Cristo, o Servo Perfeito

O fato de que o eterno Filho de Deus alguma vez “se aniquilou” ao vir ao mundo na forma de um servo é uma maravilha da graça divina.

Talvez ainda mais surpreendente seja que o abençoado Senhor Jesus manterá esse caráter de servo por toda a eternidade (Lucas 12:37).

Nos chamados “Cânticos do Servo” de Isaías, eles pintam um resumo conciso e bonito do curso daquele Servo perfeito.

No Novo Testamento, o Evangelho de Marcos apresenta o Senhor Jesus como o Servo perfeito, pois tinha em vista alcáçar o mundo romano.

Isaías primeiro nos apresenta o Messias como aquele que é um Filho divino, nascido no mundo por meio do nascimento virginal (Isaías 7:14).

Embora Ele fosse um menino nascido, Ele também era um Filho dado, que sempre esteve do lado do Pai (Isaías 9:6).

É este Filho eterno que se tornou um servo. Desde a eternidade Ele foi o Servo chamado e escolhido a quem Deus deseja que contemplemos: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito” (Isaías 42:1).

Ele foi escolhido por causa de quem Ele é por natureza, pois somente aquele que é Deus manifestado na carne poderia realizar a obra para a qual Ele foi ordenado. De fato, Ele foi chamado “desde o ventre” e “em justiça”, isto é, para cumprir o justo propósito de Deus. (Isaías 42:6; 49:1)

Graças a Deus, Ele não mostrará fraqueza nem se deixará ferir, até que estabeleça a justiça sobre a terra (Isaías 42:4).

Em uma bela declaração, Isaías resume o propósito do Servo perfeito. Ele é aquele em quem Deus “será glorificado” (Isaías 49:3).

A preocupação primária do Servo era a glória de Seu Pai (João 17:4).

Isso Ele fez, entre outras coisas, curando corações partidos (Isaías 61:1), abrindo olhos cegos e libertando almas (Isaías 42:7).

Mas tal glória foi plenamente manifestada no Calvário, e embora o Servo crucificado em uma cruz possa ter a marca de aparente fracasso (Isaías 49:4), é por meio dessa obra consumada que Ele restaurará os “preservados de Israel”, ser uma “luz para os gentios,” e ser a “salvação de Deus até a extremidade da terra” (Isaías 49:6).

Por fim, Ele estabelecerá justiça na terra – o Servo, de fato, será um Rei reinando em retidão (Isaías 32:1).

O Servo perfeito ainda tem negócios inacabados aqui na terra!

Um Servo perfeito deve ter um caráter perfeito, pois os dois andam de mãos dadas. O Senhor Jesus ainda dirá a servos imperfeitos como nós: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mateus 25:21).

O caráter “bom” ou irrepreensível (reto) é essencial para o desempenho fiel no serviço. Tal era o caráter do Senhor Jesus. Ele nunca foi ostensivo ou clamando por atenção. Ele não reclamou em voz alta, não chorou por vingança ou discutiu com raiva. Ele nem levantou a voz na rua, mas falou com calma, suavidade e serenidade. Havia um espírito neste Servo que contrastava fortemente com o orgulho do coração humano (Isaías 42:2).

Ele nunca procurou ferir uma “cana” já frágil e quebrada, como a viúva de Naim, mas procurou consertá-la com cuidado e compaixão. Ele nunca apagaria dois pavios fumegantes, como os dois no caminho de Emaús, mas sim procurou acender a chama brilhante do testemunho novamente. Não é de admirar que o caráter desse servo tenha encantado seu Mestre; Ele era verdadeiramente alguém em quem “a minha alma se deleita” (Isaías 42:1).

O Servo perfeito ministrou conforto aos outros, não menos por Suas palavras. Sua língua era a de alguém bem instruído e educado. Ele sabia exatamente o que dizer e como dizer. Tiago declara que nenhum ser humano pode “domar” (subjugar) a língua, mas Cristo estava em completo controle sobre a Sua. Todas as manhãs Ele despertava com a instrução de Seu Pai para que Ele, por sua vez, pudesse erguer o coração abatido e fortalecer o cansado. Embora parte de Seu ministério fosse “consolar todos os que choram” (Isaías 61:2), Ele mesmo não foi deixado sem o consolo da presença e preservação de Seu Pai.

Sua promessa foi: “Eu… te segurarei pela mão e te guardarei” (Isaías 42:6).

A conduta do Servo perfeito sempre foi marcada pelo poder e energia do Espírito.

O Espírito de Deus repousou sobre Ele em Sua encarnação (Isaías 11:2), batismo (Isaías 42:1) e durante Seu ministério público (Isaías 61:1).

Não havia necessidade de o Espírito Santo lutar com Ele como faz conosco. Consequentemente, Suas palavras eram como uma “espada afiada”, indicando a incisão penetrante e poderosa com a qual Ele falava (Isaías 49:2).

O próprio Servo era como uma “flecha polida” ou “flecha afiada” que, sem rugosidade ou irregularidade, é altamente precisa em seu voo. Seu único objetivo era a vontade do Pai, e Ele não errou!

É inevitável que o serviço diligente a Deus leve ao sofrimento e à perseguição nas mãos daqueles que se opõem a Deus. Assim, o Servo perfeito foi obediente até a morte, até a morte de cruz. Muito antes do tempo, Ele sabia exatamente o que Seu sofrimento acarretaria, mas Ele não era rebelde, nem se desviou do caminho claramente marcado que estava diante Dele (Isaías 50:5).

