Atualmente, uma exorbitante parte dos cristãos encontram dificuldades na correta compreensão das escrituras sagradas e da vontade de Deus para com o homem e a problemática da remissão de nossos pecados, isso considerando as diferentes formas de Deus tratar com o homem ao longo da história, reservadas à cada época, o que denomina-se “dispensações” – para a compreensão desse estudo, acesse o link: www.youtube.com/dispensações

 

Neste contexto, fica muito visível que, no decurso do tempo, os cristãos foram acrescentando – ou permitindo que se acrescentasse – à igreja, vozes estranhas àquela determinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo como a única divinamente inspirada e apta à instruí-los na justiça, afim de torná-los “perfeitamente instruídos para toda a boa obra”, conforme dispõe a Sua Palavra em II Timóteo 3:16-17:

 

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.

 

Daí, podemos responder alguns porquês do surgimento de tantas dificuldades entre os homens na compreensão da “voz de Deus” ao longo da história e também nos dias atuais, uma vez que os cristãos abdicam de estudar e conhecer a própria Palavra de Deus, representada pela Bíblia Sagrada, ignorando sua PERFEITA capacidade de instruir em toda a justiça, como vimos, para dar ouvidos à vozes estranhas, geralmente suscitadas por homens que usurpam a função bíblica de instrução e aplicam suas práticas e ensinos, logicamente viciados de suas próprias tradições e interesses.

É o gritante caso dos chamados “profetas” da atualidade, distribuídos entre as mais variadas instituições denominacionais, com predominância naquelas intituladas pentecostais, onde, em uma reunião de cristãos, tudo (ou quase tudo) acontece na esfera da “revelação”, inclusive o ensino bíblico – que deveras, deve ocorrer somente por meio de um dom outorgado pelo Próprio Senhor Jesus Cristo aos homens, segundo a Sua soberana vontade (confira-se a carta aos Efésios 4:11 – onde consta a existências de homens DADOS para pastores e doutores).

 

Ora, nota-se que ali a referência é feita a homens que seriam “dados para” determinada função, com propósito de “aperfeiçoar os santos, para a obra do ministério e para a edificação do corpo de Cristo” (V. 12), mas jamais encontramos nas escrituras tal atribuição como sendo fruto da competência de uma imposição de mãos pelo presbitério, de uma conclusão de curso acadêmico teológico, ou ainda da preferência do próprio grupo ao qual tal cristão pertença, seja ele oriundo de quaisquer correntes denominacionais.

 

É partindo da inobservância desta premissa (de que o ensino bíblico deve ser exercido por aqueles a quem o próprio Jesus escolheu – e tem escolhido – concedendo livre acesso para que o Espírito Santo manifeste suas mais variadas formas de operar como lhe apraz – II Cor. 12:11) é que atualmente, amontoam-se “doutores segundo as suas próprias concupiscências” (II Timóteo 4:3), como é o caso dos intitulados “profetas” de que trataremos nesse artigo, já que não são poucas as vezes que nos deparamos com algum cristão (e também incrédulos) desiludidos da vida, em razão de terem sido alvo de uma profecia ou “profetada”, como chamam alguns, originada em “visões” e “revelações” emanadas de algum destes videntes (adivinhadores do futuro), em alguma reunião denominacional que tenham frequentado e – pasmem  tudo em nome de Deus.

 

Com o descaso e abandono das verdades bíblicas no decurso do tempo, atrelado às divisões denominacionais que perduram até os dias atuais, temos que os cristãos perderam a responsabilidade de leitura e compromisso com a Palavra de Deus, passando a necessitar da busca incessante por novas revelações e profecias, que tragam imediato alento ao sofrimento porventura sofrido em suas realidades de vida.

 

Por outro lado, o que não falta são homens “amantes de si mesmos”, ávidos por suprir tal necessidade com a implantação de reuniões e cultos carregados de supostas profecias e revelações, tudo perceptivelmente feito às cegas, sem a autorização ou sequer amparo da Palavra de Deus, mas com um interesse próprio de cada um (seja ele político, financeiro, de influência, egocêntrico…) como se verá adiante. Estas práticas estão muito mais ligadas ao ego do homem que as executa, do que propriamente à operação do Espírito Santo, como se tenta fazer entender por eles – na verdade, nenhuma ligação há entre o Espírito Santo e tais práticas – se não é sobre o que bem advertiu o apóstolo Paulo à assembleia/igreja que estava reunida em Colosso (Colossenses 2:18):

 

Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão.

 

Se parássemos por aqui, já estaria suficientemente comprovado que a bíblia foi compilada por inspiração do Espírito Santo, com conteúdo suficientemente apto à redarguir, corrigir e instruir todo o cristão em toda a justiça, tornando desnecessário ao mesmo qualquer outra revelação ou profecia (no sentido de vidência) pós-testamentária, isto é, proferida após a compilação do Novo testamento.

