Uma introdução à doutrina
 
A doutrina da preexistência pessoal de Cristo como uma Pessoa da Divindade anterior à Sua encarnação, é aceita como algo estabelecido pela maioria dos que defendem a fé ortodoxa como encontrada nas Santas Escrituras. Entretanto, em alguns círculos, nos últimos cem anos, houve uma diminuição na fidelidade a isto como uma doutrina fundamental; e alguns erros, que eram muito comuns nos dias imediatamente posteriores aos apóstolos, têm reaparecido. Alguns negam completamente a preexistência eterna da Pessoa de Cristo, e geralmente o seu erro é facilmente identificado e prontamente rejeitado como uma heresia blasfema. Todavia, há uma blasfêmia mais sutil contra a Divindade que não é sempre reconhecida. Trata-se da ideia enganadora que Cristo existia antes da Sua encarnação como a Palavra Eterna (o Verbo), mas veio a ser o Filho somente na Sua encarnação. Aqueles que espalham este erro alegam aceitar a Sua deidade absoluta, e citam João 1 como aparente confirmação. Eles até chegam a afirmar que a sua rejeição da eterna Filiação tem por finalidade proteger a doutrina de Cristo de erro! 
O propósito deste capítulo, então, é mostrar, através das Sagradas Escrituras, que a Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo existiu eternamente como o Filho de Deus, e Se tornou carne no Seu nascimento. A encarnação não afetou o relacionamento sem origem de Cristo como Filho com Seu Pai, nem Sua divindade essencial que é, em todos os aspectos, absoluta. Como em qualquer doutrina, nossa única autoridade é a Palavra de Deus escrita, e ela será nossa suprema corte de apelo nestas questões vitais. 
 
A importância da doutrina 
 
O fato triste é que alguns, embora não defendam estes erros, dirão que não é realmente uma questão tão importante, e que qualquer disputa seria apenas um exercício de minúcias teológicas insignificantes e periféricas. Este é provavelmente um perigo ainda maior para a integridade da sã doutrina do que um ataque aberto e reconhecível à verdade concernente à bendita Pessoa do Senhor Jesus.
Há muitos assuntos sobre as quais os irmãos podem discordar, mas esta é uma doutrina que é vital à fé, pois está relacionada à realidade da Pessoa de Cristo e como entendemos essa realidade. A doutrina da eterna Filiação de Cristo não é o resultado de curiosidade intelectual; é o resultado de uma consideração séria daquilo que as Sagradas Escrituras ensinam sobre a Pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo. 
Somente um Cristo que fosse plenamente divino e plenamente humano poderia providenciar a salvação que o homem pecador necessitava.
A doutrina da salvação exige um Salvador que, não somente existia na eternidade, mas também Um cuja existência estava no relacionamento do Filho para com o Pai. Se a doutrina da Sua eterna Filiação é diminuída, uma reação em cadeia é posta em movimento, que ataca diversas doutrinas primordiais: 
  • A infalibilidade da Palavra de Deus, na qual o Pai claramente fala de Jesus Cristo como Seu Filho antes da encarnação (mais adiante no capitulo examinaremos o testemunho claro de passagens tais como João 1, Colossenses 1, e Hebreus 1).
  • A natureza essencial de Cristo como uma das Pessoas da Divindade, que depois relega a Sua Filiação a um mero cargo ou função (mais adiante consideraremos Escrituras que ensinam a natureza essencial do Filho de Deus, que pessoalmente tem os atributos completos e totais da deidade).
  • O ensino das Sagradas Escrituras e a compreensão do próprio Salvador em relação à expressão Filho de Deus. Quando Cristo reivindicou ser o Filho de Deus os judeus entenderam que Ele estava reivindicando igualdade com Deus, por isso se enraiveceram e procuravam matá-LO (Jo 5:17-23). Estes versículos mostram que quando Jesus reivindicou ser o Filho de Deus, não era uma afirmação de inferioridade, antes de igualdade com o Pai.
  • A eterna Paternidade de Deus; pois, se Cristo não foi sempre o Filho, então o Pai não foi sempre o Pai. Isto apresenta uma grande dificuldade para explicar a verdade que “o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (I Jo 4:14).
  • A preciosa doutrina da salvação, como encontrada no Filho que veio a pedido do Pai; pois a salvação tem que ser encontrada no Filho que o Pai deu para morrer. 
A eterna Filiação de Cristo é, portanto, um assunto importante.
É um fundamento inegociável da fé cristã. Temos que usar de grande cautela na nossa linguagem e tomar todo o cuidado possível ao ocupar nossas mentes com qualquer coisa relacionada à Pessoa do Filho de Deus. Não podemos ser displicentes quanto à linguagem, nem inconsistentes no raciocínio.
 
