A IGREJA E O JUDAÍSMO

“E [eu conheço] a blasfêmia dos que a si mesmo 
se declaram judeus, e não são”.
 
Apocalipse 2:9
 
Aqui devemos dar atenção para o problema dos judeus. O Senhor disse que nos seus sofrimentos, a igreja tem tribulação e pobreza; com isso é fácil tratar. Mas tratar com aquilo que vem do interior não é fácil. Os judeus mencionados aqui não se referem aos judeus no mundo, mas aos judeus na igreja, assim como as pessoas que vimos antes relacionadas aos nicolaítas não se referem às pessoas do mundo, mas ao laicato na igreja. Aqui fala sobre os judeus que os perseguiram. Isso é mais doloroso entre as coisas dolorosas. Nas sete cartas há uma linha de oposição. Os nicolaítas são mencionados duas vezes: uma vez na igreja em Éfeso e outra em Pérgamo. Os judeus também foram mencionados duas vezes: uma vez aqui, e de novo na igreja em Filadélfia. Em Pérgamo, o ensinamento de Balaão é mencionado. Em Tiatira, Jezabel é mencionada. Todos estes constituem a linha de oposição. Você pode perguntar: qual é o significado dos judeus? A salvação não é dos judeus? Por que eles falam blasfêmias aqui? Por essa razão devemos saber o que é judaísmo e o que é igreja. Há muitas diferenças essenciais entre judaísmo e a igreja. Aqui quero mencionar quatro pontos para os quais devemos dar especial atenção; o templo, a lei, os sacerdotes e as promessas. Os judeus identificaram um templo esplêndido de pedras e de ouro, como o lugar de adoração. Como padrão de comportamento eles tinham os Dez Mandamentos e muitos outros regulamentos. Para cuidar dos assuntos espirituais eles tinham o ofício dos sacerdotes, um grupo de pessoas especiais. E, finalmente, eles também tinham as bênçãos pelas quais podiam prosperar na terra.
 
Por favor, note que o judaísmo é uma religião terrena. O que eles possuem é um templo material, regulamentos de letras, sacerdotes mediadores e gozo na terra. Quando os judeus entraram na terra de Canaã, eles construíram o templo. Se sou um judeu e desejo servir a Deus, devo ir ao templo. Se sinto que pequei eu preciso oferecer um sacrifício, devo ir ao templo para oferecer o sacrifício. Se sinto que Deus me tem abençoado e quero agradecer, devo ir ao templo para agradecer. Todas as vezes devo tomar esse caminho. Posso adorar a Deus somente quando vou ao templo. Este é chamado lugar de adoração. Os judeus são adoradores, e o templo é o lugar onde eles adoram. Os adoradores e o lugar de adoração são duas coisas diferentes. Mas é assim no Novo Testamento? A característica especial da igreja é que não há lugar nem templo, pois nós, o povo, somos o templo.
 
Efésios 2:21-22 diz: “No qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito”. A característica especial da igreja é que seu corpo é a habitação de Deus. Individualmente falando, cada um de nós é o templo de Deus. Coletivamente falando, Deus nos edifica e adequadamente nos ajunta para tornar-nos Sua habitação. Não há lugar de adoração na igreja; o lugar de adoração é o adorador. Carregamos nosso lugar de adoração aonde quer que vamos. Isso é fundamentalmente diferente do judaísmo. O templo no judaísmo é um templo material; o templo na igreja é um templo espiritual. Alguém certa vez calculou o valor total do templo judeu – é o suficiente para proporcionar a todas as pessoas da terra uma quota financeira. Mas, e quanto ao templo dos cristãos hoje? Alguns são mancos, alguns são cegos e alguns são pobres, mas este é o templo. Hoje algumas pessoas dizem: “Se você não quer ir a um templo solene e magnífico, no mínimo precisa de uma capela”. Mas a igreja não tem um templo. Aonde quer que os crentes vão, para lá o templo também vai. Deus habita em homens, não em uma casa. Os homens pensam que, se forem adorar a Deus, eles precisam de um lugar. Alguns até chamam templo de “igreja”. Isso é judaísmo, não a igreja! A palavra igreja em grego é “eklésia”, que significa “os chamados para fora de”. A igreja é um povo comprado com o sangue precioso – esta é a igreja. Hoje temos o templo no andar superior, temos o templo no pórtico de Salomão, temos o templo na porta chamada Formosa e temos templo no andar inferior. O judaísmo tem o lugar material. Então, quem são os judeus? São os que levam o lugar material para dentro das igrejas. Se os filhos de Deus desejam andar no Seu caminho, eles devem pedir a Deus que abra seus olhos, para que possam ver que a igreja é espiritual, não material. Os judeus também têm as leis, os regulamentos para seu viver diário (Deus somente usa leis para fazer os homens conhecerem os seu pecados). Todo aquele que for um judeu deve guardar os Dez Mandamentos. Mas os Senhor Jesus disse claramente que mesmo que você guarde os Dez Mandamentos, ainda lhe falta uma coisa (Lc 18:20-22).
 
