O TRIBUNAL DE CRISTO

É de suma importância ter o melhor esclarecimento possível da verdade a respeito do aparecimento dos crentes perante o tribunal de Cristo. O Apóstolo Paulo dá-nos a entender que isto o inspirava para santidade e maior zelo em ganhar almas. Ele tinha a visão de que daria conta daquilo que havia recebido, pelo qual "ganhasse homens". É verdade que primordialmente ele vivia sua vida sob a luz da redenção de Cristo, constrangido pelo amor de Cristo - aquele amor que faz a pessoa morrer pelos outros. Mas é verdade também, que ele avistava o dia que apareceria perante o tribunal de Cristo, quando o que havia sido feito por meio dele seria provado. E isto se tornava um desafio no serviço. 
 
Precisamos observar tudo o que possa nos inspirar e desafiar, pois temos facilidade de nos esquecer daquilo que Deus espera de nós - tanto o fruto como o serviço. E devemos lembrar que Deus quer usar cada pessoa salva como um instrumento nas suas mãos. Por meio de nós, Ele quer revelar sua sabedoria, sua glória e seu poder. É nossa a missão de realizar e efetuar a sua vontade e seus planos de salvação. Que graça augusta! Mas é também uma responsabilidade humilhante! Uma coisa quero já focalizar, e isto é: devemos discernir entre o julgamento perante o tribunal de Cristo (2 Co 5.10) e o julgamento perante o grande trono branco (Ap 20.11-15), se não, tudo fica difícil de entender. O julgamento perante o trono branco é o último e eterno julgamento de todas as gerações. Chama-se: dia do juízo, ressurreição do juízo, o juízo vindouro, o juízo de Deus, o justo juízo de Deus, juízo eterno. Este julgamento vai acontecer depois do milê- nio e do curto período em que Satanás será solto. Ele é final, irrevogável e eterno. Nosso aparecimento perante o tribunal de Cristo acontecerá em conexão com a volta de Cristo nas nuvens, e abrange somente os santos. Aqueles que "são arrebatados", são galardoados segundo suas obras. Não é um julgamento para condenação - como perante o grande trono branco - mas um ato de avaliação das nossas obras. A nossa vida será provada. Alguns sofrerão prejuízo - a obra deles "se queima" - mas serão salvos, porque o fundamento era sólido; enquanto outros tinham edificado com material que suportou o fogo, e esses receberão recompensa (1 Co 3.12-15 e Ap 22.12). 
 
Ainda é preciso apontar alguma coisa, para evitar desentendimento por parte de alguém. Ao estudarmos este tema, precisamos sempre ter em mente que a salvação é de graça, sem o mínimo merecimento de nossa parte. Tudo é gratuito. É unicamente a fé na obra redentora, que o Senhor Jesus fez por nós, que nos salva. Não podemos acrescentar coisa alguma aqui. Também é por perseverarmos nesta fé que somos guardados, e alcançaremos a eterna salvação. (1 Co 15.1-4.) É a âncora firme para a alma durante a peregrinação, e é a única causa de estarmos um dia na glória eterna, com palmas nas mãos e vestes brancas. Somente aqueles que "lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro", estarão diante do trono (Ap 7.14-15). "Por isso estão diante do trono de Deus", está escrito. Sim unicamente por isso - por causa do sangue. Tudo depende de que Deus tenha feito - e ainda faz misericórdia. Ninguém tem exposto isto com mais clareza e firmeza do que o Apóstolo Paulo. Mas ele afirma também, com a maior convicção, que havemos de dar conta um dia. E então, ou receberemos galardão, ou sofreremos prejuízo. Isto harmoniza com o ensino do Senhor Jesus em Mateus 25.14-19.
É importante termos uma visão ampla do plano divino de nossa salvação, para podermos guardar o equilíbrio espiritual, e para que o reino de Deus se desenvolva e cresça de maneira sadia entre nós.
 
 
A OBRA DE CADA UM SERÁ PROVADA.
1 Coríntios 3.8-15
 
Os coríntios eram faltos de espiritualidade, eram carnais, e isto se manifestava especialmente pela maneira como avaliavam os servos do Senhor. No ensino esplêndido que o apóstolo lhes dá, para pô-los em posição certa neste sentido, recebemos uns raios de luz sobre este assunto. Os coríntios são chamados "a lavoura de Deus", "o edifício de Deus", e Paulo, Cefas e Apolo são "cooperadores de Deus" na obra de Deus em Corinto. E cada um deles "receberá sua recompensa segundo sua própria obra". Pois bem, a mesma lavoura, mas pagamento diferente. Ele diz que tinha "lançado o fundamento como sábio construtor" - Isso era Cristo. E acrescenta: "e outro edifica sobre ele". Não é, contudo, indiferente como se edifica, e qual o material que se usa, porque será provado pelo fogo. Paulo não pode - com isso que diz aqui - pensar somente na vida de cada indivíduo, pois é a igreja, como um todo, de que ele fala, e dos servos que Deus tinha dado a ela. A conexão inteira mostra isso. Paulo, como o primeiro que veio a essa cidade, fez a obra fundamental, e isso ele fez como um "sábio construtor", mas a responsabilidade estava agora com aque- les que "edificariam sobre ele", isto é, continuariam a obra. Cada um que tomaria parte nisto, deveria cuidar que fosse feito da maneira certa - da maneira divina.
 