As implicações da doutrina 
 
Nossas considerações nos ajudarão a compreender as implicações da doutrina e entender por que o apóstolo João fala sobre isto com tanta seriedade, na sua segunda epístola. Fazemos bem em atentar para a sua advertência: “Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter conosco, e não traz essa doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (II Jo 9-11). João enfatiza a importância de tomar uma posição firme frente a estas doutrinas, e destaca três estágios envolvidos na negação da verdade:
  • “Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo” (II Jo 9);
  • “Se alguém vem ter conosco e não traz essa doutrina” (II Jo 10);
  • “Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras” (II Jo 11).
O v. 9 claramente se refere àqueles que têm aceitado o erro em relação à doutrina da Pessoa de Cristo e têm se afastado do que as Sagradas Escrituras ensinam. João diz que isto é pecado. A doutrina de Cristo abrange tudo que é revelado sobre Ele na Palavra de Deus. Listar estas doutrinas não deve ser entendido como a criação de um Credo; mas é claro que precisamos incluir a Sua deidade essencial, Seu nascimento virginal (isto é, da virgem), Sua humanidade impecável, Sua igualdade na Divindade, Sua eterna Filiação, Sua morte expiatória, Sua ressurreição corporal, Sua ascensão e Sua volta gloriosa. A doutrina de Cristo, como revelada nas Escrituras, é vital e fundamental para a fé Cristã, e precisa ser confirmada e protegida com tal. 
O v. 10 parece ir um passo adiante. João identifica não aqueles que propagam ensino errôneo sobre Cristo, mas aquele que “não traz este ensino”, isto é, aqueles que nem confirmam nem negam a doutrina de Cristo, mas que procuram ficar entre os dois. Estes não são fiéis ao que João ensinou em relação a Cristo, e deixam a porta bem aberta para a disseminação do mal corruptível. Não pode haver neutralidade quanto à doutrina de Cristo: ela é central para a fé cristã e a comunhão. No v. 9 o erro é ir longe demais — além daquilo que está escrito. No v. 10 o erro é não ir longe o bastante — recusando apegar-se àquilo que está escrito. 
O v. 11 leva as coisas a um estágio mais avançado. Não somente é errado ensinar o erro ou ficar neutro, João deixa claro que é errado “saudar” aqueles que fazem estas coisas. “Saudar” aqui é desejar a bênção de Deus sobre a viagem de alguma pessoa e seus objetivos. O ensino de João é claro: um cristão não deve ter comunhão com (receber em sua casa), nem mostrar parcialidade a (saudar), qualquer um que ultrapassa ou que não apoia o que as Escrituras ensinam sobre a Pessoa de Cristo.
A ordem em II Jo 9-11 se aplica àqueles que, deliberadamente, se afastaram da verdade da doutrina de Cristo, ou que adotam um meio termo com más intenções. Temos que ser cuidadosos e lembrar do conselho de Judas na sua epístola (vs. 22, 23). Judas faz diferença entre aqueles que propagam erro, e aqueles que foram, inadvertidamente, levados pela maré do erro, ou que foram confundidos pelos debates, ao ponto de não saberem mais em que acreditar. Dos tais, ele diz, “apiedai-vos de alguns, usando de discernimento; e salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo”. Se alguém que lê este livro tem sido exposto a estes erros, esperamos que a consideração destas grandes verdades o ajudarão a compreender o que Deus ensina na Sua Palavra em relação ao Seu eterno Filho.
Ao consideramos a eterna filiação de Cristo, vamos lembrar que é necessário reconhecer a nossa insuficiência humana para escalar estas imponentes alturas. Embora as Escrituras nos encorajem a examinar estes picos majestosos de verdade com reverência, realmente não podemos compreender plenamente Aquele que é eterno e Divino. Nossas mentes limitadas nunca poderão entender a infinidade de Deus. Todavia, embora nunca possamos entender a Deidade ao ponto de ter uma plena compreensão, podemos compreender a doutrina de Cristo ao ponto de ter fé e confiança naquilo que Deus diz.
 
