Ministério Profético

Introdução
 
A função do Profeta tem sido quase que invariavelmente aquela de recuperação. Isto implica que a sua ocupação se relaciona a algo perdido. Aquele algo que era absolutamente essencial ao pleno contentamento de Deus; a nota dominante do Profeta era de descontentamento. E, havendo o fator adicional que, por razões óbvias, o povo não estava disposto a seguir o custoso caminho do pleno propósito de Deus, o Profeta usualmente era uma pessoa impopular. Mas sua impopularidade não era prova de que ele estava errado ou era desnecessário, pois todo Profeta era finalmente defendido, embora com grande sofrimento e vergonha para o povo.
 
Se é verdade que o ministério profético está relacionado à necessidade de que o propósito pleno de Deus em relação ao Seu povo seja recuperado, certamente este é um tempo de tal necessidade! Algumas pessoas honestas e zelosas irão argumentar que as coisas estão todas bem com a Igreja de Cristo hoje. Uma rápida comparação com os primeiros anos da vida da Igreja irá mostrar um vívido contraste entre aquele tempo e os séculos seguintes. Tome apenas o tempo de vida de um homem - Paulo. No ano 33 A.D. alguns homens desconhecidos, tidos como pobres e ignorantes, estavam associados a um 'Jesus de Nazaré' - cuja própria acepção era desprezível nas mentes de todas as pessoas respeitáveis e influentes.
 
Esses homens, após aquele Jesus ter sido crucificado, foram achados mais tarde procurando proclamar Seu Senhorio e obra salvífica, porém foram tratados duramente por todos os corpos oficiais. No ano que Paulo morreu - 67-68 A.D. (34 anos mais tarde) - como ficou a questão? Havia igrejas em Jerusalém, Nazaré, Cesaréia, Antioquia e toda Síria, Galácia, Sardis, Laodicéia, Éfeso e todos os centros na costa Oeste por toda a baixa Ásia; em Filipos, Tessalônica, Atenas, Corinto, e as principais cidades das ilhas e continente da Grécia; Roma, e as Colônias Ocidentais Romanas; e em Alexandria. A história de gerações de empreendimentos missionários, milhares de missionários, vastas somas de dinheiro, organizações administrativas imensas, e muito mais em publicidade, propaganda, e defesa de posição, não se compara de forma alguma favoravelmente às gerações acima.
 
Nós agora nos encontramos confrontados com o fim de todo um sistema de missões mundiais e missionários profissionais visto que eles têm existido por um período de tempo bastante longo e o mundo ainda não está evangelizado. Há uma razão para isso? - Sentimos - com votos contrários, sabemos - que há. A explicação não está numa diferença do propósito Divino, ou de boa vontade Divina em suportar este propósito. Está na diferença na compreensão da base, modo, e objetivo da obra de Deus. Alguma prova disso é reconhecível em nosso próprio tempo. Em muito menos do que o tempo de vida de um homem, na China, igrejas de caráter profundamente espiritual surgiram por toda aquela terra; quatrocentas delas em poucos anos.
 
No tempo quando o comunismo dominava aquele país, um movimento estava em progresso, o qual não estava apenas cobrindo a China, mas alcançando mais longe, e, como resultado, igrejas ativas são hoje encontradas em muitas partes do Extremo Leste. Esta foi por anos uma obra desdenhada, perseguida e banida. Mas mesmo depois que movimentos missionários e sociedades tiveram que deixar o país, esta obra prosseguiu, e, embora com muitos mártires, ainda continua. O homem levantado por Deus está na prisão, mas a obra não pode ser destruída.
 
O mesmo tipo de coisa está ocorrendo na Índia, e em apenas alguns poucos anos de vida de um homem que conhece a Deus, igrejas de caráter verdadeiramente neotestamentária têm surgido por todo o país e além das fronteiras. A oposição é muito grande, mas a obra é de Deus, e não pode ser impedida. Qual, novamente, é a explicação? A resposta não é achada no campo do zelo ou devoção pela salvação das almas. Antes está no seguinte: que havia no princípio o fator supremo de uma compreensão absolutamente original e nova de Cristo e do eterno propósito de Deus em relação a Cristo. Esta revelação pelo Espírito Santo veio com poder devastador e revolucionário aos apóstolos e à Igreja, e, mais do que ser uma 'tradição passada pelos pais', um sistema pronto, tudo estabelecido e assumido como tal, era, para cada um deles, como se a coisa tivesse acabado de vir do céu - o que, de fato, era verdade.
 
Este movimento de Deus, gerado por uma poderosa substituição de todas as tradições e 'velhas' coisas por uma experiência prática da Cruz, foi marcado por três características: (1) Absoluta celestialidade e espiritualidade; (2) Universalidade, envolvendo a negação de todas as discriminações, exclusividades e parcialidades; e (3) Absoluto Senhorio de Cristo diretamente operante pela soberania do Espírito Santo. Tudo isso estava reunido numa tremenda e poderosa compreensão inicial e progressiva do imenso significado de Cristo no eterno conselho de Deus, e portanto, da Igreja como Seu Corpo.
 
Qualquer coisa que corresponda aos resultados que caracterizaram o princípio irá significar - e significa - à razão, principalmente, uma substituição da tradição, do sistema estabelecido, do institucionalismo, do eclesiasticismo, do comercialismo, do organizacionalismo, etc., por uma pura, original e nova consciência do pleno propósito de Deus concernente a Seu Filho. Trazer à vista este pleno propósito de Deus era a essência do ministério dos Profetas, e será sempre assim. Nós não podemos hoje falar de uma classe especial como 'Profetas', mas a função pode ainda estar operante, e é a função que importa mais do que o ofício. FOREST HILL, LONDRES. JUNHO, 1954. T. A. S.
 
Capítulo 1 - O Que é o Ministério Profético
 
Ler: Deuteronômio 18:15,18; Atos 3:22; 7:37; Lucas 24:19; Apocalipse 19:10; Efésios 4:8,11-13
 
"Ele deu uns para... profetas... querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo" (Efésios 4:11,12)
 
Vamos considerar a questão do ministério profético. "Ele deu uns para... profetas". Mas primeiro devemos fazer uma distinção, pois quando falamos de ministério profético, descobrimos que as pessoas são bastante influenciadas por uma mentalidade associada ao que é chamado de 'profecia'. Elas imediatamente relacionam o próprio termo 'profético' a incidentes, acontecimentos, datas, e assim por diante, que repousa principalmente no futuro. Isto é, elas pensam instantaneamente no elemento preditivo do ministério profético e limitam toda a função a esta concepção.
 
Agora, para o real valor daquilo que está diante de nós, devemos remover de nossas mentes esta idéia limitada de preeminência do aspecto preditivo no ministério profético. Ele é um aspecto, mas apenas um aspecto. Ministério profético é algo muito mais abrangente do que predição.
 
Talvez fosse melhor se disséssemos que a função profética, indo mais longe do que meros eventos, acontecimentos e datas, é o ministério da interpretação espiritual. Esta frase irá abranger todo o terreno daquilo com que estamos agora ocupados. Profecia é interpretação espiritual. Se você pensar nisto por um instante, considerando o ministério profético na Palavra de Deus, estou certo de que você irá ver quão verdadeiro isto é. É a interpretação de todas as coisas do ponto de vista espiritual; é trazer os significados espirituais das coisas - do passado, do presente e do futuro - para o povo de Deus, dando a compreensão do significado das coisas em seu valor e sentido espiritual. Este era e é a essência do ministério profético.
 
Naturalmente, aquilo que sabemos sobre profetas nas Escrituras é que eles exerciam uma função ou faculdade especial entre o povo do Senhor, mas também devemos lembrar de que eles freqüentemente combinavam suas funções proféticas com outras funções. Samuel era um profeta, mas também era juiz, e sacerdote. Moisés era um profeta, mas era outras coisas, além disso. Creio que Paulo era um profeta; ele era profeta, evangelista; ele era tudo, parece-me! Assim, nosso propósito não é o de falar de profetas, como pessoas distintas, mas de um ministério profético. É no ministério que estamos interessados, e iremos chegar ao instrumento reconhecendo o ministério desempenhado; compreenderemos melhor o vaso e veremos o que ele é se enxergarmos a finalidade para a qual ele foi constituído. Assim, deixe-me dizer que é a função, e não as pessoas, que temos em vista quando falamos de profetas ou ministério profético.
 
Estou bem certo de que aqueles que têm algum conhecimento, qualquer que seja, dos tempos, espiritualmente falando, irão concordar comigo quando digo que a necessidade premente do nosso tempo é a de um ministério profético. Nunca houve um tempo quando existisse tão extensivamente a necessidade de uma voz de interpretação, quando as condições necessitassem mais do ministério de interpretação. Ninguém quer fazer declarações extravagantes ou ser extremo em seus próprios discursos, mas eu acho que não seria nem extravagante nem extremo dizer que o mundo hoje está bastante carente de um verdadeiro ministério profético no seguinte sentido - uma voz que interprete a mente de Deus para as pessoas. Este ministério pode existir em algum pequeno grau aqui e ali, mas de modo algum está ele sendo cumprido de forma plena. Constantemente nossos corações gemem e clamam, Oh, que o propósito de Deus a respeito da presente situação possa ser recuperado, primeiramente para o reconhecimento de Seu povo, e, então, através de Seu povo para as pessoas mais distantes! Há uma grande e terrível necessidade de um ministério profético em nosso tempo.
 
Ministério Profético em Relação ao Pleno Propósito de Deus
 
Reconhecendo isto, precisamos chegar a entender que função é esta. Qual é a função do ministério profético? É a de levar as coisas para o pleno propósito de Deus, e por isso trata-se de algo reacionário. Geralmente achamos que os profetas surgem como uma reação da parte de Deus devida ao curso e tendência das coisas entre o Seu povo; uma chamada de volta, uma re-declaração, um re-pronunciamento do propósito de Deus, um trazer os pensamentos de Deus novamente à vista.
 
Os profetas ficavam no meio da correnteza (normalmente uma correnteza rápida e impetuosa) como uma rocha; o curso das coisas se precipitava sobre eles. Eles desafiavam e resistiam aquele curso, e a presença deles no meio da correnteza representava a mente de Deus como que contrária ao curso predominante das coisas. No Velho Testamento, o profeta usualmente entrava em seu ministério num tempo quando as coisas estavam mal espiritualmente, elas eram tudo, menos a vontade de Deus; a situação era de miséria, as coisas estavam confusas, misturadas, caóticas; havia muita decepção, falsidade, e dificilmente as coisas poderiam piorar mais.
 
Aqui está aquilo a que o ministério profético abrangente se refere - o original e supremo propósito de Deus para o Seu povo, e através dele; e ao dizer isto, você chega exatamente ao âmago da questão. Perguntamos novamente: O que é o ministério profético? Qual é a função profética? A que ela se relaciona? - E a resposta abrangente é que ela se refere ao pleno, original e supremo propósito de Deus para o Seu povo e através dele.
 
Se esta afirmação é verdadeira, ela nos ajuda a enxergar primeiramente a necessidade em nossa época; pois, falando genericamente, o povo de Deus na terra em nosso tempo tem confundido partes do propósito de Deus com o todo; têm enfatizado fases em detrimento do todo. Estão misturando os meios, os métodos, o entusiasmo e o zelo com o exato propósito do Senhor, falhando em reconhecer que o propósito de Deus deve ser alcançado à maneira de Deus e pelos meios de Deus, e, tanto a maneira quanto os meios são exatamente tão importantes quanto o próprio propósito: isto é, você não pode alcançar o propósito de Deus de qualquer maneira, por meio de qualquer tipo de método que você possa empregar, projetando suas próprias idéias ou programas, ou esquemas, para obter o propósito de Deus. Deus possui o Seu próprio método e meios de alcançar Seu objetivo. Os pensamentos de Deus se estendem e se espalham ao menor detalhe de Seu propósito, e você não pode entender completamente o propósito de Deus a menos que todos os detalhes estejam em conformidade com a mente de Deus.
 
Deus poderia ter dito a Moisés: "Construa um tabernáculo para mim. Deixo com você o modo de fazê-lo, o material a ser usado; você sabe o que eu quero; vá e faça um tabernáculo para mim". Moisés poderia ter a idéia do que Deus queria e ter planejado o tipo de coisa que ele faria para Deus de acordo com sua própria vontade. Mas sabemos que Deus não entregou nem um simples detalhe, um pino, um alfinete, um ponto de costura ou uma linha ao critério do homem. Eu apenas uso esta ilustração para inculcar o que estou querendo dizer, que o ministério profético serve para apresentar o pleno, original e supremo propósito de Deus; interpretar a mente de Deus em todas as questões concernentes ao Seu propósito, alinhar todos os detalhes ao propósito, e fazer o propósito governar todas as coisas.
 
Ministério Profético Pela Unção
 
(a) Conhecimento Detalhado dos Propósitos de Deus
 
Isto envolve várias coisas que são claramente vistas serem características do ministério profético na Palavra de Deus. Antes de tudo, envolve a questão da unção. O significado e valor da unção é que, primeiramente, somente o Espírito de Deus conhece o plano completo e detalhado, e só Ele pode fazer com que todas as coisas se ajustem em princípio à vontade de Deus.
 
Digo que somente o Espírito de Deus tem isto. Uma das coisas mais maravilhosas na Escritura é descobrir que, quando você se volta para a expressão mais simples, mais primitiva - digamos, a mais elementar - das coisas Divinas na Palavra de Deus, tudo lá está bem ajustado em princípio a tudo que surge mais adiante naquela mesma conexão em maior plenitude. É simplesmente maravilhoso como Deus tem mantido tudo ligado a um princípio: você jamais descobre mais tarde, não importa quão plenamente algo seja desenvolvido, que existe alguma mudança no princípio; o princípio está lá e você não consegue se desviar dele.
 
Quando mais tarde você se ocupa com uma questão mais desenvolvida na Palavra de Deus, você descobre que ela está ligada ao seu princípio original, quando ela foi inicialmente apresentada. E Deus tem trazido todas as coisas alinhadas a esses princípios fixos. Deus não se desvia nem um milímetro. Sua lei está lá e ela é imutável. Somente o Espírito Santo conhece tudo isso. Ele conhece as leis e os princípios, todas as coisas que espiritualmente governam o propósito de Deus; e somente Ele conhece o plano e os detalhes, e pode fazer com que tudo se ajuste a esses princípios e leis. E tudo tem que se ajustar a eles.
 
Podemos tomar isto como certo, se numa estrutura houver algo que esteja fora de harmonia com o princípio espiritual básico original, isto será uma falha que irá significar uma tragédia, mais cedo ou mais tarde. A estrutura, em cada detalhe de princípio, tem que estar ajustada à fundação, ao original. Muitos de nós não estamos iluminados quanto a tudo isto. Sentimos o nosso caminho ao longe, avançamos às apalpadelas, vamos recebendo luz lentamente, muito pouco de uma vez; mas recebemos luz. Porém o ministério profético é um ministério iluminado, e é isto que, debaixo da unção, significa trazer as coisas de volta à posição de absoluta proteção e segurança porque estão ajustadas ao princípio Divino.
 
A unção é necessária, primeiramente, porque somente o Espírito de Deus conhece todo o propósito de Deus e somente Ele pode falar, trabalhar e levar as coisas em harmonia e absoluta consistência aos princípios Divinos que governam tudo; e tudo que é da parte de Deus deve incorporar esses princípios. O princípio da Igreja - aquilo que governa a Igreja - é que ela é algo celestial. Ela não é uma coisa terrena; ela está associada a Cristo como estando no céu. A Igreja não veio à existência até que Cristo estivesse no céu, o que significa que a Igreja tem que ir, em relação a Cristo no céu, para o terreno celestial, de uma maneira espiritual. Ela tem que deixar a esfera terrena e realmente ser algo celestial, espiritual, embora ainda esteja aqui na terra. Esta é uma lei e um princípio Divino que é muito claro no Novo Testamento. Ela manifestadamente está lá, a partir de "Atos" em diante.
 
Mas isto não é uma coisa nova que chegou com o Novo Testamento. Deus colocou esta lei em tudo que aponta de alguma forma profética para a Igreja e para Cristo. Isaque não pôde deixar a terra e ir buscar sua esposa na terra estrangeira. Ele teve que permanecer lá e o servo é que foi enviado para trazê-la para onde ele estava. Aí está Sua lei. Cristo está no céu; o Espírito é enviado para levar a Igreja para onde Ele está - primeiramente numa forma espiritual, e, então, finalmente de forma literal; mas o princípio está aí. José passa pela rejeição e morte simbólica e finalmente alcança o trono, e com sua exaltação ele recebe sua esposa, Asenate.
 
José é uma figura clara de Cristo. É em Sua exaltação que Cristo recebe Sua Igreja, Sua Noiva. O Pentecostes é realmente o resultado da exaltação de Cristo, quando a Igreja é espiritualmente levada para um relacionamento vivo com Ele mesmo, o Cristo exaltado. Aí está o Seu princípio na simples história de José. Você pode prosseguir desta maneira, vendo como Deus em detalhes simples tem mantido tudo ligado a um princípio; você descobre que Seus princípios eternos estão incorporados nas coisas mais simples do Velho Testamento, cumprindo esta declaração final que o testemunho de Jesus é o próprio espírito da profecia (Apocalipse 19:10).
 
Há algo aí que indica uma grande verdade celestial, que é o espírito da profecia apontando para Cristo. Eu me pergunto se você realmente ficou impressionado com a tremenda importância do principio Divino nas coisas. Há um princípio, e o reconhecimento e o respeito deste princípio determina o sucesso do conjunto todo. Agora, somente o Espírito Santo conhece todos esses princípios Divinos, somente Ele conhece a mente de Deus, os pensamentos de Deus, em plenitude.
 
Daí, se é para as coisas serem levadas ao pensamento e propósito pleno de Deus, isto somente será possível através da unção – o que significa que o Espírito de Deus veio para assumir o comando. Um ministério ungido significa que o Deus Espírito Santo se tornou responsável pela coisa toda; Ele está engajado nela, e eu não suponho que alguém iria discutir ou contestar a declaração da necessidade do Espírito Santo, a necessidade de que Ele esteja no comando, de que tudo seja feito por Ele. Mas, oh, isto significa muito mais do que uma verdade e uma posição geral.
 
(b) Conhecimento Transmitido por Revelação
 
Isto leva a uma segunda coisa no ministério profético: Pela unção vem a revelação. Podemos aceitar de forma geral a necessidade de o Espírito fazer tudo - iniciar, conduzir, governar e ser o poder e a inspiração de tudo; mas oh! Isto é uma instrução para uma vida toda, e isto traz a necessidade de que tudo seja dado por revelação. Este é o porquê de originalmente os profetas serem chamados de 'videntes' - homens que viam. Eles enxergavam o que nenhum outro homem enxergava. Eles viam aquilo que era impossível às outras pessoas verem, mesmo os religiosos, pessoas que temiam a Deus. Os profetas viam por revelação.
 
Um ministério profético requer revelação; é um ministério de revelação. Mais adiante iremos examinar isto mais de perto, mas quero apenas enfatizar o fato neste momento. Não estou pensando em revelação extra Escritura. Não posso tomar o terreno de certos 'profetas'(?) na Igreja hoje que profetizam fora das Escrituras. Não, mas dentro da revelação já dada - e Deus sabe que ela é grande o suficiente! - o Espírito Santo ainda se move para revelar aquilo que 'nenhum olho viu, nem ouvido ouviu'. Esta é a maravilha de uma vida no Espírito. É uma vida de constante nova descoberta; tudo está cheio de surpresa e maravilha.
 
Uma vida guiada pelo Espírito jamais pode ser estática; jamais pode alcançar o fim aqui, nem chegar a uma posição onde a soma da verdade esteja encaixotada. Uma vida realmente no Espírito Santo é uma vida que percebe infinitamente, transcendentemente, mais além do que aquilo que temos visto, ou captados, ou sentido. As pessoas que chegaram a uma posição fixa e não conseguem enxergar - quem dirá se mover - além de sua própria posição atual, representam uma posição que é estranha à mente do Espírito Santo. Ministério profético sujeito ao Espírito Santo é um ministério de revelação crescente.
 
O profeta era um homem que sempre recorria a Deus, e não saía para falar até que Deus lhe mostrasse a próxima coisa. Ele não ia simplesmente em seu ofício profissional, porque era um profeta e isto era esperado dele. Não havia nada de profissional sobre a sua posição. Quando a coisa se tornou profissional, então a tragédia tomou conta do oficio profético. Ele se tornou profissional a partir das 'escolas dos profetas’ estabelecidas por Samuel. Não devemos confundir essas escolas dos profetas com o verdadeiro oficio profético. Havia uma diferença entre aqueles que se graduavam nas escolas dos profetas e os verdadeiros profetas representados por homens tais como Samuel, Elias, Eliseu.
 
Sempre que as coisas se tornavam profissional, algo era perdido, porque a própria essência e natureza do ministério profético é aquilo que vem por revelação fresca a todo tempo. Uma coisa revelada é nova; ela pode ser algo velho, mas há algo sobre ela que é fresco como uma revelação ao coração da pessoa em questão, e é tão novo e maravilhoso que o efeito com esta pessoa é como se ninguém jamais tivesse visto aquilo, embora milhares possam tê-lo visto antes.
 
Faz parte da natureza da revelação manter as coisas vivas e frescas, enchendo-as de energia Divina. Você não pode recuperar uma posição antiga apenas com doutrina velha. Você jamais irá recuperar algo de Deus que se perdeu trazendo de volta a exata declaração da verdade. Você pode declarar com exatidão a verdade dos primeiros dias do Novo Testamento, mas pode estar longe de ter as condições obtidas em tais tempos.
 
Sucessão profética não é sucessão de ensino; é uma sucessão de unção. Algo pode vir de Deus, pela operação de Deus; pode haver algo muito real, muito vivo, que Deus efetiva através de uma instrumentalidade, pode ser individual ou coletivo, o qual é vivo devido a Deus tê-lo trazido debaixo de Sua unção. E, então, alguém tenta imitá-lo, duplicá-lo, ou mais tarde alguém o assume para executá-lo; alguém foi apontado, eleito, escolhido por meio de voto para ser o sucessor. A coisa segue e cresce; porém algum fator vital não mais estará lá. A sucessão é por meio da unção, não por meio de uma estrutura, nem mesmo de doutrina. Não podemos recuperar as condições do Novo Testamento por meio de re-afirmar a doutrina do Novo Testamento. Temos que receber a unção que tornam as coisas vivas, frescas, vibrantes. Tudo tem que vir por meio de revelação.
 
Alguns de nós sabemos o que é ser capaz de analisar nossas Bíblias e apresentar, talvez de maneira muito interessante, os conteúdos de seus livros e todas as suas doutrinas. Podemos fazer isto com 'Efésios' tão bem como podemos fazê-lo com qualquer outro livro. Podemos chegar em 'Efésios' e analisá-lo e delinear a Igreja e o Corpo e tudo mais, e sermos tão cegos quanto morcegos até que o dia chega, aí então, havendo Deus feito algo dentro de nós (algo profundo, maravilhoso e tremendo), enxergamos a Igreja, o Corpo - enxergamos "Efésios"! Eles eram dois mundos: um era verdadeiro, exato em detalhe técnico, cheio de interesses e fascinação - mas havia algo faltando.
 
Podíamos ter declarado a verdade do princípio ao fim, mas não conhecíamos aquilo que estava nela; e até que tenhamos passado por essa experiência e algo tenha acontecido em nós, podemos achar que sabemos, podemos dar nossa vida por aquilo; mas de fato não conhecemos. Há muita diferença entre uma compreensão perspicaz, clara, mental das coisas na Palavra de Deus, e uma revelação espiritual.
 
É uma diferença entre dois mundos - e é impossível fazer com que as pessoa entendam esta diferença até que algo aconteça. Iremos falar sobre este 'algo que acontece' mais adiante, porém aqui estamos apenas afirmando os fatos. Pela unção há revelação, e revelação pela unção é essencial para se enxergar aquilo que Deus procura, tanto no geral como no detalhe.
 
Assim, desenvolvendo, chegamos ao seguinte: ministério profético é aquele ministério que - embora muito detalhe ainda tenha que ser revelado, até mesmo aos mais iluminados servos de Deus - é aquele que tem, pelo Espírito de Deus, enxergado o propósito de Deus, de forma original e final.
 
(c) Conformidade Exata aos Pensamentos de Deus
 
E, então, uma terceira coisa que descobrimos associada à unção. É aquilo a que já nos referimos no geral - exatidão.
 
A unção traz em primeira mão aquele contato com Deus, o que significa ver Deus face a face. Não foi isto que resumiu a vida de Moisés? "Nunca mais se levantou nas terras de Israel um profeta semelhante a Moisés, com quem o Senhor falava face a face" (Deut. 34:10). E quando isto acontece você chega a uma posição de conhecimento espiritual direto de Deus, contato direto com Deus, você chega ao lugar onde o céu está aberto - você não pode, sob nenhuma hipótese, por alguma vantagem, ser uma pessoa que faça transigências, que se desvia daquilo que tem sido mostrado ao seu coração.
 
O que é isto que o apóstolo diz a respeito de Moisés? "Moisés se achou fiel em toda a sua casa, como servo" (Heb 3:5); e a fidelidade de Moisés é vista particularmente e em grande medida na maneira como ele foi dominado exatamente por aquilo que Deus disse. Você conhece aqueles últimos capítulos do livro de Êxodo, trazendo tudo de volta para a palavra, sempre, "como o Senhor havia ordenado a Moisés".
 
Tudo era feito como Deus falava; através de todo o sistema a que Moisés foi levantado para estabelecer e constituir, ele era fiel ao detalhe. Sabemos por que, naturalmente; e aqui está aquela grande e abrangente explicação do que acabei de dizer sobre os princípios. Deus tem Cristo em vista o tempo todo, e cada detalhe, e aquele sistema que Moisés instituiu era uma representação de Cristo; e, assim, era necessário que aquilo fosse exato em cada detalhe.
 
É uma dificuldade, um caminho custoso, mas você não pode ter revelação, e avançar em revelação, e ao mesmo tempo negociar sobre os detalhes e ter as coisas em cada ponto diferente daquilo que exatamente o Senhor quer. Você não é governado por diplomacia, política, ou opinião pública. Você é governado por aquilo que o Senhor disse em seu coração pela revelação quanto ao Seu propósito. Isto é ministério profético.
 
Os Profetas não eram homens que se acomodavam a alguma coisa que fosse comparativo em sua bondade. Eles jamais se permitiam avançar completamente se a coisa fosse apenas comparativamente boa. Olhe para Jeremias. Houve um dia na vida de Jeremias quando um bom rei buscava recuperar as coisas, e ele de fato deu uma grande festa na Páscoa, e foi aparentemente uma grande ocasião. Eles estavam fazendo grandes coisas lá em Jerusalém, mas com tudo aquilo que acontecendo de bom, confessadamente bom, Jeremias não se deixou levar. Ele tinha uma reserva, e ele estava certo.
 
Foi visto mais tarde que tudo não passava de algo muito superficial, que o coração do povo não havia mudado, os lugares altos não foram removidos, e a profecia original de Jeremias tinha que permanecer. Se a reforma aparente tivesse sido algo verdadeiro, então as profecias de Jeremias sobre o cativeiro, a destruição da cidade, a completa entrega ao julgamento, teria resultado em nada. Jeremias se conteve.
 