Não posso entender outra coisa do que o apóstolo aqui pensava nas grandes linhas principais na edificação da igreja de Deus, e também no sentido doutrinário do reino de Deus. É uma coisa séria ser um construtor da igreja de Deus, e mesmo ter o serviço de ensinar e de exortar. Escute a advertência de Tiago: "Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo." (Tg 3.1.) Vamos prestar conta do nosso ensino! Isso não é natural? Um construtor é obrigado a construir segundo a planta e a prescrição, tanto no que se trata de forma como de material. Ele não pode fazê-lo segundo seu bel-prazer. E podemos pensar que Deus é indiferente quanto àquilo que é o mais belo neste mundo - a Igreja de Deus? A obra que é para a eternidade? É possível que sejamos sem responsabili- dade em nossa obra? Podemos trabalhar conforme o que achemos conveniente? A autoridade decisiva não é a vontade de Deus e as verdades bíblicas? Deus era muito exigente no pacto velho, ainda que ele era somente a sombra da realidade. Tudo precisa- va ser feito conforme o modelo que Deus lhes mostra- ra no monte, e com a maior exatidão. E seria indiferente quando à construção da obra eterna, que é a Igreja de Deus? Parece-me impossível! A opinião de Jesus era que, "a Escritura não pode ser anulada" (Jo 10.35) e: "Nem todo o que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus". (Mt 7.21.) E construir sua casa sobre a rocha, quer dizer obedecer as palavras que Jesus falava. (Mt 7.24-27.) Mas como saber a vontade de Deus? Temo-la revelada na Escritura, a qual não pode ser anulada, segundo as palavras de Jesus. Voltemos ao construtor como exemplo. Como é possível construir da maneira certa? Estudando e aceitando a planta, naturalmente, e fazendo tudo conforme o modelo que ela contém. Assim, também aqui, a Palavra de Deus precisa ser a nossa autoridade absoluta, a norma que resolve tudo, tanto na vida como na obra, e isso individualmente, como na Igreja. E creio que é isto que será posto à prova naquele dia. Paulo dava muita ênfase à "doutrina sã" e a "forma de doutrina" que ele ensinava. Ele tinha tanta convicção a respeito do seu ensino, que pôde afirmar que, se ele mesmo ou um anjo do céu pregasse outro evangelho, seria anátema. Ele tinha uma profunda compreensão do "mistério de Deus", e tinha certeza da mensagem que proclamava. Por isso sentia responsa- bilidade; sabia que era despenseiro. Um dia daria conta do seu serviço do ministério da palavra. O que importava foi sempre: "o que diz a Escritura?" O mistério que lhe tinha sido manifestado, o qual ele "demonstraria a todos" (Ef 3.2-9), precisava ser trans- mitido assim como lhe fora revelado. Nada podia ser acrescentado, nem tirado, e não podia ser misturado com ~eu concerto antigo como fariseu - precisava ser entregue conforme a revelação que Deus lhe deu. Isso seria o construir com "ouro, prata e pedras preciosas". Nessa maneira "a multiforme sabedoria de Deus" seria proclamada e manifestada pela obra magistral de Deus - a Igreja. E "a forma de doutrina a que fomos entregues" (Rm 6.17), é a mesma para todos os povos e para todos os tempos. Estava escon- dida no Velho Testamento, mas claramente revelada no Novo. A planta é bem compreensível. Ninguém precisa ficar na ignorância. Os construtores devem verificar como a planta do fundamento é feita; quem deve pertencer ao edifício; os serviços e ministérios que devem existir; as ligaduras que dão a união; a forma de governo que deve haver; a revelação do Espírito Santo que deve haver por meio dos dons espirituais; a manifestação da mente e caráter de Cristo, pelo fruto do Espírito Santo; sim, maneiras e métodos para o trabalho. Em suma: tudo que é preciso para que o corpo de Cristo possa estar bem e crescer na maneira certa, para poder revelar a Cristo e evangelizar o mundo, e se preparar para a união visível do seu noivo. Isto é, os servos do Senhor devem procurar chegar em harmonia! Procurar, com uma mente humilde, estarem prontos a aprender e entender a vontade do Senhor. E, fazendo isto, o Espírito Santo, sem dúvida, nos ajudará para que possamos edificar o que perma- nece, mesmo passando pelo fogo. Irmãos, temos uma responsabilidade extraordinária como construtores do reino de Deus. Deus é nosso chefe! Perante ele havemos de prestar conta e não trabalhamos com madeira e pedras, mas com almas imortais. Não construímos somente para o presente, mas para a eternidade, uma morada de Deus. (Ef 2.22.) A verdade de que a nossa obra será provada deve afugentar toda a leviandade de nós! O dia da prova do fogo há de consumir muitíssimo daquilo que se chama obra cristã. Pense nas muitas "doutrinas", regras e tradições que têm sido acrescentadas ao lado da Palavra de Deus! Pense nos métodos exclusivamente humanos e profanos, que se usam para fazer progredir a obra de Deus, métodos que são completamente alheios ao espírito e à letra do Novo Testamento. Para não mencionar o desejo de fama, poder e glória, que, muitas vezes são os fatores de estímulo na obra. Oh, que dia, quando Aquele que tem "olhos como chama de fogo" penetrar e avaliar nosso serviço! Na verdade, a questão será, se temos sido fiéis à revelação da vontade de Deus na Bíblia. Feliz quem ouvirá: "guardaste a minha palavra". (Ap 3.9.) Muito daquilo que havia sido grande e pomposo à vista dos homens, será reduzido a nada, enquanto aquilo que "foi feito em Deus" - o que estava em harmonia com o espírito e doutrina da Bíblia, e efetuado por meio dEle - permanecerá e receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, mesmo assim será salvo, se tiver construído na rocha eterna, Jesus Cristo. Mas a recompensa é perdida. Nada tem consigo. Apesar disto, é graça sobre graça que ainda se salve, mas - que triste - nenhuma recompensa, nenhum resultado da vida cristã!
 
Mas, pensando na possibilidade que temos de não somente sermos salvos, mas também levar conosco o resultado da vida cristã - receber recompensa! Não seria isso algo para almejar? Vamos consagrar nossa vida para este fim! É a vontade e o plano de Deus para conosco! "Daquele que é muito dado, muito se lhe requere- rá, e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá." (Le 12.48.)
 
 
UM ESTIMULO NA OBRA DE GANHAR ALMAS
 
 
"foi necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo ... " "Portanto, conhecendo o temor do Senhor, procuramos persuadir os homens." (2 Co 5.10,11.) Como vemos aqui, a convicção de um dia ser manifesto diante do tribunal de Cristo, era um dos estímulos fortes na vida de Paulo para ganhar almas para Deus. Há uma conexão bem clara entre os versos dez e onze. E que ganhador de almas não era ele? Já vimos alguém - excetoo Senhor Jesus - que assim se entregava e que sacrificava tudo para ganhar almas? Nem homens, nem o diabo podiam impedi-lo. Tribulações, sofrimentos e angústias nunca conseguiram diminuir sua coragem. Com fé vitoriosa, ele passava pelas mais difíceis circunstâncias. Ele tinha sempre o grande alvo em vista - salvar as almas duma eterna perdição. Isso foi sua paixão santa. Mas qual foi a força motivadora na sua vida? Vemos que ele era unido a Cristo em mente e natureza, ele morreu e Cristo vivia nele. Por isso era unido a Cristo em interesses e planos, os quais são, que os homens se convertam e vivam. Como o Senhor Jesus buscava os perdidos, sim, deu sua vida por eles, assim também Paulo. Ele tinha um desejo ardente e uma paixão santa de buscar os perdidos e os levar para Deus. Para isto entregou seus ricos talentos e sua brilhante capacidade, sim, sua vida - o amor de Cristo o constrangia. (2 Co 5.14.) Em segundo lugar, ele viu o valor das almas. Ele as viu como Deus as vê. O valor que Deus dá aos homens - que especialmente se mostra pelo sacrifício no Gólgota - tinha sido transferido, parcialmente, ao coração de Paulo. A tristeza que ele sentia pelo seu próprio povo, por exemplo, era tão dolorosa, profunda e intensa que nós outros nem podemos entender. Se prontificou a perder a eterna felicidade da sua própria alma, se com isso pudesse salvá-lo. Para ele a salvação duma alma significava: salvá-la de perdição e vergo- nha e trazê-la em harmonia com os planos de Deus para esta vida e para a vindoura. Em terceiro lugar - e isto se aplica especialmente ao nosso tema - pensando no dia em que prestaria conta, era incitado a ganhar almas. Ele tinha uma convicção santa de que também este aspecto do seu serviço seria pesado e provado. Onde muito fora dado, muito seria requerido. Paulo tinha convicção da sua chamada e eleição para revelar o mistério de Deus, do poder que em si operava, das riquezas de talentos naturais e dons espirituais que lhe foram confiados, e tudo com um fim - a extensão do reino de Deus. Tudo foi dado por Deus, e com o fim de servir ao seu reino e salvar as almas. O apóstolo era somente um despenseiro da multiforma graça de Deus, e como tal, teria que, um dia, prestar conta de tudo que havia recebido. (1 Co 4.1-5.) Por isso, não foi a apreciação ou o julgamento dos homens que pesava, mas o de Deus. Quando ele escreve acerca do "temor de Deus", não quer dizer o medo do pecador ou do escravo, que tem o castigo como motivação. Mas é o temor de filho - o medo de agravar ou entristecer aquele que ama. Paulo sabia que a vontade de Deus era absolutamente perfeita, e tinha receio de se desviar dela. Tinha medo de que a vontade de Deus na sua vida não se cumprisse. E não tinha sua vida como preciosa para si, contanto que pudesse completar sua carreira e o ministério que recebeu do Senhor Jesus. Que disposição sadia! Não podemos nos comparar com o Apóstolo Paulo, nem em talentos naturais, nem em dons espirituais, e também não fomos destinados a fazer o que ele fazia no reino de Deus. Ele é o único para todos os tempos. Mas o mesmo espírito, a mesma mente e o mesmo alvo devemos ter. Se não temos talentos, temos o mesmo evangelho, e o poder de Deus e os dons do Espírito Santo podemos buscar. E, com certeza, seremos equi- pados e preparados para desempenhar a tarefa e preencher o lugar para o qual fomos destinados. E oportunidades temos aos milhares: é somente aprovei- tá-las. Andamos no meio de multidões de almas imortais. E todos nós vamos dar conta de como aproveita- mos as oportunidades - não somente os pregadores. Todos devemos ser pescadores de almas! Não é lícito recusarmos este trabalho importantíssimo. Se o fizermos, estaremos sem desculpa. Escute a Palavra de Deus: "Livra os que estão sendo levados à morte, e detém os que vão tropeçando para a matança! Se disseres: Eis que não sabemos; porventura aquele que pesa os corações não percebe? E aquele que guarda a tua vida não o sabe? E não retribuirá a cada um conforme a sua obra?" (Pv 24.11,12.) Que linguagem poderosa e clara! Que recompensa será nossa? Encontraremos al- guém diante do tribunal de Cristo que nós ganhamos? Ou vamos ficar lá a sós? Será que as almas serão requeridas das nossas mãos? (Ez 3.18.) Almas que poderiam ser salvas, se nós tivéssemos feito o nosso dever! Oh, quão tremendamente sério é isto! Isso era visto pelo Apóstolo Paulo na perspectiva certa, o que o incitava ao serviço. Temos nós algo semelhante com que nos alegrar? O apóstolo foi perseguido como caça, foi chamado peste e instigador, foi apedrejado, açoitado, esteve em prisões, e morreu como mártir. Não teve consideração aqui, mas como vai brilhar quando o Senhor Jesus distribuir a recompensa. " ... e os que converteram a muitos para a justiça, brilharão como as estrelas sempre e eterna- mente." (Dn 12.3.) O que será a nossa sorte naquele dia? Oh, que alegria quando Jesus me buscar para si, se também eu alguma alma ganhei. A glória do céu ficará maior para mim, se estrelas na coroa tiver.
 
