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Batizei minhas duas filhas após ver que tanto o carcereiro como Lídia permitiram o batismo de toda sua casa

 Alguém me escreveu no YouTube depois de assistir a meu vídeo: Onde na Bíblia lemos de batismo de crianças?

Me converti em 2018, me afastei da denominação em que fui batizado, CCB, e em 2020 batizei minhas duas filhas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, após ver que tanto o carcereiro como Lídia permitiram o batismo de toda sua casa. Expliquei para elas que o batismo não era para elas serem salvas, mas para introdução delas na esfera cristã, mas creio que esta é uma fé e exercício pessoal, não devo impor isto como doutrina, ou obrigação. Afinal, quando uma criança era circuncidada no Antigo Testamento, o que era obrigação, eles não sabiam o porquê daquilo, mas os pais queriam que eles fossem introduzidos na esfera da família de Deus e deixassem de ser pagãos, creio. Mas tenho que concordar que é após crer que alguém quer ser batizado, vemos isto em Atos 10:44-48. Mas creio ser um exercício pessoal e não impor ou ditar regras com a fé alheia. Se algo traz glória para o homem e fere a glória do nosso Senhor, creio que devemos ficar atentos. Tudo que for feito que seja para a glória do Senhor, hoje minha filha mais velha, graças ao Senhor, confessa crer no Senhor Jesus como seu único e suficiente salvador, mas mesmo que não cresse ainda, eu simplesmente tinha testificado para o Senhor meu desejo para com elas no Senhor.

Minha Resposta:

Obrigado por compartilhar com tanta franqueza e reverência a sua experiência e as suas convicções. A questão do batismo de crianças é, de fato, um tema que exige cuidado, equilíbrio e, acima de tudo, submissão às Escrituras.

Começo respondendo de forma direta à pergunta central: não há, em toda a Escritura, um mandamento explícito ou um exemplo inequívoco de batismo de crianças no Novo Testamento. Sempre que o batismo cristão é apresentado de forma clara, ele aparece ligado à fé pessoal, consciente e confessada. A ordem do Senhor Jesus em Mateus 28:19-20 é precedida pelo fazer discípulos, e o batismo surge como consequência desse discipulado. Da mesma forma, em Marcos 16:16, o crer vem antes do ser batizado.

Os relatos do livro de Atos confirmam esse padrão. Em Atos dos Apóstolos 2:41, os que receberam a palavra foram batizados. Em Atos dos Apóstolos 8:12, homens e mulheres foram batizados após crerem. Em Atos dos Apóstolos 10:44-48, como você bem mencionou, o Espírito Santo desce sobre os que ouviam a palavra, e só então Pedro ordena que sejam batizados. O mesmo princípio se repete em Atos dos Apóstolos 16:31-34, quando o carcereiro de Filipos crê, e sua casa é alcançada pela mesma fé, sendo instruída na palavra antes do batismo.

Os textos que mencionam o batismo de “toda a casa”, como o caso de Lídia em Atos dos Apóstolos 16:14-15 e do carcereiro, não afirmam que havia crianças pequenas, nem que alguém foi batizado sem entendimento ou fé. Pelo contrário, o contexto enfatiza que a palavra foi anunciada e recebida. A Escritura não constrói doutrina sobre inferências silenciosas, mas sobre ensino claro e repetido.

Quanto à comparação com a circuncisão no Antigo Testamento, é importante reconhecer tanto a semelhança quanto a diferença. A circuncisão era um sinal da aliança nacional dada a Israel, aplicada aos meninos ao oitavo dia, conforme Gênesis 17:10-14. Ela introduzia a criança na esfera do povo terreno de Deus, mas nunca foi apresentada como meio de salvação. Contudo, no Novo Testamento, a Igreja não é uma nação natural, nem uma continuidade direta de Israel segundo a carne. Ela é composta por aqueles que nasceram de novo mediante a fé em Jesus Cristo, conforme João 1:12-13 e João 3:3-6. A entrada nessa esfera não se dá por nascimento natural nem por um rito aplicado por terceiros, mas pela fé pessoal no Filho de Deus.

Nesse sentido, o batismo cristão não ocupa o mesmo lugar que a circuncisão ocupava na economia mosaica. Colossenses 2:11-12 mostra que a verdadeira circuncisão agora é espiritual, feita por Cristo, e ligada à união com Ele na Sua morte e ressurreição, realidade que só pode ser apropriada pela fé consciente.

Sua preocupação em não transformar uma prática pessoal em regra para os outros é extremamente saudável e bíblica. Romanos 14:4 nos lembra que cada servo está de pé ou cai diante do seu próprio Senhor. Quando algo não é claramente ordenado pelas Escrituras, a consciência deve ser exercida diante de Deus, sem imposição e sem espírito sectário. O próprio apóstolo Paulo ensina que tudo o que não procede de fé é pecado, conforme Romanos 14:23.

Também é digno de nota o seu cuidado em deixar claro que o batismo não salva, mas aponta para Cristo. Efésios 2:8-9 afirma de forma inequívoca que a salvação é pela graça, mediante a fé, e não por obras ou ritos. O batismo é um testemunho público dessa fé, não a sua causa.

O ponto que você levanta sobre a glória do Senhor é central e decisivo. 1 Coríntios 10:31 estabelece o princípio maior: quer comamos, quer bebamos, ou façamos qualquer outra coisa, tudo deve ser feito para a glória de Deus. Sempre que uma prática passa a exaltar o homem, a tradição ou a instituição, em detrimento da obra perfeita de Cristo, é necessário vigilância espiritual.

Por fim, o testemunho que você dá acerca de sua filha confessando hoje a fé no Senhor Jesus como seu único e suficiente Salvador é motivo de gratidão a Deus. Isso confirma que a obra da salvação pertence ao Senhor e acontece no tempo d’Ele, no coração preparado por Sua graça. O desejo apresentado diante de Deus em oração, confiando-O à Sua soberania, é algo profundamente bíblico, conforme vemos em 2 Timóteo 1:12.

Em resumo, a Escritura aponta o batismo como um ato de obediência que segue a fé pessoal. Fora disso, há espaço para consciência, temor de Deus e cuidado em não legislar onde a Palavra não legislou. Permanecer firmes na suficiência de Cristo e na autoridade das Escrituras é sempre o caminho mais seguro.

Josué Matos