AS TRÊS MANIFESTAÇÕES DE CRISTO

Cristo Se Manifestou, Comparece e Aparecerá

“Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora COMPARECER por nós perante a face de Deus; Nem também para a Si mesmo Se oferecer muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio; doutra maneira necessário Lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo: mas agora na consumação dos séculos uma vez Se MANIFESTOU para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-Se uma vez, para tirar os pecados de muitos, APARECERÁ segunda vez, sem pecado, aos que O esperam para a salvação.” (Hb 9:24-28).

A passagem citada nos coloca diante de três grandes fatos na vida de nosso Senhor Jesus Cristo. Fala do que nós podemos arriscar chamar de três manifestações distintas, nominalmente, uma aparição no passado, uma no presente e outra no futuro. Ele Se manifestou a este mundo a fim de fazer uma determinada obra; Ele agora comparece, no céu, para efetuar determinado ministério, e Ele aparecerá em glória. A primeira é a EXPIAÇÃO; a segunda, MEDIAÇÃO, e a terceira é o ADVENTO. Vamos discorrer um pouco sobre a primeira.

A Expiação

Esta é aqui apresentada em seus dois grandes aspectos, primeiro, quanto a Deus, e, segundo, quanto a nós. O apóstolo declara que Cristo Se manifestou “para aniquilar o pecado”; e também “para tirar os pecados de muitos” (Hb 9:26,28). Esta é uma distinção da maior importância, e que é pouco compreendida ou a que se dá pouca atenção. Cristo aniquilou o pecado pelo sacrifício de Si próprio. Ele glorificou a Deus quanto à questão do pecado em seu aspecto mais amplo. Isso Ele fez completamente independente da questão de pessoas ou do perdão dos pecados de indivíduos. Mesmo que todas as pessoas, desde os dias de Adão até a última geração, fossem rejeitar a graça de Deus ofertada, ainda assim seria válido que a morte expiatória de Cristo aniquilou o pecado – destruiu o poder de Satanás – glorificou perfeitamente a Deus, e colocou o profundo e sólido fundamento sobre o qual todos os conselhos e propósitos divinos podem repousar para sempre.

É a isto que João Batista se refere nestas memoráveis palavras: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). O Cordeiro de Deus efetuou um trabalho em virtude do qual todo vestígio de pecado deverá ser apagado da criação de Deus. Ele justificou perfeitamente a Deus bem no meio de uma cena em que foi tão brutalmente desonrado, na qual Seu caráter foi difamado e Sua majestade insultada. Ele veio efetuar isto a todo custo, mesmo pelo sacrifício de Si próprio. Ele sacrificou-Se a Si mesmo para preservar, à vista do céu, da Terra e do inferno, a glória de Deus. Ele efetuou uma obra pela qual Deus encontra-se infinitamente mais glorificado do que se o pecado não tivesse surgido. Deus deve colher resultados, em muito, mais ricos nos campos da redenção do que Ele colheria nos campos de uma criação que não houvesse caído.

Seria bom que o leitor ponderasse profundamente sobre este aspecto glorioso da morte expiatória de Cristo. Nós estamos aptos a pensar que o mais alto aspecto da cruz que podemos visualizar é aquele que envolve a questão de nossa remissão e salvação. Isto é um grave erro. Esta questão é divinamente estabelecida, como procuraremos mostrar; pois o menor é sempre incluído no maior. Mas deixemo-nos lembrar que nosso lado da expiação é o menor, o lado de Deus é o maior.

Era infinitamente mais importante que Deus fosse glorificado do que nós fôssemos salvos. Ambas as finalidades foram alcançadas, louvado seja Deus, e alcançadas por uma mesma obra, a preciosa expiação de Cristo; mas não devemos nunca nos esquecer de que a glória de Deus é de muito maior importância do que a salvação dos homens; e mais, que nós não podemos nunca ter uma consciência tão clara da última como quando a vemos fluindo da primeira. É quando vemos que Deus foi glorificado perfeita e eternamente na morte de Cristo, que podemos realmente entrar na divina perfeição de nossa salvação. A propósito, ambas encontram-se tão intimamente ligadas que não podem ser separadas; mas continua a parte de Deus na cruz de Cristo tendo sempre sua própria proeminência.

A glória de Deus sempre foi o mais importante no coração devoto do Senhor Jesus Cristo. Para isso Ele viveu, para isso Ele morreu. Ele veio a este mundo com o expresso propósito de glorificar a Deus, e desse grande e sagrado objetivo nunca Se desviou por momento algum, desde a manjedoura até a cruz. É verdade – santa verdade – que ao levar adiante este objetivo, Ele resolveu perfeitamente o nosso caso; mas a glória divina foi o que governou-O na vida e na morte.

