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18. O Que Respondi a um Membro da Congregaçã Cristã no Brasil? (18/02/2025)

O termo "seita" é frequentemente utilizado para descrever grupos que, embora reivindiquem uma base cristã, desviam-se das doutrinas fundamentais das Escrituras ou promovem divisões dentro do corpo de Cristo. No contexto bíblico, a palavra "seita" deriva do grego "hairesis", que significa escolha ou facção, e é utilizada para identificar grupos que causam divisões ou se afastam da verdade estabelecida. Por exemplo, em Atos dos Apóstolos 5:17, menciona-se a "seita dos saduceus", referindo-se a um grupo específico dentro do judaísmo com crenças distintas. Portanto, biblicamente, uma seita é qualquer grupo que promove divisões ou se desvia da sã doutrina ensinada nas Escrituras.

Se analisarmos as sete cartas de Apocalipse 2 e 3, veremos um panorama profético da história da Igreja. Ao chegarmos na carta à Filadélfia, percebemos algo notável. Hoje, muitas organizações chamadas "igrejas" seguem decretos de concílios, tradições humanas e opiniões de seus fundadores. No entanto, a igreja em Filadélfia era diferente: não seguia costumes passados nem decretos religiosos. O Senhor Jesus afirmou: "Tu guardaste a Minha Palavra". Ali havia cristãos que se reuniam em nome de Jesus Cristo, atraídos por Ele na salvação, e que obedeciam apenas à Sua Palavra. A Bíblia era sua única autoridade, acima de qualquer tradição ou opinião humana.

Alguns criticam, e até condenam com palavras duras, as pequenas igrejas que se reúnem unicamente em nome do Senhor Jesus Cristo. Podem até zombar: "É claro que aquela 'igrejinha' está errada, pois só fazem obedecer à Bíblia e mais nada". Mas devemos agradecer a Deus por essas igrejas fiéis!

As organizações religiosas criadas pelos homens recebem nomes próprios e se multiplicam, mas Filadélfia, uma igreja com pouca força, guardava a Palavra do Senhor e tinha apenas um Nome: o Nome de Jesus Cristo.

Assim como em Corinto, onde alguns escolhiam nomes de líderes espirituais do passado para se identificar, muitos hoje denominam suas igrejas com base em doutrinas ou em nomes próprios. No entanto, um verdadeiro cristão que deseja seguir a vontade do Senhor não pode se reunir sob um nome denominacional, pois isso significa negar o Nome de Cristo. Quem quer andar conforme a Palavra de Deus não deve aceitar decretos de concílios nem opiniões de pregadores, mas apenas a Escritura Sagrada. O Nome de Jesus Cristo deve ser sua única identidade, sem qualquer luta para defender uma denominação. A fidelidade deve ser à Palavra de Cristo e ao Seu Nome.

Atualmente, ao dizer que é cristão, logo perguntam: "De que igreja você é?". E se alguém não tem um nome denominacional, muitos estranham, como se estivesse escondendo algo. Infelizmente, muitos cristãos não percebem a beleza da simplicidade das igrejas locais que Deus tem estabelecido na terra.

Para aqueles que compreendem essa verdade, devemos valorizar ainda mais a Palavra do Senhor e a beleza do Seu Nome. E não devemos guardar isso apenas para nós mesmos, mas compartilhar com aqueles que ainda estão presos ao sistema denominacional. Temos o dever de anunciar a verdade do Novo Testamento, para que muitos possam abrir os olhos e se libertar dessas organizações humanas. Devemos chamá-los a sair para Cristo, fora do arraial, pois é lá que poderão conhecê-Lo de maneira mais íntima: "Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu desprezo." (Hebreus 13:13)

Um exemplo disso está em João 9, onde o Senhor Jesus curou um cego de nascença. Após ter sua visão restaurada, os líderes religiosos o pressionaram para que falasse o que eles queriam ouvir. Mas ele apenas declarou: "Eu era cego, e agora vejo". Como não aceitavam a verdade, expulsaram-no da sinagoga. Logo depois, Jesus encontrou-se com ele fora daquele sistema religioso. Foi lá fora que ele teve comunhão com o Senhor. O mesmo acontece com todos os que foram salvos por Cristo: devem valorizar essas reuniões simples, onde Sua Palavra é guardada e Seu Nome não é negado.


