O vinho de João 2

“Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”.

As palavras do mestre-sala em João 2, reconhecendo a superioridade do vinho produzido pelo Senhor em relação ao vinho inicialmente servido nas bodas, são um testemunho eloquente da perfeição do milagre realizado. Aqueles que dizem efetuar milagres hoje fazem muita propaganda, e nem sempre há muito o que mostrar. O feito do Senhor aqui foi exatamente o contrário. Sem alarde, sem propaganda, Ele fez algo que foi reconhecido como perfeito. Ele não chamou atenção para o que iria fazer, mas o resultado da Sua ação chama a nossa atenção para o Seu poder.

Estas mesmas palavras, porém, manifestam também a capacidade humana para distorcer o certo numa tentativa de justificar o errado! Alguns comentaristas (John Gill, por exemplo) entendem que “vinho bom” é sinônimo de “vinho intoxicante”, enquanto que vinho “inferior” indica um vinho menos forte, sugerindo assim que o Senhor Jesus transformou a água em vinho com alto teor alcoólico.

A questão do uso ou não de bebidas alcoólicas é um tanto polêmica. Todo cristão, creio eu, concorda que é errado o cristão se embriagar, mas nem todos concordam que o cristão deve se abster totalmente de bebidas alcoólicas. E trechos como este, na vida terrestre do Senhor Jesus, são muitas vezes apresentados como justificativa para o uso moderado de bebidas alcoólicas: “Ora, se até o Senhor transformou água em vinho — e vinho bom, com capacidade para embriagar — por que eu não posso apreciar um bom vinho?”

Sem pretensão de mudar a opinião de ninguém, mas desejoso de esclarecer alguns detalhes, sugiro três coisas que precisam ser consideradas:

1) Quando o mestre-sala fala de vinho “bom” e vinho “inferior” ele usa as palavras normais para “bom” e “inferior”. Ele não diz “vinho forte” ou “vinho fraco”, mas simplesmente “bom” e “inferior”.

2) Quando ele fala que é costume servir o vinho inferior depois que “já tem bebido bem” (que dá a impressão de significar “depois que estão bêbados”), ele está simplesmente destacando o costume dos homens, não necessariamente o que aconteceu naquela festa. Quando um homem tinha duas qualidades de vinho, ele costumava servir primeiro o melhor (quando, pela sede e expectativa, todos prestariam mais atenção ao sabor), e depois que todos estivessem já satisfeitos (muitos, embriagados porque exageraram na dose) ele serviria o inferior, e poucos perceberiam a diferença.

3) Hoje usamos palavras diferentes para “vinho” e “suco de uva”, pois são duas bebidas completamente diferentes. Nos tempos bíblicos, porém, sem as modernas técnicas de refrigeração e os conservantes modernos (que preservam o suco mais tempo sem fermentar), a diferença entre “suco não-fermentado” e “suco fermentado” era algo muito menos claro, e a mesma palavra (aqui traduzida “vinho”) era usada para as duas bebidas. Naqueles dias o suco espremido da uva naturalmente se transformaria em vinho com o passar do tempo. Havia expressões (“bebida forte”, por exemplo) que descreviam um vinho com alto teor alcoólico, mas a palavra comum  descrevia o suco extraído das uvas, quer este suco estivesse fermentado ou não.

Levando em conta os detalhes apresentados acima, e lembrando que a Palavra de Deus avisa repetidamente sobre o mal da embriaguez, quero sugerir que o vinho que o Senhor produziu nesta ocasião não tinha alto teor alcoólico, mas era uma bebida pura e sem mistura. Albert Barnes, em seu comentário, cita diversos autores antigos (Pliny, Plutarch, Horace) que dizem que naqueles dias “vinho bom” queria dizer um vinho puro, que não contém álcool. O que está sendo destacado não é o teor alcoólico da bebida produzida pelo Senhor, mas o sabor, textura e qualidade dela.

Podemos concluir que este trecho não pode ser usado para justificar o uso moderado de bebidas alcoólicas pelos salvos desta dispensação.

Obs. Texto extraído de: https://wjwatterson.blogspot.com/

 

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