Em nosso último capítulo, nós vimos que, para nos beneficiarmos de tudo o que Deus fez, está fazendo e ainda fará pela humanidade, nosso primeiro passo deve ser o arrependimento para com Deus. Mas há um segundo, que é a fé em nosso Senhor Jesus Cristo (Atos 20:21).
 
De acordo com o Novo Testamento, as condições da salvação são as seguintes:
 
a) “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus” (que ele é, objetivamente, o Filho de Deus e, subjetivamente,
o seu Senhor), e
b) “se, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Romanos 10:9).
 
A questão que imediatamente é suscitada é esta: Como é possível ter esta fé?
 
Hoje, podemos ouvir muitas pessoas dizendo: “Nós gostaríamos de acreditar em Deus e em Cristo, mas é muito difícil para nós acreditar depois de tantos anos de doutrinação no ateísmo. Para nós, a fé parece uma coisa arbitrária. Na ciência, você pode ter evidências e provas, e a fé nunca é necessária. Mas, no que diz respeito ao cristianismo, nós temos de acreditar sem qualquer prova ou evidências. É como saltar com os olhos fechados de uma janela em uma noite muito escura e esperar que vai pousar com segurança em algum lugar.“
Outros acreditam que a fé é como uma habilidade artística: ou você tem ou você não tem, e não há nada que seja possível fazer para mudar isso.
Nenhuma dessas perspectivas é verdadeira. Além disso, a ideia de que a ciência não envolve a fé também é falsa. Na verdade, a fé é fundamental para o empreendimento científico. Albert Einstein disse: “A crença de que o universo das coisas existentes é acessível à razão humana e que as regras válidas neste universo são racionais pertence ao domínio da religião. Eu não consigo sequer imaginar um cientista autêntico que não compartilha dessa fé profunda”.
Houve, é claro, tanto cientistas quanto filósofos que questionaram se o universo que os cientistas dizem descrever existe de fato. Eles sugeriram que esse universo existe somente nas mentes e nas fórmulas dos próprios cientistas. As teorias dos cientistas, alegam eles, não correspondem a nenhuma realidade objetiva. Mas essa é, claramente, a visão de uma pequena minoria.
A grande maioria dos cientistas acredita que o universo que eles investigam, seja diretamente, seja por seus instrumentos, realmente existe. Eles não o criaram mediante suas observações, medições, hipóteses, teorias, experiências e interpretações. Eles aceitam a sua existência como um fato. É verdade que eles descobriram detalhes desse universo, como partículas elementares que até então eles não sabiam que existiam. Mas esses detalhes já existiam antes dos cientistas descobri-los. O cientista, portanto, não cria o universo com seus estudos, ele simplesmente tenta compreendê-lo. E, com esse propósito, ele submete a sua mente às evidências apresentadas pelo universo e julga a veracidade de suas teorias de acordo com a capacidade delas de explicar as evidências que existem.
Pois bem, a Bíblia afirma que o universo existe, porque Deus o colocou onde ele está, porque Deus o criou. Segundo a Bíblia, ele trouxe o universo à existência por meio de sua Palavra criadora (Gênesis 1; João 1:1-4; Hebreus 11:3). Isso é uma revelação sobre a mente de Deus, uma expressão de seu pensamento criador. E, ao estudar essa revelação, um cientista, quer ele saiba ou não, está, como disse Johannes Kepler, pensando os pensamentos de Deus.
A Bíblia afirma ainda que o mesmo Deus que se revelou pela criação, se revelou a nós também por seu Filho, Jesus Cristo. Cristo não é uma invenção da igreja ou o produto da especulação religiosa e teológica. A Bíblia o chama de a Palavra de Deus, pois, através dele, Deus se revelou e falou aos homens e às mulheres de uma forma muito mais direta e muito mais plena do que jamais havia feito pela criação. Na criação, Deus nos falou de seu poder, de sua glória e majestade. Em Cristo, a Palavra de Deus, ele nos falou de seu coração. Nossa tarefa, então, deve ser estudar as provas fornecidas por Deus em sua revelação em Cristo, da mesma forma que os cientistas estudam as evidências fornecidas por Deus em sua revelação na criação.
Ora, é notório que os cientistas têm muita cautela com explicações científicas que são muito fáceis. Eles aprenderam, pela experiência, que o universo está constantemente nos apresentando coisas inesperadas e fenômenos que só podem ser explicados em termos que desafiam, ou parecem desafiar, o senso comum. Mas eles não rejeitam de antemão essas explicações incomuns e difíceis. Na verdade, eles estão preparados para confiar mais nessas explicações do que no senso comum; e a maior justificação dessa confiança que eles podem obter vem quando, ao realizar experiências e testes, elas se mostram verdadeiras.
E o mesmo vale para a revelação de Deus ao homem por meio de Jesus Cristo. Como sabemos, o Novo Testamento afirma que Jesus Cristo é tanto Deus quanto homem. Para muitas pessoas, essa afirmação parece estar em total desacordo com o senso comum e, quando elas descobrem que nem mesmo a Bíblia oferece uma explicação completa e suficientemente clara de como é possível que Jesus seja Deus e homem ao mesmo tempo, elas acabam se sentindo impelidas a ver essa afirmação como mero mito primitivo. Mas, como acabamos de ver, essa é uma reação muito pouco científica.
Aqueles que se encontraram com Jesus Cristo pessoalmente, quando ele esteve aqui na Terra, descobriram antes de qualquer outra coisa que ele era genuinamente humano. Ao mesmo tempo, eles perceberam que ele apresentava e realizava fenômenos indiscutíveis que demonstravam que ele era muito mais do que um simples ser humano. E a explicação oferecida pelo próprio Jesus Cristo era que ele era, simultaneamente, tanto homem quanto Deus. Se perguntarmos como podem esperar que acreditemos nessa explicação, o Novo Testamento nos indicará algumas investigações e experiências que podem ser feitas para averiguar a veracidade dessa explicação e provar que ela é verdadeira (João 7:16-17; 20:30-31). Na verdade, o Novo Testamento afirma que Jesus não só foi uma figura histórica real, mas também que, tendo ressuscitado dos mortos, ele é uma pessoa que está viva agora e com a qual nós podemos entrar em contato a qualquer momento.
 
