CASAMENTO E DIVÓRCIO

O matrimônio pertence à criação ou ao Cristianismo?
 
Antes de considerar esta pergunta diretamente, vamos examinar o conceito do casamento, de uma perspectiva bíblica. Afinal de contas, a instituição do casamento originou-se com Deus.
Livrarias, especialmente as evangélicas, estão cheias de livros sobre o casamento e assuntos vinculados a isso. Eles se concentram nos métodos empregados na escolha de um cônjuge idôneo, na solução dos problemas matrimoniais, e em como ter um casamento durável e feliz. Há também conselheiros matrimoniais descrentes que fornecem suas opiniões e soluções alternativas, que eles consideram que satisfarão os desejos e caprichos de muitos na nossa sociedade moderna. O conceito bíblico sobre o casamento está sendo comprometido, atacado e condenado por muitos hoje em dia, e por esta razão é importante considerar a origem da instituição do casamento.
O livro de Gênesis, o livro dos "princípios", nos dá informações vitais sobre a origem de todas as coisas e, portanto, sobre o significado de todas as coisas, informações essas que, de outro modo, seriam completamente desconhecidas. O estado universal e estável do casamento e do lar, numa cultura social monogâmica patriarcal, é descrito em Gênesis como sendo ordenado por Deus. É exatamente isto que o Senhor Jesus afirmou quando lhe fizeram a pergunta sobre divórcio e novo casamento:
"... mas no princípio não foi assim" (Mt 19:8).
Outra pergunta relacionada com o título deste capítulo é: Deus reconhece a união matrimonial entre duas pessoas descrentes? À luz das Escrituras, a resposta é sim. Em I Coríntios, Paulo lembrou os crentes em Corinto da sua vida pecaminosa antes da conversão, e incluído na lista dos pecados que ele mencionou está o adúltero.
"Nem os devassos [fornicadores], nem os idólatras, nem os adúlteros ... herdarão o reino de Deus. E é o que alguns tem sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus" (I Co 6:9- 11).
O adultério é a violação deliberada do contrato matrimonial por qualquer um dos cônjuges, através de uma relação sexual com uma terceira pessoa. E esta palavra "adultério" (moicheia) que encontramos em relação a homens, em Mt 5:32, e em relação a mulheres em Mc 10:12.
Em Mt 14:1-12 vemos uma ilustração disso na ação cruel e covarde de Herodes Antipas. Depois de casar-se com uma filha de Aretas, rei da Arábia, ele fez propostas imorais a Herodias, que era esposa do seu irmão Filipe. Ela o aceitou, e começaram a viver juntos, em pecado. João Batista corajosamente reprovou este relacionamento ilícito, e repreendeu Herodes por ter tomado Herodias, "mulher de seu irmão Filipe", e por causa disto ele sofreu uma morte violenta. É muito importante observar como João se refere claramente a Herodias como sendo ainda a mulher do seu irmão, provando que Deus reconhece o casamento entre descrentes e também condena qualquer violação do casamento. A condenação pública deste relacionamento adúltero é feita na afirmação: "Não te é lícito possuí-la" (Mt 14:4).
Consideremos agora alguns aspectos do casamento, baseados especificamente no livro de Gênesis.
 
1. O matrimônio e sua instituição
 
"E disse o Senhor: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora ... Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu ... formou uma mulher e trouxe-a a Adão" (Gn 2:18, 21-22). "Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea" (Mc 10:6).
 
Note a ênfase na identificação de masculinidade e feminilidade. No sexto dia da criação, Deus formou o homem "do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem foi feito alma vivente" (Gn 2:7). O barro sem vida se tornou vivo pelo sopro de um Deus Criador.
Entretanto, o Seu plano não estava completo ainda, e lemos: "Não é bom que o homem esteja só, far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (Gn 2:18). Isso mostra claramente que a instituição do casamento, por Deus, foi pela união de um homem e uma mulher, os dois (e somente dois) se tornando um.
 
2. O matrimônio e sua união
 
"E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada Mulher (Issah, no hebraico), porquanto do Homem (Issah, no hebraico) foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua
mulher, e serão ambos uma carne" (Gên 2:23-24). "Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem" (Mc 10:9). "Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne" (Ef 5:31).
 
Estas passagens clássicas estabelecem o conceito bíblico e a natureza do casamento. Este é o plano de Deus para o estado matrimonial. Qpando Adão acordou do seu profundo sono, ele abriu seus olhos e viu o rosto da mulher que Deus havia providenciado especialmente para ele. Deus poderia ter suprido uma infinidade de mulheres para Adão, mas foi o intento de Deus fazer desta forma.
As primeiras palavras de Adão, faladas talvez com surpresa, gratidão e êxtase foram estas: "Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne, esta será chamada Mulher, porquanto do Homem foi tomada". Literalmente, ele disse: "Esta finalmente osso - meu osso! Carne - minha carne! Esta será chamada mulher porque do homem foi tornada" (Gn 2:23). Quando perguntaram ao Senhor Jesus, tentando-o: "E lícito ao homem repudiar a sua mulher?" (Mc 10:2), Ele respondeu fazendo-os lembrar do que aconteceu no princípio da criação, destacando três afirmações impressionantes: "Deixará pai e mãe ..."
Isto não significa abandonar os pais, pois as Escrituras claramente afirmam: "Honra a teu pai e a tua mãe ... " (Mt 15:4). Entretanto significa mais do que sair de casa. Para os pais, significa abrir mão da sua autoridade sobre seus filhos. Para os filhos, significa aceitar plenamente esta liberdade. Assim a noiva, pelo consentimento de ambos os lados, deixa uma liderança para aceitar outra. A mulher está sempre sob autoridade. Este é o plano divino. O momento quando a noiva é dada em casamento, pelos seus pais, é sempre um momento emocional importante na cerimônia de casamento.
 
"Apegar-se-á à sua mulher"
 
Isso inclui um relacionamento que é exclusivo, especial e recíproco. A expressão significa "ser colados um ao outro" em casamento. É visto como um relacionamento permanente, até a morte. Infelizmente, hoje, este aspecto do casamento está sendo desprezado e abandonado por muitos.
 
