William MacDonald    (1917-2007)

08/05/2024

1. Definição de Igreja

  1. No Novo Testamento a palavra "Igreja" é traduzida da palavra grega "ekklesia", que significa um grupo de indivíduos chamados para formar uma reunião ou assembleia. Em Atos 7:38, Estêvão usou a mesma palavra para descrever Israel no deserto. E também usada no cap. 19:32, 39 e 41 para descrever o tumulto gentílico em Éfeso. Mas no Novo Testamento a palavra é mais vulgarmente usada para descrever um grupo de crentes no Senhor Jesus Cristo. Assim, Paulo fala da Igreja de Deus, que o Senhor resgatou com o Seu próprio Sangue" (Atos 20:28). Na sua primeira Epístola, o grande apóstolo divide o mundo em três grupos: Judeus, Gentios e a Igreja de Deus (1Co. 10:32). Em 1 Cor. 15:9, o apóstolo faz referência aos grupos de crentes que ele perseguiu antes da sua conversão.
  2. A Igreja não é uma organização, mas um organismo. Não é uma mera instituição, mas uma unidade viva. E a comunhão de todos os que nasceram de novo e participam da vida de Cristo e, consequentemente, estão unidos uns aos outros pelo Espírito-Santo. E uma simples comunhão de pessoas sem carácter de instituição humana.
  3. No Novo Testamento há muitos títulos descritivos da Igreja: estes títulos devem ser estudados separadamente, se quisermos obter uma melhor compreensão da Igreja. Os títulos que mais se destacam, são os seguintes:


1.º- Um REBANHO (João 10:16). A nação Judaica era designada por "um aprisco". A Igreja por "um rebanho". No capítulo 10:16 o Senhor Jesus diz: "Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco (Israel); também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor". Na palavra "rebanho" encontramos o símbolo dum grupo de crentes, vivendo em comunhão uns com os outros, sob o carinho e proteção do Bom Pastor, dando ouvidos a Sua voz e seguindo-O. 


2.º- LAVOURA DE DEUS (1 Cor. 3:9) - A Igreja de Deus é o Seu campo, no qual tenciona produzir fruto para Sua glória. Envolve o pensamento da frutificação. 


3º - EDIFÍCIO DE DEUS (1 Cor. 3: 9). Esta expressão revela-nos Deus como edificador. Ele acrescenta pedras vivas à Igreja. E, pois de suma importância que as nossas vidas se consagrem à realização deste projeto divino. 


4.º - O TEMPLO DE DEUS (1 Cor. 3:16). A palavra "Templo" traz imediatamente à nossa mente a ideia de adoração, e faz-nos lembrar do fato, que neste mundo, Deus só é adorado pelos membros da Sua Igreja. 


5º CORPO DE CRISTO (Efésios 1: 22 e 23). O Corpo é o meio pelo qual o indivíduo se revela. Semelhantemente, o Corpo de Cristo é o meio pelo qual Ele se revela ao mundo. Desde que o crente aprenda esta verdade, nunca mais considerará de somenos importância a Igreja de Cristo. Consagrar-se-á incondicionalmente tendo em vista os altos interesses do Corpo de Cristo. 


6.º - UM NOVO HOMEM (Efésios 2:15). Salienta-se aqui a ideia duma nova criação. A maior barreira que dividia os homens era a que existia entre Judeus e Gentios, a qual foi abolida dentro da Igreja; assim Deus fez dos dois um novo homem. 


7º - MORADA DE DEUS (Efésios 2:22). Esta expressão revela-nos uma grande verdade: Deus agora habita na Igreja espiritual, em vez de habitar num tabernáculo ou templo material, como acontecia nos tempos do Velho Testamento. 


8.º- A NOIVA DE CRISTO (Efésios 5:25-27; II Cor. 11: 2). Sob este aspecto realça-se a ideia do afeto: "Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar, a Si mesmo, igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível". Se Cristo amou a igreja e se entregou a Si mesmo por ela, é evidente que a igreja deve dedicar todo o seu amor a Cristo. 


9.º CASA DE DEUS (1 Tim. 3:15). A casa ou família fala-nos de dois princípios: ordem e disciplina. A ordem é sugerida nesta passagem: "Para que saibas como convém andar na Casa de Deus"; e a disciplina nesta outra: "Porque já é tempo que comece o julgamento pela Casa de Deus" (1 Pedro 4:17). 


10.º A COLUNA E FIRMEZA DA VERDADE (1 Tim. 3: 5). Em tempos idos as colunas eram usadas, não só para suportar a parte superior do edifício, mas também para se afixarem anúncios. Era um meio de propaganda. A palavra "firmeza" significa baluarte ou reduto de defesa. 

Assim, verifica-se que a igreja foi estabelecida por Deus para proclamar, sustentar e defender a verdade. Portanto, podemos afirmar com toda a segurança que, se os crentes desejam conformar-se com o propósito e a vontade de Deus revelados na Sua Palavra, devem dedicar os seus esforços tanto à expansão do Evangelho como ao progresso espiritual da Igreja. Há quem diga que a sua vocação é pregar o Evangelho, e negligenciam tudo o que diz respeito à Igreja. Quem assim procede, é porque ainda não notou que o apóstolo Paulo tinha um duplo ministério:

  1. anunciar entre os gentios, por meio do Evangelho, as inesgotáveis riquezas de Cristo;

  2. demonstrar a todos qual seja a dispensação do ministério, isto é, estabelecê-los nas verdades acerca da Igreja (Efésios 3:8,9).

FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

2. Origem da Igreja

Muitos homens diferem entre si acerca de quando principiou a Igreja. Alguns creem que a Assembleia ou Igreja é a continuação, ou a renovação do Israel do Velho Testamento. Outros asseveram que a Igreja não existia no Velho Testamento, mas que principiou na nova Dispensação. Vejamos o que as Escrituras dizem a este respeito:


  1. Em Efésios 3 : 4-5, Paulo fala da Igreja como um "mistério" que noutros tempos não fora revelado aos homens, como agora tinha sido aos seus santos apóstolos e profetas pelo Espírito. E ainda no verso 9 demonstra que a Igreja é um "mistério" que desde o princípio do mundo esteve oculto em Deus. (Ver também Col. 1:26; Rom. 16:25-26). A Igreja era, pois um segredo de Deus durante tempos do Velho Testamento. e nunca foi revelado antes do aparecimento dos apóstolos e profetas do Testamento.
  2. Em Mateus 16: 18, o Senhor Jesus disse: "Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja".Por outras palavras, a Igreja ainda estava para se revelar quando o Senhor proferiu estas palavras.
  3.  E ainda em Efésios 4: 8-11 Paulo frisa que é Cristo ressuscitado e assunto ao Céu, que dá dons a Igreja. Isto prova que, para admitir que a Igreja existiu antes da Sua ressurreição, temos de admitir que lhe faltavam dons para sua edificação. Nós cremos que é possível, não somente provar que a Igreja principiou na nova Dispensação, mas também que ela principiou no Dia de Pentecostes.

1º - O corpo de Cristo (Sua Igreja) foi formado pelo batismo do Espírito Santo (1 Cor. 12:13). Será possível sabermos quando se realizou o batismo do Espírito Santo? 


2º - No livro dos Atos 1: 5, O Senhor Jesus, antes da Sua ascensão, prometeu aos apóstolos: "Sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias". 


3º - No Dia de Pentecostes "foram todos cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas" (Atos 2: 4). 


4º - No cap. 5:11 verificamos que a Igreja já existia, porque lemos: "e houve grande temor em toda a Igreja". São fatos que, bem considerados, nos levam a crer que o nascimento da Igreja foi no Dia de Pentecostes. 


FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

3. Autoridade da Igreja

CRISTO É A CABEÇA DO CORPO


Quantos crentes testificam hoje desta verdade?


1º - É evidente que os crentes, à luz do ensino das Escrituras, não podem aceitar um guia humano como Cabeça da Igreja a da Igreja. A mais pública transgressão desta verdade é a proclamada cabeça de certa organização religiosa, que se chama a cabeça temporal do corpo de Cristo. Nos nossos dias, a maior parte dos crentes reconhece a loucura de tal pretensão, contudo, aquele mal parece ter penetrado todos os segmentos da cristandade.


2º - A Autoridade de Cristo é verdadeiramente reconhecida, quando O deixam dominar as atividades da Igreja, tanto nas resoluções como na prática. Aos olhos de muitos, isto pode parecer uma coisa vaga e impraticável. Como pode o Senhor, desde o Céu, guiar a sua Igreja na terra? A resposta é simples. Ele nunca deixa de revelar a Sua vontade àqueles que, paciente mente, esperam n'Ele. E certo que isto requer exercício espiritual da parte dos crentes Alguns, sem quererem esperar que se manifeste a vontade de Deus, julgam mais prático resolver as coisas segundo os seus próprios planos. Não esqueçamos, porém, que os princípios bíblicos só podem ser postos em prática no poder de Deus; os que não estão prontos a depender d'Ele e esperar pacientemente, em oração, nunca terão o privilégio de ver a Cabeça espiritual da Igreja guiar a Igreja local na terra.


3º - Devemos frisar aqui que uma coisa é exaltar a autoridade de Cristo com os nossos lábios e outra coisa reconhecer essa autoridade dum modo prático. Há alguns que dariam a vida, se necessário fosse, para defender aquela verdade, contudo, negam-na praticamente, ao procurarem dominar as igrejas. Para fazer isto, não é preciso ocupar nenhum lugar de destaque na Igreja. Diótrefes era um deles (III João 9,10) Ele amava a preeminência e, maliciosamente, falava contra crentes piedosos como João; não queria recebê-los e expulsava os que os recebiam. Isto equivalia a negar que Cristo é a Cabeça da Igreja.


4º - Mais duas palavras acerca da sede da Igreja. A palavra sede fala-nos do centro de operações e autoridade. A sede da Igreja encontra-se onde a Cabeça está, isto é, no céu. A Igreja local não pode aceitar, à luz do Novo Testamento, nenhuma organização dominante, como um sínodo, presbitério ou Concílio, para exercer autoridade sobre uma igreja ou grupo de igrejas. Cada igreja e diretamente responsável perante Cristo, Cabeça da Igreja, e não deve aceitar nem praticar seja o que for que negue aquele fato.


FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

4. Disciplina na igreja local


A IGREJA DE DEUS É SANTA

Mas, como pode esta verdade ser exemplificada praticamente?


1º - Em primeiro lugar, a Igreja pode exemplificar isto nas vidas santas dos seus membros. Isto é fundamental. Deus deseja a nossa santificação dum modo prático (1 Tess. 4:3). Por isso é que as verdades acerca da Igreja não se encontram agrupadas em nenhuma secção isolada do Novo Testamento. Encontramo-las dispersas em diferentes passagens; mas ainda que dispersas, estão acompanhadas de instruções praticas para uma vida santa. O Senhor não quer um povo que se limite meramente a exteriorizar correção na sua vida religiosa, mas um povo cuias vidas selam um vivo testemunho da verdade.


2º - Para este fim é necessário que na Igreja local, haja ensino bíblico adequado. O ensino não deve consistir em mensagens, baseadas numa ou noutra passagem, mas num estudo consecutivo e sistemático da Palavra de Deus. Só assim os crentes receberão toda a Palavra e na proporção em que Deus a revelou.


3º - Conquanto o ensino puro e sistemático produza definitivamente um efeito preventivo contra o pecado na Igreja, contudo, sempre que seja necessário não se deve deixar de aplicar a disciplina em qualquer Igreja local. Quando o pecado entra na Igreja e afeta a sua tranquilidade e testemunho, é necessário tomar medidas disciplinares. "Já é tempo que o julgamento comece pela casa de Deus" (1 Pedro 4:47).


4º - As medidas disciplinares têm dois principais objetivos em vista:

  • a) Expor e remover da comunhão da Igreja, crentes professos cujo testemunho prove que não nasceram de novo. Tais pessoas são descritas em 1 João 2:19.
  • b)Corrigir de tal maneira o crente que pecou, que ele venha a ser restaurado à comunhão do Senhor e da Igreja. A disciplina cristã deve ter sempre um objectivo em vista: contribuir para a restauração espiritual do que tenha errado.

5º - O Novo Testamento descreve-nos vários graus de disciplina.

  • a) No caso dum irmão que pecar contra outro, deve o caso ser tratado em particular primeiramente. Se ele não o ouvir, deve levar mais um ou dois irmãos com ele. Se este testemunho colectivo falhar, deve ser levado perante a Igreja. Se não ouvir a Igreja, deve ser considerado como um descrente (Mat. 18:15-17)
  • b) Outra forma de disciplina é a admoestação (1 Tess. 5:14). É aplicada no caso dum irmão insubmisso que recusa submeter-se aos que presidem sobre ele no Senhor.
  • c) Depois lemos de duas classes de pessoais que devem ser evitadas: os que andam desordenadamente (2 Ts 3:11,14,15) e os que causam divisões (Rom 16:17). Os insubmissos recusam trabalhar, enquanto que os outros causam divisões entre o povo de Deus, com o fim de atraírem as pessoas a si e conseguirem lucros materiais.
  • d) O herege deve ser rejeitado depois de uma e outra admoestação (Tito 3:10). Alguns põem em dúvida se a rejeição a que o versículo se refere corresponde a excomunhão ou se é uma forma mais branda de disciplina.
  • e) Há também a forma extrema de disciplina: Excomunhão da Igreja (1 Cor 5:11,13) Esta aplica-se aos devassos, avarentos, idólatras, maldizentes, beberrões ou roubadores.


6.º Uma coisa importante a considerar no caso de disciplina, é ter a certeza de que as testemunhas são de confiança. Os princípios gerais que se aplicam a isto, são claramente revelados a seguir: Nunca devemos fazer juízo, e muito menos exprimi-lo e agir sobre ele sem que haja duas ou três testemunhas. Por muito digna de confiança que uma testemunha seja, por muito elevada a sua moralidade, não é base suficiente para tirarmos uma conclusão. Podemos estar persuadidos de que um caso é verídico porque nos foi contado por uma pessoa da nossa confiança; mas Deus sabe melhor do que nós. Pode ser que a testemunha seja perfeitamente recta e verdadeira, e que por nada neste mundo mentisse ou jurasse falso testemunho, fosse contra quem fosse; tudo isto pode ser verdade, contudo, o nosso dever é seguir a regra divina: "Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra".

Bom seria que esta regra fosse mais diligentemente aplicada à Igreja de Deus nos nossos dias. A sua importância nos casos de disciplina, e em qualquer outro caso que afete o carácter ou reputação da pessoa, é incalculável. A Igreja nunca deve tirar uma conclusão ou formar juízo sobre um determinado caso, sem possuir provas evidentes. Se não há tais provas, convém que esperem em Deus paciente e confiadamente; Ele suprirá o que falta.

Por exemplo: Se houver um problema moral ou doutrinário na Igreja, só conhecido por um que está perfeitamente certo, profunda e plenamente convencido do fato, que se há-de fazer? Esperar em Deus por mais provas. Agir sem outras provas é transgredir um princípio divino, revelado com toda a clareza na Palavra de Deus. 

Deveria a única testemunha sentir-se vexada ou insultada porque a Igreja não vai agir baseando-se no seu testemunho? Certamente que não; na realidade ele não devia esperar tal coisa, nem devia apresentar-se como testemunha sem poder corroborar o seu depoimento com o de outra ou mais pessoas. Devemos considerar a Igreja indiferente ou negligente porque recusa agir sobre o testemunho duma única pessoa? De modo nenhum, pois agir em tais condições corresponderia a ignorar o mandamento divino.

E não esqueçamos que este admirável princípio prático, não é limitado na sua aplicação a casos de disciplina ou questões que afetem o povo do Senhor. 

O princípio tem uma aplicação universal. Nunca devíamos formar um juízo ou tirar uma conclusão sem termos provas concludentes baseadas nas normas divinamente indicadas; se estas não se conseguirem e for necessário julgar o caso, Deus fornecerá as provas, em devido tempo. Conhecemos um caso em que um homem foi falsamente acusado, porque o seu acusador baseou-se apenas na evidência de um dos seus sentidos; se ele tivesse buscado a confirmação usando mais um ou dois sentidos, certamente não teria formulado a acusação.


7.º - Outro aspecto deste assunto, que requer toda a nossa atenção, é a maneira como a disciplina deve ser exercida.

  • a) Deve ser aplicada no espírito de mansidão, olhando para nós próprios, para que não sejamos também tentados (Gál. 6:1).
  • b) Deve ser absolutamente imparcial. Por exemplo, o fato do transgressor ser das nossas relações não deve ter qualquer influência na nossa decisão; não deve haver acepção de pessoas (Deut. 1:17; Tiago 2:1).
  • c) No caso de excomunhão, toda a Igreja deve intervir; não deve ser obra duma pessoa (2 Cor. 2:6).

FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

5. Reunião de oração

I - O Novo Testamento não nos fornece muitos por menores sobre as reuniões das Igrejas locais: 

Contudo, sabemos que os crentes se reuniam para oração, ministério da Palavra e o partir do pão (Atos 2 42) mas, além disso, pouco mais nos e revelado Quanto à propagação do Evangelho, parece que era feita pelos crentes individualmente, muitas vezes fora do recinto da Igreja, onde quer que os descrentes podiam ser evangelizados, mas sempre com o fim de trazer os que se iam salvando à comunhão da Igreja local.


