A igreja local e sua organização

A importância da verdade que ela evidencia

A importância e abundância de doutrinas relacionadas com o ajuntamento local de cristãos frequentemente é negligenciada ou mal interpretada por muitos expositores. No entanto, estes tópicos importantes podem ser constatados por dois fatos facilmente discernidos. Em primeiro lugar, temos a maneira incomum pela qual o Espírito Santo apresenta o assunto ao leitor da Palavra Divina, e em segundo lugar, a grande frequência com que é mencionado nos escritos dos vários autores inspirados por Ele.

Sua primeira menção no Novo Testamento

O Evangelho de Mateus, que era o mais apropriado ao leitor judeu do primeiro século, é o palanque escolhido pelo Espírito de Deus para apresentar as verdades fundamentais sobre o assunto da Igreja. No entanto, aprendemos posteriormente que as distinções entre o judeu e o gentio não podem existir na Igreja (Cl 3:11). Ao traçar os acontecimentos que conduzem ao estabelecimento final do “reino na terra”, Mateus primeiramente apresenta o Rei em toda a Sua capacidade legal, universal, divina e moral (caps. 1-4). O caráter, a conduta e os interesses que se esperam dos Seus cidadãos são expostos no que chamamos “o Sermão da Montanha” (caps. 5-7). Os caps. 8-10, que seguem, mostram a autoridade do Rei sobre os mundos físico, natural, espiritual, e sobrenatural, nos dez milagres relatados nesta parte do Evangelho.

Todas estas evidências das Suas amplas qualificações são rejeitadas, e a Nação, instigada pelos seus lideres, rejeita as reivindicações do Rei. Eles, com desprezo, O repudiam como “glutão e bebedor de vinho” (caps. 11 e 12). Quando a grande multidão se reuniu a Ele, o Senhor “falou-lhes de muitas coisas por parábolas” (13:3), não para esclarecê-los, mas com verdades ocultas para confirmar a dureza dos seus corações e sua incredulidade. A explicação dada aos discípulos permite que gerações posteriores de cristãos apreciem o caráter desta época presente, quando o Reino é expresso na sua forma misteriosa (cap. 13). O que caracteriza os próximos e culminantes capítulos (14-18) são as várias retiradas do Senhor Jesus. Repare em 13:53 e 16:4, quando o Senhor visita Tiro e Sidom, deixando a nação sem outras palavras a não ser o sinal de aviso do profeta Jonas.

O propósito e programa presente do Senhor, na edificação da Sua Igreja, é subsequentemente revelado na primeira menção deste glorioso assunto. O edifício perfeito e eterno, chamado “a igreja que é o Seu corpo” (Ef 1:22-23), não será edificado sem o pagamento de um grande preço. Assim, os discípulos são avisados, de maneira clara, que o Senhor precisa sofrer antes de entrar na Sua glória. Uma previsão daquela glória intrínseca é dada a Pedro, Tiago e João no resplendor no Monte da Transfiguração. Em seguida somos apresentados àquilo que acontecerá durante a ausência do Rei, e o que manterá os Seus direitos no meio de uma “geração incrédula e perversa” (17:17) — “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (18:20). Ali, o mandado do Céu sobre “ligar e desligar” é reconhecido e aceito. Isso é o que será desenvolvido mais adiante nos contextos históricos e doutrinários de Atos e das Epístolas.

Sua frequente menção no NT

Desde a sua primeira menção em Mateus 16, a palavra “igreja” (geralmente traduzida “assembleia” por J.N. Darby) aparece cerca de cento e seis vezes no Novo Testamento. Destas, três ocasiões tem a ver com Israel no deserto, como um povo chamado para fora e remido, ou em relação aos ajuntamentos municipais sem qualquer conotação religiosa (At 7:38; 19:39, 41). Sete vezes a palavra se refere à Igreja que o Senhor mesmo edifica, e da qual todos os salvos de todos os tempos, desde Pentecostes até o Arrebatamento, são parte (Mt 16:18, Ef 1:22, 23; 3:10, 21; Cl 1:18, 24). O assunto da “igreja que é o Seu corpo” já foi tratado em maiores detalhes no primeiro capítulo deste livro.

As outras noventa e seis ocasiões onde a palavra “igreja” (ekklesia) ocorre são diretamente relacionadas ao ajuntamento local dos santos, que é chamado, entre outras coisas, “a igreja de Deus”. Significativamente esta expressão também ocorre sete vezes no Novo Testamento.

Assim, somos assegurados que ambos os aspectos da verdade sobre a “Igreja” recebem um lugar notável na revelação Divina. Estas simples estatísticas, junto com a revelação anterior do assunto feita pelo Senhor, mostram que nenhum destes dois aspectos pode ser superestimado.