"Serão uma só carne"
 
Isto aconteceu no jardim do Éden quando Deus trouxe a mulher ao homem, e disse: "Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra ... " (Gn 2:28). Não há dúvida que Adão e Eva eram "uma só carne" antes da sua união física. É importante notar que Adão chamou Eva de sua mulher quatro vezes antes de lermos que ele a conheceu.
Deus estabeleceu esta ordem para toda a humanidade, assim assegurando a dignidade do casal e a segurança das crianças nascidas deste casamento.
As referências nas Escrituras a "uma só carne" são muito significativas, e dão um ensino precioso sobre a indissolubilidade do casamento. Encontramos estas referências em Gn 2:24; Mt 19:5-6; I Co 6:16-17 e Ef 5:31-32.
"... e serão dois numa carne" (Ef 5:31).Assim como marido e mulher, no sentido físico, formam os elementos de uma pessoa completa, um sendo o complemento do outro, assim também a Igreja, na esfera espiritual, é o complemento de Cristo.
A Igreja, que é o Seu corpo, compartilha uma união de vida e energia com Ele.
Os salvos gozam de unidade orgânica vital e indissolúvel com Cristo, o Cabeça. A Igreja é descrita como sendo "a plenitude daquele que cumpre tudo em todos" (Ef 1:23). Ela é o complemento dEle. Sem a Igreja, que é o Seu corpo, o Senhor Jesus estaria eternamente sem uma noiva. Esta Escritura estabelece, não somente a intimidade da união espiritual, mas também a sua indissolubilidade.
 
As três expressões em I Coríntios 6 ("um corpo", "uma só carne" e "um mesmo espírito") têm diferenças que devemos observar:
 
i) "Um corpo" é uma união física" (v.16);
 
ii) "Uma só carne" é uma união matrimonial" (v.16);
 
iii) "Um mesmo espírito" é uma união espiritual" (v. 17).
 
i) "... o que se Junta com a meretriz, faz-se um corpo" (I Co 6:16).  Isto fala de uma união proibida e impura. A ausência de amor puro e lealdade são evidentes. É impossível encontrar uma união instigada e promovida por afeição genuína neste relacionamento ilícito e degradante. Nada mais é do que uma união física, fornecendo gratificação torpe entre um macho e uma fêmea.
 
ii) "Porque serão, disse [Deus], dois numa só carne" (I Co 6:16). Isso apresenta um aspecto completamente diferente sobre a união de duas pessoas. A palavra "carne" realmente significa "pessoa", embora cada parte retenha a sua identidade individual, e responsabilidades diferentes no relacionamento. As duas pessoas até começam a pensar, agir e sentir como uma só pessoa. Ef 5:28-31 indica que o relacionamento é tão íntimo que o que o marido faz (sejade bom ou de mal) para sua esposa, ele faz também para si mesmo, visto que os dois são uma só carne. A união sexual não é a mesma coisa que a união matrimonial. O casamento é uma união que indica uma união sexual, como uma obrigação e prazer importantes (I Co 7:3-5), mas o casamento tem de ser visto como algo diferente de, e maior do que, mas que inclui, a união sexual. Entretanto as duas coisas não são sinônimas. A afirmação original feita por Deus na criação deixa este fato bem claro. Quando Deus trouxe Eva a Adão Ele disse: "Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne" (Gn 2:24). Obviamente, Deus tinha em mente as gerações futuras, pois Adão e Eva não tiveram pais.
 
iii) "Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito" (I Co 6:17). Isto se refere, sem dúvida, à união incomparável entre o Senhor Jesus e a Igreja, que é o Seu Corpo. Esta união é, necessariamente, mais profunda e mais íntima do que qualquer união física ou matrimonial.
 
No livro de Rute lemos dos dois casamentos dela. Seu primeiro casamento aconteceu na terra idólatra de Moabe, onde ela se tornou a esposa de Malom, filho de Elimeleque e Noemi. Este casamento terminou com a morte de Malom. Mais tarde, e pouco tempo antes do seu casamento com Rute, Boaz diz: "também tomo por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom" (Rt 4:10). Deus reconheceu ambos os casamentos de Rute.
Embora não lemos de qualquer cerimônia de casamento, é evidente que muitas pessoas testemunharam a união em matrimônio santo entre Boaz e Rute. A formação deste novo relacionamento de marido e mulher foi confirmada e testemunhada pelos anciãos e pelo povo. É evidente que Boaz satisfez todas as exigências legais e, visto que Malom estava morto, Boaz estava livre para agir desta maneira, em amor puro e abnegado para com Rute.
 
Em Rt 4:13 vemos três aspectos importantes referentes ao casamento:
 
"Assim tomou Boaz a Rute, e ela lhe foi por mulher."
 
Tendo tomado-a, Deus os ajuntou, e isto é exclusivo à união matrimonial.
Qpão apropriadas as palavras do Senhor Jesus,em Mateus: "Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne. Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem"
(Mt 19:5-6).
 
"E ele a possuiu...,"
 
Esta é uma referência clara à união física, que é permitida somente dentro do relacionamento matrimonial. É importante observar, porém, que este ato nunca deve ser considerado como o início da união matrimonial, senão, qualquer ato de fornicação constituirá um laço matrimonial e, portanto, cada novo ato de fornicação com o mesmo parceiro se tornará lícito. Qpando estes dois atos distintos, de tomá-la como esposa e depois possuí-la, são vistos numa perspectiva correta, torna-se claro que a união física não faz, nem desfaz, o laço matrimonial. I Co 6:18 e 7:10-11 não indicam que a fornicação desfaz o laço matrimonial. Estes versículos não fornecem uma base para o argumento que a "cláusula de exceção" permite o divórcio.
"E O Senhor lhe fez conceber, e deu à luz um Alho," Aqui Deus é visto como o Doador da vida humana. Além disto, como vemo:
neste caso específico, a Sua bênção foi evidenciada no nascimento de um filho. Foi a intenção de Deus que a instituição do casamento produzisse filhos, e para cada casal judaico temente ao Senhor, sempre havia a alegre expectativa do Messias prometido.
Desta bela união matrimonial, o Messias prometido finalmente viria: "E Boaz gerou a Obede, e Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi" (Rt 4:21-22). Desta linhagem, mais de um milênio depois, veio o Messias-Salvador.
Uma coisa preciosa é dita sobre Boaz e Rute, em relação à sua conduta antes de se ajuntarem em união matrimonial e física: " ... e levantou-se antes que pudesse um conhecer o outro" (Rt 3:14). Nada indecente aconteceu, provando a maturidade do caráter dos dois. Eles tiveram domínio próprio sobre o que poderia ter-se tornado uma situação muito perigosa. Portanto, estavam em condições ideais para se casarem, com toda o potencial para desenvolverem um relacionamento durável e feliz. Vivemos num tempo quando muitas pessoas estão propagando idéias diferentes sobre o casamento. Alguns dizem que o casamento convencional é restritivo, que as crenças tradicionais sobre o casamento são antiquadas, e que somente ao escapar da armadilha do casamento é que uma pessoa pode estar livre para se desenvolver como indivíduo. Nós insistimos que o casamento foi instituído por Deus, com a intenção de que fosse permanente e desfeito somente pela morte.
 
