Todos nós almejamos satisfação. Somos feitos assim. Apetite físico, gosto estético, juízo moral, amor—todos igualmente clamam por satisfação.
Muitas vezes, nós conseguimos, mas outras não. E, quando não conseguimos, sentimo-nos frustrados, traídos, decepcionados. Não conseguimos nos reconciliar com a ideia de que a vida não foi feita para fazer sentido.
A razão não será ridicularizada por tal teoria. Nem nossa imaginação vai consentir em ser perpetuamente desiludida. A ciência revela, em todo lugar, a evidência do desígnio e do propósito racionais. A imaginação pode ver que coisa magnífica a vida poderia ser, se ao menos as pessoas se comportassem racionalmente, e a vida fosse como parece que foi designada para ser. 
Então, por que não é?
Por que as pessoas, tantas vezes, se comportam tão irracionalmente? Por que nossos sonhos, expectativas e planos bem projetados são tantas vezes frustrados da doença ou pela guerra ou por processos econômicos anônimos ou pela imposição da ideologia dos outros? E por que eu arruíno minha própria chance de felicidade irracionalmente, saciando-me no que eu sei que vai me ferir e machucar aqueles de cujo amor minha felicidade depende? Nossa própria frustração nos leva a buscar uma resposta. Não podemos simplesmente nos rebaixar a ser constantemente insatisfeitos e progressivamente desiludidos. Se não podemos ser satisfeitos, então, pelo menos, procuramos por alguma explicação satisfatória do porquê não podemos; por que é que na vida, aparentemente tão cheia de promessas, tantas vezes algo dá errado ou falha? Nós queremos saber se há alguma forma de consertar o que quer que esteja errado; se existe algum caminho para a eventual satisfação.
Cedo ou tarde, nos voltaremos à religião. Nós sabemos, é claro, ou pelo menos achamos que sabemos, o que ela irá dizer.
Ela irá dizer que nosso problema básico é o pecado.
Isso é perfeitamente verdade; mas, por si só, não é provável que nos ajude muito. É como dizer a um homem com câncer que seu problema básico é a doença.
Nós todos sabemos que somos pecadores. A questão é, como vamos mudar, erradicar o problema, parar o apodrecimento moral que ameaça comer toda nossa felicidade e frustrar qualquer sentimento de satisfação?
Novamente, nós sabemos, ou achamos que sabemos, o que a religião irá receitar: esforçar-se mais para ser bom; ser mais gentil, menos egoísta e mais puro; orar, negar a si mesmo e disciplinar a si mesmo. Todos esses são fortes remédios. Mas, se a vida é digna de se viver, merece ser levada a sério.
Então, fazemos uma tentativa de levar a religião a sério e participar rigorosamente, talvez mais que rigorosamente, dos nossos deveres religiosos.
Por incrível que pareça, isso não nos satisfaz também. E o motivo provavelmente é que nós temos feito simplesmente o que supomos que a religião estava nos mandando fazer, sem parar o tempo suficiente para ouvir Jesus Cristo pessoalmente, para escutar exatamente o que ele está dizendo. Ele certamente pode nos dar satisfação, profunda e permanente satisfação, um poço de água viva dentro de nós, como ele uma vez descreveu (João 4:13-14), de forma que, quando a recebemos uma vez, nunca nos faltará satisfação novamente. Mas, para conseguir essa satisfação, primeiro, devemos aceitar seu diagnóstico de nosso problema e, depois, seu tratamento. Ambos são mais radicais do que podemos ter imaginado.
 
A SATISFAÇÃO DE ESTAR DE BEM COM DEUS
 
A insatisfação básica que subjaz todas as outras insatisfações que são possíveis ao coração humano sentir surgem disso: nossos pecados são uma ofensa ao Deus Todo-Poderoso, nosso Criador. Eles constantemente insultam suas leis e provocam a sua ira (Romanos 1:18; 2:1-3; 3:19). Ele, portanto, retém de nós aquele sentimento de paz com Deus, sem o qual nenhuma criatura de Deus consegue se sentir verdadeiramente tranquila ou verdadeiramente satisfeita.