A autoridade sobre a qual ela é baseada

Vista no relato histórico

Muito cedo no relato histórico, o caráter oficial da congregação neotestamentária de salvos se torna evidente. Embora houvesse um período de transição no início, Atos 2 mostra que logo no início os ajuntamentos dos salvos foram caracterizados por ordem e autoridade. No Dia de Pentecostes o Espírito Santo foi dado, cumprindo-se a promessa do Senhor Jesus, e os discípulos deixaram de ser meramente cristãos individuais, e se transformaram corporativamente, como resultado do “batismo no Espírito” em um corpo: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Co 12:13). Notamos o resultado da pregação de Pedro: “… foram batizados os que de bom grado receberam a sua [de Pedro] palavra, e naquele dia agregaram-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos …” (At 2:41-42).

A palavra “agregaram-se” mostra que, embora a congregação em Jerusalém fosse embrionária, havia uma entidade, a igreja, à qual estes três mil salvos foram acrescentados, e da qual se tornaram uma parte essencial.

No desenrolar dos primeiros capítulos de Atos, esta congregação veio a ser chamada “a igreja”. Anos depois, Paulo relata “como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava” (Gl 1:13). A proximidade entre as duas frases já citadas (“agregaram-se” e “perseveraram na doutrina dos apóstolos”) indica a autoridade exercida em relação às adições ao grupo. Esta autoridade é enfatizada de forma negativa, quando, depois do incidente de Ananias e Safira, lemos que “houve um grande temor em toda a igreja … dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles” (At 5:11, 13). Naquele tempo, “a igreja que é o Seu corpo” e “a igreja em Jerusalém” eram a mesma coisa, mas isto iria mudar quando outra igreja local fosse formada. Vemos também a autoridade da igreja em Jerusalém, quando a tentativa de impor condições injustificadas por alguns legalistas do seu meio foi interrompida pelo edital de liberdade quanto à Lei, que foi reconhecido em Atos 15.

Reconhecida na explanação doutrinária

Enquanto o livro de Atos traça o estabelecimento e extensão do trabalho de plantar tais igrejas locais desde Jerusalém até Roma, as Epístolas, especialmente as de Paulo, falam da fonte de onde esta autoridade procede. Logo se torna claro que a autoridade exercida pela igreja local é, de fato, impressionante. Mas, mesmo antes de qualquer Epístola ser escrita, as palavras do Senhor Jesus em Mateus 18 deixam muito claro que a igreja local precisa agir com autoridade, e quando assim faz, está obedecendo ao mandado celestial dado pelo próprio Senhor.

A verdade comunicada aqui pelo Senhor é frequentemente mal entendida. O contexto imediato é o de um irmão que transgride. Isso nos ensina como irmãos devem resolver suas diferenças de uma maneira que agrada o Senhor. Quando a teimosia caracteriza um ou outro, então o problema escapa do controle e se transforma numa questão para disciplina da igreja, e a igreja local age com toda a autoridade do Céu. “Tudo o que ela liga (retém como culpável) deve ser o que o céu retém; e tudo que desliga (considera como perdoável) deve ser o que já foi solto no céu”. Não se deve esperar que o Céu acrescente a sua sanção a qualquer decisão da igreja, mas, agindo em completa harmonia com a Palavra de Deus, a igreja local efetua a disciplina que o Céu exige. Em Mateus 16 o  mesmo princípio opera na pregação do Evangelho. É solene saber que o pregador do Evangelho para alguns é “cheiro de vida”, mas para outros, “cheiro de morte” (II Co 2:16).

A autoridade da igreja local ainda vai além até destes fatos já mencionados.

Em I Coríntios 5, Paulo menciona seis pecados morais que merecem a excomunhão da igreja local. Embora tratando diretamente de um irmão que é descrito como fornicador, Paulo diz que qualquer pessoa culpada de qualquer um destes seis pecados deve ser “tirado … dentre vós” como um iníquo (5:13). Não há espaço aqui para dúvida; isto significa a excomunhão da igreja local. Ao exigir que a igreja efetue este triste dever, ele os lembra de que ao assim fazerem estão o “entregando a Satanás para a destruição da carne” (5:5). A igreja local é privilegiada por estar sob o poder protetor de Deus. Cada salvo, andando em obediência à Palavra de Deus, tem esta garantia, mas fora do alcance da comunhão da igreja local há uma vasta sociedade que está sujeita somente a Satanás. Alguém que é afastado da comunhão dos santos, por qualquer uma destas razões especificadas, é entregue àquela esfera onde o inimigo das almas está extremamente ativo. A razão para esta disciplina é “para a destruição da carne”. É para que as obras da carne naquela pessoa sejam aniquiladas, e para que uma obra de restauração seja iniciada. O erro doutrinário também está incluído nestas instruções, e o apóstolo João fala disto em II João 10.

