Como Era no Princípio

Capítulo 1 _ ‘Como era no princípio...’
 
Há provavelmente poucos fragmentos da liturgia mais sujeitos à repetição do que aquela da qual a primeira parte acima é tomada. Ao mesmo tempo, pode ser um exemplo da ignorância e da coisa sem sentido com que muitas frases são constantemente usadas no cristianismo.
O que é esta ‘coisa’ que era no princípio, é agora, e será para sempre? A única resposta verdadeira seria mudar esta ‘coisa’ para ‘Ele’ _ ‘Como Ele era _ assim Ele é agora, e será para sempre’.
Quanto ao resto, há poucas coisas, se de fato existe alguma, que pode sustentar esta declaração. É justamente esta mudança desde o princípio que está causando uma enorme preocupação e consideração na cristandade, e especialmente no cristianismo evangélico. O princípio é a base de uma grande quantidade de revisão, reconsideração, e esforço de se recuperar. Pois, quanto ao cristianismo, simplesmente não é verdade que ‘como era no princípio, é agora’. Verdade, ‘Jesus é o mesmo ontem, e hoje, e para sempre’, e as verdades fundamentais do cristianismo são as mesmas, porém a maior parte da cristandade está muito desviada do ‘como era no princípio’. 
Este não é um desvio novo. O declínio e o afastamento começaram antes dos próprios apóstolos terem terminados os seus cursos, e suas últimas cartas estão marcadas de corretivos, recordações e reformas.
Isto tinha a ver não apenas com o caráter, com as palavras, com os padrões éticos, mas principalmente com os princípios sobre os quais o Cristianismo se baseava no início e pelo qual foi constituído inicialmente. Por isso, é fato que o princípio espiritual, a própria essência e natureza do ‘princípio’ mudou, ou se perdeu, o que explica a mudança deplorável, e o que é trágico, a perda de impacto, de autoridade e de responsabilidade.
É para alguns elementos do princípio que iremos chamar atenção aqui. Quando dizemos ‘elementos’, deixe-me ser entendido que não queremos significar o ‘elementar’ no sentido de ser apenas os princípios rudimentares do cristianismo. Pelo contrário, usamos a palavra no sentido de ‘natural’, que carrega consigo aquilo que o dicionário chama de ‘como os poderes da natureza, grande, tremendo, não composto, essencial’.
Não apenas é a primeira característica, mas o fundamental, inerente, essência concentrada e potência vital dos princípios espirituais por trás da expressão aparente. A isto buscaremos dar atenção, pois estamos convencidos, após um longo e amplo contato com os cristãos e assuntos cristãos, que aqui é a chave real da situação.
O erro em muitos esforços para se recuperar o impacto original, dinâmico, e a autoridade da primeira metade do primeiro século do cristianismo está no ponto onde a atenção é aplicada. Tais coisas como doutrinas, formas, procedimentos e obras são os pontos de atenção e debate. Embora essas coisas possam estar seriamente abertas a questões em vários sentidos, começar com elas é começar de maneira errada, e fazer isto é aumentar a confusão ou chegar a um beco sem saída. O melhor que pode resultar seria concessão, e concessão é SEMPRE uma falha em se enfrentar e se lidar com as causas de forma honestas e corajosas. Vivemos numa época de concessões em todas as áreas, e estamos numa época de ‘confusão cada vez maior’. Nós, cristãos, sabemos que a situação do mundo nunca irá melhorar até que Jesus volte, pois é dEle o direito de reinar, porém ele não fará concessões, não haverá meio termo. Ele irá à raiz das coisas e lidará com elas lá!
Para qualquer medida de recuperação do poder perdido, temos que deixar para trás os resultados e efeitos, seja em doutrina, procedimento, forma ou obra, e apontar os nossos dedos nas causas. Houve uma razão e uma causa para a mudança de impacto sobre o mundo ‘no princípio’, e, como dissemos, isto repousa em princípios ou ‘leis’ eternas, celestiais, e espirituais, os quais estão por dentro e por trás daquilo que aconteceu. Não está num conhecimento doutrinário. Isto ainda estava em processo de se tornar conhecido.
Quando Deus está a caminho de iniciar ou formar, Ele age primeiro e explica depois. A explicação é o ‘ensino’, ou ‘doutrina’. Esta é a forma segura. O ensino é a explicação da experiência. Ela é apenas a ordem reversa quando o ensino foi dado e esquecido. Então, como no caso dos profetas, Deus diz o que Ele está fazendo, ou irá fazer, e age de acordo. Inicialmente, apenas um pouco de luz é dada, o suficiente, para Deus agir. Este método e princípio de Deus podem ser visto tanto no Velho quanto no Novo Testamento. É sempre importante ter Deus dando luz sobre o que Ele fez, de modo que nós chegamos ao CONHECIMENTO de Seus caminhos, ao invés de termos uma porção de ensino sem experiência. Poderíamos nos colocar no caminho dos tratamentos de Deus, se isto for assim.
O impacto original não estava dentro de uma forma de procedimento fixo e estabelecido. Certamente não estava em organizações e instituições. Essas coisas não existiam. Repetimos que é tolice querer recuperar o poder lidando com tais coisas como os efeitos, ao invés das causas.
 
Uma ‘palavrinha’ de esclarecimento do tradutor: Prefiro mudar o título do livro para ‘COMO ERA NO PRINCÍPIO’, ao invés de ‘como a coisa era no princípio’, pelo seguinte motivo: Na expressão  “As It Was in the Beginning”  aparece o pronome ‘IT’, que se refere a ‘coisas’ e ‘animais’. O autor, no texto traduzido anteriormente, em seu parágrafo segundo, sugere que se troque o ‘IT’ pelo ‘HE’, ou seja, ‘coisa’ por ‘ELE’ (fazendo referência à Pessoa de Cristo). Na língua portuguesa não existe o pronome neutro ‘IT’, portanto, quando queremos dizer a expressão: ‘Como a coisa era no princípio’, apenas dizemos: ‘como era no princípio’.  Então, por questão de ’estética’ achamos melhor trocar o título do livro para: ’COMO ERA NO PRINCÍPIO’. (Lendo o livro iremos perceber a que o autor está se referindo). Espero ter sido claro. 
 
