(Palestra a Cristãos – La Mirada, Dezembro de 1985)

 

“Esse povo que formei para Mim, para que Me desse louvor.” (Is 43:21)

“E todos os do teu povo serão justos, para sempre herdarão a Terra; serão renovos por Mim plantados, obra das Minhas mãos, para que Eu seja glorificado. O mais pequeno virá a ser mil, e o mínimo um povo grandíssimo: Eu, o Senhor, a seu tempo o farei prontamente.” (Is 60:21-22)

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.” (1 Co 10:31)

“Quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós). Pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da Sua vocação, e cumpra todo o desejo da Sua bondade, e a obra da fé com poder; para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja em vós glorificado, e vós nEle, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.” (2 Ts 1:10-12).

“Mas, se tardar, para que saibais como convém andar na casa de Deus, que é a igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade. E sem dúvida alguma grande é o mistério da piedade: Aquele que Se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória.” (1 Tm 3:15-16).

Quão maravilhoso é olharmos adiante para um dia glorioso quando o Nome do Senhor será glorificado nos céus e na Terra. Nas passagens que lemos no Antigo Testamento, pudemos ver que virá um dia quando Deus será glorificado na nação de Israel. Ele os escolheu em Sua graça, e Seus propósitos para com eles eram propósitos de bênção. Mas sabemos que eles não corresponderam aos Seus clamores. Mesmo assim Ele foi fiel e em Malaquias, o último livro do Antigo Testamento, Ele lhes diz: “Fazei prova de Mim, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança” (Ml 3:10). Ainda assim, Ele Se deleitou em lhes apontar para aquele tempo quando Ele seria glorificado neles, o dia em que eles não iriam mais se vangloriar em si mesmos, mas toda a glória estaria nEle.

Sabemos que é este o futuro para a nação de Israel, mas tanto eu como vocês, irmãos, ocupamos um lugar muito mais maravilhoso e glorioso. Quão maravilhoso é que Deus tenha tomado deste mundo um povo que será apresentado em um dia vindouro como a noiva de Cristo! Poderia haver algo mais glorioso ou mais maravilhoso? O escritor deste hino expressou o pensamento nestas palavras:

“Um pensamento tão maravilhoso e sem par,

Quem o iria sugerir, ou o que o faria brotar;

Que nós, a Igreja, à glória levados,

Fôssemos, com o Filho, tão abençoados?

Oh Deus! De Ti veio um pensamento tal!

E só Teu poderia ter sido;

Pois ninguém mais faria igual.”

Somente Deus poderia ter tido propósitos tão maravilhosos para conosco!

 

Sinto que devemos ser lembrados do quanto Ele fez por nós para que nossos corações sejam estimulados aqui e agora – para que possa haver em nós uma resposta no sentido de vivermos para Ele. Precisamos dar aquela olhada para trás e vermos o que o precioso Salvador fez por nós, quando tomou o nosso lugar e levou, sobre a cruz do Calvário, o juízo que nós merecíamos. E então, olhemos para diante, para o tempo a respeito do qual lemos em 2 Tessalonicenses, quando Ele virá para ser glorificado em Seus santos, e para ser admirado em todos os que crêem.

Porém, quando chegamos em 1 Timóteo, capítulo 3, creio que o Espírito de Deus coloca diante de nós, por intermédio do apóstolo, aquilo que deve caracterizar a assembléia aqui sobre a Terra. Talvez devesse ser trazido diante de nós apenas a imensidão da responsabilidade que temos e o tamanho privilégio que nos pertence. Não se trata de que devêssemos ser alguma coisa em nós mesmos – longe de mim tal pensamento! Mas que o Senhor pudesse ser glorificado; que houvesse um testemunho, dado aqui neste mundo, que fosse para Sua glória e louvor. Cada um de nós pode acatar isto em nosso coração individualmente. Cada um de nós pode desejar que possa ser conosco assim como foi com o apóstolo Paulo; quando olharam para ele, nos é dito que “glorificavam a Deus a respeito de mim” (Gl 1:24). Eles viram nele a manifestação da vida de Jesus.

