John Nelson Darby  (1800-1882)

08/05/2024

1. Evangelizar é importante

Estou convencido de que devíamos anunciar o amor de Deus aos pecadores com muito mais vigor do que vimos fazendo até agora.

Porém, eu prefiro fazer isto perante auditórios mistos, quando provavelmente haja mais incrédulos presentes, e menos nas reuniões dos crentes.

Afinal, em se tratando de crentes, é mais importante que estes sejam mais aprofundados, na verdade.
A proclamação sempre deveria acontecer de um modo que os incrédulos reconheçam os seus pecados, e vejam que Deus não pode ter comunhão alguma com pecado. Então também compreenderão bem a necessidade da reconciliação.

E neste ponto, então, Cristo pode ser contemplado, e consigo a remissão e a justiça.
A santidade divina não tolera o pecado em sua presença, e Sua justiça o condena. Tais fatos devem ser compreendidos pelo pecador, para que saiba a razão pela qual a obra do amor se fez necessária. 

Este amor, de igual forma, também deve ser anunciado sem restrições. Já por isso muitas consciências, nas quais já se manifestam necessidades espirituais, são convencidas do pecado e conduzidas a discernir plenamente o seu estado. Contudo, como também já mencionei, é muito proveitoso promover o convencimento do pecado em conformidade com a justiça na ocasião em que a graça está sendo plenamente apregoada; e ambos aspectos estão associados em Cristo. Eu considero que - justamente hoje - seja extremamente importante que pregadores saiam a este mundo com a mensagem do amor especial aos pecadores. 

Amor, segundo o caráter, tal como foi manifesto em Cristo; amor, que leva o pecador a tomar conhecimento de sua condição pecaminosa, e não faça pouco caso do pecado. Amor, que se manifesta em graça aos pecadores; graça, que vigora mediante a justiça e assim se manifesta como a graça perfeita. 

Por vezes eu chego a pensar que o amor de Deus tem sido apregoado como se fosse um tipo de presente que o pecador apenas precisa aceitar. E Deus se alegra nisto. Porém, é oportuno que, nesta ocasião, o pecador tenha profunda ciência de sua condição de culpado perante Deus... Eu tenho o evangelizar como um dos serviços mais ditosos que há. 

Mas eu também anseio que os santos sejam firmados, na verdade e na glória de Cristo.

Como é ditoso sabermos existir Alguém que efetua tudo!
Por outro lado, eu ficaria profundamente abatido caso constatasse que os princípios peculiares praticados pelos "Irmãos" e seus trabalhos entre as assembleias dos santos (que são corretos e não devem ser afrouxados de forma alguma) os levassem a abrir mão do trabalho entre as almas não convertidas. 

Aliás, no início, se via justamente o contrário! Quando o amor está em operação - e é necessário que esteja operante caso quisermos que as reuniões sejam abençoadas - então as atividades (para o Senhor) realizadas no mundo também se refletem em bênçãos para as reuniões. O único ponto a observar é que tudo ocorra sob a operação do Espírito Santo.
Eu quero me distanciar o máximo de pensar que a evangelização seja uma "coisa inferior". 

Há mais de vinte anos um fiel irmão, que considerava relevante que nos ocupássemos com a irmandade e a conduta dela, me culpou por me dedicar demasiadamente à evangelização. Eu, porém, não o lamento ... nesta época que vivemos tal trabalho se reveste da maior importância. 

E Deus tem inserido muitos nele. É verdade também que muitos se manifestam superficiais, de modo que ainda se faz necessário uma obra que toque as consciências mais a fundo; porém agora - tanto mais próximo estivermos do fim - me parece que Deus está disposto a constranger as almas a buscarem um abrigo seguro.

Graças a Deus por isso! E existe um empenho maior dos irmãos também neste sentido. Porém eu creio que sempre será assim: que a bênção "dentro" da assembleia depende diretamente da medida do espírito evangelizador evidenciado "fora" dela. 

