44)  A Confissão de Pedro
 
Mt 16:13-20 - (Mc 8:27-30; Lc 9:18-21). 
 
1. O TESTEMUNHO DOS HOMENS 
O Senhor Jesus, não reconhecido nem aceito pelo povo de Israel, antes até blasfemado pelos seus guias(Mt 9:34; 12:14, 24), descreve todo o povo como uma geração má e adúltera. "E, deixando-os ,retirou-se" (Mt 16:4). Agora, o Senhor pergunta seus a discípulos a respeito do parecer dos homens com relação à Sua pessoa para, em seguida, ouvir também a opinião dos próprios discípulos. Por quê? Importava a Ele a opinião dos homens? Não; mas, do conhecimento do Senhor Jesus e da opinião correta a respeito dEle depende a salvação eterna da alma. Por meio desta pergunta evidenciou-se quão cegos os homens são com relação a Deus (2 Co 4:3-4). 
 
2. O TESTEMUNHO PELA BOCA DE PEDRO 
Havia a necessidade de uma operação ou manifestação por parte de Deus, para que se pudesse reconhecer o Senhor Jesus. Os homens dão testemunho errado do Senhor Jesus, mas Pedro, ensinado por Deus, dá o testemunho correto em nome dos discípulos e de todos os verdadeiramente crentes: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo". Pedro reconheceu, por meio de uma revelação de Deus, o Pai, que o Senhor Jesus era mais do que os profetas: Jeremias, Elias, João Batista, etc... Ele era o próprio Cristo, o Messias prometido aos pais", o filho de Deus. - Quem, antes o havia reconhecido assim? Foi Natanael (Jo 1:49). E quem mais tarde? Marta (Jo 11:27). O judeu crente esperava pelo Messias, o filho de Deus (*Salmo 2, 6-7, 12). Mas Pedro acrescenta: "O Filho do Deus vivo". 
 
3. O SIGNIFICADO DESSA CONFISSÃO 
Como filho do Deus vivo, possuidor, Ele só, da imortalidade (1 Tm 6:16) (isto é, possui vida por Si mesmo desde a eternidade), assim, também, o Senhor Jesus tem poder para dar vida (Jo 5:21:26). Jesus Cristo, não reconhecido pelo Seu povo como o Messias prometido, anuncia agora aos seus discípulos, que o haviam reconhecido, uma coisa nova: a fundação da Sua Igreja (ou "Assembleia"). Ele diz a Pedro:
 
"Tu és Pedro (isto é: uma pedra), e sobre esta Rocha# (Que é Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo) edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." 
 
4. A FUNDAÇÃO DA IGREJA
A Igreja, naquele tempo, portanto, não tinha sido ainda edificada ou fundada. O Senhor queria edificá-la ou fundá-la. Quando ocorreu a fundação, ou a colocação do alicerce da Igreja? Foi quando Jesus Cristo morreu e ressuscitou triunfante, enviando em seguida o Espírito Santo, Desde então, Cristo por meio do Espírito Santo, acrescenta continuamente pedras vivas a essa edificação. Todo  o verdadeiro crente, velho ou moço, ensinando por Deus para poder testemunhar com fé viva e de coração, que Jesus Cristo é o Filho do Deus vivo, é uma pedra viva que está fundada sobre aquela eterna e invencível Rocha da Igreja (* I Pe 2:4-5; I Jo 4: 15.). 
 