 
PRESTAR CONTAS PELO MINISTÉRIO DE LIDERANÇA
 
 
"Obedecei aos vossos pastores, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil." (Hb 13.17.) Em conexão com o ministério de pastor não se acha palavra mais séria do que essa. Quando essa verdade penetra ao íntimo, a gente fica quase com vontade de fugir do serviço. Mas que adianta? Não pode se ausentar da obra que Deus deu sem conseqüências sérias. Em vez disto devemos deixar a responsabilidade desse ministério incutir zelo em nós, e fazer-nos buscar a graça e o auxílio divino. É: Ele quem nos capacita para o serviço ao qual nos chamou. "Eles velam pelas vossas almas", se diz neste verso. Quantos de nós experimentamos isto como uma verdade real? Velar pelas almas! E, lembre-se, são almas pelas quais Cristo morreu! Elas são propriedade do Senhor! Almas que devem desenvolver-se e crescer para uma vida cristã sadia, vitoriosa e harmônica! Almas que chegarão ao belo céu, ou se perderão em trevas eternas, onde o tormento jamais findará! Que responsabilidade! E como alguém pode tomar essa tarefa levianamente? Infelizmente se faz muitas vezes. E a causa disto é que não vigia na sua relação para com Deus e para com os homens. A obra pode se tornar uma profissão, um meio de ganhar a vida, sim, às vezes uma ambição. É inconce- bível que isso aconteça numa chamada tão altruística, mas, infelizmente, a experiência da história da Igreja nos mostra que é assim. Pode se preocupar com a profissão, com o título, etc., e o objeto do seu serviço - as almas - ficam no plano periférico. Profissão, salário e honra se tornam o mais importante, e as almas ficam sem importância. Uma caricatura funes- ta daquilo com que um servo de Deus deveria se preocupar! Busca o que é seu em vez do que é de Deus. Isso acontecia muito no tempo de Paulo. Havia muitos aios, mas poucos pais. E tem se repetido em todos os tempos - também é muito comum em nossos dias. Os aios têm um senso bem desenvolvido a respeito de como tudo e todos devem ser e agir, e usam seu chicote com ousadia. Dizem: "eu amo a verdade, e quero dizer-lhes a verdade, mesmo que fique sozi- nho". E se continuam por muito tempo neste espírito, acabam por ficar só mesmo. Sim, poucos pais! Pais que possam .dizer: "vos retenho em meu coração." (Fp 1.7.) "Além dessas coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim, o cuidado de todas as igrejas." (2 Co 11.28,) "Meus filhinhos por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós." (GI 4.19.) "Nós nos apresentamos brandos entre vós, qual ama que acaricia seus próprios filhos. Assim nós, sendo- vos tão afeiçoados, de boa vontade desejávamos co- municar-vos não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias vidas, porquanto vos tornas- tes muito amados de nós. Assim como sabeis de que modo vos tratávamos a cada um de vós, como um pai a seus filhos." (1 Ts 2.7,8,11.) Se tivéssemos um sentimento de pais assim, nosso ministério seria bem sucedido e feliz.
 
As almas precisam ser admoestadas, exortadas e aconselhadas, mas não devemos esquecer que tam- bém precisam ser guiadas, consoladas e estimuladas. Elas têm necessidade de ser guiadas para pastos verdejantes e para águas tranqüilas. E, quando pre- cisarmos admoestar, oxalá que pudéssemos fazê-lo como Paulo, "com lágrimas" e "pela mansidão e benignidade de Cristo". Ele era como um pai amoroso e uma mãe meiga! Devemos lembrar que é muito mais fácil ser negativo do que positivo, tanto na pregação como no trato das pessoas. Nossa inclinação humana é reparar os defeitos e erros, e não como esses serão remediados. Por isso não é necessário ser dotado de grande inteligência, nem de espiritualidade especial para dizer como as pessoas devem ser, mas precisa-se de muita graça e sabedoria para trazer a palavra que liberta - que mostra a saída das dificuldades. Aqui está, realmente, um dos tropeços mais perigosos para os servos do Senhor! Nunca devemos esquecer que fomos enviados com o evangelho! E isto não acusa os que sinceramente reconhecem seus erros e os confessam, pelo contrário, Ele absolve e revoga a sentença. Isto é, as novas de alegria, cheio de graça, poderosa para salvar e transformar. Precisamos, com diligência e zelo - pela luz e auxílio do Espírito Santo - estudar e associar-nos à valorização que Deus faz das almas que havemos de velar. Quanto custaram a Ele de amor, sacrifício, cuidado e trabalho. Assim como o grande alvo e os gloriosos planos que ele tem com cada uma delas. Nossa responsabilidade é, de fato, muito maior do que a de um médico. O serviço dele é ligado ao corpo, e por isso somente o que é perecível; enquanto nosso serviço é concernente à alma, a qual vale mais do que o mundo inteiro, e por isso tem conseqüências não só para o tempo, mas para a eternidade. Isso deve nos impressionar fortemente, e levar-nos a examinar-nos a nós mesmos! Somos tão acostumados a dirigir o holofote da palavra na direção dos outros, que esquecemos a nós mesmos com facilidade. Mas é verdade, agora como antes! "Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino, persevera nisto! Porque fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem." (1 Tm 4.16.) Que promessa maravilhosa é ligada a essa exortação! Esta promessa também é nossa!
 