Esta autoridade da igreja local, considerada do ponto de vista histórico ou doutrinário, quando exercitada de uma maneira verdadeiramente Bíblica, precisa ser reconhecida como dada por Deus, e assim exige tanto o respeito e a obediência de cada irmão e irmã, como também o reconhecimento de todas as outras igrejas locais.

Os títulos pelos quais ela é chamada

O caráter da igreja local é expresso nos vários títulos usados para descrevê-la, dos quais quatro são notáveis. Como já foi mencionado, o título “igreja de Deus” é usado sete vezes, e sua primeira menção traz um ensino muito importante. Paulo relembra os anciãos da igreja em Éfeso: “… apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com seu próprio sangue” (At 20:28). Aqui a expressão fala de uma possessão que foi comprada por grande preço. Cada filho de Deus foi “resgatado … com o precioso sangue de Cristo” (I Pe 1:18-19), mas o único corpo na terra que pode ser descrito como comprado por Deus pela morte do Seu Filho é a igreja local dos salvos. Portanto, não é de se admirar que haja zelo divino em relação à igreja local (II Co 11:2).

Um segundo título usado em relação à igreja local é “igrejas de Cristo” (Rm 16:16). Estas palavras são usadas somente uma vez, e não são tão facilmente classificadas. Contudo, é interessante que quando Paulo estava escrevendo da Acaia, onde havia várias igrejas locais, para Roma, onde também aparentemente havia algumas igrejas locais (Rm 16:5, 14, 15), ele disse: “As igrejas de Cristo vos saúdam”. Talvez ele tivesse em mente o amor fraternal dos salvos nas várias igrejas locais, que é precioso e deve ser apreciado, apesar da sua independência. Todos os membros de uma igreja local são “santificados em Cristo Jesus, chamados santos”. Esta posição de “separados” é compartilhada “com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (I Co 1:2). Quanto aos salvos que se reuniam em Corinto, Paulo os exortou: “Não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (I Co 10:32). Assim, uma igreja local é um grupo separado por Deus e que tem uma existência distinta.

Achamos mais um título em I Coríntios 14:33: “as igrejas dos santos”.

Num contexto que exorta-nos à clareza de raciocínio, compreensão e expressão, o apóstolo diz que “Deus não é Deus de confusão”, como parecia haver na igreja em Corinto, antes, Ele é “Deus de paz, como em todas as igrejas dos santos”. Todos os salvos são chamados santos, e devem se comportar de uma maneira que combine com o seu chamado; assim, nas reuniões da igreja, a paz e a harmonia hão de reinar, e isso deve ser desejado, almejado e cultivado. Alguém que destrói a paz da igreja está convidando a disciplina de Deus, pois Ele não irá tolerar aqueles que querem perturbar o Seu povo. Isso é verdade, especialmente onde há santos orando consistentemente pelo bem estar da igreja local.

Finalmente, temos a frase “todas as igrejas dos gentios” (Rm 16:4).

Priscila e Áquila eram cooperadores muito estimados pelo apóstolo Paulo. Eles aparecem pela primeira vez como exilados por causa da perseguição dos judeus por Cláudio César, que obviamente incluiu os judeus cristãos. Possivelmente estavam entre aqueles que com alegria permitiram o roubo dos seus bens (Hb 10:34). Eles fugiram para Corinto onde, por razões práticas, Paulo morou com eles por um tempo.

Depois, viajaram com ele para a Síria e em seguida para Éfeso onde, depois da partida de Paulo, puderam instruir Apolo nos caminhos do Senhor (veja Atos 18). Paulo e “as igrejas dos gentios” davam graças a Deus por este precioso casal, que “expuseram as suas cabeças” para salvar Paulo. Quando, onde e como isto aconteceu não é revelado, mas as igrejas dos gentios, reconhecendo que foram feitos coparticipantes das bênçãos espirituais com os judeus, não somente contribuíram para as necessidades materiais dos irmãos em Jerusalém, mas também deram graças pela integridade destes dois companheiros judaicos do apóstolo.

Sejam “igrejas dos gentios” ou “igrejas da Judeia”, elas compartilhavam das mesmas bênçãos e liberalidades que sua posição em Cristo lhes proporcionava.

Há também cinco outras expressões que ligam igrejas locais com suas localidades geográficas específicas. Estas não precisam de explicações, exceto para notar que não há base bíblica para adotar o nome “a igreja de” qualquer localização geográfica. A igreja é “de” quanto à sua origem celestial, mas “em” quanto à sua localidade.