Isto pode ser também coletivamente, e creio que o que é colocado diante de nós neste terceiro capítulo de 1 Timóteo é o lado coletivo das coisas. O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, um jovem rapaz, expõe aquilo que deveria caracterizar a casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo. Sabemos que então as divisões ainda não tinham se disseminado entre o povo de Deus, e assim o apóstolo coloca diante de nós o plano de Deus de como deveria ser a casa de Deus aqui na Terra. Vemos às vezes algum novo empreendimento habitacional e é colocado um modelo da moradia que será construída para que as pessoas possam ver qual é a idéia do construtor para aquela obra. Tudo é colocado naquele modelo para que as pessoas possam descobrir o que estava na mente de quem o projetou. Não é bom que Deus tenha feio exatamente o mesmo aqui neste mundo? Ele estabeleceu aquilo que tinha por objetivo mostrar ao mundo, não a sabedoria do homem (da qual costumamos escutar muito em nossos dias), mas a sabedoria de Deus. É esta a sabedoria que realmente importa. A sabedoria deste mundo, nas coisas morais e espirituais, é loucura para Deus. Mas tanto eu como vocês, irmãos, encontraremos felicidade, paz e gozo em andarmos no caminho da sabedoria de Deus. Lemos diversas vezes nas Escrituras, “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111:10; Pv 1:7; 9:10). Outro versículo que fala de sabedoria é: “Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz” (Pv 3:17).

O apóstolo diz aqui a Timóteo: “Para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo” (1 Tm 3:15). Sabemos que a Igreja é vista de duas maneiras diferentes nas Escrituras: Nos é falado dela como o corpo de Cristo; e, como tal, todo crente é um membro. Está escrito: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres” (1 Co 12:13). Há o “um corpo”, do qual Cristo é a Cabeça em glória. Mas há também os aspecto da casa, no qual aprendemos que somos todos pedras vivas, “edificados casa espiritual… para morada de Deus em Espírito” (1 Pd 2:5; Ef 2:22). Como tal, encontramos que a expressão “casa” traz sempre consigo a idéia da responsabilidade. Com freqüência costumamos dizer coisas do tipo: “Tais coisas não convém a uma casa como aquela. É uma casa de cristãos e deve ser estabelecida para piedade; não é possível que coisas assim estejam acontecendo ali”. Ou, numa maneira positiva, podemos dizer: “Se visitasse aquela casa, gostaria de encontrar ali uma ordem estabelecida em piedade”. Deus usa a casa desta maneira em Sua Palavra. Portanto, quando é trazido o pensamento da casa, é colocado diante de nós o pensamento de um certo comportamento – e, um comportamento, conforme lemos nas Escrituras, para a glória de Deus.

Precisamos ter um alvo diante de nossos corações para podermos formar nosso comportamento. Podemos fazer as coisas visando nossa reputação, mas isto será tudo em vão. Lemos do bendito Salvador aqui neste mundo, que Ele “aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo” (Fp 2:7). De Quem era a reputação que Ele buscava? Oh, Ele buscava a glória de Deus, Seu Pai. O céu podia se abrir sobre Aquele Bendito, e dizer, “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3:17). Portanto a motivação para nosso comportamento não é que pensem bem a nosso respeito, mas antes que o Senhor Jesus seja glorificado – que possa haver aquilo que corresponda ao Seu desejo e ao Seu coração. Assim como aquele modelo de casa no novo empreendimento é para a honra do homem que a desenvolveu. Deus nos colocou neste mundo para o Seu louvor, do mesmo modo como fez com Israel no passado; “Esse povo que formei para Mim, para que Me desse louvor.” (Is 43.21).

Será que estamos realmente preocupados com isto? Será que consideramos isto em cada aspecto de nossas vidas? A epístola a Timóteo abrange cada aspecto da vida. Se você a ler cuidadosamente, verá que dificilmente haverá um aspecto da vida que não seja mencionado. Ela coloca diante de nós como deveríamos agir para com nossos parentes, como os maridos e esposas devem se portar, e traz, diante de nós, até mesmo assuntos como exercício físico e tudo o que se relaciona às nossas ocupações materiais. Tudo isso nos é apresentado porque o mundo está olhando para nós e nos observando, e o mundo deveria ver em nós pessoas que estão procurando andar, neste mundo, na sabedoria de Deus – um povo que, em meio a um mundo cheio de tudo aquilo que apela ao coração natural, encontrou um segredo na vida; encontrou a direção para o seu caminho, e tudo isto na Palavra de Deus. “Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119:105). E, assim, diz: “A casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo” – a assembléia, os “chamados para fora”. Deus chamou a vocês e a mim para fora de um mundo que se encontra sob o juízo. Seu propósito para conosco foi o de nos destinar à glória. Porém Ele nos deixou aqui neste mundo a fim de anunciarmos as Suas virtudes (1 Pd 2:9).

