Na minha experiência, há diversas razões pelas quais as pessoas pensam que a Bíblia não pode e não deve ser acreditada. Uma razão que muitas pessoas alegam é a de que o Novo Testamento, durante os primeiros quinze séculos de sua existência, teve de ser copiado à mão; com todas as possibilidades de erros e de alterações que isso implica, não podemos ter certeza, assim eles dizem, de que, quando o lemos agora, estamos lendo o que seus autores originais escreveram.
Essa objeção geralmente é feita por pessoas que desconhecem o quão esmagadoramente forte é a evidência do texto original do Novo Testamento. Primeiramente, existe o grande número de manuscritos contendo parte ou a totalidade do Novo Testamento. Há mais de 5.000 deles. Embora, é claro, existam erros de cópia em todos os manuscritos — pois é praticamente impossível copiar um documento extenso à mão sem cometer alguns erros — não há dois manuscritos que contenham exatamente os mesmos erros. E, portanto, comparando todos estes manuscritos uns com os outros, é possível reconstruir o texto original a um ponto no qual menos de dois por cento seja incerto, com uma grande parte desses dois por cento envolvendo pequenas características linguísticas que não fazem diferença para o significado geral. Além disso, visto que nenhuma doutrina do Novo Testamento depende unicamente de um verso ou de uma passagem, nenhuma doutrina do Novo Testamento é colocada em dúvida por essas incertezas menores.
Também, há a idade de alguns dos manuscritos do Novo Testamento. Uma parte substancial do Novo Testamento existe em um manuscrito que foi escrito por volta de 200 d.C., e o mais antigo manuscrito sobrevivente contendo todo o Novo Testamento foi escrito não muito, caso tenha sido, depois de 360 d.C. Veja o que isso implica. Tome o manuscrito que foi escrito por volta de 200 d.C. Ele, propriamente dito, tem quase 1.800 anos de idade. Quantos anos tinha o manuscrito do qual ele foi originalmente copiado? Não sabemos, é claro. Mas ele poderia facilmente ter 140 anos de idade; e, se tivesse, ele teria sido copiado quando muitos dos autores do Novo Testamento ainda estavam vivos.
Uma comparação irá ajudar. Algumas das obras dos famosíssimos autores antigos gregos e latinos — e aqui eu falo como um estudante das antigas literaturas clássicas ao longo da vida — chegaram até nós em apenas alguns manuscritos tardios (isto é, do sétimo ao nono século). Contudo, nenhum estudioso clássico pensaria em questionar sua validade como representações confiáveis daquilo que os autores originais escreveram. Comparada com isto, a evidência do texto do Novo Testamento é esmagadora. Podemos ter toda a confiança, então, de que, quando hoje lemos o Novo Testamento, temos aquilo que seus autores originais pretenderam que tivéssemos. Se você quiser examinar a evidência mais além, eu recomendo o livro do Prof. F. F. Bruce, Are the New Testament Documents Reliable?
Mas é claro que, em grande parte, a maior dificuldade que as pessoas têm em acreditar na Bíblia são as reivindicações que ela faz; particularmente, sua alegação de que Jesus é o Filho de Deus, que ele é o Criador encarnado, que visitou nossa terra para se comunicar conosco e para revelar Deus a nós. Muitas pessoas sentem que não poderiam acreditar em um livro que fez tais afirmações. Elas não acreditam na existência de um Criador, de qualquer forma, e, assim, supõem antecipadamente, sem lerem ou estudarem o Novo Testamento por si mesmas, que ele não pode estar descrevendo uma realidade histórica, quando afirma que Jesus era tanto homem quanto Deus. E elas cedem à ideia de que o personagem de Jesus Cristo, conforme descrito no Novo Testamento, é invenção dos autores dos Evangelhos.
 
O PERSONAGEM NÃO INVENTADO DE JESUS
 
Então, em prol da discussão, vamos supor, por um momento, que os autores dos Evangelhos não descreveram simplesmente um Jesus que realmente viveu, mas inventaram esse personagem, tendo como sua matéria-prima, talvez, algum camponês sábio, mas livremente reconstruindo, adicionando, moldando e exagerando, de modo que o resultado fosse um personagem ideal, mais do que humano, porém, fictício que, como tal, nunca existiu. Suponhamos, eu digo, que assim o era, e, em seguida, elaboremos as implicações de nossa teoria.
A primeira coisa a se dizer sobre isso seria que, se o personagem Jesus é uma ficção literária, então o que temos aqui é quase um milagre. Nós sabemos muito sobre personagens literários fictícios e como é difícil criar um realmente convincente. A literatura mundial está repleta de tais personagens, alguns bem traçados, alguns não tão bem traçados. Agora, é inegável que, se Jesus é uma ficção literária, ele é um personagem que alcançou fama mundial. Para serem capazes de criar um personagem fictício tão famoso, os autores dos Evangelhos devem ter sido gênios literários da maior categoria. Agora, os gênios literários dessa grandeza são muito raros: um não dá de cara com outro em cada esquina. Mas, aqui, temos quatro, todos florescendo de uma só vez. Quem eram esses homens? E que tipo de homens eles eram? Bem, um era pescador, um era cobrador de impostos de nível inferior, um era médico e o outro, um jovem não descrito. É possível que todos os quatro vieram a ser gênios literários de grandeza mundial?
