As instruções ao Servo eram simples, claras e inteligíveis: “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive”. O servo também compreendeu o que havia no coração de seu Senhor: Sei que és “Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal”. Então o que acontece quando o coração e a vontade do Senhor não coincidem com o coração e a vontade do servo? O Servo nos dá a resposta: “me preveni, fugindo”. Fugir significa “Descer”. Ele desceu para Jope, desceu ao navio, desceu ao porão do navio e o Senhor o fez descer às profundezas, até os fundamentos dos montes. Quando ele desceu por sua própria vontade, ele adormeceu, porém, quando o seu Senhor o fez descer, ele desfaleceu. Mas recebeu um chamado para que despertasse e então respondeu, “Do SENHOR vem a salvação”. Quando retornou à terra, a simples e clara instrução foi repetida: “Levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive”. Ele foi, pregou, e Nínive foi poupada. E ele estava feliz? Não! Por que não? Continue a leitura.

 

JONAS O SERVO

 

Existem dois requisitos essenciais que cada um dos que creem precisa ter para adquirir aptidão prática e ser útil no serviço do Senhor. Estes são:

 

1. O desejo quebrantado

2. O coração quebrantado

 

Quando nossos desejos estão quebrantados somos capazes de discernir a vontade de Deus, quer seja para as dificuldades práticas do nosso dia-a-dia, quer para Seu serviço e ministério. Se na escola das grandes provações e tristezas aprendemos a julgar nossos próprios desejos perversos, seremos, então, capazes de experimentar “qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rom. 12.2).

 

Quando nosso coração, com suas próprias inclinações, tem sido quebrantado de uma maneira prática, Deus pode revelar a nós Seu próprio coração cheio de graça, amor e terna compaixão. Um desejo quebrantado nos torna aptos a servir ao Senhor, porém um coração quebrantado nos faz servir a Ele “segundo o Seu coração”, em espírito e verdade.

 

Jonas, corajoso servo de Deus, pensou que era apto, porém ainda não havia aprendido essas coisas. Ele estava ocupado com sua própria importância – com sua própria dignidade como um profeta – e se esqueceu de que era um profeta de Deus. Logo após receber um mandamento de Deus, tentou ir “para longe da presença do SENHOR”. Porém, o Senhor logo mostrou a insensatez de tal tentativa e Jonas teve que aprender algumas lições aniquiladoras – duas delas na barriga de um peixe e a terceira debaixo da aboboreira.

 

O que Jonas Aprendeu na Barriga do Peixe

 

Os primeiros dois capítulos do livro de Jonas nos ensinam duas verdades importantes. Primeiro aprendemos que não existe nenhum lugar que o braço de Deus não possa nos alcançar. Segundo, aprendemos que não existe nenhuma prisão da qual as mãos de Deus não possam nos libertar.

 

Talvez alguém suponha que Jonas, sendo profeta do Senhor, fosse muito inteligente e temente a Deus para executar a vã tentativa de fugir da presença do Senhor. Não vamos tratar o profeta de maneira tão dura, pois quão frequentemente não seguimos, como Jonas, as incitações dos nossos desejos naturais?! É fácil esquecer esta verdade tão importante na vida prática da fé, como expresso no Salmo 139:7: “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também”. Foi exatamente essa verdade que Jonas praticamente esqueceu.

 

Aparentemente ele deve ter pensado assim: “Deus deve ter intenções graciosas a respeito de Nínive me enviando com esta mensagem de aviso, e como resultado os ninivitas irão se converter de suas obras más e irão se arrepender. Deus, então, irá se arrepender do julgamento anunciado contra eles, e eu serei exposto como um profeta mentiroso”. A tentação no caso de Jonas não era pequena, mas onde estava sua fé? Onde estava sua confiança em Deus e o olho e coração focados na simples obediência pela fé? Será que Deus não era capaz de cuidar do caráter de Seu profeta?

 

Oh que coisa miserável é o ego, especialmente no serviço e ministério do Senhor! Seria melhor deixar milhões de almas de ninivitas perecerem do que o caráter do profeta de Deus ser impugnado! Nesta dispensação da Graça, a história da igreja nos dá testemunho dos tristes frutos de tal orgulho quando não julgado em alguns que são vistos como servos do bendito Senhor. Oh, que possamos aprender a ser pequenos diante dEle que uma vez foi o menor de todos os servos e que agora é exaltado à direita de Deus!

 

Jonas aprendeu duas coisas muito importantes na barriga do peixe:

 

1. “Os que observam as falsas vaidades deixam as suas misericórdias”, e

2. “Do SENHOR vem a salvação”.

 

A mais enganadora vaidade não está no mundo afora, mas dentro de nós mesmos. Jonas, em meio aos constantes apelos de seu serviço como profeta, não permitiu a si mesmo tempo suficiente para aprender, na luz da presença de Deus, a pérfida profundeza do seu próprio coração mau, ou ele não teria tentado “fugir da presença do Senhor” e não teria chegado à barriga do peixe. Jonas teve que aprender isso na profundeza dos mares, onde ele tinha a “sentença de morte em si mesmo”, para que ele “não confiasse em si mesmo, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Cor. 1:9). Ele teve que ter a mesma experiência que o apóstolo Paulo teria no futuro, mesmo que não na mesma altura e profundidade da medida Cristã do apóstolo. Mas mesmo um servo de Deus como Paulo, o Apóstolo da Glória, não podia ser poupado desta lição. Assim como aconteceu com Jonas e com o apóstolo, e da mesma forma com cada um de nós, é preciso experimentar “a sentença de morte em nós mesmos” antes que a vitoriosa e triunfante certeza da fé possa nos tornar superiores às dificuldades que nos rodeiam.

