O que é uma igreja local?

Uma explicação simples de uma igreja pode ser extraída do significado da sua palavra grega “ekklesia”, que é uma conjunção de duas palavras raiz, 1ª “ek” =fora de, e 2ª “klesia” =chamar.

Portanto, temos uma companhia de pessoas chamadas para fora. Esta palavra não é exclusiva da era cristã; era usado mais regularmente para se referir a uma reunião de cidadãos gregos, chamados de suas casas pela proclamação de um arauto. Eles se reuniram para considerar ou deliberar algum assunto de interesse comum. Contudo, o Espírito Santo retirou a palavra do uso secular e colocou-a no reino espiritual, onde descreve um grupo do povo do Senhor, que se reúne ao Seu Nome. Primeiramente, eles foram chamados para fora do mundo pelo anúncio do evangelho, e agora salvos pela graça de Deus, foram reunidos para o Seu testemunho de interesse comum ao seu amado Senhor Jesus Cristo.

Quais são as características de tal igreja ou assembleia local?

Quando Moisés estava descrevendo o maná em Êxodo 16, porque não tinha igual, ele só conseguiu dizer como era – semente de coentro e mel. Para explicar a igreja ou assembleia, os escritores do Novo Testamento usam metáforas para contar como ela é. É bom gastar um tempo para considera-las, pois são essenciais para a nossa compreensão e muito distintos das aplicações. A doutrina pode ser baseada em metáforas, mas não em aplicações.

1º) A primeira metáfora é a “lavoura” (1 Coríntios 3:9). 

Tem a ideia de um campo cultivado, ou jardim, plantado pela primeira vez quando as almas são salvas numa localidade através do trabalho evangelístico. Então os convertidos, como plantas, são nutridos com ensinamentos espirituais para que possam crescer. A formação de uma assembleia local deve sempre evidenciar esta ordem divina; não é o caso de alguns crentes simplesmente se mudarem para uma localidade e iniciarem uma nova assembleia. Além disso, a criação proporciona um local de trabalho onde nenhum membro precisa ficar ocioso. Mas o serviço a Deus é feito em comunhão com a assembleia, tendo em vista o seu crescimento e fertilidade.

2º) A segunda metáfora é um “edifício” (1 Coríntios 3:9 – edifício de Deus).

O projeto é Divino em caráter e detalhes. Pecadores obtendo a salvação quando o evangelho é pregado é o lançamento do alicerce. O ensino bíblico é construído sobre esse fundamento, à medida que os crentes são reunidos, ensinados e confirmados nas verdades da Palavra de Deus. O fundamento é Cristo; mas Ele também é a substância da superestrutura. O todo deve testificar dEle. É importante que cada prática de assembleia siga o padrão do Novo Testamento.

3ª) Então, a assembleia é o “templo de Deus” (1 Coríntios 3:16).

A palavra aqui para templo não é aquela que descreve as estruturas externas de beleza e design intrincado. É a palavra usada para designar o santuário interior, o mais sagrado de todos, o lugar santíssimo atras do véu. Esse foi o local da arca com seu propiciatório, onde Deus se encontrou com Moisés e comungou com ele. A assembleia local é um lugar onde Deus habita entre o Seu povo, onde Ele dá a conhecer a Sua presença nas suas reuniões, onde Ele comunga através da Sua Palavra. Os crentes, por sua vez, precisam exercer reverência, respeito e dignidade de acordo com Sua presença. O pecado ou a contaminação nunca poderão ser tolerados no templo de Deus.

4ª) Em 1 Coríntios 5:7, a assembleia local é considerada um pão ázimo.

Esta estranha metáfora nos leva de volta à comemoração da Páscoa em Israel. Após a festa, havia um período de sete dias durante os quais não se encontrava fermento em suas casas. O fermento era um ingrediente corruptor e lembrava-lhes o Egito. Assim, na assembleia, qualquer coisa que possa introduzir contaminação carnal ou influência mundana deve ser julgada e removida.

5ª) A igreja local é vista também como, “Corpo” (1 Coríntios 12:27).

Devemos observar que, não é (o) Corpo, com fazem muitas traduções bíblicas, mas simplesmente “Corpo”. No contexto de 1 Coríntios 12, se descreve a função, coordenação e unidade de propósito, onde cada membro, por sua atividade no corpo, contribui para a saúde e o bem-estar do todo. Cada membro da assembleia local é comparado a uma parte do corpo que permite o funcionamento da mesma. Deus dá a cada crente, um papel a cumprir e esta é uma das razões pelas quais é importante estar presente em todas as reuniões da assembleia. Se alguém se ausenta voluntariamente, é como quando um braço é imobilizado numa tipóia – o outro braço deve compensar e ficar sobrecarregado, enquanto o braço inativo atrofia.

6ª) A igreja local vista na metáfora de, “virgem casta” (2 Coríntios 11:1-3).