Porém, antes de tudo, lemos: “A igreja de Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3:15). Esta é uma enorme responsabilidade para a assembléia de Deus* nesta Terra. Quero dizer que creio que a assembléia é responsável perante Deus em ser o suporte da verdade. Sabemos que a Igreja não ensina; a Igreja é ensinada. Isto significa que tudo o que vocês e eu conhecemos não é porque um determinado grupo ensina isto ou aquilo, mas porque a Palavra de Deus ensina. Somos responsáveis em guardar este depósito de verdade que nos foi comissionado. Será que realmente damos valor à verdade de Deus? Creio que nesta passagem o que está mais particularmente colocado diante de nós é aquilo que as Escrituras chamam de “doutrina de Paulo” (2 Tm 3:10). A Igreja de Deus é responsável em manter a verdade da Palavra de Deus de Gênesis a Apocalipse. É triste termos que dizer que hoje encontramos um questionamento da Palavra de Deus. Há pessoas que dizem: “Este livro contém a Palavra de Deus”. Mas vamos dizer o que ele é realmente: Este livro é a Palavra de Deus! Se digo que ele contém a Palavra de Deus, então faço de mim mesmo o juiz; eu digo “ele contém a Palavra de Deus, e sou capaz de extrair dele aquilo que é verdadeiramente a Palavra de Deus”. Isto dá às pessoas o direito de deixarem de lado determinados versículos que não lhes agradam. Porém, irmãos, este livro é a Palavra de Deus! É a completa revelação do pensamento de Deus. “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3:16-17).

(N.T.: Não confundir as expressões “Igreja de Deus” e “Assembléia de Deus”, que são encontradas na Bíblia, com algumas denominações que adotaram para si mesmas estes nomes. A “Igreja” ou “Assembléia de Deus” que é encontrada na Bíblia inclui todos os salvos, e não apenas alguns membros de um sistema humano. O autor não pertence a nenhuma denominação, e usa estas expressões em seu sentido bíblico).

Creio que muitos de nós podem dizer que em todas as decisões da vida temos experimentado que a sabedoria de Deus nos é dada tanto no Antigo como no Novo Testamento para nosso caminho aqui. Um querido servo de Deus disse certa vez que ele não acreditava que tivesse alguma vez se deparado com um único assunto em sua vida para o qual não tivesse encontrado em algum lugar da Palavra de Deus a sabedoria de que necessitava para aquela decisão. Creio que tudo está aqui, no bendito livro de Deus – mesmo naquelas histórias do Antigo Testamento. Leiam o Antigo Testamento, pois vocês descobrirão que as histórias ali são dadas para nos ajudar nas situações com que nos deparamos nesta vida. Se estivermos bem familiarizados com aquelas histórias, saberemos onde achar alguém que esteve numa situação similar àquela que estamos tendo que enfrentar, e como ele, ou ela, agiu – seja com sabedoria ou não. E então veremos o resultado, bom ou ruim, nos caminhos governamentais de Deus, ao agir ou não conforme a sabedoria da Palavra de Deus. Portanto, eu gostaria de encorajar a cada um de nós, velhos e jovens: leiam sua Bíblia de capa a capa. Vocês encontrarão nela tudo o que é necessário à vida e à piedade – “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm 3:16-17).

Existem revelações especiais que foram dadas ao apóstolo Paulo – que as Escrituras chamam de doutrina de Paulo. Creio que há, na cristandade hoje, uma tendência de se afastar disso. Por todo lado há um espírito de comprometimento; abrindo mão de um pouco aqui, um pouco ali, talvez para conseguir influência ou aumentar números. Porém, lembremos que a Igreja é a coluna e firmeza da verdade, responsável em guardar, na sua totalidade, a verdade de Deus que nos foi dada. Como Paulo disse a Timóteo: “Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado” (1 Tm 6:20). Lembro-me de uma história que um irmão me contou acerca de um homem a quem foi delegada uma certa responsabilidade pelo Governo da Bolívia. Quando cruzava um rio procurando cumprir a responsabilidade que lhe havia sido confiada, ele se afogou. Porém os papéis que levava estavam tão apertados em suas mãos que, quando encontraram seu corpo, ali estavam também os documentos que ele carregava. Os documentos ficaram a salvo, mesmo estando o seu corpo já sem vida. Oh, irmãos, que possamos nos agarrar a estas coisas – e que elas possam ficar agarradas em nós! Certa vez um irmão perguntou a outro: Você agarrou a verdade? A resposta foi: “Espero que a verdade tenha me agarrado”. Precisamos de ambas as coisas: precisamos agarrar a verdade em nossas almas, e também precisamos que ela permaneça agarrada a nós, e nos afete.