Segue que o nosso primeiro passo em direção à satisfação deve ser reconciliar-nos com Deus. As exigências da santa lei de Deus devem ser satisfeitas completamente. Ele deve estar completamente satisfeito de que a justiça tenha sido realizada, de que nunca mais ele vai precisar dirigir sua santa ira aos homens.
Da nossa parte, nosso sentimento de aceitação por Deus deve ser total, sem reservas ou incertezas. Do contrário, a reconciliação não é verdadeira.
Para ilustrar a questão, a Bíblia conta a história (2 Samuel 13:23-18:33) de uma reconciliação no nível humano que não foi completa e sem reservas e foi, portanto, insatisfatória.
O filho do rei Davi, Absalão, assassinou seu meio-irmão, Amnom, e, com medo da justiça do rei, fugiu do país. Cerca de três anos depois, amigos de Davi o convenceram a esquecer o crime e deixar Absalão retornar do exílio. O rei, no entanto, não ficou muito feliz com a justiça da questão; então tentou um acordo. Absalão poderia retornar, mas a ele não seria permitido acesso à presença do rei; a ele não era permitido ver a face do rei (2 Samuel 14:24,28). Mas meia reconciliação como essa não é, de forma alguma, verdadeira reconciliação; e, nessa ocasião, isso só levou a mais problemas, alienação e eventual desastre.
Pelo contrário, felizmente, quando Cristo nos reconcilia com Deus, Deus nos aceita e nos recebe sem reservas. Nós podemos ir à presença de Deus a qualquer hora (Romanos 5:2; Efésios 2:18). Não precisamos esperar até que morramos para descobrir se seremos admitidos à sua presença ou não. Podemos ir de uma vez, seguros de que a ira de Deus contra nós é uma coisa do passado (Hebreus 10:19-22), de que não existe condenação ou rejeição a ser temida no futuro (Hebreus 10:14-18; 1 João 4:17-19). O amor de Deus expulsa o medo; a presença de Deus se torna nosso lar. Mas as condições são rígidas.
Devem existir, da nossa parte, arrependimento radical para com Deus e fé somente em Cristo e no que fez por nós e em nada e ninguém mais (Romanos 5:9; 8:1; João 5:24). O verdadeiro arrependimento não é só admitir que coisas, como orgulho, mentira e impureza, são erradas e pecaminosas, nem simplesmente determinar-se a abandoná-las. O verdadeiro arrependimento para com Deus significa enfrentar nossa verdadeira posição legal na luz do veredito que Deus passa para nós em sua Palavra. E é nesse ponto que é tão fácil para nós ser menos que radicais em nosso pensamento, e, portanto, ser menos que realistas em nossas atitudes, e, por fim, tentar recursos que não podem trazer satisfação, porque não satisfazem nem Deus nem nós.
Nós sabemos que somos pecadores e, como tais, inaceitáveis a Deus. E então, com intenção muito honesta, nós fazemos o que nos parece óbvio fazer: nós começamos a melhorar a nós mesmos na esperança de eventualmente ganhar a aceitação de Deus (Atos 20:21). Na verdade, estamos sendo seriamente irrealistas em dois aspectos.
Primeiramente, os pecados que já cometemos são, por si sós, suficientes para merecermos morte e rejeição de Deus. Nenhuma quantidade de melhora no futuro pode apagar a culpa do passado, ou compensá-la, ou abonar sua merecida pena.
Em segundo lugar, mesmo que nós começássemos a melhorar prontamente, a própria experiência, sem falar na Palavra de Deus, nos adverte que no fim da vida não teremos melhorado o suficiente para ser aceitos por Deus com base na nossa conquista. O veredito de Deus sobre nós, então, ainda vai ter de ser o que é agora: nós todos pecamos no passado e, no presente, ainda ficamos aquém do padrão de Deus (Romanos 3:23). E, sendo assim, Deus, em todo seu amor, não vai fingir que não é assim; não vai ficar satisfeito com nossos esforços inadequados. Como a versão de Ronald Knox tão claramente coloca: “A observância da lei não pode conquistar a aceitação para nenhuma criatura humana” (Gálatas 2:16).
