Alguém me escreveu no YouTube:
A pessoa afirma que deseja seguir apenas o que considera ser o ensino direto das Escrituras e a fé transmitida pelos apóstolos à Igreja primitiva. Para ela, certas doutrinas desenvolvidas séculos depois — especialmente aquelas que fazem distinções entre Israel e a Igreja — não têm base bíblica nem histórica. Defende que judeus e gentios formam um único povo em Cristo, dentro de um único plano de redenção, e que a verdadeira unidade cristã não deveria depender de interpretações modernas, mas da simplicidade da fé apostólica. Por fim, argumenta que a Bíblia é clara e suficiente por si só, sem necessidade de teorias ou sistemas doutrinários para ser compreendida.
Minha Resposta:
Meu irmão, compreendo perfeitamente o tom da tua mensagem. Há sinceridade no que escreves, e isso merece uma resposta paciente, firme e fundamentada. Permite-me, com carinho e clareza, colocar algumas coisas que talvez te ajudem a organizar melhor esse raciocínio.
Antes de tudo, todos nós desejamos permanecer naquilo que está claramente revelado nas Escrituras. Esta é também a fé que recebemos dos apóstolos, pois “toda a Escritura é divinamente inspirada” (Segundo a Epístola de Paulo a Timóteo 3:16). Mas é justamente por respeito a essa clareza que precisamos ter cuidado: nem tudo o que parece simples à primeira vista é, de facto, a leitura que os próprios apóstolos fizeram.
Por exemplo, quando afirmas que permaneces na “unidade do povo de Deus” sem distinção entre Israel e a Igreja, isso soa bonito, mas não corresponde ao ensino explícito dos autores inspirados. O apóstolo Paulo, por exemplo, faz distinções claras e inegáveis:
– Ele chama Israel de “meus parentes segundo a carne” e diz que a eles pertencem “as alianças e as promessas” (Epístola aos Romanos 9:3-4).
– Ao mesmo tempo, afirma que a Igreja é um povo “formado de judeus e gentios”, criado “para fazer de ambos um só corpo” (Epístola aos Efésios 2:14-16).
Ou seja, não é verdade que a Igreja e Israel sejam simplesmente a mesma coisa. Ambos pertencem ao plano eterno de Deus, mas não são idênticos. Fazer uma fusão dos dois é justamente colocar sobre o texto algo que os apóstolos nunca ensinaram.
Além disso, quando alguém afirma que uma doutrina “surgiu muito tempo depois”, convém lembrar que o surgimento de um nome, de um sistema ou de uma formulação posterior não significa que a doutrina em si não exista na Bíblia. A palavra “Trindade”, por exemplo, não aparece nas Escrituras — mas a doutrina está em toda parte, desde o Livro de Gênesis até o Evangelho segundo João. Muitos ensinos bíblicos foram sistematizados mais tarde justamente porque os crentes procuraram compreender melhor aquilo que já estava revelado.
Também é importante reconhecer que a simplicidade da fé apostólica não significa ausência de distinções doutrinárias. O próprio apóstolo Pedro afirmou que algumas coisas escritas por Paulo eram “difíceis de entender” (Segunda Epístola de Pedro 3:16). A clareza das Escrituras não é sinônimo de superficialidade; é uma clareza que exige que recebamos cada passagem dentro do seu contexto histórico e profético.
Quando dizes que as interpretações modernas “confundem e dividem”, é preciso lembrar que não é a correta interpretação das Escrituras que divide, mas sim quando ignoramos as distinções que Deus mesmo estabeleceu. Em toda a Bíblia vemos Deus distinguindo: luz e trevas, Céu e terra, judeus e gentios, Lei e graça, Igreja e Israel, presente século e o século vindouro. Não reconhecer essas distinções é que gera confusão, pois mistura aquilo que Deus separou.
A verdadeira unidade da Igreja está, sim, em Cristo — nisso estamos plenamente de acordo. Mas essa unidade não é uniformidade doutrinária forçada, muito menos uma simplificação que apaga o ensino apostólico. A unidade bíblica é baseada na verdade, não na redução da verdade.
Por isso, meu irmão, não há qualquer necessidade de receio de doutrinas claras nas Escrituras só porque foram discutidas ou organizadas séculos depois. O importante é perguntar: está escrito? Foi assim que os apóstolos ensinaram? A Palavra de Deus é que deve julgar as nossas percepções, e não o contrário.
Se quiser, continuamos a conversa com calma, analisando cada ponto com as Escrituras abertas, sem pressões, sem sistemas humanos, apenas com o desejo de compreender aquilo que Deus realmente revelou.