Alguém que me escreveu no YouTube:
A Deus a glória. Eu descanso olhando para Cristo. A fé é dom de Deus. O que significa que ela vem de Deus e não é produzida por nós mesmo, logo, Deus não nos daria uma fé fingida, mas verdadeira.
Minha Resposta:
Concordo plenamente quando diz que toda a glória pertence a Deus e que o descanso do crente está em olhar para Cristo. O Novo Testamento aponta exatamente nessa direção: “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus Cristo” (Hebreus 12:2). A fé verdadeira nunca termina em si mesma, mas repousa na Pessoa e na obra consumada de Cristo.
Também é correto afirmar que a fé tem sua origem em Deus. A Escritura deixa claro que a salvação não procede do homem, nem nasce de mérito humano, para que ninguém se glorie. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8). A iniciativa é divina, a provisão é divina e a glória é exclusivamente divina.
No entanto, é importante observar com cuidado o modo como o Novo Testamento apresenta esse dom. A Palavra de Deus nunca ensina que a fé é implantada no homem de forma automática, independente da resposta do coração à revelação divina. Pelo contrário, a fé vem pela Palavra de Deus anunciada, ouvida e recebida: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10:17). Deus concede a fé por meio da Sua Palavra, iluminada pelo Espírito Santo, e o homem é chamado a responder a essa Palavra com arrependimento e fé.
A fé verdadeira, portanto, não é uma fé “fabricada” pelo homem, nem uma fé mística imposta sem consciência ou convicção. Ela é fruto da ação do Espírito Santo usando a Palavra de Deus para convencer o pecador do pecado, da justiça e do juízo, conduzindo-o a confiar em Cristo (João 16:8). Essa fé é genuína porque tem um objeto verdadeiro — o Senhor Jesus Cristo — e um fundamento sólido — a obra consumada da cruz.
Quando afirma que Deus não daria uma fé fingida, isso está absolutamente correto. A Escritura afirma que a fé salvadora é viva, operante e acompanhada de frutos. “A fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tiago 2:17). No entanto, o Novo Testamento também mostra que é possível alguém professar fé sem nunca ter crido de fato. O próprio Senhor Jesus advertiu sobre aqueles que dizem “Senhor, Senhor”, mas nunca tiveram um relacionamento real com Ele (Mateus 7:21–23). Isso não significa que Deus tenha dado uma fé falsa, mas que houve uma profissão externa sem conversão genuína do coração.
Assim, a fé verdadeira é dom de Deus, nasce da Palavra, é despertada pelo Espírito Santo e é exercida conscientemente pelo pecador que crê. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida” (João 3:36). A responsabilidade de crer é real, e a graça que concede a fé também é real. Ambas caminham juntas no ensino apostólico.
Descansar em Cristo, portanto, não é negar a responsabilidade humana, mas reconhecer que até mesmo a capacidade de crer é sustentada pela graça de Deus. O crente descansa não na qualidade da sua fé, mas na suficiência do Salvador em quem essa fé repousa. “Quem crê em mim tem a vida eterna” (João 6:47).