E a razão para isto é bem simples: a bênção é decorrente da presença de Deus; e Deus é amor, e é o amor que me faz procurar as almas. Não se trata, de forma alguma, de negligenciar ou desdenhar o cuidado pelos santos. Não há nada mais importante no seu devido lugar; porém tenho constatado que, onde o amor de Deus está mais evidente, estas duas coisas andam juntas.

A devoção ao evangelismo tampouco implica negligenciar aquelas coisas que se convencionou chamar de "princípios dos irmãos". Porém, Deus ama almas, e caso nós não as procurarmos, Ele há de colocar o seu testemunho em outro lugar. A verdade é que Ele nos ama, porém, ele não depende de nós. Que Ele nos conceda que Lhe sejamos fiéis, e então certamente os abençoará, pois sua longanimidade é grande.

Precisamos de obreiros.


Bom seria que o Senhor ainda desperte obreiros bons e dedicados, que venham aos homens diretamente da parte de Cristo, que como bons guerreiros de Jesus Cristo por vezes até aprendam a suportar dificuldades! Ele tem despertado alguns, e Seu nome seja louvado por isso! Mas precisamos de muito mais! Nós precisamos rogar ao Senhor da Seara que conceda esses obreiros! Quanto a mim, tenho avaliado que a tarefa que me foi atribuída é justamente a exposição da Palavra. 

Constato as necessidades da Igreja de Deus neste sentido e estou satisfeito com este encaminhamento, mas eu sempre amei a evangelização, aliás, foi nesta obra que eu saí. Embora tenha me dedicado mais à Igreja que ao ganhar almas, tenho, contudo, a confiança que as amo. 

Porém, entendo que a evangelização deve ser ligada à glória de Cristo.
No tocante à agitação das muitas atividades, esta passará.
Eu sempre digo aos irmãos: não se oponham a ela; tudo se encaminhará para sua medida normal. 

A evangelização é uma atividade abençoada, e Deus tem tolerância com as muitas falhas e exageros que se manifestam ali, ainda que estas sejam lamentáveis. Um dos males verificado é que as pessoas trazidas para dentro (doseio da igreja)já logo anseiam por atividades e a pregação.
Porém, tudo há de se normalizar.
A agitação irá ceder, mas a obra de Deus permanecerá.
Eu ficaria extremamente aflito se os "Irmãos" deixassem de ser um grupo de cristãos evangelizadores. 

Caso isto acontecesse, eles gradualmente também abandonariam o seu ponto de vista espiritual e muito provavelmente se tomariam sectários - mesmo que não teórica, mas praticamente -, pois não teriam mais entre si o princípio alargador do amor. Mas graças a Deus que ainda não é assim! Porém, a graça somente não basta para a conservação do testemunho. 

No início eram os irmãos - e na maioria das vezes eles eram os únicos - ocupados na evangelização.
As circunstâncias eram severas, ao ar livre em feiras livres, exposições, corridas, regatas e em quaisquer outros lugares. As reuniões cresciam e surgiu a necessidade do cuidado pelas almas, embora o evangelizar prosseguisse e fosse abençoado, bem como, de certa forma, continua sendo ainda em muitos lugares. 

Entrementes outros entraram nos campos e verdadeiramente os sucederam segundo Deus.

2. Louvar a homens

Carta escrita por John Nelson Darby
ao Editor de um de seus livros.


Meu caro amigo e irmão em Jesus Cristo,


Deu-me muita satisfação ver sua tradução de meu livro. Tive o grato prazer de lê-la, melhor dizendo, de ter alguém que a lesse para mim, aqueles momentos dos quais o Senhor nos diz, como disse aos apóstolos: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco" (Mc. 6:31).


Mas não posso deixar de dizer-lhe, meu caro amigo, que o prazer que a aparência do seu trabalho me trouxe foi, em certa medida, abatido pela opinião demasiado favorável que você expressou a meu respeito no prefácio. Antes que tivesse lido uma palavra sequer de sua tradução, presenteei a um mui querido e sincero amigo com um exemplar, e ele mencionou o que você escreveu em seu prefácio louvando minha piedade. 