 

Cedo ou tarde, cada um de nós, como Jonas, tem que passar uma temporada “dentro da barriga do peixe” (frequentemente até mesmo várias temporadas), para aprendermos, como ele, esta difícil, mas tão importante verdade que “os que observam as falsas vaidades deixam as suas misericórdias”.

 

Do SENHOR Vem a Salvação

 

Porém, havia outra mas não menos importante verdade que Jonas tinha que aprender em sua prisão. Como temos visto, a primeira grande verdade teve que ser aprendida por ele nas profundezas do mar, quando ele estava desprovido de qualquer ajuda humana. Tão logo Jonas aprendeu completamente essa lição, consequentemente aprendeu a segunda que é: “do Senhor vem a salvação”.

 

Quando os israelitas chegaram ao Mar Vermelho e todos os meios de livramento humano foram descartados, somente as seguintes palavras foram ouvidas, “Não temais; estais quietos, e vede o livramento do SENHOR, que hoje vos fará” (Êx. 14.13). Somente quando o homem convertido, porém ainda legalista em Romanos 7, na “barriga do peixe”, reconheceu inteiramente o seu fracasso a respeito de suas próprias forças, ele percebe que a salvação e o livramento devem vir do Senhor e, então, exclama: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor”.

 

Assim foi com Jonas. Ele primeiro teve que aprender que “Os que observam as falsas vaidades deixam as suas misericórdias” e, então, que “do SENHOR vem a salvação”. Imediatamente “falou, pois, o SENHOR ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca” (Jonas 2:10).

 

O que Jonas Aprendeu Debaixo da Aboboreira

 

Jonas tinha que aprender agora, pelo murchar de seu próprio coração neste desapontamento, o que a terna piedade e misericórdia do coração de Deus são. Isso ele aprendeu debaixo da aboboreira milagrosa. O Senhor preparou essa aboboreira para o conforto de Jonas – uma aboboreira que cresceu durante a noite. Entretanto, o conforto que a aboboreira trouxe para Jonas durou pouco. “Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver” (Jonas 4:7-8). Em resposta à pergunta de Deus sobre sua ira, a linguagem do profeta assume um caráter desafiador: e ele responde, “Faço bem que me revolte até à morte” (Jonas 4:9).

 

Mas o que Jonas estava fazendo debaixo da aboboreira? Não estava ele esperando pelo julgamento de Deus, enquanto Deus estava esperando para ser gracioso? Mas o profeta ainda não tinha entendido essa mensagem da graça. A aboboreira deveria então ser despojada de suas folhas, para que então o profeta, desprovido da sombra que o beneficiava, pudesse aprender por seu próprio sofrimento a sua própria necessidade daquela compaixão, da qual ele tinha falta e pouco sabia como apreciá-la.

 

O Coração

 

Este exercício de consciência e de coração não pode ser evitado nem mesmo pelo mais excelente santo de Deus. A consciência deve ser alcançada “na barriga do peixe”, porém o coração deve ser tocado pelo murchar da aboboreira. Era a intenção de Deus que o coração, assim como a consciência de seu profeta (como todos seus servos) deveriam ser exercitados. Existem crentes cuja consciência tem sido verdadeiramente exercitada, mas por falta de exercício em seu coração, conhecem pouco sobre a compaixão de Cristo. Jonas entendeu, ainda que bem pouco, a terna misericórdia de Deus; ele tinha, entretanto, que aprender através do sofrimento a sua própria necessidade dela.

 

E disse o SENHOR: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu; e numa noite pereceu; E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” (Jonas 4:10-11). Jonas lamentou a decadência de uma aboboreira, porque isso o privava do alívio que ela tinha provido a ele. E não deveria ter Deus piedade de uma cidade como Nínive, com seus milhares de bebês [Deus sabia o número] que não podiam discernir sua mão esquerda da sua mão direita, e muitos animais? Assim então Deus tinha alcançado o coração de Jonas, e seu coração deveria ser quebrantado e também derretido sob o entendimento da Graça e Misericórdia de Deus.

 

O fato de o próprio profeta ter escrito este livro, registrando, dessa forma, seu próprio pecado e vergonha, nos prova completamente como não somente seu desejo, mas também seu coração foi quebrantado e humilhado sob o entendimento da graça de tão grande Deus. Que nós possamos também receber a instrução que Deus pretende nos passar, porque as coisas que aconteceram com Jonas foram escritas para nossa admoestação.

J.A. von Poseck (Adaptado)

 

SERVIÇO EFETIVO

 

Cristãos são sempre, em maior ou menor medida, afetados pelo espírito que predomina no mundo que os cerca. Nos primeiros dias do Cristianismo isso foi ilustrado pelos Coríntios que vivendo em uma cidade conhecida pela luxúria e libertinagem logo tiveram esses males aparecendo em seu meio. Uma das características mais marcantes dos nossos dias é essa superficialidade geral e a falta daquele propósito sério que a profunda convicção nos dá, e em lugar algum isso é mais dolorosamente proclamado do que na igreja de Deus.

 

Não falhamos normalmente em nossa vereda de testemunho sobre a terra por causa da falta de conhecimento, mas porque não estamos completamente dependentes dEle e, consequentemente ficamos pouco sensíveis. Nos assemelhamos a um lago que é largo, porém raso, ao invés de um poço que é pequeno em circunferência, porém profundo. É o homem de maior profundidade e sensibilidade que é mais efetivo no serviço do Senhor.