Mas é no fundamento da expiação, vista neste seu aspecto mais elevado, que Deus tem procedido para com o mundo em paciente graça, misericórdia e tolerância por aproximadamente seis mil anos. Ele envia Sua chuva e Seus raios solares sobre o mau e o bom, sobre o justo e o injusto. É em virtude da expiação de Cristo – embora desprezado e rejeitado – que o infiel e o ateu vivem, e desfrutam as misericórdias diárias de Deus; sim, o próprio fôlego que eles empregam quando se opõem à revelação e negam a existência de Deus, eles devem a Ele por Quem eles vivem, se movem e existem (At 17:24-34).

Ao falarmos assim, não estamos nos referindo, em hipótese alguma, ao perdão dos pecados, ou à salvação da alma. Esta é uma questão totalmente diferente, e a ela nos referiremos em breve. Mas, olhando para o homem quanto à sua vida neste mundo, e olhando para o mundo no qual ele vive, é a cruz que forma a base do tratamento misericordioso de Deus, tanto para com um como para com o outro.

Além disso, é no campo da expiação de Cristo, neste seu mesmo aspecto, que o evangelista pode seguir “por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura” (Mc 16:16). Ele pode declarar a bendita verdade de que Deus foi glorificado com respeito ao pecado – Sua exigência foi satisfeita – Sua majestade foi justificada – Sua lei magnificada – Seus atributos harmonizados. Ele pode proclamar a preciosa mensagem de que Deus pode agora ser justo e ainda justificador de qualquer pobre e ímpio pecador que crê em Jesus. Não há obstáculo, não há barreira qualquer que seja.

O pregador do evangelho não deve ser constrangido por quaisquer dogmas teológicos. Ele está subordinado ao amplo e amoroso coração de Deus que, em virtude da expiação, pode fluir para cada criatura sob a abóbada celeste. Ele pode dizer a cada um e a todos – e dizer isto sem reservas – “VEM!” E não apenas isso, ele é compelido a “suplicar” a eles para que venham. “Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” (2 Co 5:20). Tal é a linguagem apropriada ao evangelista, ao arauto da cruz, o embaixador de Cristo. Ele não conhece outro limite que não seja o amplo e extenso mundo; e ele é chamado a lançar sua mensagem nos ouvidos de cada criatura debaixo dos céus.

E por quê? Porque Cristo aniquilou “o pecado pelo sacrifício de Si mesmo” (Hb 9:26). Ele mudou completamente, pela Sua tão preciosa morte, o terreno da relação de Deus com o homem e com o mundo, de maneira que, ao invés de Deus ter que relacionar-Se com eles no terreno do pecado, Ele pode relacionar-Se no terreno da expiação.

Finalmente, é em virtude da expiação, neste amplo e elevado aspecto, que todo vestígio de pecado e todo sinal da serpente deverá ser apagado do imensurável universo de Deus. Então deverá ser vista a plena força da passagem à qual nos referimos acima, “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).

Portanto, muito do que podemos chamar de aspecto primário da morte de expiatória de Cristo – um aspecto cujo estudo nunca poderá ser considerado demasiado. Um claro entendimento deste importante ponto iria remover uma grande parte da dificuldade de compreensão em relação à plena e desimpedida pregação do evangelho. Muitos dos honrados servos do Senhor encontram-se impedidos de apresentar as boas novas de salvação simplesmente por não enxergarem este aspecto amplo da expiação. Eles limitam a morte de Cristo apenas àquilo que diz respeito aos pecados dos eleitos de Deus; e, por conseguinte, acham errado pregar o evangelho a todos, ou convidar, sim, suplicar e implorar, a todos para que venham.

Que Cristo morreu pelo eleito, é algo que as Escrituras ensinam distintamente em inúmeras passagens. Ele morreu para a eleita nação de Israel, e para a eleita Igreja de Deus – a noiva de Cristo. Mas as Escrituras ensinam mais do que isso. Elas declaram que “Ele morreu por todos”; e que provou “a morte por todos” (2 Co 5:14Hb 2:9). Não há qualquer necessidade de se fugir da plena força e significado desta e de outras afirmações igualmente inspiradas. E além disso, cremos ser bem errado adicionar nossas próprias palavras às palavras de Deus para poder adaptá-las a algum determinado sistema doutrinário.

Quando as Escrituras afirmam que Cristo “morreu por todos” (2 Co 5:15), não temos o direito de acrescentar a palavra “… os eleitos”. E quando as Escrituras afirmam que Ele provou “a morte por todos” (Hb 2:9), não temos o direito de dizer, “… por todos os eleitos”. É nosso obrigação recebermos a Palavra de Deus assim como ela está, e reverentemente nos sujeitarmos ao seu ensino que tem autoridade em todas as coisas. Não podemos reduzir a Palavra de Deus a um sistema, assim como não podemos reduzir o próprio Deus a um sistema. Sua Palavra, Seu coração e Sua natureza são deveras profundos demais e muito abrangentes para que fiquem restritos aos limites do mais abrangente e melhor sistema teológico que o ser humano possa inventar.