O texto produziu em meu amigo o mesmo efeito que viria a produzir em mim, mais tarde, quando o pude ler. Espero, entretanto, que você não leve a mal o que vou dizer a respeito do assunto, o que é fruto de uma experiência razoavelmente longa.
O orgulho é o maior de todos os males que nos afligem, e de todos os nossos inimigos, não apenas é o mais difícil de morrer, como também o que tem a morte mais lenta; mesmo os filhos deste mundo são capazes de discernir isto.


Madame De Stael disse, em seu leito de morte: "Sabe qual é a última coisa que morre em uma pessoa? É o amor-próprio". Deus abomina o orgulho mais do que qualquer coisa, pois o orgulho dá ao homem o lugar que pertence a Deus que está acima de tudo. O orgulho interrompe a comunhão com Deus e atrai Sua repreensão, pois "Deus resiste aos soberbos" (1 Pd. 5:5). 


Ele irá destruir o nome do soberbo, pois nos é dito que "a altivez do homem será humilhada, e a altivez dos varões se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia" (Is. 2:17). Como você mesmo irá sentir, meu caro amigo, estou certo de que não há maior mal que uma pessoa possa fazer a outra do que louvá-la e alimentar seu orgulho. "O homem que lisonjeia a seu próximo, arma uma rede aos seus passos" (Pv. 29:5) e "a boca lisonjeira obra a ruína" (Pv. 26:28). 


Você pode estar certo, além do mais, que nossa vista é muito curta para sermos capazes de julgar o grau de piedade de nosso irmão; não somos capazes de julgar corretamente sem a balança do santuário, e ela está nas mãos daquEle que sonda o coração. Nada julgue antes do tempo, até que o Senhor venha e tome manifesto os conselhos do coração, e renda a cada um o devido louvor. Até então, não julguemos nossos irmãos, seja para bem seja para mal, senão com a moderação que convém, e lembremo-nos que o melhor e mais certo juízo é aquele que temos de nós mesmos quando consideramos aos outros melhores do que nós.
Se eu fosse lhe perguntar como sabe que eu sou "um dos mais avançados na carreira cristã, e um eminente servo de Deus", sem dúvida você iria ficar sem saber o que responder. Talvez você viesse a mencionar minhas obras publicadas; mas será que você não sabe, querido amigo e irmão — você que pode pregar um sermão edificante tanto quanto eu — que os olhos veem mais do que os pés alcançam? 


E que, infelizmente, nem sempre somos o que são os nossos sermões? "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós" (II Co. 4:7). Não lhe direi a opinião que tenho de mim mesmo, pois se o fizer, é provável que enquanto o faça procure minha própria glória, e, enquanto estiver buscando minha própria glória, possa parecer humilde, o que não sou.
Prefiro dizer-lhe o que o nosso Mestre pensa de mim — Ele que sonda o coração e fala a verdade, que é "o Amém e a fiel Testemunha", e que tem falado frequentemente no mais íntimo do meu ser, pelo que agradeço a Ele; creia-me, Ele nunca me disse que sou um "eminente Cristão e avançado nos caminhos da piedade". 


Ao contrário, Ele me diz bem claramente que se eu procurasse o meu próprio lugar, iria encontrá-lo como sendo o do maior dos pecadores, pelo menos dentre os que são santificados. E devo dar mais crédito ao julgamento que Ele faz de mim, meu caro amigo, do que aquilo que você pensa a meu respeito.
O mais eminente Cristão é um daqueles de quem nunca se ouviu falar, algum pobre trabalhador ou servo, para quem Cristo é tudo, e que faz tudo para ser visto por Ele, e somente por Ele. O primeiro deve ser o último. Fiquemos convencidos, meu caro amigo, de louvar somente o Senhor. Só Ele é digno de ser louvado, reverenciado e adorado. A Sua bondade nunca é demasiadamente celebrada. O cântico dos abençoados (Apocalipse 5) não louva a ninguém senão Àquele que os redimiu com o Seu sangue. 