3. O matrimônio e sua violação
 
"E tomou Lameque para si duas mulheres ... " (Gn 4:19).
 
Lameque, um descendente de Caim, e a sétima geração depois de Adão, foi o homem que levou os seus descendentes a se rebelarem abertamente contra Deus. Ele começou por desafiar o princípio estabelecido por Deus sobre a monogamia, em Gênesis 2. Lameque mudou a instituição e composição de Deus para o casamento, porque ele teve duas mulheres ao mesmo tempo. Isto insultou o plano de Deus para a vida matrimonial.
Sua ação foi uma negação nítida da instituição de Deus do casamento, e uma violação deliberada da constituição criatorial de um homem e uma mulher. À luz da sua rejeição do plano de Deus, e da tendência atual na nossa sociedade, seria conveniente sublinhar a forte iniunção achada em Hebreus: "Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os julgará" (Hb 13:4).
 
O matrimônio é uma instituição e um relacionamento santo, feliz e honroso.
 
Foi estabelecido por Deus no Jardim do Éden, santificado pela presença do Senhor Jesus no casamento em Cana da Galiléia e pronunciado como venerado pelo Espírito Santo (Hb 13:4). Este versículo revela que devemos guardá-lo de qualquer mancha de impureza e lascívia. O casamento não é certidão de respeitabilidade para aqueles que são casados, mas uma obrigação de se usar o relacionamento de maneira que honre a Deus, pois Deus julgará qualquer violação da sua santidade, quer seja por negligência ou pelo uso incorreto. O casamento exige lealdade e sinceridade, e também amor e afeição, e não deve ser contraído de maneira frívola e irresponsável.
 
Todos serão responsáveis perante Deus.
 
Talvez seria apropriado registrar aqui "A cerimônia do Casamento" de acordo com a lei australiana'. ( Extraído de um documento oficial publicado pelo governo da Austrália. país de residência do autor. Handbook (or Marriage Ce/ebrants. Canberra. Australian Government Publising Services. 1979. p26.)
 
"Quando um casamento for realizado por, ou na presença de, uma pessoa autorizada para realizar casamentos, a pessoa autorizada dirá aos cô~uges, na presença de testemunhas, as seguintes palavras: "Eu estou devidamente autorizado pela lei para realizar um casamento de acordo com a lei. Antes de vocês serem unidos em casamento, na minha presença e na presença destas testemunhas, eu tenho de lembrá-los da natureza solene e permanente do relacionamento em que vocês estão para entrar. O casamento, de acordo com a lei da Austrália, é a união de um homem e de uma mulher, com a exclusão de todos os outros, assumida voluntariamente e para toda a vida".
Esta declaração reflete, com clareza, a natureza e o caráter criacionista do casamento, como estabelecido em Gn 2:18-25, e como afirmado pelo Senhor Jesus em Mc 10:6.
 
4. O matrimônio e seu procedimento
 
''Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem" (Mt 19:6).
"Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem" (Mc 10:9).
"... sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança" (Ml 2: 14).
 
O plano de uma união permanente é outra dimensão do casamento na Bíblia.
A intenção divina é que o casamento seja para a vida toda. Em Mateus, o Senhor Jesus afirma isto claramente: "... o que Deus ajuntou, não o separe o homem" (Mt 19:6).Às vezes a Palavra de Deus ilustra esta união usando a figura de uma "aliança".
Malaquias visualiza Deus como uma "testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança" (Ml 2:14).
Citamos agora o que E. H. Merill escreveu, ao tratar deste versículo no seu comentário sobre Malaquias: ''A impressão que temos aqui é que muitos judeus tinham se divorciado de suas mulheres para se casarem com mulheres pagãs. Isso, diz Malaquias, é agir com 'deslealdade' (v. 14). O mesmo verbo 'desleal' (bágad no hebraico) já foi usado várias vezes pelo profeta, e uma análise cuidadosa do seu uso esclarece a questão toda aqui. No v. 10, onde a palavra é traduzida 'agimos aleivosamente' ('desleais', ARA), ela é usada no sentido de quebrar a aliança, neste caso, as estipulações da aliança Mosáica, que proibia casamentos com as nações pagãs. O v. 11 confirma esta ligação por associar a deslealdade com a profanação do santuário (da aliança), o qual Deus ama. Portanto, a 'deslealdade' mencionada no v. 14 deve também estar ligada à violação de uma aliança, e de fato está, como o v. 16 prova além de qualquer dúvida. Mas aqui não é mais a deslealdade à aliança recebida por Moisés, mas, deslealdade à aliança feita pelo casamento, que uniu marido e mulher.
Tal aliança, embora não seja especificamente estipulada no VT, é um acordo legal de união entre um casal, tendo Deus como Testemunha. Para o judeu abandonar sua mulher e casar-se com outra, especialmente uma estrangeira, não era apenas moralmente repugnante, mas legalmente proibido. 'A mulher da tua mocidade', continua o profeta, não é alguém que pode ser levianamente deixada, mas é, de fato, uma 'companheira', uma 'consorte' (habereth no hebraico), ligada inextricavelmente ao seu marido pela garantia de uma aliança."
A intenção divina sobre a permanência do matrimônio é também afirmada pelo Senhor Jesus no Evangelho de Lucas: "Qpalquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também"
(Lc 16:18). Neste versículo Ele resume a intenção criacionista em relação à união matrimonial. Em Mc 10:6-9 Ele novamente enfatiza a natureza e caráter criacionista do casamento como estabelecido em Gn 1:27; 2:24, ao dizer: "Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea. Por isso deixará o homem a seu pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne ... Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem".
Alguns comentaristas desconsideram completamente Lc 16:18, outros têm dificuldades em reconhecer o seu significado contextual, e ainda outros o aplicam somente à experiência dos salvos. Contudo, Lucas especificamente relata que o Senhor falava aos Seus discípulos (Lc 16:1) e também aos fariseus (Lc 16:14-15), mostrando claramente que tanto os discípulos (salvos)como os fariseus (descrentes) estão incluídos neste discurso.
Surgem, deste discurso, certas questões morais e espirituais que têm uma relação positiva com a afirmação do Senhor Jesus no v. 18, onde Ele diz que o divórcio conduz ao adultério. Incluídas neste capítulo estão as questões morais e éticas de mordomia, responsabilidade, compromisso, lealdade, auto justificação, cobiça, a necessidade de integridade em relação à lei, e a autoridade suprema das palavras do Senhor Jesus Cristo. Tais fatores estabelecem a ligação entre os três temas principais
abordados por Ele neste capítulo.
 
i) Responsabilidade quanto à mordomia (vs, 1-17);
 
ii) Responsabilidade quanto ao casamento (v. 18);
 
iii) Responsabilidade quanto às possessões materiais (vs, 19-31).
 