A história do debate 
 
O título “Filho Unigênito de Deus”, ou “Filho”, em qualquer aspecto, como aplicado ao nosso Senhor Jesus, tem sido uma fonte de controvérsia desde os tempos dos primeiros pais da igreja. 
Alguns deles apoiavam uma grande variedade de pontos de vista errôneos que, através dos séculos, têm levado a muitas teorias e contra-teorias.
Origenes ensinou que Cristo é de Deus, mas não é o Próprio Deus. Ele foi gerado não no tempo, mas na eternidade. Arius ensinou que Deus não fora sempre o Pai. Em algum ponto na eternidade Ele estava sozinho, mas antes da Criação, o eterno Deus fez o Filho e O adotou como Seu Filho. 
Em séculos posteriores os Reformadores energicamente rejeitaram o erro de Arius, mas ao tentar escapar desse erro, alguns deles inventaram o conceito de “eterna geração”. Entretanto, a doutrina da eterna geração também não pode ser sustentada como Bíblica. Tudo o que ela faz é empurrar o “quando” da Filiação de Cristo para mais distante no passado, para mais longe da encarnação, mas sem uma explicação convincente.
Felizmente, alguns Reformadores adotaram o ponto de vista de outros Pais da Igreja antes deles, e ensinaram que a palavra “gerado” (“unigênito” significa “único gerado”) quando aplicada ao Filho de Deus significa um relacionamento inexplicável, e não um acontecimento. W. E. Vine resume isto muito bem ao dizer: “o fato da palavra ‘gerado’ ser aplicada ao relacionamento do Filho com o Pai não significa um começo da Sua Filiação. De fato, sugere relacionamento, mas não deve ser confundido com geração como aplicado ao homem. Tentar formar nossas ideias sobre relacionamento Divino de acordo com o nosso conhecimento de relacionamentos humanos é simplesmente revelar nossa ignorância. A mente finita não pode conceber aquilo que é infinito, nossas limitações de tempo e percepção impedem nossa plena compreensão do eterno”.  Neste último século o debate tem sido mais fácil de acompanhar.
Os pontos principais, ou significativos, estão divididos em dois cabeçalhos: “Filiação Eterna” e “Filiação Temporal”. O ponto de vista da Filiação Temporal nega o ensino das Escrituras e é baseado na falsa premissa de que o Verbo Eterno se tornou o Filho de Deus no Seu nascimento.
Alguns que apóiam esse ponto de vista podem não estar plenamente cônscios do erro que ele contém, nem do erro maior que emana dele.
Um leve desvio da linguagem Bíblica leva a um desvio da verdade Bíblica.
É necessário que o povo de Deus conheça os sérios erros envolvidos e para onde eles podem conduzir.
Nas igrejas exclusivistas na Grã-Bretanha, F. E. Raven mencionou os erros da “Filiação Temporal” no final do século XVIII. Ele era um senhor inglês que ocupava um posto nobre no serviço do Governo e empregou a sua vida no estudo e ensino da Palavra de Deus. Raven se destacou de modo desfavorável entre seus irmãos em Londres por ensinar que a vida eterna é um estado, e não uma nova vida concedida por Deus. Ele ensinou ainda que o novo nascimento, ou nascer de novo, era para crer, e não através do crer. Este erro nada tem a ver com a Filiação  Temporal, mas é mencionado aqui por esta lição salutar: aqui estava um homem que persistia num tipo de erro, e logo se encontrou absorvendo e disseminando algo muito mais sério. O primeiro erro será reconhecido por todos que têm sido expostos aos escritos dos ensinadores Reformadores que ensinavam que, pelo fato dos pecadores estarem mortos em ofensas e pecados, eles precisam ser “vivificados” antes de poderem exercer fé em Cristo para a salvação. Persistir na propagação de qualquer erro exige que a mente esteja deliberadamente fechada à verdade evidente; mas fechar a mente à verdade deixa um cristão suscetível a outras formas de ensino errôneo. Raven se destacou novamente quando ensinou que na encarnação nosso Senhor não era um homem real. Estes pontos de vista também causaram uma terrível divisão e controvérsia. 
A comunhão das igrejas que seguiam a Raven foi novamente dividida pelo aparecimento de um ensino que negava abertamente a Filiação eterna de Cristo. Infelizmente isto atraiu muitos, que ajudaram na sua propagação. O Sr. William Kelly escreveu um excelente artigo, expondo Raven como “heterodoxo quanto à vida eterna sobretudo quanto à Pessoa de Cristo”. Em 1929 James Taylor Sênior trouxe o mesmo ensino, de um modo mais público. Ele foi apoiado pelo bem conhecido ensinador e escritor prolífico C. A. Coates. Como antes, este erro doutrinário causou uma divisão generalizada e um sentimento de desconforto entre irmãos. O triste fato é que cada um desses homens afirmou, repetidamente, que a sua doutrina preservaria a pureza do que as Escrituras ensinavam sobre Cristo! Eles haviam se convencido a si mesmos, e a muitos outros, que estavam defendendo o caráter de Cristo, e sua sinceridade não é questionada. Os escritos destes três homens, Raven, Taylor e Coates, devem ser evitados por todos aqueles que querem evitar o erro deles. O engano da Filiação Temporal surge de tempos em tempos, e em cada ocasião provoca controvérsia. Geralmente é mais sábio ocultar a história de divisão; mas para sermos sábios no presente, e fazer ajustes para o futuro, temos que conhecer o passado. Um conhecimento de história é importante. Há pelo menos três lições óbvias neste triste relato. Primeiramente, a propagação forçosa de uma doutrina que não encontra  pronta aceitação de homens sábios e espirituais, causa divisão. Segundo, o erro tolerado na mente se transforma em completa rejeição de verdades fundamentais. Terceiro, e talvez a mais importante, fechar a mente para a verdade de Deus, claramente revelada e propagar uma doutrina errônea, levará a outros erros mais sérios. Uma objeção comum à doutrinada de Filiação Eterna é que em nenhum lugar da Bíblia encontramos as palavras “Filho eterno”; nem há um versículo específico que diz ser Cristo o eterno Filho de Deus.
Adotar esse raciocínio é implementar a lógica imperfeita através da qual seitas falsas chegam a alguns dos seus ensinos errôneos. Por exemplo, algumas seitas nos dizem que em nenhum lugar da Bíblia, Cristo é chamado de “Deus, o Filho”, portanto Ele não é Deus. Com certeza  um estudo objetivo e indutivo da Palavra de Deus deveria produzir uma conclusão mais razoável do que esta, não? A ausência das palavras “Trindade”, “substituição”, “arrebatamento” ou “milênio” afetam nossa aceitação destas doutrinas? Certamente que não! Veremos que as Escrituras dão um testemunho claro e adequado do fato que Cristo é o Filho de Deus e é eterno na Sua Pessoa. De fato, a singularidade do título “o Filho de Deus” indica Sua preexistência eterna; pois como o Filho Ele tem todos os atributos da divindade, que incluem a eternidade. 
 
