Fornecer respostas satisfatórias para este problema é, necessariamente, uma tarefa complicada.
Quando as pessoas estão comparativamente livres do sofrimento e podem ter uma visão objetiva e desapaixonada da questão, elas procuram explicações racionais que possam satisfazer seus intelectos. Por outro lado, quando as pessoas sofreram, ou ainda estão sofrendo, angústia física e mental, ou estão padecendo sob um sentimento de pesada injustiça, meras explicações racionais raramente são suficientes. Elas procuram respostas que irão satisfazer não só sua cabeça, mas seu coração; respostas que aliviarão sua angústia,  fortalecerão sua fé, lhes darão esperança, força e coragem para resistir.
Deixe-me ilustrar o ponto. Suponha que vocês sejam pais de uma garota de doze anos de idade e é descoberto que ela tem uma coluna vertebral defeituosa.
Os médicos dizem que ela precisa de uma longa série de complicadas cirurgias de transplante ósseo para fortalecer e reforçar suas vértebras. Se ela não começar esse tratamento agora, será tarde demais quando ela for mais velha, e, mais tarde na vida, ela vai desenvolver uma curvatura muito ruim e dolorosa na coluna vertebral. A questão é se ela deve sofrer as cirurgias ou não? Não se pode deixar que a garota tome a decisão por si mesma: ela é jovem demais para compreender e prever todas as questões envolvidas. Vocês, os pais, no final, terão de tomar a decisão por ela. O que você dirá a ela?
Você, sem dúvida, começará explicando, em termos que ela possa entender, as razões fisiológicas que tornam as cirurgias necessárias e por que não há nenhuma outra maneira de deixá-la melhor. Você dirá honestamente a ela que isso envolverá dor, mas os cirurgiões são muito gentis e muito inteligentes, e, no final, o resultado será tão bom que ela ficará feliz de ter sofrido as cirurgias. Em outras palavras, você considerará muito importante prepará-la intelectualmente para enfrentar a provação.
Entretanto, o problema é que, no momento, ela não está sofrendo qualquer grande dor; mas, se realizar o tratamento, toda vez que ela acordar da longa série de cirurgias às quais você a terá submetido e durante meses depois, ela estará sentindo uma dor excruciante.
Como você responderá quando ela, então, soluçar: “Por que você me colocou nessa terrível dor?” Meras explicações intelectuais dificilmente serão suficientes.
Você, agora, precisará assegurá-la de seu amor, deixá-la sentir que você está com ela em seu sofrimento e aumentar sua esperança de que, no fim, tudo vai dar certo. E, enquanto isso, você fará tudo o que puder para fortalecer a fé dela em você, no seu amor, em sua sabedoria e nos médicos; pois, se ela perder essa fé, sua batalha contra a dor será imensamente mais difícil e pode até ser perdida.
Assim acontece conosco, adultos, quando enfrentamos pela primeira vez o problema intelectual do sofrimento e, em seguida, a experiência do próprio sofrimento. Precisamos de mais de um tipo de resposta. Comecemos, entretanto, com o problema intelectual.
 
O PROBLEMA INTELECTUAL
 
Este é, na verdade, um problema duplo, pois o sofrimento vem sobre nós de duas fontes logicamente distintas (embora, na prática, as duas fontes estejam, por vezes, indissoluvelmente entrelaçadas). Uma fonte é o mal pelo qual o próprio homem é diretamente responsável, isto é, a injustiça comercial, a injustiça política e civil, a exploração, a agressão, a tortura, o assassinato, o estupro, o abuso de crianças, o adultério, a traição, a escravidão, o genocídio, as guerras e coisas do tipo, e, em adição, todos aqueles erros, talvez menores em escala, que, contudo, são responsáveis pela mais difundida miséria em nosso mundo, a saber, as coisas danosas e prejudiciais que todos nós fazemos um ao outro. Chamemos isso: o problema do mal.
A outra fonte de sofrimento são as catástrofes naturais: terremotos, vulcões, maremotos, inundações, deslizamentos, avalanches, raios ultravioletas, secas, pragas, fomes, pestes (por exemplo, gafanhotos ou mosquitos da malária), pelas quais o homem não é imediatamente responsável (embora possa contribuir indiretamente para algumas delas por danificar o ecossistema irresponsavelmente), e outras coisas, como deformidades congênitas e doenças que destroem a personalidade, pelas quais, novamente, o homem não é imediatamente responsável (embora ele possa contribuir para algumas delas, tanto direta como indiretamente).
Chamemos isso: o problema da dor.
Seja de uma fonte ou de outra, o sofrimento desafia fortemente a fé em Deus. O problema da dor diz: “Como podemos acreditar que um mundo em que existem tantos desastres naturais foi criado por um Deus pessoal Todo amoroso, onipotente e onisciente?” O problema do mal adiciona: “Como podemos conciliar a existência do enorme mal e o fato de que este é permitido, com a existência de um Deus Todo poderoso e Todo santo, que supostamente está preocupado com a justiça?” O problema intelectual, então, é certamente grave: seria insensato negá-lo, ou mesmo subestimá-lo.
 