Estaríamos, agora e sempre, descobrindo passagens das Escrituras que não se encaixariam em nosso sistema. Devemos nos lembrar de que Deus é amor, e que este amor irá se revelar a todos sem limites. É verdade que Deus tem Seus conselhos, Seus propósitos e Suas decretos; mas não é isso que Ele apresenta ao pobre e perdido pecador. Ele irá instruir e interessar os Seus santos a respeito dessas coisas, mas ao pecador culpado, sobrecarregado, Ele apresenta o Seu amor, Sua graça, Sua misericórdia, Sua prontidão para salvar, para perdoar e abençoar.

E que seja bem lembrado que a responsabilidade do pecador flui do que lhe é revelado, e não do que é secreto. Os decretos de Deus são secretos; Sua natureza, Seu caráter, Seu Ser são revelados. O pecador não será julgado por rejeitar o que não tem meios de conhecer. “E a condenação (ou juízo) é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.” (Jo 3:19).

Não estamos escrevendo um tratado teológico; mas sentimos ser um assunto da maior importância inculcar no leitor que sua responsabilidade, como pecador, está baseada no fato de que o aspecto da salvação de Deus, e da expiação de Cristo, é distinta e decididamente “para todos”, e não apenas para um certo número de pessoas da raça humana. A gloriosa mensagem é enviada para todo o mundo. Todo aquele que a ouve, é convidado a vir. Isso é apoiado no fato de que Cristo eliminou o pecado – que o sangue da expiação foi levado à presença de Deus – que a barreira que o pecado representava foi derrubada e abolida, e agora a poderosa onda de amor divino pode fluir livremente para o mais vil dos filhos dos homens.

Tal é a mensagem; e quando qualquer um crê nela pela graça pode ser plenamente informado de que não apenas Cristo eliminou o pecado, mas que Ele também carregou os pecados do que crê – os mesmos pecados de todo o Seu povo – de todo aquele que crê no Seu nome. O evangelista pode permanecer no meio de um grupo de milhares de pessoas, e declarar que Cristo eliminou o pecado – que Deus está satisfeito – que o caminho está aberto a todos; e pode murmurar o mesmo no ouvido de todo e qualquer pecador debaixo dos céus. Então, quando alguém tiver se sujeitado ao seu testemunho – quando o pecador arrependido, de coração quebrantado, que julgou a si próprio, recebe a bendita notícia – pode ser plenamente esclarecido de que seus pecados foram todos colocados sobre Jesus, todos carregados e levados para sempre por Ele quando morreu na cruz.

Esta é a doutrina claramente exposta em Hebreus 9:26,28; e temos um tipo admirável disso nos dois bodes de Levítico 16. Se o leitor abrir nesta passagem, encontrará ali primeiramente o bode morto; e em segundo lugar, o bode emissário. O sangue do bode morto era introduzido no santuário e espargido ali. Este era um tipo de Cristo aniquilando o pecado. Então o sumo sacerdote, em nome de toda a congregação, confessava todos os seus pecados sobre a cabeça do bode emissário, e este era então levado para uma terra desabitada. Este era um tipo de Cristo levando os pecados de Seu povo. Os dois bodes, tomados juntos, nos dão um panorama completo da expiação de Cristo, a qual, como a justiça de Deus em Romanos 3, é “para todos e sobre todos os que crêem” (Rm 3:22).

Isso tudo é muito simples. Remove muitas dificuldades de diante do sincero aspirante à paz. Estas dificuldades surgem em muitos casos devido aos conflitantes dogmas dos sistemas teológicos, que não têm base em lugar nenhum das Sagradas Escrituras. Nela, tudo é tão claro e simples quanto Deus pode fazer. Cada um que ouve a mensagem do gratuito amor de Deus é compelido, para não dizer convidado, a recebê-lo; e o juízo irá, com toda a certeza, cair sobre cada um e todos os que recusarem ou negligenciarem a misericórdia anunciada.

É totalmente impossível, para alguém que já tenha escutado o evangelho ou que tenha tido o Novo Testamento em suas mãos, escapar da terrível responsabilidade que repousa sobre si, de aceitar a salvação dada por Deus. Nem mesmo uma única alma poderá dizer: Eu não podia crer porque não fui um dos eleitos, e não obtive poder para crer. Nenhum se atreverá a dizer, ou mesmo a pensar assim. Se alguém pudesse se apoiar nisso, onde estaria então a força ou o significado destas flamejantes palavras? “Quando Se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do Seu poder; como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2Ts 1:7-8). Será alguém punido por não obedecer ao evangelho, se não for responsável em render-se a tal obediência? Certamente que não. “Não faria justiça o Juiz de toda a Terra?” (Gn 18:25).