II- Nas igrejas primitivas, não havia reunião mais importante que a de oração: 

De fato, a Igreja nasceu no despertar duma reunião de oração (Atos 1:14) e daí em diante os crentes perseveravam em oração (Atos 22:4). Na verdade, toda a história da Igreja presta homenagem à fidelidade de Deus em atender a oração.


III- Não esqueçamos que a oração colectiva não somente tem a aprovação de Deus, mas a promessa especial de que o próprio Senhor estará presente no meio dos crentes (Mat. 18:1 9-20) onde lemos: 

"Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra, acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos Céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu Nome, aí estou Eu no meio deles". Isto é linguagem clara, nela não se admite qualquer sombra de dúvida. Em primeiro lugar vemos que onde dois crentes se reúnem, para apresentar as suas súplicas a Deus, as suas petições são atendidas. Segundo: onde os crentes se reúnem em nome do Senhor Jesus, Ele aí está no meio deles.A dificuldade é que nós não cremos que Ele está no nosso meio. Se crêssemos, as reuniões de oração seriam bem assistidas, e as Igrejas seriam despertadas para servir a Deus.


IV - Ao tratarmos do assunto da oração colectiva, gostaríamos de apresentar algumas ideias elementares acerca da maneira como deve ser dirigida:

  • a). Em primeiro lugar, só uma pessoa deve orar de cada vez. Aquele que ora audivelmente representa os outros presentes. Os outros acompanham-no na oração, como se estivessem eles próprios a orar. Às vezes exprimem isso, dizendo: "Amém".
  • b) Em segundo lugar, desejamos salientar que há uma grande diferença entre recitar orações e orar. Não há nada mais prejudicial à reunião de oração do que uma série de orações oferecidas maquinalmente, sem que o coração esteja posto nelas. Muitas vezes ouve-se uma série de petições vazias, mas estas orações não passam do tecto. As orações dos novos convertidos são, em geral, fervorosas e espontâneas. Crentes de mais idade, às vezes, seguem um certo método que nem honra a Deus, nem serve de bênção aos homens. As reuniões de oração, onde as orações só se fazem por obrigação, deviam acabar.
  • c). O perigo de longas orações deve ser evitado. É certo que as Escrituras nos exortam a "orar sem cessar", mas isso não dá direito a qualquer crente de tomar quase todo o tempo na reunião de oração. Se as orações forem curtas, mais irmãos poderão tomar parte e assim o interesse aumenta:
  • d). Além disso, as orações devem ser definidas. Não devemos orar assim: "Ó Deus salva as almas de todo o mundo" - Melhor seria: "Senhor salva o meu irmão David".E quando David se converter terás a certeza de que a tua oração foi ouvida. Somos animados a orar pela conversão de outros, individualmente.


V- Não há razão para que as reuniões de oração sejam enfadonhas. Há muitas coisas que podemos levar perante o Trono da Graça definitivamente. Eis algumas:

  • a) Orai pelas autoridades, para que sejam salvas, e nós vivamos uma vida sossegada e piedosa, em toda a piedade e honestidade (1 Tim. 2:2)
  • b). Orai pelos doentes na Igreja. O Senhor sabe quem eles são, deveis mencionar os seus nomes.
  • c). Orai por pessoas de família e amigos descrentes. Nunca nos devemos envergonhar de orar pelos nossos entes queridos nas reuniões de oração. Se realmente desejamos a sua salvação, apreciamos as orações da Igreja.
  • d). Orai pelos anciãos da Igreja. Eles têm responsabilidades importantes que requerem sabedoria e paciência. Eles merecem o nosso interesse e orações.
  • e) Orai pelos missionários que oram recomendados pelas nossas igrejas, e mantiveres correspondência com eles, sereis informados de vez em quando dos seus problemas e necessidades.
  • f). Orai pelo trabalho da Escola Dominical, pelos professores e pelos rapazes e raparigas que estudam a Palavra de Deus.
  • g). Orai pelos pobres. Para não envergonhar nenhum que esteia presente seria melhor não mencionar nomes.
  • h). Orai pelos membros da Igreja que estejam a prestar serviço militar. Eles passam por tentações e provações, e enfrentam muitos perigos. Precisam das nossas orações.
  • i). Orai pelos que dedicam todo o seu tempo à obra do Senhor, tanto evangelistas, como os que ensinam.
  • j). Não esqueçamos de incluir nas nossas orações "ação de graças ". Encontramos este pensamento enfaticamente revelado em Filipenses 4: 6 "não estejais inquietos por coisa alguma, antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas, diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças". O Senhor espera a devida gratidão do Seu povo. Ser ingrato e esquecer as suas mercês, é pecado.


VI- Mas não haverá certas condições a preencher para que as nossas orações sejam ouvidas? Certamente que há.

  • a) Em primeiro lugar temos de permanecer em Cristo. Ele diz: "Se vós estiverdes em Mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7). Permanecer em Cristo é guardar os Seus mandamentos, fazer a Sua vontade e obedecer à Sua Palavra.
  • b) Em segundo lugar, as nossas orações devem ser de harmonia com a Sua vontade; "E esta é a confiança que temos n'Ele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve" (1 João 5:14). Desde que o plano da vontade de Deus se encontre na Bíblia. os nossos pedidos devem ser feitos segundo as Escrituras, e na linguagem da Bíblia.
  • c) Em terceiro lugar, os nossos pedidos devem ser feitos no Nome de Cristo" Tudo quanto pedirdes em meu Nome, Eu o farei" (João 14:13). "Tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, Ele vo-lo há-de dar" (João 16:23) Quando nós verdadeiramente pedimos em Seu Nome, é como se fosse Ele mesmo a fazer o pedido a Deus.
  • d) Finalmente, os motivos devem ser puros. Tiago diz-nos que pedidos e não recebemos porque pedimos mal, para o gastarmos em nossos deleites (Tiago 4:3). Se os nossos pedidos forem egoístas e pecaminosos, não podemos esperar ser ouvidos.


VII - Antes de terminar, desejo chamar a atenção dos nossos leitores para o que se deve fazer e o que não convém fazer, a fim de que as nossas reuniões de oração se tornem poderosas na Igreja.

  • a) Por exemplo, não oreis para serdes vistos. Os hipócritas sentem grande prazer em orar as esquinas das para serem vistos dos homens (Mat. 6: 5).
  • b) Não peçais a Deus para fazer o que vós mesmos podeis fazer. Pedimos a Deus para trazer os incrédulos às nossas reuniões de evangelização; mas, não espera Ele que nós usemos os nossos lábios para os convidar e trazê-los sempre que seja possível?
  • c) Tenhamos cuidado em não pedir nada que sabemos que não devíamos pedir. Muitas vezes Deus concede-nos os nossos pedidos, mas envia-nos magreza de alma (Salmo 106:15).
  • d) Não desanimeis se a resposta tardar. As respostas de Deus nunca chegam cedo demais, a fim de não perdermos a bem-aventurada experiência de esperar n'Ele; nunca chegam tarde demais para não sermos dominados pelo receio de havermos esperado n'Ele em vão;
  • e) Finalmente convém lembrar que a resposta de Deus nem sempre corresponde exatamente às nossas petições. O Senhor reserva-se o direito de nos dar alguma coisa melhor do que aquilo que Lhe pedimos. Nós não sabemos o que é melhor para nós, mas Ele sabe, e assim atende à nossa oração acima do que pedimos ou pensamos.

Ao terminar, desejamos salientar que não pode haver progresso na Igreja sem oração. Podemos orar por simples hábito a ponto de vermos resultados aparentes, mas nada conseguiremos para glória de Deus sem verdadeira intercessão. Se do estudo das Escrituras não tirarmos esta conclusão, seremos mais tarde levados a compreendê-lo por imperiosa necessidade.


FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

6. O sacerdócio de todos os crentes

Todos os crentes são sacerdotes de Deus.


Cada Igreja local devia, praticamente, testemunhar desta verdade recusando o reconhecimento de qualquer outro sacerdócio, e animando todos os crentes a exercerem os privilégios e responsabilidades deste cargo sagrado.


- No Velho Testamento lemos que a Lei de Moisés separou a tribo de Levi e a família de Aarão para serem os sacerdotes da Nação. Estes homens usavam vestes diferentes, tinham privilégios especiais e constituíam uma casta a parte, entre Deus e a congregação de Israel. Só eles podiam entrar no lugar santo e oferecer os sacrifícios prescritos pela Lei.


- No Cristianismo é tudo diferente. Todos os crentes são sacerdotes, segundo o ensino do Novo Testamento.

  • a) "Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo" (1 Pedro 2:5).
  • b) "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz" (1 Pedro 2:9).
  • c) "Àquele que nos ama, e em Seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai; a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém" (Apoc. 1: 5,6).

Um grande servo de Deus, pugnando pela verdade de que o sacerdócio é privilégio de todos os crentes, escreveu: "Todos os crentes são, indistintamente, sacerdotes, e quem disser que ha sacerdotes além dos crentes nascidos de novo, seja anátema, porque uma afirmação destas não teria base alguma na Palavra de Deus; seria baseada exclusivamente em afirmações meramente humanas ou nas tradições dos homens."


- Um dos importantes deveres do sacerdote é oferecer sacrifícios. No Velho Testamento os sacrifícios consistiam em animais imolados. Nesta Dispensação da Graça, contudo, os sacrifícios dos crentes são:

  • a) O sacrifício do seu corpo (Rom. 12:1); não um sacrifício morto, mas "vivo, santo e agradável", oferecido exclusivamente a Deus.
  • b) O sacrifício de bens materiais. "Não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque, com tais sacrifícios, Deus se agrada". (Heb. 13:16).
  • c) O sacrifício de louvor. "Portanto, ofereçamos sempre por Ele, a Deus, sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu Nome". (Heb. 13:15).

Este sacrifício deve ser tanto individual como colectivo. Este último - o sacrifício de louvor - no qual os crentes gozam de liberdade para tomar parte na adoração pública, foi praticamente eliminado e substituído pelos monótonos serviços regulamentados e orientados dos nossos dias. Disto resulta uma multidão de sacerdotes mudos - um estado de coisas ignorado nas Escrituras.


- Os deveres dos sacerdotes incluem também oração, testemunho para glória de Deus, e o cuidado do Seu Povo. Portanto, os crentes deviam ter cuidado em exercer todas estas sagradas missões. O ensino das Escrituras sobre este assunto (Rom. 8:14; Gál. 5:18; João 16:13), revela que todos esses deveres devem ser postos em prática desde manhã até à noite, todos os dias da semana, e não só aos Domingos. Não se limitam as reuniões da Igreja, sejam reuniões de adoração, de estudo bíblico ou de oração, mas abrangem toda a vida do crente, tanto dentro como fora dos lugares das reuniões, sejam eles salões, capelas ou igrejas, no sentido pleno da palavra. Segundo o Novo Testamento, todo o povo de Deus é: "um reino sacerdotal e uma nação santa", (Êxodo 19:6; 1 Pedro 2:5-9).


- Apesar de todos os crentes serem sacerdotes, o fato é que cada crente precisa dum Sacerdote diante de Deus. Esta necessidade é-lhe suprida plenamente no Senhor Jesus Cristo. A Epístola aos Hebreus apresenta-no-Lo como o nosso grande Sumo-Sacerdote, que se compadece das nossas fraquezas, porque em tudo foi tentado como nós, mas sem pecado. (Heb. 4:15).


- Portanto, cada igreja local devia reconhecer o Senhor Jesus como seu Grande Sumo-Sacerdote e, em cada crente, um sacerdote santo e real. Será isto que encontramos na cristandade hoje em dia? Ao contrário, a igreja, na sua maioria, voltou ao sistema judaico de sacerdotes. Apesar dos crentes professos dizerem que creem no sacerdócio de todos os crentes, muitas religiões estabeleceram um sacerdócio todo seu, baseado em parte no sistema mosaico. Assim vemos:

  • a) Um grupo de homens escolhidos para o Serviço Divino;
  • b) Uma hierarquia eclesiástica com títulos honoríficos que os distingue dos leigos;
  • c) Vestes especiais para indicar que eles pertencem a uma ordem diferente.

Além disso, muitas seitas e denominações vão buscar ao Judaísmo conceitos como estes:

  • a) A consagração de templos com os seus altares, adornos eclesiásticos, e outras coisas materiais para o seu culto;
  • b) Um ritualismo impressivo que apela para os sentidos do homem;
  • c) Um calendário religioso com os seus dias santos e festas.

Acerca desta estranha mistura de Judaísmo e Cristianismo, o Dr. C. I. Scofield escreve: "Podemos afirmar seguramente que os judaizantes da Igreja, só por si, têm impedido o seu progresso, pervertido a sua missão e destruído a sua espiritualidade em maior escala do que todos os outros males juntos. Em vez de andar no caminho indicado da separação do mundo, e seguir o Senhor segundo a sua vocação celestial, a Igreja tem usado passagens das Escrituras, que só dizem respeito aos Judeus, para justificar a sua adaptação à presente civilização, a aquisição de fortunas fabulosas, a construção de igrejas (templos) magníficas, a divisão em clérigos e leigos dos que são iguais na fraternidade Cristã". Deus ainda hoje chama o Seu povo a separar-se desta religião de símbolos e tipos para se unirem simplesmente no Nome do Senhor Jesus em quem encontramos toda a suficiência.


- Se todos os membros duma igreja atuarem segundo o ensino do Novo Testamento, em relação ao sacerdócio de todos os crentes, essa igreja será: Uma igreja cheia do Espírito, onde os seus membros assistem regularmente às reuniões de oração; uma igreja em que todos os membros são auxiliares práticos e colaboradores dos servos do Senhor na Sua Seara através do mundo; haverá atividade enérgica e perseverante na disseminação do Evangelho, por meio da distribuição de folhetos, testemunho pessoal e, sempre que é possível, trabalho ao ar livre.

Pelo amor de Cristo, os membros de tal igreja serão constrangidos a viver num ambiente afável, no qual cada crente procura ajudar os outros em amor e num espírito de devotada consagração, estimulando-se uns aos outros ao amor e às boas obras.

Em tais igrejas, as reuniões e serviços são dirigidos pelo Espírito Santo; e os dons do Espírito, distribuídos pelo próprio Senhor, serão desenvolvidos conforme a variedade da mesma, em comunhão fraternal e na dependência e liberdade de Cristo (1 Cor. 12:4-11; 14:26). 

E quando a igreja se reúne em volta da mesa do Senhor para O louvar e adorar pelo Seu sacrifício no Gólgota, a adoração sacerdotal subirá até ao Santuário celestial, que é o mais alto privilégio do sacerdócio da Igreja.


FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

7. A liderança na igreja local (Anciãos)

I - INTRODUÇÃO
Nenhum estudo sobre a Igreja seria completo, sem considerarmos a provisão que Deus fez para o seu bem-estar espiritual e superintendência. Esta missão está entregue aos bispos, anciãos (ou pastores). [Nota bispo = pastor = ancião. São três palavras para designar o mesmo gênero de pessoas na Igreja].
Desde o início, convém-nos esclarecer alguns pontos:

  • a). Em primeiro lugar, é necessário distinguir o conceito da palavra "bispo" segundo o ensino do Novo Testamento, e o título usado nos nossos dias. No tempo dos apóstolos, o bispo era simplesmente um crente experimentado que, na Igreja local, cuidava dos interesses espirituais e bem-estar da Igreja. Hoje em dia, na cristandade, o bispo é um dignitário eclesiástico nomeado para exercer jurisdição sobre muitas igrejas. No Novo Testamento a palavra "bispo" nunca significa um prelado, ou superior eclesiástico. Hoje, em muitos sectores da cristandade, significa um indivíduo que está à frente duma diocese, abrangendo um certo número de igrejas e seu clero.
  • b). Segundo o Novo Testamento, os bispos não constituem uma classe de homens para mediar entre Deus e as Suas criaturas. Talvez fosse para corrigir tal pretensão (que surgiria no futuro) que o Espírito de Deus classificou os bispos em segundo lugar, quando Paulo escreveu à Igreja em Filipos: "A todos os santos em Cristo Jesus... com os bispos e diáconos".
  • c). O pensamento de oficialismo não se encontra no Novo Testamento. Em vez de cargos elevados com seus títulos magníficos, somos exortados a trabalhar humildemente entre o povo de Deus. Assim lemos: "Se alguém deseja o episcopado (superintendência), excelente obra deseja" (1 Tim. 3:1). Superintendência é trabalho, não é um título dignitário.
  • d). Finalmente, devemos notar, à guisa de introdução, que as palavras "bispo", "ancião", "superintendente" e "presbítero" no Novo Testamento, reterem-se todas a mesma pessoa, como podemos verificar, comparando as seguintes passagens:

Em Atos 20: 1 7 faz-se referência aos anciãos da Igreja. A versão brasileira traduz a palavra por "presbítero" em vez de ancião, que significa o mesmo. Depois, em Atos 20:28, os mesmos "anciãos" ou "presbíteros" são chamados superintendentes e a palavra em causa é "bispo"Em Tito 1:5, Paulo instrui Tito a estabelecer presbíteros; e no versículo 7 dá-nos as suas qualificações, referindo-se a eles como "bispos", indicando mais uma vez que "anciãos" e "bispos" significam o mesmo.