É verdade que temos de lidar com pessoas de todos os tipos. Uns são dispostos a ouvir e obedecer, outros são indolentes e contrários. Em alguns, o caráter cristão se forma em pouco tempo, enquanto em outros vai mais devagar. Mas, devemos lembrar; se os materiais são diferentes, e há o que é muito difícil para formar, Jesus morreu por todos, e Ele deixa a porta das possibilidades aberta para cada um em particular. E nunca esqueçamos, que nem sempre é a má vontade que faz alguém mais difícil, mas que a hereditarieda- de e o ambiente é um cargo pesado para muitos. São cheios de complexos e idéias erradas. Para eles não é tão fácil como parece para nós. As tempestades da vida têm maltratado a muitos. Desapontamentos, experiências tristes, condições e pessoas têm deixado feridas, medo, desconfiança e complicações no seu interior. E Deus que sabe e entende tudo e julga justamente, tem compaixão, paciência e clemência. Ele sabe que o vaso pode se quebrar no processo de formação, mas o toma de novo e coloca na roda. Assim é Deus! E não deveríamos aprender dEle? Além disso, não deveria a maneira com que Jesus tratava seus discípulos servir como exemplo para nós? Vê o que a paciência dEle conseguia! O Simão inconstante se tornou Pedro - o homem da rocha - e o filho do trovão, João, se tornou o apóstolo do amor. Sim, Deus pode! O ponderável é que os guias hão de prestar conta das almas que o Senhor lhes entregou. Vemos que alguns farão gemendo. Uns por causa de almas obstinadas, outros por causa da infidelidade própria. Feliz aquele que pode dizer: "Portanto, no dia de hoje vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus." (At 20.26,27.) Paulo não somente deu-lhes o evangelho, mas sua própria vida, e não pregava como aquele que queria agradar aos homens, mas a Deus, que prova os corações. (1 Ts 2.3,4.) Será um acontecimento sério o de darmos conta das ovelhas! Quando os olhos de Deus vão pairar sobre nosso trabalho. A aparência não será o impor- tante, mas a condição interna. Por que tenho trabalhado? Quais foram os motivos que me incentivaram? Qual o poder que me controlava? Eis o que vai ser provado. Haverá muitos - por certo - que vão prestar conta "com alegria". Serviam as almas com zelo e fidelidade, em amor, desinteressadamente. Lutavam pelas almas em oração, exortavam, corrigiam e admoestavam-nas com lágrimas. Consolavam e ani- mavam nos dias de adversidade. Inspiravam coragem, esperança e fé nas almas temerosas e duvidosas. Estimulavam-nas para serviço e labor e apontavam as riquezas em Cristo. Guiavam-nas para os pastos verdejantes das escrituras e as ajudavam a elevar seu olhar para a terra celeste. Foram fiéis na sua obra, e a recompensa os espera! Mas o caso é também muito sério para aqueles que são guiados. O pastor pode fazer sua obra com fide- lidade, mas as ovelhas podem ser obstinadas. Não querem ser guiadas. E por causa disto o pastor estará diante do tribunal de Cristo gemendo. Por isso diz a Palavra: "Obedecei a vossos pastores, sendo-lhes sub- missos." Quantos pastores não há, que têm a dolorosa experiência de admoestar com amor para ouvidos surdos! Aquele que ele queria guiar era como enfeitiçado. Assim que teria vontade de dizer como Paulo: "O insensatos, quem vos fascinou?" E ainda: "Estou perplexo a vosso respeito." Mas não seria útil para os hebreus que os seus guias prestassem conta com gemido. E isto se refere naturalmente a todos. Por isso peça a Deus um coração quebrantado e um espírito voluntário, para que seja seu desejo fazer a vontade de Deus. Tenha medo de todo desejo de oposição, e será uma alegria obedecer os guias - aqueles que Deus tem colocado para instruir e governar. Isto será útil para você tanto aqui, na terra como diante do tribunal de Cristo! As vezes se nota uma tendência de desprezo do governo espiritual. Temos um exemplo assustador na história de Israel. Uma parte do povo, com Coré como líder, se ajuntou contra Moisés e Arão e disseram: "Demais é o que vos arrogais a vós, visto que toda a congregação é santa, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a assembléia do Senhor?" (Nú. 16.3.) Não queriam respeitar a posição de lideranç~~te Deus havia dado a Moisés e a Arão. Não entraremos em pormenores aqui. Basta somente apontar o fim horrível desses rebeldes contra Deus e sua ordenança. Deus mostrou a Israel e a todos os povos que os ministérios que Ele ordenou, hão de ser respeitados. Não por causa da pessoa, mas por causa do ministério. Sempre se manifestava que ninguém pode ignorar ou se rebelar contra as ordenanças de Deus, sem conseqüências tristíssimas. Isto já temos visto, mas será revelado mais claro no dia de prestarmos contas. Deus permita que seja um dia feliz para todos nós! "Procura apresentar-te diante de Deus' aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade." (2 Tm 2.15.)
 
A IDEIA DA RECOMPENSA E CERTA?
 
Quando abordamos o assunto de recompensa, há muitos que se admiram e perguntam: será isto certo? Eles acham, em primeiro lugar, que revela falta de humildade. Devemos ser gratos se conseguirmos en- trar pela porta do céu! Segundo, muitos têm medo de que servir para ser recompensado os desvie da graça e os leve a uma vida de escravidão. E terceiro, não é o pensamento de recompensa que deve nos constranger a trabalhar, mas unicamente o amor. Acredito que é justo examinar-nos com relação a isso. Mas uma coisa é certa: a Bíblia fala muito a respeito de recompensa - galardão pelo serviço e trabalho fiel. E o galardão varia - "galardão segundo o seu trabalho". (1 Co 3.8.) Há diferença na perdição (Lc 10.12-15) e o mesmo acontece na glória - no dia da recompensa. Alguns hão de ver sua obra ou parte dela se queimar, e se salvarão como pelo fogo, en- quanto outros serão galardoados. Uns brilharão como o firmamento e outros como as estrelas. E como a lua, o sol e as estrelas são diferentes em fulgor, assim também será na ressurreição dos mortos. (1 Co 15;41,42.) Uns conseguem somente entrar, enquanto outros terão uma entrada ampla. (2 Pe 1.11.) E não seria injusto se fosse de outra maneira? Não temos nós as mesmas possibilidades? O que se exige é bondade e fidelidade - fidelidade no pouco. Deus jamais exigiria mais do que é justo. Ele exigirá conforme o que temos recebido de aptidão espiritual e natural, e conforme as possibilidades e oportunidades. E Ele abriu as portas das suas riquezas para todos nós. Ninguém tem razão para se desculpar. E seria em harmonia com as leis espirituais que a glória fosse igual para todos? Não deveria influir nossa maneira de viver? Sim, absolutamente! Pense, por exemplo, em alguém que vive uma vida egocêntrica e comodista, sem se dedicar à obra do Senhor ou salvação de almas, enquanto vemos um outro que se dedica inteiramente ao Senhor. Ele dedica seu tempo, seus talentos e suas forças à obra do reino de Deus, e a recompensa seria igual? Não, isto seria contra toda a justiça, e contra a lei concernente à semeadura e à ceifa. O lavrador sabe muito bem que ele não é capaz de fazer um único pendículo brotar da terra. É Deus que dá crescimento. A terra de si mesma produz fruto. Mas ele sabe também que o dever dele é arar, aplanar e preparar a terra. Recompensa pelo seu trabalho ele recebe na ceifa. Assim acontece em todos os setores da vida, também nos espirituais. Ninguém acha absurdo que o lavrador preguiçoso não tenha uma ceifa tão abundante como aquele que é diligente. É natural! E a graça não desaparece nisto. Não é Deus que, em Cristo, tem cuidado de nós? Não é Ele que nos escolheu para um serviço determinado? Não é Ele que nos preparou, tanto espiritualmente como humanamente, para efetuarmos e terminarmos este serviço? Nós não somos capazes, por nós mesmos. Nossa capacidade vem de Deus. Com isto a graça aumenta (Ef 3.8). Não somente salvo, mas cooperado r de Deus escolhido por Ele mesmo para o ser! É de se admirar que Deus não queira que recebamos a graça em vão? E seria absolutamente egoísmo esperar recompen- sa pela obra feita com fidelidade e perseverança? Não é algo que Deus ordena para nossa vida, que obra realizada seja remunerada? Moisés "tinha em vista a recompensa", e isto deu-lhe força para recusar os tesouros do Egito e entrar no serviço para o qual foi chamado. (Hb 11.26.)
 