Isso é bem sombrio; mas é melhor encararmos a realidade. A satisfação dificilmente pode vir de fechar os olhos para o problema. Nossa situação legal frente à justiça de Deus é séria ao extremo. É por isso que, a fim de efetuar uma reconciliação satisfatória, a justiça de Deus teve de tomar a medida extrema de entregar seu próprio Filho para sofrer as sanções da sua lei por nossa causa. Não havia outra forma. Se a aceitação de Deus fosse alcançável com base na nossa melhora, Cristo nunca teria morrido, nunca teria precisado morrer. Mas ela não foi obtida dessa forma, e Jesus Cristo teve de morrer (Gálatas 2:20-21; 3:21-22; Romanos 4:25; 8:32).
Mas da sua morte vem a maior e mais gloriosa notícia que o homem já ouviu. O que nós nunca poderíamos ter feito, a morte de Cristo conquistou por nós. Ele satisfez a justiça de Deus, ele pagou a pena do pecado (2 Coríntios 5:20-21; Gálatas 3:13-14).
Deus pode agora aceitar, e aceitar com perfeita e inabalada justiça, todos que colocam sua fé em Cristo e vão a Deus unicamente em razão desse sacrifício. A aceitação divina de cada pessoa tal é sem reservas. Na verdade, Deus quase exagera em mostrar quão completa e permanentemente aceita tal pessoa é. Ele chama a atenção para o fato de que a morte do nosso Senhor foi seguida pela sua ressurreição, ascensão e entrada na presença imediata de Deus. Ele, então, aponta que Jesus foi logo à presença de Deus não só em seu favor, mas como o representante declarado e precursor daqueles que confiam nele. E Deus finalmente declara que todos que Jesus dessa forma representa podem agora considerar-se aceitos por Deus tão total, completa e definitivamente quanto seu próprio Representante (Hebreus 6:17-20; 9:11-14,24- 28; 10:1-18; Efésios 2:1-10).
Nisso reside o segredo da profunda e da permanente satisfação. Saber que ser aceito por Deus dessa forma, completa e eterna, é estar em paz com Deus. E estar em paz com Deus é o único alicerce seguro para a verdadeira e duradoura satisfação.
 
A SATISFAÇÃO DE NOS TORNARMOS O
QUE FOMOS DESTINADOS A SER
 
Ser aceito por Deus unicamente por causa do sacrifício e da morte de Jesus soa, para muitas pessoas, quando ouvem isso pela primeira vez, bom demais, ou um tanto fácil demais, astuto demais, para ser verdade.
Soa como se você pudesse continuar pecando, e isso não importasse: você ainda poderia ser aceito por Deus, simplesmente porque Jesus morreu pelos seus pecados, e você disse que acreditava nele. Em outras palavras, soa como uma licença para continuar pecando com impunidade.
Claro, isso não é verdade; embora, interessantemente, é precisamente o que as pessoas disseram quando ouviram pela primeira vez os apóstolos pregarem o evangelho (Romanos 3:8,31; 6:1-2,15)— o que mostra que nós devemos estar no caminho certo; e nós sabemos o tipo de coisa que os apóstolos diziam em resposta.
Não é verdade por causa do que está envolvido em “confiar em” Jesus como Salvador.
Confiar em Jesus não significa simplesmente assentir ao fato de que ele morreu por nossos pecados. Significa comprometer-nos sem reservas com ele como Senhor.
E mais.
Significa receber Jesus como Pessoa viva (João 1:12); significa tornar-se unido com ele pelo seu Espírito (Romanos 6:5); tornar-se “um nele” (João 17:20-21; Romanos 8:9-11); ser unido a ele numa parceria espiritual e viva (1 Coríntios 6:15-17).