Provas bíblicas
 
Olharemos agora brevemente várias passagens das Escrituras que oferecem evidências suficientes da eterna Filiação de Cristo. Seria impossível no âmbito de um único capítulo incluir todas as provas Bíblicas, mas ofereceremos o bastante para satisfazer uma mente racional. 
Provérbios 30:4 
“Quem subiu ao céu e desceu?
Quem encerrou os ventos nos seus punhos?
Quem amarrou as águas numa roupa?
Quem estabeleceu todas as extremidades da terra?
Qual é o Seu nome e qual é o nome do Seu Filho, se é que o sabes?”
As respostas às primeiras quatro perguntas são, sem dúvida alguma, Deus. A última, “e qual é o nome do Seu Filho?” manifesta a existência do Filho de Deus pelo menos 700 anos antes da encarnação do Senhor Jesus.
Isaías 9:6
“Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu…”.
É muito importante notar a diferença nas palavras usadas aqui pelo Espírito Santo; um menino “nasceu”, e um Filho “se nos deu”. O Filho de Deus não nasceu. O nascimento do menino Jesus era a doação do Filho de Deus ao mundo. Ele já era o Filho, e foi dado como tal. 
Miquéias 5:2
Falando de Belém o Espírito de Deus, registra, “… de ti Me sairá o que governará em Israel e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.”
O futuro Messias, Jesus Cristo o Filho de Deus é “desde os dias da eternidade”.
Evangelho de João: João 1:1-5; 9-18 
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. nEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam … Ali estava a Luz verdadeira, que ilumina todo o homem que vem ao mundo. 
Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam. Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.
João testificou dEle, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da Sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi  visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou.” Os primeiros dezoito versículos do Evangelho de João tratam da Pessoa e obra de Cristo, e contém evidência irrefutável de duas verdades: Sua preexistência eterna e Sua Filiação.
 