 

O Exemplo de Esdras

 

Tomemos Esdras como ilustração de um homem que foi muito afetado por seus companheiros. Falhas e transgressões começaram a aparecer no quebrantado remanescente de Israel que retornou da Babilônia e o velho pecado de misturar-se com pessoas de outras terras ameaçou arruiná-los novamente. Era de fato uma emergência. Esdras não chamou nenhum comitê; não trouxe nenhum plano elaborado de reforma para esse abuso; ele simplesmente sentiu essas coisas diante de Deus e como elas afetavam a Deus. Ele as sentiu de tal forma que rasgou suas roupas, raspou sua cabeça e sentou-se perplexo, até perceber a total extensão das coisas, então caiu de joelhos e começou uma oração de confissão memorável, dizendo: “Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face, meu Deus” (Esdras 9:3-6).

 

Então, assim como Esdras se comoveu, outros se comoveram com ele (Esdras 9:4). De fato, à medida que a obra de Deus, atuando no arrependimento e confissão, se aprofundava nele, o poder de Deus irradiou a outros através dele até que “ajuntou-se a ele, de Israel, uma grande congregação, de homens, mulheres e crianças; pois o povo chorava com grande choro” (Esdras 10:1). O resultado foi uma purificação nacional das suas falsas associações e, assim, a praga foi suspensa. Que contraste entre o barulhento e ineficaz mecanismo feito pelos homens e o conforto e a graça de um mover enviado pelos céus. Porém, esse mover foi enviado através de um homem sensível às coisas de Deus.

 

Testemunho de Jonas

 

Jonas ilustra outra fase de algo parecido. Ele era um dos pregadores mais efetivos da antiguidade. Mesmo direcionando a pregação a um povo de grande maldade e carregando uma mensagem de julgamento – sempre impopular –, ainda assim suas simples palavras produziram resultados surpreendentes. Toda a cidade de Nínive procurou a face de Deus e se converteu de seus maus caminhos (Jonas 3:5-9).

 

Por que havia tão extraordinário poder em sua mensagem? Não seria porque o homem que proclamou, “ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida”, tornou-se um exemplo prático de sua missão, por ele mesmo ter sido há pouco tempo subvertido? Jonas aprendeu na prática o que significa ser subvertido por Deus. Quando, na barriga do peixe, todas as ondas e as vagas passaram sobre ele, a agonia disso deve ter queimado em sua alma de uma maneira que jamais será apagada. Quando, então, esse homem prega uma subversão, existe um poder, uma pungência, uma velocidade celestial em suas palavras que seriam desconhecidas se ocorresse de outra forma.

 

É melhor para nós conhecer bem uma lição da escola de Deus do que amontoar uma multidão de conhecimentos de maneira superficial.

F.B. Hole (Adaptado)

 

JONAS – UM TIPO DE CRISTO

 

Em outros artigos desta revista, consideramos Jonas tanto como um servo quanto como um tipo da nação de Israel. Ambos os caracteres de Jonas, quer seja como Seu servo individualmente ou como Seu povo terrenal coletivamente, nos oferecem uma real imagem dos maravilhosos caminhos de Deus. Mas sem dúvida o mais precioso tipo retratado em Jonas é o que ele reflete do próprio Cristo.

 

À primeira vista, mal podemos pensar em alguém tão fora dos padrões como sendo um tipo de Cristo. Cristo foi o perfeito, um servo obediente; Jonas era intencionalmente desobediente. Cristo disse, “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10:9); Jonas claramente fez sua própria vontade. Cristo veio em amor e misericórdia para com aqueles que eram seus inimigos; Jonas preferia ver a destruição de milhares de pessoas, bem como dos animais, ao invés de “ser humilhado”. Cristo jamais fez uma coisa sequer para agradar a si mesmo; já o coração de Jonas estava ocupado consigo mesmo.

 

Na Morte e na Ressurreição

 

Ainda assim nosso bendito Senhor, enquanto andava na terra, estava satisfeito em comparar a si mesmo com Jonas de uma forma distinta, Jonas nos mostra uma ilustração notável da obra de Cristo. Se o caráter e comportamento natural de Jonas estavam muito distantes do nosso bendito Senhor Jesus, ainda assim, neste único aspecto, ele seria um tipo da morte e ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Quando nosso Senhor estava prestes a rejeitar Israel e alcançar as nações, Ele pôde lembrar-se que “uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas” (Mt 12:39). Jonas era um sinal para a nação de Israel de duas formas. Primeiramente ele era um sinal em sua pregação aos ninivitas. Nosso Senhor lembrou aos judeus que “os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas” (Lc 11:32). Jonas pregou um simples sermão por um único dia, ainda assim isso resultou em arrependimento de centenas de milhares de pessoas. E a contínua pregação do Senhor Jesus por aproximadamente três anos e meio trouxe somente poucos israelitas ao arrependimento. Entretanto, nosso Senhor também era um sinal para eles em Sua morte e ressurreição. Ele pôde dizer a eles: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12:40). (Alguns argumentam que nosso Senhor não esteve tanto tempo na sepultura, mas ao fazer esse comentário a Seu respeito, o Senhor Jesus simplesmente aderiu à maneira judaica de calcular o tempo, que contava metade de um dia como um dia completo.)

 

Fidelidade e Obstinação

 

Jonas era um servo infiel e obstinado, e foi somente através da amarga experiência de estar na barriga do peixe que ele aprendeu a obediência à vontade de seu Senhor. Mas houve Um que veio a este mundo não somente em obediência à vontade de Seu Pai, mas em feliz obediência. Ele também sofreu, muito mais do que Jonas sofreu, ainda assim Ele sofreu pelos pecados de outros. Foi por causa de sua obediência e sofrimento na cruz do Calvário que Deus pôde agir em graça, não apenas para com Jonas, mas também para com milhares na cidade de Nínive. Assim foi que Jonas, enquanto sofrendo o que parecia uma prisão sem esperança na barriga do peixe, pôde tipificar a morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus.

