte do nosso louvor. Por isso ele deixara determinado que elas fossem doadas aos domingos, tendo em vista que nesse dia a igreja se reunia para louvar ao Senhor através do memorial do Partir do Pão.

Neste mesmo sentido, o escritor aos hebreus exortou-nos a que, “por meio de Jesus, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome”, deixando claro também que, juntamente com o louvor dos nossos lábios , “não devemos nos esquecer de fazer o bem e de repartir com os outros, porque com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb 13.15-16).

Portanto, as nossas dádivas devem fazer parte do nosso “sacrifício”, do nosso culto de louvor e adoração ao nosso Senhor.

Há que se notar algo extraordinariamente significativo no Novo Testamento: em nenhum momento é determinada à igreja qualquer forma legalista de ofertar ao Senhor, a exemplo do que ocorria com Israel através dos dízimos que eram ofertados no Templo em Jerusalém. Para a igreja, não há dízimos, mas dádivas; para a igreja não há a escravidão da lei, mas a liberdade da graça; para a igreja não há limites percentuais, mas liberalidade e generosidade dos corações. Portanto, não façamos como os insensatos gálatas, colocando-nos sob os preceitos da lei, pois “para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permaneçamos, pois, firmes e não nos submetamos de novo ao jugo de escravidão” (Gl 5.1).

As igrejas denominacionais, bem como alguns legalistas entre nós, esforçam-se em colocar sobre os cristãos o antigo jugo da lei, chegando até a distorcer as Sagradas Escrituras alegando que o Senhor Jesus Cristo e o escritor aos hebreus mantiveram a obrigatoriedade do dízimo para a igreja. Texto fora do contexto é pretexto. Em Mateus 23.23 e Lucas 11.42, duas das passagens por eles invocadas, o dízimo é citado em meio às severas censuras e advertências que o Senhor fazia à hipocrisia dos escribas e fariseus. Em nenhum momento o Senhor Jesus estabeleceu a prática do dízimo para a igreja. A outra citação que sempre fazem está em Lucas 18.12, na parábola do fariseu e do publicano, cujo ensino não diz respeito à obrigatoriedade do dízimo, mas ao pecado da soberba e da exaltação. Quanto às referências ao dízimo, no capítulo 7 de Hebreus, nada têm elas a ver com a contribuição na igreja, são apenas um comentário da prática então vigente, cujo único objetivo é provar a superioridade de Cristo, jamais ensinar à igreja o pagamento compulsório do dízimo.

Quando o Senhor falou em dar, Ele não Se limitou à décima parte de alguma coisa, mas ao todo. No diálogo mantido entre o Senhor e o jovem rico, que no seu legalismo acreditava estar cumprindo todos os preceitos da Lei, o Senhor lhe disse: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem, e segue-me (Lc 18.22). O Senhor Jesus não disse ao jovem que doasse dez por cento dos seus bens e o seguisse, mas que tivesse o desprendimento de entregar tudo.

Em outra oportunidade, estando o Senhor no templo, assentado defronte ao cofre das ofertas, observava a multidão a colocar dinheiro no cofre e notou que muitos ricos punham muito, mas uma viúva pobre depositou duas pequenas moedas, no valor de um quadrante, a moeda romana de menor valor. O Senhor exaltou a atitude daquela senhora: “Chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram os ofertantes, porque eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento (Mc. 12.41-44). Jesus contempla o todo, não, a parte, porque Ele veio para servir e dar, e Ele não Se deu parcialmente, mas deu-Se por completo, totalmente, pois Ele deu a Sua própria vida em resgate de muitos (Mt 20.28).

Diante destes factos, conclui-se que a igreja não está limitada aos percentuais da antiga dispensação, mas beneficiada pela espontaneidade dos corações dispostos a entregar tudo ao Senhor, mesmo porque o dízimo do passado dizia respeito ao serviço do templo em Jerusalém, ao passo que as atuais dádivas do povo de Deus têm em vista todas as necessidades da obra de Deus.

Neste assunto de contribuição dos cristãos, há que se acentuar que a graça é, em tudo, maior que a lei (Mt. 5.21-48), logo, as dádivas da igreja têm que ser acentuadamente maiores que o dízimo.