Ele pode não ter entendido, pode ter ficado perplexo a respeito, mas o seu coração não lhe permitia que se deixasse levar por aquele algo comparativamente bom. Ele descobriu a razão do porque mais tarde - que, embora fosse surpreendentemente bom em certo aspecto, não representava uma mudança de coração, e, portanto, o julgamento tinha que vir.
 
O profeta não pode aceitar como suficiente e final aquilo que é apenas comparativo, embora ele se alegre na medida do benefício que possa haver em alguma parte. Devemos, naturalmente, ser generosos para com qualquer pouco de bem que está no mundo - vamos ser gratos por tudo que está correto, que é verdadeiro e de Deus; mas oh! Não podemos dizer que aquilo está satisfazendo plenamente ao Senhor, que é tudo o que o Senhor deseja. Não, o ministério profético é completamente fiel aos pensamentos de Deus. É um ministério de exatidão. É isto o que a unção significa, e nós dissemos por que - é um Cristo pleno que se está em vista.
 
A última declaração em Apocalipse 19:10 resume tudo. Ela sintetiza numa sentença o ministério profético desde o princípio. Suponho que o ministério profético começou no dia quando foi declarado sobre a semente da mulher que iria esmagar a cabeça da serpente, e então passou para Enoque, que profetizou dizendo: "Olhem, o Senhor virá..." (Judas 14), e foi assim a partir de então. Está tudo reunido no final de Apocalipse no seguinte pensamento: que "o testemunho de Jesus é o espírito da profecia". Isto é, o espírito da profecia desde o início até o fim está totalmente voltado para isto - o testemunho de Jesus.
 
O espírito da profecia sempre teve Jesus em vista desde o seu primeiro pronunciamento - "a semente da mulher" - até "Olhem, o Senhor virá..." (e como o princípio e o fim são trazidos juntos desde tão cedo!). Durante todo o caminho foi sempre com o Senhor Jesus em vista, e um Cristo pleno. "Ele deu profetas... até que todos cheguemos...à plenitude de Cristo". Este é o objetivo, e Deus jamais pode ficar satisfeito com qualquer coisa a não ser a plenitude de Seu Filho, representado pela Igreja.
 
A Igreja deve ser a plenitude Dele; um Varão perfeito - esta é a Igreja. O ministério profético é para isto - para a plenitude de Cristo, a total inclusividade de Cristo. É para ser Cristo, o centro da circunferência; Cristo, primeiro e último; Cristo no geral e Cristo em cada detalhe. E ver Cristo por revelação significa que você jamais pode aceitar qualquer coisa diferente disso. Você viu, e isto tem estabelecido. A maneira de se alcançar o objetivo de Deus, então, é enxergando por meio do Espírito Santo, e este enxergar é a base do ministério profético.
 
Acho que isto é suficiente para mostrar o que dissemos no início, que, se enxergarmos a natureza do ministério, imediatamente enxergamos o que o vaso é. O vaso pode ser indivíduos cumprindo tal ministério, ou pode ser um coletivo. Mais adiante poderemos falar algo mais sobre o vaso, mas vamos agora pensar tecnicamente, em termos de apóstolos, profetas e outros, como ofícios. Vamos pensar sobre eles como funções vitais.
 
Deus quer que o homem e a função sejam idênticos, não o homem e um profissional, ou uma posição profissional, seja que título for. O vaso deve ser a função, e a função deve justificar o vaso. Nós não vamos andar por aí nos promovendo como profetas; mas Deus conceda que possa ser levantado um ministério profético para um tempo como este, quando o Seu pleno propósito concernente a Seu Filho seja trazido de volta à vista entre o Seu povo. Esta é a necessidade das pessoas, e também Dele.
 
Capítulo 2 - A Formação de um Profeta
 
O ministério profético não é algo que apareceu com o tempo, mas é algo que veio da eternidade. Saiu dos conselhos eternos.
 
Talvez você se pergunte o que isto quer dizer. Bem, lembramos que, sem nenhuma explicação ou definição, algo surge bem lá no princípio e assume lugar de autoridade na economia de Deus, envolvendo esta mesma função. Quando Adão pecou e foi expulso do jardim, a Palavra apenas diz: "Deus colocou Querubins ao oriente do jardim do Éden... para guardar o caminho da árvore da vida" (Gênesis 3:24).
 
Quem ou o que são querubins? De onde eles vêm? Não ouvimos nada sobre eles anteriormente; nenhuma explicação sobre eles é dada. Simplesmente é uma declaração. Deus os colocou lá para guardar o caminho da árvore da vida. Eles se tornaram os guardadores da vida, para manter as coisas em conformidade com o pensamento de Deus. Pois os pensamentos do coração do homem tinha se desviado dos pensamentos de Deus e se tornado mal; tudo ficou manchado; e agora os guardadores do propósito de Deus acerca do maior de todas as coisas para o homem - que é a vida Divina, a vida não criada - os guardadores, os querubins, foram colocados lá.
 
Porém, mais tarde nos é dado compreender como os querubins se parecem: esta simbólica e complexa representação possui aspecto quádruplo - o leão, o boi, o homem e a águia; e nos é dado compreender muito claramente que o aspecto predominante é o homem. Na verdade é um homem com três outros aspectos: de leão, de boi, e de águia. O leão é o símbolo da realeza ou de governo; o boi é símbolo do serviço e de sacrifício; a águia, da glória celestial e mistério. O homem, o aspecto predominante do querubim - o que é?
 
Sabemos, através das Escrituras, que o homem assume a posição, na ordem das coisas de Deus, de profeta, o representante de Deus. A representação dos pensamentos de Deus é um homem. Esta foi a intenção na criação de Adão à imagem e semelhança de Deus - para ser a corporificação e expressão pessoal de todos os pensamentos de Deus. É para isto que o homem foi criado. É isto o que encontramos no Homem, o Homem que era Deus manifestado na carne. Ele era a perfeita expressão de todos os pensamentos de Deus.
 
De onde veio este simbolismo do querubim? Ele simplesmente foi trazido. Veio da eternidade. É um pensamento eterno e Divino, e ele toma conta das coisas para Deus. Assim, o homem - e nós conhecemos aquela frase "o Filho do Homem" - está particularmente relacionado ao ofício profético, e a função profética é uma coisa eterna, que simplesmente entrou. É, em sua própria natureza, a representação dos pensamentos Divinos, e ela mantém as coisas na pureza e em plenitude. Esta é a idéia, em relação ao homem, para o profeta, e esta é a função e a natureza profética.
 
A Identificação do Profeta Com a Sua Mensagem
 
Mas o que esta função traz consigo? Aqui nós chegamos ao ponto mais importante do todo. É a absoluta identidade do vaso com o seu ministério. Ministério profético não é algo que você assume. É algo que você é. Nenhuma academia pode fazer de você um profeta. Samuel instituiu a escola dos profetas. Ela tinha dois propósitos - primeiro, a disseminação do conhecimento religioso, e segundo, o registro das crônicas da história religiosa. Nos dias de Samuel não havia visão aberta; as pessoas tinham perdido a Palavra de Deus. Elas tinham que aprender a Palavra de Deus novamente, e as crônicas dos caminhos de Deus tinham que ser escritas e guardadas para as futuras gerações, e a escola dos profetas foi instituída para esta finalidade. Porém, há uma grande diferença entre aqueles profetas acadêmicos e os profetas ungidos. Os profetas acadêmicos tornaram-se membros de uma profissão e rapidamente se transformaram em uma coisa indigna. Todos os falsos profetas vieram da escola de profetas, e foram aceitos publicamente como tais. Tornaram-se uma instituição superior e foram aceitos. Mas eram falsos profetas. Entrar para uma faculdade religiosa não faz de você um profeta de Deus.
 
Minha ênfase é a seguinte - a identificação do vaso com o seu ministério é o próprio âmago do pensamento Divino. Um homem é chamado para representar os pensamentos de Deus, para representá-los naquilo que ele é, não naquilo que ele faz. O vaso em si é o ministério e você não consegue dividir os dois.
 
A Necessidade do Esvaziamento de Si Próprio
 
Isto explica tudo na vida dos grandes profetas. Explica a vida de Moisés, o profeta que o Senhor Deus levantou entre os seus irmãos (Deut. 18:15,18). Moisés tentou assumir a obra de sua vida. Ele era um homem de tremendas habilidades, "instruído em toda sabedoria dos egípcios" (Atos 7:22), com grande qualificações e dons naturais, e então, de alguma maneira ele obteve alguma concepção de uma obra de vida para Deus. Era muito verdadeira; era uma concepção verdadeira, uma idéia correta; ele era bastante honesto, não havia qualquer dúvida a respeito dos seus motivos; porém ele tentou assumir aquela obra na base daquilo que ele era naturalmente, baseado em sua própria habilidade, qualificação e zelo, e nesta base foi permitido que viesse um desastre sobre a coisa toda.
 
Não é assim que os profetas são formados; nem é desta maneira que o oficio profético é exercido. Moisés precisou ir para o deserto e por quarenta anos ser esvaziado, até que não sobrasse nada de tudo aquilo como base sobre o qual ele pudesse se apoiar para fazer a obra de Deus, ou cumprir qualquer comissão Divina. Ele era por natureza um homem "poderoso em suas palavras e obras"; e, contudo, agora ele diz: "Eu não sou eloqüente... Sou pesado de língua..." (Êxodo 4:10). Houve um tremendo corte de todas as facilidades e recursos naturais, e não penso que Moisés foi desagradável em sua resposta a Deus. Ele não disse em efeito: ‘Tu não me permitiste fazer a coisa naquela ocasião, então também não irei fazê-la agora’. Penso que Moisés era um homem que estava sob a disciplina Divina, e ainda, no auge dessa disciplina. Um homem que está realmente dominado por coisas e que é petulante não responde a pequenas oportunidades de ajudar as pessoas.
 
Temos um vislumbre de Moisés no início de seu tempo no deserto (Êxodo 2:16,17) que sugere que ele não era esse tipo. Quando houve a dificuldade no poço, sobre a questão de dar água aos rebanhos, se Moisés estivesse de mau humor, irritadiço, descontente devido o Senhor ter aparentado não estar com ele no Egito, provavelmente ele teria sentado em outro lugar para observar, e não teria feito nada para ajudar. Mas ele imediatamente foi ajudar, de boa vontade, fazendo tudo o que podia. Ele estava no auge de sua prova. Pequenas coisas mostram onde um homem está.
 
Nós passamos por tempos de prova e teste sob a mão de Deus, e é muito fácil chegarmos ao estado de espírito que diz, em efeito: ‘O Senhor não me quer, Ele não precisa de mim!’ Deixamos todas as coisas passarem, não nos importamos com nada; afundamos em nossas provas e ficamos rendidos inutilmente. Não creio que o Senhor vem a uma pessoa como esta a fim de comissioná-la. Elias, deprimido, fugiu para o deserto, para uma caverna nas montanhas; mas ele tinha que chegar a mais algum lugar antes que o Senhor pudesse fazer alguma coisa com ele. "O que você está fazendo aqui, Elias?" (1 Reis 19:9). O Senhor jamais vem a uma pessoa e a comissiona quando ela está em desespero. . ‘Deus irá perdoá-lo por tudo, menos pelo desespero’ (F. W. H. Myers, 'St. Paulo') - porque desespero é falta de fé em Deus, e Deus jamais pode fazer alguma coisa com alguém que tem falta de fé.
 
Moisés foi esvaziado até a última gota, e, contudo, não ficou zangado ou descontente com Deus. O que o Senhor estava fazendo? Estava formando um profeta. Anteriormente, Moisés teria assumido um ofício, teria feito com que a função profética servisse a si próprio; teria a usado. Não havia nenhuma relação interior vital entre Moisés e a obra que ele estava para fazer; eram duas coisas diferentes; a obra era uma coisa objetiva para ele. No final dos quarenta anos no deserto, ele estava num estado tal que a obra se tornara algo subjetivo; algo foi realizado. Foi produzido um estado que tornou o homem apto a viver uma expressão viva do pensamento Divino. Ele foi esvaziado de seus próprios pensamentos a fim de dar espaço para os pensamentos de Deus; foi esvaziado de sua própria força, para que toda energia pudesse ser de Deus.
 
Não terá sido este o significado do fogo e da sarça que não se consumia? É uma parábola, talvez uma parábola maior, porém, penso, numa aplicação imediata, que aquilo estava transmitindo algo a Moisés. ‘Moisés, você é uma criatura muito frágil, uma simples sarça do deserto, um pedacinho da humanidade ordinária, absolutamente sem qualquer recurso em si mesmo; mas há um recurso que pode conduzi-lo continuamente, e você pode ser sustentado, sem ser consumido, por uma energia que não é sua própria – é o Espírito de Deus, a energia de Deus’. Esta foi a grande lição que este profeta teve que aprender. ‘Eu não posso!’ Muito bem, disse o Senhor, ‘mas EU SOU’.
 
Muita relevância é dada ao aspecto natural de muitos servos do Senhor, e normalmente com resultados trágicos. Muita relevância é dada a Paulo. ‘Que grande homem Paulo foi naturalmente, que intelecto ele tinha, que treinamento, que habilidades tremendas!’ Tudo isto pode ser verdade, porém pergunte a Paulo que valor aquilo tinha quando ele se deparava com uma situação espiritual. Ele clamava: "Quem pode discernir essas coisas? A nossa capacidade vem de Deus" (2 Cor. 2:16; 3:5). Paulo passou por experiências onde ele, assim como Moisés, se desesperou da vida. Ele disse: "Tínhamos a sentença de morte em nós mesmos, para que não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus que ressuscita os mortos". (2 Cor. 1:9)
 
A Mensagem É Forjada Interiormente Por Meio de Experiência Real
 
Como você percebe, o princípio opera o tempo todo; Deus irá fazer com que o ministério e o ministro sejam um. Você vê isto em todos os profetas. O Senhor não parava por nada. Ele se utilizava de dores ilimitadas. Trabalhava até mesmo por meio da vida doméstica, as relações mais íntimas da vida. Pense na tragédia da vida doméstica de Oseías. Pense em Ezequiel, cuja esposa o Senhor levou embora por meio da morte num só golpe. O Senhor disse: ‘Levante-se de manhã, lave o rosto, não permita que a menor sugestão de lamento ou tragédia seja percebida; saia como das outras vezes, como se nada tivesse acontecido; mostre-se para as pessoas, ande com um semblante radiante, provoque-os para que perguntem o que você quer significar com tal comportamento ultrajante’.
 
O Senhor trouxe este desgosto sobre ele e então, ordenou que agisse daquela maneira. Por quê? Ezequiel era um profeta; ele tinha que corporificar a sua mensagem, e a mensagem era a seguinte: ‘Israel, a esposa de Deus, tinha se desviado de Deus, morrido para Deus, e Israel não se dava conta disso; prossegue da mesma maneira como sempre, como se nada tivesse acontecido’. O profeta tem que trazer isto para o lar por meio de sua própria experiência. Deus está trabalhando algo lá dentro. Ele trabalha de maneiras profundas e terríveis na vida de Seu servo para produzir o ministério. Deus não nos permite assumir as coisas.
 
Se estivermos submissos ao Espírito Santo, Ele irá nos transformar em profetas; isto é, Ele irá tornar a profecia algo que tenha encontrado lugar em nós, de modo que aquilo que falarmos seja apenas vocalizar algo que tem acontecido, que tem sido produzido dentro de nós. Deus tem feito isto através dos anos de maneira estranha, profunda, terrível em algumas vidas, não se detendo a nada, tocando tudo; e é o vaso forjado desta maneira que é a mensagem. As pessoas não vêm para ouvir o que você tem para ensinar. Elas vêm para ver o que você é, para ver aquilo que tem sido trabalhado por Deus. Que preço um ministério profético tem que pagar!
 
Assim, Moisés foi para o deserto, para experimentar a terrível anulação da sua vida natural, da sua mentalidade natural; para ser levado a zero; para ter a coisa trabalhada dentro dele. E foi Deus justificado? - pois, afinal de contas, era uma questão de uma fonte para o futuro. Oh, que pressão iria cair sobre aquela vida! Algumas vezes Moisés quase que se arrebentou; outras ele realmente cedeu à pressão. "Eu não posso carregar todo este povo sozinho, porque ele é muito pesado para mim". (Num. 11:14). Qual foi a sua fonte? Oh, se tivesse sido a velha fonte do Egito ele não teria agüentado nem por um ano. Ele não podia suportar provocação no Egito, ele se levantava e lutava. Ele desmoronou moralmente e espiritualmente sob aquela pequena pressão quarenta anos antes.
 
O que iria ele fazer com esses rebeldes? Quanto tempo iria ele tolerá-los? Uma pressão terrível estava sendo colocada sobre ele, e somente algo profundamente trabalhado no interior, algo que tivesse sido feito lá dentro, seria suficiente para se atravessar por aquilo, quando era o caso de permanecer firme contra a pressão em prol do propósito pleno de Deus. Conosco também, a pressão pode ser terrível; muitas vezes virão tentações muito fortes – ‘Vá devagar, comprometa-se pouco, não seja tão absoluto; você irá encontrar mais portas abertas se der um pouco mais de abertura; você pode ter muito mais se afrouxar mais!’
 
O que irá salvar você naquela hora de tentação? A única coisa é aquilo que Deus tem realizado dentro de você. Aquilo que é parte do seu próprio ser - não algo de que você possa abrir mão; mas é você, a sua própria vida. Esta é a única coisa. Deus sabia o que estava fazendo em Moisés. A coisa tinha que ser um com o homem, para que não houvesse divisão entre eles. O homem era o ministério profético. Ele foi rejeitado por seus irmãos; eles não queriam tê-lo. "Quem te constituiu como príncipe e juiz sobre nós?" (Êxodo 2:14).
 
Este é o lado humano da coisa. Mas havia o lado Divino. Foi Deus quem o enviou para o deserto por quarenta anos. Parecia como se fosse o agir do homem. Mas não era. Essas duas coisas aconteceram juntas. A rejeição pelos seus irmãos estava totalmente alinhada com o propósito soberano de Deus. Foi a única maneira na qual Deus teve a oportunidade da qual precisava para reconstituir Moisés. A real preparação deste profeta ocorreu durante o tempo que seus irmãos o repudiaram. Oh, a soberania de Deus, a maravilhosa soberania de Deus! Uma hora escura, um tempo profundo; uma ruptura, um esmagamento, um tempo opressivo; de esvaziamento. Parece que tudo está indo embora, que nada irá sobrar. Porém tudo isto é a maneira de Deus formar um ministério profético.
 
Um Mensageiro Divinamente Atestado
 
Suponho que Moisés no princípio tivesse sido bastante legalista, impondo a lei – ‘Você deve fazer isto e aquilo’ - e assim por diante; um autocrata ou déspota. Quando, após aqueles anos, o encontramos saindo da roda, das mãos do Oleiro, é dito que ele é "muito manso, mais do que todos os homens da face da terra" (Num. 12:3), e Deus podia socorrê-lo, então. Ele não podia socorrer Moisés naquele dia quando ele se levantou num espírito de orgulho, de arrogância, de auto-afirmação. Deus teve que permitir que aquela obra produzisse o seu resultado inevitável.
 
Mas quando Moisés, na condição de o mais manso dos homens, fraco, humilde, abnegado, foi desafiado pelos demais quanto ao seu ofício - em tal ocasião Moisés não se levantou para defender sua posição, seus direitos; ele simplesmente transferiu a questão para o Senhor. Sua atitude foi: ‘Vamos deixar o Senhor decidir. Eu não tenho nenhuma posição pessoal a preservar: se o Senhor fez de mim um profeta, que Ele mostre isso. Estou preparado para deixar o ofício se ele não for do Senhor’. Que espírito diferente! E o Senhor o socorreu maravilhosa e poderosamente naquelas ocasiões, e terrivelmente para aqueles que se opuseram (Números 12:2; 16:3).
 
Ministério Profético: Uma Vida, Não um Ensino
 
Bem, o que é ser um profeta? Qual é a função profética? É esta: Deus toma um vaso (pode ser individual ou coletivo: a função do ministério profético pode se dar através de um povo, como foi no caso de Israel), e faz com que esse vaso passe por uma história profunda, quebrando e desfazendo, desiludindo, revolucionando toda a mentalidade, para que aquelas coisas que estavam agarradas muito ferozmente, tão agressivamente, não mais exerçam influência. É produzida uma maravilhosa maleabilidade, ajustabilidade, uma aptidão para se aprender.
 
Tudo o que era meramente objetivo em relação à obra de Deus, em relação à verdade Divina, como a ortodoxia ou o fundamentalismo, tudo aquilo que dominava muito fortemente, de uma maneira objetiva, legalista, em relação ao que está certo e ao que está errado em métodos - é trabalhado. Há uma concepção inteiramente nova, uma nova perspectiva das coisas; não mais um sistema formal, algo fora de você que você assume, mas algo trabalhado de maneira interior no vaso. É o que o vaso é que é o seu ministério. Não aquilo que ele aceitou de doutrina e está agora ensinando.
 
Oh, para ficar livre de todo este terreno horrível de coisas! É um terreno desprezível este de se adotar ensinamentos, interpretações, de ser conhecido por tal e tal linha de coisas. Oh, Deus nos livre! Oh, para ser trazido ao lugar onde a coisa seja uma questão de vida - daquilo que Deus realmente realizou em nós! Primeiro Ele nos tritura, e, então, nos reconstrói sobre um novo princípio espiritual, e isto se expressa em ministério: aquilo que é dito procede daquilo que tem acontecido nos bastidores, talvez por anos e até mesmo até o presente momento.
 
Você entende a lei da função profética? É que Deus mantém os vasos ungidos à altura da verdade através da experiência. Cada pedacinho da verdade que eles liberam em palavra é algo que tem tido uma história. Eles desceram até as profundezas e foram salvos por essa verdade. Essa verdade é a vida deles e, portanto, é uma parte deles. Esta é a natureza do ministério profético.
 
Ministério
 
Um Profeta, Tolerante, Porém Firme
 
Voltando ao que eu dizia sobre a mudança em Moisés: Você pode ver um reflexo dela no caso de Samuel. Penso que Samuel foi um dos mais graciosos e amáveis indivíduos do Velho Testamento, e ele é chamado de profeta. Você percebe que, embora o coração dele estivesse completamente devotado aos pensamentos mais elevados e plenos de Deus, e interiormente ele não tivesse qualquer interesse, qualquer que seja, contudo ele mostrava uma incrível compaixão por Saul durante aqueles meses? (Parece que não chegou a passar de um ano, o primeiro ano de reinado de Saul, durante o qual parece que ele realmente procurou demonstrar alguma aparência de bom.) E ainda, você deve lembrar-se de que Saul representa a negação das coisas mais elevadas - o direto e imediato governo de Deus. Tal governo foi rejeitado por Israel em favor de um rei - "Constitui-nos um rei para que nos julgue, como têm todas as nações", disseram eles. Deus disse a Samuel: "Eles não rejeitaram a ti, mas a Mim" (I Samuel 8:5-7).
 
A Monarquia era um princípio Divino, tanto quanto a profecia. O leão está lá com o homem. O monarca, representando o pensamento de governo de Deus, está lá. Mas com Saul ele está num nível mais baixo. A vinda de Saul significou trazer aquele pensamento Divino para o nível do mundo: "como todas as nações" - um pensamento Divino assumido por homens carnais, arrastado para o nível mundano; e Samuel sabia disso; ele era contra isso, pois viu o que isto significava. Mas quão misericordioso ele foi com Saul, tanto quanto podia ser!
 
Por que digo isto? Porque há uma condição semelhante a esta existindo hoje. Pensamentos Divinos têm sido tomados carnalmente pelos homens e trazidos para um nível terreno; o governo direto do Espírito Santo tem sido trocado por comitês e juntas, e assim por diante. Os homens têm instituído o governo nas coisas Divinas e estão conduzindo as coisas para Deus. A maneira do Novo Testamento, que em oração e jejum a mente de Deus é alcançada, é dificilmente conhecida. Bem, aqueles que são espirituais, que sabem, que vêem, que entendem, não podem aceitar isto. Mas eles são muito tolerantes.
 
Um verdadeiro profeta, como Samuel, irá ser tolerante tanto quanto possível, até que aquela coisa errada assuma a pronunciada e positiva forma de desobediência em relação à luz dada. O Senhor veio a Saul através de Samuel e lhe deu clareza de entendimento quanto ao que ele tinha que fazer. Foi dado a ele conhecer com indiscutível clareza o que Deus requeria dele, e ele foi desobediente. Então Samuel disse: ‘Chega de tolerância!’ Deus se tornou implacável. "Porque rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te rejeitou a ti para que não sejas rei" (I Samuel 15:23). Samuel foi tão longe quanto pôde enquanto o homem fazia o melhor que podia. Isto é tolerância.
 
Naturalmente, os tipos são sempre fracos e imperfeitos, mas você pode enxergar a verdade aí. O profeta Samuel demonstrou muita tolerância em relação às coisas que estavam erradas, ainda que em seu coração ele não pudesse aceitá-las. Ele esperava que a luz brilhasse e a obediência viesse a seguir, e a situação fosse resolvida. Nós somos muito tolerantes com tudo aquilo que não concordamos.
 
O ponto é o seguinte - Moisés teve que aprender isto; ele teve que ser feito semelhante a isto. Nós ficamos mais bem ajustados para servir ao propósito do Senhor, somos profetas mais fiéis, quando conseguimos suportar as coisas que não concordamos, do que quando em nosso zelo somos iconoclastas, e procuramos somente destruir aquilo que ofende. O Senhor diz: ‘Isto não vai adiantar’.
 
De tudo o que dissemos, enfatizamos apenas uma coisa - que o ministério profético é uma função. Sua função é a de conservar tudo em relação ao propósito pleno de Deus - mas não como que mantendo uma 'linha' de coisas, de uma objetiva e legalista. Você não assume algo. Você somente consegue fazer algo quando Deus verdadeiramente tiver trabalhado isso dentro de você através da experiência, através do manejo de Deus - quando Deus fizer você experimentar o negócio, e você conhecê-lo desta forma. Não é que você tenha alcançado algo, mas sim que você foi moído durante o processo. Agora você está apto para algo no Senhor.
 
Capítulo 3 - Uma Voz Que Pode Ser Esquecida
 
"Pois os que habitam em Jerusalém, e suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, nem as vozes dos profetas que são lidos todos os sábados, condenando-o, cumprindo as profecias" (Atos 13:27).
 
A declaração acima, como um todo, carrega um significado que compreende muita história, porém sua implicação direta e imediata é que, se as pessoas referidas - os moradores de Jerusalém e seus governantes - tivessem se beneficiado das coisas mais familiares, teriam se comportado muito diferente do modo como se comportaram. Toda semana, sábado após sábado, estendendo-se por um grande número de anos, elas ouviram coisas lidas; porém, finalmente, por causa da falha dessas pessoas em reconhecer aquilo que estavam ouvindo, elas agiram de uma forma completamente oposta àquelas mesmas coisas, embora, sob a soberania de Deus, estivessem dando cumprimento a elas ao assim fazerem.
 
Seguramente esta é uma palavra de advertência. Isto representa uma terrível possibilidade - ouvir repetidamente as mesmas coisas, e não reconhecer o seu significado; comportar-se de maneira completamente contrária aos nossos próprios interesses, causando a nossa própria ruína, quando deveria ter sido de outra maneira.
 
