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14. Na Bíblia, quando uma pessoa estava em disciplina, ela não tinha para onde ir, pois só havia uma igreja... (15/02/2025)

Na Bíblia, quando uma pessoa estava em disciplina, ela não tinha para onde ir, pois só havia uma igreja. A ideia de assembleias independentes não abre precedentes para haver divisões? Pois basta uma pessoa sair, levar consigo outros seguidores e formar outra assembleia. (Pergunta enviada por V. A. M. J. em 15/02/2025).

Resposta: Essa é uma questão bastante relevante e traz à tona o desafio da unidade dentro das igrejas locais, especialmente em tempos onde há uma multiplicidade de congregações cristãs. Vou abordar a questão da disciplina e a prática da assembleia à luz das Escrituras e dos princípios que historicamente guiaram o povo de Deus.

Nos tempos do Novo Testamento, a disciplina eclesiástica tinha um caráter coletivo e visava sempre o arrependimento e a restauração do membro em disciplina. Não havia realmente outra "igreja" para a qual alguém poderia se dirigir. A igreja era vista como o único corpo de Cristo naquela localidade, e a disciplina era um meio pelo qual todos os crentes buscavam a pureza e a unidade dentro desse corpo. Este princípio está claramente ilustrado em passagens como 1 Coríntios 5, onde o apóstolo Paulo ordena que se discipline um membro da igreja em Corinto, visando a purificação da assembleia e, ao mesmo tempo, a possível restauração daquele que pecou.

Sobre a ideia de "assembleias independentes", é importante notar que as igrejas locais, no padrão bíblico, eram autônomas, mas não independentes no sentido de isoladas umas das outras. Elas estavam unidas pela mesma doutrina, pela mesma fé e, sobretudo, pela mesma autoridade da Palavra de Deus e do Senhor Jesus como Cabeça. A autonomia das igrejas locais permitia que cada assembleia tratasse seus próprios assuntos de acordo com as necessidades locais, mas isso nunca deveria levar à divisão do corpo de Cristo. Quando havia um problema doutrinário ou uma questão importante, as igrejas buscavam resolver isso em conjunto, como se vê no Concílio de Jerusalém em Atos 15, onde os apóstolos e anciãos se reuniram para discutir questões que afligiam várias igrejas.

A questão de uma pessoa sair de uma assembleia e "formar outra" é um problema que surge da carnalidade e da falta de submissão à Palavra de Deus. A ideia de divisão não se harmoniza com o ensino do Novo Testamento, onde vemos Paulo frequentemente apelando aos crentes que "falem a mesma coisa" e que "não haja divisões" entre eles (1 Coríntios 1:10). A divisão é, muitas vezes, fruto do orgulho, da falta de submissão e do desejo de seguir preferências pessoais em vez de seguir a direção do Espírito Santo.

Infelizmente, a realidade atual de múltiplas congregações facilita que pessoas em disciplina procurem uma alternativa mais conveniente em vez de se submeterem à correção bíblica. No entanto, essa atitude não segue o espírito do Novo Testamento e não resulta em verdadeira bênção espiritual. De fato, a ideia de "levar seguidores" para formar outra assembleia é mencionada por Paulo como uma característica daqueles que agem de maneira carnal (Atos 20:30) e visa mais a exaltação própria do que a edificação do corpo de Cristo.

Portanto, a prática de igrejas locais deve buscar manter a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 4:3), e os líderes devem estar atentos para lidar com questões de disciplina de forma bíblica e cuidadosa, sempre visando a restauração e não o afastamento definitivo do membro, enquanto mantêm a pureza da assembleia. A ideia de autonomia das igrejas locais é bíblica e saudável, desde que essa autonomia seja acompanhada de comunhão e compromisso mútuo entre os crentes, e uma sincera submissão à vontade do Senhor.

Por Josué Matos