Serei salvo por praticar boas obras?

“As obras da lei” é uma expressão que encontramos na Bíblia (Gálatas 2:16).

A compreensão mais frequente da condição da salvação é que a salvação é pela fé e também pelas obras.

Salvação pela fé é uma doutrina da Bíblia, e o homem não pode argumentar contra ela (Efésios 2:8).

Contudo, o homem diz que ela é também pelas obras. Consideremos agora o que a Bíblia diz sobre isso. Frequentemente somos brandos e complacentes em nosso falar, mas a Bíblia não é branda no seu falar. Ela é muito precisa.

Efésios 2:8 e 9 dizem: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

Aqui ela nos diz que a salvação é absolutamente pela graça e mediante a fé. A palavra mediante significa atravessar. É como dizer que a luz elétrica brilha pela eletricidade e mediante o fio condutor. É também como dizer que a água da torneira vem do reservatório no departamento de águas e mediante os encanamentos. O homem é salvo pela graça, mas o canal mediante o qual a salvação vem a nós é a fé. O canal não são as obras, mas a fé. É mediante a fé e nada tem a ver com as obras. Não é adicionar a fé às obras. É preciso saber que a fé e as obras são basicamente opostas entre si.

A graça do Senhor Jesus é baseada no amor de Deus. Quando cremos, a graça e o amor fluem para dentro de nós. Como resultado, somos salvos, temos vida, e somos justificados. Nada disso é transmitido a nós por meio das obras.

Por que deveria sê-lo? A resposta aqui é que ninguém deve vangloriar-se.

O que Efésios 1 nos diz é que Deus quer ter toda a glória. É por isso que Ele faz toda a obra.

A glória só pode ir para aquele que realizou a obra. Não existe tal coisa no mundo, como alguém trabalhar e outro receber a glória. Os que trabalham merecem o pagamento. Quem quer que trabalhe, este mesmo recebe a glória.

Por que Deus fez toda a obra de nos salvar? É para que Ele tenha toda a glória. A razão de Deus nos ter concedido a graça é que Ele receba toda a glória. Ele não quer que trabalhemos para que não nos vangloriemos. Vangloriar-se é glorificar a si mesmo. Se fizermos qualquer coisa que mereça alguma glória, não agradeceremos nem louvaremos a Deus diante Dele.

Imediatamente diremos: “Sem dúvida, a salvação é concedida a mim por Ti. É a Tua obra. Mas acrescentei minha parte a ela. Se não tivesse acrescentado minha parte, não seria como sou hoje”.

O homem gosta de superestimar seus próprios méritos. Ele gosta de enfatizar suas próprias virtudes. Se Deus dissesse que cumpriria noventa e nove por cento da obra da salvação e que deixaria um por cento para nós, este um por cento silenciaria os céus.

Os anjos não louvariam mais, e as pedras não clamariam mais. Em vez de as pedras se tornarem os filhos de Abraão, os filhos de Abraão tornar-se-iam as pedras, pois de cem por cento, alguns reivindicariam um por cento.

Eles, então, contariam a maravilha de sua própria obra e diriam: “Eu passei por aquilo desta maneira ou daquela maneira. Como você conseguiu passar? Qual foi sua contribuição?” Cada um estaria se gabando de sua própria obra e Deus não teria possibilidade de obter a glória.

Uma vez que Ele quer obter toda a glória, Ele não deixou uma única coisa para fazermos. Quando alcançarmos o céu, teremos de dizer que ainda somos pessoas desamparadas. Somos capazes de chegar lá por causa da graça “gratuita”. Essa palavra “gratuita” calará no céu todas as súplicas e o encherá com ações de graça e louvor. Tudo será ações de graça e louvor, porque tudo é realizado por Deus. Devemos ver que esta é a verdade da Bíblia. A obra do homem e a graça de Deus não podem ser misturadas. Uma vez que o homem trabalhe, isso entra em conflito com a glória.

Portanto, se estou na rua, em minha casa, ou na reunião do partir o pão, posso dizer de coração: “Deus, agradeço e louvo a Ti, porque nada tenho a ver com minha salvação. Minha salvação provém cem por cento de Ti. Portanto, que posso fazer senão louvar a Ti?” Deus se agrada do louvor.

A Bíblia chama determinado tipo de oração de repugnante, mas a Bíblia nunca chama qualquer tipo de louvor de repugnante. Algumas orações são rejeitadas por Deus, mas Deus nunca rejeita qualquer louvor. Deus quer ter toda a glória, pois Ele realizou toda a obra.

Isso significa que podemos ser relaxados e que não precisamos mais fazer o bem?

Efésios 2:10, explica: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.

Os versículos 8 e 9 nos mostram o que Deus fez por nós objetivamente.

O versículo 10 imediatamente nos mostra as questões subjetivas. Deus não nos salvou de maneira tola. Ele nos deu nova vida, nova natureza e novo espírito interiormente. O Senhor Jesus está vivendo em nós por meio do Espírito Santo e nos preparou para toda boa obra. Lembre-se de que Deus não incluiu essas boas obras nos dois versículos anteriores. Não importa quantas boas obras você tenha feito após ser salvo. A salvação ainda provém da graça.