Mas será que Deus envia o Seu evangelho às pessoas meramente para colocá-las sob responsabilidade e aumentar sua culpa? Longe de mim tal pensamento monstruoso! Ele envia Seu evangelho ao pecador perdido para que possa ser salvo, pois Deus não deseja que algum se perca, mas que todos possam chegar ao arrependimento. Todos, portanto, os que perecem não terão ninguém além deles próprios para responsabilizar.

É da maior importância que o leitor possa ser firmado no conhecimento e senso prático do que a expiação de Cristo proporcionou a todo aquele que simplesmente crê nEle. É esta, devemos admitir, a única base de paz. Ele aniquilou o pecado pelo sacrifício de Si mesmo; e carregou nossos pecados em Seu próprio corpo sobre o madeiro. É, portanto, impossível que qualquer dúvida quanto ao pecado ou culpa possa ser jamais levantada. Tudo foi “de uma vez por todas” estabelecido pela morte expiatória do Cordeiro de Deus.

É verdade – ah! como é verdade! – que nós todos temos pecado em nós; e que temos, a todo dia e hora, que julgar a nós mesmos e a nossa conduta. Algo que será sempre verdadeiro a nosso respeito, enquanto estivermos em um corpo de pecado e morte, é que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18). Mas então nada poderá jamais tocar a questão da perfeita e eterna aceitação de nossas almas. A consciência do crente está tão completamente purificada de toda sujeira e mancha quanto o será toda a criação. Se não fosse assim, Cristo não poderia estar onde está agora. Ele entrou na presença de Deus, para comparecer ali por nós. Isto nos leva agora a considerar o que vem a seguir: A Mediação

A Mediação

Muitas almas estão propensas a confundir duas coisas que, embora inseparavelmente unidas, são perfeitamente distintas, a saber, a mediação e a expiação. Sem enxergar a divina plenitude da expiação, estão de certo modo procurando que a mediação faça por eles o que a expiação já fez. Devemos nos lembrar de que, apesar de, quanto à nossa posição, não estarmos na carne e sim no Espírito, ainda quanto ao estado atual de nossa condição nós continuamos em nosso corpo. Estamos em espírito e, pela fé, sentados nos lugares celestiais em Cristo; mas ainda estamos atualmente no deserto, sujeitos a toda sorte de enfermidades, sujeitos a cair e errar de mil maneiras.

É para a provisão de nossa condição e necessidades atuais que a mediação, ou sacerdócio, de Cristo é designada. Louvado seja Deus por tão bendita provisão! Como pessoas que estão, no corpo, atravessando este mundo, nós necessitamos de um grande sumo sacerdote para manter o elo de comunhão, ou para restaurá-lo quando partido. Temos Um vivendo sempre para interceder por nós; e nem poderíamos passar sem Ele um momento sequer. A obra de expiação nunca é repetida; a obra do Mediador nunca é interrompida.

O sangue de Cristo, uma vez aplicado à alma pelo poder do Espírito Santo, não é nunca aplicado novamente. Pensar numa repetição é duvidar de sua eficácia e reduzi-lo ao nível do sangue de bezerros e bodes. Sem dúvida as pessoas não vêem assim, e certamente não iriam querer admitir isso, mas é isto o que realmente significa o pensamento de uma nova aplicação do sangue da aspersão. Pode ser que as pessoas que falam dessa maneira realmente desejem honrar o sangue de Cristo, e expressar seu próprio sentimento de indignidade; mas, na verdade, a melhor maneira de se honrar o sangue de Cristo é regozijar-se naquilo que o sangue fez por nossas almas; e a melhor maneira de demonstrar nossa própria indignidade é sentir e lembrar que éramos tão vis que nada além da morte de Cristo poderia resolver nosso caso. Éramos tão vis que nada além de Seu sangue poderia limpar-nos. Tão precioso é Seu sangue que não resta algo algum de nossas culpas. “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” (1 Jo 1:7).

Assim inalterável permanece o sangue para o mais débil filho de Deus cujos olhos perscrutam estas linhas. Todos os pecados perdoados. Nenhum vestígio de culpa permanece. Jesus está na presença de Deus por nós. Ele está lá como o Sumo Sacerdote diante de Deus – como um Mediador ou Advogado para com o Pai. Ele rasgou o véu com Sua morte expiatória – aniquilou o pecado – nos levou para junto de Deus em todo o valor e virtude de Seu sacrifício, e agora Ele vive para nos manter, por Sua mediação, no gozo do lugar e nos privilégios nos quais o Seu sangue nos introduziu.

