Deuteronômio 24:1-4

“Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe lavrar um termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir de casa; e se ela, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem; e se este a aborrecer, e lhe lavrar termo de divórcio, e lho der na mão, e a despedir da sua casa ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então, seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a desposá-la para que seja sua mulher, depois que foi contaminada, pois é abominação perante o Senhor; assim, não farás pecar a terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança.” (Deuteronômio 24:1-4)

O divórcio em Deuteronômio 24 é uma indicação de um espírito inflexível, com pouco respeito para com os sentimentos dos outros (e por isso era algo que Deus odiava).

Mas, por que, então, Moisés o permitiu? A razão é clara. Foi para proteger a dignidade da mulher. O divórcio foi permitido para que a mulher fosse salva de uma situação de abuso arrogante de um homem de coração duro.

Em Deuteronômio 24 o casamento não fora consumado, senão o divórcio não teria sido possível (veja Deuteronômio 22:29) e, nessas circunstâncias, a mulher era inocente (e continuava virgem) depois do primeiro processo de divórcio.

O compromisso de um “noivado” em Israel, era considerado tão sério, que os noivos eram chamados de “seu esposo”, e “tua mulher”.

Veja isto no caso de José é Maria, que mesmo sendo apenas noivos, José é chamado de esposo (Mateus 1:19), e o anjo chama Maria de “tua mulher”, quando fala com José em sonho (Mateus 1:20)

Naquele caso, José pretendia dar carta de divórcio a Maria, por suspeitar fornicação por parte dela.

A razão para esta provisão em Deuteronômio 24:1-4, é esclarecida pelo Senhor Jesus: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, permitiu que repudiásseis as vossas mulheres”, Mateus 19:8. Isto faz parte da segunda resposta dada pelo Senhor Jesus às perguntas feitas a Ele pelos fariseus em Mateus 19:1-9.

Perguntaram: “É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?” Ao que o Senhor respondeu: “Não lestes que Aquele que os criou no princípio os fez homem e mulher, e disse: Para isso porque deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; e serão os dois uma só carne? Portanto já não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu não o separe o homem.”

Fizeram outra pergunta: “Por que então Moisés ordenou que desse uma carta de divórcio e a repudiasse?” Ao que o Senhor respondeu: “Moisés, por causa da dureza de vossos corações, permitiu que repudiásseis vossas mulheres, mas desde o princípio não foi assim.”

Em seu evangelho, Marcos deixa claro que os fariseus estavam se entregando a 'perguntas pegajosas' na tentativa de desacreditar o Senhor Jesus: “E os fariseus aproximaram-se dele e perguntaram-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher? tentando-O.”

Se o Senhor Jesus tivesse respondido: “Não, não é lícito ao homem repudiar a sua mulher”, então os fariseus teriam citado alegremente Deuteronômio 24:1-2.

Por outro lado, se o Senhor Jesus tivesse respondido: “Sim, é lícito ao homem repudiar sua mulher”, então os fariseus teriam citado alegremente Gênesis 2:24: “Portanto deixará o homem seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher; e serão uma só carne.”

Parecia não haver saída para esse impasse – os inimigos do Senhor aparentemente O haviam colocado numa posição impossível. Mas a tentativa deles de enganá-lo e manobrá-lo falhou completamente. Sua resposta satisfez ambas as passagens.

Mas destemidos, os fariseus, juntamente com os herodianos, mais tarde enfrentaram o Senhor Jesus com outro aparente dilema, apenas para serem silenciados novamente. (Veja Mateus 22:15-22).

Ele provou ser o mestre completo da situação em ambas as ocasiões.

Devemos observar cuidadosamente a maneira como o Senhor tratou as questões dos fariseus. Ele silenciou Seus inimigos explicando ambas as passagens. Para os seus propósitos, os fariseus estavam preparados para comparar uma passagem bíblica com outra. Eles fariam qualquer coisa para alcançar seu fim. Mas a sua tentativa de derrotar o Senhor Jesus fracassou quando as Escrituras relevantes foram cuidadosamente explicadas. Isto é o mais importante.

