Justificação

Justificação
 
 
 
James D. McColl, Austrália.
 
 
A justificação exigida judicialmente
 
―… para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus‖ (Rm 3:19). ―… para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus‖ (Rm 3:26).
 
O ponto central da mensagem de Deus ao mundo, que revela o Seu propósito de redenção, é a condenação e a justificação. Romanos 3:19 proclama, categoricamente, a condenação universal, e Paulo usa a analogia de um tribunal judicial para ilustrar este assunto.
Todos já foram julgados perante o tribunal da justiça Divina, e declarados culpados e condenados. A mensagem de Deus também proclama alegremente a justificação para os culpados, mas nesta ordem. Se o homem não é pecador, não há necessidade de justificação. O pano de fundo da graça justificadora de Deus é a culpa da raça humana. Em Romanos 1:18-3:31, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, é visto como o advogado oficial de acusação. Ele identifica três classes na humanidade, e isto inclui todos, sem exceção. Cada membro da raça de Adão é acusado e achado culpado.
1. Ele acusa o pagão pervertido (Rm 1:18-32)
Deus revelou-Se a eles na criação, externamente, e nas suas consciências, internamente. O homem, sendo um ser racional e moral, tem a responsabilidade e a capacidade de responder à revelação de Deus na criação, e à voz de Deus na sua própria consciência. Quer ouça ou não o Evangelho, aquela pessoa não tem desculpa e é responsável perante Deus para aprovar o que é certo e rejeitar o que é errado. Os pagãos, ao negligenciarem sua responsabilidade, se tornaram culpados de:
i) Perversão — ―que detêm a verdade em injustiça‖, literalmente, ―subjugam a verdade em injustiça‖ (1:18).
ii) Irreverência — ―não O glorificam como Deus‖ (1:21).
iii) Orgulho — ―se desvaneceram e o seu coração insensato se obscureceu‖ (1:21b-22).
iv) Idolatria — ―mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis … mudaram a verdade de Deus em mentira‖ (1:23, 25).
v) Sensualidade — ―Deus os entregou às concupiscências … paixões infames … sensualidade … sentimento perverso‖ (1:24, 26-28).
vi) Maldade — ―cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade …‖ (1:29).
Paulo conclui em 1:32: ―… são dignos de morte os que tais coisas praticam‖. Ser ―dignos de morte‖ é o veredicto da penalidade de Deus sobre o pecado, e significa a morte eterna.
2. Ele acusa o filósofo polido (Rm 2:1-16)
―Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas o outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo‖ (2:1).
Este grupo pode incluir o gentio culto e também o judeu religioso. Havia muitos moralistas cultos e filósofos, na Grécia e em Roma, que não se afundaram nas condições sórdidas mencionadas em Romanos 1, e cujos dons intelectuais eram usados para exaltar sua mitologia pagã, que era realmente a adoração de demônios. Estes atos
deploráveis de adoração nos lembram que a civilização e a religiosidade não são proteção alguma contra o mal ou a injustiça. Este espírito de justiça própria era demonstrado no fariseu religioso que agradeceu a Deus por não ser ―como os demais homens‖ (Lc 18:11).
Estas pessoas imaginam que estão assentadas no banco do juiz, quando na realidade estão em pé diante do tribunal, perante o juiz, e expostos à mesma condenação.
3. Ele acusa o fariseu privilegiado (Rm 2:17-3:8)
―Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; e sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei‖ (2:17-18) .
O judeu ritualista é confrontado aqui nos seus próprios termos. Suas reivindicações, privilégios, superioridade e ortodoxia lhe davam a aparência de estar certo, mas sua vida o condenava. Ele abusava da confiança recebida, fazendo com que o nome em que se gloriava viesse a ser ―blasfemado entre os gentios‖ (2:24).
a) Os privilégios do judeu são examinados (2:17-20)
O judeu tinha uma linhagem e podia traçar sua família até Abraão. Saulo de Tarso também se vangloriava nisto: ―Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu‖ (Fp 3:5). O privilégio do judeu tinha se tornado uma capa com a qual ele procurava esconder a sua iniquidade e cobiça.
b) As práticas do judeu são expostas (2:21-24)
O v. 23 diz: ―Tu, que glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?‖ Seu comportamento contradizia e condenava seu orgulho.
c) A posição do judeu é explicada (2:25-29)
―Se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão‖. Aqui, o judeu ritualista foi avisado contra o perigo de descansar num símbolo exterior enquanto faltava-lhe a realidade interior.
O veredicto final sobre o judeu e o gentio aparece em Romanos 3:19-20. Ambos eram réus perante o tribunal. A Palavra de Deus, entronizada no selo da justiça, resumiu o caso e pronunciou a sentença justa: ―… que toda boca esteja fechada e todo mundo seja condenável diante de Deus‖ (3:19).
Todas as vozes de defesa e justiça própria foram silenciadas para sempre. Deus podia então falar em misericórdia e graça aos culpados.