Suas costas foram dadas aos “batedores”, sua face aos “que arrancavam a barba”. Seu rosto foi exposto a “vergonha e salivadas” (Isaías 50:6).

Ele foi brutalizado além da conta, de forma que seu parecer ficou irreconhecível (Isaías 52:14).

Mas Ele cumprirá o propósito divino, custe o que custar. Isso é, em última análise, para a glória de Deus e, portanto, Ele irá sem murmurar (Isaías 53:7).

Mas este Servo receberá a mais alta compensação por Seu serviço fiel: Ele “será exaltado e muito elevado” (Isaías 52:13).

Embora os judeus designassem Sua sepultura com os ímpios de acordo com sua morte vergonhosa em uma cruz, Deus planejou que Ele realmente fosse enterrado na tumba de um homem rico de acordo com Sua beleza moral – Ele não havia cometido “violência” nem “engano” estava em Sua boca (Isaías 53:9).

Além disso, este Servo “verá o trabalho de sua alma e ficará satisfeito” (Isaías 53:11).

O fruto do Calvário, Sua “semente” espiritual, Lhe trará plenitude de deleite. Para ser franco, o terrível sofrimento do Calvário será totalmente compensado (valeu a pena!) quando Sua noiva (Igreja) for revelada ao Seu lado.

João 12:24 é um versículo precioso na Bíblia. Lá diz que se um grão de trigo cair na terra e não morrer, fica ele só.

Um homem como o Senhor Jesus foi exatamente um grão diante de Deus. Somente após Ele ter morrido, houve os muitos grãos. A salvação começa com a cruz. Embora devamos ter Belém (Seu nascimento) antes de podermos ter o Gólgota (Sua morte), somos salvos por meio do Gólgota, não por meio de Belém.

O Filho de Deus é totalmente justo. Ele foi o grão justo. Mas Sua justiça não nos pode salvar. Ela não pode ser imputada a nós. Deus faz menção da justiça de Cristo na Bíblia.

Mas Ele nunca diz que a justiça de Cristo deve ser nossa. A Bíblia diz que Cristo é nossa justiça. Ela nunca diz que a justiça de Cristo é nossa justiça. Gostaria de salientar isso, pois isso exaltará a cruz do Senhor Jesus Cristo. A Bíblia diz que Cristo é a nossa justiça. O próprio Cristo é a nossa justiça. Nós nos achegamos a Deus em Cristo. Cristo é nossa justiça.

É a justiça de Deus que nos traz o perdão e nos livra do julgamento. Não é a justiça de Cristo que faz isso.

A justiça de Cristo é somente a qualificação para que Ele seja nosso Salvador. Cristo nunca transferiu-nos Sua justiça. Se a justiça do Senhor Jesus fosse transferível a nós, Ele poderia tê-lo feito enquanto vivia na terra. Ele não teria de ir à cruz e nós, assim, poderíamos ter sido salvos.

Se o caso fosse esse, Sua vida se tornaria nossa vida resgatadora. Mas não há tal doutrina como vida resgatadora. Há somente a doutrina da morte resgatadora. Somente a morte do Senhor Jesus nos salvará.

Sua vida é e pode ser um bom exemplo. Mas não podemos ser salvos por Sua vida. Sua justiça nos condena.

Quanto mais justo Ele é, mais embaraçados ficamos. Não há maneira alguma de Sua justiça ser imputada a nós. Se Deus nos colocasse lado a lado com a justiça do Senhor, somente poderíamos ir para o inferno.

Mas graças a Deus porque Ele morreu e se tornou nossa justiça. Eis por que somos salvos.

A salvação vem da cruz. Ela não veio da manjedoura. A salvação vem do Gólgota; ela não vem de Belém. Se a justiça do Senhor Jesus pudesse salvar-nos, Ele não precisaria ter morrido. Por isso, quando lemos a Bíblia, não devemos ser afetados pela teologia. Ficaremos muito mais esclarecidos se formos ensinados pela Bíblia do que pela teologia. A palavra do homem pode ajudar, mas ela também pode danificar. Devemos colocar de lado a palavra do homem.

Lemos em Isaías 53:5-10: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos”.

Os apóstolos citam Isaías 53 muitas vezes no Novo Testamento. A pessoa falada nessa passagem das Escrituras é o Senhor Jesus.

Que disse o profeta quando escreveu essa porção da Escritura?

A última frase no versículo 4 diz: “Nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido”.

No começo, o profeta achava que Ele fora ferido e afligido por Deus, que fora punido por Seus próprios pecados e ferido por Deus por Suas transgressões. Mas no versículo 5 há uma volta.

Deus lhe deu uma revelação através da palavra “mas”.

Achávamos que Ele estivesse meramente sofrendo punição e ferimento por seus erros. Mas Ele não estava sofrendo punição e ferimento por si, mas por nós: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho” (Isaías 53:5-6).

A frase seguinte é muito preciosa: “Mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (v. 6).

Isso é o que o Senhor fez. Vemos que em relação à cruz há o aspecto do homem e o aspecto de Deus. Embora tenham sido as mãos humanas que pregaram o Senhor Jesus, manifestando o ódio do homem por Deus, foi também Deus quem colocou todos os nossos pecados sobre Seu Filho, o Servo perfeito, e O crucificou. A cruz foi obra de Deus; foi algo que Jeová cumpriu para nossa salvação.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

(João 3:16-18; Efésios 2:8,9)

 

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