Batismo de Arrependimento

O povo ia ter com João “e era por ele batizado no Jordão, confessando os seus pecados” (Mateus 3:6). O Rio Jordão nas Escrituras sempre fala de morte. João estava dizendo ao povo: “Mude a sua mente, mude o seu modo de vida, mude os seus objetivos e produza frutos dignos de arrependimento e assim prepare-se para encontrar o seu Messias”. Ao serem batizados e confessarem os seus pecados - o que equivalia ao arrependimento - eles estavam se comprometendo com uma nova vida de fidelidade a Deus. O arrependimento genuíno é a obra do Espírito de um Deus misericordioso na alma e ocasionará uma mudança moral radical em direção a Deus na perspectiva e na conduta da vida de alguém. O Salmo 51 nos dá um exemplo precioso de tal mudança.

O apóstolo Paulo escreveu que é a bondade de Deus que leva ao arrependimento (Romanos 2:4). Foi certamente a bondade de Deus que proporcionou aos judeus a oportunidade de se arrependerem dos seus pecados ao serem batizados por João. O arrependimento é um processo moral na alma e deveria, de fato, ser um exercício contínuo conosco, dia após dia. Todos os que foram genuínos na sua resposta ao chamado de João para serem batizados, arrependendo-se e confessando os seus pecados, teriam sido moralmente adequados para desfrutar das bênçãos do “reino dos céus”, que estava próximo. (Mateus 3:2)

O reino dos céus refere-se a um ambiente na terra onde tudo está de acordo com a mente do céu. Este fato estava implícito nas palavras que o Senhor Jesus usou ao instruir Seus discípulos na questão da oração: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10). O chamado ao arrependimento era parte integrante da mensagem de João na sua pregação do evangelho do reino. A mesma mensagem foi retomada pelo Senhor Jesus e pelos Seus discípulos, mas tal pregação cessou no dia de Pentecostes porque a nação rejeitou e crucificou o seu Messias e Rei. Consequentemente, o reino dos céus não será conhecido na terra até a chegada da era milenar sob o reinado benevolente de Cristo. Hoje o reino dos céus tomou outra forma, e conforme Mateus 13, o reino dos céus é a esfera onde a autoridade de Cristo é reconhecida, mesmo que o seja só exteriormente. Todo cristão professo está no reino dos céus. Isto exclui, evidentemente, aqueles que são muçulmanos, judeus ou pagãos. Toda pessoa que tenha feito uma confissão de fé em Cristo, mesmo que tenha sido apenas como um ritual exterior, já não é meramente um judeu ou gentio, mas encontra-se no reino dos céus. Isto é bem diferente de alguém ser nascido de novo e ser batizado em o Espírito Santo no corpo de Cristo. Quem quer que leve sobre si o nome de Cristo pertence ao reino dos céus. Ainda que ele seja apenas um joio ali, esta será a sua posição. Isto é algo muito solene. Onde quer que Cristo seja confessado publicamente, existe uma responsabilidade maior do que aquela que recai sobre o restante do mundo.

Após o Pentecostes, o evangelho da graça de Deus, a salvação através do “arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos 20:21), foi pregado pela primeira vez por Pedro (Atos 2) e continua até os dias atuais. Quando a Igreja for arrebatada para a glória (1 Tessalonicenses 4:14-17), e o dia da graça de Deus terminar, o evangelho do reino será pregado novamente e continuará até a chegada do Milênio, ou seja, o reino dos céus. A nação de Israel finalmente se arrependerá e entrará no seu descanso; e, como diz Miquéias, “cada um assentará debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira; e ninguém os assustará; porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse” (Miquéias 4:4).

No batismo do Senhor Jesus por João Batista, Ele veio a João no espírito de “Filho do Homem” e, como tal, estava pronto a identificar-se com todos em Israel que procuravam testemunhar uma mudança no seu modo de vida através do batismo de arrependimento, confessando os seus pecados. Como o Senhor Jesus não tinha nada do que se arrepender, Seu batismo não foi um batismo de arrependimento, mas o cumprimento de toda a justiça. No entanto, Ele teve o prazer de se alinhar com todos os que estavam prontos para garantir que estavam moralmente aptos a desfrutar das bênçãos do reino dos céus. Além disso, pelo Seu batismo, o Senhor Jesus estava confirmando a Sua prontidão para liderar o Seu povo pelo exemplo. As amáveis ​​palavras do Senhor Jesus aos primeiros discípulos: “Segue-me” em (Mateus 4:19), estavam repletas de profundo afeto e de saudades nos corações das pessoas que foram, e ainda são, “a menina dos seus olhos” (Deuteronômio 32:10).