Quando duas passagens parecem contradizer-se, ou outras nos dizem que há uma contradição, um estudo cuidadoso resolverá o problema. Isto deve envolver referência ao contexto em que qualquer declaração é feita e ao momento em que é feita. Deve também envolver o reconhecimento de que toda a Escritura deve ser interpretada com referência ao propósito original e inalterado de Deus. Isto ficará muito claro agora ao ouvirmos os ensinamentos do Senhor.

1. A Instituição do Casamento por Deus

Devemos notar, em primeiro lugar, que o Senhor Jesus respondeu aos fariseus citando o propósito original e inalterado de Deus no casamento: “Não lestes que Aquele que os criou no princípio os fez homem e mulher, e disse: Para por esta causa deixará o homem pai e mãe e apegar-se-á à sua mulher; e serão os dois uma só carne?” Marcos preserva cuidadosamente a ênfase aqui: “Mas desde o princípio da criação Deus os fez homem e mulher”. O Senhor Jesus citou Gênesis 1:27 e também 2:24. Isto, por si só, responde claramente a qualquer sugestão de evolução. Ele confirmou a criação de Adão e Eva, o que não é de todo surpreendente quando lembramos que, “Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada do que foi feito se fez”. (João 1:3)

As palavras “não separe o homem” não são qualificadas. Fica em aberto se a referência é a uma das duas partes envolvidas, ou a um intruso que pode tentar destruir o casamento, ou a um funcionário que pronunciaria uma sentença de divórcio.

Deus deixou Sua mente perfeitamente clara sobre o assunto do divórcio: “Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que odeia o repúdio”. (Malaquias 2:16)

Deveria ser o desejo de todo crente cumprir a vontade revelada de Deus em relação ao casamento e, portanto, o divórcio nunca deveria ser contemplado. Dito isto, devemos agora abordar os detalhes em Deuteronômio 24:1-4.

2. A provisão para o divórcio por meio de Moisés

Foi sugerido que Moisés não tinha autoridade divina direta para tomar providências para o divórcio, e que isso é apoiado pelas palavras do Senhor: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, permitiu que repudiásseis as vossas mulheres”, (Mateus 19:8).

Desnecessário será dizer que este é um argumento muito perigoso que, se admitido, poderia lançar dúvidas sobre todos os “estatutos e julgamentos” do livro de Deuteronômio! Embora, como vimos, o Senhor Jesus tenha citado o propósito original e inalterado de Deus para o casamento, permanece o fato de que, em resposta à Sua pergunta: “O que Moisés lhe ordenou?”, os fariseus responderam corretamente: “Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar.” (Marcos 10:3-4)

O Senhor Jesus agora explica a provisão: “Por causa da dureza do vosso coração (o coração dos homens) Moisés vos escreveu este preceito”. (Marcos 10:5)

“Moisés, por causa da dureza dos vossos corações (os corações dos homens), permiti que vocês repudiassem suas esposas.” (Mateus 19:8)

As palavras “dureza do coração”, indicando um caráter duro, até mesmo desumano, são explicadas em Deuteronômio 24.

Vemos em Deuteronômio 24:1, que o que está em pauta aqui, é ao início da vida conjugal. “Quando um homem toma uma esposa e se casa com ela.”

Com certeza que isto não pode referir-se a um casamento bem estabelecido, levado a consumação. O texto hebraico exige que o leitor entenda que esta mulher é recém-casada.

Lemos por exemplo, encontrar “alguma impureza nela”.

Quase que não seria necessário dizer que aqui, a “impureza”, certamente não era adultério. A pena para o adultério era a morte. (Veja Deuteronômio 22:22)

Foi sugerido que este versículo só pode ser interpretado como fornicação que ocorreu durante o período de noivado e que foi descoberta pelo já marido, depois que ele se casou com sua esposa. Se sim, então por que não é especificamente declarado, como no capítulo 22:14,17:

“E lhe imputar coisas escandalosas, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Tomei esta mulher, e me cheguei a ela, porém não a achei virgem.”

“E eis que lhe imputou coisas escandalosas, dizendo: Não achei virgem a tua filha; porém eis aqui os sinais da virgindade de minha filha. E estenderão a roupa diante dos anciãos da cidade.”

