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ROMANOS 8 DENOTA QUE NEM TODOS DEUS PREDESTINOU PARA SALVAÇÃO, COMO ENTENDER ISSO?

 Alguém que me escreveu no YouTube:

A PAZ, PRESBÍTERO, ESSA QUESTÃO É CURIOSA COMO MUITAS DA BÍBLIA, AO MESMO TEMPO QUE É DITO QUE JESUS MORREU POR TODOS E QUEM QUISER TOME DE GRAÇA DA ÁGUA DA VIDA, EM ROMANOS 8 DENOTA QUE NEM TODOS DEUS PREDESTINOU PARA SALVAÇÃO, COMO ENTENDER ISSO?

Romanos 8: ²⁹ Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.³⁰ E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.

Minha Resposta:

A questão que você levanta é realmente importante, e só pode ser bem compreendida quando mantemos juntas todas as verdades que a própria Escritura apresenta, sem isolar textos nem colocá-los em conflito entre si.

Primeiro, a Bíblia afirma de forma clara e repetida que a obra do Senhor Jesus tem alcance universal em sua provisão. Ele morreu por todos, o Evangelho é anunciado a todos, e o convite é genuíno: “quem quiser, tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22:17). Deus não faz acepção de pessoas e não tem prazer na perdição do ímpio, antes chama todos ao arrependimento (Primeira Epístola a Timóteo 2:4; Segunda Epístola de Pedro 3:9). Portanto, não há limitação na oferta da salvação nem falsidade no chamado do Evangelho.

Ao mesmo tempo, Romanos 8 não está tratando da oferta do Evangelho ao mundo, mas do propósito eterno de Deus em relação aos que são Seus. O capítulo começa afirmando: “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1). Ou seja, Paulo está falando de pessoas que já estão em Cristo, já justificadas pela fé.

Nesse contexto, surgem a eleição e a predestinação. Elas não são a mesma coisa. A eleição diz respeito à escolha soberana de Deus: “os que dantes conheceu”. Esse “conhecer” não é mera informação antecipada, mas um conhecimento relacional, eletivo, um ato soberano de Deus antes de qualquer mérito humano. Já a predestinação não diz respeito ao ato de crer, mas ao destino preparado por Deus para aqueles que Ele elegeu: “para serem conformes à imagem de seu Filho” (Romanos 8:29).

Observe que o texto não diz que Deus predestinou pessoas para crerem, mas que predestinou os eleitos para um fim específico: conformidade com Cristo, filiação plena, herança e glória. O chamado, a justificação e a glorificação, mencionados no versículo 30, descrevem a certeza do cumprimento desse propósito. Do ponto de vista de Deus, esse plano é tão seguro que a glorificação já é apresentada como um fato consumado.

Isso não anula, nem contradiz, a responsabilidade humana. A fé continua sendo o meio pelo qual o pecador entra, no tempo, naquilo que Deus determinou na eternidade. O Evangelho é anunciado, a Palavra é pregada, o Espírito Santo age, e o homem é responsável por crer. “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” (Romanos 10:17). Quem crê é salvo; quem rejeita permanece sob condenação (Evangelho segundo João 3:18).

Portanto, não há contradição entre dizer que Cristo morreu por todos e afirmar que nem todos são predestinados. A morte de Cristo é suficiente para todos e oferecida a todos; a predestinação trata do destino final daqueles que Deus elegeu. Romanos 8 não discute a extensão da oferta da salvação, mas a segurança eterna dos que estão em Cristo.

Em resumo: o convite do Evangelho é amplo e sincero; a eleição é um ato soberano de Deus; a predestinação define o destino glorioso dos eleitos. Essas verdades não se anulam, mas se harmonizam no plano perfeito de Deus, revelado nas Escrituras.

Na revelação bíblica, a eleição soberana de Deus e a responsabilidade humana caminham juntas, lado a lado, como os dois trilhos de um trem. Ambos seguem paralelos, firmes e inseparáveis, conduzindo o plano de Deus sem contradição, ainda que a nossa mente limitada não consiga harmonizá-los plenamente. A Escritura afirma, ao mesmo tempo, que Deus escolhe segundo o Seu propósito eterno e que o homem é responsável por crer, arrepender-se e responder ao chamado do Evangelho. Quando tentamos submeter essas verdades apenas à lógica humana, corremos o risco de questionar a justiça divina ou de imaginar alguma incoerência em Deus. Contudo, a fé bíblica nos chama a aceitar aquilo que Deus revelou, mesmo quando não conseguimos explicar todos os seus mistérios. Devemos descansar na certeza de que chegará o dia em que veremos com absoluta clareza que Deus sempre amou o mundo de maneira perfeita e incondicional, que enviou o seu Filho unigênito não para condenar, mas para salvar, e que em todos os seus caminhos Ele foi justo, fiel e verdadeiro. 

Josué Matos