E nosso Salvador "suportou a cruz" por causa do "gozo que lhe estava proposto" (Hb 12.2). E Paulo falou de exercer domínio próprio em todas as coisas, para poder correr e ganhar o prêmio - a coroa incorruptível (1 Co 9.25). Ele tinha uma paixão santa; alcançar o alvo e ganhar o prêmio. Isso nada tem a ver com a natureza de escravo, mas é livre que serve porque o amor enche o coração. É o filho que espera ver o sorriso do pai, porque sabe que está em harmonia com o desejo e a vontade do pai. É justamente assim que o filho se sente livre. O Senhor prometeu recompensa em relação aos diferentes serviços para os quais nos chamou. E como já foi mencionado - isto há de acontecer na vinda de Jesus. "Eis que venho breve e minha recompensa está comigo, para retribuir a cada um segundo a sua obra." (Ap 22.12.) Mais claro não pode ser dito. Será um dia de alegria para o ganhador de almas. Paulo o tinha em vista com grande expectativa. Ele escreve aos tessalonicenses: "Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória, diante de nosso Senhor Jesus na sua vinda? Porventura não o sois vós?'" (1 Ts 2.19.) As lutas, fadigas e os sacrificios tinham sido grandes. Ele tinha sentido dores de parto por eles, e tinha posto tudo de lado para ganhá-los para Cristo, mas agora se esqueceu de tudo. A gloriosa recompensa sobrepujou 'a tudo. "Os que converteram a muitos para a justiça resplandecerão como as estrelas sempre e eternamente." (Dn 12.3.) Quando Paulo escreve sua última carta, ele já sabe que o martírio o espera. "Já estou sendo derramado como libação - a partida está próxima." Que testemunho .maravilhoso ele nos dá: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o justo juiz me dará naquele dia, e não somente a mim, mas também a todos que amaram a sua vinda." (2 Tm 4.7-8.) Aqui vemos uma recompensa pelo serviço feito com perseverança. Um ministério que Paulo renun- ciava a tudo para poder completar. Ele não tinha sua vida como preciosa, em nada para si, contanto que completasse sua carreira e o ministério que recebeu do Senhor Jesus. (At 20.24.) Como está você, meu caro irmão? Você se esforça para alcançar o alvo? Ou deixa que outras coisas o distraiam na carreira? Conta-se das grandes competições de corridas, no tempo de Paulo, que os especta- dores apostavam grandes somas de dinheiro nos seus favoritos. Acontecia que usavam truques para poder distrair os competidores. Jogavam maçãs de ouro ou outras coisas brilhantes na frente deles. Se eles os pegassem, perderiam segundos preciosos, e com isto provavelmente a corrida. Não deixe alguma coisa perturbar a sua corrida. A recompensa o espera! Na carta de Tiago, e também em Apocalipse, podemos ler que a coroa da vida é prometida àqueles que perseverarem nas tentações, nos sofrimentos e no martírio. "Bem-aventurado o homem que suporta a provação, porque, depois de aprovado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam." (Tg 1.12.) "Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida." (Ap 2.10.) Na primeira carta de Pedro, capítulo 5 e versos 2-4 há a promessa da imarcecível coroa da glória àqueles que mostraram fidelidade no serviço como pastor. Ser um verdadeiro pastor exige cordialidade, abnegação e sacrifício. Não pode dominar, mas precisa ser um exemplo para o rebanho. Precisa exortar como um pai, e ser dócil como uma mãe - aconselhar, consolar e ajudar. É o rebanho de Deus que se apascenta; são as ovelhas e cordeirinhos do Senhor Jesus. São aqueles por quem o Senhor Jesus morreu. São propriedades dele. Graças a Deus! Ele observa quem faz seu serviço com fidelidade. E o galardão Ele entregará na presen- ça dos habitantes celestiais. Isso valerá mais do que todo o reconhecimento e recompensa aqui.
 