A justificação definida biblicamente
Os assuntos da culpa humana e da graça de Deus são plenamente e fielmente considerados em Romanos caps. 1-4. A graça de Deus, independentemente da lei, tem procurado a bênção da justificação para cada pecador que crê. Isso foi conseguido ―pela redenção que há em Cristo Jesus‖ (Rm 3:24).
Mas o que significa ser justificado? Qual é sua definição bíblica?
A palavra ―justificado‖ muitas vezes é definida ―como se nunca tivesse pecado‖. Mas isso significaria um estado de inocência, e esta definição não é bíblica. A justificação sempre está ligada à culpa, como Romanos 5:16 claramente explica: ―E não foi assim o dom como a ofensa. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para a condenação‖. Paulo está dizendo que aquela uma só ofensa de Adão trouxe o juízo inevitável, e o veredicto foi ―condenação‖. Mas, o dom gratuito de Cristo tratou eficazmente com muitas ofensas, não somente uma — e o resultado do veredicto foi ―absolvição‖. Ele enfatiza as diferenças entre o terrível resultado de um só pecado e a
tremenda libertação efetuada para muitos pecados e, no final, entre os veredictos de condenação e justificação.
Além disso, a justificação não significa que o crente é ―feito justo‖, pois isto o tornaria igual a Deus no Seu caráter essencial. De acordo com o Dicionário de Palavras do Novo Testamento de W. E. Vine, ―ser justificado‖ significa ―declarado justo ou pronunciado justo‖.
Uma consideração cuidadosa de todas as Escrituras ligadas com o assunto nos permite compreender que a justificação significa a absolvição dos culpados perante o tribunal da justiça de Deus, declarados justos e trazidos a um novo e correto relacionamento com Ele. A justificação é a absolvição legal e formal de culpa, e Deus é o Juiz. Ser justificado através da Pessoa e morte do Senhor Jesus Cristo muito ultrapassa, em bênçãos, o que o ato de Adão e os seus resultados causaram de perda e ruína.
A justificação dispensada gratuitamente
Muitos séculos atrás, Bildade fez duas perguntas importantes. Sua primeira pergunta foi: ―Como, pois, seria justo o homem para com Deus?‖ (Jó 25:4). A resposta a esta pergunta se encontra em Romanos 5:1-11: ―Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus‖ (5:1). Sua segunda pergunta foi: ―E como seria puro aquele que nasce de mulher?‖ (Jó 25:4). Encontramos a resposta a esta pergunta em Romanos 5:12-21, ―Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo … assim pela obediência de um muitos serão feitos [constituídos] justos‖. Já foi estabelecido nos cap. 1-5 que a humanidade é culpada e precisa ser justificada, e que sendo culpada está sujeita ao justo juízo de Deus por causa do pecado. Vemos claramente que, antes da necessidade do pecador poder ser suprida, ainda há a mais urgente questão sobre como satisfazer as reivindicações de Deus. Estas reivindicações da justiça de Deus precisam ser satisfeitas, antes que um único pecador possa ser justificado. Romanos 3:24-26 mostra claramente que tais exigências foram totalmente satisfeitas na Pessoa e sacrifício propiciatório do Senhor Jesus Cristo. Agora 3:26 declara triunfantemente: ―… para que Ele seja justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus‖.
Está escrito que o crente é justificado:
1. Pela graça — sua fonte
―Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus‖ (Rm 3:24).
Isto é dado gratuitamente. A palavra ―gratuitamente‖ é traduzida em João 15:25 ―Odiaram-me sem causa‖. É pela graça, porque a liberalidade espontânea de Deus é a única razão para tal ato da parte de Deus. O Evangelho da graça de Deus conta como Ele justifica pecadores por um dom gratuito e por um ato de favor imerecido. Não pode ser obtido em troca de algo. Só pode ser aceito. Visto que é pela graça, não pode ser merecido. É dado e recebido sem nenhum merecimento.
Soberana graça! Sobre o pecado abundando, Almas remidas a nova vão apregoar: É profunda, qualquer medida desafiando; Quem suas dimensões pode contar? Nas suas glórias quero sempre meditar.
J. Kent (tradução literal)
2. Pelo sangue — sua causa
―Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira‖ (Rm 5:9).
É pelo sangue, porque é necessário haver uma base justa sobre a qual Deus pode agir, e uma que dará uma resposta indisputável ao universo. Esta resposta está no Seu sangue: ―justificados pelo [em, no grego] seu sangue‖. Esta é a aplicação da Sua morte, apropriada pela fé, reconhecendo que o Seu sangue foi o preço que foi pago.
3. Pela fé — seu meio
―Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo‖ (Rm 5:1).
É pela fé, porque este é o princípio pelo qual todas as bênçãos são recebidas de Deus. É a mão vazia estendida para receber o dom da justificação. Fé é descansar na Palavra de Deus. É a certeza de que o que Ele prometeu, Ele fará.