Paulo compara a assembleia a uma jovem noiva prestes a se casar. Sua lealdade e afeto estão centrados apenas em seu futuro marido. Tal é a devoção da assembleia ao Senhor Jesus. Fiel a Ele no meio de um mundo infiel, deve ser preservado da aceitação de qualquer falso mestre ou ensinamento que possa afastar o povo de Deus da lealdade somente a Cristo. Satanás fez isso no Éden e tem séculos de experiência. Ele envia lobos em pele de cordeiro. Estes são candidatos a mestres que parecem promissores, mas que, ao aproveitarem a liberdade da assembleia para defenderem as suas opiniões pessoais, quer pública quer privadamente, atraem seguidores. Em pouco tempo, uma assembleia fraca é corrompida pela simples devoção ao Senhor e a comunhão é prejudicada.

7ª) A igreja local vista na metáfora de, “Casa de Deus” (1 Timóteo 3:15).

Paulo, usando esta metáfora, dirige o nosso pensamento para a administração e autoridade na assembleia. Observe que o artigo está ausente, indicando que está em vista o caráter, e não a designação de qualquer assembleia como casa de Deus, que é como a cristandade encara erroneamente seus edifícios. O termo refere-se a um grupo de pessoas que vivem sob o mesmo teto, sejam familiares ou empregados. O leitor pode encontrar outras referências a este termo tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. É evidente que em cada família há submissão à autoridade. O homem, marido, pai tem a responsabilidade de guiar e governar a sua família de uma forma ordenada e digna, e os membros devem submeter-se à sua liderança. O comportamento naquele lar corresponde aos princípios que ele aplica. A assembleia local é onde a Palavra de Deus é a única autoridade. Não é nem uma democracia (todos governam) nem uma autocracia (um homem governa), mas sim uma teocracia (Deus governa). Os superintendentes que guiam a assembleia derivam sua autoridade somente da Palavra de Deus, e os crentes se submetem como ao Senhor. Portanto, numa sociedade que é indisciplinada e casual, há decoro e vestimenta que são adequados aos crentes quando eles se reúnem ao Nome do Senhor Jesus.

8ª) Passamos para a primeira carta de Pedro e notamos uma metáfora, “sacerdócio, tanto santo quanto real” (1 Pedro 2:5,9).

Por causa das referências aos dons (1 Pedro 4.10-11) e aos presbíteros (1 Pedro 5.2), é evidente que Pedro tem a assembleia em vista quando fala do “sacerdócio, tanto santo quanto real”. Estes crentes a quem ele escreve, podem ter estado longe de sua terra natal, mas estavam em comunhão de assembleia. No culto de Israel, os sacerdotes não funcionavam como indivíduos, mas como uma ordem seleta, agindo em conjunto no seu caráter intermediário. Eles tinham que estar no tabernáculo para funcionar. E embora a nossa abordagem espiritual individual a Deus seja de carácter sacerdotal, é apenas nas reuniões da assembleia que o sacerdócio do Novo Testamento é visto a funcionar como pretendido. A assembleia local não é o único lugar onde a adoração, o louvor e a intercessão devem ser oferecidos a Deus e, de acordo com 1 Timóteo 2:1-7, em igreja são oferecidas orações intercessoras a favor de muitos. A Ceia do Senhor no primeiro dia da semana é a oportunidade mais rica para oferecer a Deus os nossos sacrifícios de louvor, embora toda reunião deva ser marcada pela adoração. A reunião de oração é especialmente o momento de intercessão.

9ª) Descobrimos que Pedro compara a assembleia local a um “rebanho” (1 Pedro 5:2). 

A ênfase não está na fraqueza e desobediência das ovelhas, mas no valor da assembleia para Deus e, portanto, no objeto especial de Seu cuidado e proteção. Ele capacitou os homens como subpastores para alimentar e socorrer esses cordeiros que são Seus, protegendo-os do perigo. Eles conseguem isso preparando alimentos apropriados da Palavra para atender às diversas necessidades, para que possam crescer. Mas alimentar está ligado a liderar, ou seja, viver o exemplo para que as ovelhas sigam. Um dia, aparecerá o Pastor Supremo, a quem tanto as ovelhas como os pastores prestarão contas.

10ª) Para a nossa última metáfora, consultamos a visão de João sobre Patmos. Em Apocalipse 2 e 3, as 7 assembleias na Ásia são chamadas de “candeeiros de ouro”.

O metal precioso sugere o seu valor, valioso para Cristo que os segura na Sua mão direita. Como candeeiros, eles são portadores de luz nas cidades onde estão. Mas notamos que Cristo está no meio destes sete candeeiros – eles O cercam. Assim, a luz deles brilha sobre Ele; eles O iluminam. O propósito da luz do testemunho da assembleia é mostrar Cristo num mundo escuro. A fonte de energia da luz, o “óleo”, não se vê. Isso vem de dentro. Reunindo essas características, aprendemos que a assembleia é de grande valor na estimativa de Deus; foi colocado por Deus em seu local e, pelo poder do Espírito, foi projetado para dar testemunho da gloriosa Pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.

É uma grande bênção ser salvo do inferno. Mas é uma bênção maior ser salvo e fazer parte da assembleia de Deus onde, em comunhão com o Seu povo, posso desfrutar da Sua presença. E glorificamos a Cristo pela nossa adoração e testemunho até que Ele nos leve para casa.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8,9)

Paul Robinson

 

 

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com