POR QUE LER O NOVO TESTAMENTO?
 
Mas aqui alguém poderia contestar: “Eu não vejo nenhum proveito em ler o Novo Testamento. De fato, para que o Novo Testamento me beneficiasse de alguma forma, eu teria que acreditar que ele é verdadeiro mesmo antes de lê-lo. E, já que eu não acredito que ele seja verdade, não faz sentido que eu o leia”. Mas essa objeção repousa sobre um mal-entendido, pois ninguém tem de acreditar no Novo Testamento antes de ter de fato lido o que ele diz. Por outro lado, se você nunca leu o Novo Testamento de forma séria, você jamais poderá afirmar, de forma honesta e científica, que ele não é verdadeiro. Você não faria algo assim com, por exemplo, jornais. Por ter lido muitos jornais, você sabe que é bem provável que eles contenham informações que não são verdadeiras. Mas nem por isso você se recusa a ler um jornal. Você os lê, confiante de que será capaz de distinguir a verdade da mentira, e, quando percebe que não pode fazer isso, você simplesmente deixa de emitir um julgamento. Leia o Novo Testamento da mesma forma, e então, quando tiver terminado a leitura, e só após isso, decida por
92 CONCEITOS-CHAVE DA BÍBLIA
você mesmo se Jesus falou ou não a verdade. É impossível ter fé em Jesus a menos que primeiro você ouça o que ele tem a dizer; se recusar a ouvi-lo não é um sinal de coragem intelectual, e sim de obscurantismo.
É claro que as questões que estão em jogo são muito maiores e muito mais importantes do que aquelas com que nos deparamos, quando lemos uma notícia em um jornal. Na verdade, como vimos no início deste capítulo, a primeira condição para a salvação, tal como ensinada pelo Novo Testamento, é a confissão de Jesus Cristo como Senhor. Isso, naturalmente implica aceitar a Jesus como seu Senhor e Mestre pessoal, bem como estar disposto e preparado para confessá-lo como tal, perante o mundo todo. Mas isso envolve ainda mais do que isso. No Antigo Testamento, Deus diz: “Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador” (Isaías 43:11). “O Senhor” é um sinônimo para Deus, o Criador. Se Jesus não fosse esse Senhor, se ele não fosse Deus em uma forma humana, ele não poderia salvar ninguém. Essa é uma alegação extraordinária, e o Novo Testamento, certamente, não nos pede que acreditemos nela sem nos fornecer evidências que possam fundamentar nossa fé. Então, o que devemos perguntar é: que evidências existem que justifiquem a crença de que Jesus é o Senhor nesse sentido?
 
