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Como responder à acusação da igreja romana?

 Alguém me escreveu no WhatsApp:

Boa noite, meu irmão. Como responder à acusação da igreja romana de por que nossas Bíblias têm menos livros do que as versões utilizadas por ela? Como afirmar a superioridade da Bíblia sobre a tradição que ela afirma ter o mesmo valor revelacional que a Sagrada Escritura? Como mostrar que a Bíblia pode e deve ser estudada individualmente? Deus te abençoe sempre. Muito obrigado! Oremos uns pelos outros.

Minha Resposta:

Meu querido irmão, que perguntas importantes — e que muitas vezes ouvimos não só de católicos romanos, mas de qualquer pessoa que desconhece a formação das Escrituras. Vou responder de forma clara, bíblica, organizada e sem atacar pessoas, mas esclarecendo fatos históricos e doutrinários.

  1. Por que as Bíblias protestantes têm menos livros?

A questão não é que “tiramos” livros. A questão é: quais livros o povo de Deus sempre reconheceu como inspirados?

O Senhor Jesus e os apóstolos usaram o Antigo Testamento hebraico, aquele que os judeus receberam de Deus (Romanos 3:2). Esse conjunto corresponde exatamente aos 39 livros que encontramos hoje nas Bíblias protestantes — nem mais, nem menos. Quando o Senhor Jesus fala da revelação divina “desde Abel até Zacarias” (Mateus 23:35), Ele percorre todo o escopo do Antigo Testamento hebraico: Génesis (onde Abel aparece) até 2 Crónicas (último livro da Bíblia hebraica da época). Os livros chamados de “deuterocanónicos” pelos romanos nunca fizeram parte desse cânon hebraico.

Esses livros foram escritos entre Malaquias e Mateus, num período onde não havia profeta em Israel (1 Samuel 3:1; comparando com Hebreus 1:1). Esse período é conhecido como “400 anos de silêncio”. Nem o povo judeu, nem o próprio Senhor Jesus, nem os apóstolos os trataram como Escritura inspirada. Eles podem ter valor histórico, mas não carregam selo de inspiração divina.

Por isso, não “removemos” livros; simplesmente mantemos o mesmo cânon que o Senhor Jesus usou.

  1. A Bíblia é superior à tradição humana?

A Escritura afirma repetidas vezes que somente a Palavra escrita é a regra final de fé:

Salmo 119 declara repetidamente que a revelação escrita é perfeita, segura, suficiente e imutável.

Em Deuteronómio 4:2, Deus ordenou: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela”. Deus nunca deu a qualquer instituição o poder de criar nova revelação.

O Senhor Jesus confrontou tradições religiosas que estavam no mesmo patamar da Escritura. Em Marcos 7:13, Ele disse que os fariseus invalidavam a Palavra de Deus “pela vossa tradição”. Isso é exatamente o perigo de qualquer sistema religioso que coloque tradições humanas ao lado da Escritura, dando-lhes igual autoridade.

O apóstolo Paulo mostrou que a autoridade final é a Escritura inspirada: “Toda a Escritura é inspirada por Deus… para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído” (2 Timóteo 3:16-17). Note que ele afirma que a Escritura é suficiente para perfeição, não deixando espaço para tradições com o mesmo peso revelacional.

A Bíblia é completa, suficiente, perfeita e fechada. A tradição pode ser útil, desde que sempre subordinada à Escritura e nunca igual ou superior a ela.

  1. A Bíblia pode e deve ser estudada individualmente?

Sim, e a própria Bíblia incentiva isso.

A Palavra de Deus nunca foi destinada a um grupo exclusivo. Pelo contrário:

• O Senhor Jesus repetiu várias vezes “Nunca lestes?” e “Está escrito” — dirigindo-se ao povo comum (Mateus 12:3; 19:4; 21:42).

• Os bereanos foram elogiados por examinarem as Escrituras por conta própria (Atos 17:11).

• O apóstolo Paulo exortou Timóteo, um indivíduo, a manejar bem a Palavra (2 Timóteo 2:15).

• O apóstolo Pedro escreveu suas cartas para cristãos comuns e ordenou: “Desejai… o leite racional, não falsificado” (1 Pedro 2:2). Esse leite era a Palavra.

• O próprio Senhor Jesus declarou que o Espírito Santo guiaria o crente em toda a verdade (João 16:13), não uma instituição religiosa monopolizando a interpretação.

O ensino bíblico é perfeitamente claro: cada crente tem acesso direto às Escrituras e ao Espírito Santo, e deve examiná-las pessoalmente.

Conclusão

O que precisamos destacar ao responder um católico é que esta não é uma disputa entre religiões, mas um retorno às fontes: o cânon que o próprio Senhor Jesus usou, a autoridade suprema da Palavra escrita, e o privilégio dado por Deus a cada crente de estudá-la diretamente.

Quando mantemos esta postura, mostramos que nossa posição não é “protestante”, mas profundamente bíblica.

Que o Senhor nos ajude a defender a fé com graça, humildade e firmeza. Oremos uns pelos outros, como pediste.

Josué Matos