O Senhor Jesus, em Suas palavras a João no Jordão: “nos convém cumprir toda a justiça” (Mateus 3:15), tinha em mente o tempo em que, na cruz, Ele satisfaria as justas exigências de um Deus santo contra o pecado. Sem dúvida o Senhor Jesus estaria consciente das palavras proféticas que seriam proferidas por Caifás mais de 3 anos depois, “que convinha que um só homem morresse pelo povo” (João 18:14). Assim como Ele entrou nas águas da morte em Seu batismo, Ele também iria para a morte na cruz e se tornaria responsável perante Deus pelo pecado do mundo, exaurindo assim o julgamento de Deus sobre o pecado e cumprindo toda a justiça (Hebreus 10:18). Os olhos de Deus estavam voltados para o evento único do batismo de Seu Filho no Jordão, pois Ele estava pronto para expressar o prazer que enchia Seu coração, prazer ocasionado pelo Homem Perfeito que O representou impecavelmente na terra durante os 30 anos em Nazaré.

O Espírito de Deus descendo sobre o Senhor Jesus na forma de uma pomba depois do batismo foi um sinal da natureza e do caráter do Senhor Jesus como o Filho do Homem na terra - pacífico, gentil, amoroso e bondoso. O fato de o Espírito de Deus ter repousado sobre o Senhor Jesus confirmou que, pela primeira vez desde a criação, quando o Espírito de Deus pairava sobre as águas em trevas, o Espírito de Deus poderia agora descansar complacente e imperturbável sobre um Homem segundo o Seu próprio coração, em quem Ele havia encontrado tudo, Sua delícia. Tal deleite fez com que os céus se abrissem para que o mundo ouvisse a avaliação de Deus sobre Seu Filho amado, “em quem me comprazo” (Mateus 3:17; Marcos 1:11).

Os batizados por João arrependeram-se, foram perdoados e salvos?

Lucas 1:77 indica que João apontaria o povo para a salvação, e Lucas 3:3 e Marcos 1:4 mostram que aqueles que se identificaram com João no batismo também indicavam que seus pecados foram perdoados. Sem dúvida que poderia haver entre este, como em nossos dias, nem todos que confessam serem salvos e são batizados, tem a realidade.

A exigência de João para o batismo fazia parte da mensagem que ele pregava. Foi um período transitório, preparando o povo para a vinda do Senhor. O requisito era o arrependimento, e este batismo os identificou inequivocamente com João e sua mensagem.

João exigiu arrependimento antes de batizar alguém. O arrependimento era necessário para preparar o caminho para o Messias e, como diz Isaías 40, isso endireitaria Seus caminhos. Os líderes Judeus, com uma mentalidade elitista, apoiados na sua ligação genealógica com Abraão, eram como montanhas que precisavam ser abaixadas. As multidões de pessoas comuns eram como vales que precisavam ser elevados. Os cobradores de impostos eram os corruptos que precisavam de correção. Os soldados eram rudes e precisavam de alisamento (ver Lucas 3:5).

A expressão, “Pela remissão dos pecados” ou “em vista da remissão dos pecados” (Lucas 1:76,77), não pode falar do perdão futuro dos pecados, com a condição de se segurar firme até que o Messias possa libertar. Deus nunca deixou e nunca deixará um povo sem acesso à justificação onde o verdadeiro arrependimento e fé em Deus estão presentes. Além do mais, embora houvesse passos para nos “levar” à salvação, a salvação da penalidade dos nossos pecados não é um processo. As Escrituras descrevem a salvação como sendo trazida da morte para a vida, das trevas para a luz e, no caso único de Paulo, como um nascimento prematuro repentino (Efésios 2:1-4; Colossenses 1:13; 1 Coríntios 15:8).

O próprio batismo nunca pode salvar. A exigência de Deus sempre foi a fé no que Deus exigia. Em relação a Abraão, por exemplo, Gênesis 15:6 simplesmente registra: “E ele creu no Senhor; e isso lhe foi imputado como justiça.” Habacuque, sob a lei, escreveu: “O justo viverá pela sua fé” (2:4).

Mas o que podemos dizer dos discípulos de João em Éfeso que encontraram Paulo (Atos 19)?

Não sabemos de onde vieram esses discípulos, mas é plausível que tenham sido convertidos por Apolo ao batismo de João. Se assim for, o evangelho incompleto de Apolo resultou em “convertidos” que não foram salvos – eles não receberam o Espírito Santo quando creram (Atos 19:2). João ensinou que o batismo no Espírito Santo estava chegando e Apolo não devia saber que isso havia ocorrido. Contudo, ao procurarem e desejarem a verdade, eles a receberam quando ela veio.

Isto é semelhante a Cornélio em Atos 10, que acreditava em tudo o que entendia e ainda assim não sabia sobre as implicações da morte de Cristo. Ele foi instruído a chamar Simão Pedro, “o qual te dirá palavras pelas quais tu e toda a tua casa serão salvos” (Atos 11:14). Visto que a mensagem de fé em Cristo chegou, foram salvos, pois o objeto da fé para a salvação é Jesus Cristo (Gálatas 3:21-26). Tanto Cornélio como os discípulos de João em Éfeso foram introduzidos nos requisitos para a justificação dentro da nossa dispensação quando ouviram a Palavra e creram. Esses discípulos de João em Éfeso mostram que o batismo de João era necessário para a época, mas não é mais na mente de Deus. Foi para uma era passada de preparação para o Messias. Agora Deus “nestes últimos dias nos falou por meio de seu Filho” (Hebreus 1:2).

“Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.” (Atos 19:4,5)

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