Não há no cântico uma única palavra de louvor a qualquer dos redimidos - nenhuma palavra que diga que são eminentes, ou que não são eminentes - todas as distinções estão perdidas no título comum, "os redimidos", que expressa a alegria e glória de todo o Corpo.
Empenhemo-nos em trazer nossos corações em uníssono com aquele cântico, o qual todos esperamos que nossas débeis vozes venham se unir. Esta será a razão da nossa alegria, mesmo enquanto estivermos aqui, e contribuirá para a glória de Deus, a qual é lesada pelo louvor que os Cristãos frequentemente prestam uns aos outros. Não podemos ter duas bocas — uma para louvar a Deus e outra para louvar o homem. 


Possamos, então, conhecer o que os serafins fazem (Isaías 6:2,3), quando com duas asas cobrem suas faces, como um sinal de sua confusão diante da sagrada presença do Senhor; com outras duas asas cobrem seus pés, como se tentassem esconder de si mesmos os seus próprios passos; e com as duas asas restantes voam para executar a vontade do Senhor, enquanto proclamam, "Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos: toda a Terra está cheia da Sua glória".


Perdoe-me por estas poucas linhas de exortação Cristã, as quais tenho certeza, irão, cedo ou tarde, se tornar úteis para você, passando a fazer parte da sua própria experiência. Lembre-se de mim em suas orações, enquanto rogo para que a bênção do Senhor possa pousar sobre você e seu trabalho. Se você porventura vier a imprimir uma outra edição — como espero que aconteça — por gentileza, exclua as duas frases para as quais chamei sua atenção; e me chame simplesmente: "um irmão e ministro no Senhor. Isto já é honra bastante, e não é preciso mais".

3. O Anticristo

Depois de estabeleceu as almas dos Tessalonicenses, na verdade no capítulo um da sua 2ª epístola, o apóstolo aborda o tema do erro no capítulo 2, mostrando o que tinha ocasionado as suas dúvidas. Respondendo ao erro e prevenindo os Tessalonicenses dos esforços enganadores dos sedutores, Paulo põe aqui tudo no seu lugar, apelando para as preciosas verdades de que tinha já falado. 


A reunião dos santos com Cristo, no ar uma prova inequívoca de que era impossível que o Dia de Cristo já estivesse vindo. Aliás, Paulo apresenta a tal respeito duas considerações: Primeira, o Dia não podia ter chegado, porque os Cristãos ainda não estavam reunidos com o Senhor - e, nesse dia, eles deviam vir com Ele; segunda, o Iníquo, que devia ser julgado, ainda não tinha aparecido, e, por isso, o Julgamento ainda não podia ser executado.O apóstolo já tinha instruído os Tessalonicenses no que concerne ao Iníquo, quando estava em Tessalônica, e acerca do arrebatamento da Igreja, na sua epístola precedente. 


Para que o Senhor venha como Juiz, a iniquidade deve ter atingido o seu cúmulo, e a oposição aberta contra Deus deve ter sido manifestada. Mas a verdade tem um lado bem mais precioso do que este: Os santos devem estar na mesma posição que Cristo, devem estar reunidos com Ele, antes de Ele Se manifestar em glória aos de fora. Estas verdades exigem um exame mais pormenorizado.A reunião com Cristo, antes de Ele ser manifestado, era uma verdade conhecida dos Tessalonicenses. Não é revelada aqui, mas é empregada como argumento. O Senhor Jesus deve vir, mas é impossível que Ele venha em glória sem a Sua Igreja. 