Porém, mais. Mesmo os personagens mais brilhantes e mais realistas permanecem para seus leitores simplesmente como isto: personagens fictícios. Eles não se levantam da página, assumem uma existência independente e se tornam, para seus leitores, uma pessoa viva e real, a quem eles podem conhecer da forma como alguém conhece uma pessoa viva e com quem eles podem ter um relacionamento pessoal. Compreensivelmente, não! Mas é isso que aconteceu a este personagem supostamente fictício, Jesus Cristo.
Ele se tornou, para milhões de pessoas, ao longo de vinte séculos, uma pessoa viva e real, com quem elas afirmam ter um relacionamento pessoal; uma pessoa a quem amam a ponto de estarem preparadas para morrer, como milhares, na verdade, o fizeram. Agora, você pode pensar nelas como ignorantes por se sentirem dessa forma sobre Jesus. Nesta fase, eu não estou pedindo que você aprove. Eu simplesmente estou afirmando o fato inegável. E meu ponto é este: se Jesus era, de fato, um personagem inventado pelos autores dos Evangelhos, então, ao criar um personagem que, para milhões, se tornou uma pessoa viva, digna de amor, devoção e sacrifício, esses autores conseguiram uma proeza literária inigualável em toda a literatura mundial. Milagre não seria uma palavra forte demais para isso. Talvez, de fato, devamos começar a adorá-los?
Há, naturalmente, alguns (embora notavelmente poucos) personagens na literatura que nos parecem pessoas reais, as quais podemos conhecer e reconhecer. Um deles é o Sócrates de Platão. Os diálogos de Platão não são apenas obras filosóficas, são obras da literatura mundial. Mesmo o Sócrates que aparece nelas pareceu a gerações de leitores uma pessoa real, cujos traços do personagem eles reconheceriam em qualquer lugar; tanto é assim que, se a eles fosse apresentada uma representação de Sócrates em alguma obra falsificada, eles diriam imediatamente: “Não, não era assim que o verdadeiro Sócrates teria reagido ou falado”.²
Mas a razão pela qual o Sócrates dos diálogos de Platão nos parece assim é porque Platão não o inventou. Ele era uma pessoa real, histórica, que realmente viveu. A imagem do Sócrates de Platão pode ser altamente polida: mas a pessoa e o personagem de Sócrates não foram nenhuma invenção de Platão. Era precisamente o contrário. Foi o impacto do personagem de Sócrates que ajudou a criar o filósofo e artista literário, Platão.
E assim é com Jesus Cristo. E ainda mais. Apesar de todo mundo reconhecer que o Sócrates dos diálogos de Platão foi uma pessoa histórica real, ninguém, exceto um lunático, afirmaria conhecê-lo agora como uma pessoa viva real ou ter um relacionamento pessoal com ele. As pessoas hoje não morrem por Sócrates. Elas o fazem pelo Jesus do Novo Testamento! De fato ele não é uma ficção literária ou religiosa inventada pelos autores dos Evangelhos. Essas obras descrevem uma figura histórica real que viveu na Palestina, no reinado de Tibério César, que morreu e, como diriam os cristãos, ressuscitou dos mortos e ainda vive.
 
JESUS: IDEIA DE UM HERÓI TIDA POR NINGUÉM
 
Mas não sigamos em frente rápido demais. Vamos ficar, por um momento, com a hipótese de que alguém inventou o personagem Jesus, apresentou essa ficção para o mundo, onde ela imediatamente atraiu pessoas de culturas amplamente diferentes e foi assumida como seu ideal religioso.
Mas essa hipótese cai por terra no primeiríssimo obstáculo. Quanto mais sabemos sobre as principais culturas da época, mais se torna claro que, se o personagem Jesus não tivesse sido uma realidade histórica, ninguém o teria inventado, mesmo se pudesse. O Jesus dos Evangelhos não se ajustou ao conceito de herói de ninguém. Gregos, romanos e judeus — todos o achavam exatamente o oposto de seu ideal.
Tome primeiro os judeus, e não apenas os judeus que eram e continuaram a ser hostis com Jesus, mas aqueles comparativamente poucos que eram, a princípio, seus amigos. Eles próprios nos dizem — e certamente não inventaram esta parte — que chegou um ponto no qual eles o abandonaram, tão absolutamente contrário era ele em relação ao que eles procuravam em um herói (Mateus 26:47-56). Seu conceito de herói era uma figura messiânica, como Macabeus. Um tipo forte, militar, alimentado com ideais religiosos e preparado para lutar (com a ajuda de assistência angelical, assim acreditava o fervor popular) contra os imperialistas que tinham subjugado a nação e estavam suprimindo a religião nacional.
Mas, quando as questões atingiram o ponto culminante entre Jesus e as autoridades, e elas vieram para prendê-lo, Jesus recusou-se a lutar ou a deixar seus discípulos lutarem e deliberadamente permitiu-se ser preso. Nesse ponto, todos os seus seguidores o abandonaram em desgosto: ele não foi nenhum herói deles! E muitos judeus, até hoje, especialmente aqueles em Israel, sentem-se da mesma forma. Eu tenho um amigo judeu, que simplesmente conseguiu, embora por um fio, escapar das câmaras de gás de Hitler. Ele me diz francamente: “Esse Jesus de vocês é um fraco. Ele não serve como um messias para mim. Minha filosofia é que, se alguém golpear você no nariz, você o golpeia de volta!” É assim que os primeiros discípulos de Jesus originalmente pensavam, e foi só a ressurreição de Jesus Cristo que lhes ensinou o contrário e mudou radicalmente suas ideias daquilo que o Messias deve ser.