 
Vamos, então,  escavar através dos acréscimos da história e da tradição cristã, até os princípios fundamentais. O escritor, por um período aproximado de quarenta anos de contato pessoal com o cristianismo evangélico em muitas partes do mundo, tem estado extremamente impressionado com uma fraqueza ou deficiência básica. Esta deficiência sem dúvida alguma é indicativo de todo um conjunto de desvios do que era a concepção no princípio. Embora a doutrina do Espírito Santo seja bem conhecida, e uma grande quantidade de ensino sobre esta doutrina tenha sido recebida, tanto pessoalmente de expositores, como através de várias literaturas sobre a matéria, há muito ainda para se tornar esta questão real, afinal de contas, multidões _ mesmo a maioria _ dos cristãos conhecem ou não alguma coisa  sobre o Espírito Santo como presença interior positiva e ativa. Esta questão é baseada na conduta, em condições, e na ignorância que visivelmente negam o ensino do Novo Testamento. 
Jesus falou acerca do Espírito Santo, que ‘Ele estará EM vós’, ‘Ele vos guiará (dentro de vós) por toda a verdade’, ‘Ele receberá do que é meu e revelará a vós’, e assim por diante. João, pelo Espírito Santo, disse (para todos os cristãos verdadeiros, não apenas aos especiais, ou líderes ou professores): ‘A Unção que recebestes Dele está EM vós, e não tendes necessidade que ninguém vos ensine; mas... a sua Unção ensinará a vocês todas as coisas...” (1 Jo 2.7).  Embora isto esteja relacionado a uma questão específica, isto é, o Anticristo, porém o princípio, segundo Jesus, _ é de aplicação genérica, e este princípio é o seguinte: que o Espírito Santo é o árbitro INTERNO que faz com que os crentes fiquem conscientes sobre o que é de Deus e o que não é de Deus. E isto é algo que não é conseqüência de uma posição avançada na vida espiritual, mas se refere ao início: ‘O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus’ (Rm 8.16). A lei do Espírito de Vida é de aplicação e realidade constante e crescente como a própria lei do progresso espiritual. É uma matéria nada mais, nada menos do que aquele grande fator de compreensão e inteligência espiritual com que o Novo Testamento está tão amplamente ocupado.
Vamos dizer logo que este princípio não torna o cristão independente de instrução através de ensinadores ungidos, nem cria de maneira alguma uma posição acima das Escrituras. O Espírito Santo irá sempre trabalhar de acordo com a Palavra de Deus, e jamais, em hipótese alguma, irá nos tornar superiores por causa disso. Nada, a não ser o extremo risco do engano, poderia resultar de tal interpretação, ou ‘iluminação’ que dá origem a tal independência ou superioridade. Contudo, o governo, a iluminação e o testemunho interior do Espírito Santo é o fator primário naquilo que ‘era no princípio’. De fato, isto vai diretamente à raiz da própria natureza da vida cristã do Novo Testamento; a essência do ser de um verdadeiro filho de Deus. Isto tanto determina e define o que podemos chamar de a ‘espécie’ nova e distinta que os cristãos foram criados pra ser. 
Quando o apóstolo Paulo usa a frase: ‘aquele que é espiritual’ (1 Co 2.15), ele está descrevendo a exata diferença de duas categorias de pessoas. Não apenas ele os está dividindo, mas os está descrevendo. Uma categoria, ele diz, é deficiente e defeituosa em certas faculdades, dotes e qualificações, em relação ao conhecimento, ao discernimento, ao julgamento e à compreensão. A outra categoria é distinguida exatamente por esta habilidade e qualificação. Porém não é um dom dado posteriormente ao novo nascimento. Pelo contrário, este dom é herdado no novo nascimento, e é um componente da nova vida. É ‘aquele que É espiritual’; aquele que é certo tipo de ser. Deste ser é dito como nascido do Espírito, diferindo daquele nascido da carne, como nascido de Deus, diferindo daquele nascido do homem. Esta diferença é o resultado de um advento. É o advento do Espírito Santo DENTRO do espírito do cristão. Certamente é razoável que a presença interior dessa pessoa como ‘o Espírito do Deus Vivo’, Deus Espírito Santo, signifique mais do que um poder ou uma inteligência passiva, inativa.
É uma coisa muito gratificante ver algumas pessoas mudando e ajustando as suas vidas, sua conduta, sua maneira de falar e vestir, seus hábitos, suas atitudes, etc., não por que a lei foi colocada sobre eles por outras pessoas _ seja pregador, ou alguma outra pessoa _ mas porque o Espírito Santo dentro delas tem falado e tornado a sua mente conhecida a elas a respeito de tais assuntos. Há inúmeras matérias nas Escrituras a respeito disso nas quais há muitas contradições flagrantes em tantos cristãos, que bem  poderiam nos fazer perguntar: ‘Onde está o Espírito Santo nessas pessoas?’.
Esta é a base de tudo ‘como era no princípio’. É isto o que veio com o advento do Espírito Santo. É isto o que foi pretendido e ensinado para que fosse a própria natureza da nova dispensação.
Não que ela fosse universalmente e perfeitamente vivida, mesmo naquela época, mas foi verdade lá, responsável por grandes e drásticas mudanças de vida, até mesmo nos próprios apóstolos. Esta, mais do que o acontecimento exterior, era a verdadeira natureza e poder dos ‘Atos do Espírito Santo’; que é um título mais apropriado para o livro chamado de ‘Atos dos Apóstolos’.
Este princípio fundamental foi aplicado em toda direção e conexão, em relação ao próprio Cristo, a igreja, procedimento, função, obra, e assim por diante. E é nosso propósito mostrar isto, na medida em que somos capacitados pelo mesmo Espírito, pois estamos convencidos de que assim é  ‘como era no início’.
Algumas vezes ouvimos as pessoas dizerem: ‘Oh, não olhe para trás, para o passado, e para o que foi. Olhe para as coisas novas de Deus’; e elas citam Paulo, dizendo: ‘Deixando as coisas para trás’. Esta é uma conversa muito superficial, para dizer o mínimo. Pode ser muito perigoso e enganoso. Estabelecido que não houve nenhum desvio, abandono, perda, nenhuma renúncia daquilo que era de Deus, e que os ‘princípios’ fundamentais ainda permanecem com aquilo que eles significam, há espaço para a exortação: ‘Prossigamos para a perfeição, não lançando de novo o fundamento...’ (Hb 6.1-6). Porém, o Novo Testamento, o Senhor Ressuscitado, o Espírito, têm coisas fortes para falar sobre ‘se arrepender e praticar as primeiras obras’ (Ap 2.5), e o Senhor tem que tristemente lembrar da posição da qual o Seu povo se desviou, e chamá-lo de volta para o princípio. 
Vimos que o ‘princípio’ se refere à primeira parte dos tempos do Novo Testamento, não somente às últimas partes. Os últimos escritos são caracterizados por corretivos, recordações e apelos para uma redescoberta, mostrando que, muito cedo nos tempos apostólicos, as coisas começavam a se desviar dos primeiros princípios, e a mudarem tanto em natureza como na forma. Essas mudanças serão melhores detalhadas aqui, na medida em que prosseguirmos. 
Para o momento, nos atemos a um fator mais geral e básico, a partir do qual tudo mais tem sua origem. Já salientamos que a possessão do Espírito Santo dentro do espírito do crente produz uma nova e diferente ‘espécie’ ou ‘gênero’, um novo tipo de pessoa, um tipo referido pelo apóstolo Paulo como ‘aquele que é espiritual’, que ele diferencia do ‘homem natural’ (almático ou psicológico). Este é o novo homem que é o tema de todo o Novo Testamento. 
Não é simplesmente que um elemento chamado ‘espiritualidade’ foi admitido, mas que um tipo de homem fundamentalmente diferente nasceu pela operação do Espírito Santo. Apesar de que o homem natural ou psicológico permaneça, e permaneça uma força para ser enfrentado. Por um lado, o ensino espiritual consiste da crescente compreensão e entendimento de quão absolutamente diferente o homem natural é do Espírito de Deus. As tendências, inclinações, diretivas, concepções, etc..., do homem natural operam de forma que são exatamente contrárias daquelas do Espírito dentro do novo homem. Esta é uma das coisas mais óbvias nos primeiros capítulos do livro de Atos. Naqueles capítulos temos a essência daquilo que entrou no dia de Pentecoste como a própria natureza e princípio da nova dispensação. É um ensino observar a maneira que religiosos devotos e homens completamente sinceros estavam sendo ensinados em relação a esta diferença fundamental entre o homem natural, ainda que religioso, e aquele ‘homem espiritual’. O fator inclusivo e abrangente era a absoluta Soberania do Espírito Santo como o executor do Ressurreto e exaltado Senhor Jesus.
Um legado muito forte da mentalidade e do sistema do Novo Testamento estava presente naqueles primeiros homens responsáveis tais como Pedro, Tiago e João. Basicamente por causa deste único fator, esta mentalidade, o advento do Espírito tinha que ser ‘como o som de um poderoso e violento vento’. Não apenas um vento, mas a força. A única necessidade inicial era que aquelas pessoas compreendessem que as coisas foram tiradas completa e absolutamente de suas mãos; que fossem lá o que suas mãos pudessem implicar _ mentalidade, predisposição, raciocínio, tradição, concepção, interpretação, etc. _ o Espírito de Deus estava acima daquilo, tanto como contrário aquilo, ou como tendo um significado que eles jamais tinham visto. Este é o primeiro fator no significado prático de ‘Como era no princípio’. 
Poderia parecer que, embora aquelas pessoas compreendessem a força do acontecimento, eles ainda tinham que aprender o seu significado, pois, a partir dali, o conflito entre o homem natural e o homem espiritual, dentro deles, era o caminho do ensino deles. A transição do Judaísmo para a plena implicação da nova dispensação do Espírito foi repleta de algumas batalhas e revoluções duras e dolorosas. Repetidamente vemos uma crise aparecendo sobre esta questão e a balança pendendo entre a antiga ordem e a nova. Não, que seja enfatizado, não entre o mundo e o homem perverso e o cristianismo (este foi um outro aspecto), mas entre a herança, a instrução e a tradição de um homem bom e devoto e um significado e uma disposição celestial completamente nova.
Vamos repetir: as ações drásticas do céu, como no caso do Pentecostes em geral, e de Pedro, e de Saulo de Tarsus em particular, demonstraram que a nova ordem era ‘nova’ e não um reaproveitamento de alguma coisa. Era um Senhorio, uma dominação! 
Pedro, baseado em sua interpretação das Escrituras do Velho Testamento sobre comer coisas impuras, pôde protestar contra o Senhor, porém todo o apostolado de Pedro dependeria de sua submissão em permitir que o Senhor lhe fizesse conhecer melhor. Foi uma crise na qual Pedro estava no limiar de uma descoberta que absolutamente o espantou, e o deixou sem qualquer explicação, exceto: ‘Deus o fez’, e ‘quem era eu para me opor a Deus?’  O princípio aqui contido é o campo de batalha da questão contínua de mais ou menos poder e plenitude espiritual. 
O homem natural, psicológico, é positivamente incorrigível e inveterado na questão de  cristalizar, fixar, legalizar e colocar numa forma final. Ele simplesmente deve sistematizar e finalizar. Embora ele possa não saber o que ele quer significar, ele cantará com gosto: ‘Como foi no princípio, é agora, e sempre será’, porque ele está amarrado a fórmulas. Ele se move quase mecanicamente no sentido de ‘desenhar algo’ para colocá-lo numa moldura, e fazer um compartimento para aquilo. Nunca o Espírito Santo fez alguma coisa, mas os homens subseqüentemente tomaram as características de algo e daquilo compilaram um manual, ou um livro texto, e buscaram impô-lo ao Espírito Santo e à igreja como obrigatório e essencial. O princípio mostra que o Espírito Santo não aceitará nada disso. Ele exige para Si absoluta liberdade de ação e método. Do ponto de vista do cristianismo histórico e organizado é quase impossível perceber que há certas coisas que o cristianismo não era no início.
Por exemplo, o cristianismo NÃO ERA uma nova religião. O cristianismo não foi colocado contra ou lado a lado com outras ‘religiões’, de modo que pudesse ser incluído nas ‘Religiões Comparativas’. Embora alguns dos próprios apóstolos foram tardios em perceberem que o judaísmo estava ultrapassado e tinha sido posto de lado por Cristo, ‘o estoque todo’ (expressão); e somente Estevão, e talvez alguns poucos com ele, tinham visto a completa ruptura, pelo qual ele teve que pagar com a própria vida, contudo este fato tinha que ser encarado firmemente, e sua aceitação _ plena ou reservadamente _ determinou o grau da medida espiritual deles. Paulo foi supremamente encarregado por esta questão. O pensamento, o raciocínio e a maneira com que eles lidavam com os seus preconceitos tiveram que ser tratado depois de experiências embaraçosas. Eles começaram com ‘atos’, não com uma nova religião. 
Além do que, o cristianismo não era um novo ‘ensinamento’. Não há nada em todo o registro sobre o qual construir uma teoria ou afirmação de que os apóstolos tornaram ‘O Ensino de Jesus’ um sistema estereotipado. Eles não saíram propagando no mundo pagão, bárbaro ou judaico novas doutrinas ou um novo sistema de verdades. Explicações, que se tornaram o ensino ou doutrina da igreja, estavam reservadas para aqueles que respondiam em fé à declaração de certos fatos fundamentais em relação à Pessoa de Jesus Cristo, e essas eram poucas. O máximo que eles faziam era sustentar e confirmar os seus testemunhos em relação a Jesus a partir das Escrituras.
Repetindo: O cristianismo não foi originalmente imaginado como um novo movimento. Nenhum plano de campanha foi colocado. Não houve política. A organização estava quase que inteiramente ausente. O pequeno grau de organização foi subseqüentemente imposto sobre eles por causa do embaraço da própria vida espiritual. Não existia uma campanha planejada. Estabelecer, formar, lançar, ou trazer à existência, ou fundar uma nova sociedade, seita ou comunidade, não passava pela mente deles. As pessoas de fora colocavam os rótulos, talvez por causa da distinção espiritual dos crentes, porém eles nunca adotaram um título especial para eles mesmos. A característica que realmente distinguia não era o nome de um movimento, mas a presença de um mistério a todo mundo exterior. Toda tentativa de explicá-los por meio de um rótulo, tais como ‘Cristãos’, ‘O Caminho’, ‘Seita’, apenas demonstrou uma falta de entendimento. Não existe uma fórmula para explicar a vida, seja natural ou divina; e, se houvesse, seria como tentar colocar o Oceano Pacífico dentro de uma garrafa. Prejuízo para a garrafa, como Jesus disse a respeito do novo vinho e do odre velho. A ‘lei do Espírito de Vida em Cristo Jesus’ que era responsável pela experiência, que explicava, que ensinava, que energizava a ação, e produzia a ‘forma’ _ a forma orgânica no princípio.
Aqui, então, nos ocupamos com o geral, com o fator inclusivo do ‘princípio’, esta é a absoluta e soberana liberdade, governo, senhorio e direção do Espírito do Cristo entronizado no céu. Isto exigiu uma superação e subjugação de todas as afirmativas do homem natural. É uma crise e, também, um progresso. Como implicamos, isto teve um efeito tanto em relação ao relacionamento com o mundo como os desenvolvimentos dentro da igreja. O primeiro desses dois aspectos iremos nos ater no próximo capítulo.
 