O Rei, sem dúvida, puniria os Seus súditos rebeldes; mas, antes de o fazer, queria levar para junto de Si aqueles que lhe tinham sido fiéis no meio dos infiéis, para os juntar Consigo e os honrar publicamente no meio dos rebeldes. Mas aqui o apóstolo não fala senão do próprio arrebatamento, e conjura os Tessalonicenses, por esta verdade, a não se deixarem perturbar nos seus pensamentos, como se o Dia já tivesse chegado. Esta verdade devia constituir, para os Cristãos, uma absoluta certeza, para que o apóstolo pudesse apelar para ela como para uma coisa bem conhecida e sobre a qual o coração se podia apoiar! A relação da Igreja com Cristo, a necessidade de ter uma posição semelhante à Sua, fazia do pensamento que o Dia já tinha vindo uma verdadeira loucura. Em segundo lugar, o fato, já conhecido, é confirmado, que, primeiro, deve vir a apostasia, e depois deve ser revelado o homem de pecado. Que solene verdade! Cada acontecimento toma o seu devido lugar. 


As formas e o nome do Cristianismo foram mantidos durante muito tempo, e os verdadeiros Cristãos foram desconhecidos; mas, por fim, deve haver um abandono público da fé - uma apostasia – e os verdadeiros Cristãos terão o seu verdadeiro lugar no Céu. Mas, além disso, deve erguer-se um personagem que realizará em pleno, no pecado, o carácter do homem sem Deus. E o homem de pecado - faz a sua própria vontade. E o Adão plenamente desenvolvido. E, incitado pelo Inimigo, opõe-se a Deus. O seu comportamento é uma inimizade declarada contra Deus. 

Eleva-se acima de tudo o que usa esse Nome, e apresenta-se como Deus no templo de Deus. Há, pois, apostasia, quer dizer abandono abertamente declarado do Cristianismo em geral, e um indivíduo que resume na sua pessoa, quanto ao princípio de iniquidade, a oposição contra Deus.Notar-se-á que o carácter do Iníquo, aqui, é religioso, ou antes, antirreligioso, e não se fala de um poder secular, de um poder do mundo, seja qual for a sua iniquidade. O homem de pecado dá-se um carácter religioso, exalta-se a si próprio contra o verdadeiro Deus; apresenta-se a si próprio como sendo Deus, no templo de Deus. Note-se que tudo aqui tem ligar sobre a Terra. O Iníquo não pretende ser um Deus de fé. Mostra-se como um Deus para a Terra. A profissão do Cristianismo fui abandonada. 


Em seguida o pecado caracteriza um indivíduo, um homem que leva ao máximo a apostasia da natureza humana e que, como homem, proclama a sua independência de Deus. O princípio do pecado no homem é a sua vontade própria. Procede, como vimos já, da rejeição do Cristianismo. Sob este aspecto também o mal atinge o seu cúmulo.Esse homem de pecado exalta-se acima de Deus, e, assentando-se no templo de Deus, como Deus, lança o desafio ao Deus de Israel. 

Este último traço revela-nos o carácter formal desse personagem. Está em conflito com Deus, colocando-se publicamente na posição de Deus – a presentando-se a si próprio como sendo Deus no templo de Deus. É o Deus de Israel quem fará justiça, quem mostrará a verdade, quem tomará vingança sobre ele. Cristianismo, Judaísmo, religião natural, tudo será rejeitado. O homem toma um lugar na Terra, exalta-se acima de tudo, em oposição a Deus, e, em particular, arrogar-se (porque o homem tem necessidade de um Deus, de qualquer coisa para adorar) o lugar e as honras de Deus - e do Deus de Israel! (1). 


Estes versos apresentam-nos o Iníquo em conexão com o estado espiritual do homem e com as diversas relações em que o homem se tem encontrado com Deus. Em todas essas relações ele se mostra apóstata, até se arrogar o lugar do próprio Deus - o primeiro objeto da ambição humana e a primeira sugestão de Satanás para se apossar do homem. A seguir encontramos não o estado de apostasia acerca das posições em que Deus colocara o homem, mas o homem simplesmente, insubordinado, e a obra de Satanás. O homem é o vaso do poder do Inimigo. 