A EVIDÊNCIA DAS DECLARAÇÕES FEITAS
PELO PRÓPRIO CRISTO
 
Em um primeiro momento, pode soar ingênuo, mas a principal razão para acreditarmos que Jesus é o Filho de Deus é que ele próprio afirmou isso. Tal suscita a questão da veracidade e honestidade dele. E isso é muito adequado, já que, mesmo quando todas as evidências demonstram de forma inequívoca a sua divindade, a questão mais fundamental com que temos que lidar e cuja resposta temos de decidir quando confrontados com Jesus Cristo é: ele é verdadeiro? Ele fala a verdade? Que credibilidade podemos dar à expressão “Em verdade, em verdade, vos digo”, tão frequentemente utilizada por ele? A situação é a mesma com Deus. A última pergunta não é “Deus existe?” mas, sim, “Deus é verdadeiro? Será que devemos confiar nele?” O apóstolo Tiago afirma com uma certa ironia que os demônios creem que há um só Deus (Tiago 2:19). Mas eles não confiam nele nem lhe obedecem. Da mesma forma, muitas pessoas que acreditam na existência de Deus, não confiam nele, nem estão dispostas a dedicar sua vida neste ou no mundo por vir com base na veracidade da palavra dele. Eles sentem que não conseguem fazer isso.
“Mas você não pode esperar que nós acreditemos”, pode dizer alguém, “que Jesus é o Filho de Deus apenas porque ele mesmo disse que era. Isso não faz sentido. Não é racional.” Os contemporâneos de Cristo levantaram a mesma questão: “Tu testificas de ti mesmo”, disseram eles; e, partindo dessa afirmação, chegaram a esta conclusão: “o teu testemunho não é verdadeiro” (João 8:13).
Cristo imediatamente contestou de forma desafiadora essa conclusão injustificada:
“Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde vim, nem para onde vou” (João 8:14).
Ele estava, é claro, se referindo ao céu, o lugar de onde ele havia vindo e para o qual ele logo retornaria.
Ele falou com a autoridade da experiência pessoal. Não havia nenhuma justificativa para concluir que, apenas porque ele era o único que podia falar dessas coisas, o testemunho dele necessariamente não era verdadeiro.
Vamos fazer uma analogia. As pessoas que viviam na bacia do Mediterrâneo há três mil anos sustentavam que era incontestável que, se alguém se colocasse diante do sol do meio-dia, seria correto dizer que o sol havia nascido à esquerda dessa pessoa e que se poria à direita dela. Agora, suponha que em um belo dia chegasse na bacia do Mediterrâneo um sul-africano solitário, o primeiro homem da África do Sul a visitar aquele lugar. Esse homem poderia dizer que, no país de onde ele veio, se alguém se coloca diante do sol do meio-dia, é correto dizer que o sol nasceu à direita dessa pessoa e se pôs à esquerda dela. A questão é a seguinte: as pessoas que vivem no Mediterrâneo estariam certas se acreditassem nele? As palavras dele seriam contrárias a tudo o que eles já haviam experimentado e iriam contra a ciência e a cosmologia então vigente. Eles poderiam muito bem dizer a ele: “Você é a única pessoa que já nos disse isso. E nós não podemos acreditar nisso só porque você está dizendo. O seu testemunho não é válido. Não podemos acreditar que existe um país onde o sol se comporta da forma que você está dizendo”.
E, então, ele poderia responder: “Mesmo que eu seja o único que já disse isso, o meu testemunho é verdadeiro. Eu sei de que país eu vim e para o qual eu devo voltar. Mas vocês não conhecem o meu país”. E ele estaria certo. Seu testemunho era válido e, se eles tivessem acreditado no que ele disse, eles teriam apenas acreditado no que era a verdade.
É claro que seria muito difícil para os mediterrâneos acreditar no que o sul-africano desconhecido estava dizendo, pois, naquela época, havia muitos contos de viagens que narravam histórias fantásticas, sobre pessoas que estiveram nos confins da Terra e que lá viram coisas fantásticas e maravilhosas. Nenhum desses contos era verdadeiro. Não passava de pura imaginação. Como eles poderiam, então, distinguir os contos de viagem daquilo que o sul-africano estava dizendo? E como nós podemos distinguir as palavras de Cristo das lendas e das superstições religiosas?
O próprio Cristo respondeu a essa pergunta, indicando que, embora suas próprias afirmações fossem válidas em si mesmas, havia evidências adicionas que corroboravam o que ele dizia: e essas evidências eram os seus milagres (João 5:36). Ele realizava coisas que ninguém jamais havia realizado (João 15:24). E é dessas coisas que ele realizava, desses milagres que iremos tratar no próximo capítulo.
 