II - COMO SÃO ESCOLHIDOS OU DESIGNADOS OS ANCIÃOS

  • a). Em última análise, só o Espírito Santo é que pode constituir anciãos (Atos 20:28). Ainda que a Igreja se reúna em ajuntamento solene para eleger anciãos, o seu voto não pode criar no homem uma alma de ancião.
  • b). A norma das Escrituras segue a seguinte ordem: Deus constitui os anciãos. Depois, à medida que eles vão fazendo o trabalho que lhes compete, a Igreja reconhece-os como bispos ou anciãos, divinamente eleitos.
  • c). É certo que Paulo e outros elegeram ou apontaram anciãos (Atos 14:23; Tito 1:5), mas isso foi antes do Novo Testamento estar todo reduzido a escrito e ao alcance das Igrejas. Na falta de instruções escritas sobre as qualificações dos anciãos, as Igrejas dependiam dos apóstolos ou dos que os apóstolos indicavam.

Devemos também notar que Paulo nunca designou anciãos na primeira visita a qualquer igreja, antes esperava até que os anciãos, eleitos por Deus, manifestassem o seu dom pelo seu próprio trabalho. Depois indicava-os à Igreja para que fossem reconhecidos.


III - QUALIFICAÇÕES
As Escrituras revelam-nos indubitavelmente as qualificações dum verdadeiro bispo ou ancião. Encontramo-las em I Tim. 3: 1-7-e em Tito 1: 6-9. e podem ser resumidas da seguinte maneira.

  • a). Em primeiro lugar, o bispo deve ser irrepreensível. A sua reputação deve estar acima de qualquer crítica. Não diz que é impecável, mas que deve ser irrepreensível. Se contra ele se provar publicamente qualquer acusação, deve deixar de exercer os deveres de ancião.
  • b). Em segundo lugar deve ser marido de uma mulher. Alguns pensam que isto implica que o ancião deve ser casado outros que temos aqui uma proibição contra a poligamia - ter mais que uma mulher. Este é efetivamente o verdadeiro pensamento.
  • c). Também deve ser vigilante. Há outra versão em que esta palavra se traduz por sóbrio. O ancião não deve ser dado a excessos. Há pessoas que dificilmente se moderam. Caem sempre em extremos. Algumas vezes encontram-se nas Igrejas homens desta natureza; não devem ser reconhecidos como anciãos.
  • d). O ancião deve ser sóbrio - moderado. Deve provar pela sua vida que o Cristianismo não é um passatempo agradável ou frivolidade. O ancião luta e vive para a eternidade.
  • e). Deve ser honesto e também metódico. Ser descuidado ou usar métodos indignos não fica bem aos que servem numa Casa onde há ordem.
  • f). Depois lemos que deve ser hospitaleiro ou amante da hospitalidade. O seu lar deve estar aberto ao povo de Deus. Deve ser como o lar de Lázaro, Maria e Marta em Betânia - lugar onde Jesus tinha prazer em estar.
  • g). O bispo deve estar apto a ensinar. Conquanto não seja um mestre notável, deve saber manejar suficientemente as Escrituras de modo a poder ajudar o povo de Deus a resolver os problemas que surjam.
  • h). Não dado ao vinho. Qualquer homem que não domina os seus apetites, certamente que não é digno dum lugar de confiança na Igreja.
  • i). Não deve ser espancador. O sentido literal da palavra é que não deve usar de violência para com os outros. Espancar ou maltratar alguém não é próprio do cristão e muito menos dum ancião da Igreja.
  • j). Não deve ser cobiçoso de torpe ganância. O verdadeiro bispo, ou ancião, compreende que o dinheiro deve ser usado para o Senhor e para o progresso da Sua Obra. Um crente ganancioso e cobiçoso é um paradoxo.
  • k). Deve ser paciente. O Mestre era manso e humilde; cumpre ao servo ser como o seu Mestre. Mansidão e paciência não são virtudes deste século, mas ainda se encontram no Reino de Deus.
  • l). Não deve ser contencioso. Alguns estão prontos a contender por causa de assuntos de pouca importância. Isto não seria próprio de um bispo ou ancião.
  • m). Além disso, não deve ser cobiçoso. Cobiçar é querermos aquilo que Deus na Sua providência nunca quis que nós possuíssemos. A cobiça é idolatria, porque põe a vontade própria acima da de Deus.
  • n). O ancião deve "governar bem a sua própria casa, tendo os seus filhos em sujeição, com toda a modéstia" - filhos crentes, que não sejam rebeldes nem desobedientes. A necessidade deste requisito é evidente: "Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus?" (1 Timóteo 3:5)
  • o). Não deve ser neófito. Isto está implicado no termo "ancião". E necessário maturidade espiritual. A pessoa pode ser de idade e, contudo, não ter as qualificações para o governo espiritual da Igreja, devido a ter pouca experiência da vida cristã. O perigo com o neófito é de se ensoberbecer, e cair na tentação do diabo.
  • p). "Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora". O mundo deve notar nele o carácter de um verdadeiro crente e um homem íntegro.
  • q). Não deve ser obstinado, nem iracundo, mas deve seguir o Bem. Importa ser justo e santo. Finalmente, deve reter a palavra da verdade: isto é ser um defensor da Fé.

Resumindo as qualificações do ancião, podemos dizer que ele deve exercer domínio próprio, governar bem a sua própria casa e pugnar pela Verdade de Deus. Notemos que a Bíblia nada diz acerca do bispo ou ancião ter de ser ordenado. Não diz que tem de ter um curso superior ou que tem de ter um curso numa Escola Teológica ou Instituto Bíblico. 

Não diz que tem de ser uma pessoa de recursos ou de influência social. Pode haver deformidade no seu físico ou ser pobre e de humilde condição, isso não impede que seja um ancião na Igreja de Deus. Meditemos nisto seriamente. Sem dúvida que um dos maiores males da Igreja nos nossos dias é o reconhecimento de anciãos sem as indispensáveis qualificações espirituais. Porque um crente tem negócio florescente, é elevado a um lugar de responsabilidade na Igreja, apesar da sua pouca ou nenhuma espiritualidade. Talvez assim não haja - falta daquilo que o dinheiro pode comprar, mas faltará o, principal que é o poder espiritual.


IV - DEVERES DOS ANCIÃOS

  • a). Em primeiro lugar devem apascentar o rebanho de Deus (1 Pedro 5:2; - Atos 20:28). Eles fazem isto pelo ministério da Palavra de Deus. Isto não implica necessariamente ministério público, mas pode ser particular.
  • b). Em segundo lugar, devem fazer o trabalho dos que cuidam do rebanho, segundo Pedro nos diz. Que significa isto? O resto do versículo explica o que não significa, e também o que significa:
  1. Não significa serviço imposto. Deve ser espontâneo.
  2. Não é trabalho com fins lucrativos, "nem por torpe ganância", mas de boa vontade.
  3. Não significa dominar sobre a herança de Deus. O ancião não é um ditador, nem um capataz.
  4. Mas, é um exemplo do rebanho. O ancião deve lembrar-se que o Bom Pastor não impele as suas ovelhas - guia-as. Todo o "sub-pastor" devia fazer o mesmo. Do ponto de vista humano, parece mais fácil centralizar a autoridade para facilitar a emissão de ordens e requerer obediência. Mas esse não é o propósito de Deus. Os anciãos conseguem superintender a Igreja convenientemente, tornando-se exemplos do rebanho.
  • c). Dum modo real os anciãos são o exemplo da Igreja. Onde houver anciãos piedosos, que deem ao Senhor o primeiro lugar nas suas vidas e que irradiem a graça do Senhor, aí podemos ver uma Igreja espiritual e próspera; por outro lado, onde os anciãos se deixam dominar pelas coisas, do mundo e por outros interesses materiais, a ponto de lhes faltar tempo para ler a Palavra de Deus e orar, é de esperar que haja frieza e fraqueza no rebanho.
  • d). Os anciãos também são exortados a suportar os fracos - "Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber" (Atos 20:35). O contexto implica que deviam estar prontos a ajudar os que estavam passando necessidades. E interessante notar aqui que, em vez dos anciãos viverem do rebanho, são exortados a repartir com o rebanho.
  • e). Finalmente, os anciãos devem redarguir, repreender e exortar (II Tim. 4:2; Tito 1:13; 2:15). Tudo o que for contrário ã fé deve ser repreendido com toda a autoridade. Todos os que não suportam a sã doutrina, devem ser redarguidos e exortados. O ancião deve pugnar diligentemente pela Fé.


V - ATITUDE DA IGREJA PARA COM OS ANCIÃOS
Segundo lemos em 1 Timóteo 5:17,18, é evidente que alguns anciãos devem ser ajudados financeiramente pela Igreja. "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina. Porque, diz a Escritura: Não atarás a boca ao boi que debulha. E digno é o obreiro do seu salário ou recompensa. É igualmente claro nas Escrituras, que outros trabalhavam para assegurar o seu próprio sustento. Paulo é um exemplo notável disto (1 Cor. 4:12). Além disso, um ancião não deve ser repreendido asperamente, mas exortado como a um pai (1 Tim. 5:1). Os crentes não devem admitir acusações contra os anciãos, senão exclusivamente pela boca de duas ou três testemunhas (1 Tim. 5:19). 


Os anciãos devem ser lembrados, reconhecidos e obedecidos: 

"Tende-os em grande estima e amor por causa da sua obra" (1 Tess. 5:13). 

"Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a Palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente" (Heb. 13:7-8).


VI - A RECOMPENSA
Finalmente, notemos a recompensa dos anciãos: "E, quando aparecer o Sumo-Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória" (1 Pedro 5:4).

FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

8. Os diáconos

No estudo sobre os anciãos, vimos que a sua função é cuidar dos interesses espirituais e superintendência da Casa de Deus. Notamos ainda que os bispos também são chamados anciãos, e que havia diversos bispos numa Igreja, em vez de um bispo sobre várias igrejas.
Agora vamos estudar quem são os diáconos, e quais as suas funções:


I - A palavra "diácono" significa simplesmente servo - um homem (ou mulher) que exerce algum ministério ou serviço. A palavra é usada frequentemente no Novo Testamento num sentido geral. 

Por exemplo: O Magistrado que exerce autoridade é chamado ministro ou diácono de Deus (Rom. 13:4) Febe é chamada uma irmã que serve (diaconisa) na Igreja em Cencreia (Rom. 16:1). Cristo mesmo é chamado Ministro (Diácono) da Circuncisão por causa da Verdade'de Deus (Rom. 15:8).

A palavra tem sido aplicada aos sete varões que foram escolhidos para fazer a distribuição dos fundos da Igreja (Atos 6:1-7). Realmente a palavra "diácono" não se encontra na passagem referida, nem o uso da palavra se limita àquelas obrigações. Aplica-se a qualquer espécie de serviço não designado.


II- Apesar de não se especificar na Escritura os deveres dos diáconos, contudo, as suas qualificações são-nos reveladas explicitamente em 1 Tim. cap. 3. 

Principiando no verso 8, lemos: "Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância, guardando o mistério da fé, em uma pura consciência, e estes sejam primeiramente provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. 

Da mesma sorte, as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e as suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição, e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus".


  • a). O primeiro requisito é seriedade ou honestidade - homem inconstante e frívolo não ganha facilmente a confiança daqueles a quem serve.
  • b). O diácono não deve ser de língua dobre. Isto é: não deve ser fingido. O que diz a uns deve dizer aos outros, pois a verdade é sempre a mesma. Honestidade e franqueza são qualidades que se impõem. Se a responsabilidade do diácono for financeira, ele deve usar métodos que não levem ninguém a duvidar ou a suspeitar da integridade do seu carácter.
  • c). Não deve ser dado ao vinho. Ninguém pode confiar numa pessoa que abusa do vinho. A experiência prova que a intemperança e o excesso são inimigos da retidão e da confiança. Arruínam o testemunho do homem como filho de Deus e incapacitam-no para o serviço divino.
  • d). Também não deve ser cobiçoso de torpe ganância. Muitos destes requisitos são idênticos aos dos bispos. Um espírito avarento é um laço. Se homem tem o coração posto em acumular riquezas, esta sua ambição contribuirá para que todas as outras atividades da sua vida lhe fiquem subordinadas. O Reino de Deus e a sua Justiça deixam de ter o primeiro lugar na sua vida, e a sua obra para Deus enfraquece e torna-se inaceitável.
  • e). Deve guardar o mistério da fé numa consciência pura. Isto é importante. Não é suficiente conhecer a Verdade. Deve praticá-la com uma consciência livre de ofensa para com Deus. Himeneu e Alexandre conheciam a Palavra de Deus, mas deram ligar ao pecado - desviando-se da verdade e divulgando doutrina falsa (2 Tim. 2:17). Abafaram a voz da consciência e fizeram naufrágio na fé (1 Tim. 1:1920). Não há nada que possa substituir uma consciência sensível e vigilante pronta a discernir o que a Deus é desagradável, resistindo ao erro e pugnando pela Verdade.
  • f). Depois lemos: "E também estes sejam, primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis" Isto é um princípio divino de grande importância. "Estes sejam primeiro provados". Em outra passagem lemos: A ninguém imponhas precipitadamente as mãos (1 Tim. 5:22). É uma admoestação para todos nós. Todos somos inclinados a deixarmo-nos impressionar por uma pessoa que vemos pela primeira vez. O resultado é querermos dar-lhe um lugar de responsabilidade imediatamente. Mais tarde reconhecemos que nos precipitamos, pois "nem tudo o que luz é ouro"; o mal foi tirarmos conclusões a seu respeito cedo demais.
  • g). Em 1 Timóteo 3:11 lemos: "Da mesma sorte as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo". A referência não é necessariamente às esposas dos diáconos, mas aplica-se às diaconisas, isto é, às mulheres que prestam serviço na igreja local. Febe era uma diaconisa (ver Rom. 16:1).
  • h). Como no caso dos anciãos, o diácono deve ser marido duma só mulher, e governar bem os seus filhos e a sua casa. Já nos referimos ao fato de que se o homem não impõe respeito e autoridade em sua própria casa, dificilmente o fará na Igreja.


III- A recompensa do diácono é dupla. Se servir bem como diácono, alcança justa preeminência devido à boa reputação entre os crentes e tem a probabilidade de ser recompensado no Tribunal de Cristo.

Em segundo lugar, adquire para si muita confiança e intrepidez na fé que há em Cristo Jesus. O mundo considera isto de pouco valor; é místico demais, intangível, vago; mas para o crente é de maior valor que o ouro ou as pedras preciosas. 

Quanto ao sustento deles, a regra é a mesma dos anciãos. Há alguns que fazem trabalho secular; assim suprem as suas próprias necessidades. Porém, outros há que dedicam todo o seu tempo a. obra do Senhor; para estes, a regra é:

  • "Aos que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho" (I Cor. 9:14).
  • "E, o que é instruído na Palavra, reparta de todos os seus bens com o que o instrui" (Gál. 6:6).


IV - Ao terminarmos o nosso estudo sobre os diáconos, chamamos a atenção do leitor, mais uma vez, para Filipenses 1: 1. Nesta passagem lemos de três classes de pessoas na Igreja de Deus: Santos, bispos e diáconos. Isto é digno de nota. A falta de referência a qualquer outra classe, como o clero, é notável. 

Barnes chama a nossa atenção para isso no seu comentário sobre o Novo Testamento: "Não há "três ordens" de clero no Novo Testamento. Em 1 Tim. 3, o apóstolo Paulo revela expressamente as características dos que têm responsabilidade na Igreja, mas menciona só duas classes: bispos e diáconos. Os bispos são ministros da Palavra, e têm a seu cargo os interesses espirituais da Igreja; dos diáconos não lemos que pregassem. Não há uma terceira ordem. Não há referência nenhuma acerca de qualquer pessoa superior aos bispos e diáconos. Visto o apóstolo Paulo estar a dar expressas instruções acerca da organização da Igreja, uma omissão destas seria inconcebível, se tivesse de haver uma ordem de pontífice na Igreja. 

Por que será que o apóstolo nem sequer faz referência a eles, nem às suas qualificações? Se Timóteo tivesse de ser um pontífice, não seria ele que transmitir o seu cargo a outros? Não deviam ser mencionadas às qualificações particulares de tais homens? Não seria, pelo menos, falta de respeito da parte de Paulo, não fazer referência ao cargo de Timóteo, se ele fosse, de fato, um prelado? 

É evidente que se a organização da Igreja segundo o Novo Testamento tivesse outra ordem além de: bispos (anciãos) e diáconos, Paulo o teria dito nas suas Epístolas. Atualmente há muitos sistemas eclesiásticos organizados pelos homens, mas sem qualquer fundamento na Palavra de Deus.


FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

9. Eu gosto das igrejas locais

Desculpe-me, mas acontece que gosto das igrejas locais. Parece quase contra-prudente dizer algo assim.


A "moda" é criticá-las, apontando as suas falhas e erros. Há muitos críticos que pontificam o que está errado nelas. Talvez esteja na hora de alguém se levantar e dizer o que há de bom nelas. Gostaria de ser esta pessoa. Permita-me contar porque gosto delas.
Gosto de lembrar semanalmente o Senhor, ao partir do pão. 

