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Traduzir ekklesia como assembleia, poderia denotar uma influência exclusivista?

 Alguém me perguntou no WhatsApp:

Aproveitando, irmão. Eu dividi com alguns irmãos esse texto (meu devocional). Um deles me falou que o Darby foi o primeiro a traduzir ekklesia como assembleia, o que está certo, mas advertiu que poderia denotar uma influência exclusivista. Claro que expliquei que o irmão não tem essa característica. Mas, enfim, faz sentido essa colocação que ele fez?

Minha Resposta:

Irmão, essa preocupação do teu amigo é comum, mas nasce mais de associações históricas do que de fundamentos bíblicos ou linguísticos.

Primeiro, é verdade que John Nelson Darby traduziu ekklesia para “assembleia” nas suas versões. Mas isso não introduziu nenhuma novidade doutrinária. Ele apenas preferiu utilizar uma palavra que está totalmente dentro do campo semântico original do termo grego. Ekklesia significa literalmente “uma congregação chamada para fora”, uma reunião convocada — exatamente o que o português expressa com “assembleia”.

A questão, portanto, não é a palavra em si, mas a carga que algumas pessoas deram ao uso dela. Ao longo da história, certos grupos adotaram “assembleia” como nome institucional e, por isso, a palavra acabou sendo associada a práticas exclusivistas — mas isso é apenas um uso sociológico, não linguístico, nem bíblico.

Aliás, a tradução “assembleia” aparece em muitas versões de várias épocas quando o contexto fala do povo reunido. Em Atos 19:39–41, a ARC, a ARA e outras traduzem ekklesia como “assembleia” e ninguém acha que, por isso, o texto está ensinando exclusivismo. O termo é neutro; o contexto é que define o significado.

A preocupação de teu amigo só teria relevância se tu estivesses usando o termo para marcar identidade denominacional — o que não é o caso. O nosso entendimento, conforme Atos dos Apóstolos e as epístolas, é que a ekklesia é simplesmente o povo de Deus reunido ao nome do Senhor Jesus Cristo (Atos 2:42; 1 Coríntios 1:2). A palavra “igreja” tornou-se comum, mas não é mais bíblica do que “assembleia”; é apenas uma convenção linguística do nosso tempo.

Portanto, não há nada, absolutamente nada, no uso da palavra “assembleia” que, por si só, comunique exclusivismo. O que define se alguém é exclusivista ou não não é o vocabulário, mas a prática.

Se ele quiser pensar biblicamente, basta observar que o Novo Testamento jamais apresenta a igreja como uma denominação ou marca institucional, mas como um corpo de crentes reunidos em nome do Senhor (Mateus 18:20; Efésios 4:4). Seja chamada “igreja”, “assembleia” ou “congregação”, o conteúdo é o mesmo: um testemunho local de pessoas salvas pelo sangue do Cordeiro, sujeitas às Escrituras e guiadas pelo Espírito Santo.

Assim, a colocação que ele fez não procede. É apenas uma associação cultural, não uma inferência bíblica.

Josué Matos