 
O SENHOR ESPERA JUROS E CRESCIMENTO
Mateus 25.14-30
 
 
O Senhor Jesus dá uma parábola aqui, que ilumina bem o nosso tema. (Leia também Lucas 19.12-26.) Um ho- mem ausentou-se do país, mas antes de viajar ele entregou seus bens aos seus servos, para sua administração. Depois de muito tempo ele voltou. então veio a hora de prestar contas, para aqueles a quem foram confiados os bens. Para dois deles foi um momento de alegria, para o terceiro de tristeza. Os primeiros receberam mais ainda. Deus pôde confiar-lhes maio- res riquezas, enquanto o infiel perdeu até o que tinha, e foi lançado nas trevas exteriores. É horrendo pensar nisto, ele foi chamado servo "mau" e "preguiçoso". Recebeu um talento que poderia dar juros e assim crescer para dois, mas ele o escondeu na terra. Ficou sem ser posto em movimento. Ele não aproveitava as possibilidades que Deus lhe deu. As oportunidades não foram usadas. Pode ler isto sem ser impressionado? Sem sentir a responsabilidade pesar sobre si? Na parábola das minas todos receberam a mesma quantia. Será que isto não se trata da salvação? Nela somos todos iguais. Temos o mesmo perdão e renasci- mento, somos todos filhos de Deus - e filhos com os mesmos direitos. Nosso Pai é bastante rico para com todos. Aqui não há diferença. Mas a respeito dos talentos havia grande diferen- ça, e ninguém tinha responsabilidade por mais do que havia recebido. Mas por isso tinha. E acredito que isto se refere às bênçãos e dádivas espirituais que temos recebido. e também à capacidade natural junto com as possibilidades e oportunidades. E aqui há grande diferença. Uns são mais dotados do que outros, e uns recebem um campo de serviço mais fácil do que outros. O que importa é que sejamos fiéis naquilo que Deus nos entregou, no lugar onde Ele nos colocou. 1:: comovente pensar que Deus tem um plano para cada um de nós. Que graça poder crer que não estamos neste mundo por acaso, mas pela vontade divina. E Ele tem-nos destinado para serviços deter- minados nesta vida. "Somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas." (Ef 2.10.) Sim, destinados para obras que estão esperando por nós. Devemos achar essas obras e andar nelas. Isto implica que perguntamos o que Ele quer e deixamos Cristo ser o Senhor. Andamos em jugo com Ele e obedecêmo-lo em tudo. Assim Ele dá o que precisamos para fazer o seu serviço. E dessa maneira construímos com "prata, ouro e pedras preciosas". Em Apocalipse 19.7,8 estão registradas algumas pala- vras admiráveis, que explica o que estamos falando: "São chegadas as bodas do Cordeiro, e já a- sua noiva se preparou, e foi-lhe dado vestir-se de linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são as obras justas dos santos." Isto não é escravidão! "Foi-lhe dado obras antes preparadas." Mas ela precisa vestir- se, andar nelas. Devemos descansar das nossas obras, mas não das de Deus. E devemos ter bem vivo em nossa mente, que embora sendo "libertos do Senhor", somos "escravos de Cristo" - "debaixo da lei de Cristo." (1 Co 7.22 e 9.21.) Quando efetuamos e completamos o plano de Deus, pela graça, sabedoria e força que Deus concede, as obras ficam feitas "em Deus", isto quer dizer dEle e por meio dEle. E passa- rão pela prova de fogo. Você acha que seria injustiça de Deus esperar rendimento daquilo que nos deu? Não é assim na natureza inteira? Um pequeno grão não tem a possibilidade de ser muitos? A terra não dá com multiplicidade o que recebe? Deveria reinar outra lei na vida espiritual? Aquele, com um talento, pensou que tudo seria bem, devolvendo o que ele recebeu. Nada foi esbanjado. Mas como se enganou! Pois o que Deus dá tem em si capacidade de força - se for usado da maneira certa - para alimentar e multiplicar. Por isso Deus exige rendimento. Pense na aptidão natural! Não é natural pensar que o de maior capacidade é destinado para um servi- ço maior no reino de Deus? Sua influência é maior do que a de um ordinário, se ele for fiel. 1:: conforme a fidelidade em relação à capacidade que contas serão exigidas dele. Mas sabemos, entretanto, que a maior capacidade nada vale na obra de Deus, se o poder de Deus e os dons espirituais não são ligados a ela e a usam. E será possível receber essas riquezas de Deus, riquezas tais que são uma manifestação de sua graça, sabedoria e poder, sem que elas dêem fruto e cres- cimento? Seria injustiça que Deus espere isto? Um bom dote natural não é dado para glória própria, e as bênçãos espirituais não são dadas para usufruto pessoal. São dadas para servir os planos de Deus e dar fruto para eternidade. O recebimento das dádivas de Deus, sejam naturais ou espirituais, não é um alvo em si mesmo, mas meios para servir o decreto do Deus onisciente. Foi por meio da graça que recebeu, que o apóstolo "trabalhava mais do que todos". (1 Co S.10.) O grande serviço era o resultado de graça recebida. O poder de Deus e os dons espirituais são dados para servirmos uns aos outros e construir o reino de Deus. "Servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale como entregando oráculos de Deus; se alguém ministra, ministre segundo a força que Deus concede; para que em tudo Deus seja glorificado por meio do Senhor Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o domínio para todo o sempre, amém." (1 Pe 4.10,11.)
 
 
DEUS ESPERA FIDELIDADE NA VIDA PRÁTICA 
E NAS COISAS MÍNIMAS.
 
 
Temos a tendência de pensar que a grandeza no reino de Deus consiste em experiências especiais, com emoções maravilhosas, visões e ministérios espirituais. Temos facilidade de espiritualizar tudo. Naturalmente, este lado tem seu lugar, mas é somente um lado. A graça de Deus e o cristianismo vivo são muito práticos. O Senhor Jesus revelou um cristianismo cotidiano! E se as nossas experiências espirituais não dão um resultado prático na vida cotidiana, realizando obras, nada nos adiantam. Isto também será provado diante do tribu- nal de Cristo. Não pense, todavia, que é somente o evangelista, o pastor ou o mestre que hão de prestar contas. Todos havemos de fazê-lo, Será julgado como temos aproveitado as possibilidades naturais e práticas que Deus nos deu. Não se trata de estar em posições notáveis.  É possível que a vontade de Deus para com você é que você seja um dos muitos soldados desconhecidos. Esses que, apesar de serem anônimos, são tão necessários para a vitória na batalha. Não se esqueça de que, aos olhos de Deus, o menor serviço tem valor, porque serve uma grande unidade. "Você foi fiel no pouco", foi dito ao servo bom. O menor membro é necessário no corpo, a pedra invisível no prédio, é tão indispensável como aquela na fachada. A menor roda numa máquina é tão importante como a maior. O detalhe mínimo precisa funcionar. Precisamos ser fiéis, tanto recebendo um como cinco talentos para administrar. Mas acho que o perigo é maior para aquele que recebeu pouco; é mais fácil ser ocioso e infrutífero. Entretanto, prestar conta, todos vamos fazer; para desapontamento de alguns e alegria de outros. Oxalá sejamos destes e não daqueles! Contudo, não serão as "grandes pregações", nem os "momentos exaltados" a serem avaliados, mas a graça de Deus realizada em obras práticas de amor. Aqueles que foram injuriados, escarnecidos e perseguidos por causa do nome do Senhor Jesus, receberão grande recompensa. (Mt 5.11,12.) Um jovem me contou que não se tinha passado um dia sequer, desde que foi salvo, sem seu pai o amaldiçoar por causa da sua atitude cristã. Para ele a recompensa será maior! O martírio de muitas esposas também receberá seu prêmio. Sim, todos que sofreram com ele, também serão glorificados com ele. A tribulação produz mais abundantemente um eterno peso de glória. A generosidade e a misericórdia terão sua recom- pensa. Se você convida para festa aqueles que não "possam retribuir", você não somente é bem-aventura- do aqui, mas terá recompensa na ressurreição dos justos. (Lc 14.13,14.) Assim é a doutrina de Jesus. Em Mateus 10.41,42 temos umas palavras notá- veis: "Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo. E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa." Por conseguinte, tudo que para nós parece peque- no e insignificante, a saber, dar comida e pousada para um servo do Senhor, e dar um copo de água fresca para um discípulo, é grande e de muito valor aos olhos de Deus, quando feito em espírito de amor e com os motivos retos.
 