Por 50 anos tenho procurado lembrar-me do Senhor todos os domingos, à mesa dEle, e isto nunca perdeu o encanto para mim. Há algo de especial numa reunião onde o nosso amado Senhor é a única atração e o centro da adoração. Não é de se admirar que quando certas pessoas deixam a igreja local para um tipo diferente de comunhão, geralmente dizem: "sinto muita falta da reunião de adoração." Lamento que elas a tenham deixado.


A igreja local se torna preciosa para mim porque vejo Efésios 4:12 praticado como em nenhum outro lugar. Os dons foram dados com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço. 

Tenho visto homens iletrados amadurecerem ao ponto de pregar o Evangelho com poder convincente. Tenho visto homens simples ministrando aos corações do povo de Deus e não apenas aos seus intelectos. 

Vejo mulheres devotas se realizarem não apenas criando filhos e filhas para Deus, mas também ensinando outras mulheres e crianças, cooperando assim com seus maridos, por apoiar o seu ministério, ajudando o trabalho missionário no país e no exterior, visitando a doentes e aflitos, e dando hospitalidade tanto para santos como para estranhos. Tenho visto moços sendo encorajados a exercer os seus dons de um modo que nunca poderia haver em outro ambiente. Muitos proeminentes líderes evangélicos demonstram admiração por Ef 4:12, e alguns até louvam as igrejas locais pela maneira como o praticam.


Uma das glórias das igrejas locais é a sua recusa absoluta em dividir a irmandade em clero e leigos. Reunir-se ao redor da pessoa de Cristo, ao invés de ao redor de um pregador carismático é divino, tanto em princípio como na prática. O Novo Testamento ensina que deve haver uma pluralidade de anciãos e nunca um ministério por um homem só. Mas as igrejas locais que pregam e praticam esta maneira serão sempre como aves raras na comunidade cristã. 

Há como que uma certa reprovação em pertencer à igreja local, e os que se reúnem nelas devem estar preparados para suportar tal opróbrio.
Gosto do fato de que cada igreja é autônoma, responsável somente perante o Senhor. Não há sede na terra, nem hierarquia ordenada pelos homens, nem organização entre a Cabeça e o Corpo. Isto impede que liberalismo, doutrinas falsas ou ditaduras tomem conta das igrejas locais.


A programação financeira das igrejas locais é louvável. É singular que, na maior parte delas, exista uma única oferta semanal. Esta oferta, recolhida sem fanfarras ou apelos, é suficiente para suprir as despesas locais e também ajudar obras cristãs em toda a parte. Tradicionalmente, obreiros de tempo integral dependem somente do Senhor para suprir as suas necessidades, sem ter que publicá-las. O mundo não pode dizer das igrejas locais o que diz da cristandade em geral: "A igreja só quer o seu dinheiro".


Aprecio o fato de que as igrejas locais estão prontas a exercer disciplina justa quando necessário, mesmo que assim o fazendo limite as oportunidades de se tornarem igrejas enormes. Estão contentes em julgar as suas comunidades, não pelo tamanho, mas pela santidade dos seus membros.
O ministério de literatura das igrejas locais tem sido saliente. Talvez tenha sido esta a sua maior contribuição no cenário evangélico. Os escritos de Darby, Kelly, Mackintosh, Vine e muitos outros exerceram profunda e benéfica influência pelo mundo afora. Há alguns anos o bibliotecário de um colégio cristão tentou compilar a bibliografia dos escritores dos "irmãos". Logo percebeu que não lhe seria possível terminar o projeto.


Devemos mencionar o movimento missionário associado às igrejas locais, um movimento que excede a proporção do número de igrejas locais que o sustentam.
Outras pessoas têm outras razões para gostar das igrejas locais, algumas até um tanto estranhas. P

or exemplo, uma irmã que recentemente entrou em comunhão, após anos de "pular de igreja em igreja", disse de sua satisfação em estar numa igreja com liderança masculina. Isto é estranho na época da liberação feminina!

Provavelmente poucos grupos fazem tanta auto-crítica como as igrejas locais. Francamente, sinto que isto é feito em demasia e que acaba levando pessoas sensíveis a uma desnecessária resignação. E assim muitos se desviam. A crítica vem melhor depois do louvor. Está na hora de equilibrarmos ambos.


O precedente não quer dizer que estou satisfeito com o estado atual. Reconheço que existem áreas onde precisamos melhorar, tais como métodos evangelísticos e o desenvolvimento da liderança na igreja local. Mesmo confiando inabalavelmente em princípios bíblicos, reconheço a necessidade de mudar os métodos vez por outra. Concordo que alguns de nós, incluindo os jovens, têm preocupações legítimas, e precisam ser ouvidos.


Mas em vez de chamar o pelotão de demolição, precisamos arregaçar as mangas e enfrentar os problemas. 

Tenhamos homens que nos mostrem como fazer um serviço construtivo em vez de generais de poltrona que se posicionam contras as igrejas locais ou que as abandonem de vez. E os que recebem sustento das igrejas locais deveriam demonstrar lealdade e evitar até a aparência de "morder a mão que os alimenta".


FONTE: In Refrigério - Publicado com autorização

10. Sete grandes verdades sobre a Igreja

No Novo Testamento, no livro dos Atos e nas Epístolas, há grandes verdades entrelaçadas acerca da Igreja de Deus. Por agora analisaremos rapidamente, apenas sete das mais importantes. Noutro capítulo serão mais amplamente desenvolvidas.


1ª - Há um só corpo (Efésios 4: 4)

Segundo o ensino das Escrituras, só há uma Igreja. Ainda que as circunstâncias pareçam negar esta verdade, o fato permanece que, segundo o propósito de Deus, há só um corpo de crentes na terra. Apesar desta igreja não ser completamente visível ao homem, ela constitui um corpo formado pelo Espírito-Santo.


2ª - Cristo é a Cabeça do Corpo místico (Efésios 5:23; Col. 1:18)

Pela analogia do corpo humano, Paulo revela-nos que, do Céu, Cristo como Cabeça domina o Corpo na terra. A cabeça, sede do intelecto, fala-nos de autoridade e domínio. A cabeça e o corpo desfrutam da mesma vida, interesses e perspectivas. Assim como a cabeça não é completa sem o corpo, do mesmo modo, num sentido real, Cristo não é completo sem a Igreja. Por isso lemos em Efés. 1:23 que a Igreja, o Seu corpo, é a plenitude d'Aquele que cumpre tudo em todos. Isto deve levar o crente a uma adoração profunda e reverente.


3ª - Todos os crentes são membros do Corpo de Cristo (Atos 2: 47)

No momento em que uma pessoa é salva, ingressa na Igreja espiritual, como membro do Corpo de Cristo. Esta união transcende todos os limites da raça, cor, nacionalidade, temperamento, cultura, condição social, língua ou denominação. No trecho clássico sobre os membros do Corpo de Cristo, em 1 Cor. 12:12-26, Paulo salienta os seguintes pontos:

  • Há muitos membros no corpo (versos 12-14);
  • Cada membro tem determinada função no corpo (versos 1 5--1 7);
  • Mas nem todos os membros têm a mesma função (v. 19);
  • O bem-estar do Corpo depende da mútua cooperação de todos os membros (versos 21:23);
  • Porque todos os membros precisam uns dos outros, não há razão para descontentamento ou inveja (versos 15-17), nem para orgulho ou independência (vers. 21);
  • Porque todos são membros do Corpo, deve haver entre todos cuidado mútuo, simpatia e alegria (versos 23-26).


4ª - O Espírito Santo é o Ministro ou Vigário de Cristo na Igreja (João 14:16,26).

  • Depois da Sua ascensão ao Céu, o Senhor Jesus enviou o Espírito-Santo para ser o Seu Representante na terra. As atividades do Espírito Santo na Igreja revelam-se, em parte, da seguinte maneira;
  • Guia os crentes na adoração (Efésios 2:18);
  • Inspira as suas orações (Rom. 8:26,27);
  • Torna poderosa a sua pregação (1 Tess. 1:5);
  • Guia-os nas suas atividades, tanto positiva como negativamente (Atos 13:2; 16:6,7);
  • Levanta anciãos nas Igrejas (Atos 20:28);
  • Dá dons para o seu crescimento e utilidade (Efésios 4:11);
  • Guia os crentes em toda a verdade (João 16:13).


5ª - A Igreja de Deus é Santa (1 Cor. 3:17).

Dentre as nações Deus está chamando um povo para o Seu Nome. Ele separa-os para Si, para que, neste mundo pecaminoso, as suas vidas se caracterizem por uma santidade prática. Só assim é que a Igreja pode, com fidelidade, representar um Deus santo num mundo corrupto.


6ª - Os dons são dados para edificação da Igreja (Efés. 4:11,12).

A vontade de Deus é que a Igreja cresça numérica e espiritualmente. E com este objectivo que Cristo ressuscitado dá dons à Igreja. Estes dons são homens (1) a quem é dada aptidão especial para edificar a Igreja. Segundo a lista que encontramos em Efésios 4:11 os dons são:

  • Apóstolos;
  • Profetas;
  • Evangelistas; Pastores;
  • Doutores ou Ensinadores.

Os Apóstolos e Profetas, de início, estavam principalmente empenhados na construção da Igreja (Efésios 2:20). Uma vez lançado o fundamento, cessou a necessidade de apóstolos e profetas neo-testamentários (2) no sentido primitivo das palavras.

Contudo, ainda há evangelistas, pastores e doutores ou ensinadores

Os evangelistas são enviados aos perdidos no mundo para lhes levar o Evangelho, conduzir os pecadores a Cristo, e dirigi-los à comunhão da Igreja local.

Os pastores cuidam do rebanho, alimentando as ovelhas, e encorajando-as para que se guardem do mal. 

Os doutores ou ensinadores revelam a palavra de Deus duma maneira compreensível e apresentam as doutrinas bíblicas duma maneira sensata.

À medida que estes dons são usados, a Igreja cresce e os santos são edificados na sua santíssima fé. Os dons são a provisão de Deus para a expansão da Igreja.


7ª - Todos os crentes são sacerdotes de Deus (1 Pedro 2:5,9).

A verdade final que apresentamos em relação à Igreja é o sacerdócio de todos os crentes. No Velho Testamento, só eram elegíveis para o sacerdócio determinados homens da tribo de Levi (da família de Aarão). (Ver Êxodo 28:1).

Nos nossos dias não se requer uma casta especial de homens, separada dos outros, nem o uso de vestes distintivas ou privilégios especiais. Todos os filhos de Deus, nascidos de novo, seus sacerdotes, com todos os privilégios e responsabilidades que o nome implica.

A questão agora é esta: temos nós ainda dons de natureza milagrosa? 

Em Hebreus 2:4 lemos que Deus usou sinais e maravilhas para autenticar a pregação primordial do Evangelho. Isto verificou-se nos tempos em que a Palavra de Deus ainda não estava totalmente reduzida a escrito. Com o complemento da Bíblia, muitos creem que a necessidade de milagres deixou de existir. Contudo, a Bíblia não esclarece o assunto decisivamente. Embora creiamos que estes dons não existem hoje, geralmente falando, não quer dizer que o Espírito Santo não posso usá-los, especialmente onde as Escrituras são raras. Mas, neste caso, os que professam ter estes dons devem exercê-los de acordo com as instruções da Palavra de Deus (Veja-se 1 Cor. 14)


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Notas:

  • (1) Temos outra lista de dons espirituais em 1 Cor. 12:8-10; A palavra da sabedoria, a palavra da ciência, fé, dons de curar, operação de maravilhas, profecia, dom de discernir os espíritos, variedade de línguas, e interpretação de línguas. Em Efésios 4, os dons são homens cujas vidas evidentemente são consagradas ao evangelismo, ensino e obra pastoral. Em 1 Cor. 12 os dons são talentos ou aptidões que não se limitam necessariamente a certos indivíduos, mas que o Espírito Santo pode dar a qualquer membro do Corpo de Cristo quando e como Ele quiser. Por exemplo, qualquer crente pode, guiado pelo Espírito, proferir uma palavra de sabedoria ou de ciência, sem necessariamente ser um ensinador. Outro pode levar uma alma a Cristo, sem que seja evangelista. Em 1 Cor. 12:28 Paulo ainda fala de apóstolos, profetas, doutores e ensinadores, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.
  • (2) No sentido secundário da palavra, não há dúvida de que ainda há apóstolos - homens enviados pelo Senhor. Neste sentido também ainda temos profetas, isto é, homens que, sob a direção de Deus, pregam contra o pecado e desregramentos. Mas repudiamos completamente a ideia de que haja homens, hoje em dia, que tenham a mesma autoridade que os primitivos apóstolos tiveram, ou que possam receber a mesma inspiração direta, como os profetas do Novo Testamento.

FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

11. O batismo do crente

Os "sacramentos" (ou mandamentos) da Igreja Cristã são o Batismo e a Ceia do Senhor. Foram instituídos pelo Senhor Jesus nos Evangelhos (Mat. 28:19; Lc. 22:19,20) e postos em prática nos Atos (10:47-48; 20:7) e expostos nas Epístolas (Rom. 6:3-10; 1 Cor. 11:23-32). O primeiro deles é precisamente o batismo do crente.


I - Ao tratarmos o assunto do batismo, devemos notar de início que o Novo Testamento fala-nos de três ordens de batismo:

  • 1º- Primeiramente fala-nos do batismo de João (Marcos 1: 4). Como precursor do Rei, João exortou a nação de Israel a voltar-se para Deus e dar frutos dignos de arrependimento (Mat. 3: 8). Os que deram ouvidos foram a ele, confessando os seus pecados, e eram batizados com o batismo de arrependimento; assim se separavam da impiedade em que a nação se encontrava. Naturalmente que esse batismo não salvava nem era preciso para a salvação. O Senhor Jesus foi batizado por João, não porque tivesse pecados dos quais precisasse de se arrepender, mas para se identificar com os arrependidos de Israel, e assim cumprir toda a justiça (Mat. 3:1-15).
  • 2º - Em segundo lugar, temos o batismo do crente (Rom. 6 : 3, 4). Significa identificação do crente com Cristo na Sua morte, como veremos mais tarde.
  • 3º - Em terceiro lugar, temos o batismo do Espírito-Santo (1 Cor. 12: 13). Esta é a obra soberana do Espírito de Deus, pelo qual todos os crentes no Salvador são incorporados no Corpo de Cristo.


Em relação a estes três batismos, devemos notar cuidadosamente o seguinte:

  • O batismo de João não é o batismo do Espírito. Distinguem-se claramente em Mat. 3:11.
  • O batismo de João não é o batismo do crente. Atos 19:1-5 mostra-nos que os crentes que tinham sido batizados com o batismo de João, tiveram de ser rebatizados com o batismo cristão.

Não se deve confundir o batismo do Espírito Santo com o batismo do crente. Muitos têm a ideia de que o batismo na água simboliza o batismo do Espírito, mas não é assim, pois são completamente diferentes. O batismo do Espírito fala-nos da incorporação no corpo de Cristo, enquanto que o batismo do crente é um símbolo da morte. Em suma; estes três batismos são distintos, e não devem ser confundidos.


II- Depois do Dia de Pentecostes não lemos que alguém fosse batizado senão os crentes no Senhor. Notemos as seguintes passagens:

  • "De sorte que foram batizados os que, de bom grado, receberam a Palavra" (Atos 2:41)
  • "Mas como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do Nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. (Atos 8:12)

É certo que lemos de famílias inteiras serem batizadas (Atos 16:15; 1 Cor. 1:16) mas não há qualquer motivo que nos leve a supor que estas famílias incluíssem crianças que não tivessem idade para ter confiado no Senhor Jesus.


III - O significado mais importante do batismo do crente, encontra-se relevado plenamente em Rom. 6:1-10. 

Resumamos o ensino desta passagem da seguinte maneira:

  • 1º - Quando Jesus morreu, as ondas e vagas da ira de Deus passaram sobre ELE (Salmo 42:7);
  • 2º - Ele suportou tudo isso como nosso Substituto:
  • 3º - Porque Cristo morreu em nosso lugar, podemos dizer que morremos, quando ELE morreu;
  • 4º - Pela Sua morte, ELE resolveu a questão do pecado para sempre;
  • 5º - Assim também o crente morreu em relação ao pecado e as suas consequências. O pecado não tem mais domínio sobre nós;
  • 6º - Deus vê cada crente como tendo sido crucificado com Cristo. Tudo o que o homem era como pecador na carne, foi cravado na cruz;
  • 7º - O batismo do crente constitui uma ilustração dramática do que já se efetuou na morte e ressurreição de Cristo. Ao descer às águas do batismo, na realidade o crente proclama: Eu merecia a morte por causa dos meus pecados; mas Jesus morreu, e eu também morri com ELE. O meu homem velho foi crucificado com Ele. Quando Jesus foi sepultado, eu fui igualmente sepultado com ELE, pelo que reconheço agora que na minha experiência diária, o meu velho EU deve ser removido da presença de Deus para sempre;
  • 8º - Assim como Jesus ressuscitou dentre os mortos, também o crente ressurge das águas do batismo. Ao fazê-lo, proclama a resolução de andar em novidade de vida. Não vive mais para agradar a si próprio, mas submete-se incondicionalmente ao Salvador, desejando que Ele viva a Sua vida nele.