Querendo o Aperfeiçoamento dos Santos

No versículo 15, de 1 Timóteo 3, temos, então, a igreja como a guardiã, se posso usar tal expressão, ou o corpo responsável em guardar a preciosa verdade de Deus e ministrá-la. E isto porque nos é dito que Cristo, subindo ao céu, deu dons, conforme lemos em Efésios capítulo 4: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (vers. 12). Os dons que Deus tem dado são para expressar estas preciosas verdades, e a igreja é responsável em manter a verdade que nos tem sido dada. Os apóstolos e profetas colocaram o fundamento; o evangelista sai com as boas novas, falando da salvação; e então aqueles que são trazidos para a assembléia encontram que há alguns para cuidar deles – os pastores e mestres, apresentando-lhes a verdade. Há um belo exemplo disto em Atos 11: ali vemos que o evangelista saiu e pregou a Palavra. Então Barnabé, que era um pastor, encorajou-os, “a que permanecessem no Senhor com propósito do coração” (At 11:23). Então Paulo vai se juntar a ele, e se reúnem com a igreja por todo um ano, ensinando a muitos. Assim temos o evangelista, o pastor e o mestre. Quão belo é vermos a ordem que Deus estabeleceu – tudo o que necessitamos para nosso caminho.

Portanto, primeiro temos diante de nós a responsabilidade da assembléia em manter a verdade que nos foi confiada, e andarmos no gozo dela. Porém, no versículo 16 de 1 Timóteo 3 diz: “Grande é o mistério da piedade”. Estou certo de que vocês notaram que não está dizendo que grande é o mistério de Deus, mas da piedade. Isto é, não somente temos que manter a verdade, mas nossas vidas devem ser tão semelhantes a Cristo que isto pudesse ser manifesto àqueles com quem nos encontramos em nosso dia-a-dia. Como foi o precioso Salvador neste mundo – Aquele em Quem Deus foi manifestado; Aquele que fez tudo para agradar a Seu Pai, a ponto de poder dizer: “Quem Me vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Agora o Senhor coloca em nós a mesma vida. “Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos.” (2 Co 4:10). As pessoas devem enxergar neste vaso de barro, não aquela velha natureza com que nasci (algo horrível e miserável, pois diz em Rm 7: “Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”), mas a nova natureza, a vida de Jesus. Com que freqüência, mesmo apesar de sermos cristãos, as pessoas não vêem a vida de Jesus em nós; eles nos vêem agindo apenas como homens naturais, tendo desejos naturais. Mas temos um padrão, o Senhor Jesus. Temos Sua vida e temos um novo poder pelo Espírito de Deus.

Assim, lemos aqui: “Grande é o mistério (ou segredo) da piedade” (1 Tm 3:16). O que é o segredo da piedade na vida do cristão? Podemos tentar atrair a atenção para nós mesmos pelas coisas que fazemos. Mas o segredo da piedade é que as pessoas possam ver em nós a vida de Jesus. Talvez tenhamos um exemplo disto em 2 Reis, capítulo 2, onde Elias diz a Eliseu: “Pedes-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti”. A resposta foi: “Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim”. Então Eliseu disse: “Se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará” (2 Rs 2:9-10). Isto é, se ele não visse Elias subir, então Eliseu não seria seu representante quando esse fosse embora. Assim também, precisamos ter nossos olhos no Senhor Jesus nas alturas, para podermos ser Seus representantes aqui neste mundo. Nos é dito que quando Elias subiu, seu manto caiu. Então, o que fez Eliseu? Ele tomou os seus próprios vestidos, rasgou-os, colocou-os de lado e vestiu o manto do homem que havia subido. Creio ser este o pensamento aqui. Que a vida de Jesus possa ser vista em nós – este é o segredo da piedade.

Não é procurando ser importante – isto é o que o mundo nos diria para fazer. Eles dizem: “Seja alguém importante”. Certa vez um irmão foi pregar e um incrédulo lhe disse: “Por que razão você quer estar identificado com um grupo tão pequeno? Por que você não se une a um grupo grande onde poderá ser alguém importante?” O mundo não conhece nada além da exaltação própria, até mesmo nas coisas de Deus. Um irmão muito querido costumava dizer: “A cristandade tornou-se uma vasta arena onde os homens lutam em busca de honra para si mesmos”. Oh, irmãos, que possamos estar no segredo do Senhor, que Deus possa ser glorificado em nós individualmente e coletivamente, e que a vida de Jesus possa ser vista em nós.