Por esta razão o apóstolo diz que “se alguém pecar, temos” – o que? O sangue? Não, mas “um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo 2:1). O sangue efetuou a sua obra, e está para sempre diante de Deus em conformidade com seu completo valor às vistas dEle. Sua eficácia é sempre a mesma. Mas temos cometido pecado, ainda que seja apenas em pensamento, mas até mesmo esse pensamento é suficiente para interromper a nossa comunhão. É aqui que entra a mediação. Se não fosse pelo fato de Jesus Cristo estar sempre agindo por nós no santuário nas alturas, nossa fé iria certamente falhar em momentos em que não nos rendemos, em medida nenhuma, à voz de nossa natureza pecaminosa. Foi assim com Pedro naquela hora terrível de sua tentação e queda: “Simão; Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres (no sentido de ser restaurado), confirma teus irmãos”. (Lc 22:31-32).

Deixo que o leitor note isto. “Eu roguei por ti, para que…” – o que? Será que Pedro não poderia falhar? Não, mas que, tendo falhado, sua fé não se desfalecesse. Se Cristo não houvesse rogado por seu pobre e fraco servo, este teria ido de mal a pior, e de pior para “o pior”. Mas a intercessão de Cristo conseguiu para Pedro a graça do genuíno arrependimento, do juízo-próprio, do amargo pesar por seu pecado, e, finalmente, da completa restauração de seu coração e consciência, de maneira que sua corrente de comunhão – interrompida pelo pecado, porém restabelecida pela mediação – pudesse fluir como antes.

Assim acontece conosco quando, devido à falta daquela sagrada vigilância que deveríamos exercitar, cometemos pecado: Jesus vai até o Pai por nós. Ele roga por nós; e é por meio da eficácia de Sua intercessão sacerdotal que somos convencidos da culpa e levados a um juízo próprio, confissão e restauração. Tudo está fundamentado na mediação, e a mediação está fundamentada na expiação.

E pode-se muito bem afirmar aqui, do modo mais claro e incisivo possível, que não cometer pecado é o doce privilégio de todo crente. Não há porque ele deva fazê-lo. “Meus filhinhos”, diz o apóstolo, “estas coisas vos escrevo, para que não pequeis” (1 Jo 2:1). Esta é uma das mais preciosas verdades possuídas por todo aquele que ama a santidade: Nós não precisamos pecar. Vamos nos lembrar disso. “Qualquer que é nascido de Deus não comete (ou pratica pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” (1 Jo 3:9).

É esta a divina idéia do que seja um cristão. Ah, mas nem sempre a entendemos! Todavia, isto não toca, e nem pode tocar, a preciosa verdade. A natureza divina, o novo homem, a vida de Cristo no crente, não tem possibilidade de pecar, e este é o privilégio de todo crente: o de andar de um modo tal que nada mais que a vida de Cristo possa ser vista. O Espírito Santo habita no crente com base na redenção, para levar a cabo os desejos da nova natureza, de modo que a carne possa ser como se não existisse, e nada além de Cristo possa ser visto na vida do crente.

É da maior importância que esta idéia divina da vida cristã possa ser abraçada e mantida. As pessoas costumam perguntar: É possível que um cristão viva sem cometer pecado? Respondemos na linguagem do apóstolo inspirado: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis” (1 Jo 2:1). E de novo, usando a linguagem de outro apóstolo inspirado, “nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6:2).

O cristão é visto por Deus como morto para o pecado, e assim, se ele se rende ao pecado, está desprezando, na prática, a sua posição em um Cristo exaltado. Oh, infelizmente nós pecamos, e por isso o apóstolo acrescenta que “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2:1-2).

Isto concede uma plenitude maravilhosa à obra sobre a qual nossas almas repousam. Tal é a perfeita eficácia da expiação de Cristo, que temos um Advogado conosco (o Espírito Santo) para que possamos não pecar, e outro Advogado com o Pai (Jesus Cristo), para o caso de pecarmos. A mesma palavra traduzida como “Consolador” em João 14:16 é traduzida “Advogado” em 1 João 2:1. Temos uma Pessoa divina cuidando de nós aqui, e temos outra Pessoa divina cuidando de nós no céu, e tudo isso com base na morte expiatória de Cristo.

Será que isto quer dizer que, ao escrever assim estamos provendo uma concessão para que se cometa pecado? Deus nos livre! Já declaramos, e insistimos nisso, a bendita possibilidade de se viver em ininterrupta comunhão com Deus – de se andar assim no Espírito – de se estar tão preenchido e ocupado com Cristo – de modo que a carne, ou a velha natureza, não possa se manifestar. Mas sabemos que nem sempre é assim. Como diz Tiago 3:2, “todos tropeçamos em muitas coisas”. Mas nenhuma pessoa de sã consciência, nenhum amante da santidade, nenhum cristão espiritual, poderia ter qualquer simpatia para com os que dizem que devemos cometer pecado. Graças à Deus, não é assim. Mas que misericórdia é sabermos que quando falhamos há UM à direita de Deus para restaurar o elo partido de comunhão! Isto Ele faz ao produzir em nossas almas, pelo Seu Espírito que opera em nós – o “outro Advogado” – o sentimento do fracasso, nos levando a um juízo-próprio e a uma verdadeira confissão do erro, qualquer que seja ele.