Estes, aparentemente pequenos, serviços e obras de amor para com pobres, doentes e necessitados, e palavras de consolo e encorajamento para as almas abatidas e contritas, são de muita estima aos olhos de Deus. Porque isto está em harmonia com a mente e a natureza do Senhor Jesus, que se compadece daqueles que são angustiados e aflitos. Além disto, não nos causa elogios e louvor, e conseqüentemente é mais separado do nosso ego. E nestes atos, nossas qualidades melhores se revelam. Quero destacar com precisão nosso relacionamen- to ao "Mamom injusto", nosso uso dele. Justamente à luz do julgamento diante do tribunal de Cristo. Receio que muitos filhos de Deus não compreen- dem isto, da maneira bíblica. Pensam que eles mes- mos têm direito de decidir como usar seus bens materiais, e suas próprias necessidades têm preferência. Se sobrar alguma coisa para a obra de Deus, bom é! Não tem uma convicção definida de que as "primí- cias" pertencem ao Senhor, e que sua recepção no céu tem algo a ver com a maneira de administrarem os bens que Deus lhe confiou aqui. Alguém, por certo, pode achar que minha última afirmação é muito audaz, mas a Palavra de Deus indica que estou certo. Quando os crentes são dominados pelo pensamento de que eles têm o direito de aplicar seus bens segundo seu bel-prazer, e que há pouca ou nenhuma ligação entre a vida material e a espiritual, isto não deixa de ter conseqüências. Provavelmente gastam o máximo para seu próprio interesse, e, se possível, acumulam em bancos e em propriedades, enquanto o reino de Deus recebe o mínimo. Dando muitas vezes segundo o sentimento e o humor, e não conforme o plano de Deus. Mas, se não antes, diante do tribunal de Cristo, descobrirão seu grande erro, e mudarão de opinião. A Bíblia tem as mais severas admoestações para "aqueles que querem ser ricos". "Porque' o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se transpassaram a si mesmos com muitas dores" (1 Tm 6.9-10), e mais: "os que querem tornar-se ricos caem em tentações e em laço e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição." Pode ser dito mais claro e mais severamente a respeito do perigo do "Mamom da injustiça"? Não há poucos que apostataram da fé por não usarem as riquezas segundo a vontade de Deus. Isto a experiência nos mostra. Não é o propósito de Deus, que aqueles que têm sua pátria no céu, ajuntem tesouros para si aqui neste mundo. Naturalmente, é necessário que, por exemplo, um comerciante tenha capital para as finanças do seu empreendimento. Mas quem tem a compreensão espi- ritual certa, deseja - se a ele é confiado muitos bens materiais - dirigir sua vida e a da sua família, e também o seu comércio de maneira tal que o máximo pode ser aproveitado para os pobres e para a extensão do reino de Deus. É verdade que Deus espera isto, sim, Ele o exige! Os bens materiais nos são confiados para produzir o que é bom, e para serem transforma- dos em valores espirituais e eternos. E isto não se refere somente àqueles que receberam muitos bens mate- riais. A mesma regra é para todos. A "oferta da viúva pobre" sempre tinha muita importância para a pro- moção da obra de Deus. Todos devemos dar segundo as nossas possibilidades, e de coração. Jesus nos deu um ensino extraordinário e maravi- lhoso a respeito deste lado de nosso serviço a Deus. (Lc 16.9-12.) Há diversos aspectos nisto, mas quero espe- cialmente atrair nossa atenção para os valores espirituais que se ganham por meio da entrega do "Mamom injusto" ao serviço de Deus. Escute as palavras do Senhor Jesus: "Granjeai amigos por meio das riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos." O véu do nosso lar celeste está sendo descortinado, e podemos ver amigos nos dando boas vindas ali. Amigos que nós mesmos ganhamos, usando de maneira certa nossos bens materiais. Palavras extraordinárias, não é? Nunca tomou isto a sério? Aqui há sabedoria divina. O que é profano e efêmero pode ser transformado em valores espirituais e eter- nos. Nosso olhar é elevado do que é pequeno para o que é grande, do presente para o celeste, do que é perecível para o que é eterno. Isto é valorização à luz da eternidade! Nosso dinheiro nos ganha amigos para a eternida- de! Quando os crentes do Brasil - juntos com os santos de todos os lugares - chegarem ao lar celeste, hão de encontrar africanos, índios e almas de outros campos missionários, dando-lhes as boas vindas. Mos- trar-se-ão como amigos. Quando os crentes do Brasil se admirarem, esses seus amigos poderão dizer: "Vocês usavam seu dinheiro para enviar missionários para nos contar as boas novas do Evangelho. Por causa disto fomos salvos. Se não tivessem vindo, não tería- mos a oportunidade de ouvir e crer. Então não estaríamos aqui, mas na perdição." "Mas os mensageiros não poderiam vir se alguém não os enviassem. Por isso agradecemos-lhes, porque davam dos seus bens, e assim possibilitavam aos mensageiros saírem." Que graça maravilhosa! Podemos aplicar nosso dinheiro duma maneira tal que terá valor para a eternidade; permutando-o em valores celestiais. Que possibilidades para ajuntar tesouros no céu! Você provavelmente não tem muita aptidão para influenciar outros, mas pode fazê-lo indiretamente, susten tando outros que têm essa aptidão. Você pode ser a pequena roda que faz a maior movimentar-se, e, por isso, indispensável. Se você falhar, haverá conseqüên cias para aquele que é dependente de você. Isto é aflitivamente sério! Há muitos que querem ir, mas não podem. Falta dinheiro. Por isso uns têm que parar, e outros não podem começar. Há falta na casa de Deus, e as ofertas são retidas. E as conseqüências? Muitos ficam sem ouvir o Evangelho e se salvarem.
 
Como pode ter ousadia para usar tanto para si mesmo e tão pouco para espalhar a mensagem da salvação? Como pode, com consciência tranqüila ajuntar tesouros aqui, sabendo que com estes poderia salvar almas das trevas de perdição? Cuida da sua casa, enquanto a casa de Deus é desolada! Como pode fazer isto e ainda dizer que é salvo? Como pode ter ousadia para se aproximar de Deus em oração, enquanto usa egoisticamente as possibilidades que Deus lhe confiou? E como pode confiar na salvação que custou tudo para o Senhor Jesus, vivendo tão longe daquele espírito de sacrifício que impeliu o Senhor Jesus para o Gólgota? Você nem é fiel "no pouco", nas riquezas deste mundo, como Deus pode, então, confiar-lhe o que é "grande"? Os tesouros espirituais e verdadeiros? E como será o seu encontro diante do tribunal de Cristo, quando há de prestar conta? Terá amigos lá para lhe darem as boas vindas? O Apóstolo Paulo também tem umas palavras notáveis a dizer a respeito das riquezas deste mundo: "Mande ... que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos, entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida." (1 Tm 6.17-19.) O que nos diz isto? Senão que a generosidade, a liberalidade e as boas obras terão valor na eternidade! Enquanto você anda nas obras que Deus antes preparou, você se veste do "linho fino", que são as obras justas dos santos, e receberá o que fez por meio do corpo.
 
Sabendo que podemos servir ao Senhor com as nossas propriedades (Lc 8.3), e dessa maneira ganhar tesouros para a eternidade, o serviço se torna um privilégio. E não só isto, mas o nosso coração se prende ao lugar onde está o nosso tesouro. Há um acontecimento que tem me comovido muito, cada vez que tenho me lembrado dele ultimamente, e cabe mencionar aqui. É a respeito de um mui amado irmão, que recebeu mais das riquezas deste mundo, do que a maioria. Mas ele vive como um a quem foi confiado tudo isto por Deus, para administrar. Ele usa seu dinheiro para servir a Deus. Deixe-me mencionar um acontecimento especial, que tem tido resultados grandes e extensos. Penso nisto com muita gratidão a Deus.
 
Deus lhe falou que deveria construir um local para reuniões numa cidade grande, e ele obedeceu à voz divina. Não foi erguido num lugar central da cidade, nem numa circunvizinhança muito boa e bonita, naquela época. Mas, com o decorrer dos tempos, tem sido manifestado que era a vontade de Deus. As reuniões foram bem freqüentados, e uma igreja local se formou, porque almas foram salvas. Depois de uns anos compraram o local por muito menos do que custou. Mais tarde este local precisou de ser ampliado e a obra de Deus tem tido muito progresso naquela cidade. A maior escola dominical da cidade se reúne nesse local; e quando isto é escrito, essa igreja tem mais de mil membros. Muitos missionários saíram dessa igreja. Além disto, diversos obreiros - saindo dessa igreja - estão servindo ao Senhor na pátria.
 
Temos direito de pensar - humanamente - que esta obra tão florescente não teria existido, se aquele irmão não tivesse construído o primeiro local por sua conta. Com arrepio penso nos valores eternos, que provavelmente teriam sido perdidos, se ele não tivesse permanecido fiel! Agora essa igreja fica como um farol luminoso naquele bairro. Multidões têm sido guiadas até o porto da salvação; sim, milhares têm recebido bênçãos do Senhor ali. Somente a eternidade vai revelar o verdadeiro valor! E tudo isso só porque um homem se prontificou a servir! Oh, quantos se apegam tanto às coisas perecíveis! Mas um dia terão que deixar suas riquezas, e quão pobres ficarão no outro lado! Não ajuntaram tesouros ali, tesouros que nem traça nem ferrugem podem consumir.
 