O ponto é este - que há uma voz nos profetas que pode ser esquecida, um significado que pode não ser compreendido, e os resultados podem ser desastrosos para as pessoas em questão. ‘A voz dos profetas’: isto sugere que há algo além das meras coisas que o profeta diz. Há uma ‘voz’. Nós podemos ouvir um som, podemos ouvir as palavras, e, contudo não ouvir a voz; esta é algo extra à coisa dita. Esta é a declaração aqui, que semana após semana, mês após mês, ano após ano, os homens lêem os profetas audivelmente, e as pessoas que ouvem a leitura não ouvem a voz. É a voz dos profetas que precisamos ouvir.
 
Na medida em que você avançar através deste décimo terceiro capítulo de Atos, você será capaz de reconhecer que este pequeno fragmento está inserido num contexto muito crucial. Este capítulo, para começar com ele, marca um desenvolvimento. Lá em Antioquia estavam certos homens, incluindo Saulo, e o Espírito Santo disse: "Separai para Mim Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado". Este foi um novo desenvolvimento, um mover, algo mais abrangente, bastante significativo; porém você não termina o capítulo sem antes chegar à outra crise, que se tornou inevitável quando num certo lugar uma grande multidão se reuniu, e os judeus, recusando ser obedientes à Palavra, provocaram um tumulto.
 
Os apóstolos fizeram este pronunciamento: "Era necessário que a palavra de Deus fosse primeiramente anunciada a vós. Visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios" (v.46); e citaram um profeta (Isaías 49:6) como fonte de autoridade: "Eu te pus para luz dos gentios". Essas foram épocas na história da Igreja; e os judeus, como um todo, foram deixados de lado, e os gentios, de modo muito deliberado, foram trazidos à cena, exatamente devido ao seguinte: que os judeus tinham ouvido esses profetas sábado após sábado, porém não tinham ouvido suas vozes.
 
Grandes coisas dependiam do ouvir a voz. Falhar em ouvir pode levar a uma perda irreparável. Coisas muito grandes em relação a Israel têm acontecido pelos séculos desde o tempo de Atos 13. Não é minha intenção dar início a questões de profecia sobre os judeus, mas o meu ponto é este: de um lado, não foi algo pequeno falhar em ouvir as vozes dos profetas; por outro lado, você percebe que os gentios se regozijaram. É dito: "Quando os gentios ouviram isto, eles se alegraram e glorificaram a palavra de Deus". Bem, em ambos os lados, é algo terrível falhar em ouvir, e é algo tremendo ouvir e dar crédito. Penso que isto sejam base e motivo suficientemente sério para atrair a nossa atenção.
 
Profetas do Velho Testamento no Novo Testamento
 
Vamos agora olhar mais de perto para esta questão de "as vozes dos profetas". Um fato de grande significado é o seguinte, que os profetas têm um grande espaço no Novo Testamento. Imagino se você já considerou quão grande este espaço é. Você não precisará ser lembrado de quão grandemente os evangelhos chamam a atenção para os profetas maiores, como são chamados. "Para que se cumprisse o que foi falado pelo profeta..." - quão freqüente esta afirmação ocorre nos Evangelhos.
 
Ela apareceu desde o nascimento do Senhor Jesus, e somente nesta relação várias vezes os profetas maiores são citados. Mas quando você sai dos evangelhos e vai para Atos e para as Epístolas, você se move basicamente naquilo que é chamado de profetas menores - menor não porque fossem de valor menor do que os demais, mas porque o registro de seus escritos é menor. É tremendamente impressionante e significativo que esses profetas menores possam ser notados tão extensivamente no Novo Testamento; eles são citados mais de cinqüenta vezes.
 
Profetas, homens de visão
 
A partir deste significado geral, dois fatores aparecem. Um em relação aos próprios profetas: Por que eles têm um espaço tão grande no Novo Testamento? Bem, a resposta a isto será basicamente outra pergunta. O que significam profetas? Profetas são ‘videntes’ (I Samuel 9:9); são homens que vêem e, em vendo, desempenham o papel de olhos para o povo de Deus. São homens de visão; e seu amplo espaço no Novo Testamento certamente por essa razão indica quão tremendamente importante é a visão espiritual para o povo de Deus nesta dispensação.
 
Naturalmente, a outra coisa é a visão em si, mas eu não estou preocupado neste momento em falar sobre o que a visão era, e é - isto, com outros aspectos, pode vir mais tarde. No momento, sinto que o Senhor está interessado no seguinte fator: a tremenda importância da visão espiritual para que o povo de Deus cumpra a sua vocação. A coisa se resolve numa questão apenas de visão para vocação, e a vocação não irá ser cumprida sem visão.
 
Visão Significa Propósito para a Vida
 
Assim, por um momento, vamos discorrer sobre o lugar da visão - e você não irá pensar que estou falando sobre ‘visionários’. Não, é algo específico, é a visão, algo claramente definido. Os profetas conheciam aquilo que falavam - não eram meramente idéias abstratas, mas algo muito definido. Visão é algo muito específico, algo com o qual o Senhor está interessado e que tem se tornado dominante na vida daqueles que a tem; clara, distinta, precisa; algo que os dominava de modo que todo o propósito da existência em si está inserido nela.
 
Tais pessoas estão numa posição onde conhecem o porquê de terem uma existência; conhecem o propósito para o qual estão vivas e são capazes de dizer qual é esse propósito, e o horizonte delas está circunscrito a esta visão; elas, com toda suas vidas em todos os seus aspectos, resumem-se nesta visão, dependem dela. É o único objetivo que determina tudo para elas. Não é apenas viver nesta terra e fazer muitas coisas e ser bem sucedido de alguma forma; mas tudo nesta vida está ligado a tal visão, a qual dá o sentido para a vida.
 
Não é necessário levar você através da história de Israel como que dominado por essa mesma verdade. Você sabe muito bem que, quando Israel estava numa posição correta, é assim que as coisas eram: definidas, com tudo centrado num único objetivo. E, antes de prosseguirmos, vamos dizer, novamente, que todos aqueles profetas - homens que eram os olhos de Deus para o povo, que significavam o pensamento e o propósito de Deus para eles, que significavam a Divina vocação deles, a interpretação de Deus para suas próprias existências - aqueles profetas que corporificaram isso tudo são todos trazidos para a dispensação do Novo Testamento e para dentro da Igreja, com esta clara implicação, de que é desta forma que a Igreja deve ser para alcançar o seu objetivo.
 
A Igreja é para ser aquilo que vê, que é dominado por um objetivo e uma visão específica, que sabe o porquê de existir, que não tem qualquer dúvida sobre isso, e que se posiciona em absoluta renúncia por causa dessa visão, trazendo todas as demais coisas da vida alinhadas a ela. Nossa atitude tem que ser esta, embora neste mundo tenhamos necessariamente que fazer isto ou aquilo, ganhar o nosso sustento e realizar o nosso trabalho diário, contudo há algo que governa todas as coisas: a visão Divina. Todas as coisas devem se curvar a este único objetivo Divino.
 
Esta é a primeira implicação sobre o fato de os profetas terem tal ampla posição nesta dispensação. Nós não podemos agora seguir isto em detalhe a partir da Palavra, mas seria de muita valia percorrer todo o Novo Testamento, e ver como a inserção dos profetas é feita para aplicar aos aspectos variados da vida da Igreja. É muito impressionante.
 
Ministério
 
Visão, Um Fator Unificador
 
Os profetas dominam esta dispensação desta maneira. A visão era a própria união e força de Israel. Quando a visão estava clara para eles, quando seus olhos eram abertos e eles enxergavam, quando estavam alinhados ao propósito de Deus, quando eram governados por aquele objetivo para o qual Deus os tinha chamado, eles eram um só povo, tornados um pela visão. Eles tinham um olho só. Aquela pequena frase, "Se... os teus olhos forem simples..." (Mateus 6:22), possui muito mais significado dentro de si do que reconhecemos. Um olho simples - unifica e dirige toda uma vida; um olho simples unifica todo o seu comportamento.
 
Se você for um homem ou uma mulher de uma só idéia, todas as coisas irão ser trazidas para dentro dessa idéia. Naturalmente, isto nem sempre é uma coisa favorável, embora o seja neste caso. As pessoas que são obcecadas e, como dizemos, ‘têm uma abelha em seu chapéu’ (têm uma idéia fixa), sem nada mais para conversar, mas apenas uma só coisa, geralmente são pessoas bastante irritantes. Mas existe o lado certo, o lado Divino, no qual o povo de Deus deve ser um povo de um olho simples, de uma única idéia; e esta simplicidade de olhos deixa todas as faculdades em coordenação.
 
Durante os raros períodos quando Israel estava desta maneira, eles eram um povo maravilhosamente unificado. Por outro lado, você pode ver como, quando a visão esvaecia e falhava, eles se desintegravam, tornavam-se um povo de interesses divididos e desintegrados, que brigavam entre si. Quão verdadeira é a palavra: "Onde não há visão, o povo perece (se desintegra)" (Provérbios 29:18). E assim era com Israel. Veja-os nos dias de Eli, quando não havia visão aberta. Que povo desunido, e desintegrado eles eram! Isto aconteceu muitas vezes.
 
A visão era um poder solidificador e coesivo, que tornava as pessoas um, e nesta unidade estava a força deles, e eles eram irresistíveis. Veja-os no Jordão na derrubada de Jericó! Veja-os avançando triunfantemente! Enquanto eram governados por um único objetivo, ninguém os podia resistir. A força deles estava na unidade, e a unidade deles estava na visão que tinham. O inimigo sabe o que está fazendo ao destruir e confundir a visão: ele está dividindo o povo de Deus.
 
Visão, Um Poder Defensivo
 
Que poder defensivo é uma visão como esta! Que pouca chance o inimigo tem quando somos um povo firmado numa única coisa! Se tivermos todos os tipos de interesses pessoais, o inimigo pode fazer uma terrível devastação. Ele não tem chance quando todos estão centrados num único objetivo Divino. Ele precisa nos dividir de alguma forma, distrair-nos, desintegrar-nos, para que possa realizar sua obra de ocultar o propósito de Deus. Todos aqueles aspectos de auto-piedade, interesse próprio, que sempre estão procurando entrar e arruinar, jamais irá conseguir entrar enquanto a visão for clara e estivermos focados nela como um só povo. Ela é tremendamente defensiva.
 
O apóstolo falou sobre ser "diligente em tudo; fervoroso no espírito; servindo o Senhor" (Romanos 12:11). Moffatt traduz "fervoroso no espírito" como "mantendo o ardor espiritual". Estar centrado num único objetivo de todo o coração é uma coisa maravilhosamente protetora. Tal condição em um povo fecha as brechas e resiste à invasão e influência de todos os tipos de coisas que poderiam distrair e paralisar.
 
Visão Causa Determinação e Crescimento
 
A visão era como uma chama para os profetas. Você tem que reconhecer isto sobre eles, de qualquer maneira - que esses homens eram chamas de fogo. Não havia nada neutro neles; eram agressivos, jamais passivos. A visão tem este efeito. Se você realmente tem enxergado o que o Senhor procura, você não consegue ficar indiferente. Você não consegue ser passivo quando enxerga. Encontre uma pessoa que enxergou, e você irá achar uma vida positiva.
 
Encontre uma pessoa que não enxerga, que não está seguro, que não é claro, e você têm alguém neutro, negativo, que não vale a pena ser considerado. Os profetas eram homens como chamas de fogo, porque eles enxergavam. E quando Israel estava no exercício do chamado Divino, ele era dessa maneira - confiante, agressivo. Quando a visão murchava, Israel chegava a uma paralisia, voltava-se para si mesmo, ia ao derredor e andava em círculos, não chegava a lugar algum.
 
Essa agressividade, positividade, que é fruto do ter visto, concede ao Senhor o terreno que Ele precisa para um tipo correto de treinamento e disciplina. Não significa que jamais iremos cometer erros. "O que fazes aí, Elias?" (I Reis 19:9). ‘Você não tem nada para fazer aí’ - é o sentido. Sim, os profetas e os apóstolos podiam cometer enganos, e eles cometiam; mas há o seguinte - porque eles enxergavam, e estavam completamente entregues aquilo que eles tinham visto a respeito do propósito do Senhor, o Senhor era absolutamente capaz de chegar a seus erros e, soberanamente, anulá-los e ensinar a Seus servos algo mais sobre Si mesmo e sobre os Seus caminhos.
 
Agora, você jamais encontra isto em pessoas indefinidas. O povo indefinido, que não fala sério, que não abraça a causa, jamais aprende alguma coisa do Senhor. São as pessoas que se entregam, que se lançam na direção de qualquer medida de luz que o Senhor lhes dá, que, por um lado, têm seus erros - os erros de seus próprios zelos - corrigidos pela soberania Divina; e, por outro lado, são ensinados pelo Senhor através de seus próprios erros sobre quais são os pensamentos de Deus, como Ele faz as coisas, e como Ele não faz. Se ficarmos esperando em indefinição e em incerteza e não fizermos nada até que saibamos tudo, não iremos aprender nada.
 
Você não percebeu que são os homens e mulheres cujos corações estão abrasados por Deus, que têm enxergado algo verdadeiramente da parte do Senhor e que têm sido fortemente dominados por aquilo que têm enxergado que estão aprendendo? O Senhor os está ensinando; Ele não permite que seus erros graves os traguem em destruição. Ele soberanamente corrige, e durante a longa carreira eles são capazes de dizer: ‘Bem, cometi alguns erros terríveis, mas o Senhor maravilhosamente cuidou deles e fez com que cooperassem para o bem’.
 
Ser desta maneira, com uma visão que resume toda a nossa vida e que nos domina, fornece ao Senhor uma condição favorável para Ele cuidar de nós, mesmo quando erramos - porque os Seus interesses estão em jogo, os Seus interesses e não os nossos estão em primeiro lugar em nosso coração. Os profetas e os apóstolos aprenderam a conhecer o Senhor de maravilhosas maneiras por meio de seus próprios erros, pois os erros deles advinham não da teimosia de suas próprias vontades, mas de uma paixão por Deus e por aquilo que Ele lhes tinha mostrado como Seu propósito.
 
Visão Dá Superioridade ao Povo de Deus
 
E, então, observe que a própria superioridade de Israel estava baseada na visão. Eles foram chamados por Deus para ser um povo superior, acima de todos os povos da terra, colocado no meio das nações como um vaso espiritualmente governamental. O Senhor prometeu que nenhuma nação seria capaz de assumir o controle sobre eles.
 
Seu pensamento para eles era que eles fossem "cabeça, e não cauda" (Deuteronômio 28:13). Mas isto não iria acontecer de forma arbitrária e independente da situação e condição deles. Era quando eles tinham a visão clara diante deles, corporativamente, como um povo inteiro - dominado, governado e unificado pela visão - só então eles eram cabeça e não cauda; era então que ficavam em posição de domínio.
 
E isto traz os profetas novamente. (Pensamos agora dos últimos profetas de Israel.) Por que os profetas? Porque Israel tinha perdido sua posição. A Assíria, Babilônia e o resto estavam assumindo o domínio sobre eles porque eles tinham perdido a visão. É nos profetas menores, como são chamados, que você tem bastante coisa sobre esta questão. "Meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento" (Oséias 4:6).
 
Esta é uma nota a qual todos os profetas estão ligados. Por que este estado de coisas? Por que Israel está agora em desvantagem em relação às nações? A resposta é - perda de visão. O profeta vem para tentar levar Israel de volta ao lugar de visão. O profeta tem a visão, ele é o olho do povo: ele chama o povo de volta para aquilo para o qual Deus o escolhera, para mostrar novamente porque Ele tirara Israel dentre as nações.
 
A Visão é Necessária Para Todo Filho de Deus
 
Tudo isto é apenas uma ênfase sobre o lugar de visão. Pode não levar você muito longe; você pode se perguntar a que leva tudo isto. Você está dizendo agora: ‘Bem, o que é a visão?’ Este não é o ponto no momento; isto pode vir depois. O ponto é que esta é a necessidade, a absoluta necessidade para a Igreja hoje - para você, para mim; e me deixe dizer logo que, embora a visão seja algo preeminentemente corporativo, ela deve também ser pessoal. Você e eu individualmente devemos estar no lugar onde possamos dizer: ‘Eu tenho enxergado, eu sei o que Deus quer!’
 
Se nos perguntassem: por que a Igreja está desse jeito hoje, em tão larga medida de impotência e desintegração, e o que é preciso para produzir um impacto do céu por meio da Igreja, poderíamos responder? É uma presunção afirmar ser capaz de fazer isto? Os profetas sabiam; e lembre-se de que os profetas, fossem do Velho Testamento ou do Novo Testamento, não eram nenhuma classe isolada de pessoas, não eram nenhum corpo separado, que retinham a visão em si mesmo oficialmente.
 
Eles eram os próprios olhos do corpo. Eram, no pensamento de Deus, o povo de Deus. Você conhece este princípio; isto é visto, por exemplo, na questão do Sumo Sacerdote. Deus olha para o Sumo Sacerdote como sendo Israel, e lida com todo o Israel em igualdade de condição na pessoa do Sumo Sacerdote, seja ele bom ou mal. Se o Sumo Sacerdote é mal - "E me mostrou Josué o sumo sacerdote... vestido com roupas sujas" (Zacarias 3:1-5) - este é Israel. Deus lida com Israel como um só homem.
 
O profeta é a mesma coisa; e isto é porque o profeta está muito interligado com a própria condição e vida do povo. Ouça o profeta Daniel orando. Pessoalmente ele não era culpado; pessoalmente ele não tinha pecado como a nação; mas ele tomou tudo sobre si mesmo e falou como se fosse sua responsabilidade, como se ele fosse o principal dos pecadores. Há uma união tal entre os profetas e o povo em condição, em experiência, em sofrimento, que eles jamais podem ver a si mesmos como oficiais separados de todo o resto, como se estivesse falando do lado de fora; eles estavam dentro da situação.
 
Minha mensagem é esta, que não é para termos a visão trazida a nós por meio de uma classe chamada de ministros, profetas e apóstolos. Eles estão aqui apenas para nos mantermos alertas quanto ao que devemos ser diante de Deus, como devemos ser. Deve ser, portanto, com cada um de nós individualmente, que estejamos no significado deste ministério profético. A Igreja é chamada para ser um profeta para as nações.
 
Gostaria de repetir minha pergunta - é uma pergunta admissível sem qualquer presunção – você poderia dizer o que é necessário para a Igreja hoje? Você poderia interpretar o estado das coisas, e explicar verdadeiramente por aquilo que o Senhor lhe mostrou em seu próprio coração? Eu sei os riscos e perigos que podem rodear tal idéia, mas esta é a própria razão de nossa existência. Será num grau maior ou menor em cada um de nós, mas, seja mais, ou menos, nós temos a chave para a situação. Deus precisa de um povo assim. Pode ser individual.
 
Visão Requer Coragem
 
Porém, lembre-se de que isto irá requerer uma coragem imensa. Oh, que coragem daqueles profetas! - coragem contra a concessão e política. Oh, os efeitos catastróficos da política, de considerações secundárias! ‘Como isto irá afetar nossas oportunidades se formos muito definidos? Não irá diminuir nossas oportunidades de servir o Senhor se tomarmos tal posição?’ Isto é política, e é uma coisa terrível.
 
Muitos homens que enxergaram algo, e começaram a falar sobre aquilo que viram, encontraram uma reação tal de seus próprios irmãos e entre aqueles onde sua responsabilidade repousava, que recuaram. ‘É perigoso levar isto para mais longe’. Política! Não, não havia nada disso nos profetas. Nós estamos comprometidos porque temos visto?
 
Haverá custo; poderemos enfrentá-lo. Há um pequeno fragmento em Hebreus 9 - "Eles foram serrados ao meio". Uma tradição diz que isto se aplicou ao profeta Isaías - que ele foi um dos que foram serrados ao meio. Leia Isaías 53. Não há nada mais sublime em toda a literatura da Bíblia, e por aquilo ele foi serrado ao meio. Ele estava certo? Bem, nós hoje nos beneficiamos de sua retidão. Mas o maligno não gosta disso, e por isso ele foi serrado ao meio. Há valores tremendos associados ao ver, e a total entrega à visão, mas também há muito custo.
 
Vamos parar por aqui, por ora; mas precisamos interagir com o Senhor e dizer: ‘Quanto eu tenho visto? Tenho ouvido os profetas semana após semana, após todas as convenções, as conferências, os encontros que tenho participado; será que tenho eu ouvido a voz dos profetas, afinal de contas? Tenho ouvido os pregadores darem suas mensagens e seus sermões; tenho eu ouvido a voz?’ O efeito terá influência muito grande, caso positivo. Caso negativo é tempo de consultarmos o Senhor a esse respeito. Isto não pode continuar! O que aconteceu em Atos 13? Ouvindo eles não escutavam; mas onde havia um ouvido, oh, que coisas tremendas aconteciam, que valores tremendos vinham!
 
Capítulo 4 - A Visão que Constitui a Vocação
 
"Pois os que habitam em Jerusalém, e suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, nem as vozes dos profetas que são lidos todos os sábados, condenando-O, cumprindo as profecias." (Atos 13:27).
 
Comentamos no início do capítulo anterior que a afirmação acima indica que há algo mais do que leitura audível da Palavra de Deus. ‘As vozes dos profetas’. O que os profetas estavam dizendo? - Não, quais foram as palavras literalmente usadas pelos profetas, as sentenças e declarações, a forma de seus pronunciamentos, mas a que de fato tudo aquilo se referia em efeito?
 
Aquelas autoridades e habitantes de Jerusalém podiam ter citado os profetas sem dificuldade: provavelmente podiam ter recitado os conteúdos de todos os livros. Eles estavam bem ‘treinados’ sobre o conteúdo das Escrituras do Velho Testamento, porém jamais paravam para fazer perguntas simples: ‘A que isto se refere? Qual realmente é a implicação disso? O que estes homens procuram?’ E porque eles nunca faziam isso, jamais iam para além da carta.
 
Vocação Esquecida Devido a Perda de Visão
 
Fazemos estas perguntas agora. O que é isto que está dentro, por trás, e mais fundo do que as declarações escritas e faladas dos profetas? Sabemos que os profetas estavam lidando com uma situação que de forma alguma representava o pensamento de Deus em relação ao Seu povo. Eu poderia deixar a coisa mais forte que isso e dizer que a situação estava muito longe do planejado por Deus; mas tenho condições presentes em minha mente, mais do que algum estado extremo de coisas, e assim simplesmente digo que a condição realmente não representava então, nem representa agora, à vontade e intenção do Senhor no que se refere ao Seu povo.
 
Os profetas estavam lidando com tal situação, e, porque era desta maneira, a real vocação do povo de Deus não estava sendo cumprida. Eles estavam fracassando naquilo para o qual o Senhor realmente os tinha trazido à existência. Considerando que eles deviam ter sido um povo de tremenda força espiritual no meio das nações, com um real impacto sobre as nações, com uma nota de grande autoridade que tinha que ser levado em conta - "Assim diz o Senhor", declarado de tal forma que as pessoas tinham que dar ouvido - considerando que deveria ter sido desta maneira, eles estavam fracassando. Havia fraqueza e fracasso.
 
Os profetas procuraram chegar à raiz da situação. Havia todo tipo de coisas a que os profetas se referiram - pecados e assim por diante; mas os profetas eram unânimes em uma coisa em particular: que a causa daquelas situações, que resultavam neste grande fracasso, era a perda da visão. O povo tinha perdido visão original, a visão que um dia tinha sido clara para eles. Quando Deus colocou a Sua mão sobre eles e os tirou do Egito, eles tiveram uma visão. Eles viram o propósito e a intenção de Deus.
 
A visão se tornou a exultante nota de sua canção do outro lado do Mar Vermelho. Eu não vou me ater no momento com o que era o propósito. Mas eles eram um povo a quem Deus tinha dado uma visão de Seu propósito em relação a eles, tanto em relação a eles próprios quanto a vocação deles. Eles a tinham perdido, e este era o resultado; e os profetas, ao lidar com isso, permaneceram firmemente sobre esta única coisa; ‘A vocação de vocês em sua plenitude de realização depende de sua visão, e plenitude de vocação requer plenitude de visão’.
 
Isto significa que, se a sua visão se tornar menor do que a plenitude de Deus, você apenas irá chegar até aqui, e então irá parar. Se você estiver prosseguindo diretamente para tudo aquilo que Deus planejou ao constituí-lo como Seu vaso, você deve ter plenitude de visão; Deus nunca fica satisfeito com qualquer coisa que não seja plenitude. O próprio fato de que você não consegue ir mais longe do que sua visão lhe permite é a maneira de Deus dizer: ‘Você precisa ter plenitude de visão se quiser chegar à plenitude do propósito e da realização’.
 
Este é o próprio fundamento daquilo com o qual estamos ocupados agora. Os profetas estavam sempre falando sobre isso. Anteriormente citamos Oséias 4:6: "O meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitei para que não sejas sacerdote diante de mim". Isto é o mesmo que dizer, em outras palavras: ‘O meu povo está em pedaços por falta de visão; vocês têm fechado os olhos para o propósito que tenho apresentado a vocês; vocês não tem mais nenhuma serventia para mim’; e esta é uma declaração bastante forte. Ela se liga a outra passagem: "Israel foi devorado; agora está entre as nações como um vaso em que ninguém tem prazer". (Oséias 8:8)
 
Se você quiser obter a força total disso, olhe para uma palavra nas profecias de Jeremias. "É este homem Conias um vaso desprezado e quebrado? É ele um vaso de que ninguém se agrada? Por que razão foram ele e a sua linhagem arremessados e arrojados para uma terra que não conhecem? Ó terra, terra, terra; ouve a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor: Escrevei que este homem fica sem filhos, homem que não prosperará nos seus dias; pois nenhum da sua linhagem prosperará para assentar-se sobre o trono de Davi e reinar daqui em diante em Judá". (Jer. 22:28-30) "Israel...entre as nações como um vaso que ninguém tem prazer...escrevei que este homem fica sem filhos". Não há futuro para um vaso como esse. Podemos muito bem dizer de Israel como de Conias: ‘Escrevei que este homem fica sem filhos’. Isto é um fim. Uma continuação, ir diretamente até o fim sem qualquer impedimento, exige plenitude de visão.
 
Visão, não Conhecimento de Fatos, Qualifica Para a Vocação
 
Preste atenção a isto, especialmente os meus irmãos e irmãs mais jovens em Cristo. O cumprimento daquilo para o qual você foi chamado pela graça de Deus - o que você pode chamar de serviço de Deus, a obra de Deus; o que iremos resumir como a Divina vocação - precisa se basear sobre uma visão que o Senhor tem dado a você: a visão, naturalmente, não é apenas algo em si mesma, mas é a visão que Ele tem dado a você sobre a Sua Igreja. Você precisa ter isso. Então, a medida na qual você for seguir rumo à plenitude, esta será a medida da sua visão - a medida na qual você tem chegado pessoalmente para possuir aquela visão Divina.
 
Pode haver muitas coisas, que não a visão, que levam você para a obra cristã. Você pode ouvir um apelo para obreiros, um apelo para missionários, um apelo para o serviço, baseado na Escritura - "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho" - e assim por diante. E com os complementos daquele apelo você pode ser movido, ficar estimulado, e pode tomar aquilo como uma chamada Divina. Eu não estou dizendo que ninguém nunca tenha verdadeiramente servido o Senhor nesta base: não me interprete mal; mas quero dizer de fato que pode haver tudo isso, e de forma muito intensa, e, contudo, aquilo não ser sua própria visão, mas a visão de outra pessoa que está sendo passada a você, e isto não irá prosperar.
 
