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Quando o divórcio é justificado biblicamente?

 Alguém que me escreveu no YouTube:

Todos sabem o papel do marido no casamento, porém tudo muda quando, ao invés de amar a esposa, o marido quer abusar, machucar, e até matar. Já nem é mais casamento e o divórcio é justificado e necessário muitas vezes para salvar uma vida. Casamento é tão santo quanto o divórcio.

Minha Resposta:

Compreendo o seu ponto, mas é necessário trazer clareza bíblica a essa questão. A Palavra de Deus ensina que o casamento é uma instituição divina, criada pelo próprio Deus antes de qualquer sistema humano. Ele é chamado de “uma só carne” em Génesis 2:24 — é Deus quem une, e por isso o casamento é santo.

Porém, o divórcio não é santo, nem foi instituído por Deus. Ele surgiu por causa do pecado humano e foi regulamentado por Moisés por causa da “dureza do coração” (Mateus 19:8). Ou seja, o divórcio é um instrumento humano, civil, que existe porque o homem pecou — jamais porque Deus o desejou ou estabeleceu como algo equivalente ao casamento.

Quando existe abuso — seja cometido pelo marido ou pela esposa — isso não representa o casamento como Deus o instituiu. Abuso, violência, manipulação, humilhação e ameaça não fazem parte da aliança divina, mas do pecado de quem violou essa aliança.

Porém, é muito importante afirmar:

• A Bíblia não autoriza o divórcio como solução espiritual.
• A Bíblia reconhece que, em casos graves, pode haver separação de corpos, ou seja, deixar de viver sob o mesmo teto quando há perigo, violência, opressão ou risco.
• Mas separação não é divórcio. Não dissolve o casamento diante de Deus. Não cria espaço para novo casamento. Não redefine a aliança que Deus estabeleceu.
• É uma medida de proteção — não uma autorização bíblica para desfazer o que Deus uniu.

Paulo trata disso quando fala que, havendo circunstâncias extremas, a pessoa pode “se apartar”, mas continua casada diante de Deus (1 Coríntios 7:10-11). A ordem é clara: se separar, permaneça sem casar. Por quê? Porque o casamento continua existindo diante do Senhor.

Portanto:

• O casamento é santo.
• O abuso é pecado.
• A separação pode ser necessária para salvar a vida ou preservar a dignidade — e isto é responsabilidade e prudência.
• Mas chamar o divórcio de santo é impossível biblicamente. Ele é um ato civil, criado pelo homem, sem qualquer autoridade para desfazer aquilo que Deus uniu.

O que realmente deve ser dito é:
Em um casamento onde existe abuso, a pessoa precisa afastar-se do agressor para se proteger. Mas isso não muda o fato de que o divórcio não tem origem divina, não possui respaldo bíblico como solução espiritual, e não redefine o plano de Deus para o casamento.

Que o Senhor dê sabedoria e proteção a quem enfrenta uma situação tão dolorosa, e que conceda arrependimento àquele que se tornou agressor, pois ele é quem quebrou a aliança — e não o casamento, que permanece santo porque foi Deus quem o instituiu.


Quando o Senhor Jesus respondeu aos fariseus em Mateus 19:8, Ele explicou claramente em que contexto Moisés “permitiu” o divórcio:

“Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim.”

Ou seja, a chamada “permissão” de Moisés não foi um aval espiritual, nem uma aprovação divina ao divórcio. Foi apenas uma regulamentação civil, temporária, dada a um povo endurecido, para evitar que homens tratassem suas esposas com ainda mais violência e injustiça.

Para ficar bem claro:

  1. A situação em que Moisés permitiu o divórcio foi a dureza de coração do povo de Israel.
    O povo rejeitava o padrão de Deus, era rebelde, e já estava praticando divórcios de maneira cruel, arbitrária e irresponsável.
    Moisés não criou o divórcio — o povo já o praticava por causa da sua corrupção.

  2. A “permissão” foi uma concessão legal, não moral, para limitar danos.
    O repúdio acontecia de qualquer maneira; a lei apenas exigiu que o homem desse uma “carta de divórcio” (Deuteronômio 24:1), o que impedia expulsões injustas, abandono sem registro e outros abusos.

  3. Moisés não autorizou o divórcio como algo santo, mas como medida de contenção social entre um povo que insistia no pecado.

  4. Jesus anulou essa suposta permissão, restaurando o padrão original de Deus:
    “Ao princípio não foi assim”
    Gênesis 2:24 é a verdadeira Lei do casamento.