Que triste. Tiveram as maiores possibilidades, mas não as aproveitaram! Conta-se de uma senhora rica e religiosa que teve um sonho. No sonho ela se viu no céu, e com um anjo a acompanhá-la, mostrando-lhe tudo o que havia ali. Ela viu as moradas dos santos. E aproximando-se de uma casa grande e bela, ela pensou: "Esta deve ser minha". Era acostumada a morar em casas desse tipo na terra, e por isso pensou que seria o mesmo no céu. Mas ficou sabendo que essa casa pertencia à sua empregada. Com o conhecimento disto, ela ficou na expectativa de receber uma ainda mais esplêndida. Estava ajustada à diferença entre as classes na terra. Ansiosa para ver a sua, o anjo a levou para uma casa pequena e simples. Decepcionada ela queria saber porque a casa de sua empregada era muito maior e melhor do que a dela. Então ela ficou sabendo que não tinha enviado material que desse para uma casa maior e melhor. Eles tinham feito o melhor possível com a escassez de material. A empregada Ana, ao contrário, tinha mandado material em abundância. Por isso tinha uma casa ampla e bonita. Isto foi só um sonho, mas cheio de sabedoria e verdade. É justamente o que a Bíblia diz., Entreguemos tudo à disposição de Deus! O que somos, o que temos, nosso tempo, nossas aptidões, forças e bens, sim, tudo! Depositemo-nos na Sua conta, para Sua honra, e para salvação, utilidade e bênção dos homens.
 
 
CONCLUSÃO
 
 
Os motivos de nossas obras e o espírito em que foram feitas pesarão mais na balança no dia em que elas serão provadas pelo fogo. O Senhor não pesa somente as ações (1 Sm 2.3), mas também os espíritos (Pv 16.2). Ele vê o que os homens não enxergam, por isso não erra no julgamento. Os desígnios dos corações serão revelados quando cada um receberá "o seu louvor" de Deus. (1 Co 4.5.) O servo fiel ouvirá: "Servo bom e fiel", etc. Bondade e fidelidade são resultados do caráter transformado. Notemos isto! Que bom que não se diz, por exemplo: "Servo afortunado e próspero", mas são recompensadas a bondade e a fidelidade. É inevitável que alguns sejam mais afortunados do que outros. Chegam no momento certo, para campos maduros, prontos para serem ceifados, depois de lutas de semeaduras. Sua tarefa é mais fácil e causa mais louvor pelos homens, do que o serviço daqueles que lavraram e prepararam a terra e semearam fielmente a palavra da vida. Mas o Senhor vai recompensar com justiça. E provavelmente a conta final aparecerá diferente do que julgamos pela nossa visão curta. Pense na diferença que há no cultivo da terra. E como é no sentido material, assim também é no espiritual. Que diferença não há em trabalhar no Brasil e no Tibete, por exemplo! No Tibete pode-se ajuntar umas poucas almas numa barraca para contar-lhes do sacrifício do Senhor Jesus, e há imensa dificuldade em ganhá-las para o Senhor Jesus. São gratos quando se consegue ganhar um por um. Enquanto no Brasil as almas se entregam em massas, e as igrejas crescem rapidamente. Alguém pensa que o galardão será menor para um missionário do Tibete, porque os resultados são me- nores? Não, absolutamente não! Meu coração se comove ao pensar nos mensageiros fiéis que trabalharam naquele país. Eles mostram uma fidelidade que muito ultrapassa a nossa, que trabalhamos num campo muito mais fácil. Os resultados grandes não são sempre causados somente pelo obreiro, mas muitas vezes pelas circuns- tâncias e acontecimentos favoráveis. Como também pequenos resultados não são sempre a conseqüência de pouca capacidade, carnalidade ou infidelidade por parte do obreiro. O tempo pode ser especialmente penoso e as circunstâncias difíceis. Pense na experiên- cia do "pregador de justiça", Noé! Mas alguém acha que a recompensa de Noé será pequena? Ele não mostrou uma fidelidade excepcional? Por isso a surpresa será enorme no dia da recompensa. Aquele que dos seus contemporâneos foi considerado digno de grande recompensa, provavelmente receberá pouco. Enquanto quem não se fez notável aqui, excederá em glória àquele que recebeu galardão durante seu ministério aqui. E justamente porque a vida interna é a que conta, o Apóstolo Paulo tinha a atitude que ele manifesta nas seguintes palavras: "Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano ... quem me julga é o Senhor." (1 Co 4.3,4.) Ele não se interessava pelo que as pessoas pensavam ou julgavam. Para ele importava somente o tribunal de Cristo. As críticas ou os elogios dos homens não o afetavam muito, mas sim, o que Deus - que conhece tudo - pensava da vida dele. Por isso ele apelava aos coríntios que não julgassem coisa alguma antes do tempo. Deixa isto com o Senhor, foi o conselho dele. Eles tinham desentendido, classificado e julgado Paulo, Apolo e Cefas, e com isto mostrado como eram desesperadamente humanos no seu julgamento. "Nada julgais antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor." (1 Co 4.5.) O julgamento humano é sempre imperfeito e por isso realmente sem valor. Os homens não vêem o coração, mas somente o exterior. Por isso o seu julgamento também é feito conforme o exterior, e não conforme o interior. Mas aos olhos do Senhor tudo é descoberto, e é com Ele que temos que tratar, tanto aqui como na eternidade. Oxalá que Deus,na sua misericórdia, possa purifi- car e santificar nossos motivos, para que "a fé que opera pelo amor" sempre seja o que nos constranja- amor a Cristo, à sua obra e às almas. Que nosso zelo seja o zelo de Deus, e que o nosso amor seja primordi- almente amor ao nosso noivo. Então nosso serviço será serviço a Deus e terá a marca da imortalidade. E importa perseverar até o fim para não perder parte da recompensa. Escute o conselho de João: "Olhai por vós mesmos, para que não percais o fruto do nosso trabalho, antes recebais plena recompensa" (2 Jo 8). É possível perder algo daquilo que ganhou pelo seu serviço, e assim parte da recompensa. Isto não é coisa séria? Não foi este pensamento que ajudou o Apóstolo Paulo? Note essa expressão forte: "Mas em nada tenho a minha vida preciosa para mim, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus." (At 20.24.) A carreira e o ministério dado por Deus precisavam ser completos. E por isso tudo foi posto ao lado, sua vida ele não tinha por preciosa. Oh, que comovedor! E que desafio para nós também! Ele comprovou na sua vida que não a tinha por preciosa. (Leia 1 Coríntios 4.9-13; 2 Coríntios 6.3-10 e 11.23-29.) Na verdade havia escassez de recompensa, honra e veneração aqui, mas imagine como ele vai brilhar na glória! Então ele será honrado e recompensado! Esta mesma atitude devemos ter todos nós! Não procurar estimação, honra e fama, mas buscar a honra e a glória do Senhor. E assim nossa entrada será ampla e rica. E quando o fim é bom, tudo é bom. O que Deus nos deu tem sido transformado em fruto para a eternidade, e a incumbência e a missão que nos foram entregues são completas. Tudo por Deus e para Deus. Nós somos somente instrumentos que apresentamos para o serviço. A obra de Deus em nós resultou em "querer e efetuar segundo a sua boa vontade". Por isso será escrito sobre toda a nossa obra - se permanecer - graça, graça! E Deus será glorificado por meio da sua própria obra. E assim a recompensa será realmente - recompensa de graça. "Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição; porque fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." (2 Pe 1.10,11.) 

 

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