  • Primeiramente, João mostra que o Verbo, que é eterno e é Deus no v.1, é Aquele que “Se fez carne e habitou entre nós” (v. 14). O versículo 14 explica que Jesus, o Verbo eterno encarnado, é de fato, o “Unigênito do Pai”. O v. 18 continua explicando que a expressão “o Unigênito do Pai” significa que Ele é o “Filho Unigênito”. Isto declara a verdade óbvia que Jesus, que viveu entre os homens, é o Verbo eterno; e que o Verbo eterno é o Filho Unigênito de Deus. O “Verbo” e o “Filho” são uma e a mesma Pessoa eterna. 
  • Em segundo lugar, quanto à Sua obra, João explica que o Verbo Eterno mediou a Criação completa. “Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada do que foi feito se fez” (v. 3). Dentro dos limites destes dezoito versículos estão verdades relacionadas à Filiação eterna de Cristo que são de magnitude eterna. O Verbo é eterno; o Verbo é Deus, mas não é o Pai; o Verbo foi o Criador de todas as coisas; o Verbo Se fez carne e habitou entre os homens; o Verbo é o Unigênito Filho de Deus.
Devemos nos curvar em profunda adoração ao contemplarmos a beleza e a glória das verdades aqui apresentadas. Ele era o Filho enquanto aqui  na Terra. Ele era o Filho na Criação, Ele era o Filho na eternidade antes da Criação. O Filho de Deus veio a ser Jesus de Nazaré sem deixar de ser o que Ele sempre era, e eterno Deus! Junto com o testemunho do Céu acerca do Filho, o v. 15 registra o testemunho do maior dos profetas: João Batista: “Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu”. João nasceu antes de Jesus, mas Jesus já existia antes do Seu nascimento e do de João. 
João 6:33 e 6:62
“Porque o Pão de Deus é Aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.” 
“Que seria, pois se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?” 
Em várias ocasiões João registra o Salvador dizendo que Ele viera do Céu (Jo 6:33), e que voltaria para lá (Jo 6:62); pelo menos dezoito vezes Ele Se descreve a Si mesmo como tendo sido enviado pelo Pai.
No Evangelho de João é importante compreender a importância das afirmações nas quais o Salvador fala acerca da Sua vinda do Pai e para o Pai. Sua origem como Filho de Deus desde os Céus é muito importante, do contrário Ele não seria nosso Salvador. Foi “o Filho” a Quem o Pai enviou “para ser o Salvador do mundo” (I Jo 4:14, NVI). Seu destino celestial também é importante, pois a ascensão é o selo celestial de aprovação da obra sacrificial do Filho para a salvação. O Senhor  Jesus diz que Ele está retornando ao lugar onde Ele estava antes do início da Sua estadia terrestre. 
João 7:28-29
“Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e dizendo: Vós conheceis-Me e sabeis de onde Eu sou; e Eu não vim de Mim mesmo, mas aquele que Me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis. Mas Eu conheço-O, porque dEle sou, e Ele me enviou.”
Nestes versículos Cristo declara abertamente que Ele é aquele que foi enviado pelo Pai; e quando vamos para I João 4:14 lemos que aquele que o Pai enviou era o Filho: “O Pai enviou Seu Filho para ser o Salvador do mundo”. O Pai enviou aquele que já existia como o Filho; Ele não veio a ser o Filho para o propósito da missão na qual estava sendo enviado.
João 8:58
“Disse-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, Eu sou.” 
A linguagem precisa do Senhor Jesus deve ser observada aqui. “Antes que Abraão existisse, EU SOU”. Ele não disse: “Antes que Abraão existisse, Eu existia”, mas “Eu sou”. Nos dias do Velho Testamento Deus usou esta expressão para revelar-Se a Si mesmo como Jeová, o Deus eterno, e o Filho de Deus a usa no mesmo sentido. O Filho de Deus é Jeová, o Deus eterno.
Independentemente de tempo, Ele existe. Este versículo ensina Sua deidade e Sua eternidade. 
João 12:41 
“Isaías disse isto quando viu a Sua glória e falou dEle.”
João acabou de relatar o discurso do Salvador em resposta à pergunta: “Quem é esse Filho do Homem?” (Jo 12:20-34). Então, em 12:37, João registra a negrura da incredulidade deles. O Senhor Jesus tinha feito muitos milagres diante dos seus olhos, e ainda assim não creram nEle. Citando Isaías 6, João acrescenta um comentário dizendo que Isaías viu a glória de Cristo. Ao citar Isaías 6, João diz, em 12:38-39, que os judeus não creram em Cristo porque seus olhos haviam sido cegados e seus corações endurecidos. O que os judeus dos dias de João não viram, é precisamente o que Isaías vira no seu dia — a glória de Cristo como o eterno Jeová! Isaías viu a glória do Filho de Deus mais de 700 anos antes da encarnação. 
João 17:1, 5, 11 
“Jesus falou assim e, levantando Seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica o Teu Filho, para que também o Teu Filho Te glorifique a Ti … E agora glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse …  Eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo e Eu vou para Ti”. 
Aqui, nos vs. 1 e 5, vemos as palavras do próprio Salvador ao dirigir-Se ao Pai. Isto estabelece o contexto de tudo o que Ele fala em João 17. É o Filho dirigindo-Se ao Pai, e a conversa se dá no contexto daquele relacionamento de Pai e Filho. 
“Glorifica-me [o Filho], junto de Ti mesmo, com aquela glória que [Eu, o Filho] tinha contigo [o Pai] antes que o mundo existisse”. O Senhor Jesus está falando acerca da glória que Ele tinha, como o Filho junto ao Pai, antes da criação do mundo. Novamente o testemunho das Escrituras é que Ele já era o Filho de Deus antes da Criação.
No v. 11, ao antecipar a Sua ascensão e o Seu retorno ao Céu, o Filho diz ao Pai: “Eu vou para Ti”. Negar que o contexto dos vs. 1-5 é o relacionamento de Pai e Filho tornaria necessário negar também o relacionamento de Pai e Filho quando o Salvador fala, no v. 11, sobre Sua ascensão e retorno ao Pai. Fazer isso significa que o Filho não estava retornando ao Pai como o Filho; antes, que Sua Filiação terminou na ascensão e Ele estaria retornando aos Céus em algum outro relacionamento! 
Estas são apenas algumas passagens selecionadas no Evangelho de João que ensinam sobre a eterna Filiação de Cristo. Ao meditar nelas e nas outras ocasiões no Evangelho de João quando o Salvador fala de ter vindo do Pai ou de estar indo para o Pai, lembremos que Aquele que falou estas palavras, é apresentado por João como “Jesus … o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 20:31). 
Gálatas 4:4
“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. 
A palavra traduzida “enviou” é o tempo aoristo grego de exapostello, que significa “expedir de”; “remeter a”; “mandar embora”; ou “despachar numa missão”. O radical stello tem dois prefixos interessantes. Stello significa “despachar”, apo quer dizer “desde” e ek significa “fora de”. A palavra composta significa que o Filho foi enviado desde o e para fora do Céu para executar uma missão específica sobre a Terra. A ideia clara é que aquele que foi enviado desde o e para fora do Céu, já existia no Céu, antes de ser enviado. Aquele que Deus enviou era o Seu Filho; Ele não se tornou o Filho na ocasião de ser enviado. 
Colossenses 1:12-17
“Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor; em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem por Ele.” 
O raciocínio das Escrituras é simples: o Filho do v. 13 é o Filho do Pai do v. 12, e o criador de todas as coisas do v. 16. O relacionamento do Pai e do Filho data de antes da Criação. Ele era o Filho antes da Criação, que aconteceu milhares de anos antes da Sua encarnação. 
Hebreus 1:1-3 
“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constitui herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da Sua glória, e a expressa imagem da Sua Pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do Seu poder, havendo feito por Si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-Se à destra da majestade nas alturas.” 
Aqui está uma declaração retumbante da Filiação eterna de Cristo. 
Quatro verbos são usados acerca daquele que é descrito no v. 2 como o 1 A palavra aqui é formada de ek + apo + stello: exapostello (N. do E.).