Ou tome os gregos daquela época. O tipo de herói que lhes atraía, ou, pelo menos, aos pensadores entre eles, era o ideal epicurista, que cuidadosamente evitava, tanto quanto possível, todas as dores e os prazeres que poderiam perturbar sua tranquilidade, ou o ideal estoico, que, seguindo uma racionalidade rígida, subjugou suas emoções e recebeu o sofrimento e a morte com imperturbada presença de espírito. Sócrates de Platão também, lembremos, bebeu a bebida envenenada com inabalável contentamento e serenidade.
Quão completamente diferente é o Jesus dos Evangelhos, atormentado com angústia e agonia no Getsêmani até seu suor escorrer como pesadas gotas de sangue enquanto pleiteava com Deus para livrá-lo de beber do cálice que lhe era apresentado e clamando publicamente na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Ele certamente não era alguém que um grego teria reconhecido como um herói, ninguém que um filósofo grego teria inventado como um ideal no qual se espelhar.
E, quanto aos romanos, entre os filosoficamente inclinados, o estoicismo geralmente era o mais favorecido credo, enquanto os militares e os políticos que entraram em contato com Jesus o acharam um absurdo impraticável. Ele falou de si mesmo como um rei que tinha vindo ao mundo para dar testemunho da verdade.
“Que é a verdade?”, disse Pilatos. O deus supremo de Pilatos era o poder (João 18:33-38; 19: 1-12). Herodes achou as afirmações de Jesus extremamente engraçadas e seus soldados consideraram um ‘rei’ como Jesus motivo para a mais cruel das chacotas.
O fato claro é que Jesus Cristo, no final, foi o oposto do conceito que todos tinham de um herói ideal, político, filosófico ou religioso. Ninguém o inventou, e ninguém, mesmo que o tivesse inventado, teria considerado, por um momento, que ali estava um ideal que instantaneamente apelaria ao público. O maior pregador e missionário cristão, Paulo, confessa em seus escritos que a pregação de Jesus Cristo crucificado constantemente parecia escandalosa aos judeus, e pura loucura aos gregos. Se não fosse pelo fato de que Jesus ressuscitou dentre os mortos, os primeiros discípulos teriam abandonado toda a fé nele. Os Evangelhos nunca teriam sido escritos.
Naturalmente, quando recordamos, agora, do ponto privilegiado de dois mil anos de história, as coisas parecem muito diferentes. Os romanos que zombaram de Jesus eventualmente perderam seu grande império, e Tibério César é, para a massa de pessoas no Ocidente, uma sombra esquecida da história. Mas, hoje, milhões consideram Jesus o maior Rei que já viveu e vivem sua vida em disposta obediência a ele.
Além disso, o princípio de não retaliação perante o mal que ele exemplificou, quando se rendeu aos seus inimigos sem lutar e ao orar por aqueles que o crucificaram, veio a comandar o respeito mundial (mesmo, se não, sua obediência) e ainda desafia nossa insana agressividade e violência humana. Isso tornou a cruz de uma estrutura de vergonha na mais nobre atitude que uma pessoa pode adotar.
E quanto ao contraste entre a tranquilidade de Sócrates e a terrível agonia de Jesus perante a morte e a confissão de Jesus na cruz de que Deus, por um tempo, o abandonara: isso certamente mostra que Jesus não era nenhum filósofo grego. Mas, então, isso nos aponta para o fato de que, na cruz de Jesus, estava acontecendo algo infinitamente mais significativo do que a morte de um filósofo grego. Na linguagem do Novo Testamento, ali estava o Cordeiro de Deus carregando o pecado do mundo e, pelo seu sofrimento, tornando possível a remoção de nossa culpa.
Falaremos disso mais tarde. Por agora, aqui está o meu primeiro argumento: se você supõe que Jesus Cristo é um personagem inventado, você tem um problema insuperável em suas mãos para explicar como os autores dos Evangelhos possivelmente poderiam ter conseguido inventá-lo, e mais, porque eles, de qualquer modo, teriam inventado tal personagem.
 
A MAIOR DIFICULDADE DE TODAS?
 
A maior dificuldade que muitas pessoas encontram em contemplar a possibilidade de que o Novo Testamento possa ser verdadeiro é a sua alegação de que Jesus Cristo é mais do que humano, que ele é Deus encarnado. Certamente, elas dizem, isso deve ser superstição, que surgiu porque as pessoas, no mundo antigo, acreditavam em muitos deuses e imaginavam que os deuses, com bastante frequência, visitaram a terra sob a forma de seres humanos excepcionais.
Bem, você pode pensar dessa forma; mas os fatos são completamente diferentes. Naturalmente, é verdade que todas as nações do mundo antigo acreditavam na existência de muitos deuses e que esses deuses visitavam a terra de vez em quando — isto é, todas as nações, exceto uma. E essa exceção única era a nação judaica, à qual os autores do Novo Testamento, quase sem exceção, pertenciam. Eles eram monoteístas estritos. Eles desprezavam as outras nações por seu politeísmo absurdo e por fazerem deuses de seus reis e heróis. Reivindicar honras divinas para qualquer um, além de Deus, o Criador, era uma blasfêmia tão grave para eles que, de acordo com sua lei, era punível com morte. Em suas devoções religiosas, em cada casa de sua terra, eles foram ensinados, durante séculos, a recitar diariamente como o princípio fundamental da sua fé: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Deuteronômio 6:4). Pessoas como essas nunca pensariam, por um momento, em crer que Jesus de Nazaré era mais do que humano, a menos que fossem obrigadas a fazê-lo pelo puro peso das evidências.