 

Jonas na barriga do peixe corresponde a nosso bendito Senhor debaixo da sentença de morte, então o Espírito de Deus dá a Jonas expressões em sua circunstância que excedem de longe qualquer terminologia humana. Por exemplo, ele diz, “do ventre do sheol gritei” (Jonas 2:2, JND); nosso bendito Senhor pôde dizer: “Pois não deixarás a minha alma no sheol” (Sl 16:10, JND). Jonas disse, “a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado por cima de mim” (Jonas 2:3); nosso Senhor disse em profecia, “todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim” (Sl 42:7). Jonas disse, “e entrou a ti a minha oração, no teu santo templo” (Jonas 2:7); nosso Senhor disse, “Eu, porém, faço a minha oração a ti, SENHOR, num tempo aceitável” (Sl 69:13). Todas essas expressões, e outras, eram sem dúvida ordenadas pelo Espírito de Deus, como sendo próprias para quem seria um tipo de nosso Senhor Jesus.

 

Comparação Contrastante

 

Jonas se assemelha ao Senhor Jesus também de outras formas. Com referência a Jonas, não poderia haver frutos – não poderia haver bênçãos – vindos do primeiro homem. Jonas, agindo na carne, fugiu da presença do Senhor e se recusou a ir a Nínive e pregar a mensagem dada a ele. Foi somente depois de ter passado através da tempestade no mar e passado alguns terríveis dias na barriga do peixe que ele estava pronto para pregar para o povo de Nínive. Foi somente, falando em figura, depois da morte e ressurreição, que ele estava apto para dar a mensagem que resultaria em benção para milhares. Assim também foi com nosso bendito Senhor. Ele pôde dizer no final de seu ministério terreno, “Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lc. 12:50). Então Ele também falou a alguns gregos que desejavam vê-Lo, “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24). Nosso Senhor de fato “instruiu muitos em retidão” (Is. 53:11 JND) durante seu ministério terreno, mas foi apenas em Sua morte que Ele foi capaz de “levar suas iniquidades” (Is. 53:11). Toda benção, quer no céu como na terra, flui da morte e ressurreição de Cristo; o tempo de Jonas na barriga do peixe e, em seguida, sendo vomitado na terra seca, é uma figura disso.

 

O Poder de Deus

 

Finalmente, Jonas reconheceu que se ele tinha que ser libertado, isso deveria ser pelo poder do próprio Deus. Depois de todas as expressões em sua oração na barriga do peixe – expressões que, como vimos, assemelham-se à linguagem profética de nosso bendito Senhor – Jonas finalmente diz, “Do SENHOR vem a Salvação” (Jn. 2:9). Então assim também fez o Senhor Jesus. Como uma Pessoa divina, Ele pode dizer, “Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2:19). Como o perfeito, Homem dependente, Ele pôde dizer, “Salva-me da boca do leão” (Sl. 22:21), e, “não me leves no meio dos meus dias” (Sl. 102:24). Sua ressurreição era o selo de que Deus, Seu Pai, tinha sido plenamente satisfeito e glorificado em Sua obra na cruz.

 

Sendo mostrado como um tipo de nosso Senhor Jesus, Jonas é acrescentado ao número de crentes do Antigo Testamento que tiveram suas falhas registradas para nós. Homens como Isaque, Moisés, Arão, Sansão, Davi e Salomão, para citar alguns, são todos figuras de Cristo de alguma forma ou de outra, ainda que falhas, e algumas vezes falhas sérias, tenham sido registradas sobre a vida de cada um deles. Tudo isto somente magnífica a graça de Deus, enquanto nos mostra que Deus procura aquilo que é de Cristo em cada um dos Seus, e Ele ama registrar isto!

W.J. Prost

 

JONAS – UM TIPO DE ISRAEL

 

O Livro de Jonas tem um caráter profético, mesmo que não contenha enunciados de predições como encontramos em Isaías e Ezequiel. O Cristo que estava por vir é claramente prenunciado nos três dias que Jonas esteve na barriga do peixe, e a história de Israel pode ser claramente percebida na desobediência do profeta e seus resultados para si mesmo e para os outros.

 

Era uma grande honra para Jonas ser selecionado para levar a mensagem de Deus para Nínive, a capital imponente da maior potência da terra em seus dias. Jonas deveria ter se esforçado para entrar nos pensamentos de Jeová a respeito desse assunto, para que fielmente representasse a Ele em meio as trevas pagãs. Nisso o profeta falhou miseravelmente. Da mesma forma, a nação de Israel foi divinamente escolhida para ser o canal de Deus para a benção de todas as pessoas na terra. “Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e meu servo, a quem escolhi” (Is. 43:10). Mesmo aquele que lê o Antigo Testamento de maneira mais superficial não pode falhar em ver que Israel ocupava o lugar central naquele momento. Aproximadamente quatro séculos depois do dilúvio, quando todas as recém-formadas nações se renderam à idolatria, Deus chamou a Abrão e o abençoou, mas isso tinha em vista uma benção universal. “E em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn. 12:3). Essa palavra foi confirmada e expandida depois da oferta de Isaque: “e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos; E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra” (Gn 22:17-18).