Portanto, podemos afirmar que o batismo, em si, significa o fim da vida antiga. E um ato público de obediência à vontade do Senhor (Mat. 28:19, 20), em que o crente se identifica com Cristo na Sua morte. O batismo não salva, mas foi instituído para os que já estão salvos.


IV - Tem havido grande controvérsia acerca da maneira como o batismo deve ser administrado - se por aspersão ou por imersão. Os seguintes fatos ajudam a encontrar a solução:

  • 1º A palavra "batizar" vem do grego, e significa: mergulhar, submergir, lavar;
  • 2º Em relação ao batismo de Cristo, lemos: "E sendo Jesus batizado, saiu logo da água" (Mat. 3:16);
  • 3º O próprio João Batista batizava em Enon, perto de Salim, porque havia ali muitas águas (João 3:23);
  • 4º - Em referência ao batismo do etíope, eunuco da rainha dos etíopes, as Escrituras revelam nos claramente que tanto Filipe como o eunuco "desceram ambos e o batizou E quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe... (Atos 8:38,39),
  • 5º - Já verificamos em Romanos 6:3, que o batismo ilustra o ato de sepultar. O batismo por aspersão nunca pode dar a ideia de sepultura, enquanto que o batismo por imersão representa-o com toda a exatidão.


V - Mas mais importante ainda é o estado espiritual do batizando. Há milhares de pessoas que passaram pelo batismo, quanto à forma, mas na realidade não foram batizadas. A pessoa verdadeiramente batizada, não é aquela que meramente se submete ao rito, mas aquela cuja vida mostra que a carne, ou a velha natureza, já foi crucificada. O batismo, pois, não se limita a um rito exterior, mas resulta da prévia transformação que o Espírito operou no coração.

Isto pode ver-se claramente em Rom. 2: 25-29, se aplicarmos o ensino da circuncisão ao batismo. O batismo aliado à obediência ao Evangelho é verdadeiramente proveitoso, mas se recusarmos andar conforme o Evangelho, o batismo é nulo. 

Portanto, se um crente não batizado obedecer ao Evangelho, não será a sua falta contada como se fosse batizado? E não julgará, pela sua conduta, aqueles que, sendo batizados, não andam segundo o Evangelho? Porque não é verdadeiro crente o que o é exteriormente, ainda que tenha sido batizado por imersão; mas o que em seu coração, passou pela experiência espiritual que o batismo ilustra, e cujo louvor não vem dos homens, mas de Deus.


VI - A ideia do homem ter de ser ordenado ministro para poder batizar, não tem base nas Escrituras. Qualquer crente sincero pode batizar.


VII - Nos primórdios desta era, muitos crentes, depois de serem baptizados, passavam a ser perseguidos e acabavam por ser assassinados dentro de pouco tempo. Isto não impedia que os novos convertidos, ousadamente, pedissem o batismo sem hesitar, preenchendo assim a falta dos que tinham sido martirizados.


Ainda nos nossos dias, em certos lugares, o batismo do crente implica o início de terrível perseguição. Em muitos países o crente é tolerado enquanto se limita a confessar Cristo com os lábios. Mas quando O confessa publicamente no ato do batismo, mostrando assim que morreu para a vida passada, logo os inimigos da cruz, se preparam para atacá-lo. Contudo, seja qual for o custo, o crente batizado passa pela experiência do etíope acerca do qual lemos que "jubiloso, continuou o seu caminho".


FONTE: Cristo Amou a Igreja - Trad. Viriato D. Sobral (1961)

12. Cura divina, hoje

1. Os Cristãos concordam no fato de que todas as doenças, duma forma geral, são resultados do pecado no mundo. Se o pecado nunca tivesse entrado, não haveria doenças.


2. Algumas vezes as doenças são resultado direto do pecado na vida de uma pessoa. Em 1 Cor. 11.30, lemos que determinados Coríntios se encontravam enfermos por terem participado na Ceia do Senhor sem julgarem o pecado nas suas vidas, isto é, sem o terem confessado e abandonado.


3. Nem todas as doenças são resultado direto do pecado na vida duma pessoa. Jó ficou enfermo a despeito do fato de ter sido o homem mais justo (Jó 1.8). O homem que nasceu cego não estava a sofrer por pecados que tivesse cometido (João 9.2,3). Epafrodito adoeceu devido à sua atividade incansável na obra do Senhor (Fil. 2.30). Gaio era espiritualmente saudável, embora fisicamente aparentasse encontrar-se menos bem (3 João 2).


4. Por vezes a doença é resultado de atividade satânica. Foi Satanás que fez com que o corpo de Jó fosse coberto com uma chaga maligna (Jó 2.7). Foi Satanás que encurvou de tal modo que esta não se conseguia endireitar: "mulher que tinha um espírito de enfermidade, - pense nisto - havia já dezoito anos" (13:16). Paulo teve uma enfermidade física provocada por Satanás. Ele denominou-a de "um espinho na carne... um mensageiro de Satanás, para me esbofetear" (2 Cor. 12.7).


5. Deus pode curar e cura. De facto, toda a cura é verdadeiramente divina. Um dos nomes de Deus no VT é Jeová-Rofeka - "o Senhor que te cura" (Êxo. 15.26). Nós devemos reconhecer Deus em todo o caso de cura. E claro nas Escrituras que Deus usa diferentes meios no ato de curar. Por vezes cura por intermédio de processos orgânicos naturais. Ele colocou no corpo humano tremendos poderes de recuperação. Os médicos sabem que a maior parte dos pacientes encontram-se melhores pela manha. Outras vezes cura por meio de medicamentos. 

Por exemplo, Paulo aconselhou Timóteo a usar "um pouco de vinho, por causa do estômago e das ... frequentes enfermidades" (1 Tim. 5.23). Outras, cura através da libertação de temores, ressentimentos, preocupações, e culpas, que produzem doenças. Outras ainda, cura por meio de médicos e cirurgiões. O Senhor Jesus ensinou explicitamente que os doentes necessitam de médico (Mat. 9.12). Paulo falou de Lucas como "o médico amado" (Col. 4.14), reconhecendo a necessidade de médicos entre os Cristãos. Deus usa médicos no ministério da cura. Como Dubois, o famoso cirurgião Francês disse, "O cirurgião veste a ferida; Deus cura-a".


6. Mas Deus também cura miraculosamente. As Escrituras contém disto muitas ilustrações. Seria incorreto afirmar que Deus cura desta forma dum modo geral, mas também não devemos afirmar que nunca o faz. Não há nada na Bíblia que nos desencoraje da crença que Deus hoje pode curar miraculosamente.


7. No entanto, também deve tornar-se claro que a cura nem sempre é da vontade de Deus. Paulo deixou Trófimo doente em Mileto (2 Tim. 4.20). O Senhor não curou Paulo do seu espinho na carne (2 Cor. 12.7-10). Se fosse sempre da vontade de Deus curar, alguns nunca envelheceriam nem morreriam!


8. Deus não prometeu curar em todos os casos; por conseguinte, a cura não é algo que possamos exigir d'Ele. Em Fil. 2.27, a cura é falada como sendo uma misericórdia, não algo que tenhamos o direito de esperar.


9. Apesar de, num sentido geral, ser verdade que a cura se encontra abrangida pela "Expiação", também é verdade que nem todas as bênçãos que a Expiação abarca nos foram já concedidas. Por exemplo, a redenção do corpo está incluída na obra de Cristo por nós, mas não a experimentaremos antes da Sua vinda para os Seus santos (Rom. 8.23). Então seremos completa e finalmente curados de todas as doenças.


10. Não é verdade que o insucesso da cura indicie falta de fé. Se assim fosse, tal significaria que alguns viveriam indefinidamente; mas não há nenhum exemplo disso. Paulo, Trófimo, e Gaio, não foram curados, mas apesar disso a fé deles foi viril e ativa.

13. O discípulo verdadeiro

Este artigo é uma tentativa de apresentar alguns, princípios do discipulado do Novo Testamento. Alguns de nós, tendo visto esses princípios durante anos na Palavra de Deus, por alguma razão, concluímos que eram exagerados e impraticáveis para a época complicada em que vivemos. Entregamo-nos, portento, à frieza de nosso ambiente espiritual.
Encontramo-nos, depois, com um grupo de jovens crentes resolvidos a demonstrar que os termos do discipulado do Salvador não somente são praticáveis, como são os únicos termos capazes de evangelizar o mundo.
Reconhecemos a nossa dívida a esses jovens por serem exemplos vivos das verdades aqui apresentadas.
Apesar dessas verdades estarem, pelo menos em parte, ainda aquém de nossa experiência pessoal, apresentamo-las como as aspirações de nosso coração.


William MacDonald


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AS CONDIÇÕES PARA SER UM DISCÍPULO


Cristianismo verdadeiro é um compromisso sem reservas ao Senhor Jesus Cristo.
O Salvador não está procurando pessoas que Lhe deem o tempo que Lhes sobra. Procura, porém, aquelas que Lhe deem o primeiro lugar em suas vidas.
"Ele procura hoje, como sempre, não as multidões andando vagamente no Seu caminho, mas indivíduos cuja dedicação e fidelidade terão início logo após terem reconhecido que Jesus Cristo está à procura daqueles que estão preparados para andar num caminho de renúncia de si próprios, o qual ele também trilhou" (H. A. Evan Hopkins).


Nada menos que urna rendição incondicional deve ser a resposta adequada ao Seu sacrifício na cruz do Calvário.
Amor tão sublime, tão divino, nunca poderia satisfazer-se com menos do que nossas vidas, nossas almas, tudo quanto temos.
O Senhor Jesus deu ordens bem rigorosas àqueles que seriam Seus discípulos - ordens que quase não se observam nesta época d'e vida suntuosa. Com muita frequência consideramos o cristianismo - como um escape do inferno e uma garantia para alcançar o céu. Além disso, achamos que temos todo o direito de gozar o melhor que esta vida tem para oferecer. Sabemos que há, na Bíblia, aqueles versículos claros sobre o discipulado, mas temos dificuldade em conciliá-los com as nossas ideias sobre como o cristianismo deveria ser.
Podemos aceitar o fato de que soldados deem as suas vidas por razões patrióticas. Não achamos esquisito que comunistas deem as suas vidas por motivos políticos. Mas, que "sangue, suor e lágrimas" devam caracterizar a vida de um seguidor de Cristo, por uma razão qualquer, parece remoto e difícil de entendermos.
E, ainda assim, as palavras do Senhor Jesus são suficientemente claras. Não há lugar para enganos se as aceitarmos com o seu próprio valor. Eis aqui as condições para que se possa ser um discípulo, como elas foram dadas pelo Salvador do Mundo:


1) UM AMOR SUPREMO POR JESUS CRISTO
"Se alguém vem a Mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo" (Lucas 14:26). Isso não quer dizer que devemos guardar animosidade ou hostilidade em nossos corações contra nossos parentes; quer dizer que nosso amor para com Cristo deve ser tão grande que todos os outros amores sejam ódios quando comparados com o amor que Lhe devotamos. A frase mais difícil nesse trecho é "e ainda a sua própria vida". O amor próprio é um dos maiores obstáculos para ser um discípulo. Somente quando estivermos prontos a sacrificar até mesmo as nossas próprias vidas por Cristo é que estaremos no lugar onde Ele nos quer.


2) UMA NEGAÇÃO DE SI PRÓPRIO
"Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue ... " (Mateus 16:24). Negação de si mesmo não é o ato de abster-se de certos alimentos, prazeres ou possessões, mas, uma submissão tão completa ao domínio de Cristo, que a vontade própria não tenha qualquer autoridade ou direito. Significa que o "ego" abdica ao trono. 

Isso é expresso nas palavras de Henry Martyn:

"Senhor, não permitas que eu tenha vontade própria ou que considere a minha verdadeira felicidade como dependente, mesmo no menor grau, de qualquer coisa que possa acontecer externamente, mas que ela consista em fazer totalmente a Tua vontade".
"Príncipe divino, glorioso Vencedor, Toma nas Tuas estas mãos submissas, Servas felizes do trono do Salvador; Minha vontade é só a Tua". (H. G. C. Moule)


3) UMA ESCOLHA INTENCIONAL DA CRUZ
"Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, torne a Sua cruz ... " (Mateus 16:24). A cruz não é uma enfermidade física, nem uma angústia mental; essas coisas são comuns a todos os homens. O caminho da cruz é um caminho escolhido intencionalmente.
''É um caminho que, aos olhos do mundo, torna-se desonroso e cheio de afrontas" (C. A. Coates).
A cruz simboliza a vergonha, a perseguição e o abuso do mundo para com o Filho de Deus e que se manifestará a todos aqueles que ficarem firmes contra a correnteza.
Qualquer crente pode evitar a cruz, conformando-se com o mundo e seus prazeres.


4) UMA VIDA GASTA EM SEGUIR A CRISTO
"Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me" (Mateus 16:24). Para entendermos isto, é necessário tão somente perguntarmo-nos: "O que caracterizou a vida do Senhor Jesus?". Foi uma vida de obediência à vontade de Deus. Foi uma vida vivida no poder do Espírito Santo. Foi uma vida de altruísmo. Foi uma vida de paciência e longanimidade, mesmo enfrentando as maiores injustiças. Foi uma vida de zelo, de entrega, de domínio próprio, de mansidão, de bondade, de fidelidade, de devoção (Gálatas 5:22,23). Para sermos Seus discípulos; temos que andar como Ele andou. Temos que demonstrar os mesmos frutos que Ele demonstrou (João 15:8).


5) UM AMOR FERVOROSO A TODOS OS QUE PERTENCEM A CRISTO
"Nisto conhecerão todos que sais Meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:35). Este é o amor que estima os outros mais do que a si próprio. É o amor que cobre uma multidão de pecados. Esse é o amor que é paciente e benigno; que não se ufana, trem se ensoberbece; que não se conduz inconvenientemente, não procura seus próprios interesses, não se ressente do mal, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Coríntios 13:4-7). Sem esse amor o discipulado seria um frio ascetismo legalista.


6) UMA CONTINUAÇÃO CONSTANTE NA SUA PALAVRA
"Se vós permanecerdes na Minha Palavra. sois verdadeiramente Meus discípulos" (João 8:31). Para um discipulado verdadeiro há necessidade de haver continuação. É fácil começar bem, com entusiasmo e disposição; mas a prova real do discipulado é a permanência até o fim. Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus (Lucas 9:62). Obediência esporádica às Escrituras não serve. Cristo quer que pessoas O sigam em constante e incondicional obediência.
"Não permitas que eu volte.
Os cabos de meu arado estão molhados de lágrimas,
As relhas se estragam com ferrugem, mas, mesmo assim
Meu Deus, não permitas que eu volte!"


7) UMA RENÚNCIA DE TUDO PARA SEGUI-LO
"Assim. pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo" (Lucas 14: 33). Talvez seja esta a condição menos popular em toda a Bíblia. Teólogos espertos podem dar mil razões pelas quais este versículo não quererá dizer o que realmente diz; porém, discípulos simples o tomam zelosamente, certos de que o Senhor Jesus sabia o que estava dizendo. 

Que quer dizer renunciar a tudo? Quer dizer um abandono de todas as possessões materiais que não são inteiramente necessárias e que podem ser úteis na expansão do Evangelho, O homem que renuncia a tudo não se torna um vadio desamparado, mas trabalha para suprir as necessidades presentes' de sua família e de si mesmo. Desde que a paixão de sua vida é o engrandecimento da causa de Cristo, ele investe tudo o que esteja além das necessidades presentes na obra do Senhor e deixa o futuro nas mãos de Deus. Buscando primeiro o reino de Deus e Sua justiça, ele acredita que nunca lhe faltará nem alimento, nem roupa. 

Ele não pode, conscienciosamente, guardar reservas monetárias em excesso, enquanto almas perecem por falta do Evangelho. Ele não quer gastar a sua vida acumulando riquezas na terra. Renunciando a tudo, ele oferece o que não pode guardar de jeito nenhum, e o que já deixou de amar.
Estas são as sete condições para o discipulado cristão.
São claras e inequívocas. O autor reconhece que, no ato de apresentá-las, ele se condena como um servo inútil. Será, entretanto, suprimida para sempre a verdade de Deus por causa do fracasso de Seu povo? Não é verdade que a mensagem é sempre maior que o mensageiro? Não é correto que seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso? Deveríamos dizer como um velho e ilustre senhor:
"A Tua vontade seja feita, mesmo na minha própria queda".
Confessando nossos próprios fracassos, reconheçamos corajosamente os direitos de Cristo sabre nós e procuremos ser, daqui por diante, discípulos verdadeiros do nosso Mestre glorioso.
"Meu Mestre, guia-me à Tua porta: 

Fura esta orelha mais uma vez, 

Teus laços são liberdades; 

permite' que eu fique
Contigo a trabalhar, suportar e obedecer".
(Leia-se Êxodo 21: 1-6). H. C. G. Moule


RENUNCIANDO A TUDO
"Assim, pois, todo aquele que dentre vós 'não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser Meu discípulo" (Lucas 14:33)
Para ser discípulo do Senhor Jesus, é necessário renunciar a tudo. Este é o significado inconfundível das palavras do Salvador. Não importa o quanto nós possamos reclamar contra uma exigência tão extrema; não importa o quanto nós possamos nos rebelar contra uma política tão "impossível" e "imprudente": o fato é que esta é a Palavra do Senhor e o seu significado não muda.