Filho de Deus:
O Filho constituído herdeiro de todas as coisas; 
O Filho fez o universo;
O Filho purificou os nossos pecados;
O Filho assentou-Se à destra da majestade nas alturas.
Não há razão para crermos que estes acontecimentos não estão listados na sua ordem cronológica. O Filho foi constituído herdeiro, depois Ele criou o universo, depois disto Ele purificou os nossos pecados e finalmente Se assentou em glória exaltada no Céu. Isto nos leva diretamente de volta ao Céu antes da Criação. Vemos que a Pessoa que, na posição de Filho, Se assentou em glória depois da Sua ascensão tinha, de fato, sido o Filho antes da Criação. Sua obra passada de expiação e Sua obra presente de mediação estão ligadas à preexistência do Filho baseado no Seu papel na criação do universo: “E todos os anjos de Deus O adorem” (Hb 1:6), significa que devemos entender o Filho em termos de deidade. 
Hebreus 2:9 
“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte”.
Para que Jesus fosse feito menor do que os anjos, Ele teria que ter estado numa posição, no mínimo, de igualdade com eles. Como Deus, obviamente, Ele tinha uma posição mais elevada do que os anjos; mas o argumento é que para ser feito menor do que os anjos Ele teria que ter existido antes daquela posição de humilhação. Isto nos leva de volta ao “Filho” de 1:2 que, de fato, é Jesus de 2:9. Esta passagem ensina sobre a Sua preexistência como o Filho. 
Hebreus 7:3
“Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus …”
Lemos de Melquisedeque em Gênesis 14, cerca de 2000 anos antes da encarnação. O argumento é simples: se o Filho de Deus não existia naquele tempo, foi Melquisedeque “feito semelhante” a uma entidade inexistente?
I João 4:2-3
“Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” 
Ao lembrar-se do Salvador a quem amava, João escreve com clareza e simplicidade acerca da sua experiência de acompanhá-LO no Seu ministério público. No primeiro capítulo da sua epístola, João diz que O ouviu, O viu, O contemplou e O tocou. O “O” se refere à Palavra da Vida, que era desde a eternidade. A intenção de João era enfatizar o fato que Ele era um homem real, com quem João teve contato como com outros homens. A epístola foi escrita porque alguns estavam negando a Sua encarnação. Em I João 4:2-3 o apóstolo declara que todo aquele que nega estas verdades reais não é de Deus, e tem o espírito do anticristo. A encarnação é uma doutrina essencial da fé cristã; negá-la é negar a Deus e Sua Palavra escrita. A encarnação verdadeira é uma Pessoa Divina assumindo um corpo humano, e requer uma preexistência verdadeira. Quando João falou sobre “o que era desde o princípio … a Palavra da Vida” (I Jo 1:1), ele estava se referindo a Cristo e dizendo que antes da experiência de João com o Cristo encarnado, Ele tivera uma existência na eternidade. Depois em I João 4:2 ele diz que “Jesus Cristo veio em carne”. João identifica por nome a Pessoa da Trindade que encarnou: Jesus Cristo. O próximo elo na cadeia do argumento de  João se encontra em I João 3:23, onde João diz : “Seu Filho Jesus Cristo”. Jesus Cristo é o Filho de Deus. O mesmo Jesus Cristo a quem João serviu durante o Seu ministério público, aquele Jesus Cristo que é o Filho de Deus, existia desde a eternidade.
Escrituras problemáticas Aqueles que negam a eterna Filiação de Cristo geralmente baseiam sua rejeição sobre, entre outras, duas passagens da Palavra de Deus: Lucas 1:35 e Salmo 2:7. Vamos examinar estes versículos e ver se, como alguns alegam, eles apresentam Filiação Temporal.
Lucas 1:35 
“… por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus”.
Estas são as palavras ditas pelo anjo a Maria acerca do nascimento de Cristo. Aqueles que rejeitam a eterna Filiação de Cristo usam estas palavras do anjo para afirmar que Cristo Se tornou o Filho de Deus somente no Seu nascimento. As palavras “será chamado” são a tradução do tempo futuro do verbo grego kaleo, que simplesmente significa “chamar”. Há uma diferença enorme entre “passará a ser o Filho de Deus” e “será chamado Filho de Deus”. Se Ele começou a ser o Filho de Deus no Seu nascimento, então Ele não teria tido existência antes do nascimento.
Neste caso, “será chamado” significa que Aquele que existia previamente na eternidade é agora manifestado entre os homens como a Pessoa que havia sido prometida como a “tua semente” (Gn 3:15). Há ainda outra tradução da frase que esclarece o sentido: “Aquele que há de nascer será chamado santo, o Filho de Deus”. O anúncio do anjo estava enfatizando que o Filho de Deus que haveria de nascer de Maria seria conhecido aqui na Terra como santo. Isto corresponde maravilhosamente com a ênfase contida no Evangelho de Lucas sobre o Homem perfeito. Também é um paralelo com o registro de Mateus da predição do Antigo Testamento, de que Ele seria caracterizado pela santidade do Nazireu (Mt 2:23).
Salmo 2:7
“Tu és Meu Filho, Eu hoje Te gerei.”
Esta frase é citada em Atos 13:33 e Hebreus 1:5; 5:5. Primeiramente devemos notar que as citações na epístola aos Hebreus não identificam o “quando” da Sua Filiação. Em Hebreus 1:5 a citação serve somente para mostrar que o nosso Senhor Jesus Cristo é superior aos anjos pelo fato de ser o Filho de Deus, e anjos nunca foram chamados “Filho” por Deus. Em Hebreus 5:5, o escritor simplesmente diz que nenhum homem assume o ofício de sacerdote por si mesmo. Da mesma forma Cristo recebeu oficialmente, do Seu Pai, a posição de Sumo Sacerdote. 
No Salmo 2:7, temos duas expressões muito interessantes: “hoje” e “Te gerei”.
“Hoje”. Em hebraico e no grego, um dia pode se referir a um período de vinte e quatro horas (Dn 6:10); à luz do dia em oposição à noite (Gn 1:5); a um ponto específico no tempo (Ez 20:31); a qualquer período de tempo prolongado e não especificado (Hb 3:8; I Pe 2:12; II Pe 3:10, etc.). O uso da palavra “dia” não nos ajuda a identificar o “quando” da Sua Filiação. O dia mencionado no Salmo 2:7, como citado várias vezes no Novo Testamento, não é o dia do início da Sua Filiação, mas da sua manifestação. Como veremos mais adiante, Sua eterna Filiação foi manifestada em ocasiões diferentes. 
“Te gerei”. A palavra usada no Salmo 2:7 não se refere sempre a uma concepção natural e nascimento como nós o conhecemos. É usada nas Escrituras em dois sentidos. Primeiro, para falar de geração natural, que resulta no nascimento de um filho. Segundo, é usada de um relacionamento especial existente entre o Filho e o Seu Pai. Por exemplo, em Provérbios 27:1 é usado desta maneira: “Não presumas do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz (ARA)”. A palavra traduzida “trará à luz” na nossa Bíblia, contém a ideia de um dia gerando os eventos que acontecem nele. Uma consideração cuidadosa nos mostra que não está dizendo que este dia específico é responsável por gerar os eventos que acontecem hoje, no sentido normal da palavra. Está dizendo, sim, que há um relacionamento entre o dia e os eventos que se dão nele. Em Deuteronômio 32:18 a mesma palavra é usada de Deus gerando a nação de Israel. Deus não deu à luz a nação de Israel, no sentido normal da palavra, mas Deus deu origem à nação pelo Seu divino poder, portanto colocou Israel num relacionamento especial com Ele. A palavra “gerar” não se refere a um acontecimento através do qual o Filho foi gerado pelo Pai, no sentido normal como entendemos a palavra. É usada no sentido do relacionamento especial e íntimo que existia entre o Pai e o Filho. É óbvio que, ao falar do Senhor Jesus, a palavra não pode ser usada no sentido de geração natural. Na encarnação Ele recebeu um corpo de carne e sangue; e se a expressão fosse usada no seu sentido natural, o gerador também teria tido um corpo de carne e sangue.
Quando aplicada ao Senhor Jesus, então, a palavra precisa ter seu outro significado, o de um relacionamento especial. Além disso, assim como “gerar” não se aplica ao nascimento do Salvador, também não se aplica ao tempo do Seu relacionamento com o Pai. 
 