O homem em quem se encontra a plenitude da divindade, o Senhor Jesus, e o homem cheio da energia de Satanás estão em oposição um com o outro. Antes havia o homem mau, exaltando-se a si mesmo, que abandonava a Deus; agora há oposição contra Deus da parte do homem insubordinado, inspirado pelo próprio Satanás. Por consequência é-nos apresentado, não como "o Mau", mas como o Iníquo "aquele que é sem lei, insubordinado". O princípio que se encontra expresso nestas duas denominações é o mesmo, porque o pecado é ser insubordinado (ver Ia de João 3:4). 


Mas, sob o nome de "Mau", o homem é considerado no seu abandono de Deus e na sua culpabilidade; sob o nome de Iníquo" é considerado como não conhecendo senão a si próprio.Há ainda uma barreira para obstar ao desenvolvimento desse estado em que todo o obstáculo será removido. O apóstolo tinha já falado aos Tessalonicenses da apostasia e da aparição do homem de pecado. 

Diz-lhes agora que eles deviam conhecer o impedimento que era posto ao progresso do mal, para impedir que ele fosse manifestado antes do tempo determinado. Paulo não nos diz que lhes tivesse dito qual era esse obstáculo, mas eles deviam sabê-lo. Conhecendo o carácter do Iníquo, a barreira revelava-se por si mesma. O ponto capital aqui é que havia um impedimento, uma barreira. O princípio do mal operava já; apenas um obstáculo impedia o seu pleno desenvolvimento, seria uma vontade sem limites - vontade que se exalta e se opõe a tudo (2). Sendo a vontade própria e sem limites o princípio do mal, o que reprime essa vontade é a barreira que lhe é oposta. 


Ora o Iníquo exalta-se acima de tudo o que usa o Nome de Deus, ou a que seja prestada homenagem; portanto, o que reprime é o poder de Deus atuando em governação neste mundo, como tendo autoridade da parte de Deus. Nem o maior abuso do poder o pode privar deste último carácter.Cristo pôde dizer a Pilatos: "Nenhum pode terias contra mim, se de Cima te não fosse dado" (João 19:11). Por muito mau que Pilatos fosse, o seu poder é reconhecido como vindo de Deus. 

Assim, embora os homens tivessem rejeitado a crucificado o Filho de Deus, de sorte que a sua iniquidade parecia ter atingido o cúmulo, a barreira subsistia ainda em pleno. Depois, tendo Deus enviado o Seu Espírito, forma a Igreja, e, embora o mistério da iniquidade ente imediatamente em ação, misturando a vontade do homem com o culto de Deus em Espírito, Deus tem sempre tido e tem ainda o objeto dos Seus cuidados sobre a Terra. O Espírito Santo tem estado aqui, na Terra; a Igreja, seja qual for o seu estado, está ainda na Terra, e Deus tem mantido a barreira. E como o porteiro tinha aberto a porta a Jesus, apesar de todos os obstáculos, Ele mantém tudo agora, sejam quais forem a energia e o progresso do mal. O mal está refreado; Deus é a fonte da autoridade sobre a Terra. 


Há alguém que se opõe, até que se retire. Ora quando a Igreja (quer dizer, a Igreja formada pelos verdadeiros membros de Cristo) tiver deixado a Terra, e, por consequência, o Espírito aqui, a apostasia tomará lugar (3), e é chegado o tempo de levantar a barreira; o freio que restringia o mal será tirado, e finalmente, embora nos não seja dito quando tempo tomará o desenvolvimento do mal, este formula-se no seu chefe: A Besta sai do abismo. Satanás (e não Deus) dá-lhe a sua autoridade; e, na segunda Besta, concentra-se toda a energia de Satanás. 

O homem de pecado está ali.Trata-se, nesta epístola, de um poder exterior e secular; mas, do lado religioso, de energia de Satanás.Quando aos instrumentos individuais que formam a barreira, podem mudar a todo o momento, e o Espírito Santo não tinha o propósito de os nomear. O que constituiria um obstáculo quando Paulo escreveu que teria um valor significativo agora; assim, se ele tivesse nomeado o que representava então o obstáculo, isso não nos serviria de nada no tempo presente. O que a Palavra de Deus tem em vista é ensinar-nos que o mal, que havia de ser julgado, operava já naquele tempo e que não havia esperança de o curar; havia apenas uma barreira, levantada por Deus, que impedia o pleno desenvolvimento do mal - princípio este sumamente importante para a História do Cristianismo.


