A alma e o espírito humano são distintos

Como o espírito difere da alma não é tão óbvio ou fácil. De fato, o escritor aos Hebreus aponta que somente a Palavra de Deus pode distinguir claramente os dois: “penetra até a divisão da alma e do espírito” (Hebreus 4:12).

No interior do corpo (representado por seus ossos), um bisturi pode dissecar articulações da medula. Assim, no setor não físico interno, a Palavra de Deus diferencia a alma humana do espírito humano.

A frase “a divisão da alma e do espírito” não significa que a Palavra de Deus realmente desconecte esses componentes imateriais um do outro. Embora a morte física separe o espírito-e-alma do corpo, nada pode deslocar o espírito da alma.

A parte espiritual do homem, composta de espírito e alma juntos, é indivisível; ainda assim, a Palavra de Deus pode separar figurativamente a alma e o espírito, distinguindo-as e tratando-as cada uma separadamente.

Apesar disso, muitos teólogos modernos ensinam que os termos “alma” e “espírito” são idênticos, afirmando que os seres humanos têm apenas dois componentes, não três.

Eles baseiam isso no fato de que a Palavra de Deus muitas vezes parece usar “alma” e “espírito” de forma intercambiável.

As palavras de Maria em Lucas 1:46-47 são um exemplo disso: “A minha alma se engrandece..., e meu espírito se alegrou”.

(Leia Jó 7:11; Isaías 26:9).

Quando o Espírito Santo de Deus coloca frases paralelas juntas, no entanto, Ele não pretende que vejamos as palavras correspondentes como precisamente idênticas. Se deixarmos de procurar distinções sutis, deixaremos escapar verdades valiosas por entre os dedos. Por exemplo, aqueles que entendem significados idênticos para as frases “à nossa imagem” e “conforme a nossa semelhança” em Gênesis 1:26 perdem a verdade de que Deus fez o homem à sua imagem para representar Ele, mas fez o homem à Sua semelhança para se assemelhar a Ele.

Frases semelhantes não são frases idênticas.

Mas por que os termos “alma” e “espírito” parecem se sobrepor na Palavra de Deus?

A Bíblia frequentemente usa um dos dois termos para representar ambos, ou mesmo para a pessoa como um todo. Chamamos esse dispositivo literário de “sinédoque” – uma figura de linguagem na qual uma parte representa o todo (como a mão do marinheiro em todas as mãos no convés), ou o todo representa uma parte (como a lei para o policial).

Assim, Lucas registra em Atos 27:37: “E éramos ao todo, no navio, duzentas e setenta e seis almas”.

Neste versículo, o termo “alma” é uma sinédoque para pessoas inteiras, (corpo, alma e espírito).

Da mesma forma, a Bíblia às vezes usa “espírito” ou “carne” ou “coração” ou “corpo” para se referir à pessoa inteira.

Portanto, algumas passagens falam de termos “corpo” e “alma” (Mateus 10:28), algumas usam os termos “corpo” e “espírito” (Tiago 2:26; 2 Coríntios 7:1), e algumas combinam “ carne” e “coração” (Salmos 16:9; 73:26; Ezequiel 44:7).

Em cada caso, “espírito”, “alma” ou “coração” representam o componente imaterial e espiritual do homem, em contraste com o físico.

O conceito de regeneração conforme o encontramos na Bíblia fala do processo de passar da morte para a vida. O espírito de um homem antes da regeneração está afastado de Deus e é considerado morto, porque a morte é a dissociação da vida e de Deus, que é a fonte da vida. Em consequência, a morte é a separação de Deus.

O espírito do homem está morto e por conseguinte é incapaz de ter comunhão íntima com Ele. Ou sua alma o controla e o submerge em uma vida de ideias e imaginações, ou os desejos carnais e os costumes de seu corpo o estimulam e reduzem a sua alma à escravidão.

A Bíblia é clara no assunto da nossa salvação: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

(João 3:17, 18; Efésios 2:8, 9)

Não há uma única pessoa no céu que tenha chagado lá sem ter sido salva pela graça de Deus, mediante a fé.

“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.”

(Tito 3:5-7)

O espírito do homem tem que ser avivado porque nasceu morto. O novo nascimento de que falou o Senhor Jesus com Nicodemos é o novo nascimento do espírito. (João 3)

É obvio que não é um nascimento físico como acreditava Nicodemos, nem tampouco anímico. Devemos nos fixar cuidadosamente em que o novo nascimento transmite a vida de Deus ao espírito do homem. Posto que Cristo expiou por nossa alma e destruiu o princípio da carne, os que estamos unidos a Ele participamos de sua vida de ressurreição.

Quando salvo pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, fomos unidos a Ele em sua morte; por conseguinte, é em nosso espírito onde colhemos primeiro o cumprimento de sua vida de ressurreição.

O novo nascimento é algo que acontece totalmente no espírito humano: não tem nenhuma relação com o corpo em si.

O que faz que o homem seja único na criação de Deus não é que possui uma alma, mas sim que tem um espírito que, unido à alma, constitui o homem. Esta união faz do homem um ser extraordinário no universo.

Segundo a Bíblia é seu espírito que tem relação com Deus. Deus é Espírito, e em consequência todos os que o adoram devem adorá-lo em espírito. Só o espírito pode ter comunicação íntima com Deus. Só o espírito humano pode adorar em Espírito e em verdade. Por isso encontramos na Bíblia frases como:

“Servindo com meu espírito” (Romanos 1:9; 7:6; 12:11);

“Conhecendo por meio do espírito” (1 Coríntios 2:9-12);

“Adorando em espírito” (João 4:23, 24);

“Recebendo em espírito a revelação de Deus” (Apocalipse 1:10; 1 Coríntios 2:10).