Lc 16:16-18 enfatiza a grande importância de autoridade e de valores. Os fariseus deliberadamente deixaram de lado a lei para seguirem sua conduta, e zombavam do ensino de Cristo. A Sua declaração autoritária, proibindo o divórcio que conduz ao adultério, é uma indicação clara desta autoridade. Ele também mostra que a justiça rejeita os atos imorais e não éticos nos relacionamentos matrimonias.
Sua referência ao reino enfatiza o valor do compromisso com Deus e com os outros.
Ele revela o padrão da ética, dizendo, com efeito, que se alguém faz um voto de se casar e ser fiel ao cônjuge perante Deus, e depois desfaz este voto ao entrar em outro relacionamento matrimonial, ele comete adultério porque o voto original não foi cumprido.
O divórcio é a violação de uma aliança tripla entre Deus, o marido e a mulher.
Enquanto a essência da justiça é integridade, a essência do pecado, neste caso, é a violação da promessa feita a Deus e a outros.
Resumindo, as Sagradas Escrituras enfatizam que o casamento é um estado permanente para todos os que têm contraído matrimônio. Devemos lembrar que a união do casamento é formal, pública, legal', sagrada e um contrato permanente.
 
5. O matrimônio e sua intenção
 
"E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele" (Gn 2:18).
"Salvar-se-à, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação" (I Tm 2:15).
"Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido" (I Co 7:2).
 
Este assunto pode ser tratado de três maneiras:
 
i) O matrimônio é para companheirismo "...far-lhe-ei uma ajudadora idônea" (Gn 2:18).
Esta frase significa que ela está em harmonia com ele, ou se aproxima dele. O casamento é uma parceria. Deve haver união de propósito, atitude e compromisso. Para muitos, o casamento resolve o problema da solidão. Companheirismo deve ser a essência do casamento. A vida, sem o casamento, seria difícil e enfadonha para muitas pessoas. Por esta razão, consideração e não comentários insensíveis e imprudentes devem ser oferecidos aos solteiros. As viúvas idosas (como Ana em Lucas 2) e os viúvos que se abstém de casar de novo devem receber a nossa admiração. Não que seja errado para viúvos ou viúvas casarem novamente, pois Paulo encoraja as viúvas mais novas a se recasarem, assim evitando a possibilidade do adversário de maldizer (I Tm 5:14).
 
ii) O matrimônio é para a reprodução "...macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei aterrá" (Gn 1:27-28). "Salvar-se-à, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação" (I Tm 2:15).
Macho e fêmea os criou; não macho e macho, ou fêmea e fêmea. Os estilos alternativos que estão sendo propagados hoje, junto com o aumento nos divórcios e novos casamentos, só podem resultar numa sociedade instável e degenerada. A procriação de filhos é o resultado normal do casamento, e Deus planejou que os filhos fossem nascidos e criados num ambiente estável e carinhoso, onde cuidado e disciplina pudessem ser aplicados. Nos casamentos desfeitos são as crianças que mais sofrem, e este fato deve receber a devida consideração.
 
iii) O matrimônio é para preservação "Por causa da prostituição [imoralidade] cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido" (I Co 7:2).
Este ensino serve para salvos e descrentes. O propósito de Deus, desde a criação, continua o mesmo. A obra de Cristo no Calvário tratou do pecado resultante da queda e suas consequências, mas não mudou as leis morais de Deus em relação ao casamento e aos relacionamentos matrimoniais. Este versículo está ensinando sobre o casamento monógamo - um homem e uma mulher, suprindo a proteção contra a imoralidade sexual. Uma união matrimonial saudável não somente é uma grande ajuda, mas é uma necessidade absoluta. Esta injunção mostra que a satisfação das necessidades sexuais dentro do casamento é correta, que somente a monogarnia deve ser praticada, que a fidelidade sexual é obrigatória para cada cônjuge e que o celibato não é o normal para a maioria das pessoas.
 
Citamos agora A. W Pink, no seu comentário sobre Hebreus: "A instituição divina do matrimônio ensina que o estado ideal, tanto do homem como da mulher, não é em separação, mas em união, que cada um é feito para o outro, e que o ideal de Deus é que haja esta união, baseada em amor e lealdade, durante toda a vida, isento de qualquer concorrência ou outras associações".
Um Criador sábio e amável instituiu o matrimônio para o bem estar da humanidade.
Na Bíblia, o casamento é visto como o laço primordial da sociedade, o alicerce da vida social. O matrimônio é o vínculo entre duas pessoas, um macho e uma fêmea. O desígnio sábio do Criador para um relacionamento matrimonial é heterossexual e monógamo, não polígamo. A injunção reprodutiva obviamente exclui "casamentos" homossexuais. A exclusividade perfeita de Deus de "uma só carne" proíbe qualquer outro relacionamento como homossexualidade, poligamia, fornicação, adultério, concubinato, incesto, bestialidade e prostituição cultual. Estas, e outras perversões sexuais, são violações da união íntima do relacionamento matrimonial, e eram frequentemente punidas com morte (Lv 20:1-19; Dt 22:13-27).
Em vista de tudo o que foi exposto neste capítulo, é bom lembrar que Deus ajuntou o homem e a mulher quando estavam num estado de inocência. Portanto, o matrimônio é a intenção divina original para o homem e a mulher, e não a Sua solução por causa da entrada do pecado. O matrimônio é parte da criação e é o ideal exclusivo de Deus para o bem estar da humanidade.
(O ensino do Senhor sobre o divórcio - Por William M. Banks)
 
**************************************************************
Agora analisaremos algumas passagens bíblicas que faz referência ao divórcio:
 
