Como João Batista foi cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe?

Esta questão, sem dúvida, surge ao tentar entender esta afirmação à luz do ensino que temos hoje a respeito do Espírito Santo no período da Igreja.

Muitos encontram dificuldades com as palavras do anjo em Lucas 1:15 a espeito de João Batista: "Ele será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe".

Alguns têm chegado a dizer que João teve um nascimento espiritual antes do seu nascimento natural. Toda esta especulação humana é desnecessária. Há um contraste óbvio sendo feito entre ser cheio do Espírito Santo e as palavras "não beberá vinho, nem bebida forte". Este é o contraste feito por Paulo em Efésios 5:18.

Ser cheio do Espírito é estar sob o Seu controle para serviço, e é bem distinto da verdade neotestamentária de "morada" do Espírito Santos, que dependia da ressurreição e ascensão do Senhor Jesus e começou no Pentecostes (João 14:12-17).

Esta é a primeira menção do Espírito Santo por Lucas, e é um tema principal em seus dois livros.

Do livro dos Atos do apóstolos e das cartas as igreja locais, aprendemos que, após a conversão, o cristão é selado e subsequentemente habitado pelo Espírito Santo, é guiado pelo Espírito, pode entristecer o Espírito e extinguir o Espírito.

(Efésios 1:13, João 14:6)

O estudo comparativo com o Antigo Testamento ensina que o Espírito Santo, antes de Sua descida no Pentecostes, veio “sobre” as pessoas. Isso foi para um serviço particular para Deus, como com Saul, com Davi e com o servo perfeito de Jeová, descrito na profecia de Isaías e cumprido no Senhor Jesus quando Ele iniciou Seu ministério terreno.

(Leia 1 Samuel 11:6; 16:13; Isaías 42:1; Lucas 4:18).

Outro termo encontrado antes de Pentecostes, no caso do Senhor Jesus, e depois com Estêvão (e outros), é “cheio do Espírito Santo.”

(Lucas 4:1; Atos 6:1, 5).

Essa expressão descreve o caráter de tais pessoas e é distinta de “estar cheio do Espírito Santo” no período da Igreja.

Mas as palavras “cheio do Espírito Santo” em relação a João Batista (Lucas 1:15), também ocorrem antes e depois do Pentecostes.

O exame revela que:

a) o verbo é passivo descrevendo uma ação feita, não “por” uma pessoa, mas “para” ela;

b) é o ajuste de uma pessoa, pelo Espírito Santo, para capacitá-la a falar por Deus.

Foi profetizado sobre João Batista, mas também foi mencionado sobre seu pai, sua mãe, os apóstolos em Atos e até mesmo sobre o cristão em sua comunicação diária com outros crentes e em seu louvor a Deus.

(Leis, Lucas 1:15, 41, 67; Atos 2:4; 4:8; Efésios 5:18).

Assim, o segredo da verdade, poder e eficácia do ministério de João estava na presença e no poder do Espírito Santo dentro dele, e não no caráter rude do homem.

Quando chegou a hora de Deus para ele pregar, as palavras, o poder, e a ousadia necessária foram todas supridas pelo Espírito Santo que o encheu na época. Isso por si só pode explicar o aparente sucesso em seu serviço.

A expressão “desde o ventre de sua mãe” dificilmente poderia se referir ao enchimento do Espírito Santo desde o momento em que ele foi concebido no ventre.

Afinal, levaria tempo para ele aprender a falar; e levaria anos até que seu serviço real começasse. Mas a separação e a abnegação tão obviamente características da vida de João começaram no nascimento.

As proibições expressas eram características do voto do nazireu, como visto em Sansão, Samuel e outros, também incumbidos desde o nascimento. Eles eram servos de Jeová criados para atender às necessidades de seus dias, assim como João.

(Números 6 fala sobre a vida e conduta de um Nazireu)

A vida de João, portanto, assim como sua mensagem, foi um testemunho contra os excessos dos líderes de Israel, a quem ele reprovou ao apresentar Cristo. Portanto, a expressão “desde o ventre de sua mãe” deve se referir à vida de abnegação que ele levaria, e não ao poder com que falaria.

A pontuação da Bíblia e a ordem das palavras foram inseridas pelos tradutores para facilitar a leitura; não foi inspirado nem no texto original.

Aqui, causou alguma confusão quanto ao tempo de início da obra do Espírito Santo em João. Também sabemos que exigiria algum momento quando João fosse “salvo” e, somente depois, “ser cheio do Espírito Santo”, embora esses eventos não sejam registrados.

A Bíblia NVI traduz Lucas 1:15, assim: “Pois será grande aos olhos do Senhor. Ele nunca tomará vinho nem bebida fermentada, e será cheio do Espírito Santo desde antes do seu nascimento.”

Na Bíblia Corrigida Fiel: “Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.”

Versão Católica: “Porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo.”

Na Bíblia de Darby, Lucas 1:15, está assim: “Porque (João) será grande diante do Senhor, e vinho e bebida forte não beberá, e de Espírito Santo será enchido já desde o ventre de sua mãe.”

Mas Darby faz uma observação em nota de rodapé, dizendo que a expressão grega (‘epi ek’ – traduzida ‘já desde’) se refere a um momento específico, uma data; i.e.: ‘desde o nascimento’.

Ele diz que são pouquíssimos manuscritos que têm: ‘já dentro’ do ventre.  Ou seja, que João era cheio do Espírito Santo já no ventre de sua mãe. E Darby acrescenta, portanto, essa possibilidade pode ser descartada.

 

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