A apresentação magistral de Paulo deste assunto da justificação, na Epístola aos Romanos, tem suas origens na parábola contada pelo Senhor Jesus em Lucas 18:9-14. A parábola do publicano e do fariseu foi dirigida aos ―que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros‖. A história revela que embora a justificação esteja disponível a todos, uma atitude apropriada e correta é necessária. O homem que ―desceu justificado para sua casa‖ foi aquele que reconheceu que era pecador, e fez a sua súplica baseado em um sacrifício.
Considere:
a) A sua aproximação
Em contraste com o fariseu que se posicionou no átrio externo do templo, o publicano ficou ―em pé, de longe‖. Ele percebeu a sua indignidade de estar entre os adoradores, e de estar dentro dos limites sagrados. Ele sabia que, moralmente, ele estava longe de Deus.
b) A sua atitude
Para ele, o Céu era tão santo que ele ―nem ainda queria levantar seus olhos‖ naquela direção. Não era lugar para um homem como ele.
c) A sua ação
O publicano ―batia no peito‖ em auto condenação, estando inteiramente convicto dos seus pecados. Em contraste, o fariseu exibia as suas aparentes virtudes e atos de piedade —sua oração era egocêntrica, chamando atenção a si mesmo. Como Caim, ele trouxe a Deus o produto das suas próprias mãos. Ele contou a Deus o que ele não era e o que ele fazia, mas ele não disse o que ele era.
d) O seu apelo
―Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!‖ Este foi seu único pedido. Lá no átrio estava o grande altar de bronze, onde o sacrifício era colocado. Suas palavras também podem ser traduzidas: ―Ó Deus, sê propício a mim, pecador!‖ (ARA). O sangue da propiciação é a única esperança para os culpados. O sacrifício perfeito do Senhor Jesus deu a Deus a resposta para a culpa humana e o direito de justificar o culpado.
e) A absolvição e afirmação
―Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele‖. Que palavras preciosas! O Deus que declarou todos culpados, pela virtude do infinito sacrifício do Seu Filho, agora pode declarar o crente justo. O paralelo entre esta parábola em Lucas 18 e Romanos caps. 1-5 é de fato impressionante e muito precioso.
i) O publicano não tinha mérito pessoal, não ofereceu nenhuma obra, mas foi justificado gratuitamente. Isso corresponde a ―justificados pela graça‖ (Rm 3:24).
ii) Sua única esperança era o sacrifício de propiciação. Isso corresponde a ―justificados pelo sangue‖ (Rm 5:9).
iii) Aquele que confessou ser pecador, fazendo a sua petição, foi declarado justo. Isso corresponde a ―justificados pela fé‖ (Rm 5:1).
A justificação decidida irrevogavelmente
Romanos 8:31-39 é a gloriosa consumação da parte doutrinária desta Epístola. O escritor já destacou a justiça e graça de Deus em relação aos assuntos de condenação, justificação, santificação e glorificação, de uma maneira magnífica. Os versículos finais do capítulo são um resumo maravilhoso, salientando quatro perguntas e respostas importantes.
1. Nenhuma refutação
―Se Deus é por nós, quem será contra nós?‖ (Rm 8:31,32)
a) A declaração
―Se (sendo que) Deus é por nós …‖. Que segurança maravilhosa! Os versículos anteriores deixam este fato muito claro, mostrando que Ele está trabalhando para o bem eterno do Seu povo: ―porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformados à imagem de Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou‖ (Rm 8:29-30).
―Conheceu … predestinou … chamou … justificou … glorificou. Estas palavras descrevem o plano Divino em ação. Estes dois versículos (Rm 8:29-30) contêm uma das mais abrangentes declarações da Bíblia, e contêm também algumas das palavras mas importantes do vocabulário cristão, e abrangem uma vasta área dos fatos e natureza da fé cristã. O v. 29 atribui toda a atividade do plano de Deus à Sua presciência, enquanto que o v. 30 descreve como o próprio Deus está cumprindo este plano no tempo. Foi Ele que conheceu; Ele predestinou, Ele chama; Ele justifica; Ele glorifica. Mérito humano, ou justiça própria, ou realizações estão totalmente excluídos.‖
b) A pergunta
―Quem será contra nós?‖ Isso não sugere a ausência de adversários, mas confirma que nada no universo impedirá o cumprimento da vontade de Deus em assegurar o eterno bem dos Seus santos.
c) A resposta
―Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?‖ (8:32). A dádiva generosa de Deus, dando Seu Filho singular, é a garantia de todos os outros benefícios. A magnificência deste amor somente pode ser medida pela grandeza infinita dAquele que é descrito como ―Seu próprio Filho‖. Isso significa que Deus não tem outro Filho igual, e este relacionamento exclusivo com o Filho colocou-O separado de todos os outros no vasto universo de Deus, sejam eles a humanidade redimida ou os anjos não caídos.
2. Nenhuma acusação
―Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica‖ (Rm 8:3).