Capítulo 2 - A Igreja e o Mundo
 
Em nossa busca pelos segredos do poder na igreja ‘Como Era No Princípio’ _ isto é, nos anos imediatamente subseqüentes ao grande Pentecoste _ é inevitável que cheguemos à relação da igreja com o mundo. Esta inevitabilidade é colocada sobre nós tanto por seu espírito e conduta, como pelo grande número de referências ao mundo nos escritos do Novo Testamento. O próprio Senhor Jesus é mencionado como tendo algumas coisas muito fortes para dizer sobre o mundo. João, em seu evangelho, usa esta palavra setenta e sete vezes. Somente no capítulo dezessete ela ocorre quinze vezes. Em suas cartas ela é usada vinte e uma vezes. Em Coríntios ela é encontrada vinte e duas vezes, e ela é referida em quase todas as demais cartas.
A respeito do mundo é dito: 
1. Que ele é algo que Cristo teve que vencer, e que Ele disse que venceu.
2. Que em sua totalidade ele jaz no maligno, e que tem um príncipe.
3. Que ele é hostil e inimigo de Deus, e que ser seu amigo é ser inimigo de Deus.
4. Que ele é algo do qual os cristãos foram tirados, e que foi intercedido para que eles, embora estejam no mundo, possam ser guardados dele.
5. Que ele está debaixo de condenação e será destruído.
Muitas outras coisas são ditas sobre ele, porém nós não nos propomos a entrar numa análise da palavra em si, ou a diferença de palavras gregas traduzidas para esta única palavra ‘mundo’. 
Porém, alguns podem talvez citar João 3.16, querendo contrariar o que foi falado acima: ‘Deus amou o mundo...’ Esta grande Escritura indica o real significado do que nós vamos dizer. Na verdade não há contradição. A fim de entender o contraste, temos que fazer a pergunta: O que é esta coisa que é tão destituída do favor de Deus, e que, por outro lado, é tão amada por Deus?
Em relação à primeira pergunta pode ser dito logo que, neste sentido de desfavor, ‘mundo’ não significa a moldura, a esfera, o material e a estrutura geográfica. Nem significa essencialmente as pessoas dentro desta estrutura. Deus não odeia a humanidade! ‘Mundo’, portanto, deve significar outra coisa, e nós, talvez, podemos indicar isto por meio de certos termos como: uma natureza, uma disposição, uma mentalidade, um sistema, uma constituição, um caminho! É em tudo isto que aquilo que é oposto, hostil, contrário a Deus é inerente. 
O ‘mundo’ neste sentido é rejeitado por Deus por causa de Sua própria natureza e constituição. É aqui que repousa toda esta questão de mundanismo. Esta questão tem sofrido lamentavelmente de má interpretação, e tem feito com que muitas pessoas sejam colocadas numa posição falsa. 
Por exemplo, mundanismo tem sido transformado numa questão do lugar aonde as pessoas vão (teatros, cinemas, danças, etc.), ou da forma como as pessoas se vestem e se comportam, ou falam. Tem sido dito que, para se tornar um cristão, tais coisas devem ser abandonadas e outras coisas devem ocupar o lugar delas. Folhetos têm sido escritos sobre: Deve um cristão ir ao teatro? – Fumar? Beber bebida alcoólica? Usar maquiagem? E assim por diante. Isto é não compreender o principal, o que pode levar ao legalismo ou ao judaísmo. Realmente, em tudo isso, o que não é compreendido é nada menos do que o novo nascimento em si, que, se genuíno, _ resultando no Espírito Santo morando em nosso interior e na vida de Deus _ irá responder todas as questões à partir DO INTERIOR.
Vamos olhar mais de perto nesse termo ‘mundo’ à luz da Bíblia.
 
1. O Mundo é uma Natureza 
 
Como observamos, o mundo é hostil a Deus, e Deus a ele, se ele é algo a ser “vencido”, e do qual o cristão deve se afastar, se a amizade com ele constitui em “inimizade contra Deus”, então deve haver algo muito maligno sobre ele, e que é mais maligno do que o próprio Satanás? A Bíblia representa Satanás como tendo se tornado ‘o príncipe deste mundo’, e é seu ‘deus’ pelo consentimento e conquista do homem, a quem a terra criada estava entregue em confiança.
Mas deixe ficar claramente entendido que esta mudança de governo não foi nenhuma coisa ‘oficial’ e formal, de modo que Satanás passou a governar meramente de uma posição externa. Ele capturou a mente, o coração e a vontade, e inoculou na alma do homem a sua própria natureza. A natureza do homem foi mudada. O que é esta natureza?
Abrangentemente ela é mostrada como estando em rivalidade com Deus, isto é:
  • (a). Para tomar o lugar de Deus.
  • (b). Para tomar o direito de Deus e não permitir que Deus seja tudo.
  • (c). Para ser independente de Deus e auto-suficiente, saber mais, capaz de fazer melhor, ou fazer sem Deus.
  • (d). Para ser possuído de poder, a fim de controlar, dominar, ser superior; uma revolta contra a sujeição e subordinação.
Esta é a natureza com que, num grau maior ou menor, a humanidade tem sido impregnada. O coração de toda esta questão é ‘independência’, contrário de dependência de Deus. Como isto ocorre?
  • (a). Ocupar-se muito mais com o que é material e temporal do que com o espiritual.
Para Deus todas as coisas são vistas do ponto de vista do valor espiritual. Esta é a Sua própria natureza. Deus é Espírito, não impessoal, mas um Espírito pessoal. A importância das pessoas na Bíblia é a medida do efeito e do fruto espiritual de suas vidas e serviço.
Satanás irá absorver e obcecar com o material e temporal, a fim de roubar o espiritual, ou reprimi-lo. 
  • (b). Ocupar-se somente com o presente e ofuscar o eterno.
O que temos e podemos obter agora é a preocupação mais importante. Esta vida é tudo! Isto é o real; o eterno é irreal para o homem natural.
Este é o grande ponto onde Satanás tentou a Cristo e Lhe ofereceu o mundo. Neste ponto Jesus venceu o mundo! No mundo o que se vê é o que importa; o sentido natural da percepção e da avaliação predomina completamente. O padrão de sucesso é aquele que pode ser mostrado.
De muitas outras maneiras, a natureza deste mundo está em contraste com a natureza de Deus; os seus padrões, seus pontos de vista, seus valores, seus objetivos, seus pensamentos, seus caminhos, seu espírito. Um dos maiores aspectos no ensino espiritual do cristão é aquele de aprender quão completamente diferente são os pensamentos, medida de valores e os caminhos de Deus em relação aos nossos.
 
2. O Mundo é uma Prisão
 
O guardião desta prisão é o próprio Satanás.
A Bíblia revela as almas dos homens como estando num cativeiro, numa escravidão, em grilhões, numa prisão, no poder de Satanás. Ela revela Cristo como o Redentor ungido vindo a este mundo para ‘proclamar a liberdade aos cativos, e a abertura da prisão aos encarcerados’. Ele é mais forte do que o homem que vigia a sua casa!
A libertação de uma alma  do mundo implica em conflitos muito intensos, e, após a libertação, é uma contínua batalha para se mantê-la livre das influências do mundo, do seu poder e de sua atração.
 
3. O Mundo é Mentiroso
 
Como o homem no princípio caiu na armadilha da mentira, assim ele permanece vítima do que é falso. Quanto mais uma pessoa tem deste mundo, maior a desilusão no final. Os prazeres do mundo são uma corrente enganosa que irá fracassar finalmente. Suas riquezas não trazem satisfação ao coração, e a alma sai tão nua como quando entrou. 
Jesus disse que ganhar o mundo inteiro em troca da alma não é um bom negócio. A sutileza pela qual o homem foi inicialmente capturado estava no fato de que a VERDADE quanto ao resultado final não estava revelada, mas escondida. Jesus deixou as pessoas de Seu tempo sem qualquer dúvida de que elas eram cegas, e demonstrou isso por meio de milagres, isto é, por meio de atos que somente Deus poderia fazer. 
Há graus de cegueira. Há a cegueira natural, que é universal, mas que pode ser remediada pela graça e poder de Deus. E há a dupla cegueira do preconceito e do orgulho adicionados à natureza, que é fatal. Tal era a cegueira da classe religiosa dominante do tempo de Cristo, e isto custou a esses religiosos toda a esperança.
Tudo o que temos dito e tudo que isto implica podem ser provados pela história, e para os cristãos por meio da experiência. Eles pegaram o elemento comercial do mundo e o ligaram às coisas celestiais. Isto é mais tarde declarado como sendo algo colocado no coração por Satanás. O resultado foi desastroso para eles,
‘No princípio’ a igreja sabia de tudo isto, permanecia nesta verdade e a ensinava. Além do mais, o Espírito Santo tornou isto muito real. Naqueles dias uma cumplicidade com o mundo era desastrosa. Quando aqueles que tinham bens negociáveis e propriedades abriram mão deles para o proveito do evangelho, havia dois que tiraram vantagem da situação, a fim de obter vantagem para eles. E o imediato julgamento lançou para sempre o princípio de que mercantilismo em coisas divinas é fatal.
Foi por causa da invasão permitida do mundo dentro das igrejas que o julgamento deles é efetuado, como registrado em Apocalipse, e em alguns casos, o candelabro foi removido. A grande decepção que está custando à igreja tanto poder é que, a fim de influenciar o mundo, é necessário ser um com ele, é necessário descer ao seu nível; para empregar os seus métodos, para usar os seus meios e para remover toda distinção entre a igreja e o mundo. A verdade é que o poder da igreja sobre o mundo é proporcional à sua separação dele. A questão da atração é para ser respondida ao longo da linha de uma igreja perfeitamente contente e satisfeita sem qualquer dos brinquedos do mundo. Isto temos visto demonstrado. Há um magnetismo sobre a alegria e regozijo de cristãos completamente engajados e consagrados que tornam vão os métodos do mundo.
Assim era ‘no princípio’, apesar da perseguição, do ostracismo, e da grande adversidade. O segredo do poder inicial e do crescimento da igreja era a grandeza do novo mundo que tinha sido aberto em Cristo, e a entrada da igreja nele. Cristo os preenchia completamente, e eles não necessitavam de qualquer acréscimo. O que isto significava era a grandeza de Cristo e a compreensão que eles tinham dEle. 
A independência deles do mundo era o poder que eles tinham sobre o mundo. A suficiência de Cristo propiciou aquela independência. Isto intrigou o mundo, levou-o a inquirir, a investigar, e a ansiar, mesmo que isto provocasse o príncipe deste mundo à amarga inveja e antagonismo.
A igreja pode ter que caminhar um bom caminho para trás, a fim de recuperar o seu poder e influência, porém, não há alternativa, e o mundo irá experimentar a sua queda, desilusão e vergonha.
 