Ao começarmos a estudar estas palavras, devemos enfrentar estas verdades inflexíveis:


a) O Senhor Jesus não faz essa exigência a uma certa classe especial de obreiros cristãos. Jesus disse: "Todo aquele que dentre vós ... "


b) Ele não disse que temos simplesmente que estar dispostos a renunciar a tudo. Jesus disse: "Todo aquele que dentre vós não renuncia ... ".
Ele não disse que temos somente que renunciar à uma parte. Jesus disse: "Todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto tem ... ".
Ele não disse que uma forma cômoda de discipulado seria possível para o homem apegado às riquezas. Jesus disse: " ... não pode ser Meu discípulo".


Realmente, não devemos ficar surpreendidos com essa exigência tão restrita como se fosse a única referida na Bíblia.


Jesus também disse: "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu" (Mateus 6: 19,20).


É como Wesley, com toda, razão, afirmou:
"Ajuntar tesouros na terra é tão claramente proibido quanto o adultério ou o homicídio".
Disse também Jesus: "Vendei os vossos bens e dai esmola" (Lucas 12:33). Jesus instruiu o jovem rico, dizendo-lhe: "Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me" (Lucas 18:22).


Se isto não significa exatamente o que Ele disse, o que é então que Jesus queria dizer?
Não é verdade que os crentes, na Igreja Primitiva, "vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade"?
(Atos 2:45).
E não é verdade que nos tempos passados muitos homens e mulheres querendo seguir a Jesus deixaram tudo, literalmente?


Anthony Norris Groves e sua esposa, missionários pioneiros em Bagdá, convenceram-se de que não mais podiam os nossos corações descrentes nos dizem que seria impossível aplicar literalmente as palavras do Senhor, Se renunciássemos a tudo, morreríamos de fome. Afinal de contas, temos que tomar providências para o nosso futuro e o futuro de nossos queridos. Se cada cristão renunciasse a tudo, então, quem financiaria a obra do Senhor? Se não houvesse alguns ricos, como seria a classe social mais elevada atingida pelo Evangelho? Assim, pois, os argumentos vêm, uns após outros, todos para provar que o Senhor Jesus falou figuradamente.


O fato é que, a obediência ao mandamento do Senhor é a vida mais sadia, mais razoável e que dá maior gozo, O testemunho das Escrituras e das experiências testifica que, para aquele que se sacrifica por Cristo, jamais faltará o suficiente. Quando um homem obedece a Deus, o Senhor Se responsabiliza por ele.


O homem que renuncia a tudo para seguir a Cristo não é um indigente desamparado, esperando que seus irmãos supram suas necessidades. Antes: "ajuntar tesouros na terra", mas que deviam dedicar o total de uma renda considerável à obra do Senhor. As convicções de Groves sobre este assunto são apresentadas no folheto Christian Devotedriess (Devoção Cristã).


Sabe-se que C. T. Studd:
"Resolveu dar toda a sua fortuna a Cristo, aproveitando a oportunidade que lhe foi oferecida: fazer o que o jovem rico não havia feito. Foi uma simples obediência às frases claras da Palavra de Deus. Depois de distribuir milhares de dólares para a obra do Senhor, reservou, ao casar-se, 9.588 dólares para a sua esposa, Mas, ela não permitiu que o marido fizesse mais do que ela. "Charlie", perguntou-lhe", o que foi que o Senhor mandou o moço rico fazer?". "Vende tudo", respondeu ele, "Então", disse ela, "começaremos' assim nossa vida conjugal, com tudo em dia com o Senhor". E o dinheiro foi para a Sua obra".

O mesmo espírito de dedicação animava Jim Elliot.
Ele escreveu em seu diário:
"Pai, permite que eu seja fraco, para que perca todo o meu apego a tudo quanto é temporal: Minha vida, minha reputação, minhas possessões. Senhor, que eu perca a tensão da mão ávida. Até mesmo, Pai, perderia o prazer de acariciar. Quantas vezes já soltei algo, mas na realidade, retinha o que apreciava por meio de "saudades inocentes". Antes, abre a minha mão para receber os cravos do Calvário como a mão de Cristo foi aberta para que eu, soltando tudo, possa ser libertado de tudo que agora me prende. Ele não teve por usurpação ser igual a Deus. Que eu perca a minha vontade de reter".
Ele é laborioso. Trabalha diligentemente para suprir as necessidades presentes dele mesmo e de sua família.
Ele é frugal. Vive o mais economicamente possível para que tudo, além das necessidades presentes, possa ser dado à obra do Senhor.
Ele é previdente. Em vez de acumular riquezas na terra, ele as acumula nos céus.
Ele confia a Deus o seu futuro. Em vez de empregar a melhor parte de Sua vida providenciando segurança para sua velhice, ele dá o seu melhor ao trabalho de Cristo e confia a Ele o seu futuro. Ele crê que, buscando primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, nunca lhe faltará o alimento ou a roupa (Mateus 6:33).
Para ele, é irracional acumular riquezas aqui na terra.

Ele argumentaria da seguinte forma:

  • a) Como podemos nós, conscienciosamente, ajuntar reservas monetárias quando esse dinheiro poderia ser usado agora para a salvação de almas? "Aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?" (1 João 3: 17). "Consideremos também o importante mandamento "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico 19: 18). Podemos realmente dizer que amamos o nosso próximo como a nós mesmos, se o deixamos morrer de fome quando temos o suficiente e de sobra? Eu poderia fazer um apelo àqueles que já experimentaram o gozo de conhecer o dom inefável de Deus e perguntar: "Vocês trocariam esse conhecimento por cem mundos? Portanto, não retenhamos os meios pelos quais outros podem obter esse conhecimento santificador e essa consolação celeste" (A. N. Groves).
  • b) Se realmente cremos que a Vinda de Cristo é iminente, então queremos usar nosso dinheiro imediatamente para a Sua causa, ou então nos arriscamos a que o dinheiro caia nas mãos do diabo, dinheiro esse que poderia ter sido usado para bênçãos eternas!
  • c) Como podemos nós, conscienciosamente, orar ao Senhor pedindo que forneça as finanças para obras cristãs, quando nós mesmos temos dinheiro e não estamos dispostos a dar para tal fim? Renunciando a tudo, por Cristo, nós nos salvaguardamos da hipocrisia na oração. Como podemos ensinar a Palavra de Deus aos outros, se há verdades, como essa, que não obedecemos? Em tal caso, as nossas vidas fechariam nossos lábios.
  • d) Homens espertos deste mundo ajuntam reservas abundantes para o futuro. Este não é o andar por fé, mas por aquilo que vemos. O cristão é chamado para uma vida de dependência total de Deus. Se está ajuntando tesouros na terra, de que forma ele é diferente do homem do mundo? O argumento frequentemente ouvido é que temos que providenciar para as necessidades futuras de nossas famílias; serrão, somos piores do que os descrentes. Para este ponto de vista, são usados os dois seguintes versículos: ''Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos" (2 Coríntios 12: 14) e "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8). Um estudo cuidadoso desses versículos mostrará que tratam de NECESSIDADES PRESENTES e não de CONTINGÊNCIAS FUTURAS.
  • e) No primeiro versículo, Paulo usa de ironia. Ele é o pai e os coríntios são seus filhos. Ele não os encarregou de sustentá-la, apesar de, como um servo de Deus, ter todo o direito de assim fazer. Afinal de contas, ele era seu pai na fé e, geralmente, os pais tomam providências para as necessidades dos filhos e não vice-versa. Não é, de maneira nenhuma, uma questão dos pais providenciarem para o futuro de seus filhos. O trecho todo tem relação Com o suprimento das necessidades presentes de Paulo e não, com as suas necessidades futuras.

Em I Timóteo 5:8, o apóstolo está tratando do cuidado para com as viúvas pobres. Ele insiste em que os parentes são os responsáveis por elas. Se não há parentes, ou se estes não estão cumprindo suas responsabilidades, então é a igreja local quem deve cuidar delas. Mas, aqui também, o assunto é necessidades presentes e não passives necessidades futuras.
O ideal de Deus é que os membros do corpo de Cristo cuidem das necessidades de seus irmãos em Cristo. 

"É uma questão de repartir e de repartir igualmente! Que no presente a vossa abundância supra as suas necessidades, para que mais tarde a abundância deles possa suprir as vossas. Deste modo seremos uns para os outros, conforme as palavras da Escritura: Aquele que colheu muito não teve a mais e o que colheu pouco não teve a menos". (2 Coríntios 8: 13-15)

Um cristão que acha que precisa tomar providências para as necessidades futuras, enfrenta o difícil problema de saber de quanto vai precisar. Gasta, portanto, a sua vida em procurar uma fortuna, de quantia indefinida, e sacrifica o privilégio de dar o seu melhor ao Senhor Jesus Cristo. Chega ao fim de uma vida desperdiça da e descobre que as suas necessidades teriam sido supridas se ele tivesse apenas vivido inteiramente para o Salvador.

Se todos os cristãos tomassem as palavras do Senhor Jesus literalmente, não haveria falta de financiamento na obra do Senhor. O Evangelho sairia com poder e volume aumentados. Se um discípulo em particular estivesse enfrentando uma necessidade, seria o gozo e privilégio de outros discípulos repartirem tudo o que tivesse com o necessitado.
Dizer que há necessidade de cristãos ricos para alcançarem as pessoas mais ricas deste mundo é absurdo. Paulo chegou até a casa de César, estando preso (Filipenses 4:22).
Se obedecemos a Deus, podemos confiar nele para arranjar os meios.
O exemplo do Senhor Jesus Cristo deve ser conclusivo a este respeito. O servo não está acima de seu senhor.

"O servo não deve procurar ser rico e honrado neste mundo, onde seu Mestre foi pobre e desprezado" (George Muller).

"Os sofrimentos de Cristo incluíram pobreza (2 Coríntios 8:9). Logicamente, pobreza não quer dizer sujeira e roupa que não presta, mas sim, a falta de reservas e os meios de ser luxuoso. Uns trinta anos atrás, Andrew Murray observou que o Senhor e Seus apóstolos não podiam ter realizado a obra que lhes foi confiada se não fossem realmente pobres. Aquele que quer levantar alguém precisa descer, como o samaritano, pois a maioria infinita da raça humana sempre tem sido e ainda é pobre" (A. N. Groves).

Diz-se que há certas possessões materiais necessárias para a vida do lar. Está certo.
Diz-se que negociantes cristãos precisam de um certo capital para continuar um negócio. Está certo.
Diz-se que há posses, como um automóvel, que podem ser usadas para a glória de Deus. Também está certo.
Mas, além destas necessidades legítimas, o cristão deve viver frugal e sacrificadamente para a causa do Evangelho.
"O seu lema deve ser: Trabalhar bastante, consumir pouco, dar muito e tudo para Cristo" (A. N. Groves).

Cada um de nós tem responsabilidade perante Deus, com respeito à interpretação de renunciar a tudo. Um cristão não pode interpretar para outro; cada um tem que agir de acordo com a sua própria convicção diante de Deus. É um assunto absolutamente pessoal.
Se, como resultado de tal convicção, o Senhor elevar um cristão a um grau de devoção até então desconhecido, mão haverá lugar para orgulho pessoal. Quaisquer sacrifícios que fizermos não serão sacrifícios, quando vistos à luz do Calvário, Além disto tudo, damos ao Senhor apenas aquilo que não podemos guardar de jeito nenhum e o que já cessamos de amar.

"Não é nenhum insensato aquele que dá o que não pode guardar para ganhar o que não pode perder" (Jim Elliot).


EMBARAÇOS AO DISCIPULADO
Qualquer pessoa que quiser seguir a Jesus pode ter a certeza de que lhe aparecerão, escapes, tentando desviá-la de seu intento. Ela terá várias oportunidades para voltar. Outras vozes a chamarão, oferecendo-se para diminuir-lhe alguns centímetros de sua cruz. Doze legiões de anjos estão dispostos a livrá-la do caminho de renúncia própria e de sacrifício.
Isto está notavelmente ilustrado na passagem dos três pretendentes ao discipulado que permitiram que outras vozes sobrepujassem a voz de Cristo.


"Indo eles caminho fora, alguém Lhe disse: Seguir-Te-ei para onde quer que fores, Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse Jesus: Segue-Me. Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus insistiu: Deixa a os mortos sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus. Outro Lhe disse: Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para, traz, é apto para o reino de Deus" (Luc. 9:57-62).


Três homens desconhecidos chegaram-se face a face a Jesus Cristo. Sentiram um impulso dentro de si mesmos para segui-Lo. Entretanto, eles permitiram que alguma coisa permanecesse entre as suas almas e a completa dedicação" a Jesus Cristo.


O SENHOR APRESSADO DEMAIS
O primeiro homem tem sido chamado Sr. Apressado Demais. Ele entusiasticamente se ofereceu para seguir a Jesus em qualquer lugar. "Seguir-Te-ei para onde quer que fores". Não haveria preço alto demais. Não haveria cruz pesada demais. Não haveria caminho difícil demais.
À primeira vista, a resposta do Salvador parece não ter conexão com a oferta, feita com toda a boa vontade, do Sr. Apressado Demais. Jesus disse: "As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça". Realmente, a reposta do Senhor foi bem apropriada. 

Foi como se tivesse dito: "Você se diz pronto a seguir-Me, onde quer que seja, mas será que está pronto a ficar sem conforto material desta vida? As raposas têm mais do conforto deste mundo do que Eu. As aves têm ninhos que podem chamar seus, mas Eu sou um viajante sem lar no mundo feito por Minhas próprias mãos.
Você está pronto a sacrificar a segurança de um lar para Me seguir? Está pronto a deixar os confortos legítimos da vida para que possa Me servir com toda a devoção?"
Evidentemente, não estava pronto, pois não ouvimos mais dele nas Sagradas Escrituras. Seu amor pelas conveniências terrenas era maior do que a sua dedicação a Cristo,


O SENHOR VAGAROSO DEMAIS
O segundo homem tem sido chamado o Sr. Vagaroso Demais. Este não se ofereceu, como o primeiro homem; porém, o Salvador o chamou para ser um seguidor. Sua resposta não foi uma recusa imediata. Este e não estava completamente desinteressado no Senhor. Porém, houve uma coisa que ele quis fazer antes de seguir a Jesus. Esse foi o seu grande pecado. Este colocou seus interesses antes dos direitos Ide Cristo. Note sua resposta: "Permite-me ir primeiro sepultar meu pai".
Ora, é perfeitamente legítimo para um filho mostrar respeito a seus pais. Se um pai morreu, está certamente dentro dos limites da fé cristã que tenha um enterro decente.
Mas as atenções legítimas da vida tornam-se positivamente pecaminosas quando tomam a prioridade sobre os interesses do Senhor Jesus. A ambição real da vida deste homem se expõe em seu pedido: "Permite-me ... primeiro ...".


As outras palavras ditas foram apenas camuflagem para esconder seu desejo fundamental de colocar-se a si próprio em primeiro lugar.
Aparentemente, ele não compreendeu que as. palavras "senhor, permite-me primeiro" são um absurdo moral e uma impossibilidade. Se Cristo é o Senhor, então Ele tem que ser o primeiro. Se o pronome pessoal "eu" está no trono, Cristo não tem o controle, O Sr. Vagaroso Demais tinha um serviço a fazer e deixou que este serviço ocupasse o primeiro lugar. Foi, portanto, apropriado o que Jesus lhe disse: "Deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos. 

Tu, porém, vai e prega reino de Deus". Poderíamos parafrasear as Suas palavras da seguinte maneira: "Há certas coisas na vida que somente um cristão pode fazer. Veja se não gasta a sua vida fazendo aquilo que um homem não convertido pode fazer tão bem quanto você. Deixe os mortos espirituais enterrarem os mortos físicos. Que a maior motivação de sua vida seja ampliar a Minha causa na terra".
Parece que o preço era muito alto para o Sr. Vagaroso. Demais para pagar. Ele passa do palco do tempo a um silêncio anônimo.

Se o primeiro homem mostrou o conforto material como um obstáculo ao discipulado, o segundo, podemos dizer que mostrou um serviço ou uma ocupação como tendo primazia sobre o maior motivo de ser de um cristão. Não é que haja alguma coisa de mal em um emprego secular; a vontade de Deus é que o homem trabalhe para poder suprir as suas necessidades e as de sua família. Mas a vida de um discípulo verdadeiro exige que o reino de Deus e a Sua justiça sejam buscados em primeiro lugar; que o cristão não gaste a sua vida fazendo o que uma pessoa não regenerada poderia fazer tão bem, senão melhor; que a função de um emprego seja apenas suprir as necessidades presentes, enquanto a vocação principal de um cristão deve ser o pregar o reino de Deus.


O SENHOR MOLE DEMAIS
O terceiro homem chama-se Sr. Mole Demais. É parecido com o primeiro quando se oferece ao Senhor para segui-Lo. É parecido com o segundo quando usa aquelas palavras contraditórias: "Senhor, deixa-me... primeiro". Ele disse: "Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa".
Novamente temos que confessar que, em si, não houve nada errado, basicamente, com o seu pedido. Não é contrário com a lei de Deus mostrar um interesse amoroso aos parentes ou observar as regras de etiqueta quando os deixamos. Qual foi, então, o ponto no qual este homem foi reprovado? Foi este: ele permitiu que os laços afáveis da natureza substituíssem o lugar de Cristo.