A apostasia dos homens que abandonam a graça, seja qual for a forma que ela tome, é necessariamente, mais absoluta do que qualquer outra. Uma tal apostasia é a oposição contra o Senhor. Os que dela são culpados têm o carácter de inimigos. Os outros princípios de iniquidade humana por qualquer coisa entram no seu desenvolvimento, mas esta oposição é a causa da "destruição". 

Rejeitam a bondade de Deus; são Seus inimigos! "O que detém", em geral, é um instrumento, um meio que impede a revelação do homem de pecado, do Iníquo. Enquanto a Igreja estiver na Terra, a pretensão de ser Deus no templo não pode ter lugar, ou, pelo menos, não teria nenhuma influência. Satanás tem a sua esfera de ação, e é forçado a encontrá-la no mistério da iniquidade. Mas já não haverá mistério quando o Iníquo se apresentar abertamente como Deus no Seu templo. O que detém está ainda aí, mas há uma Pessoa ativa para manter essa barreira. 


Efetivamente, penso que é Deus, na Pessoa do Espírito Santo, que durante o tempo chamado "as coisas que são detém o mal a garante a autoridade divina no mundo. Enquanto esta autoridade subsistir, a exaltação sem limites da iniquidade não poderá Ter lugar. Por conseguinte, não duvido de que o arrebatamento dos santos não seja a ocasião de levantar a barreira e o freio que até então tinha contido o homem - embora depois haja caminhos de Deus que se desenvolvem antes da plena manifestação do mal. Este pensamento não assenta somente sobre grandes princípios; a própria passagem que agora estudamos fornece elementos que mostram qual será o estado de coisas quando o poder do mal se desenvolver. Primeiro, a apostasia já terá chegado. 

Isto não poderia ser dito, se o testemunho da Igreja subsistivesse, como no passado, ou o seu testemunho fosse ainda mais belo, despojado já de todo o elemento falso e corruptor. Segundo, a autoridade, considerada como estabelecida por Deus, já não reprime a vontade do homem em Nome de Deus; desapareceu de cena, porque o Iníquo se exalta contra tudo o que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus.


Ver o Salmo 82, onde Deus se mantém entre os deuses (juízes), para o julgar, antes de herdar de todas as nações.Antes de chegar essa hora solene em que Deus julga os juízes da Terra, esse Iníquo, desprezando toda a autoridade que vem de Deus, se arroga o lugar do próprio Deus - e isto sobre a Terra, onde o Julgamento se manifestará. E depois, terceiro, em lugar do Espírito Santo e do Seu poder manifestado sobre a Terra, encontramos o poder de Satanás, e encontramo-lo precisamente com os mesmos sinais que prestaram testemunho à Pessoa de Cristo. 

De sorte que a própria passagem, quer no que diz respeito ao homem quer no que concerne ao Inimigo, nos apresenta, nos três pontos de que falamos, a plena confirmação dos pensamentos que acabamos de expor.A Igreja os poderes estabelecidos por Deus sobre a Terra, o Espírito Santo aqui presente, como Consolador em lugar de Jesus, têm todos (pelo que respeita à manifestação do governo e da obra de Deus) dado o lugar ao homem voluntarioso, sem freio, e ao poder do Inimigo.Ao dizermos isto, falamos da esfera da profecia que agora estudamos e que, aliás, abarca a esfera do testemunho público de Deus sobre a Terra.Definitivamente, encontramos, pois, aqui o homem e a sua própria natureza, tal como ela se revelou no abandono de Deus, levando até ao fim a ação da sua vontade em rebelião contra Deus - o homem voluntarioso. 