A mais importante das evidências era o fato de que o próprio Jesus Cristo, por meio de suas ações e suas implicações e, por suas declarações explícitas, alegou igualdade com Deus. Isso me leva a confessar a você que uma das razões mais fortes que eu tenho para acreditar que Jesus é o Filho de Deus é simplesmente esta: ele disse que era! Eu sei que isso soa completamente ingênuo; mas, antes de você me dispensar como um crédulo simplório, dê-me tempo para explicar o que quero dizer.
Suponha que, um dia, eu decida que quero uma opinião sobre alguma questão relacionada à música. Eu não deveria consultar qualquer pessoa. Eu não deveria, nem mesmo, consultar meu vizinho ao lado: ele é um bom médico, mas não é nenhum músico. Não, eu deveria consultar os mais notáveis professores de música com os quais pudesse entrar em contato. Se eu pudesse ressuscitar Bach ou Beethoven, eu os consultaria. Naturalmente.
Agora, suponha que eu quisesse saber não sobre música, mas sobre moralidade. Mais uma vez, eu consultaria os especialistas de mais ilustre classificação mundial que eu pudesse encontrar. E isso iria levar-me, naturalmente, a Jesus Cristo. Ninguém nunca ensinou uma moralidade mais elevada, mais pura. Seu Sermão da Montanha permanece um padrão insuperável. Verifique por si mesmo. Tente viver o Sermão da Montanha por uma semana!
Mas, com isso, chego ao ponto que desejo. Quando, por meio do Novo Testamento, me coloco ao lado de Jesus de Nazaré, seu ensino sobre moralidade, sua santidade de vida, exponho a mim mesmo como o pecador que sou. Não preciso de nenhuma prova externa de que ele é verdadeiro neste nível; eu o sei instintivamente em meu coração. Mas, então, vem o fato notável: foi este Jesus Cristo, cujo ensino moral havia sido impecável e cuja vida condizia com seu ensinamento, que afirmou ser igual a Deus.
O que eu devo fazer com sua alegação, ou melhor, com o fato de ter sido ele quem a fez? Direi que o autor do Sermão da Montanha estava mentindo deliberadamente? Bem, se ele estava, então ele foi o maior hipócrita, a mais desprezível fraude, o mais malvado impostor que já caminhou sobre a terra. Mas é impossível ler os Evangelhos atentamente e sair com a conclusão de que Jesus era uma fraude deliberada. Se você duvida disso, leia os Evangelhos mais uma vez com essa questão em mente. Você certamente é um bom julgador de caráter; você precisa ser, para encontrar o seu caminho com segurança por este mundo. Exercite o seu julgamento em Jesus. Avalie seu personagem como você o encontra nos Evangelhos. Eu mais do que sugiro a você que, de tudo aquilo que você concluir sobre ele, você não concluirá que ele era uma fraudedeliberada.
Mas ele poderia estar genuinamente enganado, você diz, sem ser uma fraude deliberada. Mas, nesse caso, pense no que isso significa. As pessoas que equivocadamente pensam ser Deus, são insensatos. Jesus Cristo era um insensato, então? Bem, se ele era, então pouquíssimas pessoas foram sãs! É impossível estudar o comportamento e as palavras de Cristo como descritos no Novo Testamento e chegar a qualquer conclusão semelhante. O Jesus que podia dizer com convicção: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mateus 11:28-29), não era nenhum Hitler ou Mussolini! É um simples fato que Jesus Cristo foi responsável por mais saúde e estabilidade mentais do que qualquer outro no mundo. A leitura de suas palavras tem trazido paz a milhões. A fé nele e em seu sacrifício libertou milhões da tortura de uma consciência culpada. A comunhão diária com ele, para milhões, rompeu o domínio de hábitos destrutivos e lhes deu um novo respeito por si mesmos, um senso de propósito na vida e a liberdade do medo da morte.
Foi Jesus Cristo, é claro, que nos ensinou que Deus é amor. Se você acredita em Deus de qualquer forma, você provavelmente toma por certo que ele é amor. Você pode até supor que qualquer pessoa, em qualquer século, podia ver que Deus é amor. Mas, em toda a minha leitura dos autores antigos gregos e latinos, eu nunca encontrei qualquer autor ou filósofo que dissesse que Deus era amor. Todo-poderoso, sim; bom em um sentido individual e absoluto, aprovando o bom comportamento do homem e desaprovando seus atos maus. Mas amor? Amor positivo, de coração bondoso, envolvido, generoso e sacrificial pela humanidade? Ninguém nunca pensou nisso ou o ensinou como Jesus Cristo o fez, nem com comoventes afirmações diretas como, por exemplo: “Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais” (Lucas 12:6-7). Essas são as palavras de um lunático?
Também, é claro, ninguém nunca expressou pessoalmente o amor de Deus pela humanidade como Jesus o fez pelo sacrifício de si mesmo no Calvário. Milhares de nobres, e homens e mulheres corajosos, suportaram tortura e sofrimento, e, eventualmente, sacrificaram sua vida por seus amigos ou por seu país, ou em protesto contra algum mau regime. Nós, com razão, os aclamamos como heróis. Mas nós não compreendemos, se supomos que o Novo Testamento está alegando nada além de que Jesus Cristo foi um herói. O que o Novo Testamento afirma sobre Jesus, na verdade, o que ele afirmava sobre si mesmo, é único tanto na história da literatura quanto na religião. No início de seu ministério público (não depois de sua crucificação), seu introdutor oficial, João Batista, anunciou que Jesus viera como o Cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo (João 1:29); e o termo usado, “o Cordeiro de Deus”, indicava que Jesus viera para morrer como sacrifício para remover o pecado. Ou, como o apóstolo Pedro, mais tarde, o colocou: “Fostes resgatados... pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo... carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça... Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pedro 1:18-19; 2:24; 3:18).