A analogia mais próxima a isso nas relações normais é quando marido e mulher se tornam “uma só carne”, não mais indivíduos completamente separados e independentes, mas uma união viva (Romanos 7:1-4). E nessa união com Cristo reside a chave da maneira de Deus nos tornar o que fomos destinados a ser.
Não podem existir céu, satisfação final, sem nos tornarmos o que Deus, nosso Criador, pretendeu que fôssemos e nos comportarmos de acordo. Isso, é claro, nós instintivamente percebemos. Mas a maneira de Deus nos tornar o que fomos destinados a ser é radicalmente diferente do que nós normalmente pensamos.
Nós naturalmente pensamos em termos de melhorar a nós mesmos. Gostamos de pensar em nós como basicamente sãos, com uma ou duas manchinhas morais aqui, talvez uma mancha de completa maldade ali, estragando a maçã de outra forma perfeita. Nossa esperança e nossa expectativa são que, pela aplicação de alguma disciplina religiosa, talvez até mesmo de uma cirurgia espiritual moderadamente rigorosa, eventualmente nos tornemos tão melhorados a ponto de nos qualificarmos a desfrutar e a fazer nossa contribuição ao céu onde Deus habita.
Mas Deus não pensa dessa forma. O Novo Testamento nunca fala de melhorar-nos, ou de melhorar a nossa antiga vida ou natureza caída.
Deus faz algo muito mais radical.
Ele implanta dentro do crente uma vida nova (1 Pedro 1:23-2:3), que traz consigo uma nova natureza (2 Pedro 1:4; Colossenses 1:27; 3:3-4), com novos poderes e novos instintos e novos potenciais. É por isso que, em tempos passados, quando as pessoas se tornavam cristãs, elas tomavam ou recebiam um novo nome. Simão, por exemplo, foi chamado de Pedro (João 1:42). O novo nome não era a expressão de uma piedosa esperança de que, um dia, eles poderiam melhorar. Era o reconhecimento de que Cristo tinha lhes dado uma nova vida (Romanos 6:4), um novo poder, uma nova natureza, que não tinham antes. “O novo homem” ou “a nova natureza” (Colossenses 3:10), ou “a nova criação” (2 Coríntios 5:17) — estes são alguns dos termos que os primeiros cristãos usavam para esse dom da nova vida espiritual que receberam pela sua união com Cristo.
Receber essa nova vida não significava que sua antiga natureza caída havia desaparecido e não mais se fez vista ou ouvida. Mas receber a nova vida era como soltar um fruto de carvalho numa sepultura: isso não melhoraria o cadáver; mas começaria a crescer uma nova vida, que, gradual e eventualmente, iria substituir tudo o mais.
Então, o crente em Cristo não tem mais uma natureza, mas duas, a velha e a nova. Ele é chamado pela decisão e pelo esforço constantemente renovados a despojar-se do velho homem (Efésios 4:22-23), a exterminá-lo (Colossenses 3:5), a não deixá-lo reinar (Romanos 6:12) e a revestir-se do novo, que constantemente é renovado (pois essa é uma característica da vida) em conhecimento, à imagem de Deus, seu Criador (Efésios 4:22-24).
Naturalmente, ocupa a vida inteira constantemente despojar-se do velho e cultivar o novo. É uma luta (Gálatas 5:16-17), uma guerra, em que não vencemos todas as batalhas, mas em que há perdão para a derrota (1 João 1:7-9) e a certeza do triunfo final (Romanos 5:2; 8:29-30). Em cada crente, a nova vida vai crescer e desenvolver-se até finalmente estar conforme o padrão do próprio Cristo.
O que acontece, podemos perguntar, se, tendo recebido essa nova vida, a negligenciarmos e estimularmos e favorecermos a velha? Isso importa?
Na verdade, importa.