As pessoas que a compõe:

Crentes

A primeira necessidade, e a mais importante para alguém ser “acrescentado” a uma igreja local, é “a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21). Lucas relata o primeiro exemplo disso  em Atos 2:41-42. Havia alguns que “se introduziram furtivamente” (Jd 4, VB), e alguns que “saíram de nós, mas não eram de nós” (I Jo 2:19), mas estes eram exceções à regra, e casos lamentáveis. Estas referências servem para demonstrar a exclusividade da posição de membro numa igreja local, e a necessidade de cuidado quando alguém deseja ser recebido.

Claramente, somente aqueles que reconhecem Jesus como Senhor, e com simplicidade confessam crer nEle para a salvação, podem ser considerados idôneos para serem recebidos na comunhão da igreja local. Apesar disto, na esfera de confissão cristã às vezes chamada “cristianismo”  o sistema todo está permeado de homens e mulheres que não creem nos ensinos bíblicos relacionados a Cristo, e os negam veementemente.

Para uma pessoa descrente querendo se ajuntar a um grupo de salvos reunidos ao nome do Senhor Jesus, seja ele de classe alta ou baixa, jovem ou ancião, parente de algum membro da igreja ou não, as palavras de Pedro: “Tu não tens parte nem sorte nesta palavra” (At 8:21), precisam ser aplicadas, carinhosa mas firmemente.

Há outras coisas a serem consideradas quando alguém deseja ser recebido. É bastante claro que há uma ordem nas palavras de Atos 2, que não foi corrigida ou revogada em qualquer outra parte do Novo Testamento. Os versículos simplesmente afirmam que aqueles que ouviram a Palavra pregada, creram nela e então foram batizados. As palavras dos vs. 41-42 imediatamente enfatizam duas coisas de forma negativa. O batismo não é um meio através do qual uma pessoa se torna cristão, nem algo que misteriosamente abre a porta para a comunhão.

O batismo é um passo básico de confissão para a pessoa salva, que reconhece nele uma figura da sua própria morte, sepultamento e ressurreição com Cristo. A morte do Senhor Jesus na cruz é considerada por Deus como a morte do cristão. Na avaliação Divina, aqueles que antes estavam relacionados a Adão e culpados de tudo associado com aquele relacionamento, agora como salvos, estão “em Cristo”. Eles são vistos como tendo morrido, sido sepultados e ressuscitados com Ele. Agora, na prática e no poder desta ressurreição, eles andam em novidade de

vida. Este é o ensino de Romanos 6: “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição” (vs. 3-5).

O batismo não é um rito purificador, como Pedro deixa bem claro quando ele diz: “não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus” (I Pe 3:21). O batismo, como uma instituição, foi ordenada pelo próprio Senhor (Mt 28:19); praticado pelas igrejas primitivas (At 8:38; 10:47-48), e seu significado é explicado nas cartas dos Apóstolos. Assim, os membros de uma igreja local são pessoas que creram no Senhor Jesus para a salvação, e subsequentemente foram sepultados nas águas do batismo para proclamar a todos a sua associação com o Senhor Jesus na Sua morte, sepultamento e ressurreição.

Cristãos

Parece que os salvos na cidade de Antioquia receberam, logo no início, o que alguns talvez considerassem ser um apelido. Entretanto, é provável que Deus planejou isto, como sugerido por Atos 11:26: “Em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados [“de forma oracular”, Newberry] cristãos”. Os salvos não recusaram este apelido, mas antes o receberam com um profundo senso de responsabilidade, como sendo “o bom nome que sobre vós foi invocado” (Tg 2:7). Ao levarem o nome de Cristo, havia uma expectativa comum a todos de que se comportariam de uma maneira digna do nome de Cristo, para que aqueles que os acusassem falsamente ficassem confundidos (I Pe 3:16).

Santos

Da mesma maneira, e com um efeito semelhante, eles eram também chamados “santos”. Este título foi divinamente dado e refletia a sua posição como “separados”. A opinião comum de que este título, “santos”, pertence a um pequeno grupo de pessoas piedosas que foram selecionadas por uma organização eclesiástica e são, portanto, dignos de serem chamados “santos”, não tem apoio nas Escrituras inspiradas por Deus. Apesar do fato de ser apoiado nos ensinos e práticas de várias organizações religiosas, é contra o ensino claro tanto do Velho como do Novo Testamento. De acordo com a Palavra Divina, ninguém de nenhuma época foi chamado “santo” por causa de virtude própria. A “santidade” é uma posição conferida por Deus a cada indivíduo que está “em Cristo”.

Fraternidade

Os títulos que já consideramos têm aplicação pessoal, mas há outro título que Pedro usa na sua primeira epístola: “a fraternidade” (2:17), que precisa ser entendido como corporativo. Alguns o consideram como tendo uma conotação mundial, visto que pensam que a igreja se refere a todos os cristãos no mundo, mas isto não tem apoio nas Escrituras. Uma igreja local é composta de “crentes”; “cristãos”; “santos”; e daqueles que são parte da “fraternidade” que os une no vínculo do amor fraternal e amizade. Somente aqueles que têm direito a estes títulos, pela conversão a Deus, devem ser “acrescentados” à igreja local.