‘Mas’, você diz, ‘há uma Escritura - Ide por todo o mundo e pregai o evangelho’. Lembre-se, aquelas pessoas a quem essas palavras foram dirigidas tinham todos os fatos a respeito de Cristo - a encarnação, o nascimento virginal, Sua vida, Seu ensino, Seus milagres, Sua Cruz, e todas as atestações celestiais que acompanhavam. Alguns daqueles mesmos homens - os discípulos de João - estavam lá quando a voz do céu disse: "Este é o meu Filho Amado". Outros estavam na montanha quando novamente a voz falou: "Este é o Meu Filho Amado". Eles viram a transfiguração, viram Sua ressurreição. Não é isto suficiente para sair ao mundo - toda essa quantidade de fatos poderosos? Certamente eles podiam ir e proclamar aquilo que eles conheciam? Mas não - "Ficai em Jerusalém".
 
O que finalmente os constituiu como homens que podiam cumprir e obedecer aquele mandamento de ir? ‘Bem’, você diz, ‘naturalmente foi a presença do Espírito Santo’. Perfeitamente verdadeiro. Mas não estava lá alguém mais? Por que os quarenta dias após a Sua ressurreição? Você não acha que eles estavam penetrando as aparências, os eventos, e estavam enxergando algo - vendo o que nenhum olho humano podia ver, o que jamais poderia ser visto por meio de alguma demonstração objetiva?
 
Se o apóstolo Paulo é alguma coisa no qual se basear nesta questão, ele irá nos dizer muito claramente que toda sua vida, ministério e comissão foram baseados nesta única coisa: "Aprouve a Deus ... revelar Seu Filho em mim, para que eu pudesse anunciá-lo entre os gentios". "Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo". (Gálatas 1:15,16; 11,12)
 
Todas as demais coisas podem ser fatos que possuímos por meio da leitura de nosso Novo Testamento. Nós temos todo ele e podemos crer nele como a substância do Cristianismo. Isto não faz de nós missionários para sair e proclamar os fatos de Cristo - fatos são o que eles são. Não é assim. Quantos têm agido assim! Até onde eles têm chegado? Vão até certo ponto e param. Não podemos permanecer na limitação. Caros amigos, há uma terrível limitação na Igreja neste exato momento, limitação de conhecimento do Senhor, até mesmo da parte dos que têm sido servos do Senhor por um longo período de anos. Há muitos cristãos, mesmo cristãos antigos, com quem são muito difícil conversar sobre as coisas do Senhor.
 
Visão - O Propósito Pleno de Deus na Redenção
 
Mas voltando a Israel: Você não encontra nada sobre Israel que sugira ou indique que eles saíram do Egito, que permaneceram no deserto e mais tarde na terra, a fim de declarar como seu evangelho que Deus os havia tirado da terra do Egito. Não era esta a mensagem deles. Naturalmente, isto é repetido muitas vezes, porém esta não era a mensagem deles, não o que eles proclamavam. O que era aquilo que estava sempre diante da vista deles? Era aquilo para o qual eles haviam sido tirados do Egito. Era a visão de Deus em trazê-los de lá.
 
Muitos de nós nos limitamos a pregar apenas o lado da ‘saída’ - a salvação do pecado, do mundo. A coisa se estende para muito além disso, mas a Igreja não vai muito longe. É bom, está correto, naturalmente; é uma parte do todo; mas é apenas uma parte. É necessária a visão completa para se chegar até o fim. Oh, as comiserações associadas às vidas de muitos servos do Senhor! Eles chegam a uma paralisação, de poder e influência, limitados, porque sua visão é muito pequena. Isto não é verdade?
 
O que estou dizendo a você? Primeiramente, que se você for até o fim, para servir o Senhor de alguma maneira plena, você precisa que o propósito de Deus a respeito de Seu Filho seja revelado ao seu próprio coração. Você precisa ser capaz de dizer que ‘Deus revelou Seu Filho em você’, no sentido de que você enxerga não meramente a sua própria libertação do pecado, mas o propósito de Deus em relação ao Seu Filho em quem você está salvo - mas enxerga a coisa maior, a coisa plena. Você é apenas um fragmento nela.
 
Esta é a base do serviço, da vocação; e os próprios apóstolos ficaram restringidos até que fosse revelado a eles a chama completa do significado de Cristo ressurreto e ascendido - a visão do Cristo glorificado e tudo que isto significava no propósito de Deus. Então eles saíram, e nós descobrimos que a mensagem deles era sempre, não o evangelho de Deus concernente à salvação pessoal, mas ‘o evangelho de Deus concernente ao Seu Filho’, Jesus Cristo. Eles enxergaram não o Jesus histórico, mas o Cristo glorificado de Deus; não apenas O tinham visto como uma visão objetiva, mas o Seu verdadeiro significado tinha sido revelado a eles.
 
Que mudança isto representava em relação aos velhos tempos, quando eles estavam sempre pensando em termos do Messias vindouro que iria estabelecer um reino temporal na terra, com eles mesmos sentados à Sua direita e à Sua esquerda! Eles seriam pessoas notáveis aqui nesta terra; iriam expulsar os romanos de seu país! Esta era a única e plena visão deles - lutando com armas reais, revoltando-se literalmente contra os usurpadores de seu país.
 
Mas, oh, que vasta mudança quando eles enxergaram o Seu reino! Agora, aquilo que os havia prendido em suas garras simplesmente tinha ido embora. Ver o Seu reino! Jesus tinha dito: "Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no Seu reino". (Mateus 16:28). O que é o reino? É Cristo, acima de todo governo e autoridade, o centro e o objetivo de todo conselho Divino desde a eternidade. Isto é apenas linguagem, naturalmente - simples palavras; mas o significado precisa ser compreendido.
 
Você precisa ter a visão em seu próprio coração antes que possa ser um servo de Deus que irá chegar bem longe, e você precisa ter visão crescente para que possa chegar até o fim. Volte para Oséias. "O meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento" (Oséias 4:6). O que ele diz mais tarde? "Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor" (Oséias 6:3). É a visão crescente, progressiva que nos leva até o pleno propósito de Deus. Precisa ser desta maneira - não ficar satisfeito com dois ou três fatos sobre Cristo e a salvação, mas ter os olhos de nosso coração iluminados para conhecê-Lo.
 
O que estou dizendo, naturalmente, é uma afirmação de fatos. Eu não posso dar nada a você; não posso trazer você para dentro disso; mas posso, creio eu, influenciar um pouco você no sentido de ir ao Senhor e dizer: ‘Senhor, se precisares de mim, estou disponível, estou à Sua disposição; mas Tu precisas colocar o fundamento, e abrir os meus olhos, e me dar a visão necessária a qual signifique que eu não apenas saia e pregue coisas sobre Ti’. Algo muito mais do que isso é necessário.
 
Esta é a primeira coisa, e se aplica a todos nós, não apenas àqueles que estão no que chamam de ‘ministério integral’.
 
A Vocação da Igreja - Expressar o Senhorio de Cristo
 
Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos a nós mesmos diante de um duplo desenvolvimento. Deus está aqui presente na Pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo. Seu nome é Emanuel – ‘Deus conosco’ - e todos os que têm a ver com Ele tem a ver com Deus de uma maneira muito pessoal e imediata. Ele declara que o Seu próprio corpo físico é o templo de Deus.
 
Então, através de Sua morte, ressurreição e ascensão, Ele retorna na Pessoa do Espírito Santo e estabelece Sua residência na Igreja, que é o Seu Corpo. As coisas, então, começam a acontecer muito espontaneamente, a partir do mundo das inteligências espirituais - não apenas por causa de certas doutrinas sendo pregadas, mas por causa desta presença Divina.
 
Há inteligências conscientes por toda a parte, por trás dos homens e das nações, e o conflito começa; não por causa daquilo que o povo de Deus fala, mas porque o povo está lá. Deixe isto ser corporativo e você experimentará a vontade de Deus sobre vocação. Esta não é a dispensação da conversão das nações. Eu me pergunto até se esta é a dispensação da evangelização plena das nações. Nós estamos esperando que o Senhor possa vir algum dia.
 
Metade deste mundo jamais ouviu sobre o nome de Jesus, após dois mil anos. Se o Senhor está voltando à noite, algo tem que acontecer se é para o mundo ser evangelizado antes que Ele venha! Isto não quer dizer parar ou enfraquecer a evangelização. Vamos continuar com ela e fazer tudo o que for possível; mas, lembre-se, o Senhor nos tem dado o Seu significado para esta dispensação. "Este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro para testemunho para as nações; e, então, virá o fim". (Mateus 24:14).
 
Olhe para o seu Novo Testamento. Foi dito: "Por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo". (Romanos 10:18). Foi dito que o mundo inteiro foi tocado. Mas o mundo cresceu muito desde então. O que aconteceu neste tempo? O Senhor plantou núcleos, representações coorporativas de Sua Igreja, primeiramente em uma nação e depois em outra, e por meio da presença deles a luta estourou.
 
A única coisa que Satanás se determinou a fazer foi a de ejetar aquilo que inoculou o seu reino com o Senhorio do Senhor; para expulsá-lo, quebrá-lo, desintegrá-lo de alguma maneira a fim de anulá-lo; fazendo com que uns se voltassem contra os outros, criando divisões - tudo para arruinar, frustrar, destruir a representação deles do absoluto Senhorio do Senhor; neutralizá-lo, expulsá-lo, fazer qualquer coisa para se livrar desta coisa dentro de seu reino. O reino de Satanás tem agido desta maneira, como que para dizer: ‘Enquanto esta coisa estiver aqui, jamais estaremos seguros; enquanto esta coisa estiver aqui, nosso reino está dividido, não estará completo: vamos nos livrar deles, a fim de termos o nosso reino sólido’.
 
O objetivo de Deus é obter dentro das nações uma expressão coorporativa do Senhorio de Seu Filho - ter o Seu lugar lá. Não estou dizendo que não temos que pregar; sim, devemos pregar, testemunhar, testificar; mas a coisa essencial é que o Senhor esteja lá. Há tempos - e isto irá acontecer em muitos servos de Deus - quando você não pode pregar, você não pode fazer nada, apenas permanecer onde está, ficar lá, e as ondas quebrando sobre você. Isto tem acontecido muitas vezes. Antes de ter havido qualquer avanço ou desenvolvimento, tem havido um longo período no qual a única pergunta é: ‘Seremos capazes de agüentar, de permanecer firme?’ Satanás tem dito: ‘Não se eu puder impedir! Você irá desistir se eu puder fazer algo a respeito!’
 
O assunto todo em questão é o lugar do Senhor entre as nações. Israel foi constituído para isto; a Igreja está constituída para isto. A coisa não pode ser feita sozinha por unidades; ela requer a corporação - os dois ou três; quanto mais melhor, desde que haja o fator que unifica, a unidade, a mesma visão. Se motivos duplos e interesses pessoais entrarem, eles irão arruinar a coisa toda. Você está lutando uma batalha solitária? Você precisa de cooperação, você precisa de ajuda coorporativa para lutar a batalha e se manter firme. Ouça, o inimigo irá expulsar você se ele puder. Pregue se você puder, mas, se não puder, isto não significa que você deva desistir. Até o Senhor dizer: ‘Eu não posso fazer mais nada aqui’, você deve permanecer aí. Nós não conhecemos os esforços terríveis do inimigo para nos expulsar? Muitos de vocês têm chegado bem longe para saber o que isto significa. Se ele pudesse expulsá-lo, ele o faria.
 
Mas esta é a visão - aquilo para o qual a Igreja é constituída em relação ao Senhor Jesus: de modo que, considerando o dia vindouro, você se mantenha como uma testemunha desse dia; se mantenha nas nações para um testemunho, "até que Ele venha" para reinar, e "o reino do mundo pertence ao nosso Senhor, e de Seu Cristo" (Apo. 11:15); um lugar para os pés até aquele dia; um altar edificado, que testifica: ‘Isto pertence ao Senhor: o direito do Senhor está aqui; Ele comprou isto’. Mas você irá encontrar todo tipo de contradição a isto, e cada tipo de ataque do inimigo para tentar provar que o Senhor não tem nada aqui, que Ele não tem nenhum lugar para por os pés e que é melhor você ir embora.
 
Você entende como é necessário ter visão? Você não pode fazer a coisa por entusiasmo - não irá durar; nem baseado na visão de outra pessoa - isto não irá sustentar você até o fim. Você precisa ser como Paulo e como aqueles que "resistiram, como que vendo o invisível"; não como quem O viu muito tempo atrás, mas vivendo continuamente à luz daquilo que você tem visto e está vendo - uma luz que é sempre crescente.
 
A Visão é a Medida da Vocação
 
Agora, se tudo isto é simples e elementar, é, contudo, básico. Você compreende que a visão do propósito pleno de Deus sobre Seu Filho, revelado em seu próprio coração em seus primórdios, mas agora ficando mais claro e pleno, é a base da vocação? Acredito que nada do que eu tenha dito irá fazer você menos determinado e devoto em todas as simples maneiras de testemunhar sobre a salvação; porém lembre-se do seguinte: para a plenitude você precisa enxergar muito mais do que isto. Você irá até onde a sua visão o levar; portanto, todos nós precisamos daquela oração de Paulo "que Deus vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder" (Efésios 1:17-19).
 
Esta é a visão. E, então, como está escrito em Isaías 25:7 (A.R.V.): "...E destruirá (lit. consumirá) neste monte a face da cobertura, com que todos os povos andam cobertos, e o véu com que todas as nações se cobrem." O que isto significa - "este monte?" Que monte? Bem, é Sião. Mas tem este monte literal, Monte Sião, esta rocha eminente em Jerusalém, ela tem sempre sido o instrumento de remoção do véu da face de todos? Naturalmente que não! O que é Sião? Sião, em interpretação espiritual, é aquele povo que está vivendo sob a total Soberania do Senhor. Diz no texto imediato: "Aniquilará a morte para sempre". (v.8) É através de Seu triunfo, o triunfo de Sua Cruz e Ressurreição, que Ele vem a nós.
 
"Chegastes ao monte Sião" (Hebreus 12:22). Sião é o território do Seu absoluto Senhorio, e um povo vivendo sob o Seu Senhorio. Então o véu é tirado. O que o Senhor quer aqui, e ali, e acolá, são esses núcleos, essas pequenas companhias de pessoas vivendo no benefício de Sua vitória, vivendo no benefício de ter Ele derrotado a morte vitoriosamente; e onde eles estiverem as pessoas irão ver; eles serão o instrumento para se tirar o véu da face dos povos. Onde tal companhia é encontrada, lá você vê o Senhor. Quando você entra em contato com essas pessoas, você entra em contato com a realidade.
 
Assim, o apelo final é que tudo seja ajustado e trazido alinhado com a visão, e a única pergunta para nós é: As pessoas estão vendo o Senhor? Não é uma questão de se elas estão ouvindo aquilo que temos falado sobre o Senhor - nossa pregação, doutrina, interpretação - mas: Elas estão vendo o Senhor, elas estão sentindo o Senhor, elas estão encontrando o Senhor? Oh, eu não peço a vocês em suas diferentes localidades para se reunirem dois ou três a fim de estudarem certos ensinos da Bíblia; mas eu realmente digo a vocês que peçam ao Senhor para constituí-los coorporativamente naquilo que terá um impacto espiritual, aquilo no qual o Senhor possa ser visto, o Senhor possa ser encontrado; do qual possa ser dito: ‘O Senhor está aqui!’ Que isso possa ser verdade em nós, onde estejamos.
 
Capítulo 5 - Por que a Mensagem do Profeta Não é Compreendida
 
Ler: Atos 13:27, 15; II Coríntios 3:14-18; Isaias 53:1.
 
Os Profetas eram lidos, como Paulo salienta aqui, todos os sábados. Era um costume fixo ler a lei e os profetas todos os sábados, e pode se dizer que não era em um horário específico do dia que isto era feito, mas durante todo o sábado a lei e os profetas eram lidos nas sinagogas. E, contudo, as próprias autoridades, e também os moradores de Jerusalém que freqüentavam os templos, ouviam a leitura dos profetas continuamente, porém, jamais ouviam as vozes dos profetas. E porque eles fracassaram em ouvir aquele algo interior, que era muito mais do que apenas a leitura audível que os profetas tinham a dizer, perderam tudo aquilo que estava planejado para eles, como mostra este capítulo 13 de Atos.
 
Os Apóstolos os deixaram e se voltaram para os gentios, que tinham um ouvido pronto para ouvir. Este não é um assunto de pouca seriedade e de pouca conseqüência. Fica evidente que é necessário procurarmos ouvir a voz dos profetas, para realmente conhecermos o que eles estavam dizendo. Vamos novamente olhar para o versículo: "... porque não O conheceram, nem conheceram as vozes dos profetas." Por que não conheceram? Por que não ouviram? Há uma resposta básica a esta pergunta que irá nos ocupar agora, e que nos traz para os fundamentos, realmente para a raiz das coisas.
 
A Ofensa da Cruz
 
(a) Um Messias Sofredor
 
A resposta à pergunta é esta – porque eles não estavam dispostos a aceitar a Cruz. É isto que está na raiz da questão toda. Primeiramente, não estavam dispostos a admitir um Messias sofredor. Eles tinham suas próprias opiniões formadas, tanto em relação ao tipo de Messias que o Messias deles deveria ser, quanto ao que Ele deveria fazer, e quanto aos resultados de Sua vinda; e tudo o que se opunha a esta mentalidade fixa não era aceita - era uma ofensa.
 
Eles não podiam admitir dentro do campo de sua contemplação que o Messias vindouro fosse um Messias sofredor. Embora os profetas estivessem sempre falando sobre o Messias sofredor. Isaías, no ponto de suas profecias que conhecemos como capítulo 53, mostra o clássico sobre o Messias sofredor, e ele ainda começa dizendo: "Quem creu em nossa pregação?"
 
Acho que não precisamos reunir mais evidências para mostrar que esta era a atitude deles. Foi assim o tempo todo. Paulo, em sua carta aos Gálatas, lidou com esta mesma questão. Até o fim da carta ele fala sobre a ofensa da Cruz, e ele coloca isto contra os judaizantes, que perseguiam os seus passos por toda a parte, a fim de prejudicar seu ministério, e em cujas mãos ele sofria.
 
Ele "trazia em seu corpo as marcas do Senhor Jesus" (Gálatas 6:17). Por quê? Por causa de sua mensagem da Cruz. Ele dizia: "Eu, porém, irmãos, se é que prego ainda a circuncisão, por que ainda sou perseguido? Nesse caso o escândalo da cruz estaria aniquilado." (Gálatas 5:11). E durante todo o caminho vemos a indisposição dos judeus em admitir o sofrimento do Messias.
 
(b) A Maneira do Auto-Esvaziamento
 
Mas a coisa ia mais longe do que isso. Tornou-se não apenas uma questão nacional, mas uma questão pessoal. Eles não queriam aceitar o princípio da Cruz neles próprios. Você descobre que esses indivíduos representantes da nação, que vinham ao Senhor Jesus de tempos em tempos, foram apresentados à ofensa da Cruz - e sempre iam embora vazios, não estavam preparados para aceitá-la.
 
Nicodemos estava muito interessado no reino que o Messias estava para estabelecer, o qual ele estava esperando e antecipando, mas isto se tornou uma questão pessoal da Cruz. Antes que o Senhor prosseguisse com Nicodemos, Ele trouxe diante de sua vista a serpente levantada no deserto. Era uma ofensa.
 
Outro homem, que se tornou conhecido a nós como o jovem rico, saiu muito pesaroso por causa da ofensa da Cruz. Não adiantava ao Senhor, naquele tempo, antes que a Cruz realmente tivesse o seu lugar, falar em termos mais exatos sobre ela a outras pessoas que não os Seus discípulos, mas Ele aplicava o princípio, que era a mesma coisa. Ele aplicou o princípio a este jovem. ‘Se, como dizes, estás interessado no Reino e na vida eterna, este é o caminho: o caminho do esvaziamento - do complete auto esvaziamento.’ "Ele saiu triste, porque tinha muitas posses" (Mateus 19:22). O Senhor disse: "Quão dificilmente (com que dificuldade) entrarão no reino de Deus aqueles que têm riquezas!" (Lucas 18:24). A ofensa da Cruz os desmascara.
 
Agora aqui, os judeus como um todo tornavam o reino de Deus uma coisa terrena, apoiado sobre princípios deste mundo - e não vamos culpá-los sem nos culpar a nós mesmos. Esta é a nossa batalha até hoje. É uma questão que nos desmascara em nosso coração. Oh, você pode não estar esperando que através de sua pregação de Cristo um reino temporal seja estabelecido e que você irá ter uma coroa para ser colocada e um trono literal para se assentar nele - esta pode não ser sua perspectiva, ou mentalidade; mas não estamos nós quase que todos os dias de nossas vidas em dificuldades porque o Senhor esconde de nós tudo aquilo que Ele está fazendo, privando a nossa alma da sua ambição de ver coisas, de ter coisas? Não é este o motivo de grande parte das nossas dificuldades? Queremos ver, queremos ter, queremos as provas e as evidências.
 
Na verdade queremos um reino que possa ser avaliado pelos nossos sentidos da visão, audição e sentido - um reino palpável, uma resposta em forma tangível a todos os nossos esforços e labutas; e o contrário a isso é um tremendo esforço de fé, e algumas vezes até mesmo nos traz a crises sérias. Por que o Senhor não faz isto ou aquilo que pensamos que Ele deveria fazer? É simplesmente este desejo ardente da alma em ter prova e demonstração; e isto porque, se há algo edificado na obra cristã que seja óbvio, grande, impressionante, onde haja uma grande coisa sendo organizada e um grande movimento em andamento e tudo esteja no campo do que possa ser visto, multidões de cristãos correm atrás disso; ou se há manifestações, coisas que pareçam ser provas claras, as multidões serão encontradas ali.
 
O inimigo arrasta multidões ao imitar as obras do Espírito Santo no campo das demonstrações e provas. Somos muito impressionáveis, precisamos possuir; e isto é exatamente o mesmo princípio que governava aquelas autoridades. Elas não estavam preparadas para que o princípio da Cruz fosse aplicado desta forma - um total esvaziamento do EU, sendo trazido para um fim de tudo, restando apenas o Senhor.
 
O Tema dos Profetas - Conhecer o Senhor
 
Agora você vê que isto nos leva para aquela questão das vozes dos profetas. Qual era a única coisa que os profetas sempre estavam falando? Era sobre conhecer o Senhor. Aquilo que estava faltando entre o povo do Senhor nos dias dos profetas era o conhecimento do Senhor. Havia muitas pessoas que estavam preparadas para ter o Senhor por aquilo que Ele podia fazer por elas, porém, pelo Senhor mesmo... ah, isto era uma outra questão.
 
O que o Senhor procura em você e em mim? Ele está primeiramente querendo que façamos coisas? A idéia daquilo que é do Senhor hoje está muito associada às coisas que estão sendo feitas para Ele, a obra na qual estamos engajados, e assim por diante - isto é, com aquilo que é objetivo e externo. Mas o Senhor não está primeiramente interessado em quanto podemos fazer. Ele está muito mais interessado, façamos pouco ou façamos muito, que cada pedacinho daquilo que fazemos seja fruto do conhecimento Dele próprio.
 
Muita coisa pode ser feita para o Senhor em termos de obras e atividades cristãs, exatamente da mesma maneira como você faz qualquer outra obra, mas isso pode não proceder de seu próprio conhecimento de Deus. O Senhor, acima de tudo, está mais interessado que possamos conhecê-Lo. "Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor." (Jeremias 9:23,24, A.R.V.).
 
Isto não pode explicar o princípio exato da Cruz que está sendo aplicado em nós? O Senhor não está satisfeito; ao longo de muitas linhas Ele parece estar dizendo repetidamente 'Não' a muito daquilo que desejamos; e, sendo negado, nós freqüentemente chegamos ao ponto onde quase desistimos de tudo e fazemos grandes perguntas sobre o nosso relacionamento com o Senhor. E, contudo, o que Ele busca o tempo todo, por meio de Suas negações, restrições ou demoras, é aprofundar o nosso conhecimento Dele mesmo.
 
O que interessa ao Senhor antes de qualquer coisa não é que estejamos num certo lugar fazendo uma porção de obras cristãs (não permita que isto impeça você de servir ao Senhor!), mas que possamos estar lá como alguém que conheça o Senhor. Nossas oportunidades de servi-Lo irão surgir do nosso conhecimento Dele; Ele irá cuidar disso. O Espírito do Senhor está providenciando Sua própria obra. Ele sabe onde existe necessidade, e quando Ele vê alguém que pode satisfazer essa necessidade, Ele pode fazer contato.
 
Conhecimento do Senhor é Fundamental Para Toda Utilidade
 
Este é o princípio no Novo Testamento. Vemos isto na própria vida do Senhor Jesus. Aquele encontro entre Cristo e a mulher de Samaria não foi apenas um acontecimento casual, uma história bonita. Não, ali tem princípios. O Espírito Santo escreveu essas narrativas, e envolveu princípios em cada incidente. Aqui está Alguém que tem água para dar e o mundo não sabe disso, e ali está uma mulher sedenta. Deus vê isso, que alguém em necessidade é colocada em contato com Aquele que tem o suprimento. Isto é uma lei. Se você não obtiver o suprimento, será uma obra muito vazia essa que é feita para o Senhor.
 
O princípio da Cruz opera, ao longo de muitas linhas, de muitas maneiras – provando-nos, experimentando-nos, esvaziando-nos, a fim de nos levar a um lugar onde conheçamos o Senhor, e onde nossa alegria no Senhor e nosso entusiasmo, e nossa vida cristã sejam frutos de algo mais profundo do que mera energia produzida ao se fazer muitas coisas, correndo de reunião a reunião, dando palestras, ficando ocupados com os compromissos na obra cristã. O Senhor não quer que seja assim.
 
Não estou dizendo que você nunca ficará na crista da onda, que nunca terá suas mãos cheias; porém a maneira de o Senhor nos fazer servos úteis é tratar conosco a fim de que O conheçamos, de modo que, estejamos ocupados na obra cristã de forma visível ou não, estaremos lá com um conhecimento do Senhor. Assim, o que nos é necessário é uma medida crescente da preciosidade do Senhor em nossos corações; que, estejamos aptos a fazer alguma coisa, ou não, Ele possa continuar muito precioso para nós. É isto que Ele quer.
 
Isto é muito simples, mas é a base de tudo. Você está lá em algum lugar onde você não pode estar sempre falando do Senhor, onde você pode fazer muito pouco, porém, se o Senhor é precioso para você, isto é servi-Lo, e em você Ele tem um vaso disponível para qualquer coisa que Ele queira. Estou certo de que o Senhor jamais irá nos mostrar às pessoas e nos confiar responsabilidades até que Ele tenha se tornado muito precioso para nós no lugar onde estamos, mesmo que muitas outras coisas que gostaríamos estejam sendo negadas a nós. É o princípio da Cruz.
 