 
Mateus 19:1-15
 
 
O contexto (vs. 1-2)
O contexto de Mateus 19 é interessante e instrutivo. "Concluindo Jesus estes discursos" (v. 1). (Veja 13:53 e 26:1, onde a mesma expressão é usada, e também 7:28, e 11:1, onde uma expressão parecida é usada.) O assunto do capo 18 é duplo: humildade (vs, 1-19) e perdão (vs.21-35). Estas qualidades são fundamentais para se ter um casamento bem sucedido, que é o assunto dos versículos no começo do cap.19.
Além disso, a localização geográfica é significante. Ele "saiu da Galiléia e dirigiu-se aos confins da Judéia, além do Jordão". Este era o território de Herodes, onde o assunto de um casamento impróprio já tinha sido tratado por João Batista. João falou corajosamente a Herodes: "Não te é lícito possuir a mulher do teu irmão" (Mc 6:18).Apesar de Herodes ter "casado com ela" (Mc 6:17), ela ainda era "a mulher de teu irmão". O segundo casamento não tinha desfeito o primeiro vínculo matrimonial.
O corajoso João sofreu a morte por ter falado fielmente sobre a indissolubilidade da união matrimonial e denunciado o infrator, Herodes. Portanto, a região da judéia, além do jordão, era um território hostil para se falar sobre divórcio. Os pensamentos de muitos, hoje em dia, também são desfavoráveis a este assunto.
As opiniões prevalecentes na Judéia, e em Israel em geral, eram muito divergentes.
Os seguidores de Hillel permitiam o divórcio por razões triviais, enquanto que os seguidores de Shamai somente permitiam o divórcio em casos de adultério.
Assim, quando os fariseus perguntaram ao Senhor sobre o divórcio, pensavam que qualquer resposta Lhe traria problemas.
Um ministério de cura (v.2) era necessário em tais circunstâncias de confusão e desânimo matrimonial. Qão mais necessário é nos nossos dias!
Foi neste contexto que surgiu a sessão de perguntas e respostas entre o Senhor e os fariseus. Não havia nenhum interesse real da parte deles - eles estavam simplesmente "tentando-o"! Infelizmente, muitos que fazem perguntas sobre este importante assunto, hoje em dia, não o fazem por ter um desejo sincero de aprender a verdade, mas meramente para apresentar assuntos para uma discussão inútil, semelhante às "fábulas e genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé" (I Tm 1:4).
 
A primeira pergunta e sua resposta (vs. 3-6)
A primeira pergunta é muito geral: "É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?" Não importa qual a resposta dada, com certeza haveria oposição - pensavam que a armadilha colocada por eles era perfeita!
Contudo, a resposta revelou seu problema fundamental: "Não tendes lido?" (v. 4). Uma leitura cuidadosa das Escrituras teria eliminado a necessidade da pergunta.
Qpantas vezes este é o caso hoje em dia! Mas, a qual Escritura o Senhor se referiu?
Ele não os levou aos livros proféticos (que teriam servido para dar ajuda prática ou experimental) nem aos livros históricos (que teriam revelado exemplos sobre o que tinha acontecido com a nação, no passado). Não, Ele os levou ao Livro dos princípios (Gênesis), à doutrina fundamental sobre o matrimônio; de fato os levou à primeira cerimônia de casamento e ao primeiro sermão sobre casamento, dado, não por homem algum, mas pelo próprio Criador.
"Aquele que os fez no princípio ... disse" (vs. 4-5). O Criador os fez e lhes deu ordens sobre as condições do casamento.
Deus está falando: "Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne" (v.5). O princípio é claro - uma unidade indivisível está sendo estabelecida - dois estão se tornando um só.
Citamos aqui J. D. Pentecost:
"Os fariseus consideravam o casamento como uma instituição social governada pelas leis de homens. Mas Cristo considerou o matrimônio como uma instituição divina governada pelas leis de Deus".
Observe a ordem "deixar ... unir ... ser ... ". O matrimônio inclui uma nova esfera de vida resultando do "deixar"; uma nova associação exemplificada pelo "unir" (permanentemente unidos como cola); e um novo relacionamento ao ser "uma só carne."
 
Repare que "serão dois numa só carne" é parte da citação do Criador "no princípio".
Esta citação é de Gn 2:24. A idéia de que mais do que dois podiam ser "uma só carne" não é contemplada. O Senhor conclui: ''Assim, não são mais dois, mas uma só carne" (v. 6).
Vemos claramente que este era o caso de Adão e Eva em Gênesis 2, antes de qualquer consumação física da união. Tais relações conjugais não começaram até Gn 4:1. Portanto, o relacionamento "uma só carne" está em vigor desde o momento do término da cerimônia matrimonial, que hoje é a declaração de que são marido e mulher. Não é a união física que a estabelece, alias, a união física só é permitida porque o casal já é uma só carne, que é uma união emocional e indissolúvel. Esta idéia é confirmada pelo Senhor, na Sua conclusão e no Seu resumo desta resposta à primeira pergunta: "Portanto, o que Deus "Juntou não o separe o homem".
Éincrível os esforços mentais e linguísticos que alguns fazem para tentar fazer esta frase simples significar algo diferente. A verdade é clara - Deus une, o homem separa. Contudo, esta atitude é completamente contrária à vontade de Deus e, com certeza, receberá um juízo severo.
 
 
A segunda pergunta e sua resposta (vs. 7-9)
Sendo silenciados pela referência do Senhor à ordem primitiva e divina na criação, que é claramente uma ordem permanente, os fariseus então resolveram fazer mais perguntas. Desta vez eles também mencionam as Escrituras, e agem de uma maneira que muitos fazem hoje - questionando: "Por que?" Agora fazem um apelo à "experiência". Havia um caso prático. Não foi assim que aconteceu no passado?
Agora pensavam que o Senhor não teria nenhuma saída.
"Por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?" Eles conheciam bem Deuteronômio 24 - este texto era mais agradável para eles do que Gn 2:24! Não estava aqui uma saída? Não estava o divórcio incluído na lei de Moisés?
É interessante ver que eles não citaram a profecia de Malaquias: "O Senhor, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio" (Ml 2:16). Eles perguntaram: "É lícito ao homem repudiar sua mulher?" - Deus o odeia! Mas este texto era muito doloroso para eles, e pensavam que Deuteronômio 24 lhes daria a saída procurada.
 
A resposta do Senhor foi devastadora ao pensamento deles. Devemos notar alguns aspectos desta resposta:
 
i) Era uma "permissão",não um "mandamento".Moisés vos "permitiu" repudiar vossas mulheres! Não há nenhuma desculpa para o uso dos fariseus da palavra "mandou". Deuteronômio 24 nunca é visto como um mandamento para divorciar-se (nem mesmo em Marcos 10); foi somente uma permissão, e com uma razão. A razão é dada pelo próprio Senhor, e mais conclusões podem ser deduzidas de Deuteronômio 24.
 