E isso era o que o próprio Jesus Cristo considerava o principal propósito de sua vinda ao mundo, sendo mostrado pelo seguinte fato: na noite anterior à sua crucificação, ele instituiu uma cerimônia pela qual seus seguidores poderiam lembrar-se dele. É muito instrutivo observar os detalhes dessa cerimônia. Ele não pediu que, quando seus seguidores se reunissem, recitassem a história de um dos seus espetaculares milagres. Isso sugeriria que a coisa principal acerca de seu ministério era ser um fazedor de milagres. Ele também não disse que eles deveriam selecionar uma parte de seu ensinamento moral e recitá-la. Isso sugeriria que o principal propósito de sua vida era ser um professor-filósofo. Ele disse que eles deveriam pegar pão e vinho para representar seu corpo e seu sangue, e comer e bebê-los em memória do fato de que, na cruz, ele deu seu corpo e derramou seu sangue para garantir-lhes o perdão dos pecados (Mateus 26:26-28).
Os primeiros cristãos compreenderam que o propósito principal da vinda de Cristo ao mundo era dar-se por eles como um sacrifício pelos seus pecados; isso é indicado pelo fato de que, desde o início, como mostram os registros, eles eram encontrados reunidos para realizarem essa cerimônia. Encontra-se no centro e no coração de tudo o que Cristo afirmou e representou. É este abnegado amor de Cristo que tem derrubado a resistência das pessoas a ele e ganhado para si a gratidão e a devoção pessoal de seus milhões de seguidores. Todos dizem com Paulo, o apóstolo de Cristo: “Esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou, e a si mesmo se entregou por mim”. (Gálatas 2:20)
Tudo isso, no entanto, nos leva ao cerne da questão. Há uma razão muito boa e óbvia pela qual ninguém mais nunca afirmou que ele, ou ela, veio ao mundo para morrer como um sacrifício pelo pecado do mundo. Afirmar isso é afirmar não ser um herói, ou mesmo um mártir, mas ser mais do que humano, ser Deus encarnado. Somente um, que era o próprio Deus infinito, poderia oferecer um sacrifício adequado pelo pecado de todo o mundo.
Você verá isso a partir do simples fato de que, se um dos seus amigos declarasse seriamente que o propósito de seu nascimento neste mundo era morrer pelos pecados do mundo, você provavelmente procuraria um psiquiatra para ele. Você consideraria sua afirmação como um sinal de loucura. E, ainda, quando Jesus Cristo faz a afirmação — e ele a fez: há muito vimos que isso não foi inventado pelos autores do Novo Testamento — essa não carrega a mais leve sugestão de que ele era um lunático.
Na verdade, essa sua afirmação, se me permitem falar pessoalmente por um momento, é um dos fatos que me convence de que ele é realmente o Filho de Deus, pois ela diagnostica qual é o meu problema fundamental como um ser humano e me oferece a única solução aceitável para esse problema. Deixe-me explicar.
Todas as religiões e todas as filosofias constantemente me informam, cada uma em suas várias formas, que eu devo ser bom. Isso é útil, suponho; mas isso não toca o meu verdadeiro problema. Eu já sei que eu devo ser bom. Eu não preciso da ajuda da religião ou da filosofia para me dizer isso! Meu problema não é não saber que eu devo ser bom, mas, incontáveis vezes, eu não fui bom. (E meus vizinhos, percebo, estão na mesma posição). Isso é um enorme problema. O que eu digo sobre meus pecados do passado? Eu quebrei até mesmo meus próprios padrões, quanto mais os de Deus. Eu comprometi meus próprios valores e sujei-os. Como, então, posso encontrar perdão? Se eu decidir que meus pecados passados não importam afinal, então estou dizendo que meus valores não importam também. E, se o que eu faço não importa, então eu, que sou responsável por isso, afinal das contas, não importo. Mas suponha que meus valores importem. E suponha que os padrões de Deus importem e que ele não irá diminuí-los por mim ou por qualquer outra pessoa. Então meus pecados importam. Como posso encontrar um perdão para o meu passado que, por implicação, não destrua meus próprios valores, minha própria importância e, no entanto, muito menos, os de todos os demais? E o mesmo vale para você, bem como para mim.
É justamente aqui que Cristo nos encontra. Ele afirma ter autoridade para conceder-nos perdão, mas sem fechar os olhos ao nosso pecado ou rebaixar os padrões de Deus. Ele não diz que o que fizemos não importa. Ele insiste que a pena por isso seja paga. Mas, então, ele explica, este é o motivo central pelo qual ele veio à Terra: ele é o Deus que define e insiste em uma penalidade para o pecado, o Deus cuja lei quebramos e, portanto, merecemos tal punição. Contudo, ele é o Criador que nos fez, e, em amor e em fidelidade a nós, levou o fardo de nossos pecados sobre si e pagou sua pena pelo seu sofrimento no Calvário. Assim, ele confirmou a sua lei e os nossos valores e ainda tornou possível que a nós seja concedido perdão, se nós o quisermos.
