O diabo está nos detalhes

Muitas vezes, quando o tema da tentação é abordado, a menção ao diabo geralmente vem logo em seguida. Sendo ele um ser vivo e fora de nós, é fácil vê-lo como a tentação personificada. Embora seja verdade que ele é chamado de “o tentador”, a expressão casual, “o diabo me obrigou a fazer isso”, é uma desculpa esfarrapada para qualquer pecado e está em desacordo com a realidade, (leia, Tiago 1 verso 14). Em certo sentido, podemos dar ao diabo mais crédito do que ele ganhou. Por outro lado, João adverte que “o mundo inteiro está sob o domínio do Maligno”, (1ª João 5 verso 19). O pecado de Satanás foi o orgulho, desejando ser o que Deus não havia permitido. Embora já tenhamos notado que a carne é o inimigo que tenta por dentro, “o príncipe das potestades do ar” é o inimigo que ataca de fora. Enquanto o mundo incita o desejo de “ter o que quero” e a carne diz: “Farei o que quero”, o sussurro tentador do diabo é que “sereis o que quiser”. Sua determinação motriz era esta: “Subirei acima das nuvens mais altas; far-me-ei semelhante ao Altíssimo”, (Isaías 14 verso 14).

A nossa sociedade exorta-nos a respeitar as pessoas que se “criaram por si” e a defender a crença equivocada de que cada um pode ser o que quiser. Sem dúvida, Satanás está a explorar inseguranças psicológicas e traumas, e um desejo de pertencer, para promover a preocupante agenda política de identidade pessoal tão prevalecente hoje.

O desejo consumidor de Satanás de se tornar independente foi sua ruína. Não sejamos apanhados desprevenidos; embora tenha perdido sua posição, ele não perdeu nada de seu desejo. Ele continua a encorajar atitudes que desprezam a Deus e exaltam o eu dentro de nossos próprios corações. A tentação que João mais tarde identificaria como “a soberba da vida” é a que Eva experimentou em “que a árvore era desejável para dar entendimento”. A tentação de Satanás sempre foi que eu, de fato, me tornasse uma versão melhor, mais sábia, mais esclarecida e mais confiante de mim mesmo do que sou agora.

Desde a tragédia no Éden, ele planeja constantemente criar dentro de nós uma suspeita persistente de que Deus está nos negando algo de bom, ou seja, que Deus nos prescreveu certas limitações porque Ele se sente de alguma forma ameaçado pelo quão poderosos poderíamos nos tornar se atingíssemos “nosso pleno”, potencial desimpedido. Uma pessoa orgulhosa será a primeira a cair (novamente) na tentação de Satanás. Em contrapartida, os humildes procuram e encontram refúgio em Deus. Em vez do popular lema “repreender o diabo”, as Escrituras nos instruem a resistir a ele. Contudo, a instrução para “resistir ao diabo” não é uma ordem isolada. Em vez disso, está associada a uma resposta correspondente e oposta a Deus, que envolve “submeter-se” e “aproximar-se” dEle, “humilhar-se” sob Ele e “lançar sobre Ele todas as suas preocupações”, (leia Tiago 4 versos 7 e 8; e 1ª Pedro 5 verso 6).

Enquanto ataca de cima, o diabo dirige o olhar para baixo. O resultado de desprezar outra pessoa é que nos sentimos elevados. Se Eva ou Acã, Davi ou Pedro tivessem parado para olhar para cima por um momento, as suas histórias poderiam ter sido muito diferentes, – e a nossa também! Naturalmente, ele nos tentará a querer o que pensamos ser melhor para nós mesmos, o que envolve ignorar o sofrimento, parte integrante do seguimento de Cristo, (Mateus 16 verso 24). Quando Pedro ouviu o Senhor falar sobre Seu próprio sofrimento e crucificação que estava por vir, ele objetou veementemente. “Mas Ele se virou e disse a Pedro: 'Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para Mim; pois vocês não estão pensando nos interesses de Deus, mas nos interesses dos homens”, (Mateus 16 verso 23). O Senhor acusa Pedro de atender à tentação de Satanás de focar nos próprios interesses e não nos de Deus. Os crentes em Tessalônica estavam experimentando a prova do sofrimento e Paulo “temia que o tentador os tivesse tentado”, (1ª Tessalonicenses 3 verso 5). Ele ficou grandemente encorajado ao ouvir que a fé deles permanecia firme em meio ao sofrimento e na hora da tentação. Precisamos de ser lembrados desta ameaça quando enfrentamos ou antecipamos o sofrimento.

Paulo deixa claro em sua carta aos Efésios que Satanás e suas hostes de demônios estão falando sério, e o crente deve levar a ameaça a sério. “Coloque toda a armadura de Deus para poder resistir às maquinações do diabo. Pois a nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os governantes, contra as autoridades, contra os poderes cósmicos das trevas, contra as forças espirituais do mal nos lugares celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e, tendo feito tudo, tomar posição”, (Efésios 6 versos 11 a 13). Quando reconhecemos quão medonho é o nosso inimigo, podemos ser tentados a desesperar. No entanto, “mesmo que Satanás ligue o aquecimento, o Pai Celestial mantém Sua mão todo-poderosa no termostato!”

Em conflitos militares, a batalha consiste em mais do que projéteis de morteiro; envolve também uma guerra de informação. Propaganda, invasão de dados de inteligência, interferência de sinais e redes de satélite se combinam para tornar o ataque mais eficaz. Satanás é experiente em usar informações para lançar seus ataques no nível da mente, disposto até mesmo a usar as próprias Escrituras como uma arma, a fim de redirecionar as afeições de nossos corações. No caso de Eva, ele primeiro lançou dúvidas sobre a Palavra de Deus antes de negar abertamente a sua verdade. Na tentação do Senhor ele diz: “Está escrito” numa tentativa de legitimar o seu tratamento profano das Sagradas Escrituras. O inimigo das nossas almas terá prazer em dar-lhe o seu cristianismo formal, a sua teologia formal, e até mesmo dar-lhe conhecimentos bíblicos… se ele puder capturar e controlar o seu coração. Paulo exorta os crentes sob ataque a “em todas as situações, tomem o escudo da fé, com o qual vocês podem extinguir todas as flechas inflamadas do Maligno”, dirigidas aos nossos corações e mentes, (Efésios 6:16).

O Novo Testamento aponta alguns dos campos minados que podem fazer um crente tropeçar e deixá-lo exposto aos esquemas tentadores do diabo. Lemos por exemplos sobre, presunção de posição, (1ª Timóteo 3 versos 6 e 7), raiva não resolvida, (Efésios 4 versos 26 e 27), separação conjugal, (1ª Coríntios 7 verso 5), falta de perdão, (2ª Coríntios 2 versos 10 e 11). O enganador de todo o mundo, sussurra: “Eu serei o que eu quiser”. Diante desta tentação, o antídoto prescrito é a humildade diante de Deus, (Apocalipse 12 verso 9).

Por Tim Woodford

(Uso com permissão da revista Truth & Tidings)

 

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