ii) Foi por causa "da dureza dos vossos corações"! A razão fundamental pela permissão dada foi a "dureza ... de coração". O homem que divorciou a sua mulher em Deuteronômio 24 era um homem" duro". Ele não tinha compaixão pela condição emocional da sua esposa. Seu único pensamento era gratificação egoísta. Certamente o Senhor está dizendo que isto não serve como argumento em favor do divórcio. O divórcio em Deuteronômio 24 é uma indicação de um espírito inflexível, com pouco respeito para com os sentimentos dos outros (e por isso era algo que Deus odiaval), Mas, por que, então, Moisés o permitiu? A razão é clara. Foi para proteger a dignidade da mulher. O divórcio foi permitido para que a mulher fosse salva de uma situação de abuso arrogante de um homem de coração duro. Em Deuteronômio 24 o casamento não fora consumado, senão o divórcio não teria sido possível (veja Dt 22:29) e, nessas circunstâncias, a mulher era inocente (e continuava virgem) depois do primeiro processo de divórcio (veja também o Capítulo 1 deste livro).
 
iii) Era contrário à intenção divina para o casamento. O uso da palavra "mas" é importante. Moisés permitiu, por causa da "dureza dos '" corações"; mas, em contraste com isso, o Senhor diz que "no princípio não foi assim" (v. 8). Este é o ideal divino. Doutrina nunca é baseada numa "permissão", mas nos padrões imutáveis que Deus decretou desde o princípio. Nunca foi a intenção de Deus que o divórcio fosse contemplado. Ele achou necessário regular o que nunca aprovou. Isso é visto claramente na próxima frase.
 
iv) Agora foi suplantada pela palavra autoritária de Cristo. "Eu vos digo".
A Sua Palavra é final. Deuteronômio 24 não é mais a base do mandato doutrinal, e portanto do mandato devoto para relacionamentos matrimoniais nesta dispensação presente (embora permaneça com autoridade no seu contexto). Eis aqui a afirmação final, autoritária, imutável e invariável do Filho de Deus: "Qualquer que repudiar sua mulher ... e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério". Esta afirmação é simples, absoluta e clara. O novo casamento é proibido para os que estão num relacionamento matrimonial. Mesmo que a separação (por qualquer motivo) seja uma possibilidade, o novo casamento não é. Aparentemente, a construção da gramática grega confirma esta conclusão, e os primeiros ensinadores, quase todos, tinham esta opinião. Isso é também plenamente consistente com o que foi dito antes, nesta passagem.
 
Mas existe uma exceção!A cláusula de exceção, traduzida aqui "não sendo por causa de fornicação" contém somente três palavras na língua original, e não existem outras três palavras que tem produzido tão grande montanhas de papel! Uma grande
estrutura tem sido construída sobre um alicerce muito fraco. Mesmo se aceitarmos esta frase como base para o divórcio, há dois fatores que precisamos notar:
 
i) Um novo casamento de quem se divorciou não é aprovado nesta passagem, eisto é consistente com todos os outros trechos do NT que tratam deste assunto, como Rm 7:1-3 e I Co 7:10-11.
 
ii) Baseado nesta passagem, somente o homem teria direito de divorciar a sua esposa; a passagem não dá licença para a mulher divorciar o seu marido.
 
O que, então, signiFica a cláusula de exceção?
 
Precisamos notar o uso das palavras "fornicação" ou "prostituição" (porneía) e "adultério" (moicháõ) na mesma passagem. Não há dúvida de que a palavra pomeía, quando usada sozinha, é uma palavra geral para pecados sexuais de vários tipos.
Contudo, quando é usada no mesmo contexto que a palavra moicháõ (veja também Gl 5:19, Hb 13:4), obviamente é importante fazer uma diferença. É claro que este é o caso aqui em Mt 19:9. Fornicação (porneía) é infidelidade sexual antes do casamento, e adultério é infidelidade sexual depois do casamento. Isso é consistente com o uso pelo Senhor da palavra porneía em outras passagens, como Mt 5:32, 15:19 e Mc 7:21. O Senhor usou somente a palavra pomeía para indicar infidelidade prénupcial. (Nas Bíblias em Português, a palavra grega pornéia é traduzida de diversas formas: "prostituição", "fornicação", ou "relações sexuais ilícitas".(N. do E.).)
 
Mas, se é infidelidade pré-marital que está em vista, por que a palavra é usada aqui no contexto de casamento e divórcio? O contexto geral nos ajuda este ponto.
Qpase todos concordam que Mateus escreveu tendo em mente o judeu, e com um pano de fundo dispensacional. O período ao qual o Senhor se refere é, sem dúvida, o período que os judeus chamavam de "desposamento". O primeiro capítulo deste Evangelho nos ajuda neste sentido. Aparentemente, este período no noivado judaico durava mais ou menos um ano. Durante este tempo, embora as relações sexuais eram proibidas até depois da cerimônia formal de casamento, o casal era considerado como marido e mulher (veja Mt 1:19-20). Infidelidade sexual durante, ou antes, deste período permitia que o marido repudiasse sua "mulher". José pensou que este era o caso com Maria, e "intentou deixá-la secretamente" (v. 19).
Portanto, considerando o contexto de Mateus 19, a única exceção que o Senhor tinha em mente era, obviamente, a imoralidade antes ou durante o período do desposado.
Isto explica o uso da palavra "fornicação" e não "adultério". Esta infidelidade permitiria que o "desposado" fosse desfeito, deixando o parceiro inocente livre para se casar (não casar de novo, pois o casamento formal ainda não tinha acontecido).
Um novo casamento (assim como o divórcio), nunca é contemplado no NT, enquanto o primeiro côniuge ainda vive. Um novo casamento nestas circunstâncias conduz ao estado de adultério perpétuo, quer a pessoa envolvida seja crente, crente professo ou descrente. Este estado de adultério perpétuo somente pode ser mudado se os envolvidos se separarem.
 
A reação dos discípulos (vs. 10-12)
A indissolubilidade absoluta do matrimônio, ensinada pelo Senhor, claramente surpreendeu os discípulos, até ao ponto de dizerem: "não convém casar". Se fosse tão permanente, então, talvez seria melhor ficar "eunuco"! Contudo, o Senhor indicou que permanecer sem se casar não é uma condição que "todos" poderiam aceitar. Há alguns que têm esta capacidade; e estes se dividem em três grupos: aqueles que nasceram assim, aqueles feitos eunucos por homens, e aqueles que, para viver uma vida separada para o serviço divino, estavam preparados a fazer o sacrifício necessário.
 
Vemos aqui, com clareza, que os discípulos não ficaram com nenhuma dúvida sobre as restrições colocadas pelo Senhor sobre pessoas casadas. Nem divórcio, nem um novo casamento eram uma possibilidade.
 
As crianças (vs. 13-15)
Talvez estranhemos que crianças sejam mencionadas aqui no contexto de matrimônio e divórcio. Não é o caso que as crianças, e especialmente as "criancinhas", são as que mais sofrem como resultado de um casamento desfeito? Com certeza o melhor ambiente para a criação dos filhos é um lar unido e carinhoso onde o ambiente de acolhimento e boas vindas e afeição é visto e conhecido. "Deixai os meninos e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus" (vs. 14-15).
 