Capítulo 3 - Igrejas e Obreiros
 
Temos dado grande ênfase sobre o fato de que, no princípio, tudo estava debaixo do governo do Espírito Santo, o qual tinha assumido a custódia de todo o propósito de Deus, e era o Seu  curador. Como no caso do tabernáculo do Velho Testamento, o modelo completo foi concebido no céu até o último detalhe, e mostrado. Então, Bezaleel e Aholiab foram cheios do Espírito de Deus para toda arte de ofício. Absolutamente nada foi deixado para a concepção do homem, e porque as concepções eternas, espirituais e divinas estavam por trás de cada fragmento, Deus foi meticulosamente detalhista.
Assim foi na primeira fase de coisas no princípio do novo Israel. O homem possui uma grande propensão para colocar as suas mãos nas coisas, e nada é tão sagrado para escapar disso. A grande precaução tomada por Deus quando Adão desencadeou este tipo de coisa foi: ‘Para que ele não estenda as suas mãos... ’  Quando isto foi feito, como nos exemplos de Nadab e Abiú, Uzias, Ananias e Safira, etc., o Senhor mostrou a Sua desaprovação por meio de um julgamento rápido. A mão do homem é sempre possessiva, controladora e organizadora. Seu método é trazer as coisas dentro dos limites de sua própria mente e juízo. Não há acordo entre as mãos do Espírito Santo e as mãos do homem, e qualquer tentativa da parte do homem de conciliar irão resultar em conseqüências desastrosas mais cedo ou mais tarde.
Há uma necessidade clamorosa por uma renovação de nossa mentalidade em relação aquilo que chamamos procedimento neotestamentário. O ponto inicial terá que ser na encruzilhada entre causas e efeitos, isto é, como e por que as coisas começaram, e as coisas em si. Nós começamos do lado errado, no lugar onde as coisas estão em existência, e tomamos as coisas como um modelo, um projeto, um livro texto, e passamos a imitar, a copiar, a reproduzir. Assim, reduzimos o Novo Testamento em um manual de organização. Fazendo assim, desprezamos o fato fundamental, elementar, e vital que aquilo que temos no Novo Testamento nunca foi desta maneira. Seja lá o que exista no Novo Testamento que é chamado de uma ‘ordem’ era um assunto normal, natural, espontâneo, de um tipo de vida que tinha sido miraculosamente concedida pela ação direta do mesmo Espírito quando tornou possível a concepção de Jesus no ventre de Maria: ‘Gerado, não criado’. Foi o crescimento e a formação de um organismo: ‘Não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus’. (Jo. 1.13). Isto foi tão verdadeiro da parte inteira quanto o foi das partes individuais.
 
Vamos tomar:
 
O Caso das Igrejas 
A idéia mais genérica é que os apóstolos, Paulo em particular, criam que eles foram chamados para ir e formar igrejas por todo o mundo, que quando eles entravam numa província, ou numa cidade, o pensamento deles era o de formar lá uma igreja local. Iremos procurar em vão por alguma ordem do Senhor, ou intimação vinda dos apóstolos de que este era o objetivo deles. O que eles sabiam ser seu negócio era trazer Cristo por onde quer que eles fossem. Se Cristo fosse rejeitado, não havia igreja. Se Cristo fosse aceito, aquelas pessoas que O aceitaram se tornavam um instrumento de Cristo naquele lugar. A única concepção de igreja em todo lugar não é uma representação da religião cristã, mas uma corporificação de Cristo. Onde quer que isso ocorra, mesmo que sejam duas ou três pessoas reunidas em Seu nome, lá Jesus está. É a presença de Cristo que constitui uma igreja, e é o aumento e a conformidade a Cristo que é o crescimento de uma igreja. No livro de Apocalipse, o Senhor não hesita em falar da remoção de um castiçal, caso cesse a sua função essencial, embora muita da forma e da atividade cristã ainda possa estar presente. A função essencial e o critério final é a presença de Cristo. A presença do Senhor sempre foi o fator determinante nos valores eternos. É a função suprema de o Espírito Santo trazer Cristo para dentro de todas as coisas, e todas as coisas para dentro de Cristo.
Igrejas, como tais, são apenas meios, e, como coisas terrenas, elas passarão com o tempo. O que é de Cristo dentro e através dos meios será reunido numa forma especial dentro da grande igreja universal que Cristo irá apresentar a Si mesmo _ ‘uma igreja gloriosa’. Nós não estamos aqui tratando com o organismo pleno que sai da semente da vida _ a lavoura de Cristo _ mas apenas com ‘como era no princípio’. Naturalmente, um desafio está envolvido: Como isto e aquilo vêm à existência?
O princípio que era pra ser estendido para o mundo inteiro estava inerente na escolha e no envio por Cristo dos ‘setenta’. Eles foram enviados a todo lugar ‘aonde Ele próprio viria’. Uma igreja local, então, não é em primeiro lugar algo constituído ou formado conforme um modelo ou procedimento, mas pela presença de Cristo em duas ou mais pessoas naquele lugar. Essas pessoas ‘batizadas em um só Espírito em um só corpo’ são, em efeito, Cristo naquela localidade, tomando posse da terra como um testemunho de Seus direitos, e espalhando ‘o bom perfume de Cristo em todos os lugares’. Falhar nisto, com relação à sua verdadeira função, o organismo está morto.
Continue com a forma se você quiser, porém a ‘igreja’, como tal, não é mais sagrada aos olhos do Senhor do que o tabernáculo em Siló, ou o templo em Jerusalém, uma vez que a glória tinha desaparecido, isto é, a presença do Senhor.
 
Os Obreiros 
O princípio ao qual temos  nos referido acima é o mesmo em relação a toda pessoa que tem qualquer posição de responsabilidade na obra do Senhor. É um grito distante dos métodos modernos em comparação aos do princípio. A escolha através de voto popular, a escolha de pessoas ‘habilitadas’ para o serviço, a influência de títulos, de diplomas, de homens com visão de negócio, de sucesso no mundo, de dinheiro, ‘interesse na obra de Cristo’, a escolha de ‘neófitos’, e dar ou permitir reconhecimento público a tais coisas é um sistema que não tinha nenhum lugar no princípio. Isto está repleto de problemas que aparecerão mais cedo ou mais tarde, e é algo perigoso para as pessoas envolvidas.
Uma questão simples e prática surgiu bem no princípio. Foi apenas uma questão de ver que certas viúvas estavam sendo desprezadas quanto às suas necessidades básicas diárias, e a ministração justa do dinheiro disponível. Poderia ser pensado que qualquer bom homem, ou homens, com um pouco de habilidade para negócio, poderia resolver aquela situação, mas não foi assim no princípio. A prescrição era: ‘...homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria’. ‘E eles escolheram Estevão, um homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prochorus, e Nicanor, e Timon, e Parmenas, e Nicolas, um prosélito de Antioquia: a quem eles colocaram diante dos apóstolos, e eles oraram e lhes impuseram as mãos’. (At. 6).
O assunto foi conduzido por meio de cuidado escrupuloso, e o requisito essencial era ser ‘cheio do Espírito Santo’, para que todos pudessem ver. Nesta fase mais elementar de procedimento o imperativo era homens espirituais, reconhecidos por todos como tais. O ‘ritual’ não os tornava espirituais. Eles já eram espirituais antes que as coisas mais elementares lhes fossem confiadas. Evidentemente eles tinham sido provados na igreja e foram aprovados antes que fossem ‘ungidos’. Se isto era assim no caso das responsabilidades elementares, quanto mais seria isto aplicado à grande responsabilidade dos anciãos e dos que presidiam.
Antes dos apóstolos terem terminado os seus ministérios, as coisas começavam a mudar na ordem da igreja. Sinais de um eclisiasticismo insipiente, como conhecemos hoje, estavam aparecendo. É desprezado que quando Paulo escreveu suas cartas _ a Timóteo _ e disse que ele escreveu para que os ‘homens  pudessem saber como deveriam se comportar na casa de Deus’, que Paulo estava escrevendo a fim de corrigir o comportamento errado. Aquela má conduta estava associada principalmente aos que estavam em posição de responsabilidade, os anciãos. O corretivo de Paulo era o reconhecimento de que anciãos não são apenas cargos eclesiáticos, mas são essencialmente homens espirituais; homens de medidas espirituais, e não neófitos. Eles são anciãos em caráter, em qualificações e dons espirituais antes de terem o título de ancião. O título jamais transforma um homem num ancião. Se ele já não for um ancião, nenhum título jamais o irá transformar em um! Tanto na igreja, como em homens responsáveis, é a presença e a medida de Cristo que determina tudo.
Nós não fizemos mais do que apontar um princípio vital. Vital no sentido de que ele irá determinar a vida, o curso e o destino de tudo que levar o nome do Senhor.
 
Capítulo 4 - Cristo e Sua Igreja em Oculto 
 
‘...o mundo não nos conhece, porque não conheceu a Ele’ 
(1 Jo. 3.1).
 