Devemos notar aqui que as palavras “quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o” (Rm 14:1), e “recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu” (Rm 15:7), não estão, de forma alguma, ligados com o assunto de recepção à igreja local, mesmo embora, às vezes, sejam citadas com recepção em mente. Esta parte da Epístola, entre estes dois versículos, trata do assunto de comer ou não comer carne, fazer ou não fazer caso de dias, e do impacto destas práticas nos outros cristãos já em comunhão nas igrejas locais em Roma.

Os princípios que ela defende

Sem dúvida, a afirmação mais notável sobre a igreja local se encontra em I Timóteo 3:14-16. Por causa das tremendas consequências destas palavras de Paulo, elas frequentemente são aplicadas à “igreja que é o Seu corpo”. Entretanto, o contexto não permite esta interpretação. Em primeiro lugar, no cap. 2 temos como pano de fundo as orações públicas da igreja local, e a participação dos irmãos nos ajuntamentos públicos.

Em seguida vem o ensino sobre as qualificações necessárias para todos que lideram e todos que servem na igreja local.

O motivo em escrever a Epístola é explicado nos últimos versículos do cap. 3. “Escrevo-te estas coisas … para que saibais como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (3:14-15). Que um grupo local de cristãos podia reivindicar ser a “casa de Deus, a igreja do Deus vivo, e coluna e firmeza da verdade”, parece ir além dos limites do bom senso, mas as palavras de Paulo não permitem outra explicação.

Quais são os princípios defendidos pela igreja local? Estes estão inseparavelmente ligados com o grande conjunto de verdades a respeito do nosso Senhor Jesus Cristo. Em 3:16 o apóstolo explica o que é: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”. O inexplicável grande mistério da piedade é a encarnação: “Deus se manifestou em carne”; “foi justificado no Espírito” (isso é interpretado como se referindo ao Seu próprio espírito ou ao Espírito Santo); “visto dos anjos” (em cada passo da Sua humanidade); “pregado aos gentios” (como vemos no relato de

Atos); “crido no mundo” (a igreja local em Éfeso era prova disto); e quarenta dias depois da Sua ressurreição, Ele foi triunfantemente “recebido acima na glória”. A responsabilidade de cada igreja local é manter e proclamar este grande conjunto de verdades.

As cinco responsabilidades que Paulo coloca sobre Timóteo tem como propósito dar peso aos princípios que a igreja local defende. Estão de acordo com o conjunto de verdades já traçado. Nenhuma outra doutrina deveria ser tolerada (1:3); Timóteo deveria militar a “… boa milícia, conservando a fé, e a boa consciência” (1:18-19). Todas as coisas ensinadas por Paulo deveriam ser solenemente observadas sem parcialidade, e “diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos” (5:21). Além disso, Timóteo é convocado a guardar “este mandamento sem mácula e repreensão até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo” (6:14), e também advertir os ricos em comunhão na igreja a não confiarem na sua riqueza, mas fazerem o bem, e por assim fazerem entesourarem “para si mesmos um bom fundamento para o futuro” (6:17-19). Os princípios que a igreja local guarda e proclama exigem de cada irmão e irmã um padrão de comportamento caracterizado por “justiça, piedade, fé, amor, paciência e mansidão” (6:11). Assim, todos que têm o privilégio de estar em comunhão numa igreja local têm também a incumbência de demonstrar estes princípios por meio de um andar santo na sua vida prática.

A ordem que a caracteriza

Se há uma coisa acima das outras que caracteriza uma igreja de Deus, isto deve ser a sua ordem, ou harmonia. Este conceito, em relação à igreja local, ocupa um lugar proeminente nos escritos de Paulo.

Em relação aos abusos no Partir do Pão em Corinto, ele diz: “Quanto às demais coisas, ordená-las-ei quando for” (I Co 11:34). No contexto do exercício dos dons na igreja ele afirma: “Faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Co 14:40). Para Tito, em relação à responsabilidade que ele lhe deu no reconhecimento dos anciãos, ele escreve: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam” (Tt 1:5). Esta ordem na igreja local do Novo Testamento vem por meio da simples obediência de cada irmão e irmã à Palavra de Deus. Outra referência às palavras de Atos 2:41-42 confirmam este fato. Aqueles que receberam a Palavra e foram batizados, foram também acrescentados à igreja e, com isso, tiveram responsabilidades para exercer e também privilégios para gozar. A primeira responsabilidade foi “perseverar na doutrina [ensino] dos apóstolos”, que é absolutamente necessário. O privilégio que vem disso é uma plena participação na comunhão, que significa uma completa participação nas coisas de Deus com todos os outros irmãos. Nos capítulos que tratam dos dons espirituais na igreja local, a ilustração empregada geralmente é a de um corpo físico. A igreja local é como o corpo humano, e os receptores dos dons do Espírito Santo são como os diferentes membros do corpo.