 

Contudo, ainda mais profundamente vai as escrituras sagradas, ao demonstrar a ilegitimidade destes chamados “profetas” e denunciar suas práticas, e mais, na diferenciação entre os profetas atuantes e elencados no VELHO TESTAMENTO, em contraste ao dom da profecia e a referência aos profetas atuantes e elencados ao NOVO TESTAMENTO, como se verifica facilmente da análise do conteúdo bíblico e este respeito.

 

No antigo testamento, o termo “profeta” deriva do substantivo hebraico “nabi”, que significa “Proclamar” ou “Aquele que proclama”. Nesse sentido, nem precisamos de muito esforço para perceber que esta foi a exata função daqueles que profetizaram durante a antiga dispensação (Lei de Moisés). Estes vieram profetizando (proclamando) as verdades que seriam materializadas no corpo e obra de Jesus Cristo ATÉ JOÃO BATISTA (que foi o último e o MAIOR dos profetas), conforme explicação deixada pelo Próprio Senhor Jesus Cristo em sua Palavra de que nele (João Batista) encerrou-se toda a atuação profética da lei e dos próprios profetas suscitados em razão dela. Para tanto, segue-se Mateus 11:11-15:

 

Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele. E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.

 

E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.

 

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”

 

Desta forma, não há o que contestar sobre o fato de que TODOS os profetas e a LEI somente atuaram até João Batista, tendo ainda como advertência bíblica que, se temos ouvidos para ouvir esta verdade, que OUÇAMOS! (V. 15)

 

Entretanto, a maior das dúvidas surge quando encontramos disposições bíblicas com relação ao dom da profecia e citações do termo “profeta” ao longo dos evangelhos e das cartas apostólicas, dando ensejo à interpretações – errôneas – de que se trata dos mesmos profetas que profetizaram durante a dispensação da Lei de Moisés. Pois é, não se trata!

 

No novo testamento, sempre que encontrado, o termo “profeta” deriva da palavra GREGA “prophetes” ou “prophemis” que significa “Aquele que diz no lugar de outrem” (PRO=DIZER / PHEMIS=NO LUGAR DE ALGUÉM). O sentido da palavra remete a ideia de alguém que falará por Deus, ensinando as suas verdadesaquelas já reveladas no Corpo e Obra do Senhor Jesus Cristo e que deveriam ser, não só ensinadas, mas também registradas em sua Palavra em complemento ao que fora revelado durante toda a compilação do Velho Testamento – que eram sombras das coisas futuras e se materializariam na pessoa e Obra do Senhor Jesus Cristo, Nosso Salvador, deixando sua razão de ser após a consumação de Seu sacrifício, o que ocorreu apenas UMA VEZ. (Col. 2:16-17 e Hb 10:1-10).

 

Foi neste sentido que Jesus, tendo subido ao céu, levou cativo o cativeiro (o pecado) dos homens e os distribuiu DONS, “uns para apóstolos, outros profetas, evangelistas, pastores e doutores…” (Efésios 4:11), ou seja, no sentido de que os profetas ali descritos, seriam portadores DAS VERDADES bíblicas, já consumadas em seu sacrifício, para ensinar aos demais. Tanto o é, que encontraremos o apóstolo Paulo correlacionando os termos “profeta” e “profecia” à responsabilidade de ensinar as verdades da sã doutrina, afim de que TODOS APRENDAM e sejam CONSOLADOS (1 Cor. 14:26-33):

 

E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.

 

Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.

 

Em contrapartida, não há como negar que, para a igreja (assembleia de cristãos), encontraremos a profecia como uma das diversas formas de manifestação do Espírito Santo no homem, contudo, “apenas para o que for útil” e com ênfase no ensino da palavra (não em revelações de algo novo) pois, de tudo o que a igreja necessitava para ser salva, restou registrado NA ÍNTEGRA pelos apóstolos e profetas que compilaram o texto bíblico pela inspiração do Espírito Santo, os quais assentaram os FUNDAMENTOS do evangelho, sobre a principal Pedra angular, Jesus Cristo, permitindo que nós, a igreja formada pelos salvos mediante a fé na Pessoa e Obra de Dele naquela Cruz, pudéssemos crescer “bem ajustados”, como as paredes de um edifício, edificados pela doutrina dos apóstolos “para morada de Deus”, segundo o que relata a carta aos Efésios 20:22.

 

Algo lógico demonstrado pela Palavra de Deus, é que não temos autoridade bíblica para conferirmos a alguém o apostolado, nem o título de “profeta” (o que demandaria outro estudo). Entretanto, encontraremos o DOM da profecia (não o título de profeta) discorrido nas cartas dos apóstolos, como é o latente caso da carta à assembleia reunida em Corinto (1 Cor. 12: 4-11):

 

Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.

 

E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.

 

E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.”

 

Porém, é crível pela comparação de outras passagens bíblicas, que os profetas para cujo Espírito Santo repartirá tal manifestação, se manifestarão com palavras inteligíveis e de verdades bíblicas, no intuito de EDIFICAR o CORPO DE CRISTO (lembrando que aqui se fala do conjunto formado por TODOS os cristãos, convertidos genuinamente pela fé em Jesus Cristo e em Sua Obra consumada na Cruz – independentemente do local de conversão ou frequência de cada um deles).