Dizemos verdadeira confissão, pois é assim que deve ser, se for o fruto do trabalho o Espírito no coração. Não é dizer leviana e frivolamente que pecamos, e depois, com a mesma leviandade e frivolidade, pecarmos novamente. Isto é algo demasiado triste e perigoso. Não conhecemos nada que seja mais endurecedor e desmoralizante do que algo assim. Certamente, isso leva às mais desastrosas conseqüências. Vimos casos de pessoas vivendo em pecado e se satisfazendo a si próprias com uma mera confissão oral de seu pecado, para então voltarem a cometer o pecado vezes e vezes seguidas, durante meses e anos, até que Deus, em Sua fidelidade, fizesse com que a coisa toda viesse à tona e ficasse notório a todos.

Isso tudo é demasiado terrível. É a maneira de Satanás endurecer e iludir o coração. Oh, que possamos vigiar, e manter sempre uma consciência pura! Podemos descansar certos de que quando um genuíno filho de Deus é enganado ao ponto de cair no pecado, o Espírito Santo irá produzir nele uma consciência apropriada acerca do mesmo – irá colocá-lo em uma repugnância tal para consigo mesmo, em uma aversão ao mal, em um minucioso juízo próprio na presença de Deus – de um modo tal que não poderá levianamente cometer o pecado outra vez. Isso nós podemos aprender das palavras do apóstolo, quando diz: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e…” – preste muita atenção nesta parte – “nos purificar de toda a injustiça” (1 Jo 1:9).

Vemos aqui o precioso fruto da dupla mediação. E tudo isso é apresentado em sua plenitude nesta parte da primeira epístola de João. Se alguém pecar, o abençoado Paracleto nas alturas intercede junto ao Pai, pleiteia os plenos méritos de Sua obra expiatória, roga pelo que errou, com base em haver Ele carregado o juízo por aquele mesmo pecado. Então o outro Paracleto atua na consciência, produz o arrependimento e a confissão, e leva a alma de volta à luz na doce consciência de que o pecado está perdoado, a injustiça purificada, e a comunhão perfeitamente restaurada. “Guia-me pelas veredas da justiça, por amor do Seu nome.” (Sl 23:3).

Cremos que o leitor será capaz de entender esta grande verdade fundamental. Estamos cientes de que há muitos que encontram dificuldade em conciliar a idéia da intercessão com a verdade e uma perfeita expiação. Eles argumentam que, se a expiação é perfeita, que necessidade há de intercessão? Se o crente é tornado tão alvo como a neve pelo sangue e Cristo – tão branco que o Espírito e Deus possa habitar em seu coração – então o que pode ele desejar de um sacerdote? Se por uma oferta Cristo aperfeiçoou para sempre todos aqueles que são santificados, então que necessidade têm, de um Advogado, esses que estão perfeitos e santificados? Seria o caso de termos que, ou admitir a idéia de uma expiação imperfeita ou recusar a necessidade de um advogado?

Tais são os raciocínios da mente humana, mas não é esta a fé dos cristãos. As Escrituras nos ensinam com a maior precisão que o crente é lavado e está tão branco como a neve; que é feito agradável no Amado – completo em Cristo – perfeitamente perdoado e perfeitamente justificado por meio da morte e ressurreição de Cristo; que ele nunca entrará em juízo, mas passou da morte para a vida; que não está na carne, mas no Espírito – não na velha criação, mas na nova – não um membro do primeiro Adão, mas do último; que ele está morto para o pecado, morto para o mundo, morto para a lei, porque Cristo morreu, e o crente morreu nEle. Tudo isso é amplamente desvendado e constantemente inculcado pelos escritores inspirados. Diversas passagens podem ser facilmente utilizadas como prova, se fosse necessário.

Mas há, então, um outro aspecto do cristão que deve ser levado em conta. Ele não está na carne quanto à sua posição, mas está em seu corpo quanto à sua condição. Ele está em Cristo quanto à sua posição, mas está também no mundo quanto à sua existência. Ele está cercado por toda a sorte de tentações e dificuldades, e é, em si mesmo, uma pobre e débil criatura repleta de debilidades, insuficiente até mesmo para pensar em algo por si mesma.