A. A EVIDÊNCIA DOS MILAGRES DE CRISTO
 
Concluímos o capítulo anterior dizendo que as declarações de Cristo são confirmadas pelos milagres por ele feitos. O Novo estamento chama os seus milagres de sinais, porque eles apontam para a verdade em sua afirmação de ser o Filho de Deus:
“Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:30-31).
Alguém pode dizer: tudo bem, mas quais evidências nós temos de que os milagres registrados nos Evangelhos realmente aconteceram? Nós não estávamos lá para vê-los acontecer. Como podemos ter certeza de que esses registros são verdadeiros? E qual era o objetivo desses milagres? A Bíblia não alega que outras pessoas, como Elias, também fizeram milagres? E isso não prova que qualquer um deles era o Filho de Deus. Então, como os milagres de Cristo provam que ele é?
Para termos as evidências históricas de que Jesus realmente realizou milagres, dependemos do testemunho dos apóstolos cristãos. Não temos nenhuma razão convincente para não confiar neles, pois a ideia de que milagres são impossíveis não foi comprovada pela ciência, é uma norma não provada e improvável em certas ideologias (mas não todas).
A questão, então, não é científica, mas histórica: o testemunho dos apóstolos é confiável?
Podemos ter certeza, em primeiro lugar, de que os apóstolos não eram mentirosos deliberados e conhecedores. O apóstolo João estabelece isso, quando ensina que, “nenhuma mentira vem da verdade” (1 João 2:21). As mentiras, em sua opinião, eram inaceitáveis, mesmo que o propósito fosse a propagação da verdade maior e totalmente incompatíveis com quem dizia ser a Verdade (João 14:6) e com quem proibiu todos os falsos testemunhos (Mateus 5:33-37). Quando, portanto, João nos diz que ele e seus companheiros apóstolos viram Jesus fazer milagres diante de seus olhos, fica claro que ele crê estar registrando eventos históricos reais.
Em segundo lugar, devemos observar a afirmação de João de que, quando ele registra os milagres de Jesus, ele não está simplesmente repetindo boatos. Ele e os seus companheiros apóstolos foram testemunhas em primeira mão. Os milagres que eles relatam foram feitos na presença dos seus discípulos.
Mas, em terceiro lugar, e mais importante, devemos observar a natureza dos milagres de Cristo. Eles não eram apenas eventos históricos. Eles nos apresentam outro tipo de evidência, que nos desafia ainda hoje com um imediatismo que transcende a história. O grego do Novo Testamento nos alerta para isso. Os milagres de Cristo, o Novo Testamento diz, não foram apenas obras de poder especial (em grego: dunamis), e não foram apenas maravilhas surpreendentes (em grego: teras) que prendia a atenção das pessoas: eles também foram sinais (grego: semeion) que apontavam além de si mesmos, para algo muito mais importante do que o milagre físico em si.
Veja, por exemplo, o milagre da alimentação dos cinco mil (João 6). Em seu primeiro nível de significância, isso foi realizado por Cristo a partir de sua compaixão para com a fome das pessoas físicas. Mas esse não era a sua única, nem mesmo a sua principal, finalidade. As pessoas, naturalmente, ficariam com fome no dia seguinte também. Mas o próprio registro nos conta que, quando eles, vindo a Jesus, clamaram por uma repetição desse milagre físico, ele recusou-se a repeti-lo. Por quê? Se ele tinha esses poderes milagrosos, por que ele não iria usá-los dia após dia, até que a fome física fosse banida da Terra? E por que ele não continua fazendo isso hoje? Porque, conforme ele disse, eles não tinham conseguido ver, ou então estavam deliberadamente ignorando, o objetivo maior, o significado desse sinal miraculoso (João 6:26). O milagre foi feito para alertá-los não só para o fato de que Jesus era o seu Criador em forma humana, mas também que ele havia descido do céu para oferecer-se a eles como o Pão da Vida para satisfazer sua fome espiritual. O estômago, sendo material, pode ser satisfeito com as coisas materiais. Mas o espírito humano, derivando de Deus, que é espírito, não pode nunca ser totalmente satisfeito com as coisas materiais, nem com os prazeres meramente estéticos ou intelectuais. Ele precisa da comunhão com uma pessoa, e ninguém além do seu Criador. Sem ele, o espírito humano está condenado à fome perpétua, que nem dez mil milagres físicos nunca saciariam.
 