Aqui temos uma referência clara ao desafio do perfeito Servo de Deus. ―Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? … Quem é meu adversário? Chegue-se para mim. Eis que o Senhor Deus me ajuda; quem há que me condene?‖ (Is 50:8-9). Quem pode levar ao juízo aqueles que são os eleitos de Deus? Será que Deus os acusará depois de tê-los declarado inocentes? Os primeiros capítulos de Romanos confirmaram que nenhuma acusação será bem sucedida se Deus, que é o Juiz, os declara justos.
3. Nenhuma condenação
―Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós‖ (Rm 8:34).
Neste versículo vemos quatro grandes fatos:
a) O fato da sua morte
A ênfase está na natureza da Pessoa que morreu. Deus silencia toda condenação porque foi Cristo que morreu. Ele não era sujeito à penalidade de morte, mas pagou a penalidade em prol de outros. Em II Coríntios 5:21, Paulo deixa isto muito claro: ―Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus‖. O crente no Senhor Jesus se torna tudo que Deus requer e o que ele nunca poderia ser por si mesmo. É ―nEle‖ que somos considerados justos. A expressão em Romanos 4:11: ―… a fim de que também a justiça lhes seja imputada‖ pode ser traduzida: ―a fim de que sejam contados ou considerados justos‖. A palavra grega logizomai, usada onze vezes em Romanos 4, é traduzida de maneiras diferentes: ―atribuído‖, ―tomar em conta‖, ―imputado‖. Significa levar em conta ou calcular. A fé de Abraão foi imputada como justiça. Isso não significa ―a fim de ser justo‖, ou ―no lugar da justiça‖. II Coríntios 5:21 está destacando o fato que o crente tem uma posição perfeita no Senhor Jesus Cristo. A fé coloca o crente numa união fundamental com Deusem Cristo.
b) O fato da sua ressurreição
―Quem ressuscitou dentre os mortos …‖. Paulo já mostrou este fato: ―o qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação‖ (Rm 4:25). As preposições ―por‖ e ―para‖ neste versículo são traduções de dia (―por causa de‖); Cristo foi entregue para fazer expiação pelos pecados e foi ressuscitado para garantir a justificação deles.
c) O fato da sua ascensão
―O qual está à direita de Deus‖. A ressurreição do nosso Senhor Jesus provou, conclusivamente, que Ele não estava preso à morte. A Sua ascensão à direita de Deus complementa esse fato.
d) O fato da sua intercessão
―Também intercede por nós‖. Se o Senhor Jesus, a quem todo juízo foi dado, não sentencia o acusado, mas antes intercede por ele, então não há mais ninguém que teria uma razão válida para condená-lo.
4. Nenhuma separação
―Quem nos separará do amor de Cristo?‖ (Rm 8:35). Paulo agora lança o desafio, e com eloquência notável torna o assunto incontestável. Ele nomeia sete poderes ameaçadores, mas nenhum deles pode quebrar o vínculo, ou separar o crente do Senhor Jesus Cristo. Este é o clímax da declaração de Paulo sobre a segurança eterna do salvo.
A justificação demonstrada pelas evidências
―Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé‖ (Tg 2:24).
Uma leitura superficial desta afirmação parece contradizer a grande doutrina bíblica de justificação pela fé, que tem sido o tema central do nosso estudo. Paulo insiste: ―Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei‖ (Rm 3:28).
Se Paulo e Tiago estão em conflito, então o Novo Testamento todo está em ruínas, e a autoridade e unidade das Escrituras estão destruídas. Martinho Lutero descreveu a Epístola de Tiago como ―uma epístola de palha‖. Mas não há nenhuma contradição!
Quando Paulo trata do assunto da justificação, ele foca na experiência inicial, no momento quando o pecador aceita o Senhor Jesus como Salvador. Quando Tiago escreve sobre a justificação, ele enfatiza a evidência da fé como uma realidade presente e prática. Precisamos deixar muito claro que Tiago não está dizendo que boas obras, automaticamente, significam que a pessoa tem uma fé genuína. Antes, ele está procurando estabelecer, com clareza, o fato que para uma pessoa professar ser cristã sem qualquer evidência de boas obras é uma profissão falsa. Tiago não está dizendo que as boas obras são a causa, mas a consequência da justificação. Ele ilustra isto com as vidas de Abraão e Raabe. Esta passagem em Tiago, que é de suma importância, deve ser vista da perspectiva da fé. Observe três assuntos ligados com a fé de Abraão:
1. O princípio da fé
―Bem vês que a fé cooperou com as suas obras‖ (Tg 2:22). Nesta afirmação Tiago está ligando a fé às obras, ele não está separando-as. Ele está concordando plenamente com Hebreus 11:17: ―Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado‖. Esta é a linguagem de cooperação, não de conflito. Sua fé, evidenciada nas suas obras, era uma fé ativa. Não há nesta Epístola — como alguns parecem imaginar — uma tentativa de colocar as obras contra a fé como a base da justificação. Obras nunca são rivais da fé.
