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Onde na Bíblia lemos de batismo de crianças?

Alguém me escreveu no YouTube depois de assistir a meu vídeo: Onde na Bíblia lemos de batismo de crianças?

E olha que eu, apesar de não ser convertido ao Senhor ainda, condenava veementemente esta prática católica. Mas quando li o batismo de casas inteiras em Atos 16: nos versículos 15 e 33. Mudei de opinião, embora jamais como doutrina, como a denominação católica impõe.

Minha Resposta:

A sua observação é honesta e muito pertinente, e merece uma resposta cuidadosa, bíblica e equilibrada.

Em primeiro lugar, é importante dizer claramente: não existe, em toda a Escritura, um único mandamento explícito, um exemplo direto ou uma instrução apostólica clara que ordene o batismo de crianças. Sempre que o batismo é ensinado de forma didática no Novo Testamento, ele está ligado à fé pessoal, ao arrependimento consciente e à confissão individual.

O próprio Senhor Jesus Cristo estabeleceu a ordem ao dizer: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo” (Evangelho de Marcos 16:15-16). A sequência é clara: primeiro crer, depois ser batizado. Da mesma forma, lemos que “os que de bom grado receberam a sua palavra foram batizados” (Atos dos Apóstolos 2:41). Receber a Palavra pressupõe entendimento, resposta consciente e fé.

Quanto aos textos que você mencionou em Atos dos Apóstolos 16, tanto no caso de Lídia quanto no do carcereiro de Filipos, eles precisam ser lidos com atenção ao contexto imediato. Em Atos dos Apóstolos 16:15, lemos que Lídia foi batizada “e a sua casa”. No entanto, alguns versículos antes está escrito que “o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (Atos dos Apóstolos 16:14). O foco do texto está na resposta à Palavra. Não há qualquer menção a crianças, bebês ou pessoas incapazes de crer.

O mesmo ocorre em Atos dos Apóstolos 16:31-34, no caso do carcereiro. Paulo e Silas dizem: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”. Em seguida, lemos que “lhe anunciaram a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa” e que ele “se alegrou grandemente, crendo em Deus com toda a sua casa”. O próprio texto afirma que houve anúncio da Palavra e fé, não apenas no carcereiro, mas também nos que estavam com ele. Isso reforça que o batismo da casa não foi automático nem mecânico, mas resultado de uma resposta consciente à mensagem.

É importante notar que o Novo Testamento jamais usa a expressão “casa” como um atalho teológico para justificar uma prática que contradiga princípios claros já estabelecidos. Em todas as passagens doutrinárias sobre o batismo, ele é apresentado como uma identificação consciente com a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo (Epístola aos Romanos 6:3-4; Epístola aos Colossenses 2:12). Essa identificação exige fé pessoal, algo que uma criança pequena ainda não pode exercer.

Além disso, quando a Escritura fala da salvação, ela sempre a apresenta como uma experiência individual diante de Deus. “O justo viverá da fé” (Livro de Habacuque 2:4; Epístola aos Romanos 1:17). “Cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Epístola aos Romanos 14:12). Não existe salvação por representação, nem fé herdada, nem regeneração por vínculo familiar.

Por isso, mesmo reconhecendo que o batismo de “casas inteiras” aparece no livro de Atos dos Apóstolos, a Bíblia não nos autoriza a concluir, a partir desses textos, que crianças eram batizadas sem fé. Essa conclusão vai além do que o texto afirma e acaba criando uma doutrina onde a Escritura permanece em silêncio.

Ao mesmo tempo, é correto rejeitar qualquer imposição doutrinária que transforme o batismo infantil em regra obrigatória, condição de salvação ou rito automático, algo que o próprio Novo Testamento nunca ensinou. O batismo bíblico é um testemunho público de uma obra que Deus já realizou no coração pela fé, e não um meio para produzir essa obra.

A sua postura, portanto, é sensata: examinar as Escrituras, reconhecer o que elas dizem e, igualmente, reconhecer aquilo que elas não dizem. Isso é exatamente o espírito elogiado em Atos dos Apóstolos 17:11, quando os bereanos foram chamados de nobres por examinarem cada dia as Escrituras para ver se as coisas eram assim.

Que essa busca continue, sempre com reverência, humildade e submissão à autoridade da Palavra de Deus, pois ela é suficiente para ensinar, corrigir e conduzir à verdade.

Josué Matos