Como entender as duas ressurreições da Bíblia?

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Uma interpretação correta das Escrituras, concluirá que haverá, duas ressurreições distintas. Sabemos que a passagem de João 5 versos 25 a 29, é às vezes citada em apoio a uma ressurreição geral. A base para isso é que nosso Senhor coloca a ressurreição “dos que fizeram o bem” e “dos que fizeram o mal” na mesma “hora”.

Mas para o leitor atento, perceberá que quando o Senhor Jesus fala sobre o assunto, Ele distingue claramente, não apenas entre a transmissão de vida espiritual às almas mortas e de vida física aos cadáveres, mas também entre o período de tempo em que cada transmissão seria feita.

Falando da primeira “hora”, Ele diz: “Vem a hora, e AGORA É, quando os mortos ouvirão..., e … viverão”. Aqui fala de ter vida eterna, todo aquele que ouvir, e crer no Senhor Jesus como salvador pessoal.

Mas falando da último “hora”, Ele diz apenas: “A hora está chegando” (verso 28), aquela hora em que “todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz” era, e de fato é, ainda futura.

Um momento de reflexão, porém, dir-nos-á que dois acontecimentos poderiam ocorrer na mesma hora, sem que acontecessem simultaneamente. É preciso considerar a duração de tempo que “hora” pode denotar. O uso da palavra por nosso Senhor, três versículos antes, como também no capítulo 4 versos 21 a 23, indicaria que “hora” pode significar um período de tempo muito longo e extenso. Portanto, concluímos que o uso da palavra “hora” por nosso Senhor não é prova alguma de que uma ressurreição geral é ensinada em João 5. A mesma coisa pode ser dita do “último dia” em João 6 versos 39,40,44 e 54; e no capítulo 11 verso 24, onde “Marta lhe disse: Eu sei que ele (Lázaro) ressuscitará na ressurreição, no último dia”.

O conceito de uma ressurreição geral levanta dificuldades que nos parecem intransponíveis. Por exemplo, em Lucas 14 verso 14, nosso Senhor disse: “Recompensado serás na ressurreição dos justos”. Por que, entretanto, nosso Senhor exigiu descrever a ressurreição como sendo aquela, “DOS JUSTOS”, se todos, justos e injustos, ressuscitarão ao mesmo tempo?

Estas palavras qualificativas, “DOS JUSTOS”, não implicam claramente outra ressurreição?

Além disso, se todos devem ser ressuscitados juntos, por que o Senhor Jesus, em uma ocasião posterior, falou de uma classe que será “considerada digna de alcançar aquele mundo e a ressurreição dentre os mortos”? (Leia Lucas 20 verso 35).

Visto que haverá uma ressurreição para a qual nem todos serão “considerados dignos de alcançar”, segue-se que necessariamente deve haver outra ressurreição.

Um outro fator decisivo, entretanto, é encontrado em nosso versículo em Lucas 20. A expressão, “dos mortos”, são literalmente, “dentre os mortos”, (no grego: ek nekron). Esta expressão, que ocorre quase 50 vezes no Novo Testamento, deve ser cuidadosamente distinguida da frase “dos mortos” (no grego nekron), encontrada em muitas passagens, como Atos 17 verso 32; Capítulo 24 versos 15 e 21; 1ª Coríntios 15 verso 13, em que o assunto da ressurreição é tratado de forma ampla, aplicando-se a todos os que morreram, tanto justos como ímpios.

Nosso Senhor usou a expressão anterior (grega: ek nekron) em Marcos 9 verso 9, ao falar de um tempo então futuro, “quando o Filho do Homem ressuscitar dentre (os) mortos”.

O uso desta linguagem deixou os discípulos muito perplexos. Como judeus, é claro, eles acreditavam na ressurreição dos mortos. Mas “eles guardaram esse ditado entre si, questionando uns aos outros o que deveria significar ressurgir DENTRE OS MORTOS” (verso 10).

Com o nosso conhecimento, sabemos, graças a Deus, o que o nosso Senhor quis dizer - nomeadamente, que a Sua ressurreição seria uma ressurreição dentre milhões de outros mortos, que permaneceriam imperturbados nas suas sepulturas e seriam ressuscitados mais tarde.

Isto também foi o que aconteceu: “Agora Cristo ressuscitou dentre os mortos (grego: ek nekron), sendo as primícias dos que dormem” (1ª Coríntios 15 verso20); e é disso que falamos como “A RESSURREIÇÃO EXELENTE”.

Aqui está então o que nosso Senhor tinha em mente em Lucas 20 verso 35. A ressurreição dos santos será segundo o Seu próprio modelo. Será uma ressurreição extraordinária. Nenhum que desprezou a Cristo pode “alcançá-lo” e, portanto, no Novo Testamento a palavra é usada apenas para se referir a nosso Senhor e àqueles que morrem “em Cristo”.

Este pensamento Paulo expressa com grande ênfase em Filipenses 3 verso 11.

Ele deu as costas a tudo o que, como judeu piedoso, lhe era querido, (Filipenses 3 versos 4 a 7), para que pudesse “ganhar a Cristo”, (verso 8), ser encontrado Nele (verso 9), “conhecê-Lo”, (verso10), e finalmente alcançar “A RESSURREIÇÃO EXCELENTE, DE ENTRE OS MORTOS”. (Esta frase no grego seria assim: teen exanastasin teen ek nekron).

E vemos que, Daniel 12 verso 2, concorda perfeitamente com essas passagens.