Em nossa busca pelas diferenças entre as coisas hoje e como elas eram nos primeiros anos do cristianismo, vamos logo deixar claro que isto não é nenhum desejo inútil de fazer comparações e simplesmente deixá-las lá. É sempre uma coisa muito fácil e geralmente infrutífera encontrar e fazer comparações, e não é muito inteligente fazer isto.
Em nossa busca há apenas um objetivo dominante: é descobrirmos se as diferenças representam um ganho ou uma perda real. 
Podemos achar que somos levados a uma conclusão mais do que genérica em relação ao cristianismo como um todo. A probabilidade é que problemas espirituais na vida do cristão individual podem ter luz lançada sobre eles. Porém devemos começar com o princípio fundamental e com a diferença maior. Esta diferença é fácil de ver, e é muito grande de fato.
A citação da carta de João (ao longo da qual muito mais poderia ser explorada) contém uma afirmação categórica: ‘o mundo não nos conhece’, e isto está ligado a uma desaprovação  e uma interpretação mais ampla, mais drástica, mais ampla: ‘porque não conheceu a Ele’.
Esta é uma simples e óbvia afirmação do fato: o fato de que tanto o Filho de Deus e a igreja de Deus poderiam estar aqui neste mundo em contato bem próximo com as pessoas, com todas as maravilhas e milagres do Divino propósito, e o mundo continuar num estado de completa incapacidade para identificá-los _ ‘não os conhece’.
Isto não significa que o mundo estava inconsciente de sua presença. Muito pelo contrário! O mundo estava muito longe de ser capaz de ignorá-los. Eles tinham que considerá-los. Porém, quanto a sua verdadeira identidade e significância, o mundo não podia compreender. De tempos em tempos, o mundo, que precisa reduzir tudo a uma fórmula, a uma etiqueta, a um nome, fez uma tentativa de encerrar esta inescrutabilidade numa palavra, ou frase, ou epíteto. Ele cunhou um termo e apelidou-os de ‘cristãos’, ou pessoas ‘do caminho’, ou uma ‘seita’. Esta é a maneira de agir do mundo. Ele precisa reduzir o infinito, o eterno, à medida de sua própria mente.
Mas a pergunta que é vital para nós é se esta posição secreta foi ganho ou perda. Pedimos licença para afirmar sinceramente que foi um ganho indescritível, tanto no caso de Jesus como de Sua Igreja, de que a real natureza, virtude, poder e significância de sua presença neste mundo  estivesse exatamente no fato de que havia um segredo que estava além da compreensão natural. Embora eles desejassem que os demais homens pudessem entrar pelo mesmo caminho que iria tornar este segredo real também para eles, era apenas no conhecimento de que um milagre divino estava no coração daquela experiência que a força de Cristo e da igreja repousava. O mistério intrigava, confundia, frustrava, enfurecia o mundo, ou deixava-o pensativo. Carne e sangue não podiam revelar aquele mistério, somente o Deus Todo Poderoso! ‘O mundo não nos conheceu’, isto não era nenhuma queixa, nem lamentação de derrota, e nem uma confissão de que algo faltava neles. Eles sentiam pelo mundo, não por eles mesmos.
O poder deles repousava nesta diferença fundamental. Porém, o tempo chegou, muito cedo, quando esta distinção começou a se render, em troca por uma ‘reputação’  com o mundo, e isto dá força à nossa pergunta: A igreja ou o cristianismo ganhou realmente com esta troca? O cristianismo agora recorre a cada meio concebível por meio do qual ele possa ganhar posição, reconhecimento e prestígio, e na qual o mundo possa facilmente compreendê-la. Para o seu próprio sucesso ela precisa ter nomes, títulos, designações, honras, etc. Se os cristãos não se ‘conformarem’, não ‘pertencerem’, não tomarem um nome, e não se explicarem a si mesmos, eles são suspeitos, intrusos, e sem ‘reputação’; não importa quais possam ser os seus valores espirituais. ‘Seita’ tornou-se um epíteto, uma expressão de escárnio, como nos tempos apostólicos. Nesta linha o cristianismo se expandiu, tornou-se grande, porém, a pergunta é premente em muitas honestas e sérias mentes quanto a se o valor intrínseco poderá ser comparado com aquele do princípio.
Não é impressionante ver como, embora aquilo que teve um início forte, profundo, rico e eficiente tenha sido ‘aceito’ pelo mundo, especialmente o mundo religioso, marcas de perda espiritual se mostram? De quantos ministérios e instrumentos iniciados em Deus estão nesta situação. De algo do céu, contendo uma profunda e valiosa história espiritual, e possuindo o dinamismo e o impacto da presença divina, ao seu posterior desenvolvimento numa ‘instituição’ que está de bem com os homens, com toda a sua grandiosidade, tornou-se uma mera sombra de sua origem, em relação ao seu profundo e espiritual poder. Há hoje pouco, ou nenhum ‘mistério’ sobre ela. Não possui nada de inescrutável e inexplicável nela. Ela pode ser atribuída principalmente à habilidade humana.
Vamos nos apressar em inserir uma palavra de caráter protetora. Nós não estamos dizendo que é uma coisa errada para os cristãos, como pessoas privadas, terem ganho, honras, diplomas, títulos, ou designações. Estamos cientes de um movimento ultra-exclusivista no qual, para se ter comunhão, reconhecimento, e participação na Mesa do Senhor, é exigido que se repudie e se renuncie todos os diplomas profissionais, acadêmicos, e outros. Nós não estamos definitivamente apoiando isto. Em suas áreas essas coisas têm o seu lugar. O que estamos dizendo é que, se o cristianismo procura fazer dessas coisas a base de sua força, de seu apelo, ou de seu status, ele irá se desviar e conseqüentemente irá sofrer a perda do poder espiritual. ‘O mundo não nos conhece’, e qualquer tentativa de colocar valor humano no lugar daquele segredo espiritual se mostrará desastroso. Quando o termo ‘instituição’ começa a aparecer largamente no vocabulário cristão, isto pode significar que uma mudança aconteceu que não foi para melhor.
O desafio a muitos corações é no sentido de saber se eles estão preparados para serem mal compreendidos, não reconhecidos, não valorizados e não aplaudidos neste mundo, e viverem somente para os valores eternos. Tem sido dito do apóstolo Paulo que ‘ele vivia somente com os valores eternos em vista’. Ele estava correto?
Um apóstolo diz: ‘O mundo não nos conhece... não conheceu a Ele’. Um outro diz: ‘A ardente expectação da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus’ (Rm 8.19). Haverá algumas surpresas quando isto acontecer _ em ambos os sentidos! 
Somente o Espírito do Filho, e aqueles que têm esse Espírito, conhecem os filhos de Deus. Deus os escondeu do mundo. É doloroso não ser reconhecido, porque isto é contrário à nossa natureza _ como é.
O mundo precisa ver  os embelezamentos, as honras, as vestimentas, os títulos, a fim de levar em conta. No princípio não era assim. ‘Eles tomaram conhecimento de que aquelas pessoas tinham estado com Jesus’. Há uma maneira correta na qual o mundo deve nos conhecer, isto é, saber que estamos aqui, e que somos algo que ele não pode compreender.
 
Capítulo 5 - O Significado e a Realidade das Coisas 
 
O livro de Apocalipse _ um livro que revela a mudança das condições espirituais na era pós-apostólica dos primeiros dias, e talvez, profeticamente, o estado ao final do tempo na igreja _ fala de certas perdas. Ele, reprovadamente, usa as palavras: ‘primeiros’, ‘primeiro amor’, ‘primeiras obras’. Esta é apenas outra maneira de dizer: ‘Como era no princípio’. 
Estamos, nestas reflexões, buscando observar algumas dessas mudanças e perdas, com vistas a criar um exercício de recuperação. 
Uma mudança posterior muito evidente a partir do princípio, especialmente no cristianismo ocidental, é indicada pelas duas palavras do título desta página _ significado e realidade.
Talvez por causa da longa tradição e familiaridade, o nosso sistema aceito e ordem estabelecida, ou talvez por causa de uma apresentação excessivamente simplificada e superficial do envolvimento, estejam num tempo e numa condição quando o cristianismo é amplamente uma questão de coisas sem os seus significados. ‘Conversão’ é alguma coisa menos _ se não outra _ do que regeneração, uma nova criação. Batismo é algo feito, ou como um ritual, o requerimento de associação, uma submissão ao regulamento, uma adesão a certas partes da Escritura, ou _ quando muito _ a expressão de um desejo em seguir o Senhor. A ‘Ceia do Senhor’, ‘A Mesa do Senhor’ está no mesmíssimo campo e tem a mesma natureza que o batismo.  A filiação à igreja, ou a uma igreja, e o serviço cristão são coisas previsíveis, e que são mantidas.
Quão grande é a perda do tremendo e exigente significado dessas coisas. 
Não é possível ler qualquer parte do Novo Testamento ser ficar consciente da preciosidade associada a qualquer passo em relação a Jesus como o Cristo. A própria intenção de se associar a Ele levantava as questões mais sérias. O ato de confessar Jesus e de se batizar envolvia dificuldades profundas e abrangentes. Dar testemunho Dele e representá-Lo no mundo produzia problemas espontaneamente. Quanto mais os crentes e os servos de Cristo avançavam, mais difícil ficava o caminho. Os crentes, as igrejas, simplesmente tinham que resistir e lutar por suas vidas espiritualmente. É tão manifestadamente verdade, até mesmo em nossos dias, que onde é mais difícil permanecer fiel ao Senhor _ como na Alemanha Oriental, Rússia, etc. _ lá você encontra os mais legítimos e verdadeiros crentes. É sabido que alguns escolheram deliberadamente retornar a tais lugares e aceitar o sofrimento após ter experimentado ou visto a pobreza espiritual e a irrealidade dos cristãos nos chamados ‘países livres’. Não é necessário ir para trás da ‘cortina de ferro’, ou para a ‘cortina de bambu’, ou para ‘terras pagãs’, a fim de encontrar a perseguição e, em conseqüência disso, encontrar a realidade. Em tais casos, milhões de cristãos no ocidente jamais encontrariam.
Entrega total ao Senhor em qualquer lugar irá produzir condições espirituais que irão testar, desafiar, tornar realidade, e extrair o significado profundo e real de todas as coisas. Entrega total significa disposição em permitir que o Senhor dite cada aspecto da vida e, quando Ele se depara com uma questão ou um teste, siga em frente, custe o que custar. Significa estar empenhado em conhecer o significado mais profundo e pleno de cada pedacinho do nosso cristianismo.
O que o Espírito Santo, através das Escrituras, quer significar com novo nascimento, batismo, mesa do Senhor, comunhão, a igreja, ministério e serviço, etc.? De fato, o que significa ter o Espírito Santo? Há tanta gente por aí se achando e tomando por certo, que isto pode resultar em presunção _  pré-suposição. Muitos cristãos aceitam as doutrinas, as tradições e as ordenanças, porém, no princípio, eram as implicações, o valor e o significado que dava realidade a tudo. Esta realidade produzia um temor salutar. Violações ou ignorância dos princípios vitais podem seguir impunes em nosso tempo, e os julgamentos de Deus não são imediatos e aparentes, mas operam lentamente e quase imperceptíveis a longo prazo, e conclui-se, se pensado a respeito absolutamente, que isto não importa. Há muitas condições e situações, confusões e frustrações, limitações e complicações, que _ caso não saibamos  _ são julgamentos. Será que não podemos ter levado muito longe essa autoconfiança?
Uma coisa é muito clara: os apóstolos e seus companheiros procuravam fazer os crentes levarem o seu cristianismo muito a sério, não deixando a eles qualquer dúvida das sérias conseqüências que adviriam _ mais cedo ou mais tarde _ caso assim não o fizessem.
Podemos tomar alguns dos assuntos mencionados de forma mais específica e completa, mas para o momento queremos enfatizar o seguinte: que o Senhor jamais fez provisão para qualquer coisa menos do que a pura realidade
Pressões serão trazidas e colocadas sobre a nossa confissão, as quais irão nos desmascarar, e seremos provados na moenda. Os discípulos entenderam as implicações dos ensinamentos do Senhor quando perguntaram: “Senhor, são poucos os que se salvam?”
Dr. Billy Graham tem razão em perguntar por que é que, de todos os milhares que fazem a ‘decisão’, tão poucos continuam, e tantos retroagem. A resposta pode muito bem ser que as  implicações totais e o significado profundo do que representa ser um cristão não é geralmente mostrado.
 