Nicodemos chega com toda sua ‘suficiência’. Ele é um homem de grande suficiência - uma autoridade dos judeus, de posição elevada, em um lugar de influência, e muito mais. Ele representa uma suficiência do tipo religiosa. Então o Senhor virtualmente diz a ele: ‘Você tem que abandonar tudo e começar tudo de novo, como uma criança recém nascida. Você está interessado no Reino dos Céus, porém você não pode trazer nada disso para o Reino.’ Ao jovem rico Ele diz, em efeito: ‘Você não pode trazer suas riquezas’.
 
Você pode ter muita riqueza natural - intelectual, financeira, influência, posição, mas isso não lhe dá qualquer posição no Reino dos Céus, absolutamente. O mais rico, o mais abastado, o maior aqui neste mundo não recebe mais luz do Senhor para sua direção do que o mais pobre e o mais fraco. Todos somos trazidos para a mesma condição - você precisa nascer de novo, você precisa começar do zero nesta questão do Reino dos Céus. O Reino não é comer nem beber; é uma questão de medida espiritual; e você começa a medida espiritual por meio do nascer do Espírito. A nova vida é absolutamente espiritual desde a primeira respiração - algo que não era antes, algo novo.
 
Medida espiritual simplesmente é conhecer o Senhor; isto é tudo. Nossa permanência no Reino dos Céus é simplesmente uma questão de conhecer o Senhor, e, se formos receber posição mais elevada não será por preferências, absolutamente, mas pelo aumento da nossa medida espiritual. Pessoas que contam no Céu são pessoas espirituais, e o que conta é o grau da medida de sua espiritualidade; e espiritualidade é conhecer o Senhor. Podemos ficar certos de que o Senhor se empenha a Si mesmo totalmente nesta questão de nos fazer conhecê-Lo. Isto é o que realmente importa.
 
A Cruz é a Base para todo Conhecimento do Senhor
 
Eles não podiam ouvir as vozes dos profetas porque os profetas estavam falando acerca do sofrimento do Messias, e havia algo dentro das pessoas que tinha fechado a porta; eles estavam predispostos contra qualquer coisa neste sentido, e assim, não conseguiam ouvir. Até mesmos os discípulos do Senhor Jesus estavam nesta situação. Quando Ele começou a se referir a Sua Cruz eles disseram: "Longe de ti tal coisa, Senhor; de modo algum te acontecerá isso" (Mateus 16:22). Um Messias sofredor? Oh, não! Mas eles realmente chegaram ao lugar onde a Cruz tinha sua aplicação mais profunda, onde ela significava um fim de tudo para eles.
 
O Senhor lançou toda esta questão, e você os observa após a crucificação do Senhor - tinham perdido seu Reino Messiânico, tinham perdido tudo, estavam desprovidos e vazios. E, então, o que aconteceu? Eles, então, começaram a conhecer, apenas começaram a conhecer, e o conhecimento deles cresceu e cresceu; porém era completamente de outra ordem. Assim você descobre, no restante do Novo Testamento, que, tanto na própria história deles quanto no ensino das outras pessoas, as duas coisas caminham juntas.
 
São como o positivo e o negativo de um circuito elétrico - não pode haver corrente sem ambos. O negativo é a aplicação do princípio da Cruz, que diz NÃO, NÃO, NÃO: um fim: a morte para si mesmo, morte para o mundo, morte para toda sua vida natural. Mas o positivo é o Espírito Santo, o Espírito de Deus, a ponderosa presença, porém sempre de mãos dadas com a Cruz. Com esses dois agindo sempre juntos, o negativo e o positivo - a Cruz, e o propósito celestial, e o poder celestial, e a eficácia - você descobre que há movimento e um conhecimento cada vez maior do Senhor.
 
Não podemos obter conhecimento do Senhor (a coisa mais importante na mente de Deus para nós) exceto no terreno da aplicação contínua da Cruz, e isto irá ser assim até o final. Não imagine que irá chegar um dia quando você irá descartar a Cruz, quando o princípio da Cruz não mais será necessário, quando você tiver se graduado na escola onde a Cruz é o instrumento do Senhor. Tal dia nunca irá chegar! Cada vez mais você irá chegar a reconhecer a necessidade da Cruz. Se você estiver indo na direção da plenitude do conhecimento - quero dizer para o conhecimento do Senhor - e, por conseguinte para uma maior utilidade a Ele, você precisa tomar isto como certo, que o princípio da Cruz será aplicado cada vez mais profundamente na medida em que você avançar.
 
Oh, que Deus escreva isto em nossos corações! Pois todos nós sabemos da necessidade da Cruz; e aqueles que mais têm conhecido sobre ela estão mais conscientes de que a necessidade dela permanece. Temos visto a terrível tragédia das pessoas que conheceram a mensagem da Cruz em profundidade, e que após muitos anos têm sido uma contradição a esta mesma mensagem - marcados pela auto-suficiência, auto-importância, impaciência, irritabilidade, de modo que outras pessoas têm sido incapazes de conviver com elas.
 
Você é uma dessas pessoas habitualmente irritadas? Não quero dizer uma daquelas que algumas vezes é vencido por uma falta. O Senhor é paciente com os tombos que acontecem aqui e ali ao longo do caminho, mas somos nós pessoas habitualmente irritadas, de mal humor, de difícil convivência? Isto é uma negação da Cruz, e isto tem naufragado a vida e a obra de muitos ministérios.
 
A Cruz será aplicada até o final, e, completamente à parte de nossas faltas e das coisas em nossa constituição e natureza que tenham que ser tratadas, neste vir a conhecer o Senhor para um uso ainda maior, iremos de morte em morte neste lado das coisas. Pensamos em alguns conhecidos nossos. Maravilhamo-nos da maneira como o Senhor tem sido capaz de usá-los, o lugar mais amplo onde Ele os tem colocado, que riquezas Ele tem dado a eles; porém mais tarde eles despencam nas profundezas da morte jamais conhecida antes. Evidentemente para algo mais, algo maior ainda. É desta maneira; o conhecimento do Senhor requer isto de forma sempre crescente.
 
Conhecimento e Utilidade Salvaguardados Pela Cruz
 
Mas, além disso, não há lugar seguro longe da constante aplicação do princípio da Cruz. Segurança absolutamente requer Cruz. Nada está seguro em nossas mãos. Quanto mais o Senhor abençoa, tanto maior perigo haverá. O maior perigo vem quando o Senhor começa a nos usar. Você pode dizer: 'Isto tem muito a ver com a nossa santificação'. Certamente não tem muito a ver com 'erradicação'! Bem, aqui está Paulo. Este homem conhecia tudo sobre Cruz? Você poderia dizer que ele era um homem crucificado? Se ele não era, então, quem era? Ele conhecia o Senhor? E com tudo o que ele conhecia de Cruz e do Senhor, sabia ele que a Cruz precisava ser aplicada até o final? Ele definitivamente irá registrar isso - "... para que eu não me exaltasse demais, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para me esbofetear". "Para que eu não me exaltasse demais"! (II Cor. 12:7).
 
Observe, ele está dizendo isso por causa da grande revelação que lhe fora dada. Ele estava envolvido no Céu. É a coisa mais perigosa ser confiado com riquezas Divinas, no que diz respeito a nossa carne. O único lugar seguro é onde a Cruz ainda está em operação, tocando tudo aquilo que é de nós mesmos, tocando toda a nossa independência de ação.
 
Tome todos esses apóstolos - tome a Pedro, um homem que agia de forma tão independente, que se inclinava a fazer as coisas à sua própria maneira, a fazer aquilo que bem queria. Vemos isso constantemente. Ele é o homem que age sem parar para perguntar a ninguém. Não temos nenhuma evidência de que alguma vez ele chegou, em comunhão com seus irmãos discípulos, e disse: 'Estou pensando em fazer assim e assim; gostaria muito que vocês orassem comigo sobre isso, e me dissessem o que vocês pensam; não tenho qualquer intenção de prosseguir, a menos que haja unanimidade entre nós'.
 
Pedro jamais fazia esse tipo de coisa. Ele tinha uma idéia, e lá ia ele. O Senhor o retratou muito bem quando lhe disse: “Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras" (João 21:18). Este era Pedro antes que a Cruz fosse trabalhada nele. Mas, veja-o depois. Por que, naqueles capítulos iniciais de Atos, lemos 'Pedro e João', 'Pedro e João', 'Pedro e João'? Bem, eles se movem juntos agora, há ligação.
 
Isto é um reconhecimento de que Pedro sentia necessidade de cooperação e comunhão, que ele tinha visto os perigos e desastres a que a independência o havia levado, mesmo quando suas intenções e motivos eram os melhores? Esses são apenas relances de como a Cruz nos toca em nossa natureza impulsiva e independente, nossa vontade própria, nossa força própria. A Cruz tem que tratar de tudo isso, a fim de tornar as coisas seguras para Deus, e para nos manter em movimento no caminho do conhecimento crescente do Senhor, que, como dissemos, está por trás de todo nosso valor para o Senhor, de toda nossa utilidade, de todo o nosso serviço.
 
A Cruz Abre o Caminho Para o Conhecimento Pleno do Senhor
 
A Cruz é o único caminho para o conhecimento espiritual. Importante como o estudo da Palavra de Deus possa ser em seu próprio campo, como que lançando um fundamento para o Espírito Santo trabalhar sobre ele, você jamais chegará ao conhecimento do Senhor simplesmente estudando a Bíblia. O Espírito Santo pode usar aquilo que você conhece da Bíblia para lhe ensinar muito, para explicar suas experiências, para capacitá-lo a entender aquilo que o Senhor está fazendo, porém você jamais obterá este tipo de conhecimento espiritual através do estudo e do ensino.
 
Você precisa estar preparado para permitir que a Cruz seja aplicada em sua vida, para que você seja quebrado, esvaziado e reduzido a pó - para que você seja levado a um lugar onde o Senhor não precise fazer mais nada, onde você esteja acabado. Se você estiver preparado desta maneira, então você irá começar a conhecer o Senhor. Este é o único caminho. Não pode ser por meio de discursos ou palestras. Elas têm o seu valor, mas você não irá conhecer o Senhor espiritualmente ao longo dessas linhas.
 
O pleno conhecimento do Senhor está reservado para nós que vivemos nesta dispensação, porque é governada pela Cruz. O próprio Pedro tem algo a dizer sobre isso: "Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram diligentemente, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar." (I Pedro 1:10-12).
 
Aí você tem duas ordens - os profetas e os anjos - eles não sabiam certas coisas as quais estão reveladas a nós. Os profetas conheciam muito, porém buscavam diligentemente saber algo que não podiam perscrutar. 'O que isto significa?' Eles devem ter se perguntados: 'O Espírito de Deus está nos fazendo dizer estas coisas, mas o que elas significam?' Eles buscavam diligentemente saber aquilo que estava reservado para nós. Por que eles não podiam conhecer? Porque o pleno conhecimento está baseado na Cruz, e a Cruz não tinha ocupado o seu lugar ainda.
 
E os anjos, também, desejam saber essas coisas. Pode isso ser verdade? Pensávamos que os anjos conheciam tudo! Certamente os anjos teriam muito mais conhecimento e inteligência do que nós sobre essas coisas? Não, eles não têm. "as quais coisas os anjos anelam perscrutar". Por que eles não sabem? Os anjos não têm necessidade da Cruz; a Cruz não tem nenhum significado pessoal para eles. É na base da Cruz que o pleno conhecimento entra. Isto precisa de mais algum argumento?
 
A Cruz Garante Resultados Positivos, Não Apenas Negativos.
 
Sendo assim, O Espírito Santo, a fim de nos levar para o pleno conhecimento do Senhor e por meio deste conhecimento crescente nos tornar úteis ao Senhor, precisa operar constantemente por meio da Cruz em princípio; e minha palavra final é esta. A obra não é toda negativa; o Senhor trabalha numa base positiva. Você pode achar que o Senhor está sempre dizendo NÃO, que Ele está sempre contra você, que a Cruz é supressiva; mas não, ela é um instrumento positivo nas mãos do Espírito de Deus. Deus está trabalhando numa linha positiva. O fato é que, sempre que o Espírito Santo nos traz para um novo conhecimento do significado da Cruz, é porque Ele busca algo mais. Esta é a lei do Espírito da vida.
 
Você precisa se lembrar de que o Senhor Jesus, em sua ressurreição, não foi deixado simplesmente onde Ele estava antes. Antes de morrer Ele estava na terra, e, então, Ele morreu; e Paulo se refere a sua ressurreição nessas palavras: "e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro". (Efésios 1:19-21).
 
A ressurreição O levou para os 'lugares mais exaltados', e o princípio da ressurreição é sempre este de reação - podemos ir muito fundo, mais fundo do que jamais fomos antes, porém o Espírito de Deus está pretendendo que isto implique em estarmos mais altos do que antes. Assim, não tenha medo quando estiver se sentindo muito vazio, acabado, muito próximo do fim. Se esta verdadeiramente é a operação da Cruz, então irá ser bem sucedida naquilo que o Senhor planeja para você; e, se for bem sucedida, você estará posteriormente numa posição mais elevada do que jamais esteve antes.
 
A Necessidade de Um Ajuste Definitivo Com o Senhor
 
Temos dito de tempos em tempos que a Cruz realmente envolve crise. Para alguns isto pode significar uma experiência esmagadora, a maior coisa que jamais aconteceu em sua vida, até maior do que sua própria conversão. Foi assim para alguns de nós na medida em que nos movemos da compreensão do aspecto substitutivo da Cruz, onde víamos apenas o que Cristo tinha feito por nós, para a compreensão da nossa união com Cristo na morte, nosso sepultamento e ressurreição. Tenha você ou não uma grande crise que divida sua vida em dois, você precisa ter um momento de transação com o Senhor, onde reconheça que a Cruz é, em princípio, uma realidade absoluta e toda abrangente que, mais cedo ou mais tarde, irá varrer da terra o último vestígio da vida do EU que é o terreno de poder de Satanás.
 
É melhor em algum momento ter esta compreensão: 'Regozijo-me no fato de Tua morte por mim, e estou salvo no terreno desta morte e minha fé nela. Porém eu morri em Ti - este foi o Teu pensamento ao meu respeito como um filho de Adão. Eu não poderia suportar ter tudo o que isto significa se fosse trazido a mim de uma só vez, mas reconheço que isto precisa ser trabalhado conforme a graça permite, e que mais cedo ou mais tarde eu tenho que chegar a um fim absoluto; e, portanto me submeto a tudo que Tu queres significar com a Cruz'.
 
Uma transação deste tipo é necessária. Não comece a dar chutes quando o Senhor começar a trabalhar. Ele toma a palavra que você diz literalmente, mas Ele faz isso com um objetivo definido em vista: levá-lo a um conhecimento maior Dele mesmo. Desse conhecimento crescente, as crescentes preciosidades do Senhor, todo real serviço irá surgir. Não é o que nós fazemos, mas o que temos, este é o segredo do serviço.
 
Capítulo 6 - O Reino, e a Entrada Nele
 
"Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler todos os sábados." (Atos 13:27).
 
"Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior do que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele. E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus é tomado à força, e os violentos o tomam de assalto. Pois todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos, ouça".
 
"A lei e os profetas vigoraram até João; desde então é anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem forceja por entrar nele." (Lucas 16:16).
 
Penso que podemos reconhecer que o elo comum entre Atos 13:27 e Mateus 11:13 seja "todos os profetas". Em um caso eles não ouviram as vozes dos profetas; em outro é dito (vs. 15), "Quem tem ouvidos, ouça".
 
Os Profetas Profetizaram Sobre o Reino
 
Antes de tudo, precisamos entender o significado desta sentença em Mateus 11 - "todos os profetas... profetizaram até João". O que eles profetizaram? Naturalmente, profetizaram muitas coisas. Um assunto predominante em suas profecias era aquele referente ao Rei vindouro e ao Reino. Tanto foi assim que no Novo Testamento a questão do Reino é assumida.
 
Quando você abre o Novo Testamento e começa a ler os Evangelhos, e descobre que nenhuma explicação é dada. O Reino não é apresentado como algo a respeito do qual as pessoas eram ignorantes. Você encontra entre o povo aqueles que iam ao Senhor Jesus e usavam a mesma frase, e encontra o próprio Senhor usando 'o Reino' sem qualquer introdução ou explicação.
 
Nicodemos é um exemplo pertinente. Não temos nada na narrativa que indique que Nicodemos disse alguma coisa sobre o Reino absolutamente. Ele começou dizendo: "Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus". Não havia nada sobre o Reino nisto. O Senhor Jesus interrompeu e disse: "aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (João 3:2,3). Evidentemente era isto que estava na mente de Nicodemos, e o Senhor sabia.
 
Você vê, é uma coisa assumida no Novo Testamento; e, embora mais tarde (como encontramos no livro de Atos e subseqüentemente) a verdadeira explicação celestial seja dada, ou haja algum ensino concernente ao seu real significado, o Reino era algo que já estava nas mentes dos Judeus, e, naturalmente, isto vem dos profetas. Os profetas tinham muito a dizer sobre o Reino, e alguns deles tinham algo muito definido para falar sobre o Rei. Não iremos tentar provar isto. É uma declaração que você pode verificar facilmente.
 
O que os profetas profetizaram? Inclusive eles profetizaram sobre o Rei e sobre o Reino. Qual foi o apogeu dos profetas nesta abrangente ligação? Foi João Batista. Ele reunia a todos; ele foi, por assim dizer, o profeta inclusivo. Quem era João Batista? Ele era o término ou o ponto de virada entre tudo o que tinha sido e aquilo que agora estava para ser, entre o Velho Testamento e o Novo. Esta é a declaração aqui: "todos ... profetizaram até João". Até João; agora - a partir de João. Qual era a mensagem de João? "Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo" (Mateus 3:2). Mas ao longo disso, o Cordeiro de Deus, a grande nota distinta de João é: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João 1:29). Essas não são duas coisas diferentes; elas são uma só. "O Reino ... está próximo" - "Eis o Cordeiro de Deus!"
 
O Reino Presente Em Cristo
 
Qual era o assunto, então, desde o tempo de João - que surgia com novo significado, nova força, porque tinha se tornado uma questão atual, não mais de profecia, mas agora o assunto do momento? Era o Reino dos Céus. "A lei e os profetas foram até João: a partir deste momento o evangelho do Reino de Deus é pregado". Os profetas haviam profetizado isso; agora isto é pregado como tendo chegado, e tendo chegado com "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo".
 
O que, então, é o Reino dos Céus? Temos conduzido o assunto até este ponto, passo a passo, e quando respondermos esta pergunta final, iremos enxergar claramente o que era aquilo que as autoridades Judaicas e habitantes de Jerusalém jamais enxergaram, embora ouvissem os profetas semana após semana.
 
Vou forçar o desafio disto mais uma vez. Sinto que é algo muito solene que o Reino dos Céus pudesse ter vindo alguma vez para perto de alguém. Você sabe, o Senhor irá finalmente julgar todas as pessoas nessa oportunidade. A oportunidade foi dada - e contato é oportunidade. A própria disponibilidade do Reino é a oportunidade. O que é feito com a oportunidade? O Senhor Jesus caminhou no meio da nação judaica por três anos e meio. Sua própria presença entre eles era a oportunidade deles - e que conseqüência terrível sucedeu o fracasso deles em aproveitar aquela oportunidade!
 
Agora, pode haver alguém nesta mesma categoria que leia essas palavras. Através de lê-las, o Evangelho de Jesus Cristo tem se tornado disponível a você, mesmo que nunca antes (mas certamente dificilmente poderíamos dizer isto) - o conhecimento do fato sobre o Senhor Jesus e Sua Cruz. Ter tido isto alguma vez dentro do seu alcance é suficiente para estabelecer o seu destino eterno. Se o Reino dos Céus chega dentro do ambiente e do limite de sua vida, de seu conhecimento - este é o fundamento sobre o qual seu destino eterno pode ser estabelecido.
 
Naturalmente, havia muito mais no caso daquelas pessoas, e a condenação deles foi bem maior. Os profetas profetizaram em suas audiências, e, contudo, devido a algo em sua própria constituição, devido a alguma reação deles próprios, as autoridades e o povo nunca prestavam atenção naquilo que ouviam; nunca reconheciam que ali estava algo que tinha implicações muito grande, e que eles deviam descobrir quais eram realmente essas implicações. Não tomavam uma atitude - 'se há aqui algo que diz respeito a mim, preciso saber o que é'.
 
Você dificilmente poderia pedir por menos do que isto, poderia? Mas a própria ausência desse tipo de reação diante do Evangelho, como tenho dito, pode ser o fundamento sobre o qual se dará o julgamento. Isto se deu no caso deles, e foi um terrível julgamento! Que julgamento, esses dois mil anos de história judaica! "Sua casa ficará desolada" (Mateus 23:38). Será que já houve uma história de desolação mais terrível do que a história dos Judeus desde então?
 
Porém, mesmo assim, isto é apenas uma parábola de desolação; algo aqui nesta terra. O que deve significar desolação no sentido espiritual e eterno - abandono da parte de Deus, e tendo conhecimento disso? É uma mensagem solene, e naturalmente, ela pavimenta o caminho para esta outra parte, a entrada 'violenta' no Reino. Isto é algo para se tomar com seriedade, algo sobre o qual você não pode ficar descuidado ou indiferente.
 
O que é o Reino? A resposta a isto pode ser dada em três ou quarto sentenças muito sucintas. O que o Reino dos Céus demonstra ser? Eu repudio aquele sistema de interpretação que afirma que um reino literal, terreno e temporal foi oferecido aos Judeus naquele tempo. Não creio nisso. Teria sido um tipo de coisa pobre para o povo de quem lemos nos Evangelhos terem tido o Reino em suas mãos - não muita glória ou satisfação para Deus neles! Olhe para a Palestina hoje, e veja que tipo de reino seria na mão daquelas pessoas! O que é possível para o mundo quando este tipo de coisa chega ao reino? Não, repudio esse tipo de interpretação de um reino temporal sendo oferecido a Israel por Jesus naquele tempo. Mas o que o Reino dos Céus, que foi pregado nos dias de João Batista, mostrou ser e significar, como o Senhor Jesus o interpretou, e mais tarde os apóstolos?
 
O Que é o Reino
 
(a) Uma Nova Vida
 
Primeiramente, o Reino dos Céus era uma nova vida, completamente diferente daquela que os homens conheciam em toda a sua história desde Adão em diante. Isto é o que o Senhor quis dizer em Sua primeira referência ao Reino, quando falava com Nicodemos sobre a necessidade de sua alma. "Se alguém não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus" - porque é uma nova vida que surge, como por um nascimento. Não se trata de uma mera energização da vida velha. Não é simplesmente a inclinação da velha vida a novos interesses, mudando de uma linha de interesse para outra, de um sistema de ocupação para outro: uma vez você se doava completamente ao mundo, e agora, com a mesma vida e com o mesmo interesse você se doa ao cristianismo. Não, é outra vida diferente, uma vida que nunca houve antes, vinda do próprio Deus. A própria essência do Reino dos Céus é que é uma natureza celestial numa vida celestial, dada como um dom distinto numa crise. Outra vida - isto é o Reino, para se começar com ela.
 
(b) Um Novo Relacionamento
 
É um novo relacionamento, um relacionamento com Deus: que não é simplesmente que agora nos tornamos interessados em Deus - que Deus se tornou um objeto de nossa consideração e nos movemos de um relacionamento para outro porque agora temos assumido o cristianismo. Não, é um relacionamento que é a própria essência desta vida em si mesma. Temos uma consciência completamente nova e diferente, no que concerne ao nosso relacionamento com Deus. A grande verdade dos evangelhos, especialmente como enfatizado no Evangelho de João, é que uma relação com Deus chegou por meio de Jesus Cristo. "Manifestei o Teu nome aos homens a quem Tu me destes do mundo". (João 17:6).
 
Este nome, do qual Ele está sempre falando, representava um novo relacionamento - "Pai"; não no sentido de uma paternidade de Deus e de uma irmandade geral e universal, mas um relacionamento específico, um novo relacionamento que chega somente com a entrada do Espírito Santo dentro da vida num ato definitivo e crítico. "Deus enviou o Espírito de Seu Filho aos nossos corações, o qual clama, Abba, Pai" (Gálatas 4:6). Quando isto realmente aconteceu a você? Qual foi a primeira pronúncia de sua nova vida? "Pai!" - pronunciado com uma nova consciência. Não agora um Deus que está longe, impensável, todo terrível, de quem você tem medo; não, "Pai!" Quando "nascemos do Espírito", aí é trazido um relacionamento completamente novo.
 
(c) Uma Nova Constituição
 
Então o Reino dos Céus é uma nova constituição. Não estou pensando agora de um novo conjunto de leis e regulamentos, mas uma nova constituição no que diz respeito a mim e a você. Somos constituídos novamente, com um conjunto de novas capacidades que tornam possíveis as coisas que jamais eram possíveis antes. Isto precisa ser reconhecido - e gostaria que você colocasse isto em seu coração novamente - que o filho de Deus, o membro do Reino dos Céus, é a corporificação de um milagre, que significa que há possibilidades e capacidades sobrenaturais em cada um deles. Que coisas tremendas acontecem na vida de um filho de Deus!
 
Quando finalmente enxergarmos plena e claramente, iremos reconhecer que essas coisas foram nada menos do que milagres Divinos cada uma das vezes. Nós não conhecemos todas as forças que se inclinam para a destruição de um filho de Deus, e quanto sua preservação até o fim representa um exercício do poder Soberano de Deus. Alguns de nós conhecemos um pouco disto: que a nossa própria sobrevivência se deve a Deus exercer Seu poder sobre outros imensos poderes hostis, que somos preservados pelo poder de Deus - e que isto requer o poder de Deus para nos manter!
 
O início da vida do filho de Deus é um milagre. ‘Como um homem pode nascer de novo?’ Não há nenhuma resposta a esta pergunta, exceto que é Deus quem faz isso. "Como pode este homem dar-nos a sua carne para comer?" (João 6:52). Isto é, como o filho de Deus consegue ser sustentado até o fim, sem qualquer coisa para ajudar, para socorrer, para nutrir? Não há resposta a isto também, exceto que é Deus quem faz isso; e, se Ele não fizer, o filho de Deus, por causa das forças extras centradas contra ele para destruí-lo, simplesmente afundaria. A consumação da vida do filho de Deus será igualmente um milagre. "Como os mortos são ressuscitados?" e "com que tipo de corpo eles surgem?"(I Coríntios 15:35). A resposta a isto é a mesma - somente Deus irá fazer isto.
 
A questão toda é um milagre desde o início ao fim. É uma nova constituição, tendo em si possibilidades e capacidades que estão completamente acima e além do mais alto nível de capacidades humanas; isto é, acima de todo o reino da terra da natureza.
 
(d) Uma Nova Vocação
 
E mais, é uma nova vocação. É algo para o qual se viver, algo no qual servir, algo para trazer em operação. A vocação se torna a esfera e os meios de um novo propósito e de um novo ministério de vida. A própria consciência de um verdadeiro filho de Deus nascido de novo é como isto - 'Agora eu sei por que estou vivo! Tenho me perguntado ao longo do tempo por que eu nasci; tenho sussurrado a respeito, e senti que fui injustiçado ao ser trazido a este mundo sem ser consultado quanto a se eu queria vir; mas agora vejo que há um propósito nisso - Tenho para que viver!'
 