Análise da Congregação Cristã no Brasil (CCB):

Exclusivismo e Isolacionismo: A CCB é conhecida por sua postura exclusivista, frequentemente considerando-se a única detentora da verdadeira fé cristã. Essa visão pode levar ao isolamento de outras comunidades cristãs e à promoção de uma mentalidade sectária. No entanto, as Escrituras enfatizam a unidade do corpo de Cristo. Em 1 Coríntios 12:12-13, Paulo destaca que, embora sejamos muitos membros, formamos um só corpo em Cristo. Atitudes que promovem divisões ou sugerem exclusividade contrariam o espírito de unidade ensinado no Novo Testamento.

Enfoque na Salvação por Obras: Embora a CCB afirme crer na salvação pela graça mediante a fé, observa-se uma ênfase significativa em práticas e normas específicas como evidências de salvação. Por exemplo, há orientações rigorosas sobre vestimentas e comportamentos que, embora possam ter valor disciplinar, não devem ser confundidas com requisitos para a salvação. As Escrituras são claras ao afirmar que a salvação é um dom gratuito de Deus, não baseado em obras humanas. Em Efésios 2:8-9, lemos: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie." Portanto, qualquer ensino que sugira que obras ou conformidade a normas específicas sejam necessárias para a salvação distorce o evangelho da graça.

Interpretação Restritiva das Escrituras: A CCB tende a desencorajar a interpretação individual das Escrituras, promovendo a ideia de que apenas líderes específicos possuem a capacidade de interpretá-las corretamente. Essa abordagem pode limitar o crescimento espiritual dos membros e criar dependência excessiva de líderes humanos. No entanto, a Bíblia incentiva todos os crentes a examinarem as Escrituras e a buscarem entendimento. Em Atos dos Apóstolos 17:11, os bereanos foram elogiados por examinarem diariamente as Escrituras para verificar a veracidade das mensagens que recebiam. Além disso, em 2 Timóteo 3:16-17, Paulo afirma que "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra." Isso indica que todos os crentes são encorajados a estudar e aplicar as Escrituras em suas vidas.

A Falsa Alegação de Origem no Movimento dos Irmãos: Algumas pessoas afirmam que a CCB teve origem no Movimento dos Irmãos. No entanto, essa alegação não tem valor real. Se a CCB realmente "saiu" dos Irmãos, significa que, em algum momento, discordou da doutrina bíblica que os Irmãos seguiam e, assim, desviou-se da verdade. Esse mesmo princípio se aplica a diversas figuras na Bíblia: Adão e Eva estavam em um estado de inocência, mas decidiram desobedecer a Deus e perderam sua comunhão com Ele. Da mesma forma, Lúcifer era um querubim ungido, mas escolheu rebelar-se e tornou-se maligno. Os gálatas, que haviam começado bem na fé, foram repreendidos por Paulo com as palavras: "Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?" (Gálatas 5:7). O fato de um grupo religioso ter saído de outro não significa que manteve a verdade, mas pode ser uma evidência de que se afastou da sã doutrina.

Registro Governamental e Nome Denominacional: A exigência de um registro junto ao governo para a legalização de um local de reunião nada tem a ver com a adoção de um nome denominacional. O registro oficial é um requisito legal para funcionamento administrativo e não determina a identidade da igreja local. A igreja no Novo Testamento nunca recebeu um nome específico; a Bíblia os chama simplesmente de cristãos, irmãos, crentes e discípulos. A verdadeira Igreja de Cristo não é caracterizada por um título denominacional, mas pela fé e comunhão dos santos em Cristo. O fato de um grupo adotar um nome formalizado e institucionalizado já denota um desvio do modelo bíblico de reunião dos crentes.


