A Parábola das Ovelhas e dos Bodes

(25:31-46)

Por John Heading

As três parábolas anteriores sobre vigiar, esperar e trabalhar formam um parêntese; esta parábola final, quanto ao seu assunto, está ligada a Mat. 24: 41. Devemos notar especialmente que o título "Filho do homem" aparece novamente, e isto é apropriado à vinda do Senhor, em glória, para Israel e para o mundo. Esta parábola é de julgamento. Encontramos muitos aspectos de julgamento nas Escrituras e não devem ser confundidos um com o outro. Assim como o plano de redenção foi planejado na eternidade, o Cordeiro também foi "conhecido antes da fundação do mundo" (I Ped. 1:19-20; Atos 2:23), assim também houve

preparação divina para o juízo. Por exemplo, temos "o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos" (Mat. 25:41); os anjos que pecaram foram entregues "às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo" (II Ped. 2:4). Antes da queda, Deus podia dizer que Adão morreria se comesse o fruto proibido (Gên. 2:17); como resultado da queda a "morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram" (Rom.

5:12). Mesmo assim, em todo o período do VT sempre houve homens de quem se podia dizer: "Todos estes morreram na fé" (Heb. 11:13), embora dos demais, foram julgados no dilúvio, no Mar Vermelho, quando fizeram o bezerro de ouro, na rebelião provocada por Coré, e assim por diante; estes aguardam "a ressurreição da condenação" (João 5:29).

No NT, o juízo que se destaca no dia presente é relacionado com o julgamento governamental de Deus nas igrejas locais, pois "começa o julgamento pela casa de Deus" (I Ped. 4:17). Exemplos disto são: Ananias e Safira (Atos 5:1-11); os coríntios que perverteram a ceia do Senhor embriagando-se com o vinho (I Cor. 11:30-32); a repreensão dos filhos para a correção na santidade e retidão (Heb. 12:6-11). Depois do arrebatamento da Igreja, acontecerá "o tribunal de Cristo" (Rom. 14:10), quando os motivos e as obras do povo do Senhor serão avaliados, para receberem recompensa. Depois disto virão os juízos governamentais de Deus sobre a Terra durante os últimos sete anos — Sua intervenção direta contra os homens por causa da crescente apostasia e pecado; isto é detalhado em muitos capítulos entre Apocalipse 6 e Apocalipse 19. As condições serão tão ruins, que Is. 1:9 se aplicará: "Se o Senhor dos Exércitos não nos deixara algum remanescente, já como Sodoma seríamos".

O final destes sete anos verá o que é chamado de o julgamento guerreiro do Senhor, quando Ele vier para destruir, primeiramente o sistema religioso apóstata conhecido como, "Mistério, Babilônia a grande" (Apoc. 17; 18; 19:1-4) e em segundo lugar os exércitos dos homens reunidos na grande batalha de Armagedom (Apoc. 16:14-16; 19:11-21), assim limpando o mundo de líderes famintos por poder, tão contrários à introdução do Seu reino milenar. Depois vem o julgamento dos "vivos" (zontes), mencionados por Pedro em Atos 10:42, e o assunto da parábola de Mat. 24:31-46. Este próximo estágio da administração divina é para purificar a Terra de tudo que contamina, tornando-a num lugar adequado para o reino de Cristo. A Igreja reinará com Cristo sobre a Terra, e executará o serviço administrativo, um trabalho concedido pela graça.

Durante o milênio, todos os homens estarão debaixo da autoridade divina, mas nem todos serão convertidos; isto é visto no final dos mil anos, quando um grande número entre as nações estarão dispostos a se unir contra os santos (Apoc. 20:8-9). Então acontecerá o ultimo julgamento da Terra — "desceu fogo dos céus e os devorou" — antes da Terra finalmente desaparecer. O julgamento do "grande trono branco" acontecerá a seguir (Apoc. 20:11-15), correspondendo à "ressurreição da condenação" (João 5:29). Aqui, todos os incrédulos comparecerão; o julgamento será tão diferente dos juízos dos homens, na Terra, onde o juiz, o júri e o conselho de defesa não testemunharam o crime. Deus terá visto todos os atos dos incrédulos pelos quais os homens estarão sendo julgados, e o Juiz de toda a Terra fará justiça.