E assim, com Seu discernimento penetrante, o Senhor Jesus disse: "Ninguém que, tendo pôs to a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus". Em outras palavras: "Meus discípulos não se compõem de u'a matéria egocêntrica e mole, tal como você mostrou ser. Eu quero aqueles que estejam dispostos a renunciar aos laços familiares, que não sejam perturbados por parentes sentimentais, que Me coloquem acima de qualquer outra pessoa em suas vidas".
Somos forçados a concluir que o Sr. Mole Demais deixou Jesus e foi-se embora triste. Suas aspirações, demasiadamente seguras de ser um discípulo, tinham-se despedaçado nas rochas dos laços agradáveis da família. Talvez fosse sua mãe que em lágrimas dissesse: "Você quebrará o coração de sua mãe se me deixar para ir ao campo missionário."
Nós não sabemos. Sabemos apenas que a Bíblia bondosamente não menciona o nome desse homem pusilânime que, por voltar a traz, perdeu a maior oportunidade de sua vida e mereceu o epitáfio: "Não apto para o reino de Deus".


SUMÁRIO
Estes são três dos embaraços principais ao discipulado verdadeiro, ilustrados por três homens que não estavam dispostos a pagar o preço de seu discipulado.
Para o Sr. Apressado Demais era o amor ao conforto do mundo.
Para o Sr. Vagaroso Demais era a primazia de um emprego ou ocupação.
Para o Sr. Mole Demais era a prioridade dos amorosos laços de família.
O Senhor Jesus ainda chama, como sempre tem chamado, homens e mulheres para Seguirem-No heroica e sacrificadamente.
Os caminhos de escape ainda se apresentam com palavras solícitas: "Poupa-te! Longe de ti isto!"

 
Poucos estão dispostos a responder:
"Jesus, a minha cruz tomei, 

Para tudo deixar e a Ti seguir. 

Nu, pobre, desprezado, desamparado, 

Desde já meu tudo serás. 

Pereça cada almejada ambição, 

Tudo que procurei, esperei ou conheci. 

Quão rica é minha condição, 

Pois Deus e o céu são meus. 

Permite que o mundo me deixe, me despreze, 

Também o fizeram ao meu Salvador. 

As aparências e os corações humanos me decepcionam, 

Porém, falso, como eles, não és.

Enquanto gozo do Teu favor, 

Deus de amor, poder e sabedoria, 

Os inimigos podem odiar-me e os amigos afastar-se. 

Mostra o Teu rosto e tudo se ilumina". 

(H. F. Lyte).


Por William MacDonald - Abril de 1966

14. A que devemos ser leais?

O que você pensa de uma pessoa que diz: 

"Meus pais eram membros desta denominação. Eu nasci nela e eu morrerei nela".

Você dirá: "Penso que ela está errada ao dizer isso" 

"Sim, mas porque ela está errada? "

"Suponho que seja porque ela assume que sua denominação está certa e sempre estará certa".

"Bem, então, a qual denominação ou grupo, ela deve ser leal?"

"Suponho que ela não deva ser leal a nenhuma denominação, porque nenhuma denominação é perfeita".

"Uma questão final. Se ela não deve ser fiel a nenhuma denominação ou grupo cristão, a que ela deve ser leal?"

"Ela deve ser leal ao Senhor e aos princípios de Sua Palavra".


Sim, naturalmente! Esta é a única resposta correta. É um erro desenvolver uma lealdade eterna a qualquer comunhão cristã, não importa o quanto escritural ela possa ser naquele momento.Mesmo supondo que você rejeite toda a ideia da denominação. Suponha que você se reúna com cristãos que rejeitam qualquer nome sectário. Suponha, por exemplo, que eles se refiram a eles mesmos pelo nome inócuo de "a assembleia".

Busquem se aderir ao ensinamento da Palavra. Deveria você lançar todo sua sorte com eles permanentemente e ser leal somente a eles?
Se você o fizer, descobrirá que está em uma posição difícil. Você está entregue a um grupo que quase invariavelmente muda com o passar dos anos.Esta tem sido a história de quase toda comunhão cristã. Tendências liberais se arrastam para dentro dela. O zelo e a carnalidade dá lugar ao formalismo. 

Uma hierarquia denominacional se desenvolve. Logo se pode escrever "Icabo" sobre todas as coisas – a glória se foi (1 Samuel 4:21).
Então mais uma vez, se você é leal a um grupo ou assembleia, sempre se levanta a questão: "Com quem particularmente devo concordar?" Há uma grande diferença entre os grupos de igrejas locais, bem como há grande diferença entre os indivíduos. Alguns são abertos, outros são exclusivos. 

Alguns conservadores, outros liberais. Alguns têm pastor que preside sobre a congregação, outros repudiam o ministério de um só homem. Não existem duas assembleias exatamente iguais.Assim, existe um problema real. A que assembleias devemos ser leais?


Devemos nós cegamente nos subscrever a todas as assembleias que podem estar listadas em um catálogo de endereços semioficial? 

Parece óbvio que não podemos consistentemente fazer isso. Devemos julgar cada assembleia individualmente pela Palavra de Deus, quanto ao que diz respeito à nossa própria afiliação pessoal.

Aqui está um outro problema. Se a minha lealdade deve ser a um grupo particular das igrejas locais, qual deve ser a minha atitude em relação a outros grupos cristãos que podem de alguma forma ser tão restritos ao padrão do Novo Testamento quanto o meu?

 Como posso avaliá-los? 

Simplesmente aceno para eles dizendo: "Eles não estão entre 'nossas' assembleias". Eu os aceito ou os rejeito pelas suas atividades que são relatadas em uma das "nossas" revistas?


Então existe o assunto dos obreiros cristãos individuais "fora do nosso círculo". Como podemos avaliá-los? 

Pergunto: "Ele foi recomendado por uma das nossas assembleias?" 

"Ele está conosco?" Ou inquiro se ele está servindo o Senhor de acordo com os princípios do Novo Testamento?

Certamente a política mais fácil é julgar indivíduos ou grupos por estarem, ou não "conosco". 

Isso não requer exercício espiritual ou discernimento.Mas é uma falsa e perigosa base de julgamento. Ela suplanta a Palavra de Deus com a nossa autoridade final. Ela assume um antecedente de que "nós" estamos corretos em mossa posição e que todos os demais devem se conformar conosco.Ela nos conduz à inconsistência, embaraçamento e confusão.Os cristãos devem ser ensinados a testar todas as coisas pelas Escrituras. Esta é a nossa única autoridade. 

A questão não é: "Como fazemos em 'nossas assembleias'?" mas "O que a Bíblia ensina sobre isso?

"Nossa lealdade deve ser primeiro, último e sempre ao Senhor e aos princípios de Sua Palavra. E não devemos nunca assumir cegamente que qualquer grupo de crentes tem um monopólio da verdade, está apegado ao Novo Testamento em sua totalidade, ou está imune ao desvio, ou afastamento. Toda geração deve se guardar contra o perigo de escorregar para dentro da forma denominacional e sectária de pensar."

Através dos séculos, tem havido grandes movimentos do Espírito Santo no qual certamente verdades têm sido recuperadas do entulho da tradição, formalismo e ritualismo. A primeira geração, isto é, os vivos no tempo destes movimentos foram adestrados com relação aos princípios escriturais envolvidos. 

Mas então a segunda e a terceira geração tenderam a seguir o sistema rotineiramente porque seus pais estavam ali, e porque eles mesmos foram criados ali. Houve um declínio da verdadeira convicção e um incremento na ignorância das bases bíblicas do padrão seguido.
Deste modo, a história da maioria dos movimentos espirituais tem sido convenientemente descrita na série de palavras:homem...movimento...máquina...monumento.
No princípio há um homem, ungido de uma forma especial pelo Espírito Santo. Como outros guiado para a verdade, desenvolve um movimento.


Mas lá pela segunda ou terceira geração, as pessoas estão seguindo um sistema com precisão como uma máquina sectária. Finalmente nada é deixado além de um inanimado monumento denominacional.

Se você fosse perguntar para uma amostragem de cristãos: "Porque você se reúne na comunhão daquela igreja?"

Quantos deles você acha que poderiam claramente dar uma resposta bíblica? Não muitos! Há uma ignorância generalizada da verdade sobre a igreja do Novo Testamento, e por isso uma fraqueza geral de convicção sobre o assunto. Como podemos ter fortes convicções sobre algo que não conhecemos ou entendemos?

Na assembleia saudável do Novo Testamento, aqueles que estão na comunhão sabem porque estão ali. Eles não são degustadores de sermão ou seguidores de homens, mas cristãos que estão bem embasados, na verdade, do evangelho e da igreja. Eles estão preparados para julgar todas as coisas pela Palavra.Eles não estão inalteravelmente comprometidos a nenhum grupo particular de assembleias. Se se desenvolvem tendências que não são bíblicas e desonram o Senhor, buscarão a direção do Espírito Santo para a companhia daqueles que se encontram em obediência à Bíblia.Vamos examinar algumas das grandes verdades concernentes à assembleia que são encontradas no Novo Testamento e às quais devemos ser leais.


1. A UNIDADE DO CORPO
Uma das mais óbvias verdades é a unidade do corpo de Cristo. Há um só corpo, uma igreja, uma assembleia (Ef 4:4).Porque isso é verdade, todos os crentes são responsáveis por dar testemunho disso. Quando nos reunirmos, deveríamos expressar praticamente isso. Nada do que fazemos ou dizemos poderia negá-la.

Muitos crentes veem muito claramente que seitas e denominações são uma negação da verdade do um só corpo (1Co 1:10-13; 3:3).As seitas criam a impressão de que Cristo está dividido e por isso deixam de representar a verdade da Palavra de Deus. Muitos de nós vemos isso muito claramente e recusamos nomes tais como Batista, Luterana, Metodista ou Episcopal. Mas nós nem sempre vemos que qualquer destes nomes que nos separam de outros membros do corpo é divisor e não escritural.Mesmo se tomamos um nome bíblico como Irmãos, por exemplo, no minuto em que o qualificamos ou o capitalizamos, transgredimos. 

É um erro para alguns crentes se identificarem como Irmão de Plymouth, Irmãos Unidos, Irmãos Cristãos, Irmãos Evangélicos, Irmãos Abertos ou Irmãos Exclusivos tanto quanto o é para outros chamarem a si mesmos de Presbiterianos ou Pentecostais."Irmão" com um "I" maiúsculo implica que existem alguns crentes que não são irmãos, ou que alguns são irmãos de forma distinta. Ouvimos as pessoas perguntarem: "Ele está entre os Irmãos?" Ou reportarem com tristeza: "Ele deixou os Irmãos".

A verdade é, naturalmente, que se ele é salvo, ele está entre os irmãos, e não pode deixar os irmãos, já que o crente está eternamente seguro.Certamente é correto que devemos nos reunir somente no Nome do Senhor Jesus Cristo, mas no instante em que falamos de nós mesmos como "Cristãos reunidos somente no Nome do Senhor Jesus", significando que o fazemos e outros não, nos tornamos uma seita.Falar de um grupo particular de cristãos exclusivamente como "o povo do Senhor" mostra uma atitude sectária. Isso nos coloca na mesma classe daqueles que em Coríntios diziam: "Eu sou de Cristo" – significando que eles eram de Cristo em exclusão a todos os demais (1Co 1:12).

Uma outra forma na qual aparece a inconsistência é o hábito de chamar uma reunião particular de cristãos em uma cidade de "a igreja" naquela cidade. Ou falar de estados, ou cidades onde "não existem igrejas".Realmente esta não é uma linguagem adequada. A igreja em qualquer cidade é constituída por todos os crentes verdadeiros ali.Dentro daquela cidade pode haver várias reuniões de cristãos. 

Adicionalmente, pode haver alguns crentes verdadeiros que não estão associados com uma comunhão local por uma ou outra razão; eles podem estar debaixo de disciplina, por exemplo. Todos compõem a igreja na cidade, embora nem todos se reúnam em um só lugar.Alguém dirá: "Bem, como posso distinguir minha igreja de outras igrejas evangélicas em Curitiba?" A resposta é: "Ao invés de chamá-la 'igreja' em Curitiba, refira-se a ela como a igreja que se reúne na Rua Belo Horizonte 372".

Então você não terá negado a unidade do corpo.Não devemos nos esquecer que somos cristãos, crentes, irmãos, discípulos e santos – e assim são todos os que foram redimidos pelo sangue precioso de Cristo. Negar isso através de qualquer tipo de sectarismo, denominacionalismo ou exclusivismo é negar a verdade da Bíblia e ser culpado de carnalidade e soberba.


2. TODOS OS CRENTES SÃO MEMBROS
A segunda grande verdade na qual devemos nos estabelecer é que todos os verdadeiros crentes são membros do corpo de Cristo e, portanto, membros uns dos outros (1Co 12:12-26). Sendo assim, é necessário que reconheçamos todos os cristãos como nossos irmãos.Nem sempre é fácil fazê-lo. 

Os homens ergueram cercas. As pessoas são mais leais às suas próprias denominações do que são ao corpo de Cristo.Elas não reconhecem a unidade do Espírito.Mas a dificuldade toda não está com as outras pessoas. Mesmo em nosso coração, há muitas vezes o desejo de ser diferente, de pensar de nós mesmos como tendo uma compreensão sobre a verdade da igreja ou de alguma outra verdade. Muitas vezes achamos que é difícil favorecer aqueles que não veem exatamente como nós vemos. 

Ao invés de nos alegrarmos quando outros são guiados a uma certa medida da verdade divina, estamos prontos para ressaltar os pontos nos quais eles ainda são diferentes de nós. E muito frequentemente disputamos mais asperamente com aqueles cuja ordem da igreja é notavelmente similar à nossa.Como então podemos dar uma expressão prática à verdade que todos os crentes genuínos são membros do corpo de Cristo?Primeiro de tudo, devemos amá-los porque pertencem a Cristo (1Jo 4:11). 

O fato de que eles possam diferenciar de nós em várias áreas de doutrinas ou práticas não deve impedir nosso amor por eles.Devemos orar por eles (1Sm 12:23). Este é um dever que temos para com todo homem, especialmente àqueles que são os domésticos da fé.Terceiro, devemos buscar compartilhar com eles as verdades preciosas que Deus nos mostra na Palavra (2Tm 2:2).

Isso não significa que devemos adotar uma política deliberada de roubar ovelhas, isto é, frequentar outros grupos evangélicos com o propósito específico de conduzir pessoas para a "nossa própria comunhão". Em nenhum lugar da Bíblia somos chamados para este ministério que causa divisão. 

Antes, em nosso contato individual com outros e quando guiados pelo Espírito Santo, devemos ministrar Cristo a eles como o Centro da reunião do Seu povo.Devemos "ensinar a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo" (Cl 1:28).Não somente devemos amar os outros crentes, orar por eles e buscar os edificar, mas também devemos aprender deles (1Co 12:21).É um erro pensar que temos toda a verdade e que não podemos nos beneficiar espiritualmente com aqueles de fora da "nossa própria comunhão".

Todo membro tem algo para contribuir com o restante do corpo.Quaisquer barreiras levantadas por homem que empeçam os crentes de ajudar outros crentes são contrárias à vontade de Deus.Devemos nos abster da crítica, ciúme, fofoca, maledicência ou julgamento (Lc 6:37).

Todo crente é um despenseiro do Senhor. Somos claramente proibidos de julgar outros antes da hora, isto é, antes da volta do Senhor (1Co 4:5).Paulo pergunta: "Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai" (Rm 14:4). 

E quando Pedro se preocupou com o serviço de João ao Senhor, Jesus disse: "Que tens tu com isso? Segue-me tu" (Jo 21:22).

Devemos nos alegrar em todo lugar onde Cristo é pregado, quer ou não concordemos com os métodos e motivos. Paulo escreveu aos Filipenses: "Verdade é que alguns pregam a Cristo até por inveja e contenda, mas outros o fazem de boa mente; estes por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho; mas aqueles por contenda anunciam a Cristo, não sinceramente, julgando suscitar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que, de toda maneira, ou por pretexto, ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei" (Fp 1:15-18).

O fato de que desta maneira reconhecemos todo crente verdadeiro como membro do corpo de Cristo, NÃO significa que adotaremos suas orientações e práticas. Somos responsáveis em obedecer à Palavra de Deus como Ele tem revelado a nós. Podemos amar as pessoas sem amar o sistema onde elas se encontram e sem nos tornarmos parte dele. Quanto à preocupação com o nosso próprio caminho, devemos ser inflexivelmente obedientes à Bíblia.Quanto à preocupação com os outros crentes, devemos ser pacientes e tolerantes.


2. CRISTO, O CABEÇA DA IGREJA
Uma terceira verdade importante na qual devemos nos estabelecer é que Cristo é o Cabeça da Igreja (Ef 5:23, Cl 1:18).Isso significa que devemos confiar a Ele a direção e orientação dos negócios da assembleia local.

Todos nós percebemos que a verdade do senhorio de Cristo é negado quando um papa, por exemplo, reivindica ser o cabeça da igreja na terra.Mas devemos nos guardar contra o erro mais sutil de pensar que algum de nós tem algum direito de dirigir os negócios da assembleia. 

