53) O filho Pródigo Lc 15:11-32 
 
1. O Filho dá as costas ao lar paterno e desperdiça a sua herança em terra longínqua: v.11-13. 
2. As duras consequências e o inútil esforço para restabelecer-se com recursos próprios: v.14-16. 
3. O despertar da consciência e a conversão do filho: v. 17-20a. 
4. A amorosa recepção e a grande alegria no lar paterno: v.20-24. 
5. A amargurado filho mais velho: v.25-32. 
 
[Introdução: Nas duas parábolas anteriores, foi demonstrado o empenho do Senhor Jesus, o Bom Pastor, e a silenciosa atuação do Espírito Santo. Nesta terceira parábola, veremos o infinito amor de Deus, o Pai, que acolhe o filho que regressa, ou seja, o pecador que cai em si e se converte. É, portanto, o Deus triuno que em Sua graça busca e salva o pecador. Ao mesmo tempo, nessa terceira parábola é desvendado um aspecto novo da verdade: a ovelha teve de esperar inativa, até que o pastor a procurasse na mata e a salvasse; a moeda de prata estava imóvel entre a sujeira, até que a mulher, empregando a luz, a procurou e achou. 
Talvez alguém possa perguntar: a graça faz tudo, e o pecador perdido, não faz nada por sua salvação? Esta parábola dá a resposta: o pecador precisa cair em si e se converter, retornar de seu caminho.]
 
Explicação e ensinamentos: 
O filho tinha uma vida confortável no seu lar, e sempre teria tido. Mas um dia o inimigo suscita dúvidas no coração a respeito do amor do Pai e quanto à felicidade no lar. Ao mesmo tempo o desejo de estar independente lhe diz que lá fora é melhor e mais bonito. É como a história do primeiro homem, no paraíso, onde estava feliz. Satanás venceu: Adão caiu. 
Longe do lar paterno, o filho vivia como hoje o homem caído vive no mundo, na concupiscência dos olhos, nos desejos da carne e na soberba da vida. O homem agora procura a sua satisfação e sua felicidade em coisas terrenas, carnais e diabólicas. 
Assim como o filho, que logo começou a padecer necessidade, assim também o homem, hoje, padece de doenças físicas e espirituais, pobreza e todo o tipo de miséria. Lemos que "Ele começou a padecer necessidades”. A necessidade, a miséria, embora comece aqui na terra, será extrema na eternidade. 
Mas, o filho não voltou logo ao lar paterno quando começou a padecer necessidades. Em seu orgulho, primeiramente tentou se acudira si mesmo. Assim, também, o pecador, quando se dá conta da sua culpa, não se arrepende imediatamente. Ele tenta pagar a culpa sozinho, procura rebaixa-Ia, melhorar a si mesmo, mas não consegue. Falta-lhe o poder para isso. O coração está enfermo e corrompido pelo pecado. O filho pródigo, por fim, foi parar com os porcos. Como decaiu! Quem teria reconhecido neste esfarrapado jovem, o filho de um homem rico? Ele padecia fome, e não lhe davam nem sequer comida de porcos. Quão decaído está também o homem em seus pecados! Pode-se ainda notar que foi criado à imagem de Deus, destinado a ser filho do eterno, bondoso e Santo Deus!? (* Ef 2:8; *Tt 3:3). 
 
O despertar da consciência e a conversão: 
Finalmente o coração e a consciência caem em si - na hora da aflição! O Filho começou a meditar sobre a felicidade no rico lar paterno, e que ele havia menosprezado. O mesmo já tem ocorrido com milhares de corações rebeldes: Deus, por meio da necessidade ou sofrimentos, faz despertar neles um anseio pela paz com Deus. O Filho pródigo não somente disse: "Levantar¬-me-ei", mas lemos também: "E, levantando-se foi para o seu pai". Não foi um mero propósito sem cumprimento, como acontece em muitos casos, mas uma verdadeira angústia da alma e uma conversão. 
Descreva o regresso do filho pródigo que, hesitante, miserável, de passos lentos se aproxima do rico lar paterno. Talvez ele estivesse meditando em como seria a recepção; o que ele iria dizer; por acaso não o mandariam embora? 
Comente também a tristeza do pai, durante todo esse tempo; o seu anseio pelo filho perdido. Como diariamente ele espreitava à espera do filho, talvez até subindo ao terraço, para ver ao longe. 
 