Um filho de Deus verdadeiramente nascido de novo sai e fala para as pessoas que, apesar de tudo, vale a pena estar vivo! Ele descobriu, por trás de tudo mais, aquilo que tem significado e propósito Divino - aquilo não existia como algo ativo até que ele nasceu de novo e entrou para o Reino. O Reino dos Céus é uma nova vocação, um novo senso de propósito de vida. Ele dá um sentido para a vida. Isto é o Reino.
 
Esta não é uma idéia completamente diferente daquela que faria o Reino um lugar com certas leis e regulamentos - 'Você deve' e 'Você não deve' - algo objetivo? "O Reino de Deus está dentro de vós" (Lucas 17:21).
 
(e) Uma Nova Gravitação - Para o Céu, Não Para a Terra
 
Além do mais o Reino é algo de cima, e isto certamente implica que é transcendente em todos os sentidos. É algo que vive, e que traz a vida para um nível mais alto. Isto é, se a nova vida vem de cima, do céu, ela sempre irá gravitar em torno da sua fonte, e, se esta nova vida opera em nós, ela estará nos levantando, impulsionando-nos para cima, para Deus. Ela opera de tal maneira que iremos sentir antes de tudo que este mundo não é o nosso lar. Ele foi nossa casa; tudo que precisávamos estava aqui até que esta experiência aconteceu.
 
Agora não pertencemos mais ao mundo, pertencemos a outro lugar; e de maneira estranha estamos firmemente nos movendo cada vez mais para longe desta terra. Descobrimos que nos sentimos cada vez menos confortáveis aqui a cada dia. Você está no Reino se possui algo semelhante a esta experiência. Se você consegue ficar confortável e feliz em continuar aqui, você precisa ter sérias dúvidas quanto ao lugar que está em relação ao Reino. Mas se você está cada vez mais consciente de que interiormente a distância está crescendo entre você e tudo aquilo que está aqui neste mundo, então o Reino realmente está operando, o Reino dos Céus tem chegado.
 
O Reino Chegou, Mas Também Está Chegando
 
Agora, outra coisa: o Reino tem chegado, mas ele está sempre chegando. Nós entramos, mas devemos estar sempre entrando. Há uma pequena palavra no final da carta aos Hebreus - "Portanto, recebendo um Reino que não pode ser abalado..." (Hebreus 12:28). O sentido literal aí é - 'estando em curso ou em processo de receber um Reino que não pode ser abalado...' Ele veio, mas está vindo; e é neste ponto que penso que todos nós precisamos reconhecer uma diferença, discriminar entre duas coisas - entre conversão e salvação.
 
Você já fez esta distinção? Há toda uma diferença entre conversão e salvação. Conversão é uma crise, algo que acontece de repente, num momento, e ela é feita. Salvação? Isto é algo que foi iniciado; mas você descobre também que o Novo Testamento fala sobre "obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma" (1 Pedro 1:9), indicando, assim, que salvação é ainda futura. Algumas pessoas têm construído uma falsa doutrina sobre isto, ensinando que você não pode saber se você é salvo até ir até o fim, porque está dito sobre salvação no tempo futuro. Mas nós estamos salvos, e estamos sendo salvos.
 
Entramos no Reino pela conversão, mas a salvação é algo muito mais do que conversão. Oh, salvação é uma coisa vasta, e é apenas outra palavra para Reino - o Reino vindo o tempo todo. Um bebê espiritual que acabou de receber a vida Divina não possui tudo, exceto potencialmente. Ele tem conversão, tem novo nascimento. Diria você que um pequeno bebê possui tudo o que foi proposto que ele tivesse? Potencialmente, na vida, tudo está lá. Porém quanto mais há para ser conhecido sobre o que esta vida implica, sobre tudo que ela carrega com ela e a que ela pode levar, sobre todas as capacidades que estão lá!
 
Esta é a diferença entre conversão e salvação. O Reino é um Reino vasto - "Seu Reino é um Reino eterno" (Daniel 4:3). "Do aumento do seu governo... não haverá fim" (Isaias 9:7). "Não haverá fim" simplesmente significa eternamente em expansão. Pode você apenas fazer uma idéia geográfica disso? Certamente que não. O Reino deve ser espiritual - as reservas inesgotáveis de Deus para o Seu próprio povo. Irá demandar a eternidade para conhecer e explorar todas essas reservas, as dimensões de Seu Reino.
 
O Reino Sofre Violência
 
Agora, tendo considerado de forma muito imperfeita aquilo que os profetas estavam falando e aquilo com o qual você e eu entramos em contato, vamos ver o que pode ser esquecido. Vamos olhar para essas outras palavras: "A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele." (Lucas 16:16).
 
"E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos céus sofre violência, e os violentos o tomam por força" (Mateus 11:12). Ele "sofre violência". Isto não significa simplesmente que ele permite a violência. Significa realmente que ele requer força, e são homens destemidos que o tomam por força. Lucas coloca assim "entra violentamente".
 
Aqui está o espírito da cidadania deste Reino - "por força". Por quê? Isto não é simplesmente um apelo para ser determinado - embora certamente inclua isto, vendo que tremenda coisa é este Reino, e que perda imensa será sofrida se não o tomarmos seriamente. Mas, veja, o Senhor Jesus está falando como que no meio de coisas que estão constantemente em oposição. Há todo um sistema organizado, exercendo uma tremenda influência.
 
Ele disse para eles na ocasião: "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta do Reino do Céu para os outros, mas vocês mesmos não entram, nem deixam que entrem os que estão querendo entrar." (Mateus 23:13). Há tudo, da parte de Satanás e dos homens, para obstruir; para entrar requer violência. Se você puder ser estorvado, você ficará estorvado. Se você ficar despreocupado, irá dar às forças antagônicas todo o terreno que eles querem para colocar você para fora.
 
É por isso que saliento que não é apenas uma entrada definitiva no Reino, mas é uma entrada contínua. O Reino é muito mais do que conversão. Naturalmente, se você é salvo absolutamente - quero dizer salvo inicialmente - você terá que significar seriedade para isto. Você terá que fazer dessa salvação um assunto radical, porque haverá tudo para impedi-lo. Mas o Reino significa algo muito mais do que meramente entrar nele, muito mais do que ser convertido. Há muito mais no propósito de Deus para as nossas vidas do que jamais imaginamos, e, se é para entrarmos no Reino, a força tem que nos caracterizar.
 
Precisamos desesperadamente demonstrar que falamos a sério e chegar a um lugar onde digamos: 'Senhor, estou determinado a tudo aquilo que Tu significas em Cristo. Estou determinado sobre isto, e não vou permitir que os preconceitos, suspeições e críticas de outras pessoas fiquem no caminho; não vou permitir que nenhum sistema humano me atrapalhe; irei até o fim contigo em todo o Teu propósito. Vou usar de força contra tudo que se colocar no caminho'. O Reino requer força, e nós precisamos usar de muita força para alcançar tudo o que Deus quer para nós.
 
Oh, quão facilmente muitas vidas ficam pelo caminho, simplesmente porque não são determinadas o suficiente! São apanhadas por coisas que limitam - coisas que podem até ser boas, que podem ter algo de Deus nelas, mas que não passam de coisas que limitam, e não representam uma maior abertura ao propósito de Deus. A única maneira de entrarmos em tudo aquilo que o Senhor deseja - não somente naquilo que temos visto, mas em tudo aquilo que Ele tem planejado - é sermos determinados, sermos homens que empregam força; sermos homens que digam: 'Pela graça de Deus, nada nem ninguém, embora seja bom, irá ficar no meu caminho; eu vou prosseguir com Deus'. Tenha esta postura com Deus, e você irá descobrir que Ele irá sustentá-lo neste terreno.
 
Nenhum homem, nem mesmo o próprio Paulo, conheceu tudo o que ele estava prosseguindo em conhecer. Paulo estava constantemente recebendo revelações mais plenas daquilo para o qual ele havia sido chamado. Ele havia recebido algo muito forte e rico no início; então, mais tarde, são reveladas a ele coisas indizíveis (II Coríntios 12:4). Ele estava crescendo em conhecimento. Mas por quê? Porque ele era um homem de violência.
 
Deus nos quer desse jeito. "Para com o puro te mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário." (Salmos 18:26). Isto, em princípio, significa que Deus será para você aquilo que você for para Ele. Ele irá falar a sério se você também falar sério. Há uma grande vastidão no Reino da qual jamais suspeitamos. Pode crer nisso. Há mais para conhecermos do que qualquer pessoa nesta terra conhece - muito mais do que os homens mais santos, os cristãos mais avançados, conhecem do propósito de Deus.
 
Paulo assim exorta. Em sua carta aos Filipenses ele deixa claro que, mesmo no final de sua vida, ele ainda não tinha compreendido, ele ainda precisava conhecer. "Para que possa conhecer..." (Filipenses 3:10). Há muito mais para se conhecer. Você crê nisso? Você irá permitir que sua vida simplesmente fique encaixotada com certa medida que você conhece, ou com a medida de outra pessoa? Não - é a medida de Cristo que é o propósito de Deus. "Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Efésios 4:13).
 
Nenhum movimento, nenhuma sociedade, nenhuma organização evangélica, nenhuma igreja desta terra já chegou a isto, mas este é o objetivo em vista. Mas Deus requer, a fim de nos levar para a plenitude, que sejamos homens de violência, que realmente falemos a sério, que digamos tudo que aparecer no caminho - e, oh, as vozes plausíveis, que não obstante estarem sutilmente influenciadas de preconceitos! - que digamos: 'Para trás: eu vou seguir com Deus, não vou permitir que nada fique no meu caminho'.
 
"O evangelho do Reino é pregado". Você pode imaginar aqueles judaizantes falando ao povo sobre Jesus? 'Cuidado; cuidado para não ser apanhado! Nosso conselho a vocês é que o evitem - não fiquem muito próximos dele!' Tudo isto estava acontecendo. Paulo se deparava com tudo isso o tempo todo. Ele era perseguido em suas jornadas por essas mesmas pessoas que, seguindo seus calcanhares, diziam: 'Cuidado - é perigoso!'
 
O próprio Senhor experimentou o mesmo tipo de coisa; e Ele dizia: "o Reino ... sofre violência." Ele requer violência; você não irá entrar nele, e certamente não irá entrar nele alcançando o pleno crescimento, a menos que você seja como aqueles que usam de violência contra tudo que se interpõe no caminho do propósito pleno de Deus como revelado em Cristo. Você nem mesmo irá saber que propósito é este, Deus não será capaz de revelar a você a próxima parte do plano, exceto que Ele descubra que você é esse tipo de pessoa - que entra com violência.
 
Você gosta disto? Bem, se você for passivo, há tudo para ser perdido; se falarmos a sério há tudo para ser ganho. O Senhor nos faça homens e mulheres deste tipo, para que não sejamos contados entre aqueles de quem está dito que "têm ouvidos para ouvir, mas não ouvem" (Ezequiel 12:2).
 
Capítulo 7 - O Contraste Entre a Velha e a Nova Dispensação
 
"Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler todos os sábados." (Atos 13:27).
 
De certa forma, este versículo é a chave para todo o livro de Atos, pois este livro é realmente uma interpretação e exibição do princípio que está no âmago da sentença - isto é, que há a Bíblia com suas sentenças verbais, seus registros das falas e atividades de Deus através dos homens, e isto podem ser lidos e relidos durante uma vida toda, como foi no caso das pessoas aqui referidas, e, contudo, o real significado pode ser perdido. Em outras palavras, há na Bíblia algo mais do que as sentenças verbais.
 
Você pode ter as sentenças, a carta, o volume, todo o registro, e você pode conhecê-lo como tal, como aquelas autoridades judaicas, e, contudo você pode estar perdendo o caminho, você pode estar se movendo num plano completamente diferente daquele que Deus planejou.
 
Este livro de Atos, do início ao fim, mostra que havia algo mais na mente de Deus quando Ele inspirou homens de idade para falarem e escreverem do que é discernível nas próprias palavras que eles usaram, e que requer a atividade do Espírito de Deus para que a mensagem seja ouvida e compreendida, para que ela funcione como as coisas funcionavam neste livro - em poder, em efetividade.
 
Há muito do Velho Testamento no livro de Atos, e no Novo Testamento como um todo. Os profetas são muitíssimos citados, mas veja a diferença entre o efeito das palavras como usadas no livro de Atos e o efeito sobre aqueles que meramente ouviam ou liam os pronunciamentos dos profetas.
 
O Espírito Santo já veio; e Ele não está fazendo uma nova Bíblia, Ele está usando a antiga; porém é um novo livro com um novo significado e um novo efeito, e você fica espantado às vezes com a forma com que Ele usa a Escritura. Você jamais enxergava que ela significava isto; é algo completamente além do entendimento anterior, embora você conhecesse esta Escritura muito bem. Há uma diferença, e uma diferença crucial.
 
Assim, aquelas pessoas em Jerusalém e suas autoridades ouviam os profetas todos os sábados, porém fracassavam ao ouvir suas vozes. Eles perdiam algo - a voz de Deus que vinha através daquelas leituras, o significado de Deus naquilo que estava sendo falado, como distinto das meras sentenças. É possível a uma companhia de pessoas estarem reunidas e alguém estar falando a palavra do Senhor, e alguns simplesmente ouvir as palavras e ir embora, e dizer: 'Ele disse isso e isso', repetindo aquilo que realmente foi dito em expressões verbais.
 
É ao mesmo tempo possível para outros dizer: 'Eu nunca vi desta forma antes; eu conhecia aquela passagem da Escritura, mas nunca vi isto!' Algo, não apenas de um reconhecimento novo, mas um valor vivo foi detectado. Esta é a diferença entre as palavras dos profetas e a voz de Deus através das palavras dos profetas.
 
Assim, como dissemos, este verso no capítulo 13 é, de certa forma, uma chave para todo este livro. Ela faz esta distinção, que é muito importante, entre a carta e o Espírito, entre os pronunciamentos e o significado Divino nas declarações. Um é morte e não leva a lugar algum. O outro é vida e vai até o fim.
 
Toda Profecia Aponta Para O Senhor Jesus
 
Vamos agora dar uma olhada no livro de Atos. Vamos direto ao primeiro capítulo com este princípio em mente. Seria bom lembrarmos, em parênteses, que, falando em termos gerais, toda a Bíblia se concentra numa afirmação abrangente sobre esta mesma questão. Em Apocalipse 19:10, é dito que "o testemunho de Jesus é o espírito da profecia". O que isto significa? Significa simplesmente o seguinte - que todo o caminho através da Bíblia, do início em diante, tem havido um elemento preditivo neste sentido, um elemento de implicação, algo implícito por trás das palavras ditas naquele tempo.
 
Em tudo isso tem havido um indicador que aponta para frente. Pode ser um incidente histórico, algo muito local e imediato em si mesmo quanto ao tempo, lugar e pessoas envolvidas, mas em nenhuma parte da Bíblia apenas o local e o presente está em vista. Há algo mais - há uma implicação, há um indicador futuro; e, se você pudesse enxergar para onde todas essas coisas apontam, descobriria que é Jesus. Jesus está implícito em tudo, em todo lugar.
 
Quando falamos de profecia, não vamos limitar nossos pensamentos a certos tempos e certos homens do Velho Testamento. Verdade, temos ficado muito freqüentemente ocupados com os profetas cujos livros estão incluídos na seção 'profética' do Velho Testamento, mas precisamos expandir para além disso. Moisés foi chamado de profeta (Deuteronômio 18:15), e Samuel foi um profeta (1 Samuel 2:30), e até mesmo Davi é chamado de profeta no Novo Testamento (Atos 2:30).
 
O espírito da profecia inclui muito mais do que certa classe de homens que designamos de profetas. O Espírito da profecia vai muito lá atrás, tão atrás quanto Enoque; não, vai muito mais além do que isso - chega a Gênesis 3:15, concernente à semente da mulher: este é o espírito da profecia. Assim, se lembrarmos que aquela profecia é alguma coisa de longo alcance e que engloba todas as coisas, e nos apoiarmos no Senhor Jesus, creio que seremos capazes de enxergar algo do significado Divino como sendo mais do que uma expressão verbal.
 
Com este parêntesis, vamos ao primeiro capítulo de Atos.
 
O Significado Oculto do Espírito Nas Escrituras
 
'Certa vez, os apóstolos estavam reunidos com Jesus. Então lhe perguntaram: - É agora que o Senhor vai devolver o Reino para o povo de Israel? ' (Atos 1:6).
 
Mostramos em um capítulo anterior quanto os profetas estavam ocupados com este assunto do Reino. Esses discípulos do Senhor Jesus tiveram todas as suas idéias sobre o Reino a partir dos profetas, e assim, a pergunta deles está baseada num certo tipo de compreensão mental do ensinamento dos profetas. Eles tinham deduzido certas coisas a partir daquilo que os profetas haviam dito, e trouxeram esta questão até mesmo para esta última hora - 'É agora que o Senhor vai devolver o Reino para o povo de Israel? Jesus respondeu: - Não cabe a vocês saber a ocasião ou o dia que o Pai marcou com a sua própria autoridade. Porém, quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Depois de ter dito isso, Jesus foi levado para o céu diante deles. Então uma nuvem o cobriu, e eles não puderam vê-lo mais.' (Atos 1:6-9).
 
Tudo começa aí no caminho do entendimento espiritual, porque esta declaração do Senhor Jesus indicava que uma nova dispensação estava sendo inaugurada, a qual era diferente daquela que os discípulos tinham esperado a partir dos ensinamentos dos profetas. Esta era a dispensação do Espírito Santo, e eles iriam descobrir que o Espírito Santo tinha significações sobre as profecias do Velho Testamento que eles jamais imaginaram que estivessem lá. Enquanto o Espírito Santo não se encarregou da Palavra de Deus eles não compreenderam os profetas absolutamente.
 
E, então, iremos ver que quando Ele realmente tomou as Escrituras e começou aplicá-las, abrindo-as, dando o significado Divino, coisas começaram a acontecer as quais não apenas eram inesperadas, mas eram completamente contrárias e opostas à mentalidade limitada dos discípulos, e que requeriam uma completa aniquilação da mentalidade deles, o abandono de suas posições estabelecidas. É tremendamente desafiador quando o Espírito Santo efetiva a Palavra de Deus e assume o controle sobre nós. Haverá mudanças revolucionárias em toda nossa perspectiva e procedimento, e este livro de Atos está simplesmente repleto disso.
 
A Vinda Do Espírito - Uma Nova Ordem Introduzida
 
É a dispensação, ou mordomia, do Espírito Santo. As palavras 'dispensação' e 'mordomia' significam uma economia, uma ordem; como as coisas são feitas neste regime. Descobrimos que, nesta dispensação, quando o Espírito Santo veio, Ele começou a mudar as coisas, porque Ele estava no comando. Você pode se tornar um membro de uma equipe de negócios, e quando você chega, descobre que as coisas foram feitas de tal e tal maneira. Os tempos são estabelecidos desta maneira; é assim que as coisas são feitas neste regime.
 
E, então, chega um novo Diretor Executivo, e olha para esta ordem atual e registra de imediato que se trata de um sistema imperfeito, que não está produzindo os resultados satisfatórios para os quais o negócio existe. Ele começa calmamente, porém muito firmemente, a tomar conta da situação, e as coisas começam a mudar, e as pessoas mais antigas que têm estado naquele regime por anos não gostam dessas mudanças, e começam a retrucar. Elas não aceitam; revoltam-se e começam a lutar contra esta nova ordem.
 
Alguns, que têm o Espírito mais aberto, que não estão tão fixados, começam a entender a sua idéia, sua visão, e, embora se deparem com algumas dificuldades de vez em quando, e se voltam contra as implicações desta tremenda mudança - como Pedro, sobre a visita a Cornélio (Atos 10) - e é preciso um pouco de luta para vencer o antigo preconceito, contudo, eles têm suas batalhas, vencem suas dificuldades, e se adéquam, e assim a grande mudança acontece com resultados maravilhosos. Coisas começam a acontecer; o propósito original do negócio está agora começando, de forma maravilhosa, para ser realizado e cumprido.
 
Isto é exatamente o que aconteceu quando o Espírito Santo veio no dia de Pentecoste. Havia uma ordem fixa e estabelecida, mas ela não estava alcançando o propósito de Deus. Não estava, como dizemos, 'entregando as mercadorias' (cumprindo as promessas). O Espírito Santo veio, com todo o pleno conhecimento da mente de Deus; Ele entrou e começou a Sua obra de efetivar o verdadeiro conceito Divino; Ele assumiu o controle da situação.
 
Assim Ele dividiu as pessoas. Algumas - aquelas que habitavam em Jerusalém, e seus governantes - não aceitaram a nova ordem. Muito bem - eles perderam a coisa toda. Mas outras pessoas entraram na comunhão do Espírito Santo, "uniram-se ao Senhor... num só espírito" (1 Coríntios 6:17), com resultados maravilhosos.
 
Um Contraste Vital - A Carta e o Espírito da Escritura
 
O ponto é: primeiramente, é uma nova dispensação; e depois, o Espírito Santo está no comando. O seu estar no comando precisa ser reconhecido, com tudo o que isto significa. E, estando no comando, por meio de suas atividades Ele revela e envolve o próprio objetivo de Deus desde a eternidade, e busca trazê-lo para esta dispensação. Quanto à divisão - bem, foi uma divisão histórica então, mas é uma divisão que espiritualmente tem se sucedido ao longo de toda a dispensação. É uma divisão entre homens da carta e homens do Espírito.
 
Aquele movimento, aquela tendência, em direção a uma posição fixa está constantemente recorrendo, trazendo aquilo que é de Deus em aprisionamento, dentro de limitações organizadas que frustram todo o conselho de Deus. Tenho um artigo diante de mim - desejaria citá-lo todo, mas não posso - mas há algumas coisas nele que expressam o que está em meu coração melhor do que qualquer coisa que eu mesmo possa dizer. Foi escrito por um membro do Parlamento Britânico.
 
'Há algumas classificações nas quais homens e mulheres estão divididos - tanto as classes altas, medias e baixas; ricos e pobres; religiosos, céticos e ateístas; ... e assim por diante. Mas, como penso eu, a única classificação que realmente importa é aquela que divide os homens entre os servos do Espírito e os Prisioneiros da Organização. Esta classificação, que vai contra todas as outras classificações, é de fato a classificação fundamental. A idéia, a inspiração, surge no mundo interno, no mundo do Espírito ... a idéia tendo se corporificada a si mesma na organização, esta, então, começa a matar gradualmente a idéia que lhe deu origem. No campo da religião um profeta, um homem inspirado, irá ter uma visão da verdade. Ele expressa aquela visão da melhor forma possível em palavras. Sobre o que os discípulos entenderam da mensagem dos profetas, uma organização, uma igreja, irá ser construída. Esta mensagem compreendida pela metade irá se cristalizar num credo. Depois de muito tempo o princípio em relação à igreja irá ser usado para sustentá-la como uma organização. Para este fim qualquer desvio do credo deve ser contestado e, se necessário, suprimido como heresia. Em alguns poucos anos aquilo que foi concebido como um veículo de uma verdade nova e mais elevada se torna uma prisão para as almas dos homens. E homens estão matando uns aos outros por amor a Deus'.
 
'Uma conclusão a ser tirada, não seria totalmente jocoso sugerir, deveria ser: a primeira regra para qualquer organização deveria ser uma que providenciasse a sua dissolução dentro de um período limitado de tempo ... Quando somos membros de uma organização, com tal, nossa atitude em relação a ela deveria ser de imparcialidade. Precisamos estar acima dela mesmo enquanto estivermos dentro dela. Deveríamos ser vistos como estando em quase perpétua rebelião dentro dela. Acima de tudo deveríamos considerar toda a lealdade à organização como algo provisório e experimental. Devemos ser servos do Espírito, não prisioneiros da organização. Precisamos manter contato com as fontes da vida, não nos perder nos veículos temporários'.
 
'Este mundo é uma ponte. Iremos passar por ela, mas não iremos construir nenhuma casa sobre ela'.
 
Não é isto exatamente o que você tem em Atos e em todo o resto - a cristalização da nossa compreensão da verdade, nossa interpretação, a percepção parcial, a afirmação na carta, algo fixo, corporificando aquilo que era do Espírito de Deus no início, porém não permitindo que a coisa vá para além daquelas fronteiras agora? Qualquer coisa mais, qualquer coisa diferente daquilo, é chamado de heresia; esta é a última palavra. Ela pode estar corporificada numa organização, chamada de igreja, uma seita, uma denominação, e se você for para além daquilo, bem, falam que você está completamente errado. A grande diferença entre os homens da organização e os homens do Espírito é aquilo que você tem aqui no livro de Atos.
 
O Senhorio do Espírito é Essencial ao Progresso
 
O ponto é o seguinte: a plenitude do propósito de Deus requer que o Espírito Santo esteja continuamente no comando, que seja permitido que Ele ocupe completamente o lugar de governo, e que nós não coloquemos nada em Seu lugar - nada, seja o que for; nem 'igreja', nem uma ordem fixa - para que não venhamos a dizer: 'Isto não é o que nós ensinamos, isto não é o que fomos levados a crer, isto não é o que a nossa igreja crê e ensina'.
 
Fazer isto é colocar algo no caminho do Espírito Santo. O Espírito Santo precisa estar no comando, e precisa ser livre. Foi nesses mesmos pontos que os próprios apóstolos tiveram suas primeiras batalhas e, então, seus alargamentos. Iremos ver isso na medida em que prosseguirmos. O propósito Divino pleno irá tomar forma quando o Espírito Santo assumir o controle sobre nós.
 
E, então, há algo infinitamente maior do que tempos e estações. Seja cuidadoso acerca dos tempos e estações; eles têm uma perniciosa maneira de nos levar para os limites. Muitas pessoas estão se apoiando em tempos e estações. Elas têm feito isso durante todo o caminho através dos séculos. Vamos observar, tomar nota, porém tomar cuidado.
 
Coisas têm acontecido, por exemplo, na Palestina. Foi nos dito que os tempos dos gentios terminaram quando o General Allenby entrou em Jerusalém; que um novo César tinha chegado para reconstituir o Império Romano quando Mussolini estabeleceu seu grande império em Roma! Esse tipo de coisa tem ocorrido pelos séculos, e tudo está baseado em tempos e estações.
 
O ponto é este - não que não haja tempos e estações, não que não haja movimentos no plano de Deus que tenham suas características peculiares e que podem ser observadas, mas que há algo infinitamente maior do que tudo isso. É o aspecto celestial e não terreno que está em vista no livro de Atos. Este é o porquê de eu permanecer neste ponto - "E dizendo Ele essas coisas, foi elevado às alturas". A partir daquele momento a coisa se tornou uma questão celestial.
 
Mais tarde o apóstolo Paulo irá usar a seguinte frase: "O Espírito perscruta todas as coisas, até as profundezas de Deus" (I Coríntios 2:10). "O Espírito perscruta... as profundezas de Deus": isto é algo transcendentemente maior do que tempos e estações; e, se o Espírito Santo realmente está no comando, não há mistério que Deus tenha para revelar.
 
"As coisas que os olhos não viram, e ouvidos não ouviram, e que não desceu ao coração do homem". Está lá, nesse vasto campo, ao qual o Espírito Santo nos levaria, e precisamos tomar muito cuidado para não restringirmos o Espírito Santo com as instituições constituídas por homens. Precisamos nos manter abertos ao Espírito, e é aí que nossas surpresas começam - sim, e nossa disciplina muito real.
 