 

Um Modelo a Seguir

 

Nunca foi pretendido que esse grupo altamente favorecido fosse exclusivo. Até mesmo seu santuário deveria ser chamado de “casa de oração para todos os povos” (Is 55:7). Não parece que Israel deveria ser um povo missionário, propagando de maneira sincera o que eles sabiam sobre o único e verdadeiro Deus, mas eles certamente deveriam ser um povo modelo. Possuindo leis que eram perfeitas, sendo recebidas diretamente do céu, todos os seus caminhos deveriam ser de grande gozo para Deus e uma repreensão para as nações ao seu redor. Porém, tristemente, eles não foram verdadeiros quanto à sua posição privilegiada de separação a Deus; copiaram os caminhos maus de seus vizinhos e assim trouxeram para si mesmos uma repreensão severa – “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós” (Rm 2:24). Será um grande dia para todo o mundo quando Zacarias 8:23 se tornar verdade: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Naquele dia sucederá que pegarão dez homens, de todas as línguas das nações, pegarão, sim, na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco”.

 

Tão certo como a infidelidade de Jonas trouxe a tempestade sobre os marinheiros, também a infidelidade de Israel trouxe grande aflição para as nações em geral, assim como para suas próprias cabeças culpadas. Quando Jeová não mais suportou a iniquidade do povo escolhido, Ele enviou Nabucodonosor para castigar ambos, eles e as nações ao seu redor. Todo o sistema das nações, no qual Israel era o centro estabelecido divinamente, foi quebrado. A semente de Abraão se tornou assim uma maldição para a terra, e não uma benção.

 

A Paciência de Jeová

 

A paciência de Jeová tanto com Jonas quanto com sua nação, é notável. Quão graciosamente Ele batalhou com seu profeta perverso! E quão graciosamente Ele suportou a hipocrisia do remanescente judeu desde os dias de Esdras até a vinda do Senhor Jesus! Ainda assim, em vista de seu ódio, Ele pediu para que a figueira infrutífera tivesse mais um ano (Lc. 13:6-9). Mas o testemunho adicional do Espírito Santo depois que nosso Senhor retornou ao Céu foi todo em vão, e mais uma vez o povo foi retirado de sua terra e espalhado entre as nações. O lançamento de Jonas ao mar tipifica isto. O povo escolhido é agora um povo indesejável e um problema entre as nações. Toda a terra foi afundada em confusão e desastres por sua terrível transgressão contra o Senhor na qual Israel assumiu a posição de liderança.

 

A Graça de Deus

 

Mas o fluir da graça de Deus não é assinalado pelo pecado do homem; assim, enquanto Israel continua sem se arrepender, o Espírito Santo está trabalhando entre os Gentios, reunindo de entre eles milhares para receberem as bênçãos celestiais. Todos esses irão se manter em relação com Cristo como Seu corpo e noiva para sempre. A queda de Israel se transformou em riqueza para o mundo e sua perda, em riqueza para os Gentios (Rm. 11:12). Enquanto centenas de milhares de pessoas em Nínive estavam regozijando na Misericórdia de Deus, Jonas estava descontente e irado. De maneira similar, quando um número de gentios crentes em Antioquia estava cheio de gozo e do Espírito Santo, os judeus “encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava” (At. 13:44-52).

 

Uma Mudança Maravilhosa

 

Uma grande e maravilhosa mudança está vindo. A cegueira de Israel não é total; quando a totalidade dos gentios for reunida, “todo o Israel será salvo” (Rm. 11:25-26). Isso significa o remanente que crer, “Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos” (Rm 9:7). Os rebeldes obstinados serão lançados fora (Ez 20:38). A nação restaurada se levantará diante do mundo como se fosse ressuscitada dos mortos. A visão de Ezequiel do vale de ossos secos nos mostra isso (Ez. 37). Daniel 12:2 nos ensina a mesma coisa. Os mortos fisicamente não estão em questão, e sim a nação como tal que é mencionada. Depois de séculos de degradação na poeira, eles virão à tona no cenário político mais uma vez (como eles têm agora, desde que Fereday escreveu este artigo). O remanescente que creu irá desfrutar da vida eterna (em condições terrenais) e os rebeldes serão entregues à vergonha e ao desprezo eterno. O arrependimento de Jonas depois de ter ficado “três dias no coração dos mares” tipifica isso. As escrituras a seguir também devem ser lidas nesse contexto. Romanos 11:15; Oséias 6:2. Estando, então, em gozo da misericórdia, o povo, não como Jonas, irá distribuir benção de uma forma feliz aos demais. O Salmo 67 nos dá sua linguagem de regozijo naquele grande dia. Note as palavras “todas as nações”; “todas as extremidades da terra”; “Louvem-te os povos todos”; “cantai ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra” (Sl 97:1). Ai! Jonas não estava com humor para cantar enquanto contemplava a bondade de Deus para com os Ninivitas!

 

Toda a terra será grandemente abençoada na presença do Senhor Jesus, e Israel, completamente limpo do espírito de Jonas, irá se regozijar nisso. Deus será conhecido, não meramente como criador, mas em sua fidelidade, Jeová que cumpre suas alianças. “Assim eu me engrandecerei e me santificarei, e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o SENHOR” (Ez. 38:23). Esse resultado foi alcançado no caso de Jonas com os marinheiros. Eles se converteram de suas deidades vazias e eles “ofereceram sacrifício ao SENHOR, e fizeram votos” (Jn 1:16).

 

Quando Israel, depois de anos de rivalidade contra Deus e Seus benditos caminhos, perceber quão maravilhosamente Ele tem trabalhado, eles irão dizer como o apóstolo, “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11:33). Em deplorável imitação dos irmãos de José, eles intentaram o mau em tudo o que eles fizeram para com Cristo e seus santos, mas Deus em Sua perfeita sabedoria transformou isso em bem (Gn. 41:20). Ele será vitorioso no final, por cima de todos os trabalhos do inimigo, e cada propósito de sua graça alcançará um glorioso cumprimento.