O Pai não transmitiu a Sua essência Divina ao Filho, pois o Filho era Deus. O Filho possuía todos os atributos da Deidade, um dos quais é a eternidade — Ele sempre esteve com o Pai, e é igual ao Pai em todos os aspectos.
Em Atos 13:33 a citação se refere à Sua ressurreição. A ressurreição é uma daquelas ocasiões na Sua vida que manifestou Cristo como o eterno Filho de Deus. O Salmo 2:7 era um cântico de vitória para um rei em Israel que havia derrotado os seus inimigos. A derrota dos inimigos de Israel manifestava que o rei era um homem escolhido por Deus e indicava o prazer especial de Deus nele. Assim, num sentido mais elevado, Paulo viu a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos como a derrota dos principados, potestades, morte e inferno. Dessa forma, quando Paulo se refere à Sua ressurreição em Atos 13, ele cita o Salmo 2:7 para mostrar que Cristo, em filiação preexistente, é aquele que foi escolhido por Deus, aquele no qual Ele tem um prazer especial. A palavra “unigênito” significa o único de uma espécie, ou singular. 
Seu relacionamento com o Pai era o de Filho singular, o único de uma espécie. Cristo tornou-Se o Filho de Davi, o Filho de Abraão e o Filho de Maria quando Ele veio a ter um relacionamento com eles, que foi no Seu nascimento. Se Ele tornou-Se o Filho de Deus no Seu nascimento, isto significa que Ele não tinha nenhuma ligação ou relação com o Pai anteriormente. Seguir esta linha de raciocínio significa que se o Filho não tinha nenhum relacionamento com o Pai antes da encarnação, logo Ele não tinha nenhum relacionamento com Deus antes do Seu nascimento. 
Este ponto de vista deve ser totalmente rejeitado. 
 