TESTANDO A VERACIDADE DOS MILAGRES
 
Nesse nível, nós podemos testar a veracidade da história desse milagre por conta própria. Ela nos oferece um diagnóstico da necessidade humana. Ela nos diz que nós estamos espiritualmente famintos, conscientemente ou não do que (ou de quem) estamos famintos. Isso é verdade? Nós conhecemos nossos próprios corações, nós podemos decidir, cada um por si mesmo, se esse diagnóstico é verdadeiro.
É claro, multidões foram treinadas e ensinadas para suprimir sua fome espiritual. Alguns foram bem-sucedidos e honestamente afirmam que eles não sentem nenhuma angústia de fome espiritual. Mas isso pode ser um sintoma alarmante. Somos informados de que, quando as pessoas estão morrendo de fome fisicamente, sem qualquer alimento, no início, é muito doloroso. Mas,depois de um tempo, a dor vai embora e não volta até que a morte seja iminente e inevitável. Pode ser do mesmo modo com fome espiritual e sua fase final, a segunda morte.
Mas para aqueles que reconhecem sua fome espiritual, Cristo se oferece como o Pão Vivo. Eles clamam pela dimensão espiritual de vida que é a comunhão eterna com Deus, que começa aqui na Terra e se estende para além da nossa morte, no paraíso de Deus?
Cristo garante que ele pode dar isso (João 6:28-58). Será que eles anseiam ter seu espírito livre da sombra projetada sobre ele pela culpa e pela escravidão do pecado? Cristo, por sua morte, pode lhes dar isso também (João 8:31-36).
Como então podemos saber que é verdade, que ele é, como ele diz ser, o nosso Criador em forma humana? Da mesma forma como se sabe que um pedaço de pão pode realmente satisfazer a fome física. Ao vir a ele, confiando nele, tomando-o, comendo-o. Então, para aqueles que reconhecem a verdade de seu diagnóstico de sua fome espiritual, Cristo diz:
“Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (João 6:35).
Aqueles que vêm até ele e creem descobrem que ele é a verdade.
Mas agora voltamos para outro tipo de evidência um pouco diferente da fornecida pelos milagres de Cristo.
 