 

O Profeta Murmurador

 

É triste que o Livro de Jonas termine com o profeta murmurando fora da cidade, enquanto dentro da cidade havia regozijos e paz. Nisso ele não foi um tipo de sua nação. Na futura era de bênçãos universais, Israel será o centro e coração de tudo isso. Com o Cristo que outrora foi rejeitado, porém agora honrado em seu meio, o povo estará feliz e se deleitará em ver todos felizes ao seu redor até mesmo nas partes mais distantes da terra.

 

Que o Deus de toda a graça nos conceda toda verdadeira grandeza de coração. Assim poderemos entender e aprovar Seus caminhos e encontrar gozo e proveito nele para nossos corações.

W.W. Fereday (Adaptado)

 

JONAS – GRAÇA PARA OS GENTIOS

 

A profecia de Jonas está no meio de sua história. Isso nos mostra que o profeta personificou em si mesmo o testemunho de Deus através de Israel para com os gentios (compare com Mateus 24:14), e também o importante fato de que Deus considera a contrição e conversão do mal de uma cidade ou nação. Foi ordenado a Jonas que fosse e clamasse contra aquela grande cidade de Nínive, mas, ao invés de obedecer, ele fugiu da presença do Senhor. Ele mesmo nos diz o porquê de ter fugido – ele sabia que Jeová era gracioso: se ele predissesse a destruição da cidade e Deus os poupasse, ele iria perder sua reputação (Jonas 4:2). O mesmo ocorreu com Israel: eles não podiam suportar que a graça fosse também demonstrada aos gentios (compare com Atos 13:45; 1Tess. 2:16). Jonas era um servo de Deus, mas infiel: sua infidelidade o levou à profundeza do julgamento, mas então ele personificou a verdade do testemunho que ele pregaria e ainda que proclamasse o julgamento, ele não estava preparado para a extensão da misericórdia para os gentios. Deus o parou em seu curso e, mesmo que ele estivesse dormindo, os marinheiros o chamaram para prestar contas. Depois de terem clamado a seus deuses, eles lançaram sorte e a sorte caiu sobre Jonas. Ele teve que confessar que estava fugindo de Jeová, o Deus dos céus, que fez o mar e a terra seca. Assim, Jeová foi feito conhecido entre aqueles marinheiros gentios. A obstinação dos judeus somente abriu mais a porta para a graça que deveria ir até os gentios. Podemos esperar que Jonas humilhasse a si mesmo antes de ter sido usado pelo Espírito para escrever sua própria história – uma história que nos mostra como era o coração, mesmo que de um servo de Deus, e os meios empregados por Deus para ensiná-lo.

 

A PROFECIA DE JONAS

 

“O profeta Jonas”. Essa foi a descrição do próprio Senhor em Mateus 12:39, mas aquele que lê de maneira mais superficial pode perguntar “onde estão as profecias?”. Certamente o livro de Jonas difere em caráter daqueles como Isaias e outros profetas. Suas ricas glórias, completamente desvendadas, e que ainda acontecerão, estão faltando nos capítulos de Jonas, mas a profecia está lá de qualquer forma. O fato é que o homem em si mesmo e a notável maneira com que Jeová lidou com ele constitui uma profecia, e uma profecia de caráter profundo e interessante. Nessa testemunha infiel, Deus nos ilustra Seus caminhos com a nação infiel à qual o profeta pertencia. Então existe tanto uma profecia quanto instruções morais no livro de Jonas. É uma profecia em figura.

 

A Palavra do Senhor

 

“E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença” (Jonas 1:1-2). A Jonas já haviam sido confiadas mensagens da parte de Jeová para Israel (2 Reis 14:25). Agora ele tem a distinta função de ser mandado “aos gentios de longe” (Atos 22:21).

 

É de uma honra impronunciável ser mensageiro de Deus em qualquer momento. Jonas, entretanto, não estava contente de ser mandado para pregar aos Gentios. Ele tinha sido de bom grado o porta-voz de Deus para proclamar coisas boas para sua própria nação, mas a uma nação estrangeira – um poder perigosamente hostil para Israel – já era outra questão! Mesmo depois de o Espírito Santo ter vindo do céu depois da exaltação do Senhor Jesus, Pedro tinha dúvidas a respeito de levar a mensagem do evangelho à guarnição romana em Cesareia (Atos 10). Até mesmo Cristãos, mesmo que divinamente separados do mundo pela graça e unidos a Cristo no céu, são às vezes influenciados pelo que está sendo dito e feito ao seu redor. Quão devagar somos para aprender o bendito significado do “seja quem for” de Deus! O coração de Deus com certeza vai de encontro igualmente a homens de todos os países e cores, e Ele deseja que “se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tim. 2:4).

 

A Atitude de Jonas

 

Jonas, ao escutar a palavra de Jeová, traçou sua rota para Jope. Ele iria fugir de Sua presença! Esforços vãos! Mas porque Jonas recusou a comissão divina de ir pregar aos homens em Nínive? A conhecida bondade de Deus era sua dificuldade, como vemos em Jonas 4:2. Ele estava certo de que se os ninivitas se arrependessem de suas maldades, Deus demonstraria misericórdia. Jonas sentiu que sua dignidade seria afetada se ele proclamasse um julgamento que não seria executado. Seria preferível deixar uma vasta cidade perecer a deixar sua credibilidade sofrer danos! Parece quase incrível que um homem nascido do Espírito poderia ser tão cheio de si e se comportar de maneira tão desprezível! Essa história, contada de forma tão simples, foi escrita como um aviso para todos nós. Se perdermos a comunhão com Deus, Sua terna compaixão se tornará estranha para nós. Sentimentos duros se formam e nos comportamos de maneira abominável. Com certeza devemos encontrar Jonas na Glória de Deus em breve (que como nós mesmos, era um pecador salvo por graça), mas, enquanto isso, procuremos ser o mais diferente dele possível em nosso serviço e testemunho para Deus.