A bíblia diz que antes da salvação, aquela pessoa, “estava morta nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes, pois faziam a vontade da carne e dos pensamentos” (Efésios 2:1-3).

A Palavra de Deus não divide o homem em duas partes de alma e corpo. Pelo contrário, trata o homem como um ser tripartido: espírito, alma e corpo.

1 Tessalonicenses 5:23, 24 diz: “E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, e ele também o fará.”

Este versículo mostra claramente que o homem está dividido em três partes. O apóstolo Paulo se refere aqui à santificação total dos crentes: “vos santifique completamente”.

Segundo o apóstolo, como se santifica uma pessoa por completo? Guardando para Deus o seu espírito, alma e corpo.

Com isso, é fácil compreender que o conjunto da pessoa compreende estas três partes.

Este versículo também faz uma distinção entre espírito e alma, pois de outro modo Paulo teria dito simplesmente “sua alma”. Posto que Deus distinguiu o espírito humano da alma humana, concluímos que o homem está composto, não de dois, mas sim de três partes: espírito, alma e corpo.

Em sua carta aos Gálatas, depois de enumerar muitos atos da carne, o apóstolo Paulo adverte que “os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e desejos”(Gálatas 5:24). Eis aqui a libertação.

Não é estranho que o que interessa ao crente difere muito do que interessa a Deus?

O crente está interessado nas “obras da carne” (Gálatas 5:19), quer dizer, nos pecados variados da carne. Está ocupado com a irritação de hoje, o ciúme de amanhã ou a disputa depois de amanhã.

O crente se lamenta por um pecado em particular e deseja conseguir a vitória sobre ele. Entretanto, todos estes pecados só são frutos da mesma árvore. Enquanto se agarra uma fruta (em realidade não se pode agarrar nenhuma) aparece outra. Crescem uma atrás de outra e não dão nenhuma possibilidade de vitória. Por outro lado, Deus não está interessado nas obras da carne mas sim na crucificação da carne.

A salvação que proporciona esta vitória é justamente o remédio adequado preparado exclusivamente por Deus.

Primeiro Cristo morreu na cruz pelo pecador para perdoar seus pecados. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo com justiça. Mas a seguir está o fato de que o pecador também morreu na cruz com Cristo para que não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode fazer que o espírito e alma do homem recuperem seu próprio domínio, que o corpo seja seu servidor externo.

Desta forma, o espírito, a alma e o corpo serão restaurados a sua posição original anterior à queda.

“Os que pertencem a Cristo Jesus” se refere a todo crente no Senhor. Todos os que creram nEle e nasceram de novo lhe pertencem.

O fator decisivo é se esteve unido a Ele pela fé para ser salvo, não se é espiritual ou se trabalhar para o Senhor, nem se conseguiu libertação do pecado; pois, com a verdadeira salvação que recebemos em Cristo, venceram-se as paixões e desejos da carne e agora se é plenamente santificado.

Em outras palavras, a pergunta só pode ser: foi-se regenerado, ou não?

Creu no Senhor Jesus como Salvador, ou não?

Se a resposta for sim, não importa o estado espiritual atual — em vitória ou em derrota —, “crucificou-se a carne”.

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”

(2 Coríntios 5:17)

O assunto que temos adiante não é moral, nem é coisa da vida, conhecimento ou obras espirituais. Simplesmente é, se é do Senhor ou não.

Se for assim, então já se crucificou a carne na cruz. Está claro que isto significa, não que alguém vai crucificar, nem que está no processo de crucificação, mas sim que já crucificou.

Se foi uma crucificação conjunta, então quando o Senhor Jesus foi crucificado, nesse momento também foi crucificada nossa carne. Além disso, a crucificação junto com a sua não a sofremos pessoalmente, posto que foi o Senhor Jesus quem nos levou a cruz em sua crucificação.

Em consequência, Deus considera nossa carne já crucificada. Para Ele é um fato consumado. Sejam quais forem nossas experiências pessoais, Deus declara que “os que pertencem a Cristo Jesus, crucificaram a carne”.

Para possuir esta morte não devemos dedicar muita atenção a investigar ou observar nossas experiências. Em vez disso devemos crer na Palavra de Deus.

Deus diz que minha carne foi crucificada e por isso acredito que está crucificada. Reconheço que o que diz Deus é verdade. Respondendo desta maneira logo nos encontraremos com a realidade disto. Se primeiro olhamos o ato de Deus, nossa experiência virá a seguir.

Da perspectiva de Deus, (os crentes de Corinto que boa parte era carnal) já tinham crucificada sua carne na cruz com o Senhor Jesus, mas do seu ponto de vista é evidente que não tinham semelhante experiência.

Possivelmente isto se devia a seu desconhecimento de fato de Deus. Daí que o primeiro passo para a libertação é tratar a carne segundo o ponto de vista de Deus. E o que é isso?

Não é tentar crucificar a carne, mas sim reconhecer que foi crucificada; não é andar segundo nossa vista, mas sim segundo nossa fé na Palavra de Deus. Se estivermos bem assentados neste ponto de reconhecer que a carne já está crucificada, então poderemos tratar com a carne em nossa experiência. Se vacilarmos quanto a este fato perderemos a possibilidade de possuí-lo definitivamente. Para experimentar a crucificação junto com Cristo, primeiro devemos deixar de lado nossa situação atual e simplesmente confiar na Palavra de Deus e viver a luz desta verdade.

Lemos em Gálatas 5: “Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.”

 

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