Alguém me escreveu no YouTube:
Não há qualquer retirada do Espírito Santo após o arrebatamento. O que o detém pode ser o chamado mistério da fé. A apostasia — que é o abandono da fé, e não o afastamento da igreja visível — é o que leva Deus a enviar a operação do erro, relacionada ao homem do pecado, para que as pessoas creiam na mentira. Paulo afirma claramente aos tessalonicenses que eles receberão alívio das tribulações quando o Senhor Jesus vier em chama de fogo, isto é, no Dia do Senhor. Não existe nenhuma “vinda secreta” em chama de fogo, pois o Dia do Senhor somente ocorrerá depois da manifestação do homem do pecado.
Sendo assim, o homem do pecado precisa primeiro aparecer, realizar sinais e prodígios de mentira e apresentar-se como se fosse o próprio Deus. Se houvesse um arrebatamento que pudesse acontecer a qualquer momento, os tessalonicenses teriam ficado, e foi exatamente isso que pensaram que tinha ocorrido, porque o alívio das tribulações só acontece quando o Senhor vier em chama de fogo para atribular aqueles que atribulam o Seu povo. O texto é simples de entender. Vocês é que não conseguem ver os sinais e prodígios de mentira do homem do pecado, muito menos imaginar que poderiam ser atribulados, e por isso acabam manipulando os textos bíblicos conforme lhes convém.
Minha Resposta:
Agradeço a oportunidade de responder de forma organizada e diretamente aos pontos levantados, baseando-me exclusivamente no texto bíblico, considerando o contexto das cartas do apóstolo Paulo e observando com cuidado a relação entre 2 Tessalonicenses capítulo 2, 1 Tessalonicenses capítulo 4, 1 Tessalonicenses capítulo 5, e outras passagens correlatas do Novo Testamento e do Antigo Testamento.
1. Sobre “o que o detém” (2 Tessalonicenses 2:6–7)
O apóstolo Paulo declara:
“E agora sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja revelado.
Porque o mistério da iniquidade já opera; somente há um que agora resiste, até que do meio seja tirado.”
(Segunda Epístola de Paulo aos Tessalonicenses 2:6–7)
Paulo diz que os tessalonicenses sabiam o que detinha a revelação do “homem do pecado”. O texto não especifica explicitamente a natureza desse restritor; por essa razão, ao longo da história cristã, crentes sinceros apresentaram diferentes entendimentos.
A expressão grega alterna entre o neutro (“o que detém”) e o masculino (“aquele que detém”), o que tem levado muitos intérpretes ao entendimento de que não se trata apenas de um princípio abstrato, mas também de uma pessoa ou uma ação pessoal.
O texto não afirma que o restritor é o “mistério da fé”. Tampouco declara que o próprio mistério da iniquidade funcione como o detentor. Paulo distingue:
-
o “mistério da iniquidade” que já está operando,
-
e o elemento que o detém.
Independentemente da interpretação adotada, Paulo mostra que o “homem do pecado” não pode manifestar-se enquanto o que detém não for removido da sua função.
2. Sobre a apostasia e “a operação do erro” (2 Tessalonicenses 2:10–12)
Paulo descreve uma apostasia futura, e realmente afirma:
“E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam na mentira.”
(Segunda Epístola de Paulo aos Tessalonicenses 2:11)
A apostasia é uma rejeição consciente da verdade do evangelho (ver também Primeira Epístola de João 2:19).
Paulo não fundamenta essa apostasia como causa de negar um arrebatamento prévio; ele apenas descreve uma ordem de eventos dentro da cronologia profética ensinada aos tessalonicenses.
3. Sobre o “alívio” e a vinda em “chama de fogo” (2 Tessalonicenses 1:6–10)
Você menciona corretamente que Paulo promete alívio:
“E a vós, que sois atribulados, alívio conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo...”