E não só isso, mas cada verdadeiro cristão está sempre pronto a reconhecer que nele, isto é, em sua carne, não habita bem algum. Ele está salvo, graças a Deus, e tudo está eternamente estabelecido; mas então ele tem, como um que foi salvo, que passar pelo deserto; ele tem que trabalhar para entrar no descanso de Deus, e é aqui que entra o sacerdócio. O objetivo do sacerdócio não é completar a obra da expiação, visto que esta obra é tão perfeita quanto Aquele que a efetuou. Mas temos que ser levados através do deserto e introduzidos no descanso que está reservado para o povo de Deus, e para esse fim temos um grande Sumo Sacerdote que já passou para o céu, Jesus, o Filho de Deus. Sua simpatia e Seu auxílio são nossos, e não poderíamos viver um momento sequer sem eles. Ele vive para interceder por nós, e, por meio de Seu ministério no santuário celestial, nos sustenta dia após dia na completa eficácia e valor de Sua obra expiatória. Ele nos levanta quando caímos, nos restaura quando nos desviamos, repara o elo de comunhão quando rompido pelo nosso descuido. Em suma, Ele comparece na presença e Deus por nós, e efetua ali um ininterrupto serviço em nosso favor, em virtude do qual somos mantidos na integridade do parentesco no qual a Sua morte expiatória nos introduziu.

O mesmo ocorre tanto com respeito à expiação quanto à mediação. Só nos resta tratar do advento. Desejamos recordar em especial o leitor que, em se tratando da morte de Cristo, temos deixado totalmente intocado um ponto de grande importância, a saber, nossa morte nEle. Nós o faremos, se Deus o permitir, em outra ocasião. Trata-se de algo imensamente importante no que diz respeito ao poder de libertação, tanto do pecado que habita em nós, como do presente mundo mau e da lei. Há muitos que olham para a morte de Cristo apenas para perdão e justificação, mas não vêem a preciosa e emancipadora verdade de haverem morrido nEle e sua conseqüente libertação do poder do pecado neles. Esta última é o segredo da vitória sobre o “eu” e o mundo, e da libertação de toda forma de legalismo e mera piedade carnal.

Vimos, assim, de relance, dois dos importantes assuntos que nos são apresentados nos versículos finais de Hebreus 9, a saber, primeiro, a preciosa morte expiatória de nosso Senhor Jesus Cristo em seus dois aspectos, e, segundo, Sua plena eficaz mediação por nós à destra de Deus. Só nos resta considerar, em terceiro lugar,

Seu Advento

Este nos é aqui apresentado em conexão imediata com aquelas grandes verdades fundamentais com as quais já nos ocupamos, e que são, além do mais, aceitas e estimadas por todos os verdadeiros cristãos. É verdade que Cristo veio ao mundo para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo? Que veio carregar os pecados de muitos que, pela graça, depositaram sua fé nEle? É verdade que Ele subiu aos céus e está sentado no trono de Deus, para ali interceder por nós? Sim, louvado seja Deus, estas são verdades sublimes, vitais e fundamentais da fé cristã. Bem, então é igualmente verdade que Ele deve voltar outra vez, aparte a questão do pecado, para salvação. “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-Se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O esperam para a salvação.” (Hb 9:27-28).

Temos aqui o assunto mais do que nunca fundamentado. Tão verdadeiro quanto Cristo ter vindo a este mundo – tão verdadeiro quanto Ele ter estado deitado na manjedoura de Belém – ter sido batizado nas águas do rio Jordão – ter sido ungido com o Espírito Santo – ter sido tentado pelo diabo no deserto – ter andado fazendo o bem e curando a todos os que estavam oprimidos pelo demônio – ter gemido, pranteado e orado no Getsêmani – ter sido levantado na cruz maldita do Calvário e ter morrido, o Justo pelo injusto – ter sido colocado no túmulo escuro e silencioso – ter ressuscitado vitorioso ao terceiro dia – ter subido aos céus, para comparecer na presença de Deus pelo Seu povo – tão certo como tudo isso, Ele verdadeiramente deverá aparecer muito em breve entre as nuvens do céu para receber os que são Seus. Se recusamos uma coisa devemos recusar todas. Se questionamos uma, devemos questionar todas. Se não estamos certos acerca de uma delas, não podemos estar certos e todas, já que estão todas baseadas precisamente sobre o mesmo fundamento, as Sagradas Escrituras. Como sei que Jesus Se manifestou? Porque a Escritura o diz. Como eu sei que Ele comparece agora na presença de Deus? Porque a Escritura o diz. Como eu sei que Ele aparecerá, vindo outra vez? Porque a Escritura o diz.

Em suma, portanto, a doutrina da expiação, a doutrina da mediação e a doutrina do advento apoiam-se, todas elas, sobre um mesmo e irrefutável fundamento, a saber, a simples declaração da Palavra de Deus, e se aceitamos uma devemos aceitar todas.

Como é, então, que enquanto a Igreja de Deus em todas as épocas manteve e prezou pela doutrina da expiação e mediação, praticamente perdeu de vista a doutrina do advento? Como pode ter acontecido que, enquanto as duas primeiras foram conservadas como essenciais, a última tenha sido considerada dispensável? E vamos ainda mais longe e perguntar: Como é que um homem que não mantenha as duas primeiras é, justamente, tido como herege, enquanto que o homem que retém a última seja tido como pouco digno de confiança na fé ou como introdutor de uma doutrina estranha?