Não importa quão rápido você avance espiritualmente, pois a salvação ainda provém da graça gratuita do Senhor Jesus. Mesmo que tenha uma obra como a de Paulo, um resultado como o de Pedro, amor como o de João, e sofrimento como o de Tiago — mesmo que tenha todas estas quatro coisas — você ainda é salvo por meio da graça gratuita. No futuro, embora sua obra possa mostrar que é salvo, ela jamais será sua condição para salvação. Minha fé não significa muito. Ela é apenas um receptor da obra de Deus.

O homem não é salvo por obras. Ninguém pode argumentar contra isso. Mas o homem é muito miserável. Por ser seu coração obscurecido e cheio de pecado, por ser sua carne má e cheia da lei, embora ele reconheça a fé, ele pressupõe que deve também adicionar obras. O homem não vê que é depois de ser salvo pela fé que alguém tem as obras. A salvação nada tem a ver com obras. Não estou dizendo que não precisamos das obras. Nós damos atenção à obra. Contudo, essa não é a condição para a salvação. A salvação é um problema totalmente diferente. Não devemos esquecer que a Bíblia diz que se dermos mesmo uma pequena atenção à obra, a graça de Deus é anulada (Gálatas 2:21).

Uma vez que é graça, ela deve provir somente da fé e não da obra.

Romanos 4:4 e 5, diz: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”.

Agora temos clareza. Se um homem pode ser salvo por obras, então a salvação torna-se uma recompensa. Não é mais a graça, mas torna-se algo que a pessoa merece. Se é algo que alguém merece, então não mais é gratuito.

A palavra gratuitamente na Bíblia (Romanos 3:24), significa na língua original sem motivo. Em outras palavras, não existe razão para isso. O Senhor Jesus disse no Evangelho de João: “Odiaram-Me sem motivo” (João 15:25).

Na língua original, pode significar: “Eles odiaram-Me gratuitamente”. O Senhor nunca fez nada para merecer aquele ódio, mas eles O odiaram assim mesmo. Não havia uma razão para isso. Era gratuito. A graça de Deus naqueles três anos e meio foi dada gratuitamente a nós.

Somos como o filho mais novo em Lucas 15. Um dia chegamos a Deus e dissemos: “Deus, dá-me a parte da herança que cabe a mim”. Deus nos deu o que deveríamos ter. Após tomarmos nossa herança, desperdiçamo-la com más companhias. Hoje, voltamos à casa do Pai. A veste que usamos, nossos anéis, sandálias e o novilho cevado que comemos não são o que merecemos. Já gastamos o que era nosso por direito. Não merecemos o anel. Não merecemos a veste. Não merecemos comer o novilho cevado, e não merecemos usar as sandálias.

Que é, então, graça? Quando os que não merecem ser salvos são salvos, isso é graça. Graça é o que aqueles que não deveriam obter, obtiveram. Aquilo que o filho mais novo levou da primeira vez não era graça. Ele já o gastou. O que ele recebeu da segunda vez foi totalmente graça. Sua própria porção foi gasta há muito tempo. Quando ele desfruta outra comida em casa, que não é aquela que ele merecia ter, isto é a graça do Pai.

Portanto, se alguém trabalha, a questão do salário passa a existir, e não é mais graça. A graça está em conflito com o que alguém merece.

Como, então, opera a fé? Quando não é obra ou labor, mas somente a fé no Deus que justifica o pecador, essa fé é imputada como justiça. Esta é a relação entre fé e graça. Se é obra, então não é graça. Se é graça, então existe somente a fé. Crer é aceitar o que Deus realizou. Não é quanto eu tenha feito. Devemos enfatizar que, diante de Deus, não somos justificados por aquilo que realizamos. Somos justificados pela fé. Hoje temos a justificação pela fé. Portanto, a questão da obra terminou para sempre.

Uma vez que misturamos algo com a graça, a graça se torna algo diferente da graça. Isso é porque Deus diz que se é proveniente da graça, então não mais é proveniente da obra (Romanos 11:6).

Se é proveniente de obra, então não mais é proveniente da graça. A obra jamais pode ser misturada com a graça. Portanto, não apenas devemos dizer que a salvação é proveniente da fé, mas dizer que a salvação é proveniente unicamente da fé.

Romanos 3:25 e 26, diz: como o Senhor Jesus se tornou um lugar de propiciação e como Deus justificou os que crêem Nele. Não é injusto que Deus faça isso.

Portanto, Romanos 3:27 diz: “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída”. Não há maneira de nos vangloriarmos. Não há mais possibilidade de nos gabarmos.

A frase seguinte é muito importante. Ela diz: “Por que lei?” Isso significa que não temos mais nada de que nos gabar. Por qual maneira estamos livres de nos vangloriar? Por qual princípio estamos livres de nos gabar?