 

Assim, é certo que serão conclamados pelo Espírito Santo a “fazer tudo para a edificação” (1 Cor. 14:26). Se assim não o fosse, o apóstolo jamais teria priorizado o dom da profecia sobre o de línguas estrangeiras (estrangeiras mesmo), sob o argumento de que um (profecia) edifica o Corpo de Cristo – assembleia/igreja local onde portador do dom esteja reunido – enquanto o outro (línguas) edifica somente aquele que o exerce, o que o fez, inclusive, explicando o conceito de “profetizar”, quando afirma que “o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação” (1 Cor. 14:3).

 

Novamente, o dom e aquele que o portar, aparecem correlacionados à função de edificar, exortar e consolar – frise-se – OS HOMENS – e não somente o Corpo de Cristo, posicionando o tema muito acima da nossa mera e limitada compreensão (em que pese ampla atuação da manifestação, além dos limites do Corpo de Cristo/Igreja, não há disposição bíblica incitando os profetas – prophemis – à adivinhar o futuro das pessoas, tão pouco à assentar novas doutrinas).

 

Com atenção em tais homens, Jesus foi categórico em advertir acerca daqueles que reivindicariam para si o título de profeta, mas seriam conhecidos pelos “frutos” que produziriam, nos exortando a ter cautela para com os tais a não sermos enganados por eles (Mateus 7:15-20):

 

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”.

 

Não muito depois, o apóstolo Paulo sentiu na prática o que Jesus falara aqui, ao atravessar a ilha de Pafos, em uma de suas viagens missionárias, e ali encontrar um mágico, “falso profeta”, de nome Barjesus, sendo tão incomodado por tal homem ao ponto de, pelo poder do Espírito Santo, tornar-lhe cego por um tempo, afim de que pudesse continuar na pregação da verdade ao procônsul daquele lugar (Atos 13:6-12).

 

Seguidos do Apóstolo Paulo, Pedro e João também deram ênfase aos falsos profetas, alertando sobre o perigo e consequências de suas práticas:

 

2 Pedro 2:1-2

E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.

 

1 João 4:1

Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.”

 

Desta forma, seja pela tradução e significado correto do termo “profeta” e suas aplicações para os idiomas hebraico e grego, seja pelas disposições bíblicas que, massivamente, apontam para a distinção dos significados demonstradas em situações de fato narradas por seus escritores sob a égide do próprio Espírito Santo, ou ainda, pela amplitude do conteúdo bíblico que se mostra completamente apto à suprir toda a necessidade humana.

 

O que não se pode negar, é que devemos ter o máximo de cautela, ao cruzar nossos caminhos com algum “profeta” da atualidade que, utilizando-se de versículos bíblicos isolados (fora do seu contexto), buscarão fazer presas fáceis, proferindo palavras como se originadas de Deus fossem, quando na verdade, não passam de falácias destiladas pelo ego, em uma demonstração do retrato de homens que insistem em ser “algo” ou “alguém” para reconhecimento próprio no seio do grupo de cristãos que frequenta.

 

Para aqueles que buscam as verdades da Palavra, dedicando seu tempo à conhecê-las, valem as palavras de alerta do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que insistia: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32) e ainda: “se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8:36). Repare que há aqueles que se acham livres e aqueles que são VERDADEIRAMENTE livres. Obviamente que somente Jesus Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida”, é capaz de tornar um ser humano originalmente pecaminoso em alguém verdadeiramente livre.

 

Já para aqueles que insistem na comodidade de buscar e repetir as palavras que ouviu alguém proferir como nova “profecia” ou “doutrina” ou buscar aquelas de interesse próprio, sem prová-las ao exame da Palavra de Deus à atestar sua autenticidade, resta a advertência pelo mesmo Senhor Jesus Cristo, que apontou “porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” (Marcos 12:24).

 

De qual lado nos encontramos como cristãos? Temos buscado profecias prontas, bem ao estilo fast food, para satisfazer nossas necessidades e urgências (como cura de enfermidades ou dinheiro e prosperidade)? Ou temos sido diligentes e satisfeitos pela Obra já consumada por Jesus Cristo ao nosso favor, em aguardar a vontade Dele em nossas vidas, esperando apenas na suficiência do seu sacrifício e das verdades da Sua Palavra?

 

A decisão é sempre nossa, ou continuaremos a dar ouvidos à vozes estranhas, abrindo a bíblia somente nos casos em que precisemos utilizá-la como uma espécie de “abracadabra” para nossa satisfação pessoal, ou passaremos a ser “homens”, deixando as “coisas de menino” e compreendendo que, quanto ao sacrifício de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo naquela Cruz, a Sua Graça nos basta. Ou não basta? (1 Cor. 13:11 e 2 Cor. 12:9)

 

Por: Reny Junior

 

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com