2. A prova da fé
―Pelas obras a fé foi aperfeiçoada‖ (Tg 2:22). Tiago não está sugerindo que a fé de Abraão era de alguma maneira deficiente. A força desta palavra ―aperfeiçoada‖ é explicada em II Coríntios 12:9: ―A minha graça te basta, porque o Meu poder se aperfeiçoa na fraqueza‖. O poder de Deus não foi produzido pela fraqueza de Paulo, mas foi evidenciado na sua fraqueza. Semelhantemente, a fé de Abraão foi demonstrada, e provada ser real, pelo seu estupendo ato de obediência.
A fé sempre se expressa por meio de obras — obras da fé, não simplesmente em fazer o bem. Sem a evidência de tais boas obras, as pretensões da fé são infundadas, porque ―a fé sem obras é morta‖ (Tg 2:20). A fé é o espírito animador da verdadeira vida cristã; o sopro vital das obras que ―glorificam vosso Pai que está nos céus‖ (Mt 5:16).
3. A promessa da fé
―E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça‖ (Tg 2:23). Aqui, Tiago está citando um incidente na vida de Abraão que acontecera trinta anos antes, quando Deus prometera que a sua descendência seria muito grande (Gn 15:6). Quando Paulo enfatizou o grande tema de justificação somente pela fé, ele também usou este mesmo incidente de Gênesis 15. Abraão, pela sua prontidão em sacrificar Isaque, não acrescentou nada à sua justificação pela fé, nem contribuiu nada a ela. O que temos aqui não é fé acrescida de obras, mas a evidência da fé. Paulo concorda plenamente com este fato. ―Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas‖ (Ef 2:10).
Em conclusão, vamos sempre lembrar que a justificação, como a regeneração, é um ato singular, isolado, que nunca é repetido.
Ó gozo do justificado, gozo da alma liberta, Fui lavado na fonte para mim aberta; Em Cristo, meu Redentor, permaneço com satisfação, Apontando para o sinal do cravo na Sua mão.
F. Bottome (tradução literal)
Cap. 5 — Substituição
David E. West, Inglaterra
Substituição — a palavra e o conceito
De acordo com o Oxford English Dictionary (Dicionário Inglês Oxford), o significado da palavra ―substituição‖ é ―a colocação de uma pessoa ou coisa no lugar de outra‖.
Embora as palavras ―substituto‖ e ―substituição‖ não apareçam na Bíblia, a verdade da substituição é fundamental e plenamente bíblica, e ―substituição‖ é um termo teologicamente sadio. A essência da substituição é que um é colocado no lugar de outro.
A verdade que a palavra ―substituição‖ expressa é encontrada vez após vez nas Escrituras. Assim, em Isaías 53 o conceito é encontrado mais ou menos dez vezes; só no v. 5 quatro vezes: ―Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados‖.
Ilustrações de substituição
O Velho Testamento oferece várias ilustrações de substituição; vejamos alguns exemplos:
i) Evidentemente Eva considerou Sete como um substituto de Abel, morto pelo seu irmão, pois ela disse: ―Deus me deu outro filho em lugar de Abel, porquanto Caim o matou‖ (Gn 4:25).
ii) A fé de Abraão foi provada até o limite, ao ponto de oferecer seu único filho, Isaque, como holocausto. Contudo, o Senhor interveio no último momento e ―um carneiro, travado pelos seus chifres, num mato‖, foi providenciado como substituto de Isaque: ―e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho‖ (Gn 22:13).
iii) Labão astutamente substituiu Rebeca, a quem Jacó amava, por Lia: ―Labão … tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a possuiu‖ (Gn 29:22-23).
iv) O primogênito de uma jumenta tinha de ser resgatado com um cordeiro; o jumento escapava porque outro morria no seu lugar: ―todo o primogênito da jumenta resgatarás com um cordeiro‖ (Êx 13:13).
v) No caso de um homicídio misterioso, Moisés decretou que os anciãos ―da cidade mais próxima ao morto‖ deveriam em primeiro lugar declarar a sua própria inocência, e então sacrificar uma novilha no lugar do homicida desconhecido: ―os anciãos … lavarão suas mãos sobre a novilha degolada no vale‖ (Dt 21:3, 6).
vi) O profeta Miquéias evidentemente entendeu bem o conceito de substituição quando disse: ―Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?‖ (Mq 6:7).
Propiciação versus substituição
Embora nosso assunto neste capítulo seja substituição, é difícil apresentar este assunto sem mencionar a verdade da propiciação. O assunto de propiciação será tratado separadamente no cap. 6.
As duas palavras (propiciação e substituição) expressam os dois grandes aspectos da morte expiatória de Cristo. Embora sejam mutuamente complementares, é necessário distinguir entre as duas doutrinas. Aqueles que entendem bem esta diferença podem pregar o Evangelho com claridade e consistência.