O judaísmo tem um padrão de princípios para seu viver diário, o qual está escrito em tábuas de pedra e precisa ser memorizado. Mas o problema está aqui: se sou alfabetizado, entendê-lo-ei; se sou analfabeto, não o entenderei. Se tiver boa memória, consigo lembrá-lo; se não tiver boa memória, não consigo lembrá-lo. Isso é judaísmo. O padrão do viver diário do judaísmo é morto; é exterior. Na igreja não há lei; em vez disso, sua lei está em outro lugar. Não está escrita em tábua de pedra, mas nas tábuas do coração. A lei do Espírito da vida está dentro de mim. O Espírito Santo habita em mim; o Espírito Santo é a minha lei. Leia Hebreus 8 e Jeremias 31. Deus diz: “Nas suas mentes imprimirei as minhas leis, também sobre os seus corações as escreverei” (Hb 8:10). Hoje, certo e errado não estão em tábuas de pedra, mas no coração. Hoje nossa especial característica é que o Espírito de Deus habita em nós.
 
Gosto de contar uma história que expressa o sentido aqui. Em certa cidade havia certo senhor, um eletricista, que tinha pouca escolaridade. Posteriormente, ele foi salvo. Quando os dias esfriavam, ele se preparava para beber vinho conforme seu antigo costume. A comida estava pronta, o vinho aquecido e ele, a esposa ( que conhecia algumas letras a mais do que ele), e um aprendiz estavam sentados e prontos para comer. Ele começou a dar graças; contudo por algum tempo nenhum som saiu. Finalmente ele disse: “Agora que sou um cristão, quero saber se é certo os cristãos beberem vinho. É uma pena que o pregador tenha ido embora; do contrário, poderíamos, perguntar-lhe. Vamos procurar na Bíblia para ver se é certo os cristãos beberem vinho”. Assim, os três começaram a folhear as páginas da Bíblia, mas não encontraram nada. Por fim, a esposa sugeriu que o tomassem desta vez. Mais tarde, disse ela, eles poderiam escrever uma carta ao pregador, e se ele dissesse que não é correto beber, eles parariam; se ele dissesse que é correto beber, eles continuariam. Então o irmão levantou-se de novo e preparou-se para dar graças. Ma novamente, por algum tempo, nenhum som saiu. Após esse incidente, o pregador encontrou-o, e a questão foi levantada. O pregador perguntou-lhe se ele afinal bebeu na ocasião, e ele replicou: “O Chefe que mora dentro de mim não me permitiu; então eu não bebi”. Há um “Chefe interior” – este é um regulamento muito bom.
 
Se o Espírito Santo não concorda, o que quer que você diga não vale nada; se o Espírito Santo concorda, o que quer que você diga também não vale nada. A lei torna-se uma questão interior, não exterior. Há leis escritas e regulamentos no judaísmo. Hoje também há muitas normas e regulamentos escritos na “igreja”, mas isto não é a igreja. Qualquer regulamento que é colocado exteriormente não é a igreja. Não temos leis exteriores; nosso padrão de viver diário é interior. A tribulação da igreja em Esmirna foi devido ao fato de aqueles que chamavam a si mesmo judeus estarem impondo regulamentos judaicos sobre ela. No judaísmo, os homens que adoram e o Deus que é adorado estão separados e muito distanciados um do outro. A distância é o judaísmo. Quando o homem vê o Deus do judaísmo, ele imediatamente morrerá. Como os do judaísmo conseguem aproximar-se de Deus? Eles dependem de um mediador, o sacerdote. Os sacerdotes os representam para ir a Deus. As pessoas são seculares; elas somente podem fazer coisas seculares e ser mundanas. Mas os sacerdotes devem ser totalmente santos e cuidar das coisas santas. A responsabilidade dos judeus é levar o boi ou a ovelha ao templo. Quanto a servir a Deus esse é um assunto dos sacerdotes, não dos judeus. Mas na igreja não é assim. Na igreja, Deus não apenas quer que tragamos coisas materiais a Ele, mas também deseja que o povo venha a Ele. Hoje a classe mediadora foi abolida. Quais foram as palavras de blasfêmia faladas pelos judeus? Uma grupo de pessoas na igreja em Esmirna estava dizendo: “Se aos irmãos é permitido fazer tudo, se os irmãos podem batizar as pessoas, se os irmãos podem partir o pão, não há qualquer ordem! Isto é terrível!” Eles queriam estabelecer uma classe mediadora.
 