UMA SOLUÇÃO QUE
TORNA AS QUESTÕES PIORES
 
Existe uma maneira simples de eliminar esse problema intelectual sem demora: abraçar o ateísmo! Negar que existe um Deus. Então, de qualquer modo, não haverá nenhum problema em esclarecer o mal e a dor. 
De fato, se não há nenhum Criador inteligente, precisamos supor que nosso mundo, e nós mesmos dentro dele, fomos trazidos à existência por forças descuidadas e impessoais, que inconscientemente produziram e desenvolveram uma matéria sem inteligência. Então, após milhões de anos de permutações aleatórias, essa matéria deu origem às mentes inteligentes que poderiam protestar contra o sofrimento. Mas isso aconteceu acidentalmente. Tais forças não tinham intenção de fazê-lo; e, tendo feito, não perceberam o que haviam feito. Elas simplesmente continuaram a proceder com sua maneira impensada, não planejada, sem qualquer objetivo final em vista, sem se importarem se o resultado era bom ou ruim, intelectualmente aceitável ou não. Nessa suposição, então, não haveria nenhuma dificuldade, de qualquer modo, em esclarecer a existência do mal e da dor. O que mais se poderia esperar desse procedimento descuidado, se não uma quantidade colossal de dor? (Agora, naturalmente, haveria uma dificuldade intransponível em esclarecer o esquema detalhado e sofisticado e a grande beleza que observamos em todo o universo.)
O ateísmo, então, inegavelmente se livra do problema intelectual do sofrimento: mas ele não se livra da dor, nem nos ajuda a suportá-la. Na verdade, ele pode tornar a dor mais difícil de suportar, porque, se há um Deus pessoal, e ele nos criou, então existe uma base sólida para acreditar que o sofrimento não é simplesmente destrutivo e, em última instância, sem sentido, mas pode ser usado por Deus para o nosso bem eterno. O raciocínio por trás dessa dedução é bastante simples. Pais humanos normais aceitam a responsabilidade moral pelas crianças que trouxeram ao mundo, as amam e procuram seu bem. Tais pais encontram essa preocupação pelos seus filhos embutida em sua própria natureza. É altamente improvável, então, que o próprio Deus que os criou e colocou essa preocupação em seus corações seja totalmente indiferente a suas criaturas e não aceite qualquer responsabilidade moral por tê-las criado (Lucas 11:13). Aqui, então, está uma base sólida para esperança; e, quando as pessoas estão no meio do sofrimento por dor ou por injustiça, tal esperança é, muitas vezes, a única coisa que pode confortar, apoiar e ajudá-las a resistir. É em contextos como esses que a Bíblia comenta: “E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos.
Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos” (Romanos 8:23-25).
Mas o ateísmo remove tal esperança completamente.
Ele deixa as pessoas em sua dor, dano e pesar, sem conforto emocional ou espiritual, enquanto seus intelectos precisam se submeter à irracionalidade tirana do sofrimento desesperado e sem propósito trazido por forças descuidadas e sem coração que, infelizmente, são seus mestres.
Tome uma jovem mãe de trinta e três anos, cujo marido acaba de ser baleado pela máfia e ela própria diagnosticada com câncer terminal. O que um ateu pode dizer a ela? Seu senso de justiça foi ultrajado pelo assassinato de seu marido. Mas o ateu, se for honesto, terá de dizer que seu senso de justiça não é nenhuma garantia de haver qualquer justiça objetiva no mundo ou no universo. Seu marido não conseguiu justiça nesta vida; e ele também não obterá justiça na vida futura, pois não existe vida futura, nem qualquer Deus para ver que, enfim, a justiça deve ser feita. A esperança de justiça provou-se a ele um sonho vazio. E, quanto a ela, o ateu terá de dizer que nunca houve qualquer propósito final por trás de sua existência, nem há qualquer objetivo a esperar além de sua curtíssima vida; seu sofrimento e sua dor são absolutamente sem valor.
Portanto, não há nenhuma esperança. Os ateus são, como a Bíblia explica: “Sem Cristo... não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Efésios 2:12).
A solução do ateísmo ao problema do mal e da dor, assim, contribui para aumentar a dor. De forma emocional, moral e intelectual, é simplesmente destrutivo.
Existem outras tentativas para resolver o problema que o ateísmo não consegue. A mais comum delas é a de admitir que Deus é Todo-bondoso, porém negando que ele é Todo-poderoso. No entanto, essa “solução” não é uma solução real de qualquer modo, porque, mais uma vez, resolve o problema intelectual, até certo ponto, mas falha totalmente, da mesma forma que o ateísmo, em nos ajudar a enfrentar nosso sofrimento.
Isso nos leva, então, a uma pergunta-chave: Existe alguma base para se pensar que o sofrimento, de qualquer que seja a fonte, não é incompatível com a existência de um Criador Todo-amoroso, onipotente e onisciente, que, apesar do sofrimento que ele permite, é leal a nós, suas criaturas, tem um glorioso destino para nós, se o quisermos, e pode usar a dor para nos preparar melhor para esse destino?
 