Propiciação é o lado divino do sacrifício de Cristo; Deus está satisfeito com este sacrifício. Para ter valor expiatório, o sacrifício tinha que satisfazer todas as exigências
da santidade de Deus e do Seu trono justo, e vindica-lO inteiramente, como também ser capaz de ajudar o pecador, removendo os seus pecados.
Quando a morte de Cristo é considerada no seu aspecto substitutivo, ela não está sendo considerada do ponto de vista de Deus, mas do ponto de vista do pecador. A consideração, portanto, não é como o sacrifício de Cristo satisfez o Credor, mas como Ele interveio plenamente em favor dos devedores e da completa liberação que eles receberam como consequência.
O fato da propiciação permite ao evangelista aproximar-se de qualquer homem e dizer-lhe que Cristo morreu por ele e, consequentemente, o perdão de pecados é oferecido a ele: ―por este se vos anuncia a remissão dos pecados‖ (At 13:38). Entretanto, o perdão dos pecados é somente dado àqueles que crêem, porque inclui a substituição. Em outras palavras, o perdão dos pecados pode ser pregado a todos os homens, mas somente os que crêem são perdoados.
O Dia da Expiação
Podemos ver, com clareza, a dupla verdade de propiciação e substituição nos dois bodes usados no Dia da Expiação: ―o bode sobre o qual cair a sorte pelo Senhor‖, e ―o bode sobre que cair a sorte para ser bode emissário‖ (Lv 16:9-10).
Arão trazia o bode sobre o qual a sorte do Senhor havia caído e o oferecia como oferta pelo pecado. O sangue era então levado para dentro do véu e aspergido sete vezes sobre o propiciatório e perante o propiciatório. Este bode tipificava a morte de Cristo como aquilo no qual Deus foi perfeitamente glorificado em relação ao pecado em geral. A morte de Cristo vindicou plenamente a santidade e a justiça de Deus. Satisfez todas as exigências do Seu trono divino. A propiciação foi efetuada.
O bode emissário, entretanto, tipifica Cristo levando os pecados reais do Seu povo para nunca mais serem lembrados; para nunca mais serem lançados contra eles, para sempre. Embora a oferta pelo pecado tenha sido sacrificada, e seu sangue levado para dentro do lugar santíssimo e aspergido diante e sobre o propiciatório, o povo ainda levava os seus pecados até que o sumo sacerdote pusesse suas mãos sobre a cabeça do bode expiatório e colocasse nele todos os pecados do povo.
Provavelmente o bode expiatório, como um substituto, seja a figura mais perfeita em todas as Escrituras da obra de Cristo como nosso substituto.
A preposição grega huper em relação ao resgate de Cristo
Paulo escreve: ―há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo Homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo‖ (I Tm 2:5-6).
A palavra ―por‖ neste trecho é a tradução da preposição grega huper (que significa ―em prol de‖), e revela a única base sobre a qual alguém pode ser resgatado, e que a obra redentora de Cristo foi suficiente para todos.
O contexto desta afirmação deve ser notado. Paulo está tratando do assunto de oração pública na igreja local. ―Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens‖ (I Tm 2:1). Este é o campo de ação sugerido para as orações da igreja. Assim os irmãos nunca devem estar sem saber pelo que devem orar na reunião de oração.
Esta exortação sobre oração é baseada no desejo de Deus, ―que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade‖ (I Tm 2:4). Este versículo descreve a disposição de Deus; é uma expressão de boa vontade, não de determinação. Que todos os homens sejam salvos é o desejo e atitude do coração de Deus.
―Todos‖ em I Timóteo 2:6 certamente significa ―todos os homens‖, portanto, é universal na sua aplicação e corresponde à propiciação. Paulo está relembrando Timóteo do Evangelho que ele deve pregar, ―para servir de testemunho a seu tempo‖. O testemunho desta verdade deve ser dado no tempo certo; e este tempo é agora. Este versículo está ensinando o valor essencial do resgate pago por Cristo Jesus; foi suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, para que ninguém desespere. Ele Se deu em resgate por todos, assim satisfazendo as exigências da santidade e justiça de Deus, e, ao mesmo tempo, tirando a possibilidade de alguém reclamar, com razão, que não teve a oportunidade de ser salvo.
O ensino de I João 2:2
João escreve: ―E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo‖.
João escreve a sua epístola àqueles que são membros da família de Deus — ―meus filhinhos‖ (I Jo 2:1). A ênfase no trecho é que ―Ele é a propiciação pelos nossos pecados‖, isto é, a propiciação pelos pecados dos crentes a quem João escreve. Esta verdade é apresentada mais tarde nesta epístola: ―Deus enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados‖ (I Jo 4:10). O uso do adjetivo possessivo ―nosso‖, nos dois trechos, deve ser notado; os benefícios do Seu sacrifício propiciatório são desfrutados somente por aqueles que crêem.