Aquele Que Se Manifestou Em Carne

Temos aqui o segredo da piedade: Antes de tudo, o Senhor Jesus Cristo – “Aquele que Se manifestou em carne” (1 Tm 3:16). Que exemplo! Pedro disse que Cristo deixou-nos exemplo, “para que sigais as Suas pisadas” (1 Pd 2:21). Pense no caminho em que o Senhor Jesus andou – passando por todo tipo de situação que também podemos passar, e sempre agindo para a glória de Deus Pai. Sempre dizendo a palavra certa. Lemos no evangelho de João que Ele nunca disse algo de Si mesmo. Tanto eu como você, com freqüência, ficamos a perguntar: “O que devo dizer?” O Senhor nunca disse nem mesmo uma palavra de Si próprio; Ele jamais fez algo que não tivesse sido mandado por Seu Pai. Irmãos, é este o segredo para nós. Estamos nós falando nossas próprias palavras, ou estamos buscando o Senhor? Façamos como fez Neemias quando se encontrou numa situação difícil, pedindo ajuda ao Senhor; e o Senhor o ajudou a dizer a palavra certa naquela situação (Neemias 2:4-5).

Vamos dar uma rápida olhada nos pontos que nos são apresentados em 1 Timóteo 3:16 em conexão com o Senhor Jesus. Primeiramente, “justificado no Espírito” (versão Bíblia de Jerusalém). Com muita freqüência ficamos buscando a aprovação do homem. Paulo disse: “Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas sim aquele a quem o Senhor louva” (2 Co 10:18). Será que é isto o que eu e vocês estamos buscando? Às vezes as pessoas podem rir de nós; podem dizer que somos tolos nas coisas que fazemos. Mas, de quem é a aprovação que estamos buscando? É natural, correto e bom que queiramos ser bem aceitos. Mas, por quem é que queremos ser aceitos? Desejamos ser aceitos pelo mundo, ou pelo Senhor Jesus? Em Seu caminho aqui Ele foi “justificado no Espírito”. No que concerne ao mundo, é dito que Ele foi “desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos” (Is 53:3). Mas o que é que o Pai pensava dEle? Em Seu batismo, o Espírito de Deus desceu sobre Ele na forma de uma pomba (o sinal da paz), e pousou sobre Aquele Ser Bendito; e a voz do Pai vinda do céu disse: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3:17). Aquilo aconteceu no início de Sua jornada de serviço. Então, no final de Seu caminho, encontramos mais uma vez o Espírito de Deus descendo sobre Ele – no Monte da Transfiguração. Ele foi justificado no Espírito. Não creio que iremos ter paz em nossas almas, e em nosso caminho, se buscarmos estar sempre de bem com os homens. Mas, quão bom é tão somente termos o segredo do Senhor, saber que estamos fazendo o que fazemos para agradá-Lo em obediência à Sua Palavra. Então, simplesmente deixando tudo em Suas mãos, que paz isto traz à alma. É este o segredo da piedade. Será que estamos realmente buscando isto? Ou será que dizemos: “Será que ninguém gosta do que faço?” Lembre-se, se você estiver fazendo o que faz em obediência à Palavra e para agradar ao Senhor, fique tranqüilo – “justificado no Espírito”.

Visto dos anjos

Isto é também algo notável, pois lemos em 1 Coríntios 4:9: “Somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens”. Por que é que as irmãs usam um véu? A Escritura diz: “Por causa dos anjos” (1 Co 11:10). E lemos em Efésios 3:10 que “agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus”. Os anjos olharam para baixo e viram seu Criador em uma forma mais humilde do que eles próprios; porque Ele foi feito “um pouco menor do que os anjos” (Hb 1:7). Eles viram Alguém, um Homem aqui, que estava vivendo somente para a glória de Deus. Eles haviam visto a ruína que se introduzira pelo pecado de Adão, e agora havia Alguém aqui que estava buscando honrar a Seu Pai. Os anjos estão olhando para cá. Irmãos, somos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Portanto, este é o segredo da piedade: Estaremos nós agindo de uma maneira tal que sejamos um espetáculo que seja para a glória de Deus? O precioso Salvador agiu assim. O Espírito podia pousar sobre Ele em paz.