Marcos 10:1-16
 
Está é uma passagem paralela àquela de Mateus 19. Embora haja muitas semelhanças nas duas passagens, também há algumas diferenças importantes. Estas diferenças serão enfatizadas agora ao examinarmos o trecho.
 
O contexto (v. 1)
No fim do capo9, o Senhor focaliza algumas coisas que podem causar ofensa aos discípulos:
"se a tua mão te escandalizar, corta-à" - V. 43
"se o teu pé te escandalizar, corta-o" - V. 45
"se o teu olho te escandalizar, lança-o fora" - V. 47
O Senhor está mostrando a importância daquilo que fazemos ("tua mão"), de onde vamos ("teu pé") e do que vemos ("teu olho"). Todo este ensino importante é dado no contexto de casamento e divórcio, e a última, especialmente, é a causa de cobiça que conduz a muitos outros pecados. A falta de cuidado com aquilo que vemos, ou lemos, também pode causar relacionamentos errados. "Tende sal ... e paz uns com os outros" (v.50). Estas coisas previnem muitos problemas!
 
Perguntas e respostas (vs. 2-9)
A localização geográfica é a mesma que em Mateus 19, e com as mesmas implicações.
Contudo, a primeira pergunta é um pouco mais geral do que aquela em Mateus: "E lícito ao homem repudiar sua mulher?" (v.2). Em outras palavras: será que o divórcio é uma possibilidade?
A resposta do Senhor é interessante: "Que vos mandou Moisés?" O Senhor está Se referindo aos escritos de Moisés como Ele fez em outros lugares nos Evangelhos, como Jo 8:5 e Lc 5:14.Já sabemos pelas palavras do Senhor em Mateus 19, que a linguagem de Deuteronômio 24 não foi um "mandamento", mas uma "permissão". Então, o que foi que Moisés "mandou"? Os vs. 6-8 deixam claro que o Senhor está se referindo a Gênesis 2 (que foi escrito por Moisés). O mandamento era bem claro! "Deixar ... unir ... ser uma só carne"!
A resposta dos fariseus à pergunta do Senhor indicou que eles pensavam que tinham uma base bíblica suficiente para praticar o divórcio. "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar". Sim, estavam certos! Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza dos seus corações, não por causa de um mandamento. O Senhor volta para o "mandamento" que veio do "princípio da criação", e chega à mesma conclusão relatada por Mateus: "Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem". Assim, a pergunta do v. 2 foi respondida conclusivamente, e baseada num mandamento divino!
 
As perguntas dos discípulos (vs. 10-13)
Há outro ponto em que o relato de Marcos é diferente ao de Mateus. Esta sessão de perguntas e respostas ocorreu em casa! Os discípulos aqui em Marcos procuraram mais elucidação sobre o que o Senhor tinha falado em Mt 19:9.Talvez a restrição absoluta fosse pesada demais para eles (veja Mt 19:10-12) - será que ainda podiam descobrir uma base para reduzir a força do mandamento do Senhor?
Se estavam pensando assim, o Senhor iria desapontá-los, Ele não apenas repetiu a restrição registrada em Mateus, mas Ele fez isto sem a cláusula de exceção, e também estendeu a restrição! Estes detalhes não foram falados a um grupo especifico.
Sendo que o matrimônio é criacionista e não exclusivamente cristão, os princípios têm aplicação universal:
"Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera contra ela. E, se a mulher deixar a seu marido, e casar com outro, adultera" (vs, 11-12).
 
Alguns detalhes que devemos notar
 
i) O novo casamento é totahnente proibido para pessoas casadas enquanto o cônjuge está vivo. A linguagem não deixa qualquer dúvida, é fácil de entender e absolutamente clara. Não pode existir dúvida sobre a importância desta afirmação do Senhor. Isso também nos ~uda a entender Mateus 19. É uma regra sadia de interpretação; devemos usar o que é muito claro em Marcos e Lucas, como base para entender o que é aparentemente menos claro e mais difícil de entender em Mateus. Assim, a passagem em Mateus tem de ser entendida como somente permitindo o término do noivado durante o período do desposado, isto é, um relacionamento fora da esfera do casamento formal. Se não, a passagem em Marcos é contraditória. Além disto, a autoridade a que Paulo se refere em I Coríntios 7, só pode ser uma referência a Marcos 10.
 
ii) Diferentemente da passagem em Mateus, aqui a possibilidade de uma mulher divorciar seu marido é mencionada. Não há menção desta possibilidade em Mateus, no contexto judaico. Marcos está escrevendo para outros leitores.
Ele escreve para os romanos. No contexto romano aparentemente era comum a mulher divorciar o seu marido e casar-se novamente. O Senhor está indicando que isto não é permissível- o novo casamento produz o estado do adultério perpétuo.
 
iii) Não há uma cláusula de exceção. A razão é óbvia - não existe exceção! O período do desposamento, tão bem conhecido pelos leitores judaicos do evangelho de Mateus, simplesmente não se aplicava aos leitores gentios de Marcos.
Não haveria contratos formais de noivado a serem desfeitos, porque tais contratos não existiam. No mundo dos gentios os que estavam noivos não eram conhecidos como "marido" e "mulher" e, portanto, "divórcio", como exceção, não seria apropriado. A linguagem dos vs. 11-12 nunca foi anulada para a dispensação presente. Épermanente e não deixa lugar para dúvidas. Aqueles que usam a exceção para permitir o divórcio para os legalmente casados, fazem isto contra o ensino claro desta passagem. Além disto, é improvável que aqueles que ensinam a possibilidade do divórcio, por causa de adultério, ficarão apenas com esta única exceção. Já em igrejas do povo de Deus muitas outras razões, como deserção e incompatibilidade, estão sendo usadas para justificar o divórcio, e com consequências devastadoras. Uma vez que a porta se abre, é quase impossível parar a inundação de pecado.
 
As crianças (vs. 13-16).
Como em Mateus, as crianças são mencionadas aqui e pela mesma razão. É lindo ver que embora pudessem ser maltratadas pelas crueldades de divórcio e novo casamento, o Senhor "tomando-os nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou" (v. 16).
 
Mateus 5:27-32
 
O Contexto
A passagem tem um contexto duplo. É parte do primeiro "Sermão do monte" no Evangelho de Mateus. Este "sermão", obviamente, tem conotações judaicas, embora naturalmente contendo princípios para todos. É, sem dúvida, o "Manifesto do Rei". Os detalhes todos somente serão cumpridos quando o Rei reinar. Isso quer dizer que a interpretação dos versículos tem de ser feita tendo em mente este contexto.
Adicionalmente, os detalhes dos versículos imediatamente precedendo os vs. 31 e 32 são semelhantes àqueles achados no final de Marcos 9.
 