Isso, então, é exatamente o que eu preciso, e você também. Cristo viu a nossa necessidade e foi ao encontro dela como ninguém poderia. Nisto, ele é único. Ao encarar suas afirmações, você pode estar certo disto: você só terá de decidir esta questão uma vez em sua vida. Nenhum outro nunca veio, ou jamais virá, a você para lhe dizer que ele é o Criador que o fez e o ama, que veio como Deus encarnado para morrer por você, para que possa ser perdoado. Jesus Cristo é o único que já o declarou. Sua afirmação é tão direta e tão pessoal: ele diz que morreu por você; isso significa que você pessoalmente deve dar sua resposta individual a ele e à sua declaração.
 
A VALIDAÇÃO FINAL DAS AFIRMAÇÕES DE CRISTO
 
A validação das afirmações de Cristo reside, basicamente, em dois aspectos: na evidência objetiva de sua ressurreição e em nossa própria experiência subjetiva do testemunho do Espírito Santo em nosso coração, quando, tendo sido convencidos pela evidência objetiva, abrimos nosso coração a Cristo e o recebemos pessoalmente como Salvador.
Primeiro, então, sua ressurreição: todos os autores do Novo Testamento afirmam, como você sabe, que, no terceiro dia após sua morte e seu sepultamento, Jesus Cristo literal, corporal e fisicamente, ressuscitou dos mortos.
Talvez, neste ponto, você esteja dizendo a si mesmo que quem acredita na ressurreição de Cristo já deve ter cometido suicídio intelectual; pois sabemos que, hoje, milagres como a ressurreição não ocorrem: a ciência demonstrou ser impossível.
Mas, na realidade, nós não sabemos, nem a ciência provou tal coisa. E, se você pensa que sim, você não é exatamente o bom cientista que eu considerava ser.
Entretanto você protesta, as leis da ciência mostram que é impossível para um corpo morto viver novamente.
Não, elas não o fazem; na verdade, elas não poderiam. As leis da ciência não são como leis absolutas que encontramos expostas no céu ou em algum lugar. As leis da ciência são descrições, elaboradas pelos cientistas — e toda honra a eles: eu, de minha parte, aplaudo seus esforços —, sobre o modo como o universo normalmente funciona; ou melhor, aquela pequena parte do universo que eles, até agora, foram capazes de estudar e compreender.
Mas há dois dados que devemos considerar neste contexto. Em primeiro lugar, como sabem, talvez, melhor do que eu, existem cosmólogos, hoje, que discutem seriamente a existência dos chamados buracos negros no universo e alegam que, nesses buracos negros, as leis da Física sucumbem; da mesma forma, seguindo as leis da Física em ordem inversa, você chega a um ponto onde não é mais possível descobrir o que aconteceu antes desse ponto, porque as leis da Física não vigoram mais. Você atingiu o que é chamado de uma singularidade no universo.
Agora, eu sei que nem todos os cosmólogos aceitam essa teoria; mas meu ponto é que os cientistas que sugeriram a existência de tais singularidades do universo não são acusados de ter cometido suicídio intelectual. Nem os genuínos cientistas consideram que as leis da Física provam com antecedência, sem que a evidência seja antes investigada, que, por definição, não poderia haver qualquer singularidade no universo. Para ser capaz de prever a priori que nunca poderia haver uma singularidade no universo, a ciência teria primeiramente de entender o funcionamento de cada parte de todo o universo em sua totalidade. A ciência não o fez ainda!
E, em segundo lugar, devemos sempre lembrar que as leis da ciência só podem nos dizer o que normalmente acontece, contanto que não haja nenhuma interferência no nosso mundo vinda do exterior. Mas a ciência, como ciência, não pode nos dizer se, de fato, houve tal interferência no passado, ou se haverá no futuro. Temos de ir para a história, não a ciência, para descobrirmos se houve tais interferências no passado. É claro que todos concordamos, cristãos e não cristãos, que tais interferências terão sido extraordinariamente raras: milagres são, por definição, raros. (Mas, então, a própria criação do universo, como aponta C. S. Lewis, só aconteceu uma vez; e a probabilidade de sua ocorrência, de qualquer modo, é realmente pequena!) No entanto, voltar-se para a história com sua mente já convencida de que nenhum milagre jamais pode ter acontecido e recusar-se a investigar a evidência de que, ocasionalmente, milagres aconteceram, não é uma atitude verdadeiramente científica. É obscurantismo.
Não posso, nesta ocasião, discutir detalhadamente a evidência da ressurreição. Ela é vasta demais. Mas deixe-me salientar isto: se você se recusar a acreditar na ressurreição, enfrentará uma série de problemas históricos, inclusive um problema muito grande. Ninguém pode negar a existência da Igreja cristã. Nem ninguém pode negar que ela nem sempre existiu: ela teve um começo. A questão é: o que a trouxe à existência? Qual foi a sua finalidade? Se você consultar o Novo Testamento, encontrará todos os primeiros cristãos dizendo a uma só voz que a coisa que trouxe a Igreja à existência foi a ressurreição de Cristo e que o propósito para o qual eles foram trazidos à existência era o de testemunhar o fato da ressurreição de Cristo. Seus primeiros sermões estão cheios desse assunto (veja Atos dos Apóstolos).
Os primeiros cristãos eram todos judeus, nascidos e criados. Seu dia santo semanal era o sábado, que é o último, o sétimo dia da semana. Então, de repente, como mostram os registros, em adição ao sábado, eles começaram a se reunir no primeiro dia da semana para comerem pão e beberem vinho em memória de Jesus Cristo. Por que essa mudança, e por que o primeiro dia da semana? Porque, os primeiros cristãos nos dizem, Jesus Cristo ressuscitou dos mortos no primeiro dia da semana.