5. A FALSA INTERPRETAÇÃO DESSE TRECHO 
(Confusão entre "Reino dos Céus" e "Igreja") 
Não foi sobre o falível Pedro que a igreja invencível foi fundada (como pretende o papado católico), porém sobre a Rocha Viva, Jesus Cristo, o eterno filho de Deus, que morreu, mas agora vive pelos séculos dos séculos (Ap 1:17-18). “Pedro” se traduz: “pedra, dada a sua confissão viva e decisiva, mas também porque é uma figura de todos os verdadeiros cristãos, isto é, de todas as pedras vivas na casa de Deus (1 Pe 2:25;*Ef 2:19-22). “As Portas do Inferno” significa: “o poder do inimigo“ ou “o reino do Poder de Satanás”. Nenhum poder do inferno pode destruir a Igreja, uma vez que ela foi fundada e edificada por Deus. (Diferente é o caso de uma representação local da Igreja, uma Assembleia local, como por exemplo aquela em Corinto, na qual homens constroem I Co 3). 
Contudo, o "Reino dos Céus", para o qual o Senhor Jesus deu a Pedro as chaves, não é a Igreja. Sobre este assunto uma breve explicação: Como já temos visto no capítulo 18, tinha sido prometido a Israel um reino de bênção e de paz. Cristo, o Messias, havia vindo para estabelecer esse reino. Ele próprio e os seus discípulos anunciavam esse reino. Porém, Ele foi rejeitado. Ora, no lugar desse Reino Messiânico, no qual Cristo teria reinado e teria sido reverenciado por todos os cidadãos, entrou agora o "Reino dos Céus". Este reino surgiu sob um aspecto diferente daquilo que teria caracterizado o Reino Messiânico, conforme já foi visto no tópico 32 (vol. 37, n°1, pg 44): 
Maus e bons estão lado a lado. É a cristandade de hoje. A abertura desse reino foi confiada a Pedro. O cargo de portador das chaves foi um cargo pessoal, não podendo ser legado a algum sucessor, visto que Pedro já abriu todas as portas, e isso de uma vez por todas. 
Acabamos de ver que não é Pedro, e muito menos alguém que se chame sucessor dele, quem edificou a Igreja, mas Deus, pelo Espírito Santo. Verdade é que Cristo deu a Pedro as "Chaves", mas com "chaves" não se edifica, somente se abrem e se fecham portas. E, sobretudo, eram "as Chaves do Reino" (v.19), e não da Igreja. Esse reino está na terra, e, somente com relação a esta terra que Pedro deveria abrir o reino. Isso Pedro já fez; ele abriu primeiro para os judeus, no dia de Pentecostes (Atos 2), e, mais tarde, para os gentios (Atos 10). O Senhor, pois, iria confirmar no céu o que Pedro, sob o encargo do Senhor, fizesse na terra. Neste tempo da rejeição de Cristo, enquanto o "Reino dos Céus" existe aqui na terra, Deus está edificando a Igreja, empregando pedras vivas, um edifício no qual Jesus Cristo é alicerce e pedra angular. A Igreja é celestial, tanto na sua posição, quanto na esperança. Quando ela estiver concluída, o Senhor Jesus a levará para o céu (Jo 14:3; I Ts 4:17). 
E, nesta ocasião, aqui na terra, o Senhor vivificará e reunirá novamente a Israel, estabelecendo então o inicialmente pretendido reino Messiânico. Porém, agora, este reino terá glória celestial, e não somente glória terrestre. Por meio da cruz também o Reino de Israel foi enriquecido com brilho e glória.) 
 
6. CRISTO COMO O "FILHO DO HOMEM" 
Cristo ordenou aos discípulos que não O anunciassem entre os Judeus como o Cristo, isto é, como Messias, v.20, porque tinha sido rejeitado por. eles. Na sequencia, Ele passa a falar aberta e explicitamente a respeito da Sua morte e ressurreição. Pedro, que ainda não conhecia o caminho que o Senhor teria de andar para se tomar o nosso redentor, quis resistir-Lhe. Ele queria detê-LO. Mas Cristo lhe diz: "Para trás de mim, Satanás".
Como antes Deus, o Pai, falara por meio de Pedro (v.17), assim agora o Príncipe das Trevas, que queria frustrar a salvação, falava por meio dele. Dessa maneira Pedro, sem saber, se unificou com Satanás. "Um Cristo, crucificado" se opunha ao seu coração. Mas quem quisesse se unificar com Cristo e salvar a alma tinha que dividir com Ele a rejeição. Quem não quisesse, teria de perder sua vida (sua alma) (v. 24-26). Simultaneamente, o Senhor assume um título de maior glória: 
Ele se intitula: "O Filho do Homem"(v.27). 
[Como Messias, o Senhor contava somente com uma glória terrestre: A glória de "Rei de Israel" e a de "Príncipe dos Reis da Terra". Como "Filho do Homem", Ele se tomou pela Sua morte e ressurreição, a cabeça de toda a criação (Salmo 8). Ele alcançou também glória celestial, enquanto ao primeiro homem (Adão) estava sujeita somente a terra. O Senhor se tomou a cabeça de toda a potestade, nos céus, na terra e debaixo da terra (*At 2:5-11). Ele foi elevado acima de tudo, unido para sempre com a sua Igreja (Ef 1:20-23).] 
 
# A versão da Bíblia em português cita aqui o termo "pedra", o que não é próprio, pois o texto original grego enfatiza a distinção entre Pedro (Petros) que é uma pequena pedra, um fragmento, da Rocha maciça (petra) que é Cristo. 
 
Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com