 

Circunstancias Providenciais

 

Parece-nos uma providência que um navio estava prestes a partir para Társis quando o profeta desviado alcançou Jope, mas as circunstancias nem sempre são um fiel guia para os santos de Deus. Que não nos esqueçamos disso. Não se pode concluir que somente pelo fato de as circunstancias se encaixarem perfeitamente com nossos desejos, Deus ordenou tais coisas para nós. Jonas, cansado de sua jornada, desceu ao porão e logo adormeceu. “Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se” (Jonas 1:4). Tempos depois, Paulo foi exposto a uma grande tempestade no mesmo mar Mediterrâneo, mas o contraste entre Paulo e Jonas quando o perigo veio é muito impressionante (At. 27). O apóstolo estava viajando em direção a Roma de acordo com a palavra do Senhor em Atos 23:11, “Paulo, tem ânimo; porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma”. Com essas palavras soando em seu ouvido, Paulo agiu confiantemente. Sua dignidade moral através da tempestade foi excepcional. Ele quase tomou o comando do navio, mesmo que o dono do navio e o capitão estivessem a bordo. “Fora, na verdade, razoável, ó senhores, ter-me ouvido a mim”, ainda que Paulo não fosse um passageiro qualquer; ele era um passageiro em custódia! Em contraste, Jonas foi uma figura má entre os companheiros do navio e ele mereceu completamente toda a repreensão do mestre (Jonas 1:6).

 

Que nós não percamos a lição deste contraste. Um cristão que anda em comunhão com Deus está em um nível mais alto, mas um cristão sem comunhão é um espetáculo degradado. Os homens respeitaram a um, porém desprezaram o outro. Aquele será uma benção para os homens, mas o outro será uma pedra de tropeço ou até mesmo uma maldição!

 

W.W. Fereday (Adaptado)

 

DUAS MANEIRAS NAS QUAIS A HISTÓRIA DE JONAS É USADA NO NOVO TESTAMENTO

 

Devemos destacar que o caso de Jonas é usado no Novo Testamento de duas formas que não devem ser vistas como se fossem iguais. Ele é mencionado em testemunho para o mundo, pela Palavra de Deus – um serviço no qual o Senhor compara o Seu próprio trabalho; mais tarde, na barriga do peixe – uma circunstância usada pelo Senhor como figura do tempo que Ele estaria na sepultura. Jonas, por sua pregação, foi um sinal para os ninivitas, assim como o Senhor foi para os judeus, com os ouvidos e corações mais endurecidos do que aqueles pagãos que estavam longe de Deus.

 

Jonas também foi (em relação com o que aconteceu a ele em consequência de sua recusa a dar testemunho) um tipo daquilo que passou sobre Jesus quando tomou a pena do pecado do povo sobre si. Quando foi ressuscitado dentre os mortos, Ele se tornou o testemunho da graça e, ao mesmo tempo, a ocasião do julgamento para aqueles que O rejeitaram. Vemos em sua história que Jonas é uma notável figura moral de Israel – ao menos da conduta de Israel.

 

J.N. Darby (Adaptado)

 

“YOLO” – VOCÊ SÓ VIVE UMA VEZ

 

Foi somente pouco tempo atrás que percebi que essa tinha acabado de se tornar uma palavra legítima em inglês. Em uma edição recente da revista Time, um colunista chamou a atenção para algumas palavras novas que tinham sido introduzidas recentemente ao Dicionário Inglês Oxford. Uma dessas foi a palavra “yolo”, um acrônimo para a frase “You Only Live Once” (Você só vive uma vez). É de fato uma palavra de origens recentes, sendo popularizada pela música “The Motto”, cantada pelo cantor canadense Aubrey Drake Graham em 2011. O impressionante não é o uso da palavra, porque expressões similares já haviam sido usadas inúmeras vezes. Por exemplo, no século XX, a mesma frase, “você só vive uma vez” era geralmente atribuída ao comediante Mae West. Uma frase similar também foi usada pelo compositor Johann Strauss em 1855, e o autor alemão Goethe escreveu, em 1774, “uma pessoa só vive uma vez neste mundo”. Antes disso, a expressão em latim “carpe diem” (literalmente “aproveite o dia”) foi usada durante séculos com a mesma conotação. Porém, essas expressões eram pouco conhecidas e usadas se compararmos com o que ocorre atualmente. O que é impressionante é o quão rápido a expressão de Drake pegou e o quanto ela tem sido usada entre os jovens nos últimos anos. De fato, o próprio Drake se desculpou por difundir o uso da frase, dizendo que ele “não tinha ideia que se tornaria tão grande”.

 

A frase em si foi absorvida pelos jovens logo depois da música de Drake ter sido apresentada, e foi adotada como uma gíria em poucos meses, sem dúvida foi espalhada pelo que pode ser denominado o veículo turbinado das mídias sociais. É, em geral, utilizada para expressar o ponto de vista de que deveríamos aproveitar o máximo do presente sem ter muitas preocupações a respeito do futuro, e é frequentemente usada como uma justificativa para um comportamento impulsivo, imprudente ou irresponsável.