Capítulo 6 - A Grande Transição 
 
Muito tem sido escrito, e ainda está sendo escrito, sobre a diferença no progresso do Evangelho nas três primeiras décadas do cristianismo, e ao longo de todo o tempo a partir de então.  É impossível de se negar que o progresso, então, era nada menos do que fenomenal. Mais do que uma vez citamos as palavras do Dr. A. M. Fairbairn:  “No ano 33 A. D., alguns pescadores galileus estavam procurando liberdade de expressão em Jerusalém, e foram tratados como homens pobres e ignorantes. No ano que Paulo morreu (cerca de 30 anos mais tarde), qual era a situação? Havia igrejas em Jerusalém, Nazaré, Cezaréia, em toda a Síria, Antioquia, Éfeso, Galácia, Sardis, Laodicéia, em todas as cidades da costa oeste através da baixa Ásia, em Filipos, Tessalônica, Atenas. Corinto, Roma, Alexandria, nas principais cidades das ilhas e do continente Grego, e as colônias ocidentais romanas”.
Com toda a tremenda organização, despesa e propaganda a partir de então, e particularmente no último século, não há nada que se compare com aquilo, especialmente quando é observado que naqueles primeiros anos não lemos sobre qualquer maquinário, apelos, delegações, exposições, demonstrações e toda organização de missões e esforços missionários com os quais estamos tão familiarizados hoje em dia. Não é que haja uma falta de preocupação com a evangelização, ou uma falta de sacrifício e sofrimento por parte de muitos servos devotos de Deus. Seja lá o que possamos dizer devemos nos guardar para não depreciarmos ou desvalorizarmos o grande derramar  de vida e poder que caracterizou o grande empenho para a salvação das almas nesses séculos passados. Um contato com muitos servos devotos de Deus nessas esferas de serviço significa uma reprovação a qualquer espírito de crítica.
Porém, reconhecendo cada pedacinho desta devoção sacrificial, há muito poucas pessoas que não estão cientes da diferença mencionada acima , e volumes enormes de literatura estão sendo publicados sobre este assunto. Nosso objetivo não é criticar ou lançar dúvidas, mas perguntar _ caso a comparação e contraste for correta e verdadeira _  se há quaisquer fatores e características que constituem a mudança?
Houve características no princípio as quais não são geralmente obtidas hoje? Onde realmente tem havido uma obra viva e efetiva para a qual todos podem apontar como se assemelhando à obra dos primeiros dias? E isto se deve a presença daqueles primeiros fatores? Vamos olhar para um ou dois exemplos notáveis e ver se eles apontam para algo original.
Primeiramente vamos recordar a maravilhosa e excitante história dos irmãos moravianos. Em seus primeiros vinte anos (somente vinte anos, observe você) eles realmente enviaram mais missionários do que toda a igreja protestante tinha enviado em duzentos anos. Da entrada nos países fechados, os sofrimentos alegremente suportados, à distância percorridas, as vidas vividas e sacrificadas, a graça de Deus manifestada, isto provoca admiração e vergonha ao se ler.
Alguém disse que, se os membros das igrejas protestantes tivessem ido em números correspondentes, teria havido uma força excessiva do número estimado como necessário para evangelizar todo o mundo. Qual foi o segredo e quais eram os fatores? Em primeiro lugar, a cruz tinha trabalhado profundamente na essência do ser de cada uma daquelas pessoas. Isto teria acontecido por meio de um profundo sofrimento. O país dessas pessoas tornou-se um campo de sangue devido ao massacre. Elas foram tiradas de seus lares. De uma população de três milhões eles foram reduzidos pela perseguição para de um milhão. De fato, pareceu algumas vezes como que se essas pessoas tivessem sido completamente exterminadas, e seu testemunho extinto.
Desse fogo de aflição levantou-se uma companhia purificada, com outro tipo de fogo queimando em seus ossos. Era um fogo de um amor apaixonado pelo Senhor Jesus. As reuniões desses irmãos, quando mais tarde isto foi possível, tinham a atmosfera da sala do cenáculo em Jerusalém quando a tensão era similar. Pactos foram feitos no sentido de que o ‘EU’ em todas as suas formas deveria ser totalmente banido: vontade própria; amor próprio; interesse próprio, busca própria.
Ser humilde de espírito era a busca deles, e qualquer um se entregaria a si próprio para ser ensinado pelo Espírito Santo. Uma vigília foi instalada a qual deveria funcionar dia e noite, e, em revezamentos, toda uma vinte quatro horas foi ocupada em se buscar o Senhor. O lema era: ‘Buscar pela recompensa dos sofrimentos do Cordeiro’.  Tudo isto é o seu próprio argumento. Uma profunda obra da cruz trabalhada resultante de um poderoso amor pelo Senhor Jesus. Considerações pessoais eram perdidas e nenhuma persuasão era necessária. É necessário  provar, ou mesmo indicar, que isto era uma real correspondência àqueles primeiros anos do cristianismo?
Apenas para nosso primeiro exemplo. Voltamo-nos para um outro, no qual muito do que dissemos foi assumido com outras características. Quão freqüentemente tem sido apontado para a  antiga história da Missão Interior Chinesa e quanto se têm recorrido a ela como um grande exemplo de obra verdadeiramente de Deus em sua vida espiritual e eficiência! Livros ainda têm sido publicados em retrospecto com o objetivo de inspirar e restaurar por meio daquele exemplo. Porém seria um equívoco aceitar tudo da obra, a ‘missão’, e desprezar o entendimento e a experiência espiritual. Com toda a sua visão e paixão pela evangelização do interior da China, é bem sabido que, na medida em que o Sr. Hudson Taylor  ia de um lugar para outro com o seu coração compromissado, discursando em reuniões cristãs, ele falava muito pouco, comparativamente, sobre a China, quase nada absolutamente. 
Ele despejava sua mensagem espiritual a fim de trazer o povo de Deus para um conhecimento mais pleno do que sua união com Cristo significava. A coisa central e suprema em sua mensagem e com o Senhor era a sua ênfase sobre A EFICÁCIA UNIVERSAL DA ORAÇÃO. Ouçam-no: “No estudo da Palavra divina aprendi que, para se obter trabalhadores de sucesso, não adiantam apelos elaborados, mas oração sincera a Deus... e o desejo ardente pela vida espiritual da igreja, de modo que os homens pudessem ser incapazes de permanecer em suas casas, isto era o que se necessitava”.
Se fôssemos colocar o íntimo daquela obra _ a experiência espiritual original _ em poucas palavras, teria que dizer que ela não foi fruto de organização, proteção, apelos, ou propaganda, mas de um homem com um profundo conhecimento de Deus, nascido de uma profunda obra da cruz em seu íntimo, com uma mensagem espiritual viva para o povo do Senhor, em relação a sua vida plena Nele, e a exteriorização prática de tal vida através da oração.
Sr. Hudson Taylor não se posiciona ao lado de  proeminentes professores de Bíblia, no sentido de apresentar a verdade numa forma sistematizada. Ele não era um dos muitos distintos mestres da Bíblia no sentido geralmente aceito desse termo em sua geração. A sua mensagem levava imediatamente a duas questões. Primeira, o relacionamento do crente com o Senhor e, então, a exteriorização prática desse relacionamento em oração e outras formas de serviço; levar o evangelho para aquelas pessoas que não tinham oportunidade de recebê-la, exceto por meio de um dedicado esforço de alcançá-las. A vida do Sr. Hudson Taylor voltou-se para um ponto específico sobre uma compreensão mais profunda do que aquela união com o Senhor realmente significa. Em nosso último capítulo, referimo-nos a íntima ligação entre o movimento de convenção, tal como ‘Keswick’ e a evangelização mundial. Em relação a isso poderíamos apontar para os ricos ministérios espirituais de tais servos de Deus como Dr. Andrew Murray e Sr. Charles Inwood, através dos quais ministérios fortes e frutíferas missões evangelísticas aconteceram.
De que forma, então, isto tem conexão com aqueles primeiros anos do cristianismo? A resposta seguramente é encontrada numa correta compreensão do significado do Pentecostes. O que foi o Pentecostes? Temos lamentavelmente falhado em responder correta e adequadamente esta questão. Os efeitos cumulativos e externos  têm obscurecido os elementos mais profundos. Temos interpretado o Pentecostes em termos de atividade, sinais, ondas de emoção, excitabilidade, línguas, curas, etc.
Havia algo que explicava todas as manifestações e era mais do que essas. Era _ A ENTRONIZAÇÃO DO SENHOR JESUS COMO ABSOLUTO SOBERANO, sem qualquer reserva ou ordem antagônica sobre e dentro da vida inteira, em todos os seus interesses e atividades de homens e mulheres comprometidos! Aquilo que tinha acontecido na própria Pessoa do Senhor Jesus foi tornado real pelo  Espírito Santo na igreja em sua origem. Esta exaltação significava que Jesus tinha libertado. O livro que conhecemos como Atos dos apóstolos poderia muito bem ser chamado de a Soltura do Senhor.
Até o tempo de Sua morte, Jesus tinha estado severamente limitado. Ele próprio disse isso. Sua declaração em relação a isto foi: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra; e que mais quero, se já está aceso? Importa, porém, que seja batizado com certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!”  (Lucas 12:49,50). (“me angustio” aqui significa “sob pressão e estresse). Seu espírito desejava por libertação; tensão contra as limitações de sua atual posição. A encarnação, em natureza e propósito, significava limitação física e geográfica. Significava limitação nacional. Significava limitações nos homens a quem Ele havia escolhido; a presente falta de inteligência e compreensão espiritual deles; a incapacidade deles de entender a natureza da nova dispensação que Ele tinha inaugurado; a ligação terrena deles; o interesse e a ambição própria deles; a vaidade, a positividade e os julgamentos naturais deles. 
Então, a terrível limitação do não cumprimento da lei em Israel, o predomínio do legalismo, esmagando e aprisionando as almas daqueles que estavam debaixo de seu poder que tirava o descanso. “O”, Ele clamava, “que o batismo (da paixão) estivesse consumado, para que Eu, e eles, pudéssemos ficar livres.” Esta libertação veio através da morte e da ressurreição _ ascensão. Após a paixão Ele não mais estava sujeito aos limites físicos, geográficos, nacionais e naturais; Ele estava emancipado e livre. Universalidade era a nova ordem, e a “terra podia conhecer o fogo dispersador”. Ele tinha a resposta limitada e restrita de seus homens, não mais por meio de persuasão e comando exterior. Agora por meio de uma iluminação e de um dinamismo interior eles também estavam livres de suas cadeias e prisões. 
Não mais medo, mas coragem! Não mais vergonha, mas glória! Não mais defesa própria, mas disposição para sofrer, mesmo a morte por causa de Seu nome! Num golpe estratégico Ele tocou os homens ‘de cada nação debaixo do céu’ em Jerusalém num só dia. Que história resulta desta libertação! Como o fogo se espalhou! A libertação do Senhor significou a liberação do Espírito Santo, e a liberação do Espírito Santo efetivou a libertação da igreja. Por isso duas coisas surgem para serem consideradas e exercitadas. Primeira, uma nova compreensão da libertação através da morte; isto é, o que realmente significa a cruz na libertação da Igreja; e segunda coisa, qual é a real natureza da atual posição de Cristo. É aqui que a cristandade tem falhado, onde a igreja no princípio se ergueu. Essas duas coisas serão os nossos focos no próximo capítulo. É aqui que, indubitavelmente, tem que haver um movimento espiritual de regresso, a fim de se recuperar a eficácia e o poder.
Que todos os elementos de uma grande transição estavam presentes naqueles primeiros anos seguintes à ressurreição e ascensão do Senhor, e ao advento do Espírito Santo, é indiscutível. Embora aquelas pessoas imediatamente envolvidas e em responsabilidade não estivessem totalmente cônscias quanto ao significado daquilo que estava acontecendo, e fossem vagarosos em compreender as implicações das coisas, não há qualquer dúvida de que elas estavam conscientes de estarem sendo lançadas para dentro de águas desconhecidas, profundas e não familiares. Coisas estranhas estavam acontecendo, e o significado mais amplo apenas vagarosamente ia sendo revelado a elas. Verdade, houve atos da Divina Soberania que não poderiam ser ignorados, porém seus significados mais amplos apenas ia crescendo neles. Por exemplo, a morte de Estevão foi um evento, porém, aquilo que Estevão e a sua morte implicavam parece que apenas foi reconhecido com o decorrer do tempo. Foi necessária a “prisão” de Paulo por Cristo, e o pleno propósito de sua eleição para se explicar sobre Estevão.
“A perseguição que se levantou por causa de Estevão” estava sob o controle soberano do céu, mas parece que se tem olhado para isto somente sob esta ótica, e não como uma parte do plano dispensacional. Havia um apego a Jerusalém.
Dr. Campbell Morgan tem um ótimo parágrafo sobre este assunto em seu livro “Atos dos Apóstolos”. Está escrito assim: “O martírio de Estevão criou uma crise na história da igreja. Ao ler Atos, descobrimos que, a partir deste ponto em diante (capítulo oito), Jerusalém não mais é o centro do interesse. Ela quase desaparece das páginas. Isto não é uma perda, mas um grande ganho. Quando Jerusalém cessa em ser o centro do interesse, a história não é prejudicada de forma alguma, nem é o reflexo de Jerusalém. O local, o temporal, o material, são de pouca importância na Igreja de Deus. O universal, o eterno, o espiritual são supremos. Era do próprio espírito de uma economia velha e passada o apegar-se a um centro geográfico, a depender de símbolos materiais. A igreja agora se move para fora sobre o grande caminho de seu negócio vitorioso, independente de Jerusalém. Esta é a suprema revelação do livro de Atos dos apóstolos. Não foi de forma fácil que eles aprenderam esta lição, pois os apóstolos se apegavam a Jerusalém; porém o grande movimento espiritual, independente de Jerusalém, e dos apóstolos,  seguiu adiante, sem desprezar Jerusalém, sem desconsiderá-la, sem ficar indiferente à sua história e contribuição inicial, porém bem mais influenciado pela visão da Jerusalém do alto, a mãe de todas… Não mais restrito por localidades e temporalidades, o aumento da vida espiritual da Igreja os impulsionou por todos os lugares.
O fracasso da igreja tem invariavelmente se originado de um esforço de reprimir esse movimento espiritual que é independente da localidade, e de todas as coisas materiais. Sempre que a igreja é governada a partir de Jerusalém, ou de Roma, ou de qualquer outro lugar que não do céu, ela é obstruída, dificultada e impedida de desempenhar as grandes funções de sua existência. Primeiro, quando estamos presos a eventos e acontecimentos, nós somente os vemos neles mesmos: o elemento de perspectiva e origem é obscurecido e ofuscado.
As coisas em si mesmas são tudo o que vemos. Nós, em tempos posteriores,  somos capazes de compreender como os passos e incidentes se encaixaram no propósito Divino. Ou, somos nós tão capazes? Talvez a incapacidade de assim discernir seja a razão para tanta confusão quando o modelo está diante de nós. 
Então, segundo, eles eram, assim, vagarosos porque a maneira de Deus ensinar é mais por experiência do que pela teoria. Geralmente eles tiravam suas conclusões a partir de fatos consumados e não por meio de teorias racionalizadas. Deus fazia algo e explicava depois. Isto é algo que pode ser útil a todos nós em eventos que, no momento, estão fora de nossa compreensão. O céu tem o seu propósito, e aquilo que não é explicado hoje ficará claro mais tarde.
Qual foi, então, a grande transição? Foi a passagem de todo governo da terra para o céu; das mãos do homem para as mãos de Cristo Exaltado. Doravante toda referência e deferência eram para o Filho de Deus exaltado. A partir de então o homem era um mero instrumento, um veículo, um recipiente. O homem não era um originador, um idealizador, uma fonte, um inventor, um planejador, um mestre. Ele tinha que obter tudo, estar absolutamente sujeito. Existe uma crença muito indefinida e nebulosa sobre a soberania de Deus. É um tipo de uma generalização fatalista que toma tudo em suas próprias mãos, e ‘confia em Deus que tudo sairá bem’.
Não era assim no princípio. A oração era feita em relação a cada questão, e eles não se moviam até que pudessem dizer com segurança: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”, ou “O Espírito Santo disse…”. São coisas muito raras de serem ditas pela igreja hoje. A custódia do Espírito Santo em relação a missão mundial da Igreja, local e universal, não foi assumida na incerteza, mas uma referência específica e definida a Ele foi feita. Porém, quando indicamos o fato e a natureza genérica da grande transição, somos obrigados a dizer algo quanto a grande dificuldade na qual ela envolveu a nova dispensação. Esta provavelmente foi outra razão por que, por um lado, a mudança se deu de forma tão vagarosa, por outro lado, por que o Senhor não a impôs sobre eles de forma imediata.
Parece que o Senhor os nutriu dentro dessa transição com certas precipitações de crise. A mudança foi, assim, radical! A nova posição de fato era muito nova. Apenas como ilustração, considere Israel no deserto. Sob duro teste, eles podem mais tarde ter dado ao Egito um adorno ilusório e sublime, quando desejaram ardentemente pelas “panelas de carne do Egito”, pelos alhos e cebolas, porém ainda havia panelas de carne! Eles olharam as suas ‘amassadeiras’, então devia ter havido farinha para amassar, e a referência freqüente a fermento indica pão saboroso.
Subjugados, oprimidos, e em escravidão como tinham estado no Egito, a subsistência deles era tangível e certa. O deserto era uma nova posição e um teste extremo. A vida foi colocada sobre uma base sobrenatural em todas as questões temporais. Se isto foi verdade a respeito de um Israel terreno, quanto mais do celestial!
Nesta nova dispensação todas as nossas bênçãos espirituais estão nos lugares celestiais. Nossa cidade e cidadania estão no céu. Nosso Sacerdote, e altar, e sacrifício estão no céu. Nosso chamado é um chamado celestial. Toda a nossa subsistência espiritual tem que vir do céu. Somente aqueles que estão completamente comprometidos com Deus sabem como esta vida pela fé é uma prova. E ainda, que milagre é o fato de ainda continuarmos caminhando, e não termos naufragados, mesmo após tantos anos de provas e sofrimentos! Nossa posição de modo algum é uma posição fácil. Ela é tão contrária à vida natural e da carne! Mas ela prossegue pelo poder da ressurreição.
Podemos acrescentar que, quanto mais longe formos com o Senhor _ não meramente em questão de tempo, mas em profundidade _ mais provada a nossa posição se tornará. É impossível tomar uma posição com Deus sem ter esta posição provada severamente e, talvez, repetidamente. Pode ser pensado que caminhar com Deus irá implicar Sua proteção contra as sérias provas e adversidades. Na verdade a coisa funciona de outra maneira, mas Ele sustenta e é fiel. A justificação será encontrada nos valores espirituais, celestiais e eternos. Em virtude de muitos não terem tido a medida espiritual para se manterem numa posição mentalmente, doutrinariamente ou objetivamente assumida, eles retrocedem para uma posição mais ‘simples’, ou mais ‘prática’, e isto explica a muita fraqueza entre os cristãos em nossos dias.
Sem dúvida alguma, o Espírito de Deus está pressionando muitos cristãos para esta realidade. Isto é verdade, até mesmo no meio de tanto esforço para popularizar o cristianismo e para eliminar o duro caminho da cruz. Alguns podem precisar de golpes duros a fim de largar a estabilidade tradicional, mas isto apenas faria o fim da era corresponder a do princípio, tanto no método do Espírito quanto em Seu objetivo. Sistemas terão que entrar em colapso a fim de que a Pessoa seja tudo em todos. Quando dissemos isto, tocamos um ponto no qual as coisas diferem radicalmente no cristianismo organizado da forma como eram no princípio. A organização geralmente remove a oportunidade de se provar Deus e de Lhe dar toda glória.
 