(Segunda Epístola de Paulo aos Tessalonicenses 1:7–8)
Aqui Paulo trata da manifestação pública do Senhor para juízo. Esta manifestação visível, acompanhada de fogo e retribuição, está alinhada com outras passagens proféticas do Antigo Testamento, como:
-
Livro do Profeta Isaías 66:15–16,
-
Livro do Profeta Zacarias 14:3–5.
Essa manifestação é também a mesma descrita em Apocalipse 19:11–16. É um evento público, universal, reconhecível por todos.
Entretanto, o fato de Paulo falar da manifestação pública do Senhor não exclui automaticamente a existência de outra vinda relacionada à Igreja, especialmente porque ele mesmo descreve um encontro com Cristo nos ares em outro texto dirigido aos mesmos crentes.
4. Sobre o encontro nos ares (1 Tessalonicenses 4:13–18)
O mesmo apóstolo Paulo, escrevendo à mesma igreja, ensina:
“Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares.”
(Primeira Epístola de Paulo aos Tessalonicenses 4:17)
Paulo fornece três elementos que devem ser considerados:
-
O Senhor desce dos céus,
-
Há um encontro nos ares, não na terra,
-
Os santos são arrebatados com corpos glorificados.
Esse evento não é descrito com fogo, juízo ou manifestação pública para o mundo, mas como um consolo para a Igreja (1 Tessalonicenses 4:18).
A distinção entre:
-
a manifestação do Senhor para juízo,
-
e o encontro da Igreja com o Senhor nos ares,
aparece no próprio contexto das duas epístolas.
5. Sobre o “Dia do Senhor” (1 Tessalonicenses 5:1–4)
O “Dia do Senhor” é um tema profético do Antigo Testamento e é descrito como um tempo de juízo súbito:
“Pois vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como ladrão de noite.”
(Primeira Epístola de Paulo aos Tessalonicenses 5:2)
Paulo diferencia dois grupos:
-
Para o mundo, o Dia do Senhor vem de modo inesperado,
-
Para os crentes, ele diz: “Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão.” (5:4)
O apóstolo trata o “Dia do Senhor” como um período associado a juízo e destruição repentina, não como o momento do encontro da Igreja com Cristo nos ares.
6. Sobre o receio dos tessalonicenses de terem “ficado para trás”
Em 2 Tessalonicenses capítulo 2, Paulo não afirma que eles pensaram que havia ocorrido um arrebatamento secreto. Ele afirma que estavam perturbados por uma informação falsa de que o “Dia do Senhor” já havia chegado (2 Tessalonicenses 2:2).
O problema não era medo de terem sido deixados; o problema era medo de já estarem no período profético do julgamento.
Esse medo só faz sentido se Paulo anteriormente tivesse ensinado que a Igreja não estaria naquele período.
Caso contrário, a notícia não causaria perturbação, mas apenas confirmação.
7. Sobre “sinais e prodígios de mentira” (2 Tessalonicenses 2:9–10)
Paulo descreve o homem do pecado como:
“...cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder e sinais e prodígios de mentira...”
(2 Tessalonicenses 2:9)
É correto afirmar que tais sinais serão vistos, mas o texto não especifica quem necessariamente os verá. A Escritura apenas indica que:
-
o engano será mundial (Livro de Apocalipse 13:13–14),
-
mas a proteção divina sobre os seus mantém a fidelidade (Evangelho segundo Mateus 24:24).
8. Considerações finais
O texto bíblico mostra:
-
Um encontro da Igreja com Cristo nos ares (
1 Tessalonicenses 4), -
Uma manifestação pública do Senhor em juízo (
2 Tessalonicenses 1e diversas profecias do Antigo Testamento), -
A existência de um restritor cujo papel impede a manifestação do homem do pecado (
2 Tessalonicenses 2), -
O surgimento de uma apostasia e a atuação da operação do erro.
A discussão sobre a ordem precisa dos eventos escatológicos envolve interpretação cuidadosa, mas é importante manter a distinção que o próprio texto apresenta entre os diferentes aspectos da vinda de Cristo.
Seguem estas colocações de forma neutra e baseada nos textos bíblicos.