 

“Comamos e Bebamos”

 

Do ponto de vista mundano essa expressão é, para a maioria, usada pelos jovens e talvez defina a inclinação adolescente, um tanto comum, de testar os limites do comportamento aceitável. Mas o fato de a expressão ser tão adotada aponta para uma atitude mais profunda, nomeada de insatisfação extrema, frustração e talvez desilusão com o futuro do nosso mundo. Não podemos reviver o passado e o futuro deste mundo parece sombrio de uma perspectiva natural. Um aumento súbito do comportamento violento, uma escassez de recursos (particularmente comida), nacionalismo combinado com débitos de empréstimos que não batem, sejam eles públicos ou privados, que tem resultado em uma combinação de forças que o homem não consegue lidar. Como consequência, muitos estão adotando a atitude que o apóstolo Paulo alertou em 1 Coríntios 15:32: “Comamos e bebamos, que amanhã morreremos”.

 

Esta mentalidade surge porque o horizonte do homem natural é apenas este mundo; ele vê sua vida aqui como o começo e o fim de tudo. Mas mesmo aqueles que adotam esse ponto de vista estão começando a ficar preocupados. Como um escritor secular observou, nós realmente vivemos apenas uma vez, mas também devemos lembrar que morremos apenas uma vez. Até mesmo o mundo reconhece que às vezes um comportamento imprudente é fatal e, então, a vida aqui acaba.

 

“Depois da Morte o Julgamento”

 

Mas quão solene é contemplar a verdade das Escrituras que nos diz: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o Juízo” (Hb 9:27)! Mais do que isso, o homem que morre sem Cristo não morre apenas uma vez. As Escrituras nos dizem que no julgamento do Grande Trono Branco, “a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte” (Ap. 20:14). De nenhuma forma isso implica aniquilação, mas, ao invés disso, em um estado de total banimento da presença de Deus por toda a eternidade. Que pensamento terrível!

 

Um Chamado aos Crentes

 

Mas existe nisso um chamado para o crente? De fato, existe, porque nós também “vivemos apenas uma vez”, falando a respeito da vida aqui na terra. Desde que fomos levados a conhecer Deus através de Jesus Cristo e nos foi dada uma nova vida nEle, reconhecemos que fomos feitos para a eternidade e não meramente para o tempo. É triste ver, às vezes, cristãos (que deveriam estar vivendo para a eternidade) andando segundo o curso deste mundo e pondo seus corações em coisas terrenas. É verdade que não tememos mais o julgamento para o qual chamamos a atenção no parágrafo anterior, mas será que fomos deixados aqui simplesmente para desfrutarmos ao máximo, até que o Senhor nos chame para casa? Claro que não! Ao invés disso, fomos chamados para buscar a glória e nos ocuparmos com os interesses dAquele que nos ama e deu Sua vida por nós.

 

Muitos anos atrás, um jovem rapaz, quando pediram a ele que escrevesse em um caderno, antes de assinar seu nome escreveu o seguinte:

 

“Amor que transcende nossa capacidade,

Exige nossa alma, nossa vida, nosso tudo.”

 

Isto foi tirado de um hino escrito há muito tempo por Isaac Watts e sem dúvida expressa o anseio do seu coração. Mas, alguns anos depois, a jovem moça que era dona do caderno pediu ao pai daquele mesmo rapaz que escrevesse em seu caderno. Ele servia ao Senhor já há muitos anos e, enquanto ele examinava o caderno, viu o que seu filho tinha escrito. Então imediatamente escreveu abaixo dele:

 

“Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

 

Essas duas citações nos apresentam a soberania de Deus ao nos escolher e também nossa responsabilidade em responder ao Seu chamado. De fato, não somos de nós mesmos, mas Deus se deleita na resposta de nossos corações ao Seu amor e em uma vida aqui que é vivida para a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Nós realmente vivemos aqui somente uma vez, mas durante esta curta vida estamos construindo algo para a eternidade. Que sempre nos lembremos das palavras escritas por outro (C. T. Studd) que abdicou de muita coisa neste mundo para servir ao Senhor:

 

“Somente uma vida, logo será passado;

Somente o que foi feito para Cristo durará.”

W.J. Prost

 

PASSO A PASSO

 

Eu sei, ó SENHOR, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir os seus passos”. (Jr. 10:23)

Filho do meu amor, não tema ao amanhã desconhecido;

Não temas as novas exigências que a vida te faz;

Sua ignorância não é motivo para tristeza

Já que o que não conheces é conhecido por mim.

Tu não consegues ver os motivos ocultos

Dos meus mandamentos, mas em ti a luz ganhará;

Ande pela fé, inclinado em minhas promessas;

E à medida que fores, tudo se fará claro;

É um passo que vês – então vá adiante corajosamente;

Um passo é longe o bastante para a fé ver;

Tome isso, e seu próximo dever será dito a ti;

Porque passo a passo seu Senhor está te guiando

Não se assuste com os adversários;

Enfrente todos os perigos, menos a desobediência;

Tu marcharás adiante, todos os obstáculos vencendo;

Porque Eu, o Forte, abrirei o caminho

Portanto, vá alegremente à tarefa a ti designada;

Tendo minha promessa, e não precisando de nada mais,

Do que apenas saber, onde o futuro te espera,

E em todas as tuas jornadas irei à frente

F. J. Exley

(N.R.) Nessas passagens do VT Sheol tem o mesmo significado de Hades em algumas passagens do NT e significa ‘sepultura’ ou ‘abismo’ que está visualmente sob nós.

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