Capítulo 7 - A Cruz
 
Quando nos referimos ao “princípio” _ significando o princípio do cristianismo _ naturalmente, instintivamente pensamos no Pentecostes, aquele advento do Espírito Santo. Nós, então, passamos a pensar sobre o registro dos “Atos” do Espírito Santo. Para um retorno, ou uma recuperação de tal condição há freqüentemente um desejo expresso, até mesmo um desejo ardente, e em muitos aspectos básicos também. Nós aqui estamos procurando sublinhar alguns desses fatores fundamentais. Assim, vamos agora apontar para aquele que é vital e importante para todo o cristianismo do Novo Testamento. Doutrinariamente isto poderia levantar um pouco de controvérsia entre os evangélicos, mas a própria aceitação da doutrina naturalmente pode significar um reconhecimento inadequado de sua necessidade crucial. Podemos apenas confiar que, na medida em que prosseguirmos, um novo reconhecimento da grandeza e imperiosidade desta verdade possa trazer luz aos leitores.
Esta grande verdade é que:
 
a) - O Espírito Santo tem uma corte de apelo da qual, em hipótese alguma,  irá renunciar.
O Espírito Santo possui um Árbitro, um Juiz a quem constantemente irá apelar por um veredicto sobre cada questão. Como num jogo ou disputa entre dois lados opostos o apelo é feito ao árbitro; ou, como num tribunal, o apelo é feito ao magistrado: assim é com o Espírito Santo. Ele tem uma base firme para o Seu veredicto, e o Seu veredicto é definitivo quanto a morte ou a vida, quanto a rejeição ou aceitação. É de importância suprema que o Espírito Santo diga ‘sim’ ou ‘não’. Percorra o livro de Atos e observe onde e quando este veredicto foi dado, de uma forma ou de outra, e veja o resultado. Havia uma sensibilidade ao Espírito Santo, então, que levava tudo para a prisão ou libertação, ao se descobrir se o Seu dedo indicava ’sim’ ou ’não’.
Qual era a base de arbitramento, julgamento e veredicto do Espírito Santo? Era sempre a cruz. A cruz, combinando a morte e a ressurreição de Cristo, era o supremo e categórico ‘sim’ ou ‘não’ de Deus. A morte de Cristo foi aquele eterno ‘não’ a uma inteira ordem e fonte de coisas. A ressurreição foi o Seu maravilhoso e glorioso ‘sim’ a uma outra ordem.
 