Todos têm seu lugar apropriado, e nenhum pode ser desprezado ou negligenciado sem trazer prejuízo para o corpo. “Deus assim formou o corpo [físico]” e “assim é Cristo também” (I Co 12:24, 12). Esta última afirmação, embora tendo um significado mais amplo, pode ser aplicada à igreja local.

Os anciãos muitas vezes são confrontados com situações em relação a pessoas que desejam participar com os santos na reunião do Partir do Pão. Os argumentos geralmente usados são: “Esta é a mesa do Senhor e eu pertenço ao Senhor; portanto eu tenho o direito de participar”. Interpretar a frase “a mesa do Senhor” (I Co 10:21) como sendo o pão e o vinho na Ceia do Senhor é muito duvidoso. Quanto à igreja local, cada um tem responsabilidades e privilégios, mas não temos nenhum “direito”.

Nosso lugar entre os santos é somente por causa da graça abundante de Deus. Os privilégios concedidos somente podem ser gozados na medida em que obedecemos à Palavra de Deus. Nosso único guia são os ensinos claros das Escrituras. O que a Palavra de Deus diz é o que ela significa, e a nossa parte é submeter-nos a ela em obediência.

A verdade desta afirmação pode ser apreciada quando lembramos que desde os dias de Adão e Eva até hoje, o mundo tem sido caracterizado pela desobediência a Deus e uma completa indiferença à Sua vontade. Num ambiente tão rebelde, tudo o que resulta desta rebeldia é revertido na igreja local de cristãos, onde o joelho é dobrado em pronta obediência e se confessa que “Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp 2:11). Estas características são demonstradas de forma simbólica pelas funções diferentes aceitas pelos irmãos e irmãs nas atividades da igreja. Os irmãos participam audivelmente no ensino e nas orações, enquanto o silêncio das irmãs, juntamente com suas cabeças cobertas e cabelos compridos, fornecem às hostes de anjos que observam uma ilustração viva da graça salvadora de Deus operando nas vidas do Seu povo. Quando lembramos que a desobediência no jardim do Éden é o pano de fundo de toda a destruição e desordem causadas por homens pecadores, a obediência jubilosa vista numa igreja local é um verdadeiro hino de louvor ao Deus da nossa salvação.

O propósito para o qual ela existe

As figuras da igreja local, e também da Igreja que é Seu corpo, são muitas. As figuras da Igreja que é Seu corpo já foram tratadas no primeiro capítulo deste livro. As sete ilustrações consideradas agora tem a ver com a igreja local, e indicarão o propósito para o qual ela existe.

Nenhuma delas é sem importância.

Uma casa — I Tm 3:15

O desejo de Deus de ter uma morada com o homem é demonstrado pelo decreto Divino a respeito da Sua criação: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1:26), e nas atividades que seguiram. Deus tinha plantado o jardim do Éden, colocado Adão e Eva ali, e lemos que Ele andava no jardim e conversava com o homem (Gn 3:8). Numa ocasião posterior, está escrito que “andou Enoque com Deus” (Gn 5:22), e concluímos que Deus andava com Enoque.

A primeira das muitas referências diretas à casa de Deus é encontrada em Gênesis 28 onde, no v. 17, Jacó dá ao lugar o nome “Betel”, porque era, ele disse, “a casa de Deus”, embora que ele não o soubesse antes.

Para ele era um “lugar terrível, e a porta dos céus”, mas mais tarde ele é ordenado a subir a Betel, e habitar ali (Gn 35:1). Por conseguinte, as experiências de Jacó com o seu Deus o fazem mudar o nome do lugar para “El-Betel”, que significa “Deus da Sua própria casa”. Que sentimento de admiração e reverência envolveu Jacó, como resultado da revelação sobre a morada de Deus!

Um templo — I Co 3:16

Como em muitos outros casos, a igreja local é vista aqui com as características que, na sua perfeição, também são atributos da “igreja que é Seu corpo”. Na epístola aos Efésios Paulo afirma: “no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo do Espírito Santo no Senhor” (2:21). É pelo fato do Espírito Santo habitar nos santos que formam o edifício que ele é chamado um “templo” de Deus, que significa o santuário interior, o santo dos santos. Tal é o caráter santo da igreja local como “templo de Deus” que qualquer um, crente ou incrédulo, que a destrói ou corrompe é exposto ao julgamento do Deus que habita ali. Esta santidade é ainda enfatizada pelas seguintes palavras: “porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Co 3:17).