Que resposta podemos dar a estas perguntas? Oh! A Igreja parou de aguardar pelo seu Senhor. Expiação e mediação são mantidas por se referirem a nós; mas o advento foi virtualmente deixado de lado, porque é algo tão profundamente concernente a Ele. Diz respeito Àquele que sofreu e morreu nesta Terra na qual deveria reinar; Aquele que usou uma coroa de espinhos quando deveria usar uma coroa de glória; Aquele que Se humilhou à morte mais desprezível, quando deveria ter sido exaltado; Aquele diante de Quem todo joelho deveria se dobrar.

Com toda a certeza é por isso; e o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo olhará para isso e dará a sentença a Seu tempo. “Assenta-Te à Minha destra até que ponha a Teus inimigos por escabelo de Teus pés.” (Sl 110:1Hb 1:13) Aproxima-se rapidamente o momento em que Aquele bendito, que encontra-Se agora oculto aos olhos dos homens, aparecerá em glória. Todo olho O verá. Tão certo quanto Ele foi pendurado na cruz e está agora sentado no trono, deverá aparecer em glória.

Leitor, vendo as coisas como são, estará você entre aqueles que esperam por Ele? Esta é uma questão solene. Há aqueles que O buscam e há aqueles que não. É certo que será aos primeiros que Ele aparecerá para salvação. Ele virá e receberá os que Lhe pertencem, para que onde Ele estiver, eles estejam também (Jo 14). Estas são Suas próprias e amáveis palavras, faladas no momento de Sua partida, para o conforto e alívio de Seus entristecidos discípulos. Ele sabia que estavam atribulados com a idéia da Sua partida, e procurou confortá-los pela certeza de Sua volta. Ele não diz: Não deixem que seus corações fiquem atribulados, pois vocês logo Me seguirão. Não; o que Ele diz é: Eu voltarei.

É esta a esperança apropriada do cristão. Cristo está voltando. Estamos prontos? Estamos esperando por Ele? Sentimos a Sua falta? Lamentamos a Sua ausência? É impossível estarmos na verdadeira atitude de esperar por Ele se não sentimos a Sua ausência. Ele está voltando. Ele poderá vir esta noite. Antes mesmo que o Sol se levante, a voz o arcanjo e o som das trombetas poderão ter sido ouvidos no ar. E então? Ora, então os santos que dormem – todos os que partiram na fé de Cristo – todos os redimidos do Senhor cujas cinzas repousam nos cemitérios e sepulcros ao nosso redor ou nas profundezas dos mares – todos esses irão ressuscitar. Os santos que estiverem vivos serão transformados em um momento, e todos subirão para encontrar o Senhor nos ares (1 Co 15:51-541Ts 4:13-185:1-11).

Mas o que será do inconverso – do incrédulo – daquele que não se arrependeu – do que não estava preparado? O que será de todos esses? Ah! Esta é uma questão terrivelmente solene. Faz com que o coração estremeça ao refletir sobre aqueles que continuam em seus pecados – aqueles que se fizeram surdos a todas as súplicas e avisos que Deus, em Sua suprema misericórdia, lhes enviou semana após semana, ano após ano – aqueles que se sentaram ao som do evangelho desde a mais tenra idade, e que se tornaram, como costumamos dizer, acostumados ao evangelho. Que horrível será a condição de todos esses quando o Senhor vier buscar os que Lhe pertencem! Serão deixados para trás; deixados para sucumbir ao profundo e turvo engano que Deus irá, com toda a certeza, lançar sobre todos os que ouviram e rejeitaram o evangelho. E então? O que se seguirá a esse profundo e turvo engano? A mais profunda e negra maldição no lago que queima com fogo e enxofre.

Oh! Será que não deveríamos tocar o alarme aos ouvidos de nossos próximos que ainda estão no pecado? Não deveríamos cuidadosa e solenemente avisá-los para que fujam da ira vindoura? Não deveríamos buscá-los pela palavra e pela ação – pelo duplo testemunho dos lábios e da vida – colocando diante deles o grave fato de que o Senhor está ao alcance da mão? Possamos nós sentir isto mais profundamente, e então exibir isto com maior fidelidade. Há um imenso poder moral na verdade da vinda do Senhor, se ela estiver realmente arraigada no coração e não apenas na cabeça. Se os cristãos tão somente vivessem na habitual expectativa do advento, isso iria testemunhar extraordinariamente aos inconversos ao redor.

Que o Espírito Santo possa reviver no coração de todo o povo de Deus a bendita esperança do retorno do Senhor, para que possam ser como homens que esperam pelo seu Senhor, para que, quando vier e bater à porta, possam abri-la, para Ele, imediatamente.

C. H. Mackintosh

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