b) - O Espírito Santo sempre apelou para a Cruz
Isto é visto _ se pudermos enxergar  _  em toda parte no Novo Testamento. Considere o fato de que a cruz pôs fim a uma humanidade inteira em Adão e deu o único lugar para o outro “Adão”, uma nova e diferente humanidade, e depois vá através de cada livro do Novo Testamento. Freqüentemente, muito freqüentemente, você irá encontrar a cruz definitivamente mencionada de alguma forma, tal como “A Cruz de nosso Senhor Jesus”, ou “Cristo Crucificado”, etc. Algumas vezes isto se dará por implicação, tal como em Filipenses 2.5-8.  Algumas vezes uma exortação, uma ordem, uma admoestação, um apelo, irá envolver a cruz para uma resposta. A cruz governa ao longo de todo o caminho, e ela possui muitas e grandes aplicações e conexões. Em todas as questões da vida, conduta, serviço, movimento, espírito, fala, julgamento, etc..., é como se o Espírito Santo estivesse dizendo: “Isto foi crucificado com Cristo”; “Isto pertence a uma fonte que foi sepultada com Cristo”. Ou, pelo contrário: “Isto tem o Meu veredicto de vida e paz porque ‘ressuscitou com Cristo’; possui o ‘SIM’ de Deus”.
Em Corinto havia tanta carnalidade que a sensibilidade ao julgamento do Espírito Santo estava endurecida ou limitada. Por isso o apóstolo _ antes de ter vindo a eles _ tomou uma resolução positiva de ‘não saber nada entre eles, a não ser Jesus Cristo, e este CRUCIFICADO’. “Cristo crucificado _ a sabedoria de Deus e o poder de Deus”. “Nós pregamos Cristo crucificado”.
Isto é um exemplo do que queremos significar quando dizemos que o arbítrio, o julgamento do Espírito Santo é sempre em relação a cruz. Isto pode ser notado em sua conexão múltipla e específica em todos os demais livros. A violação desta posição invariavelmente resultava em confusão, complicações, e frustração. Havia lapsos, e os atos soberanos de Deus solucionavam completamente a situação, porém o registro deixa esses lapsos como avisos para todos os tempos.
Não podemos relegar a cruz à história, como um evento, um pedaço de doutrina cristã. Ela é um julgamento permanente; o Cordeiro está no trono, e haverá um veredicto final. A última visão é “do Cordeiro no meio do trono”, e o cenário completo será o do eterno e supremo ‘sim’ de Deus, quando tudo o que pertence ao ‘NÃO DE DEUS’ será efetivamente removido .
Vamos com o Espírito Santo para a cruz com todos os nossos assuntos, e peçamos a Ele que dê o Seu veredicto a respeito, se tal assunto é vida ou se é morte  diante de Deus.
 
Capítulo 8 - Libertação por Iluminação
 
Nesta busca pelos segredos do poder e efetividade como ponto distintivo de coisas neste livro de “Atos”, estamos vendo que esses segredos são tão grandemente encontrados no que aconteceu aos próprios apóstolos, e não num sistema completo de ensino, prática ou ordem em forma de relatório. É ainda quase impossível saber exatamente como eles conduziam as suas reuniões. Há certas características mencionadas, e diversos detalhes apresentados quanto às coisas que aconteciam, porém, muita coisa era simplesmente espontânea, sem qualquer arranjo. Há conhecimento suficiente para fazer  uma correspondência contemporânea tão revolucionária de maneira a desconcertar muito das nossas formas, aceitações e procedimentos usuais. Por exemplo, a nossa forma atual da “Santa Ceia” ou “Mesa do Senhor”  possui muito pouca semelhança com a do Novo Testamento, e as reuniões da igreja local eram quase que inteiramente diferentes das nossas reuniões. À parte de muitos fatores e características básicas, mesmo aquelas mais genéricas, como batismo e o fato de partir o pão, não há nenhum modelo rigidamente especificado no Novo Testamento. É, portanto, uma falsa esperança e esforço vão tentar ‘formar’ “Igrejas Neotestamentárias Perfeitas”. Isto não significa que não haja princípios espirituais muito definidos os quais, se realmente prevalecerem, irão produzir o poder e a efetividade daqueles primeiros tempos.  É a fim de descobrir isto que estamos nos lançando nessas considerações.
O princípio espiritual ao qual iremos agora dar atenção é um sobre o qual  existe a maior controvérsia e oposição. Isto é normalmente verdade no caso das questões de grande importância, e estamos convencidos de que esta matéria agora diante de nós é de fato da máxima importância. É o que iremos chamar de: Libertação por Iluminação.
Em relação a isto devemos começar com o que aconteceu aos apóstolos no dia de Pentecostes.
É muito claro a qualquer um que, apesar de todo o ensino e explanação dada pessoalmente por Jesus aos seus discípulos, eles não O compreenderam, como também não compreenderam as Suas Escrituras. Até mesmo quando Ele deu a dois deles aquilo que devia ter sido um magistral e incomparável discurso sobre a chave para todas as Escrituras, de Moisés em diante, e por um momento, “abriu suas mentes, a fim de que pudessem compreender as Escrituras”, é evidente que a “raiz da questão” não estava dentro deles. Foi como uma iluminação transitória dada a Pedro, quanto a Pessoa de Cristo, da qual Jesus disse que não tinha sido carne nem sangue quem revelara aquilo a ele, mas o Seu Pai celeste. A iluminação transitória  não salvou Pedro da coisa mais terrível e trágica que um homem poderia fazer: negar o conhecimento de Jesus com raiva e veemência. Não, até o sepultamento de Jesus e pelos quarenta dias posteriores, as Escrituras era um livro completamente fechado para eles.
Porém, olhe e ouça no dia de Pentecoste! Pedro e os onze passam a gozar de uma Escritura aberta; as Escrituras são vivificadas. Olhe para as referências, citações e interpretações. A Bíblia estava completamente viva e estava compungindo os corações dos homens, fazendo-os  clamar.
O livro fechado significava homens amarrados e aprisionados. A iluminação espiritual  foi a libertação deles. O Senhor foi liberado a eles pelo Espírito Santo e, a partir de então, eles se tornaram homens livres.
Até aqui ninguém irá levantar qualquer objeção. Porém temos que ir mais adiante. O que temos como sendo nosso Novo Testamento é o produto da continuação daquela iluminação. Quão felizes nós cristãos devemos ficar  por nosso cristianismo não ser um tratado ou manual de assuntos religiosos, discursos sobre filosofia da religião ou doutrina, mas ser a verdade Divina revelada, a fim de satisfazer as situações cruciais que surgem na vida real. É luz dada pelo Espírito de Deus no meio da batalha, da adversidade e da absoluta necessidade. É história espiritual produzida sobre a bigorna de profunda experiência. O Novo Testamento é a revelação dada em contraste com situações e condições que precisam de nada menos do que uma completa salvação, uma questão de vida ou morte. Não é um volume de teorias abstratas, mas de luz celeste para libertar almas. Portanto, o seu valor é prático, e não teórico; é vital, e não estático; é fundamental, e não opcional.
Até aqui tudo bem. Porém agora chegamos a um ponto vital: Vamos nos apressar para dizer muito enfático  e categoricamente que, como uma revelação divina em substância e instrumental, a Bíblia está fechada e completa. Não há nada a acrescentar a ela em substância e conteúdo. Deus não irá dar mais nenhuma Escritura, do mesmo modo não irá dar nenhum Cristo extra. Ao dar o Seu Filho, Ele deu tudo Nele! Com as Escrituras Ele deu TUDO em conteúdo.
Porém, quando dissemos isto podemos ficar apenas com o Novo Testamento, como ficavam os discípulos com o Velho Testamento. Podemos ter a carta, o livro, o registro, e mesmo assim não ter o significado. A obra do Espírito Santo era dupla em relação a isto. Primeiramente dar a substância e o selo como definitivo a este respeito. Segundo, revelar ou iluminar o que está na substância. O primeiro alcançou o seu auge e finalidade quando o último apóstolo deixou esta terra. O segundo continua. O Novo Testamento usa duas palavras nesta questão. Ele fala de ‘conhecimento’ (i.e de Cristo) e também fala de ‘pleno conhecimento’ (‘Dele’). Um é por meio da abertura inicial dos olhos; o outro é pela iluminação contínua. Por isso o apóstolo Paulo orava pelos crentes para que “Ele vos dê espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento Dele, tendo iluminado os olhos do vosso entendimento” (Efésios 1.17,18). É por meio dessa iluminação que a vida é mantida, que o crescimento é assegurado, e que a libertação é feita.
Os discípulos, no dia de Pentecoste, se tornaram homens emancipados, e uma marca de sua emancipação foi a vivificação das Escrituras pela iluminação dada pelo Espírito Santo. Mas isto não parou aí. Veja o discurso de Estevão. Veja o discurso de Pedro, no episodio de Cornélio. Veja Filipe e o etíope, e assim por diante. Esta não é uma reivindicação para que uma revelação extra e especial seja adicionada às Escrituras, mas é uma declaração de que ‘o Senhor tem ainda mais luz e verdade para fazer brotar de Sua palavra’.
Sobre esta matéria, ouça o que um respeitado e aceito servo do Senhor tem a dizer:
“A semente interior da verdade tem a mesma substância que a casca. A mente consegue entender a casca, mas somente o Espírito de Deus pode entender a essência. Nosso grande erro tem sido este: temos confiado na casca, e crido que estamos sãos na fé porque somos capazes de explicar a forma exterior da verdade, como encontrada na Palavra. A partir deste erro mortal, o fundamentalismo está morrendo lentamente. Temos esquecido de que a essência da verdade espiritual não pode chegar a alguém que conhece a face externa da verdade a menos que primeiro haja um milagre do Espírito dentro do coração” (A.W. Tozer em ‘A Divina Conquista’).
Muitos servos de Deus tiveram toda a sua vida e ministério revolucionados e libertos _ como os apóstolos _ por meio da iluminação dada pelo Espírito Santo para entender a Palavra de Deus, a qual tinha estado a muito tempo em suas mãos, muito familiar quanto a sua linguagem e substância. Este é certamente um dos segredos do poder e da efetividade de vida e pregação “Como Era No Princípio”. As mesmas Escrituras podem ser usadas por dois pregadores ou ensinadores distintos, com resultados diferentes. O primeiro pregador, com um céu aberto e ministrando na unção pela iluminação espiritual em seu próprio espírito, traz um impacto celestial onde a vida é comunicada. O outro, com apenas uma compreensão mental, estudada e mais ou menos inteligente, porém espiritualmente improdutiva, deixa o coração vazio.
Até aqui, nesta conexão específica, temos apenas fatos declarados. Não podemos ser tão fortes nesta declaração. Ainda restam duas coisas a serem feitas. A primeira é que o povo do Senhor, especialmente os seus servos, deve perceber que o dom do Espírito Santo (que é para TODOS os recém-nascidos) é definitivamente para iluminação, ou, como dizem os apóstolos _ “Espírito de... Revelação”; para revelar, interpretar, e para guiar a “toda verdade”. João faz disto um ponto muito decisivo, quando fala de “a Unção que recebestes”. Ele fala que “a Unção vos ensina todas as coisas”. Todos os crentes devem se beneficiar de novos olhos e nova visão como uma parte integrante de seu novo nascimento. Esta faculdade de visão e compreensão espiritual deve crescer em força e profundidade por toda a vida. Não é algo extra; é o desenvolvimento de uma capacidade dada no novo nascimento.
Contudo, pode haver certa necessidade, até mesmo uma crise, que resulte na liberação do Espírito, e na libertação do discípulo. Deve ser reconhecido que o ministério dos apóstolos, principalmente para os crentes, tinha esta iluminação e compreensão espiritual como sua força motriz, o que significa que até mesmo crentes verdadeiros podem estar limitados nesta questão. Vamos, no entanto, tomar esta iluminação espiritual como direito de nascimento, e ter um exercício definido a respeito disto diante do Senhor.
 FIM
 
 

 

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