"Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, 
depois os que são de Cristo, na sua vinda.
Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, 
e quando houver aniquilado todo o império, 
e toda a potestade e força.
Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos 
debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.
Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, 
quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas,
 claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas.
E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo 
Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos."
 
1 Coríntios 15:23-28

 

"Este é, certamente, um dos textos prediletos para quem quer "tentar" desacreditar a divindade absoluta de Cristo, pois, tomado à primeira vista, seu conteúdo é composto pelos seguintes elementos claramente subordinacionistas:
 
a) O Filho reinará por um tempo determinado e limitado - Terá de entregar o Reino ao Pai, pois reinará até que todos os seus inimigos estejam postos debaixo de seus pés. O Pai, que recebe o Reino, reinará, ao contrário, para sempre.
 
b) Apenas o Pai será "tudo em todos" (ou, como verte a TM: "Será todas as coisas para com todos") - Nesse caso, o Filho fará parte do "todos" (juntando-se ao restante da criação), ao passo que o Pai será "tudo" para com todos.
 
c) O Filho assume uma condição de sujeição - Após entregar o Reino, o Filho se sujeitará ao Pai. Este, ao contrário, não poderia jamais estar sujeito ao Filho (1 Co 15:27).
 
Para resolver essas questões e entender corretamente a passagem, é preciso lembrar algo importante, a saber: as Escrituras não se contradizem. Muitas passagens, como já vimos, são claríssimas ao ensinar a igualdade de essência do Filho em relação ao Pai. Assim, não devemos supor que essa passagem de 1 Coríntios esteja ensinando o contrário do que o restante das Escrituras ensina com muita clareza. Com isso em mente, afirmamos o seguinte: seja qual for a explicação proposta, deve ficar de fora qualquer idéias de que Cristo seja ou será inferior ao Pai em sua essência ou natureza divina, uma vez que ele é Deus.
 
Passemos agora à análise dos problemas acima propostos, que reclamam solução:
 
No que diz respeito à primeira questão, afirmamos que Jesus não reinará por tempo determinado e limitado. Afirmar isso é o mesmo que dizer que as Escrituras se contradizem, pois outras passagens afirmam clara e inequivocamente que Jesus reinará para todo o sempre (Ap 5:13; 11:15; cf. Is 9:6,7 e Lc 1:33). 
 
Como fugir da aparente contradição ? A organização argumenta que Cristo reinará para sempre no sentido de que os resultados obtidos por seu reinado perdurarão eternamente sob a administração do Pai. 
 
Tal explicação não procede, pois os textos supracitados afirmam que o próprio Cristo reinará para sempre. O que o anjo Gabriel disse a Maria ainda é válido: "Não haverá fim do seu Reino". E no Apocalipse ouvem-se todas as criaturas afirmar que o poderio de Cristo será, assim como o do Pai, "para todo o sempre" (Ap 5.13).
 
O Incômodo para muitos está na parte da frase: "Pois ele tem de reinar até que... (achri)". O problema se resolve quando se dá ao termo "até" seu devido lugar no texto. Para os que creem que o reinado de Jesus será limitado, "até" é tomado como preposição que indica limitação. Este, porém, não é o único uso do termo "até", que também pode ser empregado como advérbio de inclusão. Por exemplo, na mesma carta (1 Coríntios), no capítulo 4, versículo 11, Paulo escreve: "Até agora (achri tes arti horas) estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa". Em 2 Coríntios 3.14, descrevendo o estado espiritual do povo judeu, Paulo escreve também: "Na verdade a mente deles se fechou, pois até hoje (achri gar tes semeron) o mesmo véu permanece quando é lida a antiga aliança..." (v.tb. 2Co 10.13,14 e Gl 3.19).
 
Deve-se concluir que, depois de escrever aos coríntios narrando suas tribulações e compartilhando suas necessidades, o apóstolo não mais passaria por elas? Ou que, no texto de 2 Coríntios, o véu não mais permanece sobre a mente dos judeus quando é lido o Antigo Testamento? De jeito nenhum! Paulo continuou passando por dificuldades em todo o seu ministério e até hoje o véu permanece sobre a mente do povo da antiga aliança. Assim, tomando-se por base o que foi exposto, precisamos afirmar como Agostinho: "Não devemos aceitar que Cristo ao entregar o Reino a Deus Pai, dele ficará privado".
 