Por causa da sua pregação sobre a ressurreição de Jesus, os primeiros cristãos foram severamente perseguidos, e alguns foram torturados, atirados aos leões como alimento e, de outras formas, executados. Se eles tivessem ficado satisfeitos de simplesmente pregar a ética cristã, de que as pessoas deveriam amar uma à outra, ninguém os teria perseguido. Mas não, eles insistiam em testemunhar o fato de que Jesus havia ressuscitado dentre os mortos. E muitos deles morreram por isso. Você acha que eles morreram por uma história que eles, os primeiros cristãos, inventaram por si próprios e sabiam ser falsa?
Não importa o que você pensa da Igreja cristã, ela existe, e, a menos que fechemos nossos olhos para a história, temos de encontrar alguma causa grande o suficiente para explicar seu nascimento. Realidades, como a Igreja cristã, não aparecem do nada sem nenhuma causa. Elimine a ressurreição, e você é deixado, como Professor C. F. D. Moule assinala, com um buraco na história: a Igreja cristã sem nenhuma causa adequada para explicar sua origem e sua existência.
 
O QUE TUDO ISSO TEM A VER COMIGO?
 
Talvez, agora, alguns estejam começando a protestar em voz baixa: “O que tudo isso tem a ver comigo? Eu sou um bioquímico, um engenheiro, um físico. Não se espera que eu vá bisbilhotando a história antiga assim, espera-se? Eu já tenho o bastante para fazer com meus próprios estudos”.
Bem, tudo o que tenho tentado fazer é responder à pergunta a mim imposta: “É necessário cometer suicídio intelectual para acreditar na Bíblia?” Se você realmente não tem tempo para considerar a evidência necessária para responder à pergunta, isso é muito ruim. Mesmo assim, espero ter dito o suficiente para dissuadi-lo de ceder à tentação de sair por aí dizendo que as declarações do Novo Testamento são um óbvio absurdo. Se você fizesse isso sem ter estudado as evidências, poderia ser você a pessoa cometendo o suicídio intelectual!
Mas, naturalmente, há mais do que isso. Se o Novo Testamento estiver certo, Jesus Cristo é o Filho de Deus, nosso Criador — e isso tem tudo a ver com você, comigo e com todos os demais. Se ele for o Filho de Deus, negligenciá-lo, por qualquer motivo, é dez mil vezes pior do que o suicídio intelectual: é uma culpável indiferença para com nosso Criador. É por isso que o Novo Testamento nos convoca a estudar as evidências com toda a seriedade que pudermos reunir. Nós mal esperaríamos compreender a Física do universo sem estudarmos seriamente as evidências fornecidas a nós pelo próprio universo. Então, como nós poderíamos chegar a conhecer o Criador do universo e entendê-lo sem estudarmos, com igual seriedade, as evidências que ele nos deu sobre si mesmo?
Em meu país, não é incomum achar acadêmicos, físicos, químicos, biólogos e assim por diante, todos altamente inteligentes, que são inclinados a rejeitar a Bíblia por considerá-la um absurdo. Quando, em resposta, eu gentilmente os pressiono a dizer se eles já leram a Bíblia, eles respondem: “Claro que sim”. Quando, então, pergunto-lhes o que pensam das evidências que a Bíblia apresenta para a divindade de Cristo, eles geralmente respondem: “Quais evidências?”
Eu digo: “Tome, por exemplo, o Evangelho de João. Seu autor explica seu propósito em escrever: ‘Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome’ (João 20:31). Essa é a evidência a qual me refiro.” Eu digo: “O que você pensa sobre isso?”
E, repetidamente, eles me respondem: “Ah, o Evangelho de João. Bem, não, eu não li esse. Nós só estudamos Marcos na escola”.
Então, aqui estão eles, alguns, professores formados na universidade, agora na metade da vida, e nunca, desde que eram crianças na escola, estudaram a Bíblia, e nunca leram o Evangelho de João com uma mente adulta e com a seriedade com que estudam seus as36
suntos acadêmicos. Como eles sabem que sua evidência é inútil, se eles nunca a leram, eu não sei. (Como eles podem considerar-se homens e mulheres educados se nunca leram o Evangelho de João seriamente — eu também não sei). Mas o detalhe mais importante em questão é esta: o Evangelho de João vem a nós com a autoridade de Jesus Cristo. Se o que diz é verdade, Deus, nosso Criador, está tentando se comunicar conosco, tentando falar-nos pessoalmente, tentando revelar-se a nós, de modo que, por meio de Jesus Cristo, possamos entrar em um relacionamento pessoal de fé e de amor com ele. Não estarmos interessados em descobrir se é verdade ou não, não estarmos interessados na possibilidade de ouvir o nosso Criador falar conosco, pode parecer indicar uma predisposição estranha e irracional de nossa parte.
“Mas, olha”, meus colegas me dizem, “é inútil nos dizer para lermos a Bíblia, porque não acreditamos nela. Se acreditássemos, é claro que nós a leríamos. Você está nos pedindo para começarmos a acreditar nela e, então, lê-la. É claro que, se acreditarmos que ela é verdadeira antes de começarmos, devemos acreditar em tudo o que ela diz. Mas nós não acreditamos nela e é inútil nossa leitura.”