 

31. A vinda do Filho do homem em glória é aquele grande acontecimento para o qual grande parte das Escrituras aponta. Uma previsão foi dada em Mat. 16:27, quando os três apóstolos viram o Senhor transfigurado no cume do monte (17:2). O Senhor falou do trono da Sua glória em Mat. 19:28, acrescentando que os apóstolos se assentariam sobre doze tronos, "para julgar as doze tribos de Israel". Em Mat. 24:30, Ele havia falado sobre "o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória", e em Mat. 26:64, Ele disse ao sumo sacerdote que eles veriam o Filho do homem assentado à direita do Poder e vindo sobre as nuvens dos céus. No presente, Ele está assentado no trono do Pai mas naquele dia vindouro do milênio, Ele se assentará sobre o Seu próprio trono junto com os vencedores da era da Igreja (Apoc. 3:21).

 

32-33. Todas as nações serão reunidas diante dEle, isto é, os que permanecerem depois do julgamento de Deus sobre os exércitos das nações, na batalha de Armagedom. O Senhor descreveu este processo de divisão de uma maneira diferente em Mat. 24:38-41; alguns são levados para o julgamento e outros deixados, e estes outros são diferentes dos "escolhidos", no v. 31, que também são ajuntados. Há, portanto, três grupos diferentes de pessoas: os escolhidos, os levados em julgamento, e os que ficam. (Na parábola do joio e do trigo há apenas dois grupos). Estes três grupos também são encontrados nesta parábola: "meus pequeninos irmãos" (Mat. 25:40) correspondem aos "escolhidos"; "as ovelhas" correspondem aos que ficam no processo de seleção; "os bodes" correspondem aos que são levados, como no dilúvio.

 

40,45. "Um destes meus pequeninos", "um destes mais pequeninos" (ARA), pertencem ao Senhor como "meus irmãos"; estes são os judeus que passam pela grande tribulação recusando receber a marca, o nome ou o número da besta (Apoc. 13:16-17). A besta é o último imperador com sua sede em Roma; o anticristo em Jerusalém procurará manter a autoridade da besta integralmente reconhecida em Jerusalém, insistindo que os judeus adorem a imagem da besta no Templo, e fazendo com que não possam comprar, ou vender sem adotar a marca, o nome ou o número da besta. Estes fiéis formam o "remanescente" da semente da mulher, "os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo" (Apoc. 12:17). Sem duvida, quando Mat. 12:46-50 é projetado para o futuro, as palavras do Senhor se referem a estes judeus fiéis: "Eis ... meus irmãos! Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai ... este é meu irmão". Alguns destes irmãos morrerão durante a grande tribulação, e por isso tomarão parte na primeira ressurreição, na vinda do Senhor em glória (Apoc. 20:4). Mas os que permanecerem serão ajuntados como os "escolhidos" para entrarem no reino (Mat. 24:31).

 