O Mais Elevado Significado Espiritual e Celestial do Profeta
 
Aqueles referidos em Atos 13:27, ou aqueles a quem eles são típicos, tinham um tipo de compreensão das Escrituras. Não havia dúvida absolutamente sobre a devoção deles à Palavra de Deus. Eram fundamentalistas do tipo rabínico, em relação à inspiração das Escrituras. Eles defendiam as Escrituras; pontilhavam todos os 'I's e cortavam todos os 'T's. Muitos entre eles eram minuciosos em relação aos menores detalhes no campo da observação exterior, até mesmo ao ponto de se irritarem com coisas insignificantes.
 
Porque a lei ordenava que um décimo de todo fruto da terra era do Senhor, eles dizimavam meticulosamente até suas moedas e ervas - mas ao mesmo tempo desprezavam as coisas que eram interiores e que interessavam muito ao Senhor, tais como justiça, misericórdia e fé (Mateus 23:23). Este era o entendimento deles, sua mentalidade, sua posição. Eles viam tudo no horizontal. Era uma questão de técnica exata da Escritura.
 
Qual foi o resultado? Bem, eles estavam perpetuando um sistema terreno com a Palavra de Deus. A 'igreja' deles era a 'igreja de Israel', a 'igreja Israelita' - e você pode colocar no lugar de Israel qualquer outro título denominacional que queira. Aquela igreja tinha suas formas peculiares, suas vestimentas, seus rituais, sua liturgia, e tudo de acordo com as Escrituras. Tinha sua leitura dos profetas todos os sábados. Tinha o sistema todo; porém pertencia a esta terra e estava tão morta quanta alguma coisa podia estar.
 
Era puramente formal; não estava alcançando o propósito de Deus absolutamente. Escriturístico que era num certo sentido, estava fracassando em cumprir os propósitos eternos de Deus. Quando o Espírito Santo veio, Ele não ignorou os profetas, o Antigo Testamento. Ele os tomou e mostrou que havia algo mais - algo mais do que toda aquela técnica terrena, verdadeira técnica da Palavra de Deus, com todos os seus acompanhamentos - sem o qual tudo aquilo outro teria que ser colocado de lado.
 
E será colocado de lado, pois falha em alcançar o propósito de Deus; e esta é a questão do livro de Atos - a grande transição. Há um significado Divino por trás de tudo aquilo, e quando você tem o significado Divino, você pode dispensar o outro - ele pode ir embora. Se você tem a coisa em sua esfera e significado espiritual, na forma viva e celestial, não interessa mais o outro; aquilo simplesmente se desprende e cai.
 
Isto é o que aconteceu no livro de Atos. Você dificilmente consegue ver o ponto em que isso acontece, mas tal ponto existe. Os apóstolos freqüentavam o templo e as sinagogas por um período, e, então, cessaram de fazer isso. Eles continuaram por um tempo, mas, então, foi como se eles estivessem quieta e firmemente se movendo para fora, e, finalmente, eles estavam fora.
 
Algo tinha acontecido. Tinham entrado na coisa real e aquilo que era inicial tinha se ido. O primeiro levou ao segundo, porém o primeiro tinha cumprido o seu propósito. Eles entraram no benefício e significado espiritual de tudo; agora não era mais uma questão de técnica.
 
Há muitos que irão dizer sobre as ordens fixas e rituais: 'Naturalmente, nós não nos referimos a isto como o tudo; é apenas algo simbólico. Lembramos que isto implica e aponta para algo mais, e é neste algo mais que estamos pensando'.
 
Sim, mas não é verdade que, quando o Espírito Santo vem, e Ele veio então, e assume o controle, e você caminha com Ele, mais e mais as ênfases nos aspectos externos, terrenos e temporais do cristianismo vão murchando, e você fica incrivelmente ocupado com a glória da realidade? O Jesus da história dá lugar total ao Jesus do Espírito, do céu. Isto é exatamente o que está significado em 'as vozes dos profetas'.
 
Assim, no dia de Pentecostes, você começou com Joel. Todos em Jerusalém estavam dizendo: "O que significa isto?" (Atos 2:12). Estavam todos confusos, sem qualquer compreensão ou percepção; e Pedro, com os onze, ficou em pé e disse: "Isto é o que foi dito pelo profeta Joel" (vs. 16). "Isto é que..." Que vento impetuoso aquilo foi para a tradição, que sublevação aquilo criou em Israel, isto - com suas implicações de Jesus de Nazaré! E o apóstolo continuou, citando livremente a partir do Velho Testamento. Ele citou Davi. Aquele seu sermão no dia de Pentecoste estava cheio de citações do Velho Testamento. Mas quem alguma vez tinha enxergado aquilo - quem conhecia que este era o significado daquilo!
 
Você entende o ponto? É algo que precisa vir a nós com tremenda força, porque mesmo o cristianismo do Novo Testamento pode ser reduzido novamente a um sistema terreno de técnica exata. Você pode escrever seus manuais de procedimentos neotestamentários. Você pode tê-lo exatamente conforme a carta - porém é tudo sobre o plano horizontal, torna-se legalista, amarra o Espírito Santo.
 
Embora a intenção possa ter sido ficar mais exatamente em conformidade com a Escritura, para que o Senhor possa ter um caminho mais pleno, porém nem sempre o resultado é esse. A coisa toda precisa ser batizada no Espírito Santo e ser elevada do nível terreno, tornando algo completamente celestial.
 
Nossa Responsabilidade é nos Rendermos ao Espírito
 
Penso que agora podemos corretamente dizer que, quando os discípulos perguntaram: "Senhor, é este o tempo em que irás restaurar o Reino a Israel?", eles ficaram seria e genuinamente excitados. As Escrituras devem ser cumpridas; o que foi escrito deve acontecer. Penso que os discípulos ficaram bastante ocupados com isto, sobrecarregados e perplexos; queriam saber como as coisas iriam acontecer.
 
O Senhor disse, em efeito: 'Não se preocupem com isto. O Espírito Santo está vindo e Ele irá se encarregar de tudo - tempos, e estações, e tudo mais. Ele está vindo com o pleno propósito de Deus em Suas mãos, e Ele irá efetuá-lo. Vocês podem ficar descansados - está tudo bem'. Aqueles que têm esta idéia e concepção terrena de um sistema ficam terrivelmente preocupados e sobrecarregados para fazer que tudo aconteça - sobrecarregados com a tremenda responsabilidade desta 'Igreja do Novo Testamento', de ter as coisas exatamente como as Escrituras dizem!
 
Se o Espírito Santo estivesse no comando, não haveria o fardo. Ele está agindo. Tudo o que nós somos chamados para fazer é ficar nas mãos do Espírito Santo, ficar completamente livre de todos os arreios, livres para o Espírito de Deus. O negócio irá dar tudo certo.
 
E mesmo que o Espírito Santo se levante contra algumas pedras em nós e, que por algum tempo haja algum conflito, Ele é mais do que imparcial aquela situação. Ele é mais do que imparcial a Pedro e o seu nunca ter comido coisa impura. Quando o Senhor deu a Pedro aquela visão do lençol descendo com todo tipo de bestas quadrúpedes e animais que rastejavam e disse: "Levanta, Pedro; mata e come". Pedro, em efeito, citou as Escrituras ao Senhor; ele citou Levítico 11, com seus mandamentos sobre animais impuros que não deveriam ser comidos. 'Senhor, aqui está a Escritura para a minha posição; minha posição está completamente baseada na Palavra de Deus!' O que você irá fazer sobre isso?
 
Agora, ouça - eu não estou dizendo nem mesmo implicando que o Espírito Santo irá alguma vez apelar para que façamos algo contrário às Escrituras. Ele jamais irá fazer isso. Mas Ele muito freqüentemente irá nos mostrar que as Escrituras significam aquilo que nós nunca vimos que elas significassem. Levítico 11 tinha um significado que Pedro não tinha visto. Ele tinha tomado a carta e o significado literal daquelas coisas. Ele nunca viu o significado Divino e espiritual por trás daquilo. Cornélio não tinha recebido o Espírito Santo, e, por isso, um anjo falou com ele.
 
Pedro tinha recebido o Espírito Santo no dia de Pentecoste, e foi o Espírito quem estava falando com Ele. O Espírito Santo tinha este assunto em Sua mão, e estava lidando com as dificuldades em Pedro, mesmo em seu fundamentalismo, para elevá-lo de um terreno meramente terreno e temporal para um terreno celestial. Pedro estava vivendo debaixo de um céu aberto; e há mudanças tremendas quando você chega nesta posição. Não acontece tudo de uma vez.
 
O Espírito Santo 'Sobre' e 'Dentro'
 
Apenas mais uma palavra para o momento. Você observa aqui que houve uma dupla operação do Espírito Santo. No capítulo 2, o Espírito brilhou 'sobre' eles. Essas línguas repartidas como de fogo pousaram sobre eles; e então é dito: "E foram cheios com o Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem". 'Sobre' e 'dentro'. Não quero ser técnico, contradizendo o que temos falado sobre muita técnica, mas há um significado em 'sobre' e 'dentro'.
 
O vir 'sobre' é a soberania do Espírito Santo em relação ao propósito eterno de Deus. Isto é, o Espírito Santo chegou como o curador e administrador dos conselhos eternos de Deus, do propósito de Deus desde a eternidade, e, vindo desta maneira, Ele impõe (creio que esta não é a palavra errada a ser usada) o propósito de Deus sobre o vaso. Ele leva o vaso para dentro do propósito de uma forma soberana. É como Ele circulasse ao redor e tomasse conta do vaso de forma exterior e dissesse: 'Este é o vaso do eterno propósito de Deus'. Ele assume o controle sobre o vaso, vem 'sobre' o vaso para esta finalidade.
 
Mas, então, Ele também 'entrou', e eles ficaram cheios, e isto tinha um significado a mais. Significa o seguinte, que a vida interior do vaso precisa corresponder ao propósito exterior. Isto é tremendo. Você sabe, a velha dispensação não era desta forma, e este é o problema com o qual os profetas estavam lidando o tempo todo. A forma exterior estava lá.
 
Israel tinha o seu templo, estavam oferecendo os seus sacrifícios, estavam atravessando por todo o ritual, porém a sua vida interior estava longe de corresponder aquilo. Deus tinha que dizer, através dos profetas: 'Afastai os sacrifícios - Eu não os quero!' (cf. Isaías 1:10-14). O Senhor Jesus assumiu tudo isso. "Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me preparaste; nas ofertas queimadas e sacrifícios não tivestes prazer: então venho (no rolo do livro está escrito sobre Mim) para fazer a Tua vontade, ó Deus" (Hebreus 10:5-7).
 
Formalismo nunca faz a vontade de Deus; é meramente um sistema externo, embora muito dele corresponda à técnica da carta, nunca satisfaz a vontade de Deus; e o Espírito Santo não estava aceitando nada disso. Ele não veio em soberania para assumir um novo povo numa nova dispensação, dando a eles formas e ordenanças, obrigando-os a fazer coisas de tal e tal maneira, meramente de forma exterior.
 
Ele irá ter a vida interior da Igreja correspondendo ao propósito. Você descobre em breve que Ele muito severamente vem sobre qualquer coisa que não corresponda. Ananias e Safira irão conhecer que você não pode continuar de forma exterior, fingindo que está tudo bem. O Espírito Santo viu uma contradição no interior, e não permite que aquilo continue.
 
Muitos querem o vir 'sobre' porque desejam sentir o poder, sentir a si mesmos possuídos, manipulados e movidos. Tem havido muito desse tipo de coisa, que não tem se conduzido sem que haja uma correspondência interior. Mas o propósito do Senhor jamais pode ser alcançado plenamente enquanto houver qualquer falta de verdadeira consistência entre o propósito de Deus e a vida da pessoa chamada para esse propósito. "Rogo-vos... que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados" (Efésios 4:1). Oh, eu realmente peço que você tenha envolvimentos contínuos com Deus nessa questão da habitação do Espírito - não apenas para propósitos de serviço, ou poder, mas para propósito de vida.
 
Uma das tragédias de muitos cristãos e muitos servos de Deus é este, que eles podem acreditar e dar expressão a coisas que são inegavelmente falsas, e propagar essas coisas, fazendo mal a outros cristãos ao propagá-las, e, contudo, o Espírito Santo parece nunca poder torná-los conscientes de que não estão falando a verdade. Não me refiro a ensino da Bíblia, mas em relação a outros servos de Deus, e outra obra que Deus esteja fazendo.
 
O fato solene de que há tais preconceitos, suspeitas, críticas, distorções, e assim por diante, deveria nos levar ao Senhor com sincero apelo - 'Oh, Senhor, de nada adianta o meu envolvimento em Tua obra, fazendo uma porção de coisas para Ti, ser proeminente entre os homens, talvez, ser bem conhecido por meu serviço cristão, se, afinal de contas, após tudo, o Espírito Santo não puder me corrigir lá dentro, e me dar uma disciplina quando eu diga algo não verdadeiro. Livra-me de falar alguma coisa que não seja verdadeiro, ou de que minha vida interior seja uma contradição.'
 
O Espírito em nosso interior é para nos ajustar ao propósito de Deus. Se nós habitualmente, constantemente, caímos em caminhos que não estejam de acordo com o Espírito, de modo que nos tornamos conhecidos por aquela coisa desagradável, seria melhor pedirmos ao Espírito Santo para realizar uma obra mais profunda em nós. De nada adianta termos coisas profundas de Deus se todos nos conhecem como a pessoa mais difícil de se conviver com ela, sempre tornando a vida desagradável para os outros.
 
Isto não irá servir; é uma contradição à habitação do Espírito. Ele não quer que tenhamos o sistema das coisas meramente de forma exterior. Precisamos ter a vida interior correspondente. Assim vemos que Ele veio 'sobre' para possuir visando o propósito de Deus, e Ele veio 'dentro' para fazer que tudo na vida interior corresponda a esse propósito.
 
Capítulo 8 – O Clamor dos Profetas por Santidade
 
"Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem lerem todos os sábados." (Atos 13:27).
 
Tomávamos nota, no capítulo anterior, de um contraste que é marcado entre a velha dispensação e a nova: de quanto há para ser perdido se houver uma continuação da ordem fixa da velha dispensação, e quanto há para ser ganho se houver um mover-se para dentro da natureza essencial da nova dispensação. Isso está focalizado para nós na passagem que temos lido.
 
Sem repetir muito de nossa meditação anterior, apenas posso dizer que está perfeitamente claro no Novo Testamento, a partir do livro de Atos em diante, que as pessoas na nova dispensação, a dispensação do Espírito Santo, eram requeridas que se mantivessem completamente livres de toda posição estabelecida, de tudo que tivesse posição conclusiva, excetuando os fatos fundamentais da fé. Em relação à mentalidade deles – sim, aquela mentalidade religiosa, tradicional, aquela mentalidade que tinha sido formada na própria origem de Israel, por tudo que eles tinham recebido por meio de treinamento e ensino desde sua infância em diante – era para eles estarem sempre abertos ao Senhor, até mesmo para algo que fosse revolucionário.
 
Eles tinham sido chamados para entrar num lugar onde aquelas coisas não mais os prendessem, onde o Senhor ficasse absolutamente livre para fazer algo revolucionário dentro deles e os fizesse rever toda aquela antiga forma de pensar – à luz, não de algo contraditório, mas do significado mais pleno de Deus em tudo o que eles conheciam da Palavra de Deus; onde eles reconhecessem que o Senhor tinha 'mais luz e verdade para trazer a eles a partir de Sua Palavra' – de fato, de modo a tornar tudo aquilo que eles já tinham conhecido como nada.
 
Você descobre, portanto, que esta necessidade precipitou crises no curso espiritual deles, e algumas vezes trazia-os para uma estagnação, onde um conflito tremendo fosse estabelecido; mas o Espírito Santo estava completamente no comando a fim de vencer, e para ser capaz de conduzi-los para mais longe. Isto aconteceu com Pedro, no eirado em Jope. Aconteceu com Saulo de Tarsus. Não há dúvida de que, agindo como ele agiu, Saulo estava se baseando nas Escrituras do Velho Testamento.
 
Ele achava que tinha todo o apoio da Palavra de Deus para aquilo que estava fazendo. Quando ele se encontrou com Jesus de Nazaré no caminho de Damasco, embora ele se rendesse ali, reconhecendo a Jesus como seu Senhor, o seu grande problema foi: 'Como irei reconciliar o meu Antigo Testamento com isto?' Ele foi para a Arábia, e provavelmente por dois anos esteve ocupado com a reconciliação do Velho Testamento com o fato de Jesus ser o Cristo e Senhor. E ele se saiu bem, retornou de seu deserto, e, apanhado na irresistível corrente do Espírito, tornou-se um poderoso servo de Deus.
 
Desejamos ir um pouco mais adiante agora. Estamos dizendo que aqui, nesta nova dispensação como representada no livro de Atos, os profetas estão sendo re-interpretados, ou seu significado interior está sendo trazido à luz, com tudo o que esse significado interior implica. Sabemos que a inauguração da dispensação no dia de Pentecoste foi acompanhada por uma citação dos profetas. Começou com Joel - "Isto é o que foi falado pelo profeta Joel” (Atos 2:16) – e prosseguiu com outras citações do Velho Testamento que apontavam para este tempo. Agora, seja por citação direta (como claramente vista no caso da profecia de Joel) ou por uma citação indiscutível, os profetas são aqui trazidos em muitos sentidos.
 
Somente Cristo é a Medida Daquilo Que é de Deus
 
Você passa do capítulo 2 do livro de Atos, e prossegue até o capítulo 5 – a terrível e sombria história de Ananias e Safira. Onde os profetas entram aí?
 
No primeiro capítulo do livro de Ezequiel, você tem aquilo que foi introduzido espiritualmente no dia de Pentecoste. Lá você tem aquela maravilhosa, embora difícil, visão das criaturas viventes, as rodas cheias de olhos, o Espírito nas rodas, o Espírito de vida indo, sempre indo: o Espírito, vida, olhos, e o irresistível movimento que procede do céu em relação ao Homem sobre o trono. 'Atos' começa aí.
 
O Senhor Jesus foi recebido em cima, fora deste mundo; e em relação aquele Homem no trono há este ir aqui, tocando a terra e, contudo desligada dela; tocando, mas não fixa aqui; uma coisa celestial. E isto se move com tremenda retidão e deliberação. Isto é como o segundo capítulo de 'Atos'. O Homem no trono; as rodas, o eterno conselho de Deus, os movimentos de Deus desde a eternidade; as criaturas viventes, a Igreja; a vida interior, o Espírito de vida lá, com Sua visão perfeita - "cheias de olhos". Não é isso o que está aqui?
 
Sim; mas isso é o começo de 'Ezequiel'. No outro final de sua profecia você tem o seguinte: (distante, em cima da terra) uma visão, uma pintura, de um templo, uma casa espiritual, muito bem retratada e definida, com todo detalhe marcado. O homem que leva o profeta ao redor segue medindo, medindo, dando a medida de cada detalhe. Essa casa é toda do Espírito Santo. É toda uma medida de Cristo, em cada parte.
 
A coisa não está na terra; é uma medida celestial. Antes que você tenha o rio fluindo a partir do santuário, fluindo em grande volume, em profundidade e em largura, fazendo com que tudo em sua margem viva, e tragando a morte pela vitória na medida em que avança, você precisa ter a casa completamente em conformidade com Deus; e, então, a declaração abrangente sobre isso é: "todo o seu contorno em redor será santíssimo" (Ezequiel 43:12).
 
Tudo pertence a Deus; tudo é de Cristo, Seu Ressurreto e exaltado Filho. É Dele, através da Igreja constituída sobre um modelo celestial, que a vida flui; e ela flui aqui em 'Atos'.
 
Ministério
 
Santidade: A lei daquilo que é de Deus
 
Agora Ananias e sua esposa violam a própria lei governante da casa – santidade; e o que acontece? Foi aí que Israel fracassou em ouvir a voz dos profetas. Dissemos, em nossa meditação anterior, que eles realizavam as formalidades externas do templo, os serviços diários, o ritual e a liturgia, adotaram as formas e as vestimentas, mas a vida interior não correspondia. Era o clamor dos profetas que um sistema estava sendo mantido e preservado sem qualquer relação com a vida interior daquelas pessoas.
 
Os profetas estão por toda parte clamando por santidade. O problema residia aí. E o que esta questão de santidade realmente significa? Quando você chega ao coração disso, o que é? "Por que Satanás encheu o seu coração para mentir ao Espírito Santo?" (Atos 5:3). Isto é falta de santidade. O ato de Ananias e Safira implica em algo mais profundo – aquela mente sinistra por trás; Satanás descobrindo uma oportunidade de entrar nesse recinto santo, este terreno celestial, corrompendo-o e o poluindo, estabelecendo a sua vida.
 
"Ele é mentiroso e pai da mentira", disse o Senhor (João 8:44). Uma mentira na presença do Espírito Santo! A vida do Espírito e o Espírito da vida não avançam simplesmente ignorando as condições. Ele exige que primeiramente tudo esteja constituído no modelo Celestial; isto quer dizer, constituído no terreno de Cristo, Seu Filho; que isto realmente seja uma expressão e representação do Senhor Jesus pelo Espírito Santo.
 
O Espírito Espontaneamente Reproduz a Natureza de Cristo
 
Agora, não vou voltar atrás naquilo que disse anteriormente. Não estou dizendo que devemos tomar a Bíblia em suas letras e frases e fazer um molde, um modelo escriturístico, o qual achamos ser a nova ordem neotestamentária. Esta definitivamente não é a questão. O desenvolvimento não aconteceu no início desta maneira. Cada nova reprodução da Igreja, em qualquer parte do Império Romano, e além, nos dias dos apóstolos, aconteceu não em tomando de lá um modelo fixo e tentando colocar as pessoas dentro desse modelo, reproduzindo a forma das coisas que existiam em outro lugar.
 
Começou com vida – vida do céu – "o Espírito Santo enviado do céu" (1 Pedro 1:12). E onde quer que os crentes fossem duas coisas eram imperativas: primeiramente, o batismo, como um testemunho do fato de que a velha ordem tinha acabado, e que tudo agora tinha que ter um novo começo, como qualquer pessoa que morreu e foi sepultada precisa ter; e segundo, o dom do Espírito Santo, o Espírito da vida, vindo para fazer morada dentro da pessoa.
 
Quando o Espírito Santo vem dentro e tem o Seu caminho, Ele alivia você de toda responsabilidade da nova ordem neotestamentária; você não tem mais fardo e responsabilidade sobre aquilo, como não tem uma árvore em produzir folhas e frutos. Nenhuma árvore consome horas e horas se preocupando e se angustiando, 'Como posso produzir algumas folhas? Como posso produzir meus frutos?' Ela apenas vive – ela se rende ao processo de vida; e o resto acontece. Esta era a espontaneidade gloriosa das igrejas do Novo Testamento – elas simplesmente surgiam.
 
E o Senhor precisava tê-las desta forma – constituída do céu pelo Espírito Santo; não o homem trazendo a sua forma de igreja e de governo, seu modelo, sua concepção das coisas, e dizendo: 'Esta é a nossa concepção da igreja biblica'. Não, ela é produto da vida. Como foi permitido ao Espírito da vida trabalhar, as coisas tomaram certos cursos e certa forma, e aquela era a forma de Cristo. O Espírito Santo assumiu a responsabilidade. "Eu edificarei a minha Igreja", disse o Senhor (Mateus 16:18), e Ele quis dizer isso; e Ele é encontrado fazendo isso.
 
A Natureza de Cristo é Absolutamente Santa
 
Mas lembre-se: Cristo, na expressão mais íntima do que Ele é, é muitíssimo santo. "O Santo que é nascido", disse o anjo a Maria, "será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35, A.R.V.). Ele "se ofereceu a Si mesmo sem mancha a Deus" (Hebreus 9:14). Ele foi "... em tudo tentado a nossa semelhança, mas sem pecado" (Heb. 4:15). Cristo era e é sem pecado. Ele é infinitamente santo. O grande antagonista de Cristo, que é ímpio, está sempre procurando destruir aquilo que é de Cristo, introduzindo uma contradição, uma mentira, dando a mentira à santidade de Cristo; e foi isso o que aconteceu aqui.
 
Eu realmente sinto que esta é uma questão muito solene para todos nós. Não tenho dito isso sem muito exercício em meu próprio coração. Não é uma coisa fácil para se dizer. Alguns de nós não ignoramos as artimanhas de Satanás. Quem tem direito de falar sobre santidade? Quem é suficiente em santidade para falar a alguém sobre isso? Santidade é o que Cristo é. Quem de nós poderia dizer que somos desta maneira?
 
O Espírito Restringido pela Consciência de Falta de Santidade
 
Falta de santidade é aquilo que não é consistente com Cristo. É o oposto do que Cristo é; é uma contradição a Cristo. O poderoso propósito de Deus, o poderoso curso do Espírito de Deus – tudo que entrou com esta nova dispensação – pode ser rapidamente reprimido, e uma tragédia pode ocorrer se você ou eu intencionalmente brincarmos com a falta de santidade. "Sabendo também sua mulher" (Atos 5:2) significa que a coisa foi consciente.
 
Eu não estou falando de falta de santidade que é nossa em geral – contudo não vamos tolerá-la ou fazer vista grossa. O que estou falando neste momento é o pecado deliberado na presença do Espírito Santo. Ananias e Safira deliberadamente planejaram dar ao Senhor apenas uma parte do produto da venda, porém representando-o como sendo o todo. Se eles realmente estivessem sob a influência do Espírito Santo, teriam reconhecido o Espírito dizendo a eles: 'Isto não está certo – é uma contradição a Cristo'.
 
E nós não podemos confidentemente concluir que o Espírito Santo de fato os tenha alertado? Não houve duas vozes que, embora talvez não audíveis, contudo tenha falado neles, uma alertando sobre o mal, a outra sugerindo este erro – a voz do Espírito e a voz de Satanás? Eles se inclinaram a ouvir a voz do tentador, e Satanás 'encheu os seus corações'. Este é o tipo de falta de santidade que estamos falando.
 
Nós estamos na dispensação do Espírito. Se de fato estivermos no benefício desta dispensação, isto é, se o Espírito Santo está em nós, Ele irá nos falar – Ele realmente nos fala. Se quisermos podemos conhecer a mente do Espírito sobre todas as questões sobre o certo e o errado. Mas até nos rendermos ao Espírito, tudo fica suspenso. A vida toda do Espírito fica restrita. O Senhor foi muito positivo ao colocar os princípios para a nova dispensação.
 
Ele não nos deixou qualquer dúvida quanto a qual é a Sua atitude em relação a esse tipo de coisa. Se Ele não age da mesma maneira o tempo todo, e se nós não caímos mortos, isto não significa que algo igualmente terrível não ocorra em nós. O Espírito fica preso, e a morte espiritual entra, e não há mais nenhum progresso a partir desse momento. Há um sentido no qual, espiritualmente, nós também somos 'levados'.
 
Sim, este é um assunto solene. Perdoe-me se pareço opressivo, mas este assunto de santidade é muito pertinente, e está muito ligado a tudo aquilo que estamos procurando ver – todo o maravilhoso significado de o Espírito estar aqui e de Ele ser capaz de prosseguir; vida e plenitude, crescente profundidade e vitalidade, conhecimento cada vez maior, o tragar a morte pela vitória.
 
