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Não existe nada na Bíblia que diga que o tal relógio profético parou?

 Alguém que me escreveu no YouTube:

Não existe nada na Bíblia que diga que o tal relógio profético parou. Sem fundamento bíblico isso.

Minha Resposta:

A afirmação de que “não existe nada na Bíblia que diga que o relógio profético parou” ignora um princípio bíblico claro: Deus, em determinados momentos da história da revelação, suspende um programa para introduzir outro, sem anular Suas promessas anteriores. Isso não é um conceito filosófico, mas uma leitura atenta do próprio texto bíblico.

Em Daniel 9:24–27, temos a profecia das setenta semanas determinadas sobre o povo de Israel e sobre a santa cidade. Sessenta e nove semanas se cumprem de forma contínua até a manifestação do Messias. Contudo, após a morte do Messias, algo claramente distinto ocorre: Jerusalém é destruída, o povo é disperso, e a última semana não se cumpre imediatamente. O texto não diz que a profecia falhou, mas que há um intervalo histórico antes da septuagésima semana. Esse intervalo não é contado nas setenta semanas, o que já indica uma pausa no cumprimento direto daquele programa profético ligado a Israel.

Esse intervalo é explicado no Novo Testamento como um “mistério”, isto é, algo não revelado no Antigo Testamento. Paulo afirma que esse mistério diz respeito à Igreja, formada de judeus e gentios em um só corpo, algo “oculto em Deus” e agora revelado, conforme Efésios 3:3–6. Enquanto esse propósito celestial está em andamento, Israel permanece, em termos nacionais, em endurecimento parcial, como ensina Romanos 11:25. Esse endurecimento não é definitivo, mas temporário, “até que a plenitude dos gentios haja entrado”.

Além disso, o próprio Senhor Jesus reconheceu essa interrupção histórica quando, em Nazaré, leu Isaías 61:1–2. Ele leu até a parte que fala do “ano aceitável do Senhor” e interrompeu a leitura antes da frase “o dia da vingança do nosso Deus”, conforme Lucas 4:18–21. O texto de Isaías apresenta os dois eventos juntos, mas o Senhor faz uma clara separação entre eles, mostrando que há um intervalo entre Sua primeira vinda em graça e Sua manifestação futura em juízo.

Portanto, quando se fala em “relógio profético”, trata-se apenas de uma forma didática de explicar essa pausa bíblica no cumprimento do programa de Deus com Israel, enquanto Ele chama e forma a Igreja. Não é ausência de fundamento bíblico, mas uma harmonização coerente entre Daniel, os Evangelhos e as Epístolas. O plano de Deus nunca parou; o que mudou foi o foco do Seu agir dispensacional, algo que a própria Escritura revela de forma progressiva e consistente.

Josué Matos