Se agirmos dessa forma, Deus irá nos disciplinar. Nós devemos usar nossos novos poderes espirituais para evitarmos que a velha natureza caída assuma o controle. Senão, Deus terá de tomar medidas mais drásticas. Elas podem envolver doença ou mesmo morte física prematura. O assunto é tão importante que Paulo se estende longamente nele em 1 Coríntios 11:23-32. Toda a passagem é importante.
As disciplinas de Deus são solenes e sérias. Ele não permitirá, se formos verdadeiros seguidores de Cristo (Hebreus 12:3, 8-11; Filipenses 3:10-14), que nos tornemos presunçosos ou cínicos. Nem nos deixará satisfeitos com nós mesmos, até que Deus esteja satisfeito conosco. Mas note que, mesmo no extremo caso no qual um crente é removido pela morte física, sob a disciplina de Deus, por causa de seu viver descuidado, a Bíblia diz explicitamente que ele não será condenado juntamente com o mundo (1 Coríntios 11:32). A razão para isso é que, embora nosso gozo com Deus e o gozo de Deus conosco dependam de nosso cultivo da vida nova que recebemos por meio de Cristo, nossa aceitação por Deus nunca dependeu, e nunca dependerá, de nosso progresso espiritual, mas somente do que Cristo fez por nós pela sua morte. Nossa aceitação, portanto, permanece eternamente segura.
Essa, então, é a maneira de Deus nos tornar aquilo que fomos destinados a ser. É a única maneira eficaz e satisfatória (Gálatas 2:8; Colossenses 1:20-23).
 
A SATISFAÇÃO DE TRABALHARMOS 
COMO FOMOS DESTINADOS A TRABALHAR
 
É lógico que, se Deus nos fez, e nos fez primeiramente (como a Bíblia diz) para realizarmos sua vontade e desempenharmos seu desejo (Apocalipse 4:11; Colossenses 1:16), nunca poderemos encontrar satisfação até trabalharmos como fomos destinados a trabalhar e desempenharmos o propósito para o qual Deus nos fez. Isso significa, é claro, abrir mão de nossos próprios caminhos e pensamentos onde quer que eles se difiram dos de Deus; isso significa dizer para sempre: “Contudo não se faça a minha vontade, e sim a tua”.
Francamente, para muitos de nós, isso soa como um modo de vida desolado e assustadoramente sem atrativos.
Não nos importamos de ser moderadamente religiosos; mas levar “cativo todo pensamento à obediência de Cristo”, como Paulo coloca (2 Coríntios 10:5), consultar Cristo como Senhor sobre tudo o que fazemos na vida e aceitar seu controle em tudo — bem, apenas um nascido santo, dizemos a nós mesmos, poderia considerar viver a vida assim; e mesmo ele, suspeitamos, dificilmente poderia apreciar isso.
Talvez seja bastante natural pensar assim. Mas isso mostra como, desavisados, formamos ideias bastante caluniosas sobre Deus, como se ele fosse um tirano ou um estraga prazeres. Pensar o que queremos sobre Deus, naturalmente, não muda o fato de que, como suas criaturas, é nosso dever servi-lo. Mas servir a ele meramente por um senso de dever é, novamente, menos do que satisfatório, e, mesmo se conseguíssemos fazê-lo, isso tende a provocar em nós um espírito de mártir, uma atitude desagradável do tipo, “que bom rapaz eu sou”.
O único modo satisfatório e gratificante de servir a Deus é servir-lhe de bom grado e alegremente, com todo o nosso coração, mente, alma e força; mais por amor do que por dever.
Mas como isso pode ser feito?
Você pode forçar-se a servir a Deus, mas você não pode fazer-se amá-lo. Então, qual é o segredo de amar e servir a Deus como fomos feitos para fazer?