UMA RESPOSTA AO PROBLEMA DO MAL
 
Vamos começar com o problema do mal, uma vez que o mal cometido pelo homem sobre o homem é, na verdade, responsável por muito mais sofrimento do que os desastres. Tome o século XX. Os milhões que pereceram em desastres naturais são poucos em comparação com os bilhões abatidos em duas guerras mundiais e incontáveis outras guerras; por ditadores de direita e de esquerda, por Hitler e Stalin, Pol Pot e o governo da Indonésia; nas perseguições políticas e religiosas, pela máfia e as organizações terroristas; pela violência sofisticada de Hiroshima e de Nagasaki, e pela selvageria subumana da Iugoslávia e da Ruanda; por nações democráticas que impulsionaram suas economias fabricando armas e as vendendo aos governos repressivos, que não têm respeito pelos direitos humanos; por industrialistas que ganham fortunas fabricando milhões de minas terrestres, as quais vendem para o Afeganistão e a Angola, onde irão explodir as pernas de milhares de civis inocentes, inclusive crianças; pela exploração do Terceiro Mundo pelo Primeiro Mundo e pela corrupção nos países do Terceiro Mundo que colocam milhões de dólares de ajuda internacional nos bolsos dos seus ditadores, enquanto deixam seu próprio povo na miséria e na pobreza. Comparado com todo esse mal deliberado, um desastre natural, como um vulcão, parece inocente.
A compreensível reação de muitas pessoas a esse dilúvio interminável de mal é dizer: “Deus não deveria estar preocupado com a justiça? E ele não deveria ser Todo-poderoso? Por que, então, se há um Deus, ele não põe um fim a todo esse mal?” Bem, a Bíblia diz que ele certamente irá por um fim a isso um dia.
“Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” (Atos 17:31)
“Mas para que nos serve”, muitas pessoas dizem, “a promessa de que, um dia, num futuro distante, no fim do mundo, Deus irá colocar um fim a todo mal? Por que, se Deus realmente existe, ele não faz isso agora, intervindo e destruindo, ou, de alguma forma, colocando fora de ação todos os homens maus e perversos? Ele deveria ser Todo-poderoso, não é? Ele poderia fazê-lo. Por que não o faz?”
Bem, Deus certamente poderia fazê-lo, e, em casos extremos, ele o faz. A Bíblia registra que, em uma fase na história, Deus destruiu toda a raça humana (exceto oito pessoas) por meio de um gigantesco dilúvio (Gênesis 6-8), como ele tornará a fazer por fim, só que, desta vez, não por água, mas por, como parece pela sua descrição (2 Pedro 3), uma fusão atômica.1 Similarmente, quando a extrema imoralidade de Sodoma e Gomorra, com toda a sua doença resultante, tornou-se intolerável, Deus usou causas naturais para incinerar aquelas duas cidades e, assim, fumigar toda a região (Gênesis 19).
 