B. A EVIDÊNCIA FORNECIDA PELA MORTE DE CRISTO
 
De acordo com o Novo Testamento, não são apenas, nem sequer principalmente, os milagres de Cristo que são planejados por Deus para motivar nossa fé nele, mas, sim, a morte de Cristo na cruz:
“Porque os judeus pedem sinal (isto é milagre), e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado... Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado... Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1:22-23; 2:2, 5; 1:18).
Como, então, a cruz de Cristo provoca nossa fé de que ele é nosso Criador encarnado, o Filho do Deus vivo? Ela faz isso porque a cruz do Filho de Deus revela como Deus realmente é.
Obviamente, se os nossos corações irão acreditar em Deus, amá-lo e confiar nele, precisamos primeiro saber como é o coração de Deus. A filosofia não pode nos dizer isso. Ela pode especular sobre Deus, mas não pode nos dizer o que está em seu coração. (Ela não pode nem sequer nos dizer o que está acontecendo no coração do homem ao lado.) A criação de Deus também não pode fazer isso. Ela pode nos deixar ver o poder dele, mas não pode, de forma inequívoca, nos mostrar o coração de Deus. Se fôssemos conhecer como é a atitude do coração de Deus a nosso respeito, então Deus precisava tomar a iniciativa e se revelar, de modo que nós, seres humanos, possamos entender. Daí a encarnação, o Verbo de Deus feito carne.
Mas nesse ponto Deus teve um problema, por assim dizer, e era um problema que Cristo apontou para seus contemporâneos. Eles sugeriram, de modo um pouco cínico, que, para ganhar a confiança e o apoio do público, deveria tentar obter o máximo de publicidade possível e praticar uma grande sucessão de milagres espetaculares. Mas eles não contavam com uma dificuldade fundamental. “O mundo não vos pode odiar”, ele disse, “mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más” (João 7:1-7). Seu testemunho nasceu não da hipocrisia orgulhosa, nem da misantropia de uma mente estreita e atrasada. Ele era a expressão perfeita de Deus, a própria comunicação de Deus em termos humanos. Portanto, inevitavelmente ele revelou a santidade de Deus de uma forma sem precedentes e, quanto mais ele fazia isso, mais exposta a natureza pecadora do homem ficava, mais ressentidas as pessoas ficavam e mais elas resistiam às alegações sobre ele ser o Filho de Deus.
Mas isso é compreensível. Se um amigo seu diz que algo que você fez foi um ato malvado e desprezível, você pode muito bem ressentir-se em um primeiro momento, então, depois de um tempo, você pode se consolar com o pensamento de que aquela era apenas a opinião dele e que ele não tem o direito de criticá-lo. Então você decide ignorar seu comentário e continuar sendo seu amigo. Mas se alguém lhe diz que você é um pecador digno do juízo de Deus e depois acrescenta: “E eu, que estou lhe dizendo isso, sou o Filho de Deus”, sua reação natural muito provavelmente seria, primeiro de ridicularizar sua pretensão de ser o Filho de Deus e, depois, se ele insistir nisso, resistir de forma consistente, porque, se ele estiver certo, você estará condenado.
O antigo poeta latino, Lucrécio, que, em um longo e majestoso trabalho, expôs a antiga teoria atômica grega e a teoria da evolução em curso para o benefício de seus companheiros romanos, confessa na introdução o porquê de essas teorias apelarem a ele de modo tão poderoso (De Rerum Natura, Livro I). Em primeiro lugar, elas pareciam provar-lhe que na morte tudo termina: não há vida após a morte, e esta, por sua vez, o deixava livre de todas as perspectivas e medos de punição por seus pecados na vida que estaria por vir. Ele, portanto, pregou essas teorias com o fervor de um evangelista.