É tão fácil prestar serviço com os lábios ao Senhorio do Cristo, e ainda assim manobrar, influenciar e ser conivente de uma forma carnal a fim tomar o nosso próprio caminho.Ao invés de esperar nEle em jejum e oração, aplicamos métodos negociais de sucesso e a sabedoria deste mundo. Tudo isso é a negação prática do Senhorio de Cristo. Se Cristo é o Cabeça, então tudo deve ser feito sob Sua orientação e controle.


3. O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES
Então há uma quarta verdade – a verdade de que todos os crentes verdadeiros são sacerdotes. Em (1Pe 2:5-9), aprendemos que somos sacerdotes santos e reais.Como sacerdotes santos oferecemos sacrifícios espirituais a Deus por Jesus Cristo (v.5). Estes sacrifícios incluem:

  • O sacrifício do nosso corpo (Rm 12:1-2).
  • O sacrifício do nosso louvor (Hb 13:15).
  • O sacrifício dos nossos bens (Hb 13:16).


Como sacerdotes reais mostramos as excelências dEle que nos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz (1Pe 2:9). Isso significa que todo crente deve testemunhar de Cristo, tanto pela vida quanto pelas palavras proferidas.Como sacerdotes santos entramos no santuário para adorar. Como sacerdotes reais saímos – para o mundo para testificar.

A ideia de que a adoração e o serviço são funções de um grupo especial conhecido como sacerdotes ou clérigos é desconhecida para o Novo Testamento.Todos os crentes são sacerdotes devem ser livres para exercerem suas funções sacerdotais.


4. A NEGAÇÃO DO MINISTÉRIO INDIVIDUAL
Existem algumas igrejas locais que repudiam o sistema clerical, recusando-se a ter o que se poderia chamar de ministério de um só homem. E ainda assim, se você tiver que perguntar a vários cristãos destas igrejas por uma defesa escritural sobre sua posição, dificilmente dariam uma resposta. Por que é errado o ministério de um só homem na assembleia local?

A primeira razão é porque isso não é encontrado no Novo Testamento.As assembleias nos tempos apostólicos consistiam de santos, bispos e diáconos (Fp 1:1). 

Os bispos, ou anciãos, são sempre citados no plural. Não há um ancião sobre toda a igreja, mas vários anciãos em cada igreja. Os historiadores da Bíblia concordam que o sistema clerical surgiu no segundo século; ele não era encontrado nas igrejas do Novo Testamento.A segunda razão, é que o sistema clerical geralmente ignora o propósito pelo qual os dons de evangelista, pastor e mestre foram dados à igreja. A função destes dons é para o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4:12). 

Em outras palavras, o serviço cristão não é uma função de nenhuma classe, mas a responsabilidade de todos os crentes.É somente quando cada um cumpre sua função que o corpo de Cristo se desenvolverá e amadurecerá. A função dos dons listados em Efésios 4:11 é para aperfeiçoar os santos ao ponto em que sejam maduros, membros funcionais do corpo. Por essa razão, estes dons particulares são ajudas temporárias, não pessoas permanentes.Quando um homem é responsável por todo ensinamento e pregação em uma igreja local, há sempre o perigo das pessoas se juntarem a ele, não ao Senhor. 

Se um homem é especialmente dotado, as pessoas são atraídas para a sua pregação. Eles comparecem porque ele está lá. Se ele se retira por alguma razão, então eles estão prontos para segui-lo, ou se isso não for possível, eles frequentemente se ajuntam em outra parte, buscando por outro homem dotado.Cristo deve ser o Centro do ajuntamento do Seu povo (Mt 18:20).Nós devemos ser atraídos pela Sua presença, não pela de um homem. 

Quando os crentes veem isso e agem assim, a assembleia local não necessita ser abalada pela partida de algum homem. Uma assembleia onde os cristãos se juntam a Cristo tem força, estabilidade e unidade.E, naturalmente, existem perigos potenciais quando todo ou a maioria do ensinamento em uma igreja local é dado por um homem. As pessoas tendem a aceitar sua palavra como oficial. Se eles não estão estudando as Escrituras por si mesmos, não estão em uma boa posição para discernir erros.Além do que, nenhum homem está apto para prover a diversidade do ministério que é possível quando o Espírito Santo tem liberdade para falar através de muitos homens. 

Devemos estar interessados não somente no ministério exato, mas também no ministério que provê uma dieta balanceada para o povo de Deus.A prescrição escritural é: "Falem dois ou três profetas e os outros julguem" (1Co 14:29).

O ministério de um só homem muito frequentemente reprime o desenvolvimento do dom em uma igreja local. Não há a mesma oportunidade para outros participarem. Alguns ministros insistem em confinar a maioria dos trabalhos a si mesmo; levam a mal quem quer que seja que se intrometa em sua ocupação.Mas mesmo quando este não é o caso mesmo onde os ministros gostariam de ver outros participando – a verdadeira natureza do sistema clerical desencoraja o assim chamado leigo de desenvolver seus dons dados por Deus.Quando um homem é assalariado pela congregação local como pregador, há frequentemente a tentação sutil de se enfraquecer a mensagem.Isso pode não ser assim, mas o fato é que por controlar o salário do ministro, a congregação muitas vezes o impede de receber o pleno conselho de Deus.

Ora, reconhecemos que existem muitos grandes homens de Deus no sistema clerical que pregam o evangelho fielmente, ensinam a Palavra, e buscam apascentar o rebanho de Cristo. E Deus os está usando.Também reconhecemos que existem muitos "ministros individuais" que não têm o espírito clerical. Eles têm um desejo sincero de ajudar os santos de todas as forma possíveis, guiar pelo exemplo, e não dominar sobre a herança de Deus.E nós também reconhecemos que é possível para alguém que não é um clérigo ter o espírito clerical. Na terceira carta de João 9-11, por exemplo, lemos sobre Diótrefes que agiu como um tirano na assembleia local.Mas resta o fato de que o sistema clerical é basicamente errado e não escritural. O mundo nunca será evangelizado da forma que Deus deseja, e a igreja nunca se aperfeiçoará de acordo com o plano divino enquanto a distinção entre clero e leigo for mantida.


5. A PRESIDÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO
Outra verdade vital que toda assembleia local é obrigada a manter e praticar é a presidência do Espírito Santo (Jo 14:16,26). Isso significa que o Espírito Santo é o Representante de Cristo na igreja sobre a terra. Ele é o Único a Quem deve ser permitido liderar o povo de Deus em oração, louvor e adoração. Ele deve ter liberdade para falar através de servos de Sua própria escolha de acordo com as necessidades espirituais do povo de Deus.Em (1Co 14:26), temos um quadro da reunião da igreja primitiva na qual havia esta liberdade do Espírito. "Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. 

Faça-se tudo para a edificação".

Quando o Espírito é deste modo livre para conduzir, haverá espontaneidade em ensinar, pregar, adorar e interceder.A maioria de nós percebe que o ministério do Espírito Santo tem sido grandemente extinto pela introdução do ritual e da liturgia.

O uso de orações impressas, de mensagens estereotipadas para certos dias do "calendário da igreja", de uma ordem prescrita para a reunião que deve ser seguida sem se desviar – estas coisas refreiam o Espírito Santo na reunião da igreja local. Mas devemos nos guardar contra as formas mais sutis de agrilhoá-lo, refreá-lo. 

Por exemplo, devemos nos guardar contra regulamentos artificiais em nossas reuniões de comunhão. Em alguns lugares, há uma lei tradicional que não deve haver ministração antes do partir do pão. Ou que a reunião não deve passar de um certo horário. Ou que na adoração não devemos discorrer longamente sobre nossos pecados ou indignidades. Ou que devemos nos sentar ou levantar quando oramos ou cantamos. Todas estas regras agrilhoam o espírito da adoração espontânea e nos conduz ao formalismo.Muitas vezes fazemos de um homem um ofensor por uma palavra.Talvez um novo crente expresse seu agradecimento a Deus por ter morrido por ele.Ele deve ser repreendido por isso? Todos nós sabemos que Deus, o Pai, nunca morreu. E sem dúvida ovo crente também o sabe. Mas em sua própria consciência de tomar parte publicamente, ele está apto para se expressar pobremente. Deveria ele ser envergonhado por seu primeiro ato de fraqueza na adoração pública? Não é melhor ouvir seu pensamento sincero de adoração defeituosa do que não ouvi-lo?

Falando de uma maneira geral, cremos que o Espírito Santo guiará a adoração do Seu povo ao longo de um certo tema. Mas suponha que um irmão proponha um hino que parece ser um tanto sem conexão com este tema. 

Ele deve ser por isso impedido? Não é melhor cantar o hino e orar para que ele amadureça suficientemente para discernir o tema da reunião, então o fará sem perder nada da sua simpatia e afeição pelo Senhor?Isso nos faz lembrar de um certo pregador a quem foi perguntado:"O que você faria se algum irmão propusesse um hino que obviamente não estivesse no Espírito?" Ele respondeu: "Eu o cantaria no Espírito".Ainda que busquemos dar ao Espírito Santo Seu próprio lugar na assembleia, tomemos cuidado com as regras que O agrilhoam e que matam a espontaneidade e a adoração não afetada.


7. CADA ASSEMBLEIA É INDEPENDENTEMENTE RESPONSÁVEL PERANTE CRISTO
Há um outro princípio na Palavra de Deus que deve nos guiar em relação à assembleia, a saber, que cada assembleia é independentemente responsável unicamente perante Cristo. Não existem no Novo Testamento tais coisas como uma denominação, uma federação de igrejas, ou um círculo de comunhão. Não existe um quartel-general na terra, exercendo autoridade de nenhum tipo sobre as assembleias locais.O quartel-general da igreja está onde está o Cabeça – no céu. 

Toda igreja local deve ser cuidadosa em evitar qualquer coisa que possa guiá-la a um controle centralizado na terra.Esta centralização é o mal que acelerou a expansão do modernismo. 

Os liberais tomaram o controle dos quartéis-generais denominacionais e dos seminários. Eles sabiam que se pudessem controlar os quartéis-generais, então consequentemente poderiam controlar todas as igrejas.A formação de um grupo central geralmente vem da pressão do governo ou de um desejo de obter certos benefícios do governo. Mas então a centralização facilita ao governo totalitário suprimir a igreja. 

Se eles capturam alguns poucos líderes denominacionais, eles não podem controlar as atividades de toda a denominação. A vontade de Deus é que cada assembleia deve ser uma unidade independente, responsável diretamente perante o Senhor Jesus. Isso impede a expansão de erros, e habilita a igreja a seguir escondida mais facilmente em tempos de perseguição.


8. A REGRA DOS DONS NA IGREJA
Já tocamos brevemente nas regras dos dons na Igreja. Verdadeiramente todo crente tem algum dom, alguma função especial no corpo de Cristo.Adicionalmente existem os dons especiais de serviço de evangelismo, apascentamento e ensinamento (Ef 4:11). Os dons mencionados foram dados para ajudar todos os santos a encontrarem seus dons e exercitá-los. 

Eles foram dados para aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, e deste modo edificar o corpo de Cristo. Disso fica claro que: A obra do ministério não é para uma classe especial de cristãos, mas para todo o povo de Deus.A obra dos dons especiais de Efésios 4 é para aperfeiçoar os cristãos até o ponto onde eles possam prosseguir por si mesmos, e então irem em frente.Em outras palavras, os santos não devem se tornar perpetuamente dependentes de tais dons. 

Pelo contrário, estes dons devem desenvolvê-los para um trabalho no mais curto tempo possível, e então se mudar para novas áreas de oportunidade.Exatamente como os pais começam de forma correta a ensinar seus filhos a tomarem conta de si mesmos, assim devem estes dons ensinar as criancinhas em Cristo.Agora isso levanta uma questão: "Quanto tempo devem tais dons permanecer em uma assembleia local". 

Há somente uma resposta possível à questão – até que ele alcance amadurecer os santos para servirem. 

Paulo ficou em Tessalônica "por três sábados" (At 17:2), e ainda deixou para traz uma assembleia ingênua – se auto-suportando, auto-governando e auto-propagando. Tanto quanto o registro diz respeito, o máximo que ele permaneceu em um lugar foi os três anos que passou em Éfeso (At 20:31). 

Não é exatamente uma questão de quanto tempo um homem permanece em um lugar, mas mais de qual é o seu propósito. O que ele está tentando fazer? Ele está tentando equipar os santos para prosseguirem por si mesmos?

A esse respeito, estes dons devem se guardar contra a tendência natural de se aninharem, e pensarem deles mesmos como tendo uma vida comprometida em um lugar qualquer. (Isso é tão verdade para um missionário estrangeiro quanto para os obreiros na pátria.) Eles devem se manter móveis. E devem também se guardar contra outro perigo sutil, que é o de sentirem que os santos não podem prosseguir sem eles. 

Quando estão ausentes, a assistência cai; isso faz com que pensem que não devem partir.Temem que toda a assembleia se despedace. Isso traz vanglória em pensar que são indispensáveis. E algumas vezes isso toca nosso orgulho em pensar que não somos mais necessários em um lugar em particular.Realmente devemos nos alegrar quando chegar essa hora.Enquanto falamos de dons, há algo mais que deve ser mencionado. No Novo Testamento, estes dons eram carismáticos, não profissionais. 

O que queremos dizer é que estes dons eram homens que eram soberanamente dotados pelo Espírito Santo, independente de treinamento ou profissão. Por exemplo, o Espírito poderia alcançar e equipar um pescador para ser um evangelista. Ou Ele poderia tomar um pastor de ovelhas para ensinar Sua Palavra. 

Ou Ele poderia suprir um carpinteiro para exercitar o ministério pastoral entre os santos.Não há nenhuma sugestão no Novo Testamento de que o treinamento profissional pode fazer de um homem um dom para a igreja. A ideia de que somente os homens que tenham escolaridade formal na Palavra estão qualificados para ministrar é repulsiva. 

O treinamento pode ser útil para um crente para obter uma compreensão das Escrituras, mas nenhuma quantidade de treinamento pode fazer de um homem, um evangelista, um mestre ou um pastor. E há sempre o perigo do profissionalismo. Se as Escrituras são abordadas em uma base filosófica, então o treinamento pode ser uma coisa mortal e perigosa.


9. A IGREJA LOCAL
Quando uma igreja local é uma verdadeira Igreja do Novo Testamento?Quando a maioria dos membros é de crentes verdadeiros? Mesmo se somente uma minoria é de crentes verdadeiros? Quando os cristãos estão reunidos no Nome do Senhor? O que qualifica um grupo para ser considerado uma assembleia local?

Realmente, o Novo Testamento não formula regras rígidas e firmes para o que é uma assembleia. Ele estabelece que onde estiverem dois ou três reunidos no Nome do Senhor, Ele está no meio (Mt 18:20). 

E as Escrituras assumem que aqueles que compõem uma assembleia são cristãos, apesar de se reconhecer também que incrédulos algumas vezes são contados sem querer (At 20:29,30).Também o Novo Testamento parece assumir a presença de anciãos e diáconos em uma assembleia normal (Fp 1:1). 

Mas, além disso, não há uma forma final para dizermos que certo grupo de cristãos é igrejas do Novo Testamento e que outro não é. Podemos ser gratos por não sermos os juízes neste caso.Se um grupo confessa ser uma assembleia cristã, então deverá manifestar a verdade da igreja universal. Deverá ser uma miniatura, uma réplica do corpo de Cristo. Deverá apresentar um retrato vivo da igreja do Deus vivo.

Agora a situação entre as igrejas locais no mundo hoje é esta. Algumas assembleias locais representam a igreja universal muito mal. Algumas o fazem mais corretamente. Nenhuma o faz perfeitamente. O que você tem é um conjunto amplo de igrejas com todos os diferentes graus de semelhança à igreja universal.Algumas igrejas obviamente não têm o direito de serem consideradas como assembleias cristãs. Estou pensando nas igrejas liberais, por exemplo, que negam toda a doutrina fundamental da fé.

Mas então temos uma ampla variedade de outras igrejas que reconhecem Jesus Cristo como o único Senhor e Salvador. Algumas são mais evangélicas que outras. 

Quem pode dizer onde está a linha que divide aquelas que são igrejas do Novo Testamento daquelas que não são? 

Devemos deixar isso com o Senhor. Nossa responsabilidade é de edificar de acordo com o padrão, isto é, mostrar uma verdadeira semelhança à igreja em nossa própria assembleia local.Certamente nenhuma assembleia tem alguma razão para se orgulhar.Se nos vemos a nós mesmos como o Senhor nos vê, murcharemos e morreremos.O orgulho espiritual é em si mesmo uma negação da verdade que estamos buscando sustentar.


CONCLUSÃO
A que devemos ser leais? Uma vez mais, enfatizamos que devemos ser leais às Escrituras, não há algum sistema religioso ou a um círculo de comunhão.

Em dias de deriva, devemos testar constantemente todas as coisas pela Bíblia e agir em conformidade.E haverá um preço a pagar. 

Seguir os princípios do Novo Testamento custa alguma coisa. Haverá reprovação do mundo e oposição de outros cristãos.Mas nossa responsabilidade é clara. Devemos obedecer a Deus e deixar as consequências com Ele.