Mas falar assim é bobagem. Naturalmente, não estou pedindo a eles, nem a você, que acreditem na Bíblia antes de começarem a lê-la. Mas estou-lhes pedindo — e a você — para lê-la e, em seguida, decidir se é verdade ou não. Afinal de contas, é assim que você trata os jornais, não é? Você sabe, antes de começar, que algumas das coisas ali contidas serão verdades e outras, não. Você certamente não decide, antes de lê-los, acreditar em tudo o que eles dizem. Mas isso não o impede de lê-los. Você tem confiança suficiente em seu próprio julgamento para ler o que dizem, para refletir sobre isso e decidir por si próprio se é verdade ou não. Eu estou lhe pedindo para fazer o mesmo com o Novo Testamento.
E, se você o fizer, o próprio Jesus Cristo garante que, desde que você esteja preparado para cumprir uma condição, Deus irá mostrar-lhe pessoalmente se suas alegações são verdadeiras ou não. E a condição é esta: “Se alguém quiser fazer a vontade dele” — isto é, quando descobrir qual é esta —, “conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus, ou se eu falo por mim mesmo” (João 7:17). Ele descobrirá, porque, conforme for lendo, estudando e pensando sobre o que Jesus ensinou, Deus falará ao seu coração e lhe mostrará, sem sombra de dúvida, que o que Jesus diz é verdade.
O problema reside, eu suspeito, na condição: “Se alguém quiser fazer a vontade dele”. Nós sentimos, antes de começar, que, se Deus nos mostrasse sua vontade, isso levaria a profundas implicações no nosso modo de vida, que talvez não queiramos enfrentar. Então, preferimos abordar esse assunto todo de forma impessoal, como abordamos experimentos em Física, sem nos comprometermos antecipadamente com quaisquer implicações práticas. Mas nós não podemos tratar Deus assim. Não podemos chegar ao Todo-poderoso e dizer: “Sim, eu gostaria de saber se você existe ou não, e se Jesus Cristo é seu Filho ou não. Por favor, mostre-me. Mas eu gostaria que você entendesse que, se você se revelar para mim, eu ainda não estou necessariamente disposto a fazer qualquer coisa que você possa me dizer para fazer”. Deus não tem tempo para diletantes espirituais.
Mas, se você estiver sério e disposto a fazer a vontade de Deus, quando a conhecer, então faça o experimento: leia o Evangelho de João seriamente, com uma mente aberta; Jesus Cristo garante que Deus lhe mostrará o que é a verdade.
Alguém dirá, talvez: “Meu problema é este: eu nem mesmo sei se Deus existe. Se eu fizer a experiência que você sugere, eu não devo correr o risco de imaginar que ouvi Deus falar comigo, quando era apenas autosugestão? Como eu reconheceria Deus, mesmo se ele falasse comigo?”
Bem, deixe-me terminar contando-lhe uma história sobre um milagre feito por Jesus Cristo (João 9). Você provavelmente pode descartar todas as histórias de milagres como absurdas. No momento, não importa. Eu apelo a isso somente como uma ilustração.
Nesta história, Jesus uma vez encontrou um homem que havia nascido cego e lhe perguntou se ele gostaria que lhe fosse dado visão.
Eu não sei se você já tentou explicar a alguém nascido cego o que é visão, ou como é uma cor, ou mesmo convencê-lo de que existem coisas tais como luz e cor. Mas isso é extremamente difícil! Teríamos entendido perfeitamente se, portanto, o cego respondesse a Jesus que ele não sabia o que era visão e que considerava absurdas todas as afirmações de que havia tal coisa como visão. Assim, pelo menos, é como muitas pessoas reagem, hoje, quando escutam Jesus Cristo dizer que ele pode dar-lhes visão espiritual; que ele pode dar-lhes vida eterna, que é a faculdade de conhecer Deus pessoalmente (João 17:3).
Felizmente, no entanto, o cego disse que, se vesse tal coisa como visão, ele gostaria de tê-la. Então, Jesus Cristo sugeriu ao homem que havia um experimento que ele poderia realizar, caso estivesse disposto; e ele garantiu que, se ele o realizasse, receberia visão.
Ora, o experimento que Cristo estabeleceu, parecia estranho, como você descobrirá se ler a história. Mas o cego não era obscurantista. Ele raciocinou que Jesus Cristo não era charlatão, tampouco lunático. Se ele disse que havia uma coisa chamada visão e que ele a daria a qualquer um que a quisesse, então valia a pena fazer o experimento. Não havia nada a perder. Havia tudo a ganhar. Então, ele fez o experimento, descobriu por experiência própria que ele funcionava e retornou do experimento, enxergando.
Eu lhe recomendo um experimento similar. Leia o Evangelho de João. Enquanto lê, diga: “Deus, eu não tenho certeza de que você existe. Mas, caso exista e, se Jesus for seu Filho e puder dar-me, como afirma, vida eterna, o que quer que isso seja, fale comigo, revele-se a mim, mostre-me que Jesus é seu Filho. E, se você me mostrar, estou disposto a fazer sua vontade, qualquer que ela acabe por ser.” E Cristo garante que Deus lhe mostrará.
 
NOTAS DE FIM
1. Esta é uma versão revisada de uma palestra primeiramente dada pela Universidade de Marselha, intitulada: “Temos que cometer suicídio intelectual para acreditarmos na Bíblia?”
2.Cf., C.S. Lewis, Fern-seed and Elephants and Other Essays on Christianity, Glasgow: Collins, 1982, p. 110.
 

Por David Gooding & John Lennox

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