A fé é um dom de Deus?

Em certo sentido, tudo o que desfrutamos é uma dádiva de Deus – ar para respirar, suas faculdades mentais, um teto sobre sua cabeça; essas são todas as coisas pelas quais você pode agradecer a Deus de forma justificada.

Mas perguntar se a fé é um dom é algo muito diferente. A questão não diz respeito a coisas comumente experimentadas por vastas multidões, mas algo especialmente apreciado por alguns.

A fé obviamente não é algo com que você nasceu; fé é acreditar em uma mensagem ou Palavra de Deus e, portanto, requer uma medida de entendimento que você não poderia possuir na infância.

As pessoas ou têm fé ou não têm  – um dia você não confiava em Cristo, e no dia seguinte você confiou nEle.

Lemos em João 3:18: “Quem crê em Cristo não é condenado; mas quem não crê já está condenado.”

Como isso aconteceu?

Efésios 2:8, diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

Qual é o “dom” neste versículo – fé ou salvação?

No grego, há uma correspondência gramatical de caso e gênero entre as várias partes do discurso. Neste versículo, a palavra “isto” é um pronome neutro, enquanto “fé” é um substantivo feminino – eles não concordam em gênero (nem em caso).

Não há base para afirmar que este texto ensina que a fé é uma dádiva – a salvação sim é uma dádiva e é recebida por meio da fé.

Em 2 Pedro 1:1, Pedro escreve “aos que obtiveram fé igual à nossa”.

Essa “fé” é sua confiança pessoal em Cristo ou é usada em um sentido objetivo, significando o corpo de verdade (ou seja, o evangelho)?

Não há consenso unânime, mas muitos professores e estudiosos do passado e contemporâneos sustentam que é o último opção é a mais correta - ou seja, esses crentes receberam o mesmo evangelho que Pedro e os apóstolos.

Por exemplo, William Kelly, que diz que o versículo “não levanta nenhuma questão de medida de fé naqueles que crêem, mas afirma que aquilo em que se crê é igualmente precioso para o cristão mais simples como para um apóstolo”.

Se a fé em mente é sua confiança pessoal subjetiva em Cristo, a essência do texto permanece a mesma – Deus capacitou esses crentes a permanecerem no mesmo terreno que os apóstolos, por meio da fé.

Filipenses 1:29, diz: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele.”

Seria um exagero dizer que este versículo ensina que a fé é um dom especialmente concedido. O que é concedido não é crença ou sofrimento, mas a oportunidade de crer e sofrer. Este é um ensinamento semelhante a Deus concedendo arrependimento em outras Escrituras.

Em Atos 5:31, Pedro diz que Deus exaltou Jesus “para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados”.

Mas isso não significa que todo o Israel se arrependeu – significa que, na misericórdia de Deus, eles tiveram a oportunidade de se arrepender.

Nenhum desses textos da Escritura deve ser entendido como significando que a fé para crer em Cristo para a salvação é um dom que Deus dá ao pecador.

A preocupação na mente de algumas pessoas, porém, é que se a fé não é um dom de Deus, então sugerimos que a salvação é uma espécie de empreendimento cooperativo em que o homem pode receber parte do crédito. Mas esse pensamento atribui mérito à fé quando a Escritura não o faz.

Uma salvação recebida pela fé ainda é uma salvação que é toda de Deus e pela qual todo o crédito vai para Deus.

A salvação pela fé não está em contradição com a salvação pela graça, como Romanos 4:16 declara: “É pela fé para que seja segundo a graça”.

A fé é a condição para receber a salvação, não o fundamento para ela. A expiação de Cristo na cruz é a base para a salvação. Uma criança não merece glória quando recebe um presente de aniversário comprado por seus pais; da mesma forma, um pecador que exerce fé para receber a salvação não merece nenhuma glória.

Romanos 3:26-27 deixa claro que a doutrina da justificação pela fé proíbe automaticamente a vanglória – não porque a fé veio de Deus, mas porque está em contraste com as obras de mérito.

É verdade que a fé é uma responsabilidade humana, mas é apenas a resposta da vontade de um pecador esclarecido e persuadido pela palavra de Cristo no evangelho e ao agir do Espírito em seu coração.

Lemos que, “Nem todos têm fé” (2 Tessalonicenses 3:2), mas não é culpa de Deus; e nas Escrituras, o fato de alguns terem fé não é motivo de louvor para ninguém. Deus justifica o crente, mas não pelo valor de sua crença, mas pelo valor daquele em quem se crê.

As Escrituras não apresentam a fé para confiar em Cristo para a salvação como um dom que Deus dá especialmente. O que Deus dá para capacitar a fé é evidência.

Suas obras, Sua fidelidade e a confiabilidade de Sua Palavra combinam-se como uma revelação de Sua credibilidade. Embora Sua graça não seja irresistível, Ele graciosamente nos mostra que Ele é aceitável.

E na misericórdia de Deus, Ele não apenas fala, mas somos capazes de ouvir e responder –  pois “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Romanos 10:17).

A fé não é um dom especial de Deus – isso só pode ser visto se for assumido e lido no texto. Ela vem como uma resposta humana à declaração do evangelho capacitada pelo Espírito, e é a ausência voluntária dessa resposta que condena justamente o pecador incrédulo (João 3:18).

Paulo disse: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16).

Não há glória humana na apresentação bíblica da salvação – Cristo morreu e ressuscitou, o Espírito trabalha hoje, os pecadores crêem e Deus salva.

 

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