Alguém que me escreveu no YouTube:
Resumo da Pergunta Enviada:
A pessoa questiona quem passará pela Grande Tribulação e afirma que nem a Igreja nem Israel estarão envolvidos. Defende que os eventos do livro de Apocalipse se referem apenas ao primeiro século e que o livro teria sido escrito por volta de 65 d.C., não em 95 d.C., como é amplamente aceito. Segundo essa visão, Apocalipse 2:22 indicaria que a tribulação pertenceria àquela geração, e Mateus 24 trataria apenas da destruição local de Jerusalém, não do fim do mundo.
A pessoa também contesta a doutrina bíblica da depravação total, dizendo que “todos pecaram” em Romanos 3 se refere a nações e não a indivíduos. Argumenta que esse ensino produziria bloqueios psicológicos, incentivaria teorias conspiratórias e limitaria ações humanas, já que enfatizaria que “só Jesus presta”.
Além disso, afirma que Jesus disse que existem homens bons (citando a ideia de que “o homem bom tira do bom tesouro coisas boas”), e menciona textos de 1 João para sustentar que alguns “não pecam”. Com base nisso, declara que personagens como Noé, Daniel, Jó, João Batista, Enoque e Elias seriam homens sem pecado. Questiona se, diante dessas supostas contradições, quem erra é Jesus ou os pregadores. Por fim, acusa a igreja de criar bloqueios mentais, frustrações e paralisações.
Minha Resposta:
Agradeço a pergunta, mas a resposta precisa ser clara, bíblica e totalmente isenta das teorias preteristas modernas que tentam encaixar todo o livro de Apocalipse no século I. Isso não corresponde ao ensino das Escrituras e confunde profundamente os temas da Grande Tribulação, da justiça de Deus e da condição do homem perante o pecado.
A seguir, respondo ponto a ponto do que essa pessoa lhe escreveu, com base no ensino bíblico sólido e coerente.
1. Quem passará pela Grande Tribulação? A Igreja? Israel?
A Bíblia apresenta a Grande Tribulação como um período de juízo futuro, não como algo limitado ao primeiro século. O próprio Senhor Jesus fala de um tempo que nunca houve igual desde o princípio do mundo e jamais haverá (Mateus 24:21). Isto não se cumpre em 70 d.C., pois o próprio texto afirma que será algo único na história humana, e ainda aponta para eventos globais, não apenas localizados.
A Igreja não passa pela Grande Tribulação, pois será arrebatada antes (1 Tessalonicenses 1:10; 5:9). Israel, sim, passa pelo período chamado de "angústia de Jacó" (Jeremias 30:7), que corresponde à Grande Tribulação. Isso está alinhado com a profecia de Daniel 9 e com a estrutura bíblica geral.
2. O erro da datação de Apocalipse a 65 d.C.
Não existe evidência histórica séria que coloque o livro antes de 70 d.C. A tradição cristã mais antiga, incluindo Irineu, coloca a escrita no reinado de Domiciano (~95 d.C.). Isso bate com o estado das igrejas da Ásia, já maduras, algumas decadentes, o que não condiz com 65 d.C..
Além disso, Apocalipse descreve juízos globais, cósmicos, espirituais e climáticos que não se cumpriram no século I:
– estrelas caindo,
– um terço de mares destruídos,
– todo olho verá o Senhor, etc.
Reduzir isso a Roma antiga é mutilar o texto.
3. “A tribulação seria para aquele século (Apocalipse 2:22)” – interpretação errada
Apocalipse 2:22 fala de juízo local, sobre uma congregação específica, devido ao pecado de Jezabel. Não é referência à Grande Tribulação universal. Misturar os dois é um erro hermenêutico grave.
4. Mateus 24 fala apenas da destruição de Jerusalém?
Não. O próprio capítulo mostra uma linha que se inicia em eventos locais, sim, mas caminha para a volta do Senhor e a reunião dos seus escolhidos (Mateus 24:29–31). Há duas camadas proféticas, como é comum nos profetas do Antigo Testamento.
O sábado e o inverno mencionados no texto fazem parte do contexto judaico do evento, porque a tribulação final envolve Israel, e não a Igreja. Isso não transforma o capítulo em profecia total para o passado.
5. “Depravação total fala de nações, não de indivíduos?”
Romanos 3 não fala de nações, mas de toda a humanidade: judeus e gentios, cada indivíduo. O contexto é moral, espiritual e pessoal:
“Não há justo, nenhum sequer.”
“Todos se extraviaram.”
“A boca deles é cheia de maldição.”
Esses pronomes e construções são pessoais, não nacionais. O ensino é moral, não sociológico.
6. A afirmação de que há homens sem pecado — erro gravíssimo
A pessoa cita Noé, Daniel, Jó, João Batista, Enoque e Elias como “sem pecado”. Isso contradiz diretamente toda a revelação bíblica. A própria Escritura declara:
“Não há homem que não peque.” (1 Reis 8:46)
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos.” (1 João 1:8)
“Todos pecaram...” (Romanos 3:23)
Os homens citados foram justos, não sem pecado. Ser justo no Antigo Testamento significa ser piedoso, sincero e obediente, não impecável. Somente o Senhor Jesus é absolutamente sem pecado (Hebreus 4:15).
7. 1 João 5:18 – “O nascido de Deus não peca” significa impecabilidade?
Não. O sentido é: o nascido de Deus não vive na prática do pecado.
A própria carta diz:
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos...” (1 João 1:8)
“Se confessarmos os nossos pecados...” (1 João 1:9)
Portanto, o mesmo João que escreveu 5:18 afirma que o crente ainda peca. Ele condena o estilo de vida dominado pelo pecado, não a existência de pecado em si.
8. Ataques à Igreja como “bloqueio mental”
Isso revela um problema espiritual sério. Quem despreza a Palavra revelada, quem se recusa a se ver como pecador necessitado de perdão, cria uma teologia psicológica para tentar aliviar a consciência. Mas a verdade é que o evangelho não bloqueia: liberta.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32)
O que paralisa não é o evangelho, mas o orgulho humano, que se recusa a admitir necessidade de salvação.
9. Sobre a crítica: “Só Jesus presta”
De facto, só o Senhor Jesus presta. É exatamente isso que a Bíblia revela. O homem não se salva, não se melhora, não evolui moralmente a ponto de se justificar diante de Deus.
“Não há quem faça o bem, nenhum sequer.” (Romanos 3:12)
Quem rejeita isso rejeita o diagnóstico divino, mas isso não altera a realidade.
10. Conclusão da resposta ao questionador
Irmão, a pessoa que lhe escreveu está profundamente influenciada por interpretações humanas, psicologizantes e contrárias ao ensino claro da Bíblia. Está tentando reinterpretar o pecado, a profecia, o juízo e a própria necessidade do Salvador. Mas a Escritura permanece firme:
– O pecado é universal.
– O Salvador é único.
– A Grande Tribulação é futura.
– A Igreja não passa por ela.
– Israel será purificado nesse período.
– Só o sangue de Cristo limpa o pecador.
Responda-lhe com paciência, mas sem abrir mão da verdade. A oposição à Palavra sempre existiu, mas a verdade não muda porque alguém a contesta.
Que o Senhor lhe dê graça e firmeza para apresentar o evangelho tal como foi revelado.