Na parte final de I João 2:2, aprendemos que Cristo é a propiciação, num modo geral, ―de todo o mundo‖; o valor daquele sacrifício é universal no seu alcance. Cristo, como a propiciação através da Sua morte sacrificial, é a base justa sobre a qual a misericórdia e o perdão podem ser oferecidos a todos.
A preposição grega anti
O significado da preposição grega anti é ―em troca de‖ ou ―como igual a‖. Assim, é a preposição de equivalência, descrevendo um preço pago, ou um balanço feito, como numa balança. Portanto, anti significa uma coisa colocada contra outra, uma coisa no lugar de outra, ou algo dado em troca. A expressão ―no lugar de‖ descreve bem o seu significado; anti é, de fato, a preposição de substituição.
O presente escritor tem conhecimento de que há um estudo feito sobre o uso de anti na Versão Septuaginta (a tradução grega do Velho Testamento), e que trinta e oito passagens foram encontradas onde anti é traduzida corretamente ―em lugar de‖ na versão inglesa Revisada. Seguem alguns exemplos:
i) ―Foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho‖ (Gn 22:13).
ii) ―Agora, pois, fique teu servo em lugar deste moço por escravo de meu senhor, e que suba o moço com os seus irmãos‖ (Gn 44:33) — estas são as palavras de Judá a José.
iii) ―E eu, eis que tenho tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito, que abre a madre, entre os filhos de Israel‖ (Nm 3:12) — o Senhor falando com Moisés.
Estas três passagens, sem dúvida, tratam de substituição.
A seguir, veja exemplos do uso da preposição anti no Novo Testamento grego:
i) ―Arquelau reinava na Judéia em lugar de Herodes, seu pai‖ (Mt 2:22) — um reinando no lugar do outro.
ii) ―Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente‖ (Mt 5:38) — a preposição é usada de um equivalente dado por uma perda.
iii) ―Vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti‖ (Mt 17:27) — palavras do Senhor Jesus a Pedro; aqui anti é usada para um pagamento exigido.
iv) ―Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?‖ (Lc 11:11) — o Senhor Jesus falando com Seus discípulos; a preposição é empregada aqui para algo dado no lugar de outra coisa.
v) ―A ninguém torneis mal por mal‖ (Rm 12:17) — algo que não deve ser devolvido no lugar de algo recebido.
vi) ―Olhando para Jesus … o qual pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta‖ (Hb 12:2) — o Senhor Jesus colocando de lado uma coisa por outra.
A preposição anti em relação ao resgate de Cristo
A preposição anti é encontrada, duas vezes, ligada à morte de Cristo, em passagens paralelas nos dois primeiros Evangelhos sinópticos:
i) ―Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate por [anti] muitos‖ (Mt 20:28).
ii) ―Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de [anti] muitos‖ (Mc 10:45).
No contexto de cada uma destas passagens, o Senhor Jesus estava mostrando aos Seus discípulos como a autoridade nas mãos de homens sempre produz domínio, mas que Ele, pelo contrário, não exercia autoridade, antes servia, e isto produziu liberdade (um pensamento incluído na palavra ―resgate‖). Ao usar-Se como exemplo, Ele estava mostrando aos Seus discípulos o caminho da verdadeira grandeza.
A frase ―dar a sua vida‖, em si, pode significar simplesmente dedicar inteira devoção; mas aqui a idéia de ―resgate‖ (o pagamento para livrar da escravidão) inclui a submissão até à morte.
Estes dois versículos apresentam a verdade essencial de substituição, ―um resgate por [no lugar de] muitos‖. Os ―muitos‖ são aqueles que, com base naquele resgate já pago com sangue, no Calvário, realmente vêm e aproveitam desta bondosa provisão. Usando assim esta preposição como um balanço feito (anti), o Senhor Jesus estava mostrando que Sua própria morte seria aceita por Deus como uma substituição válida para, ou no lugar de, ―muitos‖.
Os “muitos”
Devemos enfatizar que quando o assunto nas Escrituras é o de levar os pecados, a linguagem usada não é ―todos‖, mas “muitos”.
O escritor aos Hebreus diz: ―E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez … assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos‖ (Hb 9:27-28). Esta Escritura considera a Sua morte do ponto de vista da substituição. Assim, como os homens morrem uma vez, por ordem divina, Cristo morreu uma vez — Ele ofereceu-se ―para tirar os pecados de muitos‖. Isso nos lembra de Isaías 53:12: ―Ele levou sobre si o pecado de muitos‖. De fato, no mesmo contexto, Isaías escreve: ―… com o Seu conhecimento justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si‖ (Is 53:11).
No relato de Mateus sobre o que agora chamamos a Ceia do Senhor, o Senhor Jesus diz: ―Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados‖ (Mt 26:28), e no evangelho de Marcos as palavras são: ―Isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que por muitos é derramado‖
(Mc 14:24). Marcos enfatiza a idéia de pessoas e apresenta o caráter da oferta pelo pecado do sacrifício de Cristo, enquanto que Mateus enfatiza mais o caráter da oferta pela culpa.