O estudioso bíblico inglês, Samuel Prideaux Tregelles, cuja autoridade em crítica textual é bem conhecida, diz: “Não duvido que a tradução correta deste versículo em Daniel 12 verso 2, seja: 'E muitos dentre os que dormem no pó da terra despertarão; estes serão para a vida eterna; mas aqueles (o resto dos que dormem, aqueles que não acordam neste momento) serão para vergonha e desprezo eterno'”.

A partir desta consideração, fica perfeitamente claro que haverá duas ressurreições distintas dos mortos. Embora muitas passagens tratem do assunto sem fazer essa diferenciação, a Bíblia não ensina uma ressurreição geral. Porém, somente quando chegamos a Apocalipse 20 é que somos ensinados que mil anos separarão as duas ressurreições. Isto não nos surpreende, pois é apenas aqui, que o período “dos mil anos” é mencionado. Isto se harmoniza perfeitamente com as profecias anteriores e é totalmente consistente com o princípio reconhecido do avanço da revelação divina, que corre como uma corrente cada vez mais ampla através da Palavra de Deus. É no Apocalipse que as numerosas linhas da verdade profética atingem as suas alturas mais sublimes e convergem, e que a profecia como sujeito recebe a sua amplificação e confirmação finais.

Lemos em Apocalipse 20 verso 5, a frase “ESTA É A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO”.

Esta frase exige algumas observações. De acordo com a nossa passagem, esta ressurreição ocorre no final do reinado da Besta e no início dos mil anos. Visto que é descrito como “a primeira”, contudo, pode haver uma ressurreição antes do reinado da Besta começar, como ensinam os pré-tribulacionistas?

No livro intitulado, “O advento de Cristo que se aproxima”, na página 81, do autor, Alexander Reese, ele argumenta que se a ressurreição de 1ª Tessalonicenses 4 e 1ª Coríntios 15 ocorre antes da Grande Tribulação, então João deveria ter dito aqui: “Esta é a segunda ressurreição”. Ele está confiante, porém, de que a palavra “primeira” em Apocalipse 20 verso 5 é prova de que não há ressurreição anterior a esta.

Quando o autor diz: “Nenhuma palavra”, ele nos assegura, “é dita por João em todo o Apocalipse sobre tal ressurreição em duas etapas. Nada pode ser encontrado de algo anterior, nem aqui nem em qualquer outra parte da Palavra de Deus.”

Esta é certamente uma declaração precipitada. Alguém pode se perguntar se o Sr. Alexander Reese não leu sobre os vinte e quatro Anciãos nos capítulos anteriores do Apocalipse. Quer representem os santos do Antigo Testamento e a Igreja, ou apenas a Igreja, a sua presença no céu pressupõe a ressurreição. Além disso, o que dizer das duas Testemunhas do capítulo 11 que morreram e ressuscitaram de entre os mortos? No entanto, este escritor tem a ousadia de informar calmamente aos seus leitores que “nenhuma palavra é dita por João em todo o Apocalipse sobre tal ressurreição”.

Agora, o que é contemplado na “primeira ressurreição” é a ressurreição dos santos, e acreditamos que ela é chamada de “primeira” porque haverá outra e posterior ressurreição – a dos ímpios mortos. É importante, também, que compreendamos que a expressão “a primeira ressurreição”, não significa que haverá apenas um ato divino de ressurreição dos santos adormecidos. As palavras denotam uma ordem de ressurreição em vez de um ato.

Lemos que, “Cada um”, será ressuscitado, “por sua própria ordem”. (1ª Coríntios 15 verso 23)

Lemos que “Cristo, as primícias” da ressurreição do Seu povo, já ressuscitou dos mortos. Nos estágios posteriores da ressurreição, surgirão grupos de santos, pois embora seja uma ressurreição, ocorrerá em vários estágios sucessivos.

(Leia com atenção: 1ª Tessalonicenses 4 versos 13 a 18, juntamente com, 1ª Coríntios 15 versos 51 a 55; Apocalipse 11 versos 11 e 12; e Capítulo 20 verso 4).

O que desejamos deixar claro é que a expressão: “Esta é a primeira ressurreição”, indica que a fase final já passou. A última companhia ou destacamento de santos adormecidos a fazer parte da ressurreição pré-milenar ocorreu agora (Apocalipse 20 verso 4). “Esta é (a conclusão da) primeira ressurreição”.

O fato de os santos serem ressuscitados em grupos, em momentos ou etapas diferentes, para formar uma ressurreição, é bastante consistente com os caminhos de Deus. Ele estabeleceu uma aliança com Abraão em Gênesis, capítulos 15 e 17. Ela é sempre referida como sendo uma e indivisível, mas foi estabelecida em duas etapas, separadas por mais de 14 anos. O Advento de Nosso Senhor ocorreu em etapas – Belém, Jordão, Calvário – mas foi um só Advento. Seu próximo Advento também será em etapas, pois se Ele vier “COM” Seus santos, (1ª Tessalonicenses 3 verso 13), Ele deverá primeiro vir “PARA” eles, (1ª Tessalonicenses 4 versos 16 e 17) - um Advento, mas em duas etapas ou partes distintas. Da mesma forma, a Palavra de Deus ensina, com clareza inconfundível, uma ressurreição pré-milenar de santos, mas será composta por uma série de ressurreições dentre os mortos que são claramente definidas nas Escrituras.

Por William Bunting

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