Paralelo com a Igreja de Corinto:

Mesmo em comunidades cristãs autênticas, como a igreja em Corinto, surgiram divisões e facções. Paulo aborda esse problema em sua primeira carta aos coríntios, destacando que alguns membros estavam se alinhando a diferentes líderes, dizendo: "Eu sou de Paulo", "Eu sou de Apolo", "Eu sou de Cefas" ou "Eu sou de Cristo" (1 Coríntios 1:12). Essas divisões indicavam uma imaturidade espiritual e uma compreensão equivocada da unidade em Cristo. Paulo exorta os coríntios a estarem unidos, afirmando: "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer" (1 Coríntios 1:10). Isso demonstra que, mesmo em igrejas verdadeiras, é possível o surgimento de divisões que precisam ser corrigidas à luz das Escrituras.

Além disso, em 1 Coríntios 11:19, Paulo afirma: "E até importa que haja heresias [hairesis] entre vós, para que os que são sinceros se manifestem entre vós." Aqui, "hairesis" é traduzida como "heresias", mas pode ser entendida como "divisões sectárias". O mesmo termo é usado em Gálatas 5:20, quando Paulo inclui as "heresias" (αἱρέσεις) entre as obras da carne. Isso reforça que mesmo em igrejas verdadeiras havia risco de seitas emergirem dentro delas, algo que deveria ser combatido pela sã doutrina.

A Congregação Cristã no Brasil (CCB) adota uma doutrina conhecida como "pecado de morte", na qual certos pecados são considerados tão graves que resultariam na perda definitiva da salvação. Essa perspectiva pode levar membros que cometeram tais pecados a se sentirem excluídos e sem esperança, resultando em afastamento da comunidade e, em casos extremos, desistência da própria vida.


Análise da Doutrina do "Pecado de Morte":

Falta de Base Bíblica para a Perda Irrevogável da Salvação: As Escrituras afirmam que a salvação é um dom gratuito de Deus, assegurado pela fé em Jesus Cristo. Em João 10:28-29, Jesus declara: "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai." Isso indica que a segurança do crente está nas mãos de Deus, e não depende de méritos ou deméritos humanos.

Interpretação Equivocada de "Pecado para Morte": A referência em 1 João 5:16 ao "pecado para morte" tem sido objeto de diversas interpretações. No entanto, muitos estudiosos concordam que não se trata de um pecado específico que leva à perda da salvação, mas possivelmente de um pecado que resulta em consequências físicas ou disciplina divina severa. Não há respaldo bíblico claro para afirmar que certos pecados possam anular a obra redentora de Cristo na vida do crente.

Consequências Psicológicas e Espirituais do Exclusivismo: A postura exclusivista e a ênfase em uma lista específica de pecados imperdoáveis podem gerar um ambiente de medo e desesperança. Membros que acreditam ter cometido tais pecados podem sentir-se irremediavelmente condenados, levando ao isolamento e, em casos extremos, à perda da vontade de viver. Isso contrasta com a mensagem de reconciliação e esperança presente no evangelho.


Conclusão:

A doutrina do "pecado de morte" tal como ensinada pela CCB carece de fundamento bíblico sólido e pode resultar em graves danos emocionais e espirituais aos seus membros. É essencial retornar ao ensino das Escrituras, que enfatiza a segurança eterna do crente em Cristo e a disponibilidade contínua do perdão divino para todos os pecados, mediante o arrependimento sincero.

Ao avaliar as práticas e doutrinas da Congregação Cristã no Brasil, é essencial compará-las com os ensinamentos claros das Escrituras. Práticas que promovem exclusivismo, ênfase desproporcional em obras para a salvação e restrições à interpretação pessoal da Bíblia podem ser indicativos de desvios da sã doutrina. Assim como Paulo corrigiu as divisões na igreja de Corinto, é necessário que comunidades cristãs hoje se alinhem aos princípios bíblicos, promovendo a unidade do corpo de Cristo e mantendo a pureza do evangelho da graça.

Josué Matos