Um corpo — I Co 12:27

O contexto desta figura é o dos dons espirituais e seu uso na igreja local. Uma lista de oito dons dados por Deus aos homens é dada no v. 28. Todos estes dons são de uma natureza milagrosa e temporária, mesmo que, à primeira vista, pode não parecer ser assim. São chamados “espirituais”. Entre eles estava o dom milagroso de “doutores” (ensinadores) que funcionava naquele tempo. No primeiro século, estas manifestações eram evidências do poder e presença do Espírito Santo entre o povo de Deus, quando reunidos. Os dons eram variados e dados a vários indivíduos. Como notamos antes, Paulo usa o corpo humano para ilustrar a variedade dos dons dados. Em resumir esta aplicação, ele destaca o fato que “assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo” (I Co 12:12). A distribuição dos dons na sua diversidade era feita pelo Espírito Santo. O ministério ao qual eram aplicados estava sob o controle do Senhor Jesus, e os resultados visíveis dos dons eram efetuados por Deus (I Co 12:4-6). Nem a diversidade dos dons, nem o controle que os governava, nem os resultados do seu uso, fossem muitos ou poucos, em qualquer maneira interferiram com a unidade da igreja local como “corpo de Cristo”. Unidade em diversidade e harmonia em variedade são os princípios enfatizados pelo uso do termo “corpo”. Nenhum dom é indispensável ou sem valor. A igreja local é “corpo de Cristo” porque cada cristão é membro em particular do Corpo como visto na carta aos Efésios. Assim, cuidado, honra e respeito devem ser exercitados em todas as circunstâncias.

Uma lavoura — I Co 3:9

Há vários processos empregados num campo cultivado antes que ele possa produzir uma colheita. Há a preparação da terra, a semeadura, o cuidado das plantas ao crescerem, e finalmente a colheita. Mas, acima de tudo, as bênçãos do Céu precisam acompanhar o serviço de todos que trabalham na terra. Sem o calor do Sol e a chuva não haverá colheita.

Mesmo sendo diligentes e cuidadosos, os olhos dos trabalhadores estarão muitas vezes voltados para o Céu, porque eles sabem que “nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento” (I Co 3:7). É exatamente assim na esfera espiritual. Em relação à igreja em Corinto, foi Paulo quem primeiramente plantou ao semear a semente da boa Palavra de Deus. Apolo, poderoso nas Escrituras, ao convencer os homens que Jesus é de fato o Cristo regou o trabalho com seu apoio fiel. Estes homens eram “cooperadores de Deus” e ministros da Palavra de Deus. Mas o crescimento era todo de Deus. Na seara não deve haver rivalidade entre os servos de Deus, como se fosse uma competição. Eles são comissionados para trabalhar juntos no campo do Boaz celestial, como ilustrado em Rute 2. Por enquanto, esperam ansiosos por aquele dia quando “cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho” (I Co 3:8). Que graça infinita! Deus chama, comissiona e dá o crescimento aos Seus servos, e ainda promete uma recompensa abundante no Dia vindouro, quando Ele examinará o serviço de cada um.

Um edifício — I Co 3:9

Se a “lavoura” nos lembra que o servo é incapaz de produzir fruto pelo seu próprio esforço, a igreja local como “um edifício” nos faz pensar no seu projeto e construção. Geralmente, aqueles que lançaram o alicerce e os que estão envolvidos na construção de um edifício estão seguindo a planta de outra pessoa. O arquiteto tem a palavra final sobre “como” e “o que” será feito no prédio que ele projetou. Uma igreja que é estabelecida de acordo com o padrão das Escrituras tem um fundamento lançado por arquitetos sábios, segundo a graça dada por Deus. O fundamento só pode ser o ensino sadio sobre nosso Senhor Jesus Cristo.

O tempo necessário pode ser pouco ou muito e o que vem depois do fundamento pode continuar durante várias gerações, na permissão do Senhor. Contudo, depois do fundamento ser lançado, homens diferentes, com uma variedade de dons diferentes, estarão construindo sobre aquele fundamento. Paulo avisa: “Mas veja cada um como edifica sobre ele” (3:10). O apóstolo está preocupado com os materiais usados nesta construção. Chegará o dia quando o “fogo provará … a obra de cada um” (v. 13). O que foi feito, não para a exaltação própria, mas para a exaltação de Cristo como Senhor no meio dos santos, será como “ouro, prata, pedras preciosas”, e resistirá à prova do fogo. Mas, se há neste trabalho de construção autoindulgência ou autoafirmação, será queimado como “madeira, feno, palha”, sem deixar vestígios. O servo fiel e abnegado de Cristo receberá o galardão, mas onde o oposto prevalece, o servo sofrerá perda, embora ele mesmo será salvo. Palavras solenes são acrescentadas, que poderíamos parafrasear da seguinte maneira: “como se ele tivesse passado por um fogo e perdido tudo”. O contraste abençoado é visto nas palavras de Pedro em II Pedro 1:11, onde para o servo fiel será “amplamente concedido a entrada no reino do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Pensar que compartilharemos com nosso Senhor Jesus  Cristo naquele dia da Sua glória revelada, como resultado de certa fidelidade ao Seu nome aqui e agora, é um tremendo incentivo.