"se teu olho direito te escandalizar, arranca-o" - v. 29
"se tua mão direita te escandalizar, corta-à' - v. 30.
 
A razão da necessidade de se arrancar o olho é dada nos vs. 27 e 28 - o olho pode ser usado para olhar com desejo impuro, causando adultério no coração e, sem dúvida, conduzindo também ao ato de adultério. A mão também pode ser usada para cumprir o desejo impuro do olho. Qual o significado disto no contexto de casamento e divórcio? Lamentavelmente, estas coisas podem conduzir ao estado de adultério perpétuo, como resultado do divórcio. O Senhor deseja que isto seja evitado.
 
O contraste (vs. 31-32)
"Também foi dito ... Eu, porém vos digo". A permissão ("dê lhe carta") agora é substituída. Foi dada por razões particulares, detalhadas no capo 19.A situação é diferente agora. Nenhuma carta de desquite é possível. A única base para deixá-la é a infidelidade pré-marital durante o período do desposado judaico - exatamente como temos visto nos detalhes do cap 19.
 
Há, porém, quatro detalhes importantes aqui:
 
i) A construção do versículo prova que "fornicação" ou "prostitição" (porneía) não pode ser "adultério", caso contrário a expressão "faz que" seria totalmente inapropriada: "Qpalquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de adultério, faz que ela cometa adultério". Isto seria uma tautologia.("Vício de linguagem que consiste em dizer, por formas diversas, sempre a mesma coisa" (Dicionário Aurélio) - ou seja, uma repetição sem sentido e incoerente (N. do E.).) Como ela poderia ser levada a cometer aquilo que já estava cometendo? Se fornicação ou prostituição é o mesmo que adultério, ela simplesmente iria continuar a cometer o que já estava cometendo, em vez de entrar numa nova esfera de atividade proibida. Obviamente, "fornicação" ou "prostituição" aqui não pode ser "adultério".
O Senhor sempre usou palavras precisas. Compare o Seu uso da palavra "adúltera" em Mt 12:39; 16:4 e Me 8:38, em relação à situação espiritual da nação, "transferindo suas afeições de Deus". Poderíamos pensar que "fornicação" seria a palavra mais apropriada aqui. Contudo, o Senhor somente usou a palavra "fornicação" quando Se referia exclusivamente ao pecado pré-marital, nos Seus discursos públicos. Este uso é também confirmado pelo seu uso pelos adversários em João 8. A mulher foi pega em "adultério" (moicháõ) no v. 3. Todavia, no v. 41, eles acusam o Senhor, sugerindo que Ele nasceu fora do matrimônio quando dizem "nós não somos nascidos de prostituição" (porneía).
ü) A mulher que é repudiada é levada a cometer adultério junto com a pessoa que casa com ela. Esta é a única vez, no ensino do Senhor, que a mulher divorciada é chamada adúltera. Isto completa o quadro. As pessoas culpadas de adultério nas quatro passagens onde o Senhor se refere ao divórcio são as abaixo mencionadas:
 
O marido que repudia.... Mt 19:9; Mc 10:11; Lc 16:18
A mulher que repudia.... Mc 10:12
A mulher que é repudiada... Mt5:32
A pessoa que se casa com a mulher repudiada... Mt 5:32; 19:9; Lc 16:18
 
Portanto, o ensino de Mateus 5 está em perfeita harmonia com o de Mateus 19 e o de Marcos 10, indicando a natureza indissolúvel do vínculo matrimonial.
 
iii) Não há possibilidade de um novo casamento para o cônjuge "inocente". É possível que a mulher que é repudiada, no v. 32, seja totalmente inocente de qualquer má conduta. Talvez ela foi repudiada por causa da"dureza do coração do seu marido, mas, mesmo neste caso, o novo casamento simplesmente não é considerado como uma possibilidade.
 
iv) Ainiciativado divórcio se aplica exclusivamente ao homem. Se o Evangelho de Mateus fosse usado para justificar o divórcio, ou novo casamento, então apenas o homem poderia iniciar o processo! Para uma mente equilibrada, a conclusão é claríssima - nem o divórcio, nem o novo casamento, é permitido!
 
Lucas 16:18
 
Este versículo em Lucas é a última referência que temos ao ensino do Senhor sobre este assunto. Há dois fatores importantes a destacar:
 
O contexto
Este versículo parece estar fora de contexto. Contudo, há três coisas que devem ser observadas. A primeira é que, no contexto, o Senhor está enfatizando impossibilidades, por exemplo:
 
i) "Não podeis servir a Deus e a Mamom" (16:13);
ii) "... os que quisessem passar daqui para vós não poderiam" (16:26).
iü) Também, é impossível "cair um til da lei" (v. 17).
iv) Assim, também o divórcio é impossível!
 
O segundo assunto enfatizado é o contraste entre o que é de "grande estima" e o que é de "pouca estima" Os fariseus "que eram avarentos" (v. 14) claramente enalteciam a busca pela riqueza e possessões. Mas isto era "abominação perante Deus" (v. 15). Nos vs. 16-18 o que eles estimavam pouco em relação à lei e ao matrimônio, era o que Deus elevava. Eles desprezavam a lei e os profetas e o padrão divino para o matrimônio. Porque davam pouco valor ao casamento, o divórcio e novo casamento eram comuns entre eles. O que eles desprezavam, Deus elevava.
O que segue também enfatiza este mesmo contraste. O que os homens estimam muito é agora representado pelo homem rico que perece. O mendigo pobre e pouco estimado pelos homens, representando a fé na Palavra de Deus (ilustrado pela referência ao seio de Abraão, o pai dos fieis) é abençoado.
O terceiro aspecto do contexto imediato é a ligação com "a lei" (vs, 17-18).Aqui no v. 18 a lei do matrimônio está implícita: não pode falhar! Vem desde o "princípio", como vemos em Mateus 19 e Marcos 10, assim dando a base para os princípios que indicam a continuidade e a estabilidade do relacionamento matrimonial.
 
A ausência da cláusula de exceção
Lucas (um gentio) está escrevendo para gentios - assim não há a cláusula de exceção. O ensino deste versículo é imutável e, portanto, pertinente e permanente nesta presente dispensação. Não poderia haver uma afirmação mais clara sobre a indissolubilidade do vínculo matrimonial.
 
 
Leia mais sobre este assunto, no livro "Divórcio", publicado pele editora: Sã Doutrina
 
Por James D. McColl

 

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com