Afirmamos então, à luz dos textos bíblicos supracitados, que Jesus continuará reinando mesmo depois de entregar o Reino ao Pai, pois não perderá sua igualdade com o Pai. Jesus será, portanto, eternamente Rei.
 
Fica, porém, uma pergunta no ar: Por que entregar o Reino, se depois ele continuará no domínio? A resposta está relacionada com o que foi mencionado no texto anterior: por ter assumido a condição humana, Cristo tornou-se Mediador entre a humanidade e a divindade, função que cumprira até certo tempo, quando entregará o Reino ao Pai. Deixando de exercer sua ação mediadora, visto que concluiu todo o desígnio divino, o Mediador se sujeita a fim de que Deus "seja todas as coisas para com todos". Nesse caso, o termo Deus no versículo 28 deve ser entendido como uma referência à comunidade trinitária, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Dá-se cabo, finalmente, da relação funcional. É o que parece presente na frase "o próprio Filho [na qualidade de Mediador] também se sujeitará". E agora Deus - a Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo -, que criou os céus e a terra, ou seja, o universo visível e invisível, torna-se tudo em todos, reinando para todo o sempre. 
 
Que o termo "Deus", utilizado no versículo 28, é uma alusão à Trindade, fica evidente pela seguinte razão: o texto afirma que Deus será "tudo em todos". Ora, o mesmo se diz de Jesus: "Cristo é todas as coisas e em todos" (NM). Essa idéia de domínio sobre tudo e todos é constantemente aplicada ao próprio Jesus Cristo e pode ser vista nas seguintes passagens bíblicas:
 
a) João 1.3 - Todas as coisas foram feitas por intermédio dele.
 
b) Filipenses 2.10,11 - Todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.
 
c) Colossenses 1.16,17 - Nele foram criadas todas as coisas; Todas as coisas foram criadas por ele e para ele; ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.
 
d) Colossenses 2.3 - Todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão escondidos nele.
 
e) Colossenses 2.9 - Toda a plenitude da divindade habita nele.
 
f) Hebreus 1.3 - Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder.
 
g) Hebreus 1.6 - Todos os anjos o adoram.
 
Assim como  afirma João Calvino: "portanto, restringir o termo Deus exclusivamente ao Pai, de sorte que se detraia ao Filho, nem é justo, nem correto".
 
É interessante notar também que, de acordo com Filipenses 3.21, Jesus tem o poder de "colocar todas as coisas debaixo do seu domínio". Em João 17.10, ele afirma que tudo o que é dele é do Pai, e tudo o que é do Pai e dele. Isso se dá porque Pai, Filho e Espírito Santo agem juntos (embora tenhamos mais referências do Filho em relação ao Pai).
 
Diante de tudo isso e de Hebreus 13:8, que afirma ser Jesus o mesmo ontem, hoje e para sempre, afirmamos, à luz da Bíblia, que ele será eternamente, por ser Deus assim como o Pai e o Espírito Santo, "tudo em todos".
 
Alguém talvez queira levantar a seguinte questão: "Em qual parte das Escrituras se diz que o Espírito Santo será tudo em todos?  A menção ao Pai e ao Filho existe, mas não há nenhuma que trate do Espírito Santo".
 
Para responder a isso, proponho as seguintes explicações:
 
1) Embora não haja referência explícita quanto ao domínio do Espírito Santo, pois ele não é mencionado no texto, podemos afirmar que ele, assim como o Pai e o Filho, será tudo em todos, pois, afinal, o Espírito Santo é Deus. E o Deus que será "tudo em todos" é a Trindade Santíssima: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
 
2) Não se pode falar de Reino de Deus e deixar de lado o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O apóstolo Paulo afirma que o Reino de Deus é "justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14.17).
 
3) A falta de referência explícita de uma pessoa da Trindade não significa que a passagem não se refira a ela. Por exemplo, em Mateus 12:31,32, Jesus afirma que a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Mas Jesus não mencionou o Pai. Ora, nem por isso alguém deve se sentir livre para blasfemar contra o Pai.
 
Além dessas razões que nos levam a crer que a Santíssima Trindade será "tudo em todos", temos o testemunho direto do apóstolo Paulo: "Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos" (1 Co 12.4-6)".
 
 
TM (Tradução do Novo Mundo - "bíblia", ou melhor, livros usados pelo grupo que designam-se "Testemunhas de Jeová")
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