O PROBLEMA COM O
JULGAMENTO INDISCRIMINADO
 
Mas há um problema que a própria Bíblia menciona explicitamente em relação a Sodoma e Gomorra. Quando o pecado grosso e o mal contaminam uma sociedade toda, como pode um Deus justo destruir aquele comparativamente inocente juntamente com o extremamente culpado? Com uma cidade pequena como Sodoma, era moderadamente fácil arranjar um meio para as poucas pessoas comparativamente inocentes fugirem da destruição geral. Mas, algumas vezes, o grande mal contagia nações, países, impérios inteiros; e, então, milhões de pessoas são apanhadas em diferentes graus nas políticas cruéis e arrogantes de seus governantes. Professores são obrigados a injetar na mente de seus alunos, digamos, fascismo raivoso e ódio genocida das minorias (como na Alemanha de Hitler), ou ateísmo que desafia a Deus (como em países marxistas). Homens são forçados, por um falso patriotismo, a se envolverem em cruéis guerras ideológicas de expansão imperial. Professores universitários são pressionados a reinterpretar a história (e, às vezes, até a ciência) em conformidade com a política de seu governo, independentemente do que sabem ser a verdade. Nesse caso, como poderia um Deus justo destruir nações inteiras sem destruir simultaneamente massas de pessoas comparativamente inocentes (embora ainda pecadoras) junto com os culpados?
“Mas o ponto é justamente esse”, diz alguém, “se Deus é onisciente, bem como onipotente, ele pode realizar um julgamento seletivo de todos individualmente, eliminar o mau e deixar o bom. Então por que ele não o faz?”
Bem, suponha que ele o fez. Suponha que ele interveio hoje e destruiu todos os indivíduos maus e pecadores, em todos os lugares em todo o mundo, sem exceção. Onde, com justiça, ele pararia? E quantos sobrariam? 
Onde ele iria traçar a linha entre o mau e o bom? E quais são as pessoas más, e quais são as boas?
“Livre-se dos capitalistas”, dizem os comunistas, “e você terá um mundo bom com pessoas boas.” Os capitalistas, naturalmente, dizem o contrário. E, trazendo isso ao nível pessoal, o que Deus teria a nos dizer?
Existem outras considerações. Vamos imaginar dois homens egoístas, cruéis, dados ao mau humor e à violência, a mentiras e à traição. Um deles é um cidadão que possui pouco poder; mas seu mau comportamento arruína a vida de sua esposa, rompe seu casamento e causa a seus filhos danos psicológicos sérios, se não irreparáveis. O outro homem é o ditador do seu país. Ele possui imenso poder, e, por causa disso, seu mau comportamento leva sofrimento e morte a milhares de pessoas. O que o primeiro homem teria feito se tivesse o mesmo poder do segundo? Qual é, portanto, no coração, o pior homem?
De acordo com a Bíblia, o veredito de Deus sobre nós como indivíduos é que, de fato, todos nós pecamos, eu, você e todos os demais. Julgados pelos padrões absolutos de Deus, mesmo em diferentes graus, somos todos maus. Nenhum de nós é inocente (Romanos 3:10-20, 23).
Mas Deus não é apenas justo, ele é compassivo e misericordioso. O povo da antiga cidade de Nínive, especialmente seus governantes, eram notoriamente cruéis, e, para fortalecer seu poder imperialista, empenharam-se na deportação em massa das populações que conquistaram. Por causa disso, Deus os ameaçou destruir, mas ele estava disposto a atrasar a execução do seu juízo a fim de dar-lhes a oportunidade de se arrependerem; e ele repreendeu o profeta israelita, Jonas, por exigir a imediata destruição deles (Jonas 1:1-2; 3:1-4:11).
Por motivos semelhantes, o Novo Testamento explica por que Deus está disposto a esperar o que, para nós, é um longo tempo, antes de acabar com o mundo e colocar um completo fim no mal:
“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor (dia do juízo)...” (2 Pedro 3:9-10).
 “Mas, se Deus vai acusar a todos nós de sermos maus e pecadores”, diz alguém, “ele supostamente nos criou, não é? Então por que ele não nos criou de tal forma que não pudéssemos pecar e fazer o mal?”
 