O próprio Paulo nos diz. É uma mistura de amor e lógica. Quando começamos a entender o que Cristo fez por nós, nossa gratidão não só afeta o modo como nos sentimos, como também apresenta poderosas implicações na maneira como vivemos nossa vida. Paulo, com seu esmagador senso do amor de Cristo por ele pessoalmente, é compelido a ver que: “…esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2:20). E, novamente: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Coríntios 5:14-15).
Paulo, como ele nos diz (Filipenses 3:4-6), sempre fora religiosamente intencionado, mas ele nem sempre pensara assim. Em sua jovem idade adulta, ele pensava que servir a Deus era uma forma de armazenar mérito e que esse era um meio de alcançar a salvação. E, então, ele foi servir a Deus com imensa eficácia e com determinação. Mas tudo o que isso conseguiu fazer por ele — e é ele quem diz isso de si mesmo — foi amontoar uma carga de obras religiosas que não valiam absolutamente nada, e pior do que nada na visão de Deus (Filipenses 3:7-8), e transformá-lo em um homem orgulhoso, duro e cruel (1 Timóteo 1:13; Atos 26:9-11).
A mudança veio quando ele descobriu quem Cristo realmente era, o que Cristo realmente fizera por ele e por que precisava que Cristo fizesse isso por ele afinal. Ele descobriu que, longe de ser o sucesso religioso que pensava ser, ele era um pecador miserável e desprezível. Seus supostos méritos eram um lixo censurável, seus exercícios religiosos, sem valor; a lei de Deus, que até então ele imaginara haver guardado, somente o condenava.
E, então, ele descobriu Cristo. Descobriu quem ele era. Este Jesus, a quem ele tinha ofendido e perseguido em nome de Deus, não era outro senão Deus encarnado.
A descoberta era perturbadora.
Isso expôs a religiosidade de Paulo como a expressão de sua própria obstinação; o impulso e serviço de seu próprio ego sob o disfarce da religião, em real (embora oculta e inconsciente) oposição a Deus.
Então, ele descobriu algo mais sobre o Filho de Deus, e a descoberta revolucionou toda a motivação de sua vida.
Ele descobriu que, mesmo quando era seu inimigo, este Jesus o amava pessoalmente e morrera voluntariamente por Paulo, para que Paulo não precisasse morrer sob a ira de Deus.
O efeito sobre Paulo foi de incessante gratidão.
Mas não só gratidão. A pura lógica o fez ver que, se Cristo não tivesse morrido por ele, ele próprio teria morrido.
A vida que ele vivia agora, portanto, devia-se inteiramente a Cristo. Já não era sua própria; pertencia a Jesus, comprada pela morte que a redimira (1 Coríntios 6:19-20). Portanto, ela deveria ser vivida inteiramente para Jesus. E ele, alegremente e de bom grado, viveu-a dessa forma. Somente isso poderia satisfazer ao amor de Paulo por Jesus.
A próxima descoberta que Paulo fez foi que, quando, em amor e em gratidão, alguém submete sua vida ao controle de Cristo, o jugo de Cristo é, na verdade, suave, como o próprio Jesus afirma, e o seu fardo é leve (Mateus 11:28-30).
Cristo é, afinal, nosso Criador. Ele sabe como nós fomos feitos para trabalhar. Seu controle e sua disciplina não são uma tirania, forçando-nos a viver artificialmente. Esse controle é necessário para salvar-nos de arruinarmos a nós mesmos com a frustração de vivermos perpetuamente lutando contra o plano de nosso Criador para nós. É o único caminho verdadeiro para a realização pessoal, para vivermos e trabalharmos como fomos destinados a viver e a trabalhar.
E a outra descoberta que Paulo fez foi a da grande recompensa em servir a Cristo (1 Coríntios 3:11-15). A recompensa não é a salvação, é claro, ou a aceitação de Deus. A recompensa é pelo trabalho realizado (1 Coríntios 3:14), ao passo que a salvação nunca é o resultado do trabalho feito; é dada como um dom gratuito (Efésios 2:8-10).