Esta é para ser a existência espiritual da Igreja, porém tudo isto pode ser bloqueado pela falta de santidade, conhecida e não tratada diante de Deus, não repudiada e recusada. Seja lá o que isto possa significar para você em sua aplicação particular, lembre-se de que é algo muito perigoso ter uma controvérsia com o Espírito Santo - perigoso não somente para nós, mas talvez para muitos que serão afetados.
 
O Perigo em se Persistir com a Falta de Santidade
 
Oh, a tragédia de uma controvérsia com o Senhor não resolvida! Certamente, vendo um ambiente de um assunto como esse, precisamos encarar as coisas particulares a partir do ponto de vista do grande pano de fundo. Você não terá um motivo adequado para lidar com os pontos particulares de falta de santidade a menos que enxergue toda esta questão em seu grande cenário. Se é algo meramente pessoal, que diz respeito somente a nós, podemos ou não sentir que vale a pena resolver a questão.
 
Mas olhe! Todo o curso dos conselhos eternos de Deus, descendo sobre o nosso caminho e nos pondo nele: o propósito soberano de Deus a ser realizado dentre e através de nós: o longo alcance desses propósitos de Deus que iria nos ter como veículos e canais: Tudo aquilo que Deus iria fazer ao se tornar a Si próprio conhecido de nós visando outras pessoas: tudo impedido devido a falta de santidade!
 
Sim, um ministério pessoal, um grande ministério que poderia ser de alcance muito grande, tudo pode ser colocado de lado – o Senhor, para resguardar a Sua própria natureza, teria que colocar tudo de lado – se houvesse uma persistência em algo sobre o qual Ele tinha falado, mas que não fora tratado. É um contexto tremendo.
 
O salmista disse: "Bem sei eu, ó Senhor, que os teus juízos são retos, e que em tua fidelidade me afligiste" (salmo 119:75). O que ele quis dizer? Evidentemente ele tinha passado por severa disciplina da parte do Senhor, e quando ele olhou para o que o seu erro implicava em relação ao povo do Senhor – quantas pessoas foram afetadas e quanto aquilo tocou a honra do Senhor – ele disse: 'Somente a fidelidade de Deus está por trás do Seu tratamento para comigo: Ele precisa ser justo para consigo mesmo e para comigo, e não me deixar impune; e Ele precisa ser fiel à Sua própria natureza, Sua própria retidão, porque muita coisa está ligada a isso'.
 
Que o Senhor possa nos mostrar o que isto significa, e nos dar graça. Oh, precisamos de proteção, de defesa nesta questão de um caminhar santo com Deus; precisamos resolver toda controvérsia com Ele porque há muita coisa associada a isso.
 
Vemos que aqueles que habitavam em Jerusalém, e seus governantes e aqueles a quem representavam, não queriam resolver a controvérsia que Deus tinha com eles, e foram colocados de lado, e outra nação que produzia os frutos do Reino foi trazida. Que perda! E você pensa que o Senhor irá lidar conosco de forma diferente? Pode não ser a nossa salvação que esteja em jogo, mas certamente nossa vocação sofra alguma conseqüência. O Senhor nos dê graça!
 
Capítulo 9 – Uma Recapitulação
 
Vimos que na dispensação do Antigo Testamento o Espírito Santo operava como o Espírito de profecia, tornando tudo em profecia. Ele fazia com que tudo dentro da economia Divina apontasse para frente, e implicasse algo mais além, algo que não estava claro para aquelas pessoas que viviam naqueles tempos e que estavam diretamente ligados aquilo que estava sendo feito e falado; e esta abrangente obra do Espírito Santo através desses tempos estava levando para aquilo que seria a natureza, o caráter e o propósito desta dispensação em que vivemos.
 
Esta dispensação é marcada por duas características salientes – dois aspectos de uma única coisa. É a dispensação, primeiramente, de Cristo entronizado à mão direita da Majestade nos céus, e segundo, é a dispensação do Espírito Santo aqui dentro da Igreja para tomar posse de tudo o que ela significa. Aquela atividade profética era multifacetada; isto é, apontava para várias características da era que estava por vir; e olhamos para algumas dessas características nos capítulos anteriores.
 
De modo que agora nós começamos aqui. Chegamos e estamos vivendo na dispensação do cumprimento espiritual daquilo que os profetas predisseram; porém este cumprimento não é meramente objetivo, como na história do mundo ou da Igreja, de modo exterior. Este cumprimento é algo interior, e ainda, é algo interior no que diz respeito a cada membro de Cristo. É algo que precisa ser passado aos mais jovens. Por favor, não pense que isto é para cristãos mais velhos ou mais avançados! É algo que envolve cada um de nós igualmente.
 
Visão Espiritual
 
A primeira coisa com que os profetas estavam ocupados, e que tem seu cumprimento de modo interior nos membros de Cristo nesta dispensação, é a visão espiritual. Tudo no propósito de Deus, para o seu cumprimento e para a nossa chegada a esse propósito, depende primeiramente disso – que o Espírito Santo tenha se tornado para nós no Espírito de revelação, e nos tenha feito ver, em seu contorno maior, aquilo que Deus procura. Os detalhes são preenchidos na medida em que avançamos.
 
(a) A Faculdade de Ver
 
Há dois lados. Primeiramente, há a faculdade do ver. Os profetas tinham muito a dizer sobre isso. Você sabe que, devido a certos preconceitos da parte do povo de Israel, pelos quais eles não estavam dispostos a enxergar aquilo que Deus queria que eles enxergassem (porque eles tinham suas próprias visões e idéias e não estavam prontos para o que Deus queria), um duplo julgamento passou sobre eles, e o Senhor fechou os seus olhos. A palavra foi dada a Isaías para este povo: "Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado". (Isaías 6:9,10).
 
Isto foi um julgamento, e terrível: a faculdade da visão espiritual foi neutralizada. Foi um julgamento terrível, com conseqüências terríveis; pois, como vimos, a conseqüência máxima foi que eles perderam tudo aquilo que Deus pretendia para eles, e isto não foi coisa pouca. A coisa foi tirada deles. Foi dada para outra nação – uma nação espiritual. É um terrível julgamento ter a faculdade da visão espiritual anulada; e se é assim, ela deve ser algo muito importante no desejo, graça e bondade do Senhor que as pessoas possam ter tal visão, tal luz.
 
A faculdade de enxergar é um direito de nascimento de todo filho de Deus. Não pense que você precisa viver a vida cristã por um longo tempo, e ter muito ensino, e alcançar uma posição elevada, antes que você comece a enxergar. Isto faz parte do seu novo nascimento. O Senhor disse a Nicodemos: "Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". (João 3:3). Por implicação Ele disse: 'Quando você nascer do alto, você irá enxergar'. A comissão ao apóstolo Paulo foi: "…a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos..." (Atos 26:17,18).
 
A própria obra simbólica do Senhor Jesus nos dias de Sua carne, ao abrir os olhos aos cegos, estava apontando para o que iria acontecer quando Ele fosse elevado aos céus e o Espírito viesse, e os homens enxergassem. Enxergar é parte do seu novo nascimento. Não estou dizendo que você irá enxergar tudo de uma só vez, que você irá enxergar tudo que aquelas pessoas que foram longe com o Senhor enxergavam; mas a faculdade de ver foi dada a você. Você a está usando? Você sabia que ela é tão real quanto a sua visão física – que você tem olhos espirituais, e que eles foram abertos? Se não, vá direto ao Senhor sobre isso, porque algo está errado.
 
(b) O Objeto Visto
 
E não somente a faculdade, mas o objeto da visão; ele é uma parte da visão. Precisa haver a faculdade de ver antes que possa haver um objeto para ser visto, mas, tendo a faculdade, você adquire um objeto para ver; e o objeto é – o quê? O que foi que veio à percepção, ao reconhecimento, do povo, quando o Espírito Santo chegou? O que eles começaram a ver? Eles começaram a enxergar o significado de Jesus Cristo, e há uma frase muito familiar que indica o que é isto– "o propósito eterno".
 
Eles são um, e são a mesma coisa – o significado de Cristo, e o eterno propósito de Deus. O propósito de Deus que vem da eternidade diz respeito ao Seu Filho – o lugar que Seu Filho ocupa no universo de acordo com a Sua vontade; o tremendo alcance de Cristo; as tremendas implicações do próprio ser e existência de Cristo; as conseqüências tremendas que estão ligadas a Jesus Cristo. Eles não enxergaram tudo isso de uma só vez, mas começaram a ver o Senhor Jesus. Eles começaram a ver que ele não era apenas um homem entre homens, não era meramente o homem da Galiléia.
 
Não, Ele era infinitamente maior do que isso. Este tremendo impacto do significado de Jesus Cristo é tão grande para se reter, tão grande que você não consegue compreendê-lo. É esmagador e devastador. Eles começaram a enxergar isso; esta era a visão deles. A partir dessa visão tudo mais adveio. Olhe para eles e escute-os, reconheça que grande e novo Cristo eles tinham encontrado, que Cristo significativo Ele era, como tudo está ligado a Ele. Todo destino está centrado Nele; Ele é a única conseqüência.
 
Os profetas tinham visto algo vagamente. Você irá ouvir um profeta dizendo: "Seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Príncipe da Paz" (Isaías 9:6). Bem, esse profeta tinha começado a enxergar algo; e há outras coisas semelhantes a essa. É apenas um começo, mas o que eles estão dizendo é que esta Pessoa irá ser visto plenamente. 'Nós estamos apontando para Ele', dizem eles, 'esperando o dia quando Ele será plenamente reconhecido'. E este é aquele dia; nós estamos no dia do cumprimento da visão dos profetas.
 
Essas não são meras palavras, grandes idéias. É algo que precisa ser verdade em você, mesmo que possa ser apenas um começo, que a compreensão de Jesus Cristo em seu coração seja tremenda, esmagadora. Ele é a sua visão, e Ele tem dominado você no sentido de Sua grandeza. Nós jamais iremos chegar a algum lugar sem visão. Iremos nos esfacelar se não tivermos visão, ou se a nossa visão for bloqueada.
 
Se algo interferir na pureza, na plenitude, de nossa visão, começaremos a andar em círculos, não sabendo em que lugar estamos. A visão irá nos levar adiante somente se for mantida pura e plena. Você a tem? Quando o Espírito Santo veio no dia de Pentecoste, esta coisa tremenda aconteceu – eles viram o Senhor, e vendo-O começaram a ficar emancipados de todas as coisas que não tinham nada a ver com Ele.
 
Aqueles que não viam, bem, esses começavam a ficar para trás e se tornavam sem importância no campo espiritual ou, devido a seus preconceitos, tornaram-se inimigos dos que enxergavam. O exemplo em João 9 foi cumprido no sentido espiritual. O Senhor abriu os olhos do homem cego de nascença. E o que aconteceu? Os demais o expulsaram. Aquelas pessoas que viram no dia do Pentecostes a descida do Espírito Santo foram excomungados por muitos que eram preconceituosos. Foram cortados. Há sempre um preço ligado ao ver.
 
Mas este não é o nosso assunto agora. Simplesmente, o que o Senhor tem dito a nós, em primeiro lugar, é que Ele deseja ter, e precisa ter nesta dispensação um povo com os olhos abertos, um povo que enxerga, que tenha esta faculdade neles mesmos.
 
(c) A Visão É Para Ser Pessoal e Crescente Em Todo Crente
 
Agora, a diferença entre as demais dispensações e esta é apenas uma. Na velha dispensação tudo tinha que ser falado ao povo. Eles tinham que obter as coisas de segunda mão, a partir de outra pessoa; a coisa nunca era deles próprios, nunca era original. Na nova dispensação do Espírito Santo, a coisa estava dentro deles mesmos; a raiz da questão estava dentro deles.
 
Porém o cristianismo tem se tornado cada vez mais um grande sistema que tem se revertido ao nível da antiga dispensação. Isto é, muitos cristãos têm suas vidas baseadas em discursos, em sermões, em reuniões, e precisam que as coisas lhes sejam contadas por outras pessoas. Quantos cristãos você encontra hoje que está realmente se beneficiando de uma revelação palpitante, vívida e pessoal de Jesus Cristo? Eu não penso que esta seja uma questão inadequada.
 
A grande necessidade de nossos dias é que as pessoas de Deus sejam restabelecidas na base sobre a qual a Igreja foi fundada no início, uma base do Espírito Santo; e o início exato desta base é – não ter um monte de informação dada aos cristãos, mas que os cristãos possam ter a faculdade da visão espiritual dentro deles, possam ter a capacidade de enxergar, e possam eles próprios estar enxergando.
 
Você pode dizer: 'Meus olhos estão abertos; estou vendo o eterno propósito de Deus, estou enxergando a importância de Cristo; estou vendo cada vez mais em relação ao Senhor Jesus?' A menos que seja desta forma, nós iremos deixar o Espírito Santo para trás, e teremos que fazer a volta para encontrá-Lo aonde Ele foi deixado, porque uma vida no Espírito Santo é uma vida de visão crescente e contínua. A visão é absolutamente essencial, tanto quanto à faculdade e também quanto ao objeto.
 
A Instrumentalidade Da Cruz
 
(a) Morte - A Remoção Daquilo Que É Do Homem
 
Isto significa, por um lado, a remoção de tudo aquilo que não pode entrar no novo Reino; ficando livre daquilo que aos olhos de Deus está morto e precisa ser colocado de lado – isto para dizer, a soma total da vida do ego. Chame-a de outros nomes se quiser – a carne, a vida natural, o velho Adão, e assim por diante. Eu prefiro esta designação - o princípio do ego porque ela é muito abrangente: seja o princípio da vida do 'eu' agindo na direção exterior, em auto-afirmação, em imposição, onde o EU seja o impacto; ou seja agindo na direção interior, puxando para o EU.
 
Oh, quantos aspectos há da vida do ego em ambas as direções! Nós podemos conhecer algumas das mais óbvias, mas nós não estamos aprendendo quão profundamente enraizado, com incontáveis filamentos, é a vida do ego? Nós nunca alcançamos o seu fim. Ela espalha os seus tentáculos por toda nossa constituição. - 'Eu', de alguma forma, forte ou fraco. É exatamente tão mal para ela ser fraco quanto ser forte. A auto-piedade é apenas uma forma de chamar a atenção para nós mesmos e ficarmos ocupados com nós mesmos, e é tão pernicioso quanto à auto-afirmação.
 
É o ego, tudo é a mesma coisa; pertence à mesma raiz, procede da mesma fonte. Tudo procede daquela vida falsa de alguém que disse: "Eu subirei aos céus, e exaltarei o meu trono acima das estrelas de Deus; e sentarei sobre o monte da congregação... eu subirei acima das mais altas nuvens; eu serei semelhante ao Altíssimo" (Isaías 14:13,14). 'Eu' - 'Eu' - 'Eu' -. Verdadeiramente, nós não conseguimos esgotar as formas desta vida do ego.
 
Agora, por ter ela muitos lados e raiz que alcança longe e profundamente, o Senhor não pode lidar com ela de uma só vez de modo ativo. Ele lidou com ela de uma vez por todas potencialmente na Cruz de Seu Filho. Mas agora a aplicação disso precisa avançar. Você e eu precisamos conhecer continuamente a aplicação do princípio da Cruz às várias formas da vida do EU. Precisamos aprender tanto a necessidade quanto a maneira de ser ela esmagada, atingida, enfraquecida, e trazida debaixo das mãos de Deus; e este é o significado de 'disciplina', este é o significado de instrução.
 
É neste lado de coisas que o Espírito Santo está constantemente tomando precauções contra a vida do EU. Até mesmo no caso de um bem avançado e bem crucificado apóstolo, é necessário, diante de grandes depósitos Divinos, que Deus tome precauções e coloque um espinho em sua carne e lhe dê um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo, para que ele não se exalte (2 Coríntios 12:7). Isto é algo muito prático.
 
O Espírito Santo usa o princípio e a lei da Cruz repetidamente e cada vez mais profundamente a fim de se livrar do lixo – aquilo que ocupa o terreno que deve ser ocupado pelo próprio Senhor. Precisa haver muita limpeza no terreno a fim de se edificar nele um novo reino espiritual.
 
(b) Ressurreição – A Expressão Do Próprio Senhor
 
Assim, por outro lado, a coisa correspondente é o poder de Sua ressurreição, que jamais poderá ser conhecida exceto se conhecermos o poder de Sua Cruz; e é em conhecendo a Ele e o poder de Sua ressurreição que a nossa instrução do lado positivo é encontrada. Oh, para conhecê-Lo e o poder de Sua ressurreição! É uma coisa maravilhosa quando você e eu somos trazidos para o lugar onde, do lado natural, – e não fingidamente, mas completamente – somos compelidos a reconhecer a horrorosa e terrível realidade: 'Isto é o fim de tudo. Eu que tenho falado tanto, que tenho pregado tanto, que tenho ensinado tanto, que tenho feito tanto – Eu cheguei ao fim'.
 
É a sentença de morte; não mais é possível; e é terrível e severamente real. E, então, Deus nos levanta da morte! Você prossegue, e há algo mais do Senhor do que havia antes. É algo grande enxergar como Deus nos levanta da morte repetidamente. A mesma pessoa está viva novamente, e há mais do que jamais houve antes, porque houve um vazio maior do que jamais houvera antes. É uma posição muito segura do ponto de vista do Senhor.
 
O que nós estamos aprendendo, qual é o significado daquele caminho, o que é isto que estamos herdando ao longo de tais experiências? Apenas isto – estamos conhecendo o Senhor, isto é tudo. Estamos conhecendo isto: que tudo é do Senhor, e tudo aquilo que não é Dele não é nada, absolutamente. Deve ser do Senhor ou não haverá mais nenhuma possibilidade, nenhuma esperança.
 
Nós somos os mais capazes de dizer: 'Se depender de mim, nada mais é possível'; e, então, o Senhor opera. Você enxerga o que Ele está fazendo do lado da morte da Cruz. Ele está limpando o terreno para Ele próprio, e, então, Ele ocupa o espaço; Ele está edificando a Si mesmo como o Senhor ressurreto no terreno que foi purgado da vida velha. O Espírito Santo usa a Cruz para manter o caminho aberto, para manter a visão clara e crescente.
 
Uma Nova Liberdade
 
Em seguida, falamos que quando mudou a dispensação no dia de Pentecoste, a partir daquele momento houve uma maravilhosa emancipação para a liberdade. Na velha dispensação a ordem toda era de escravidão, de servidão; as pessoas estavam numa camisa de força de um sistema religioso. Na nova dispensação, a camisa de força foi tirada.
 
Não há nada que sugira uma camisa de força no Livro de Atos. As pessoas são livres. Até haverá algumas coisas a serem removidas, como o resto da tradição de Pedro diante do apelo da casa de Cornélio, e assim por diante. Mas no principal eles estão livres, libertos, e é o Espírito Santo quem faz isto acontecer, e Ele exige que isso seja preservado.
 
O Senhor quer e precisa de um povo assim hoje, exatamente como antes. Primeiramente, um povo de visão; e, então, em segundo lugar, um povo completamente crucificado, dando ao Senhor total espaço para o Seu propósito – um povo que, em si mesmo, tenha sido removido do caminho do Senhor. (Este é o significado do Livro de Atos – que as pessoas estão fora do caminho do Senhor, de modo que Ele pode se mover livremente). Então, o Espírito Santo, tendo efetivado esta libertação, exige que isto seja preservado.
 
Dissemos anteriormente que a tendência constante e persistente do homem e o esforço do inimigo é o de trazer novamente o jugo da servidão, aprisionando o Espírito Santo num sistema estabelecido e cristalizado. De coisas – um sistema de igreja, um sistema eclesiástico, uma ordem religiosa humana, uma formalidade, uma organização, e todo esse tipo de coisas que muito freqüentemente começam com uma idéia Divina, e, então, acabam dominando essa idéia Divina e fazendo com que ela os sirva, ao invés de que tudo sirva a ela.
 
Este é o perigo, e o Espírito Santo não terá nada disso. Ele somente pode ir tão longe quanto à liberdade que tenha para ir. Ele requer que fiquemos fora de Seu caminho; Ele requer os Seus próprios direitos na qualidade de Espírito de liberdade. Ele não será limitado por nada. Se nós tentarmos restringi-Lo, colocar algemas Nele iremos perder os Seus valores.
 
Ele requer que nós jamais permitamos a nós mesmos sermos levados para qualquer forma fixa, ou limite de qualquer espécie; que sejamos pessoas de Deus livres. Isto não é licença. Isto não dá ao indivíduo o direito para ser um autônomo, nem significa que podemos ir e fazer tudo que o nosso impulso sugira, e de forma independente desprezemos toda autoridade espiritual. Nunca significou isso. Mas significa que o Senhor não irá permitir que cristalizemos Suas coisas e as coloquemos dentro de uma caixa e digamos: 'Este é o limite'.
 
Ele requer de nós que possamos estar sempre prontos para receber e responder à uma nova luz. Se Sua nova luz requer que façamos novos ajustes – ajustes revolucionários algumas vezes – temos que estar tão livres no Senhor que possamos fazê-los. É muito necessário que possamos estar dessa maneira, como povo livre do Senhor. É algo muito abençoado ter a expansão do universo para se mover.
 
Santidade, A Marca Da Nova Dispensação
 
Agora nosso próximo ponto foi o de que toda a natureza de coisas, que a característica da dispensação do Espírito Santo e que todos os movimentos do Espírito, é de santidade – que tudo interiormente possa corresponder aquilo que é exterior. O progresso pode ser levado para uma total estagnação; todo este movimento do Espírito de Deus pode repentinamente ficar impedido; pode haver um ponto além do qual não haja mais nenhum avanço, caso haja algo debatível entre o Espírito Santo e nós.
 
Temos que consultar o Espírito Santo em todas as questões, e Ele é residente em nós para esse propósito. Por que há tantas coisas nos cristãos que não são como o Senhor queria que fossem? É simplesmente porque as pessoas em questão não têm reconhecido e levado ao coração o seguinte – que o Espírito Santo é o Mestre pessoal deles, o qual reside no interior. Quanto é perdido por causa dessa falta!
 
'Oh, há uma reunião: acho que não irei a ela – irei dar uma caminhada'. E, assim, você vai. Naquela reunião estava a palavra exata de Deus para você! Se apenas você dissesse: 'Gostaria de ir caminhar, mas há uma reunião; irei perguntar ao Senhor se Ele me quer lá'. Algo foi perdido o qual você jamais poderá recuperar para si próprio, porque você falhou em consultar o Senhor.
 
E assim em milhares de formas diferentes. Se tão somente ouvíssemos o Espírito Santo, poderíamos ter um melhor progresso. Ele fala a nós sobre todos os tipos de questões práticas. Por exemplo, precisamos ser ensinados pelo Espírito na questão de nossa jovialidade – como ser alegre sem ser frívolo, e como ser sério sem ser carrancudo e miserável.
 
Nós não vamos dar risadas durante o tempo todo de nossa vida, mas ao mesmo tempo o Senhor não quer que sejamos pobres criaturas. Ele quer que sejamos pessoas sérias, mas não pense que solenidade é necessariamente vida espiritual. Eu li em meu jornal matinal sobre uma garota na Austrália, que foi acometida por certa doença que a privava de sua habilidade de sorrir. Ela foi trazida para ser operada em Londres – e, após a operação ela pode sorrir! Penso que muitos cristãos precisam de uma operação como essa.
 
Mas em toda essa questão temos que conhecer a disciplina do Espírito Santo, porque valor espiritual, aumento espiritual, está ligado a isto. Em questões de santidade, e controvérsias com o Senhor – que podem descer a muitos pequenos pontos, tais como detalhes de roupa, o uso de adornos, e assim por diante – é notável como ajustes são feitos por muitos cristãos jovens nessas questões práticas sem que nada seja dito a eles por alguém. Quem falou a eles para fazê-lo? Ninguém; mas eles chegaram a sentir que o Senhor queria que eles assim fizessem, isto é tudo.
 
Tais pessoas estão progredindo; estão começando a contar com Deus. Eu tomo esses pontos, não para impor lei sobre você, mas para mostrar o princípio do Espírito Santo ser capaz de nos falar interiormente sobre questões onde o Senhor possa não estar plenamente de acordo, e, na medida em que Ele fala e respondemos, nós progredimos. O Espírito Santo acrescenta, e acrescenta.
 
Serviço Direcionado Pelo Espírito – Não Exclusivismo
 
Na medida em que você prossegue no livro de Atos, você descobre que o Espírito Santo era o Espírito de Serviço. Você chega ao capítulo 8, e o movimento para fora de Jerusalém é absolutamente espontâneo. Filipe desce a Samaria. Quem disse que ele deveria ir a Samaria? Certamente podemos dizer que foi o Espírito Santo quem o levou para lá. Eles se moviam sob o controle soberano do Espírito Santo. Ele era o Espírito de serviço.
 
E quando você chega ao capítulo 10, oh, que aspecto abençoado daquele desenvolvimento! Encontramos isto em sintonia com aquilo que os profetas, embora de forma imperfeita, viram. No capítulo 10 o Espírito Santo precipita toda a questão de se ir para além das fronteiras de Israel para os gentios. Como os profetas entraram nisso? Bem, que tal Jonas? É uma terrível história esta no pequeno livro de Jonas. Esta história não é toda a vida e obra de Jonas, mas é praticamente tudo o que muitas pessoas conhecem sobre ele – que ele teve uma disputa feroz com o Senhor.
 
"Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte" (Jonas 4:9). Imagine um homem respondendo a Deus dessa maneira! Por quê? Porque o enorme coração gracioso de Deus havia dito, em efeito: 'Não deve haver exclusivismo; Eu não estou absoluta e solenemente ligado a Israel; meu coração também abraça os bárbaros; o mundo todo é objeto da minha graça'. Jonas era muito exclusivista – não podia haver mais nada além do seu próprio círculo, e ele entrou em controvérsia com o Senhor.
 
O Senhor tem espalhado aqui e ali através de suas lições e ilustrações da Palavra que enfatizam isso. Que tal Rute? Ela é uma Moabita, uma bárbara, inaceitável a Israel. Esta história de Rute é o mais bonito romance da Bíblia. O que o Senhor está dizendo? Olhe para a genealogia do Senhor Jesus e você irá encontrar Rute, a Moabita, lá. Mas se isso é impressionante, que tal Raabe, a prostituta, que morava em Jericó, que teve fé e expressou essa fé por meio da corda de fio de escarlata na janela?
 
E na genealogia de Jesus Cristo, Raabe, a meretriz, tem um lugar. O que Deus está dizendo? Ele assume na nova dispensação o princípio dessa obra profética do Espírito Santo através do Velho Testamento. Em Atos 10 Ele precipita isso, como que para dizer: 'Vão a todos; não permitam exclusivismo'. É impossível ser pessoa governada pelo Espírito Santo e não ter o mundo em seu coração – não se preocupar com toso o povo do Senhor, e com todos os que não são do Senhor. Ele irá precipitar essa questão. Vamos permitir que esta verdade nos alcance profundamente.
 
O ponto de tudo o que temos dito é o seguinte: que quando o Espírito Santo vem e realmente tem o seu espaço, todas essas coisas são espontâneas: elas acontecem; essas são as marcas de Seu governo. Oh, que o Senhor possa recuperar um povo como esse, livres de toda posição estabelecida, eclesiástica, religiosa, limites tradicionais e fronteiras – um povo no Espírito! O Senhor faça com que cada um de nós seja dessa maneira.
 
FIM

 

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