Se um homem acusou sua esposa de infidelidade durante o período de noivado, e isso não foi provado, “ela será sua esposa; ele não poderá abandoná-la todos os seus dias”. (Deuteronômio 22:13-19)

Se provado, ela seria apedrejada. (Deuteronômio 22:20-22)

Muito claramente, a expressão “impureza”, não refere-se a qualquer impureza moral ou pecado por parte da mulher, mas à impureza de natureza física decorrente de funções corporais normais. Esta conclusão é baseada no fato de que a expressão “alguma impureza” (Hebraico: ervat-davar), ocorre em Deuteronômio 23:13-14 com referência ao enterro de efluentes: “E entre as tuas armas terás uma pá; e será que, quando estiveres assentado, fora, então com ela cavarás e, virando-te, cobrirás o que defecaste. Porquanto o Senhor teu Deus anda no meio de teu arraial, para te livrar, e entregar a ti os teus inimigos; pelo que o teu arraial será santo, para que ele não veja coisa feia (ervat-davar) em ti, e se aparte de ti.”

Embora isto não signifique que ambas as passagens se refiram às mesmas circunstâncias, podemos pelo menos concluir que a “impureza” em Deuteronômio 24:1 se refere a uma emissão corporal. A sugestão de que isto se refere a Levítico 15:24, que efetivamente proíbe o relacionamento físico na época citada na passagem, certamente não é irracional.

A palavra traduzida como “contaminado” (Deuteronômio 24:4) é a mesma raiz da palavra que a contaminação em Levítico 15:24-25. Este comportamento ignominioso no comportamento do homem provavelmente surgiu… de sua frustração com a instrução em Levítico 15:24 que proíbe o relacionamento físico durante os dias de menstruação de uma mulher e durante os sete dias seguintes.

No contexto, só podemos concluir que não ocorreu nenhuma união física entre o dito casamento e o divórcio.

3. A provisão, portanto, protege a mulher contra um futuro sem amor.

Visto que o homem havia demonstrado, logo no início de seu casamento, uma falta de paciência e cuidado atencioso, que o Senhor Jesus chama de “dureza... de coração”, ele deveria 'escrever-lhe uma carta de divórcio e entregá-la nas mãos dela,  e manda-la embora de sua casa'.

Afinal, se ele se comportou com “dureza... de coração” nos primeiros dias de casamento, sua conduta futura é indescritível. Foi para a segurança dela que lhe foi permitido o divórcio com base no não retorno a este homem, jamais no futuro”.

4. A provisão garantia que a mulher pudesse se casar novamente.

“E quando ela sair de sua casa, ela poderá ir e ser esposa de outro homem”, (Deuteronômio 24:2).

Não há referência a isso ser uma “abominação diante do Senhor” e “fazer a terra pecar”, (Deuteronômio 24:4).

5. A provisão proibia o novo casamento com o homem original.

“E se este último marido a odiar e lhe escrever uma carta de divórcio... ou se este último marido morrer... seu primeiro marido... não poderá tomá-la novamente como sua esposa, depois que ela foi contaminada...”, (Deuteronômio 24:3- 4).

A forma gramatical das palavras “depois disso, ela é contaminada”, literalmente “foi contaminada”, sugere que a contaminação surge da própria mulher e não de uma fonte externa.

Sugerimos a seguinte tradução: “Seu ex-marido, que a despediu, não pode tomá-la novamente para ser sua esposa, visto que (mesmo que) sua contaminação tenha sido apenas temporária; pois isso é abominação diante do Senhor”.

A razão é claramente explicada: “porque isso é abominação diante do Senhor, e não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança”, (Deuteronômio 24:4).

Idealmente, o casamento era para toda a vida e, se os parceiros pensassem por um momento que eram livres para mudar a sua lealdade conjugal para trás e para a frente, tinham de saber que tal conduta seria detestável aos olhos do Senhor.

Deve ser dito que a total confusão conjugal na sociedade hoje fez com que a nossa “terra fosse contaminada”, pois “a justiça exalta uma nação, mas o pecado é uma vergonha para qualquer povo”, (Provérbios 14:34).

 

Desenvolvido por Palavras do Evangelho.com