A GLÓRIA E O INEVITÁVEL
CUSTO DE SER HUMANO
 
Bem, ele poderia ter feito; mas isso significaria negar-nos qualquer tipo de livre-arbítrio e escolha genuinamente livre. Nesse caso, não seríamos seres humanos moralmente responsáveis, mas mais como robôs humanoides computadorizados. E eu não conheço qualquer ser humano que preferiria ser um robô.
Para ser um ser genuinamente moral, você precisa ser capaz de entender a diferença entre o bem e o mal, e, em seguida, ser capaz de escolher livremente entre fazer o bem ou fazer o mal. Um computador pode ter uma enorme quantidade de “conhecimento” armazenado nele, mas não possui nenhum entendimento daquilo que “conhece”, nem qualquer escolha moral.
Um computador só pode optar por fazer o que ele é programado para fazer. Se fizer a escolha errada ou falhar, ele não pode ser culpado por isso. Ele não tem nenhuma responsabilidade por isso. Ele não sente nenhuma culpa. Ele não entende o que é culpa ou como é se sentir culpado. Ele não pode nem mesmo dizer a você como é ser um computador, muito menos um computador culpado (ou um computador feliz). Os seres humanos, como todos podem observar, não são programados, nesse sentido, por seu Criador. Eles têm a habilidade de escolher e geralmente se orgulham disso.
Quando um homem escolhe, por exemplo, enfrentar o perigo em vez de fugir covardemente, ele gosta de ser considerado como sendo o responsável pela escolha e ser elogiado por isso. A maioria das pessoas acharia um insulto ser tratada como um bebê, como um imbecil ou como uma máquina que não é responsável por suas ações. É só quando fazemos algo muito errado que somos tentados a negar a responsabilidade e dizer: “Não pude fazer nada”.
Deus, então, certamente poderia ter-nos feito como robôs; mas, nesse caso, novamente, seríamos incapazes de dar e de receber livremente o amor maduro e verdadeiro. Se você estivesse sentado em seu quarto e um robô entrasse, lançasse seus braços em volta de seu pescoço e dissesse “Eu te amo”, você iria rir do absurdo disso ou até repeli-lo em aversão, ou ambos. Em primeiro lugar, um robô não tem nenhum conceito de amor; e, mesmo se tivesse, ele não seria livre para decidir por si só amá-lo ou não amá-lo: ele só poderia fazer aquilo que havia sido programado por outra pessoa para fazer. Ele não tem nenhuma personalidade independente.
Aqui, então, está a glória de ser humano. Deus criou o homem como um ser moral, capaz de perceber a beleza da santidade de seu Criador e o esplendor moral de seu caráter. Deus também o dotou com o livre-arbítrio e a habilidade de amar, para que ele possa livremente escolher amar, confiar, adorar e obedecer a seu Criador, e desfrutar de uma verdadeira comunhão com Deus, aqui na Terra e, eventualmente, no céu (João 4:22-24).
Mas, naturalmente, a escolha que Deus deu ao homem não foi, e não poderia ser, uma escolha entre duas alternativas igualmente boas. Deus é a totalidade do bem, e não pode haver nenhum bem permanente sem ele. Dizer não a Deus, a fonte da vida, é, por definição, dizer sim ao desastre e à morte. Não há, e não pode haver, dois paraísos, um com o Criador e outro sem ele. Desde o início, portanto, Deus advertiu o homem das consequências fatais que inevitavelmente se seguiriam se o homem escolhesse duvidar de Deus e desobedecer a ele, e agir independentemente. A Bíblia diz, no entanto, que o primeiro homem, Adão, fez exatamente isso: ele decidiu desobedecer a Deus, agir independentemente, tomar o que ele pensou que seria um caminho melhor (Gênesis 2, 3; Romanos 5:12). E todos nós, em maior ou em menor proporção, fizemos a mesma coisa (Isaías 53:6; Romanos 3:23), com os maus resultados que vemos em todos os lugares ao nosso redor, e dentro de nós, hoje. Assim, segundo a Bíblia, o mal é o mal porque é rebelião contra Deus. Mas de quem é a culpa?
Porém, mais uma vez, alguém objeta: “Deus não deveria ser onisciente e capaz de prever todas as possíveis eventualidades?”
Sim, é claro.
“Então, ele não previu que, se ele desse livre-arbítrio ao homem, o homem abusaria dele, escolheria o mal e traria desastre a si mesmo e ao mundo todo?”
Sim, Deus previu isso.
“Então, em primeiro lugar, como Deus poderia justificar a decisão de prosseguir e dar ao homem livrearbítrio?”
 