E ainda é assim com muitas pessoas. Admitir a declaração de que Cristo é o Filho de Deus e, juntamente com isso, eles sentiriam o medo de um Deus santo, de um julgamento final e de castigo para o pecado. Eles, portanto, resistem à alegação e determinam que não estão convencidos. Sendo assim, Cristo, ao realizar toda uma sucessão de milagres que eram pura e simplesmente exposições de poder sobrenatural, a tendência seria aumentar o medo das pessoas, reforçando a sua resistência e levando-as a procurar explicações alternativas do poder de Cristo. Assim sendo, Deus não se apoiou apenas nos milagres de Cristo para ganhar o coração humano, mas em sua cruz. O próprio Cristo acalmou a hostilidade de seus oponentes que estavam enfurecidos com ele com sua exposição de seus pecados:
“Quando levantardes (isto é, crucificardes) o Filho do Homem, então, conhecereis quem EU SOU (seu Deus, Criador e Senhor) e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (João 8:28)
Pela cruz de seu Filho, Deus, é claro, expõe nosso pecado. E não apenas o expõe, mas o exibe diante dos olhos de todo o universo. Vejamos o estranhamento e a rebelião do coração humano, que crucificaria o Criador, dada a oportunidade pela encarnação de Deus, como de fato aconteceu. Por meio da cruz de seu Filho, Deus também, é claro, demonstra sua santidade inflexível. O pecado não pode fazer nada a não ser se sujeitar a seu desagrado inflexível. O pecado deve ser punido.
Mas, ao mesmo tempo, e, acima de tudo, pela morte de seu Filho, Deus mostra todo o seu coração para as suas criaturas. Apesar de terem sido enganados por Satanás e terem se tornado seus inimigos devido ao pecado, Deus permanece fiel a eles. Ele os ama com um amor que somente o Criador poderia ter por suas criaturas. Ele não deseja que qualquer um deles pereça, mas que todos venham a arrepender-se (2 Pedro 3:9). Em vez de que eles pereçam sob a penalidade do pecado, ele se dispõe a pagar essa pena pelo custo dos sofrimentos de seu Filho Divino e assim ser justo e livre para oferecer a todos a redenção, completa e eterna.
A cruz proclama que Deus deseja que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade, isto é, que descubram o que Deus realmente é e como ele se sente em relação ao homem. Para mostrar ao mundo como é o coração do Pai, o Filho deu a si mesmo em resgate de todos, para que os anseios do amor de Deus pudessem ser alcançados (1 Timóteo 2:3-6). Seu perfeito amor anseia expulsar todo o nosso medo (1 João 4:18).
A cruz de Cristo é, portanto, a mais completa expressão do amor de Deus que já existiu e que jamais existirá. Nem todas as delícias do céu podem manifestar o amor de Deus de forma mais completa do que o oferecer de seu Filho no Calvário. Nesse sentido, essa é a última mensagem de Deus, ele não tem nada mais poderoso ou mais glorioso que poderia ganhar a nossa fé e o nosso amor.
A questão é se podemos reconhecer o amor de Deus, quando o vemos. As ovelhas, ainda que sejam criaturas humildes, podem instintivamente reconhecer o amor e os cuidados de um pastor genuíno, quando se deparam com ele. Ele disse:
“Eu sou o bom pastor, o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10:11). “Conhecemos o amor nisto”, diz o apóstolo João (1 João 3:16), “que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1 João 3:16). “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido... e dou a minha vida pelas ovelhas... Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la” (João 10:14-17).
A questão, portanto, é: “Este Jesus, que foi crucificado e que morreu na cruz por nós (conforme ele diz), é o Filho de Deus?” Essa questão é única. Nenhum outro líder religioso ou fundador de uma religião mundial nunca vai estar diante de você e, dirigindo-se diretamente ao seu coração, dizer: “Eu sou o seu Criador. E, por ser seu Criador, eu o amo como você é, apesar dos seus pecados. E a evidência disso é: eu morri por você.”
A afirmação de Cristo é extraordinária. Mas há ainda mais evidências para mostrar que isso é verdade. E nós as consideraremos no próximo capítulo.
Por John Lennox
 
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