O uso da preposição huper quando substituição está em vista
Vários versículos mostram o lugar que a substituição ocupa nas Escrituras, em relação aos outros aspectos da morte de Cristo.
Foi por nossos pecados
i) ―Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras‖ (I Co 15:3). O uso aqui do adjetivo possessivo ―nossos‖ indica que foi uma morte substitutiva; Ele morreu em favor de nós. Foi uma morte expiatória, porque foi por causa dos nossos pecados, visando a expiação deles.
ii) ―… nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos pecados‖ (Gl 1:3-4). Ele ―se deu a si mesmo‖ — em toda a grandeza da Sua Pessoa — ―por nossos pecados‖ — assim Ele Se ofereceu num sentido vicário e sacrificial, levando o julgamento merecido por eles. Ele estava ali como nosso substituto. No contexto da epístola aos Gálatas, se for assim, não há nenhuma necessidade de ser complementada por guardar a lei. Se ―Ele se deu a si mesmo por nossos pecados‖, então Deus está satisfeito.
Foi por aqueles que crêem
i) ―Isto é o meu corpo, que por vós é dado … Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós‖. Estas são as primeiras afirmações claras dadas aos seus (―por vós‖) de que Ele não somente iria sofrer e morrer, mas que Ele iria morrer no lugar deles, como seu substituto.
ii) ―Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores‖ (Rm 5:8). Embora seja verdade que ―Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios‖ (Rm 5:6), no sentido geral que Ele morreu no lugar daqueles que eram abertamente ímpios, todavia, Deus expressa e prova o Seu próprio amor ―para conosco‖ (o apóstolo aqui inclui a si mesmo), em que, ―sendo nós ainda pecadores‖, não desejando nem merecendo Seu amor, ―Cristo morreu por nós‖.
iii) ―Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?‖ (Rm 8:32). O desafio triunfante no versículo anterior (―Se Deus é por nós, quem será contra nós?‖) permite que Paulo faça outra pergunta retórica e dê provas do interesse de Deus nos Seus. Se Deus estava preparado para fazer a coisa mais difícil e entregar o Seu Filho, nunca podemos duvidar do que Ele fará pelos Seus santos. Os ―todos nós‖ são chamados no versículo seguinte de os ―escolhidos de Deus‖.
iv) ―Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós‖ (II Co 5:21). Embora alguns tenham sugerido que Cristo foi feito uma oferta pelo pecado, parece-nos que a expressão ―o fez pecado‖ não é adequadamente explicada pelo fato dEle ter sido feito uma oferta pelo pecado. De fato, as palavras sugerem que, durante as três horas de escuridão, na cruz, Ele foi tratado por Deus como se Ele fosse o próprio pecado. Assim, na cruz, Cristo foi feito pecado e suportou o juízo como pecado, e isto ―por nós‖.
v) ―Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós‖ (Gl 3:13). Realmente, ―nós‖ aqui se refere aos judeus que creram em Cristo. Cristo tomou o lugar daqueles que tinham desobedecido a lei (Ele foi seu substituto), e
levou a penalidade que eles mereciam, porém, Ele pessoalmente nunca tinha quebrado a lei.
vi) ―… nosso Salvador Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós‖ (Tt 2:13-14). A morte de Cristo foi voluntária (―o qual se deu‖); também foi vicária (―por nós‖); também foi intencional, negativamente (―para nos remir de toda a iniquidade‖) e positivamente (―e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras‖).
Como é maravilhoso saber que cada salvo pode, junto com o apóstolo, falar do ―Filho de Deus, o qual me amou, e entregou a si mesmo por mim‖ (Gl 2:20).
Conclusão
É uma bendita verdade que ―Jesus Cristo … se deu a si mesmo em preço de redenção por todos‖ (I Tm 2:5-6); Ele morreu para abrir o caminho ao céu, para ―quem quiser‖. Contudo, se dissermos que Cristo levou os pecados de todos, nós estamos indo além dos limites das Escrituras. Se Cristo levou os pecados de todos, em geral, então do que os perdidos serão julgados no grande trono branco? Apocalipse 20:12 ensina claramente que ―os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras‖.
Ao pregar para os descrentes, os apóstolos nunca disseram: ―os teus pecados foram levados por Cristo‖. Mas Pedro, escrevendo aos seus irmãos salvos, podia dizer: ―levando Ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro‖ (I Pe 2:24). Portanto, podemos cantar de coração:
Eis o Cordeiro, por pecadores oferecido! Para de toda a mancha nos limpar Seu sangue precioso foi vertido; Ele tomou no madeiro nosso lugar; Feito pecado, Ele sofreu nosso castigo, Para os cativos culpados livrar, Morrendo em nosso lugar.
G. W. Frazer (tradução literal)

 

 

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