Uma virgem pura — II Co 11:2

De todas as metáforas usadas nas Escrituras para ilustrar a igreja local esta, uma virgem pura, é sem dúvida a que expressa mais ternura.

Todas as outras falam de coisas práticas e importantes sobre a igreja local, mas esta vai direto ao coração do assunto. Em II Coríntios 11 Paulo se vê como o mediador em apresentar a igreja em Corinto como a noiva pura ao seu único marido, o Senhor Jesus, que pode reivindicar a sua incondicional e irrestrita afeição e amor. É com zelo santo que ele contempla a penetração de homens arrogantes, que ele descreve como “falsos apóstolos”, que podem influenciar os santos da igreja e assim roubar do Senhor Jesus aquilo que é Seu por direito. O noivado ocorreu quando o Evangelho foi anunciado a eles, e quando eles aceitaram as suas condições ao se sujeitarem ao Senhorio de Cristo. A incumbência desta aceitação era “a simplicidade que há em Cristo”, ou “a singeleza de coração para com Cristo” (v. 3). O apóstolo fala aqui do caráter, como noiva, da igreja local. Nos casamentos judaicos, uma das responsabilidades

do “amigo do noivo” era garantir a castidade da noiva. Embora a igreja local não possa ser chamada de “noiva de Cristo”, a pureza da noiva, em relação ao Senhor, é o que é procurado pelos servos do Senhor na vida daqueles a quem eles ministram a Sua Palavra. Havia alguns na cidade depravada de Corinto que queriam corromper as mentes dos salvos, desviando-os da simplicidade em Cristo, da mesma forma como a astuta serpente enganou Eva no jardim do Éden. Tal era a preocupação de Paulo com estes homens que ele emprega o que ele mesmo considera “insensatez”, ao parecer exaltar a sua pessoa falando do seu serviço, seus resultados, e as revelações dadas a ele. Em dias que são tão sedutores como aqueles em Corinto no primeiro século, precisamos sempre lembrar da aplicação prática deste ensino. Duas coisas são inerentes no seu uso: o zelo de Paulo em manter a porção do Senhor entre o Seu povo, e a necessidade do Seu povo de ser totalmente dedicado à Pessoa do seu Senhor.

Um castiçal — Ap 2 e 3

A palavra traduzida “castiçal” em português seria melhor traduzida “candeeiro de ouro”. Um castiçal (um suporte para uma vela) depende da sua própria fonte de energia para iluminar, mas um candeeiro depende de uma fonte externa (óleo, querosene, etc.) para brilhar. A razão da existência da igreja local neste aspecto é transmitida pelo uso desta metáfora. Ela deve ser uma luz brilhando num lugar escuro. O Senhor Jesus ensinou que, para iluminar, uma candeia nunca deve ser colocada debaixo de uma cama, ou em qualquer outro lugar obscuro, mas sobre um monte (Mt 5:14-15). Assim Paulo escreveu à igreja local na cidade de Filipos: “filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” (Fp 2:15, ARA). Esta exortação para que fossem como luzeiros tem como pano de fundo o comovente apelo para que fossem unidos. Com a mente de Cristo, e sem murmuração e contendas, eles seriam vistos como luzes brilhando claramente numa sociedade escura. Também, é notável que nos planos de Deus, Israel deveria ser uma “luz dos povos” (Is 51:4), mas cessou de ser esta luz, e por causa desta infidelidade foi deixada de lado por Deus. A profunda divisão que aconteceu nos dias de Roboão acelerou este processo. Seguindo esta analogia, a igreja local em Éfeso foi advertida de que se não voltasse ao zelo do seu primeiro amor, o seu “candeeiro” seria removido (Ap 2:5). Nenhuma igreja local pode continuar por muito tempo se perder o seu amor por Cristo, porque o testemunho se torna uma mera formalidade. Estar sob o olhar penetrante e judicial do Senhor, enquanto Ele anda no meio das igrejas, não deve ser considerado algo insignificante. A natureza da igreja local é tal que a declaração original feita pelo Senhor Jesus sobre ela — “onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20) — tem permitido que a obediência de incontáveis milhares reflita a antiga afirmação: “e a ele se congregarão os povos” (Gn 49:10).

Por James B. Currie, Japão

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