Quando o Senhor Jesus foi rejeitado pelo Seu povo Israel, lemos que Ele Se estendeu em bênção a uma pobre mulher sirofenícia (uma gentia). Qual é a lição para nós? Suponho que todos nós às vezes nos sentimos rejeitados e deprimidos; talvez algo que tenha sido falado ou feito a nós nos tenha machucado. Será que desistimos? Acaso erguemos nossas mãos e dizemos: “Bem, eu tentei; mas não consegui”? O Senhor Jesus, quando foi rejeitado pela nação, era o ramo que corre “sobre o muro” (Gn 49:22), e alcança os gentios. Não devemos desistir. O Senhor Jesus não desistiu – Ele seguiu em frente naquele caminho de amor, e no final, “quem contará o tempo da Sua vida? porquanto foi cortado da terra dos viventes” (Is 53:8). Mas qual foi o resultado? O resultado está todo manifestado em ressurreição – a bênção abrangeu uma área muito maior. Se você estanca uma corrente em que há muita água, esta acaba subindo e se derramando sobre uma área maior que o seu curso natural. Sendo assim, como é que eu e você reagimos quando alguém, talvez, nos critique ou diga algo que venha nos ferir? Como é que reagimos? Quando isto aconteceu com o precioso Salvador, só fez com que Sua graça se espalhasse por uma área ainda maior. Ele tinha vindo para glorificar a Seu Pai, e nada poderia estancar o fluxo de amor que saía do Seu bendito coração.

Vocês e eu podemos não ver o resultado. No final do caminho do Senhor Jesus os Seus discípulos O abandonaram – a nação clamou: “Fora daqui com Este” (Lc 23:18). Onde estavam os resultados aparentes? Quando Paulo falou a Timóteo, disse que a única maneira de se trabalhar e seguir no caminho é olhando para mais além desta vida, olhando para a ressurreição (1 Timóteo 6:14-16). Irmãos, é isto o que precisamos fazer. É por esta razão que Paulo se referia com tanta freqüência àquele “dia”. Ele deixava os resultados para outro dia. Estejamos contentes em tão somente seguir adiante. Temos um padrão – o nosso precioso Salvador que andou neste caminho. E, Paulo disse a Timóteo, “considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo” (2 Tm 2:7). Você e eu nunca iremos ter entendimento para o nosso caminho, a menos que tenhamos em mente que existe Um que já passou por ele, e o que realmente importa é termos a Sua aprovação.

“Recebido acima na glória” ou “Recebido acima em glória”. Quão belo é vermos em Lucas 24:50-51 o precioso Salvador com aqueles discípulos: “Levantando as Suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os Ele, Se apartou deles e foi elevado ao céu”. Que final glorioso! Seu derradeiro ato foi a bênção dos mesmos discípulos que O haviam abandonado e fugido dEle. Que possa haver mais deste espírito de Cristo em nós!

Creio que nestes versículos que tivemos diante de nós encontramos a responsabilidade que temos neste mundo. Somos como o modelo da casa, se podemos nos expressar assim: O mundo está nos observando; os anjos estão olhando para nós – e o que é que eles vêem? Será que vêem que estamos mantendo, guardando, falando a verdade e permanecendo nela em amor? E, enquanto eles observam nossas vidas, será que vêem a manifestação da vida de Jesus – vida como de Cristo – em nós? Certamente temos que nos humilhar por não ser sempre assim. Mas, irmãos, o Senhor continua o mesmo. Com muita freqüência pensamos naquele lindo versículo no Salmo 23: “Refrigera a minha alma”. Se estas reuniões nos levam de volta à Sua presença com renovados desejos para vivermos para Ele, e para agradá-Lo, e se estas poucas passagens puderem, em qualquer medida, ter seu cumprimento em nós individual e coletivamente, quanto isso irá glorificar Aquele Bendito que fez tudo por nós. Ele foi ao Calvário por amor de nós! Sempre que ficarmos desencorajados, olhando ao redor para a fraqueza e fracasso que nos cercam, pensemos naquele versículo em 2 Tessalonicenses 1:10: “Quando vier para ser glorificado nos Seus santos, e para Se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem”. Isto nos encorajará a seguirmos adiante, pois aquele dia está chegando! Que gozo será o nosso. E o quanto isso irá trazer regozijo ao Seu coração! Creio que naquele dia o gozo do Senhor excederá o nosso. Veremos Sua face, e ficaremos satisfeitos. E “o trabalho da Sua alma Ele verá, e ficará satisfeito” (Is 53:11).

G.Hayhoe

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