Conclusão 
 
Negar a eterna Filiação de Cristo é negar a eterna Paternidade de Deus. Se o Filho Se tornou Filho somente ao nascer, logo o Pai tornou- -Se o Pai somente no nascimento de Jesus Cristo. Como era, então, composta a Trindade antes da encarnação? Este é um assunto no qual não há espaço para lógica intelectual ou especulação. Temos que abordá-lo em espírito de oração e dependência em Deus para não errarmos na maneira como falamos do Seu Filho, que é tão querido por Ele. A doutrina da eterna Filiação de Cristo nos conduz às grandes profundezas de graça e misericórdia que estão no próprio coração de Deus, pois quando se tratou de fazer algo a respeito da situação dos homens pecadores, Deus não enviou um agente para resolver o problema — Ele veio Deus penetrou nas nossas circunstâncias para restaurar e redimir a humanidade caída. Este fato é o que dá sentido e confirmação à verdade que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito” (Jo 3:16). A linguagem da encarnação pressupõe a preexistência real e pessoal de Cristo; de outro modo não haveria alguém para se tornar encarnado. A Eterna Filiação de Cristo afeta as grandes doutrinas de Criação e salvação. Esta verdade sublime deveria produzir em nossos corações adoração real e sincero comprometimento ao nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.
 

por Walter A. Boyd, Irlanda do Norte

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