A recompensa em trabalhar para Cristo é, primeiramente, a pura alegria e a satisfação de saber que agradamos ao Senhor (Mateus 25:23). Em segundo lugar, é a satisfação de conseguirmos algo eternamente significante e que vale a pena (1 Coríntios 3:14; 1 Pedro 5:4). E, em terceiro lugar, é descobrir que desenvolvemos nosso potencial para fazer um trabalho maior e mais significativo (Lucas 19:16-17).
Se Paulo tivesse um lema, penso que teria sido este: “Para mim, o viver é Cristo” (Filipenses 1:21). E, quando ele veio a morrer, não havia o menor arrependimento. Nada, exceto satisfação (2 Timóteo 4:6-8).
Podemos ser tentados a pensar, é claro, que Paulo era tão santo que sua experiência é irrelevante à nossa.
Mas não é assim. Ele mesmo nos diz que Deus projetou sua conversão como um padrão para todos os outros (1 Timóteo 1:16).
A SATISFAÇÃO DE SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Não saber o que está acontecendo pode ser muito frustrante. Alguém lhe pedir ou você ser obrigado a trabalhar em algum esquema sem ninguém lhe dizer o que é exatamente o esquema; alguém esperar que você lute e faça sacrifícios sem saber se o esquema é bem-sucedido ou não, se os sacrifícios serão justificados no final ou se tudo vai acabar em fracasso ou em desastre — essa é uma forma pouco tentadora e insatisfatória de continuar.
Infelizmente é assim que muitas pessoas vivem, trabalham e morrem. Com esquemas e com projetos de vida menores, seus próprios planos e ambições, elas tentam justamente definir seus objetivos, estimar suas chances de sucesso, decidir se o sucesso, quando alcançado, vai valer o esforço empregado para realizá-lo.
Mas sobre o propósito da própria vida e o que está além dela; e se os sacrifícios e as labutas da vida provarão, no final, ter servido para algum objetivo eterno de valor, ou se toda a vida vai acabar em desastre eterno, sobre tudo isso, eles têm apenas uma vaga ideia e as esperanças mais incertas. Alguns até mesmo supõem que viver na incerteza é como nós fomos feitos para viver, que, de qualquer maneira, é isso o que a fé significa: viver corajosamente com a incerteza. Mas, é claro, a fé no sentido bíblico é exatamente o oposto da incerteza. “A fé”, diz a Bíblia (Romanos 10:17), “vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”.
Fé, em outras palavras, é a nossa resposta para o que Deus nos fala. E, se Deus nos diz qualquer coisa, a última coisa no mundo que devemos ter é incerteza. Quando ouvimos a Cristo, então, ele expulsa a incerteza.
Descobrimos nele não só aquele que criou todas as coisas, mas aquele para quem todas as coisas foram criadas (Colossenses 1:16). Ele herdará todas as coisas: os vastos proventos da história serão dele; ele é o objetivo de todas as coisas (Hebreus 1:2). E há mais, ele não nos mantém no escuro a respeito de seus propósitos, quer para nós pessoalmente quer para o mundo em geral. Obviamente, como criaturas finitas, há muito sobre o mundo vindouro que não nos pode ser dito, uma vez que nós não poderíamos, em nossa presente condição, compreender. Mas muito nos é dito e, certamente, o suficiente para satisfazer a fé e para preencher a vida com significado e com propósito.
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.” (João 15:15) Então, nos é dado a saber que Jesus, que se ausentou de nós na ascensão, está para retornar. “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.” (João 14:2-3) Então, aqui temos aquela esperança certa da ressurreição na segunda vinda de Cristo, reservada a nós para nosso conforto e nosso encorajamento (1 Tessalonicenses 4:13-18).
Morte não é a palavra final; ela não terá a vitória final (1 Coríntios 15:54-58). Ela não reduz a vida a nada e, consequentemente, à insignificância final. Cristo virá outra vez; e Maranata — em aramaico, “O Senhor virá” (1 Coríntios 16:22), é a palavra de ordem de cada cristão.