A REDE DE SEGURANÇA DE DEUS
 
Mesmo antes de criar a humanidade, ele havia decidido providenciar uma rede de segurança disponível a todos, para que, apesar de sua rebeldia, de sua obstinação, de seu pecado e de sua maldade, nenhum deles necessitasse perecer permanentemente. Ele, na verdade, tomaria a ocasião do pecado do homem para demonstrar, não meramente em palavras, mas em ações, que, com um coração de Criador, ele amava todas as suas criaturas, embora ainda fossem pecadoras. Ele explica desta forma na Bíblia:
“Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:7-8).
Um caminho devia ser feito para que o homem, quando descobrisse os resultados ruinosos do pecado, se arrependesse, retornasse para Deus e fosse perdoado, reconciliado e restaurado à comunhão com ele. O próprio Deus, por meio de seu Filho, Jesus Cristo, pagaria a pena do pecado do homem pelo e em nome do homem; e o custo de todas as reparações feitas necessárias pelo dano causado pelo pecado do homem, cujos próprios recursos nunca pagariam, seria arcado por Deus. E, além disso, também seria dada a garantia de que, quando o dia final do julgamento viesse e Deus se levantasse para punir o impenitente e pôr um fim no mal para sempre, então aqueles que se arrependeram e colocaram sua fé em Deus e em seu Filho, Jesus Cristo, não seriam condenados, mas desfrutariam da vida eterna com Deus (João 5:24). Ainda, além disso, uma vez reconciliado com Deus, o homem seria introduzido, mesmo aqui na Terra, no majestoso propósito que Deus originalmente tinha em mente, quando criou o universo.
Sobre esse propósito, teremos mais a dizer em breve; mas, no momento, pausemos para nos concentrarmos na peça central da atividade de salvação de Deus para a humanidade na história — o sofrimento, a dor e a morte do próprio Cristo na cruz. Se ele é realmente Deus, como o Novo Testamento afirma, então Deus não se manteve distante do sofrimento humano, mas tornou a si próprio parte deste. E é exatamente esse fato da proximidade de Deus que pode começar a contornar as lágrimas e a angústia, e trazer à pessoa que sofre uma esperança real, não alguma solução simplista para sua dor, mas a possibilidade de, apesar da dor, chegar a ter a confiança de que Cristo, o Filho de Deus, entende seu sofrimento e que pode confiar nele para o futuro.
Antes de deixarmos o tema do sofrimento e da morte de Cristo, devemos esclarecer as condições vinculadas à oferta de reconciliação de Deus por meio daquela morte. Todo o pacote da salvação é um presente; ele não precisa ser ganho ou merecido de nenhuma forma.
Mas as condições para recebê-lo são as seguintes.
Primeiro, arrependimento perante Deus (Atos 20:21). “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele; e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.” (Isaías 55:7)
Segundo, fé no Senhor Jesus Cristo (Atos 20:21).
“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.” (João 5:24)
Mas, com isso, estamos de volta à questão da livre escolha do homem. Deus não forçará ninguém a crer. Ele não removerá o livre-arbítrio do homem, nem mesmo a fim de salvá-lo, pois, se o fizesse, o produto final não seria um ser humano salvo e glorificado, mas um robô.
Por outro lado, com todo o seu coração, Deus suplica aos homens e às mulheres que se reconciliem. De sua parte, não há nenhuma relutância em salvar (1 Timóteo 2:3-6).
“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões... De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:19-21)
Se, apesar disso, o homem usar seu livre-arbítrio, não apenas para se afastar de Deus, em primeiro lugar, mas para, também, rejeitar o perdão e o amor redentor de Deus, como Deus pode ser culpado pelo desastre resultante?
Mas, agora, precisamos voltar à outra fonte de sofrimento, a saber, aos desastres naturais, e ao que chamamos de o problema da dor.
NOTA DE FIM
1. Os céticos, muitas vezes, ridicularizam tais declarações bíblicas; e mesmo eles irão, então, mudar de atitude e apontar para a evidência de que, em uma época na história, quase toda a vida neste planeta estava, de fato, extinta.
 

Por David Gooding & John Lennox

Site da Ciência e da Fé Cristã

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