A igreja primitiva tinha esse entendimento, e o Espírito Santo despertou naqueles corações o sentimento da generosidade, e entre eles não havia necessitados, porquanto os que possuíam bens, vendendo-os, traziam os valores correspondentes (At 4.34), ou seja, traziam 100% do valor. Por definição, esse percentual não se refere ao dízimo mas à dádiva. Como importante exemplo dos primeiros cristãos, o Espírito Santo deixou registada, para o nosso ensino, a dádiva de Barnabé, que, “como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos” (At 4.37). Portanto, ele deu tudo o que possuía.

Nunca é demais lembrar o exemplo dos cristãos da Macedônia, que, em meio a muitas tribulações e profunda pobreza deram tudo o que tinham, com alegria, porque primeiramente tinham se dado ao Senhor (2 Co. 8.1-5).

Mais recentemente, temos o exemplo dado por William Colgate, que, quando criança, tornou-se membro de uma igreja em Nova Iorque, e, ainda menino, propôs dar ao Senhor 10% de tudo quanto ganhasse. Ao progredir em seus negócios ele passou a ofertar 20%, e na mesma medida em que o Senhor o fazia prosperar ele aumentava as suas dádivas, passando para 50% e assim sucessivamente, até chegar ao final da sua vida ofertando 100% de tudo o que recebia, porque o seu império multinacional (Colgate-Palmolive) dava-lhe todas as coisas que precisava. O Senhor honrou a fidelidade daquele menino e o transformou em um dos homens mais ricos do mundo.

Mesmo em nosso meio existem muitos exemplos de servos que se propuseram a dar tudo ao Senhor. Um destes, quando era ainda bem jovem, reunia-se em uma pequena igreja em uma cidade do interior e, para cobrir as suas despesas, trabalhava numa empresa. Apesar de ganhar muito pouco ele resolveu investir na obra do Senhor e começou a ofertar suas dádivas na proporção de 10% sobre o seu salário e começou a perceber que o Senhor Se agradava da sua fidelidade e cuidava dele. Aumentou as suas dádivas para 20% sem nenhuma perda. Esse processo continuou até que chegou a dar 80% da sua renda para a obra missionária. Para poder entregar as suas dádivas ao Senhor, durante um bom período da sua vida ele só comia ovos fritos, cozidos e mexidos, porque eram mais baratos. Com isto ele aprendeu tão bem a dar, que um dia resolveu dar tudo. Ele entregou os seus bens e a sua vida para serem consumidos, em tempo exclusivo em prol da gloriosa obra missionária.

Que diremos à vista destes exemplos? Não há a menor dúvida de que Barnabé, os crentes da Macedônia, Colgate, o irmão há pouco mencionado, e tantos outros, passaram a dar tudo porque se libertaram da escravidão da lei, tendo plena compreensão da supremacia desta atual dispensação, a da igreja, que em tudo é superior à anterior. Se continuassem presos ao legalismo do dízimo, jamais chegariam aos 100% das dádivas.

Portanto, qual é o ensino para a igreja a respeito das nossas dádivas ao Senhor? Quanto devemos ofertar? O Novo Testamento é bastante explícito acerca dessa nova proporção e jamais afirma que ela tem semelhança com o dízimo, pois, perante a dádiva, o dízimo torna-se insignificante. A nova proporção tem a ver com a imensidão da graça que recebemos:

  • - Conforme as nossas posses (At. 11.29).

  • - Acima das nossas posses (2 Cor. 8.3).

  • - Conforme a nossa prosperidade (1 Cor. 16.2).

  • - Com liberalidade (2 Cor. 9:13).

  • - Na proporção da nossa fé (2 Cor. 9:7).

Não nos deixemos enganar, libertemo-nos dos grilhões do antigo legalismo e sejamos voluntários, generosos e abundantes em nossas dádivas ao Senhor, porque Deus não Se deixa escarnecer, com Ele não se brinca (Gl 6.7-10); a nossa omissão revela falta de amor (1 Jo 3.17), e sem piedade a nossa fé por si só é morta (Tg. 2.14-18).

Portanto, amados irmãos, não nos prendamos à compulsão da Lei, mas correspondamos ao amor de Deus na medida em que ofertamos liberalmente as nossas dádivas, com alegria e sem constrangimento, porque Ele ama a quem dá com alegria (2 Co. 9.7). Permita Deus que assim seja!

Por José Carlos Jacintho de Campos

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