Entretanto, até esse grande evento, ao crente individual é dito o que vai acontecer com ele pessoalmente na morte. Como um exilado que viveu fora de casa a negócios, mas, depois, quando o negócio é terminado, vai para casa, assim o crente, na morte, parte para estar com Cristo (Lucas 23:43; Filipenses 1:23; 2 Coríntios 5:6-8), para estar em casa com o Senhor.
Isso é tremendamente confortante para o indivíduo. Mas, maravilhoso como é, Deus planeja fazer muito mais do que salvar e criar indivíduos perfeitos. Cristo nos diz que toda a criação será restaurada. Não é para a natureza estar sempre acorrentada à frustração da corrupção e da decadência. “A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.” (Romanos 8:21) O que isso significa em termos práticos detalhados não nos é dito, e, sem dúvida, não poderíamos compreender em nosso presente estado limitado. Nem importa. O grande ponto é que a encarnação e a ressurreição corporal do Senhor Jesus se combinam para nos dizer que a matéria é basicamente boa. O mundo da natureza não é uma ilusão, nem um ciclo sem sentido do qual, se formos sábios, tentaremos escapar.
O mundo material é uma boa ideia do próprio Deus. Ele vem sendo temporariamente estragado pela rebelião de criaturas inteligentes e moralmente responsáveis contra o Criador. Mas essa condição não deve ser permanente. A própria criação deve ser conciliada e feita para servir à vontade do Criador (Colossenses 1:20). A matéria eventualmente funcionará perfeitamente para a glória de Deus.
Existe, então, um propósito dentro da história, escondido talvez, mas realmente presente. O esforço humano não é, afinal das contas, em vão. A ressurreição de Cristo é descrita como as primícias de uma colheita, que incluirá a ressurreição dos reconciliados com Deus. Se somos crentes, isso nos dará confiança para vivermos e trabalharmos na íntegra, pois sabemos que o que fazemos não é sem sentido (1 Coríntios 15:58). Eis, então, a satisfação.
Que ninguém diga que é escapismo. Isso sugere que cada decisão, cada ação aqui nesta vida, é de consequência eterna, visto que o cristão tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser (1 Timóteo 4:8). Para os incrédulos, isso significa que esta vida irá, no final, para sempre provar ter sido demasiadamente significativa (João 3:36; Apocalipse 21:8; Mateus 12:36-37).
O CAMINHO PARA A SATISFAÇÃO
Se existe satisfação espiritual, então, como eu a obtenho? Devemos estar brincando se, no final, não trouxermos toda a questão a essa pergunta pessoal e prática.
A resposta é muito simples. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”, dizem as Escrituras (Atos 16:31). Mas a pura simplicidade disso pode ser tentadoramente difícil. Todos nós, ou a maioria de nós, afinal, não acreditamos em Jesus em algum sentido?
De certo modo, sim; mas, obviamente, a crença que realmente recebe de Jesus a satisfação que ele reserva para nós precisa ser, de alguma forma, mais profunda, real e intimamente pessoal do que um tipo de crença superficial e geral em Jesus.
A verdadeira fé, diz a Bíblia (Romanos 10:17), vem de ouvir Jesus falar. Naturalmente, não se trata de ouvir vozes inesperadamente; mas ouvir Jesus falar através da Bíblia, permitindo-lhe, pelo seu Espírito, tornar sua palavra uma realidade viva e criativa para nós. Por essa mesma razão, ele deixou registrada para nós uma conversa que teve com uma mulher sobre esse mesmo tema de receber a satisfação espiritual. Aqui está a história. Leia-a. Leia-a mais de uma vez. E, enquanto escuta Jesus falar com uma mulher há todos esses séculos, ore para que ele, por meio de seu Espírito, fale com você agora. E ele irá (João 6:37).
“Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José. Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)? Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado? Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la. Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá; ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas. Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.” (João 4:5-26)
 

Por David Gooding & John Lennox

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