34-40. As ovelhas igualmente são aqueles que não receberam a marca da besta, mas que evidentemente até aquele tempo não têm recebido o testemunho de Jesus para salvação. Eles são, para usar um termo não bíblico, neutros. O Senhor reconhece o que eles fizeram (vs. 35-36), apesar de ter sido feito na ignorância, pois nos vs. 37-39, eles confessam que não sabiam que estavam servindo ao Senhor ao tentarem ajudar Seus irmãos, o remanescente judeu. Satanás estará solto na Terra durante o tempo do seu ministério, tendo sido finalmente precipitado na Terra (Apoc. 12:9). Os judeus fiéis procurarão escapar (v. 14; Mat. 24:16) para onde serão "sustentados" durante os últimos três anos e meio que são a grande tribulação (v. 14). Esta sustentação será realizada pela "terra" que ajuda a mulher (v. 16), e nós interpretamos "a terra" como sendo as ovelhas que sentem compaixão dos judeus na sua extrema aflição. Em graça, o Senhor interpreta isto como "a mim o fizestes". (O oposto também é verdade; a perseguição de Saulo contra a Igreja foi descrita pelo Senhor como "por que me persegues?" em Atos 9:4, mas esta revelação levou à conversão de Saulo.) Anteriormente o Senhor havia dito: "Quem vos recebe a mim me recebe" (Mat. 10:40), portanto a ignorância das ovelhas é transformada numa gloriosa realidade ao conhecerem o Senhor pela primeira vez. Cremos que eles se converteram naquele instante, vendo o Senhor em glória (como Saulo), por isto Ele os chama de "benditos de meu Pai", e na parábola eles são chamados de "justos" (Mat. 25:34,37). Eles então entram no reino "preparado desde a fundação do mundo". Esta expressão contendo a palavra "desde" é também encontrada em Apoc. 13:8, 17:8. Em todos os casos ela se refere aos que têm uma bênção especial na Terra, relacionada com a criação natural de Deus.

Isto está em grande contraste com expressões tais como "antes que o mundo existisse" e "antes da criação do mundo" (João 17:5, 24). Aqui temos características de glória e de amor divino que são eternas e celestiais.

Esta palavra "antes" também se aplica aos cristãos, pois "ele nos elegeu nele antes da fundação do mundo" (Ef. 1:4), por isto estamos ligados aos céus e à eternidade e não às bênçãos terrenas.

Assim estas ovelhas entram no reino, sob o governo e autoridade do Rei dos reis e do Senhor dos senhores. Elas formam as nações da Terra no início do reino milenar de Cristo, embora as subseqüentes gerações

não serão, automaticamente, salvas. Naquele tempo "todas as nações virão e se prostrarão diante de ti" (Apoc. 15:4); "as nações andarão à sua luz", na luz da Jerusalém celestial na sua administração sobre a Terra (Apoc. 21:24); "E a ela trarão a glória e honra das naçÕes"(v. 26).

Mas Zac. 14:16-19, mostra o que acontecerá se houver indiferença à ordem de que as nações venham até Jerusalém para adorar o Rei, anualmente.

 

41-46. Por outro lado os bodes são os que receberam a marca da besta. Eles são o joio, e seus nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto (Apoc. 13:8; 17:8). Alguns estarão ativos em se opor abertamente ao Cordeiro, em guerra (Sal. 2:1-3; Apoc. 17:14), e serão retirados no julgamento guerreiro de Cristo; o restante será reunido perante o Senhor, o Juiz, quando Ele se assentar no trono da Sua glória.

Durante o período da grande tribulação, o Senhor estará observando todos os seus motivos e suas atividades. Não haverá nenhum bem mostrado aos seus semelhantes, e consequentemente o Senhor verá que eles não estão fazendo nada para Ele. Com a marca da besta sobre eles, eles poderiam facilmente comprar e vender, mas nada foi feito para saciar a fome e a sede dos irmãos do Senhor. Perante este trono de juízo eles chamarão o Juiz de "Senhor" (como vemos em Mat. 7:22; 25:24). Reconhecendo, finalmente, a sua loucura eles fazem a mesma pergunta que as ovelhas fizeram e acrescentam "e não te servimos?". O significado é, evidentemente, que como o Senhor não estava ali em pessoa, eles não poderiam ter servido a Ele! Eles, convenientemente, se esqueceram dos irmãos do Senhor.

Consequentemente, estes são os "malditos" e precisam se retirar "para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mat. 25:41), chamado de "tormento eterno", no v. 46. As Escrituras não nos informam se isto acontece imediatamente, ou se eles entram no hades antes de comparecerem novamente perante um tribunal divino, no grande trono branco.

A palavra "eterno" significa exatamente isto; veja II Tess. 1:9; Judas 7, 13; Apoc. 14:9-11.

Referências do VT ao julgamento das nações podem ser encontradas em Dan. 7:13-14; Joel 3:11-17, onde o "vale de Josafá", perto de Jerusalém, é mencionado como um lugar de julgamento.

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