O cristianismo de hoje já tem sido judaizado. O judaísmo tem os sacerdotes, enquanto o cristianismo tem os rigorosos padres, os clérigos que não são assim tão severos, e os pastores comuns no sistema pastoral. Os padres, os clérigos e os pastores cuidam de todas as coisas espirituais. Sua única expectativa quantos aos membros da igreja é o donativo. Nós, o laicato (os crentes comuns), somos seculares; podemos somente fazer coisas seculares e ser mundanos o quanto quisermos. Mas a igreja não tem qualquer pessoa secular (mundana)! Isso não significa que não cuidamos de coisas seculares, mas que o mundo não pode tocar-nos. Na igreja cada um é espiritual. Deixe-me dizer-lhe: toda vez que a igreja chega a ponto de somente poucas pessoas cuidarem das coisas espirituais, tal igreja já caiu. Todos sabemos que aos padres católicos romanos não é permitido casar; quanto mais eles diferirem em aparência dos seres humanos, mais seguras as pessoas sentir-se-ão em confiar-lhes as coisas espirituais. A igreja não é nada disso. A igreja exige que ofereçamos todo o nosso ser a Deus. Esta é a única maneira. Cada um deve servir o Senhor. Fazer coisas seculares é apenas tomar conta de nossas necessidades diárias. Agora prosseguiremos para o quarto ponto. O propósito dos judeus ao servirem a Deus é que eles pudessem colher mais trigo dos campos e que os bois e rebanho não perdessem seus filhotes, mas multiplicassem muitas vezes, exatamente como no caso de Jacó. Eles estão buscando a bênção neste mundo. As promessas de Deus a eles são também promessas da terra, para que entre as nações da terra eles sejam a cabeça e não a cauda. Mas a primeira promessa à igreja é que devemos tomar a cruz e seguir o Senhor. Algumas vezes quando prego o evangelho, as pessoas perguntam: “Haverá arroz para comer quando crermos em Jesus?” Eu respondo: “Quando você crê em Jesus, a tigela de arroz é quebrada”. Esta é a igreja. Não é que após crer você ganhará mais em todas as coisas. Certa vez quando eu estava em um local, um pregador disse em sua mensagem: “Se você apenas crer em Jesus, embora possa não fazer fortuna, no mínimo, você conseguirá uma vida confortável”. Quando ouvi isso, pensei:” Isto não está de acordo com a igreja. O que a igreja ensina não é quanto eu vou ganhar diante de Deus, mas quanto estarei disposto a perder diante de Deus”. A igreja não acha que o sofrimento é uma coisa dolorosa; pelo contrário, é uma alegria. Hoje, estes quatro itens – o templo material, as leis exteriores, os sacerdotes mediadores e as promessas terrenas – estão na igreja.
 
Desejamos pregar mais as palavras de Deus. Esperamos que todos os filhos de Deus, embora todos tenham ocupações seculares, sejam homens espirituais. Aqui o Senhor fala uma palavra muito forte: “Dos que a si mesmos se declaram judeus, e não o são, sendo antes sinagogas de Satanás.” A palavra sinagoga está especialmente relacionada ao judaísmo, assim como templo ao budismo, mosteiro ao taoísmo e mesquita ao islamismo. Certo irmão disse que não deveríamos denominar nosso lugar de reunião “local de reuniões da igreja”, mas de sinagoga cristã. Se fosse assim, quando um judeu passasse, ele ficaria muito confuso, porque sinagoga é um termo usado exclusivamente no judaísmo. Como poderíamos dizer que há algo como sinagoga cristã e não relacionar isto ao judaísmo? O Senhor disse que eles eram sinagoga de Satanás. Os judeus citados aqui pelo Senhor referem-se aos judeus na igreja, porque eles até mesmo introduziram a sinagoga. Que Deus seja misericordioso para conosco. Devemos livrar-nos completamente de todas as coisas do judaísmo.
 
Ao apóstolo Paulo foi confiado um mistério especial, o mistério da Igreja como corpo e como noiva de Cristo. Alguém poderia indagar: mas por que razão isto foi mantido em sigilo?
A resposta é que se tratava de algo celestial, objeto dos desígnios celestiais de Deus. As profecias do Antigo Testamento, por sua vez, tinham como finolidcde manifestar os desígnios divinos com respeito a esta terra.
É importante atentarmos para esta consideração, pois indica que a Igreja está situada fora do mundo.
Ela tem outra origem, foi manifestada em outro tempo, acalenta outra esperança.
Pertence, enfim, a outra esfera.
 
A Igreja não é herdeira de promessas do Antigo Testamento, e não tem cumprimento de profecias do Antigo Testamento associadas a ela. Muito pelo contrário, tais coisas lhe são totalmente antagônicas. Israel e a Igreja são tão diferentes entre si, que nem poderiam existir um ao lado do outro. Enquanto os desígnios divinos com vistas à terra iam sendo manifestos, o mistério da Igreja permaneceu oculto. Quando, enfim, foi revelado o mistério da Igreja, os propósitos de Deus com relação à terra também foram suspensos e adiados.
A Igreja está associada com Cristo no céu; Israel está associado com Ele sobre a terra. A Igreja o conhece em Seus sofrimentos e perseverança; Israel o há de conhecer na Sua exaltação e poder.
 
A Igreja regozija-se nele como a noiva em seu noivo; Israel terá sua alegria nele como uma nação que venera o seu governante soberano.
A Igreja espera que Ele venha e a leve consigo ao céu; a esperança de Israel é que Ele estabeleça o Seu reino aqui na terra.
É nisto que se resume a parte celestial que nos toca, a nossa bendita porção, muito em contraste com o mais abençoado povo da terra. Só é uma pena que os nossos corações captem tão pouco desta maravilhosa posição celestial!
 
Por J. B. Baines

 

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