O versículo 27 continua: “Das obras? Não, pelo contrário, pela lei da fé”.

Paulo perguntou como o homem pode ficar livre de se gabar e como a jactância pode ser removida. Sua resposta é pelo princípio da fé. Se alguém estiver no princípio da fé, então ele não estará no princípio das obras. Se é pelo princípio das obras, então a jactância não pode ser excluída.

Hoje, temos o princípio da fé. Portanto, não podemos gabar-nos. Podemos somente louvar.

Filipenses 2:12 diz: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”.

Muitos nos têm dito que Paulo disse explicitamente em Filipenses que temos de desenvolver nossa própria salvação.

Se temos de desenvolver nossa salvação, isso não significa que temos de fazer alguma coisa? É verdade que o Senhor realizou a obra, mas o homem também tem de fazer algo.

É como dizer que Ele supre o material, nós suprimos o trabalho, e com os dois, desenvolvemos nossa salvação. Uma pessoa diz isso porque não compreende a palavra da Bíblia.

Se temos de complementar nossa salvação, então, que o Senhor Jesus fez na cruz? Que Ele cumpriu na cruz?

Se algo foi cumprido, não pode ser cumprido novamente. Se você é filho de Deus, não pode tornar-se filho de Deus novamente.

Na cruz, o Senhor Jesus disse claramente: “Está consumado!” (João 19:30).

A cruz do Senhor Jesus cumpriu a obra da salvação. Ela cumpriu a obra de redenção. Uma vez que a obra da salvação e da redenção foram cumpridas, não há mais possibilidade de desenvolvermos essa salvação. Se ainda quisermos desenvolver nossa salvação, devemos primeiro destruir a obra do Senhor na cruz. Devemos declarar que a obra do Senhor Jesus não foi consumada, que a obra do Senhor não foi concluída. Eis por que temos de desenvolvê-la.

Muitas vezes, não sabemos o que significa envergonhar os outros. Mas uma vez que tenha experimentado isso, você saberá o que é. Por exemplo, aqui está uma irmã. Alguém pediu a ela que lavasse alguns lenços. Após tê-los lavado, ela os pendura para secar. Mas outra pessoa vem e leva os lenços embora. Quando ela pergunta o motivo, é-lhe dito que foram tirados para ser lavados. Essa é uma vergonha pública para a irmã, pois isso significa que a outra pessoa não acredita que os lenços foram lavados. Significa que eles acham que a irmã mentiu. Da mesma forma, desenvolvermos nossa salvação não é uma glória para Cristo, mas uma vergonha para Cristo. A Bíblia diz claramente que Cristo completou toda a obra.

Por que, então, Filipenses 2:12 diz que devemos desenvolver nossa salvação?

Os crentes Filipenses foram obedientes, mas agora Paulo acrescenta: "mas muito mais agora na minha ausência".

Ele desejava ardentemente estar com eles (Filipenses 1:25); agora, ele deseja que, na sua ausência, haja um motivo mais forte para a obediência deles, sugerido na frase "muito mais agora". Esta obediência seria concernente aos ensinos que ele já dera e aos que ele ainda daria nesta epístola.

Eles deveriam desenvolver ou operar a sua salvação com temor e tremor. A palavra "operai" (grego: katergazomai) é usada aqui na voz média, e é o imperativo, indicando assim que eles deveriam fazer isto por si mesmos, e fazê-lo imediatamente.

J. N. Darby diz em uma nota de margem: "operar para obter resultado".

Esta é a última referência à salvação nesta epístola. O significado da palavra, neste caso, deve ser encontrado no contexto geral.

Em Filipenses 2:5-11 tivemos uma revelação da humilhação (vs. 6-7), sofrimento (v. 8), e consequente supremacia de nosso Senhor Jesus Cristo (vs. 9-11).

Agora, o apóstolo aplica o resultado prático desta graça, neste versículo 12.

Muitos comentaristas sugerem que os filipenses deveriam operar o que estava em seu interior, isto é, a salvação que eles receberam de Deus pela fé. Mas isto é o tema de Filipenses 1:6, aqui o apóstolo está dizendo: estou ciente de seus problemas internos na igreja local, e eu vos tenho dado um exemplo a seguir (Filipenses 2:5-7); agora, operai a vossa salvação como igreja.

A palavra indica claramente que precisavam ser salvos daquilo que finalmente destruiria o testemunho da igreja local, se não agissem para acabar com a sua discórdia (Filipenses 2:3, 14).  

Deviam fazer com "Temor e tremor", e é a atitude em que deveria ser operada, e seria tão diferente do espírito de contenda e vanglória (v. 3).

Se um homem ainda não foi salvo, ele não pode desenvolver sua salvação. Se um homem não tem vida, ele não pode expressá-la. Somente após o homem ter sido salvo, ele pode desenvolver sua salvação. Portanto, vê-se que não existe tal coisa como ser salvo por meio de boas obras.

 

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