A calorosa e amável recepção: 
Finalmente o olho do pai descobre o filho, que está retomando. A toda pressa o pai vai ao encontro dele. O filho se aproxima vagarosamente, mas o pai se apressa e se lhe lança ao pescoço, e o beija, assim como está: todo em farrapos. Ele está miserável, uma verdadeira lástima, e o coração quebrantado. O filho inicia a confissão que propusera: 
"Pai", ele diz, etc... Mas a última parte, aquela que dizia: "Faze-me como um dos teus jornaleiros", ele não ousou falar. Ele sentia que seu pai, cujo coração, cuja graça e amor ele somente estava conhecendo agora, jamais permitiria que ele se tornasse um empregado. Ou ele seria acolhido como filho, ou não seria acolhido. Assim Deus acolhe o pecador em plena graça e amor. Nós não vemos nenhuma palavra de censura, uma vez que o filho voltou e condenou totalmente sua própria conduta. 
Conquanto o pai tenha abraçado e beijado o filho arrependido) ele não pode, contudo, recebê-lo em casa assim como este está. Ele precisa estar condizente com a casa paterna. Os farrapos que vestem um escravo do pecado já não podem continuar a cobri-lo. A melhor e mais nobre veste da casa é trazida para que se vista com ela. Com certeza esta veste é uma figura da justiça de Deus, que o crente possui em Cristo (* 2 Co 5:21; Is 61:10). Também é posto um anel de ouro na sua mão, uma figura de ligação e unidade, de comunhão (* 1 Jo 1 :3) e ainda mais sandálias, que vêm a calçar seus pés desnudos, e que são uma figura de força e firmeza para caminhar e testemunhar para Deus (Ef 6:15); Só assim o filho pródigo está condizente para a recepção na casa paterna. E desse mesmo modo que Deus, o Pai, por meio do Senhor Jesus, toma o pecador apto para a herança celestial. (* Cl 1:12-14). Mataram o bezerro cevado mantido à disposição, e que lembra as bênçãos em Cristo, que segundo o propósito de Deus viriam a ser a parte dos redimidos. Começa uma festa com música e danças. Lemos aí: "E começaram a alegrar-se" (v.24). A alegria da salvação começa já na terra, do mesmo modo como a necessidade e a miséria do pecador, também já se iniciam aquém do túmulo (v. 14). A plena felicidade do crente é, porém, somente no céu, na glória eterna do lar paternal, onde o crente estará para sempre com o Senhor (1 Ts 4:17). 
 
A amargurado filho mais velho, (contraste entre Lei e Graça): 
Enquanto todos se alegram na casa do pai, o irmão mais velho está indignado. Este é uma figura dos judeus (Ex 4:22), a saber, debaixo da lei. Debaixo da lei não havia alegria (Lc 15:29). O homem atribuía a si um mérito, contudo não era realmente justo perante Deus (Rm 3:20; Gl 3:11). E somente a Graça de Deus que concede justiça e bem- -aventurança (Rm 4:6-8), paz e alegria. (* Rm 5:1 e *Rm 14:7). Como é duro o coração do filho mais velho, em sua justiça própria! (Compare com Lc 18: 11-o fariseu no templo). Ele próprio não goza de alegria, e está indignado com a alegria do pai e do irmão que foi salvo. Ele até censura o pai, duramente, e não se refere ao seu irmão na qualidade de "irmão", mas diz: "Este teu filho". Quão difícil é salvar uma pessoa justa aos seus próprios olhos! Tal pessoa não somente desconhece o próprio coração, mas também o amor e a santidade de Deus. 
O filho pródigo tipifica cada pecador que é salvo pela Graça, mas também é figura das nações gentias: Elas estavam longe (Ef 2:13), enquanto os judeus (dos quais ficou dito acima que, referente ao caráter da auto-justiça, o "filho mais velho" era uma figura) estavam perto (Ef 2: 17). Assim os judeus se indignavam pela conversão e salvação dos gentios e se opunham, por exemplo, ao trabalho e à pregação do apóstolo Paulo, que era "o apóstolo dos gentios" (At 22:21-22, 1 Ts 2:14¬16). 
Vemos, então, que essas três parábolas, juntas mostram a operação do Deus triuno, concorrendo para a conversão e salvação do homem perdido (compare com a introdução, pg. 280). 
 
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