Portanto:

Moisés permitiu o divórcio somente por causa da dureza do coração humano, como um ato civil para frear injustiças — não como aprovação moral, espiritual ou divina.


O divórcio foi tolerado temporariamente como remédio para um mal maior, mas nunca fez parte do plano de Deus para o casamento.

O “divórcio” mencionado por Moisés em Deuteronômio 24:1 não era para casamentos plenamente consumados, mas para casos de DESPOSADAS — mulheres já legalmente comprometidas, mas cujo casamento ainda não havia sido finalmente estabelecido na convivência.

Aqui está a explicação bíblica e histórica:

  1. No costume judaico, a desposada já era considerada “esposa” legalmente, mesmo antes da união plena. Por isso Mateus usa a palavra “marido” para José enquanto ele só estava desposado com Maria.
    (Mateus 1:18-19)

  2. Como o noivado judaico era um contrato jurídico, romper esse compromisso exigia um documento formal — a carta de repúdio mencionada em Deuteronômio 24:1.

  3. O problema tratado por Moisés é exatamente este:
    um homem encontrava algo reprovável na mulher DESPOSADA, antes da consumação, e queria desfazer o compromisso.
    Para evitar que ele a expulsasse injustamente, Moisés ordenou a carta escrita — proteção legal, não aprovação moral.

  4. O texto não trata do casamento consumado.
    Quando o casamento já estava estabelecido como “uma só carne”, não existe em toda a Lei de Moisés qualquer autorização para dissolução.

  5. Foi por isso que o Senhor Jesus, ao explicar esse assunto, disse que aquela “permissão” foi dada por causa da dureza do coração, e não porque Deus alguma vez tenha permitido desfazer uma união consumada (Mateus 19:8).

Portanto:

A carta de divórcio de Deuteronômio 24 se refere a desposadas, não a casamentos completos.
Nunca houve permissão divina para dissolver uma união plenamente consumada, pois esta é “uma só carne”, obra direta de Deus.
• O que Moisés regulamentou foi apenas a forma de romper um compromisso prévio, que o povo já estava quebrando de modo injusto.

Assim, o divórcio na Lei não tem nada a ver com casamento consumado — tem a ver com o período do desposório, onde ainda não havia vida conjugal estabelecida.


Mas, o "Desposório" seria o nosso "Noivado" hoje?

A melhor maneira de responder é voltando ao próprio texto bíblico, onde encontramos claramente a estrutura do casamento judaico e o sentido da palavra desposada.

  1. Sim, “desposada” significa noiva — mas no contexto judaico, “noiva juridicamente casada”.
    O desposório entre os judeus não era apenas um compromisso informal. Era um pacto público, juridicamente válido, que só poderia ser rompido por divórcio. Por isso, a moça desposada já era considerada “mulher” do noivo, embora a consumação do casamento ainda não tivesse ocorrido.

  2. A base segura para entender esse assunto está nas Escrituras, principalmente em Deuteronômio 22, onde todo o contexto explica a diferença entre uma moça solteira e uma moça desposada. O ensinamento presente ali mostra que:

    • Se um homem difamasse uma virgem com quem havia casado, mas ainda não consumado, havia um processo formal.
    • Se um homem se deitasse com uma virgem desposada, era tratado como adultério, e não como fornicação. Isso mostra que a moça desposada já era legalmente esposa, embora ainda não estivesse vivendo com o marido.

  3. O Novo Testamento confirma esse entendimento.
    Quando Maria foi chamada de desposada de José (Evangelho segundo Mateus 1.18-19), a Escritura diz que José, “não querendo infamá-la, intentou deixá-la secretamente”. Isso só seria possível porque o desposório já era um vínculo matrimonial que exigia rompimento formal.

  4. Quanto à ideia de usar tradições rabínicas ou judaísmo messiânico como base doutrinária:
    As Escrituras são suficientes. A cultura judaica pode ajudar a ilustrar, mas a base doutrinária deve sempre ser o texto bíblico inspirado. E sobre o desposório, a Bíblia já fornece luz suficiente — especialmente em Deuteronômio 22 e nos relatos do nascimento do Senhor Jesus.

Portanto, a resposta direta é:

Sim, “desposada” significa noiva — mas no sentido judaico de alguém já unida ao noivo por pacto matrimonial, ainda não consumado, mas juridicamente válido. E a fonte segura para esse entendimento é a própria Escritura, especialmente Deuteronômio 22.

Josué Matos