A posição assim tomada pelo homem progride como resultado da apostasia em que ele cai ao abandonar a posição que lhe foi dada por graça e na qual a Igreja se encontrava colocada.Esse progresso tem lugar pelo desprezo de toda a autoridade governamental de Deus sobre a Terra. 

E uma vez que essa autoridade se tinha mostrado direta a propriedade na Judeia, esse desprezo e o espírito de rebelião no homem que se eleva acima de tudo (mas que não pode ser celestial, porque o Céu e toda a pretensão ao Céu são abandonados pelo homem e perdidos por Satanás) revelam-se no fato de o homem tomar o lugar de Deus no Seu templo, sob a forma mais avançada da apostasia e da blasfêmia judaicas. Ao mesmo tempo, Satanás, a quem Deus lançou o freio, atua com um poder, certamente enganador, mas que diante dos homens, lhe prestará um testemunho semelhante àquele que as obras de Cristo prestaram ao salvador. Ele atua ao mesmo tempo com toda a habilidade que a iniquidade tem para seduzir. 


É no Iníquo, no homem sem lei, que Satanás opera estas coisas. O progresso da última parte desta cena tão solene será tratado, se Deus quiser, em Apocalipse. Podemos, no entanto, acrescentar que ali se encontra esse Iníquo como sendo o falso Messias, e em particular como falso profeta, na forma do seu reino - tendo dois chifres semelhante aos de um cordeiro. Satanás fora precipitado do Céu, onde tinha sido anti-sacerdote; e agora arroga-se os títulos de Cristo sobre a Terra, como rei e sacerdote. 

Em Daniel 11, aparece como rei; aqui aparece como o homem insubordinado, e em particular como resultado da apostasia (4) e da manifestação do poder de Satanás. Numa Palavra, sem lugar da Igreja, a apostasia; em lugar do Espírito Santo, Satanás; e em lugar da autoridade de Deus, como freio a reprimir o mal, o homem insubordinado apresenta-se como sendo Deus sobre a Terra.Uma outra circunstância, já mencionada, requer um pouco mais de atenção. 


Eu disse que o Iníquo se apresenta como Messias, quer dizer, sob dois caracteres do Messias, o Rei e o de Profeta, que são só Seus caracteres terrestres.No Céu, Satanás já não tem mais nada a fazer, pois foi expulso dali, de sorte que não se trata da imitação do Sumo Sacerdócio do Senhor. A este respeito Satanás tinha, na sua própria pessoa, desempenhado um outro papel: Tinha estado anteriormente no Céu como acusado dos irmãos, mas estando a Igreja em Cima, esse acusador é dali expulso para nunca mais lá voltar. É então que ele se faz profeta e rei num homem por ele inspirado. 

Ora, nesse carácter, ele faz, embora mentindo, coisas semelhantes àquelas que têm demonstrado perante os homens a verdade da missão de Jesus da parte de Deus - as mesmas coisas pelas quais ficava provado que a missão de Jesus era divina (ver Atos 2:22).No Grego, as palavras são idênticas (5). 


Recordarei aqui um outro solene fato para completar este quadro. Na história de Elias encontramos que a prova da divindade de Baal ou de Jeová assenta no fato de que os seus respectivos servos farão descer o fogo do Céu. Ora, no capítulo 13 de Apocalipse aprendemos que a segunda Besta faz descer o fogo do Céu diante dos homens. De modo que encontramos aqui as maravilhas que legitimaram a missão do Senhor, e ali o que demonstrou que Jeová era o verdadeiro e único Deus. 

E agora Satanás imita-Os para enganar os homens.Isto pode dar-nos uma ideia do estado em que os homens se encontrarão e indica-nos também que esses acontecimentos terão lugar entre os Judeus, sob a dupla conexão da sua relação com Jeová, por um lado, e, por outro, da sua rejeição de Cristo e da recepção do Anticristo.Assim, graças a Deus, é abundantemente confirmada a verdade de que não se trata da Igreja, mas sim daqueles que tendo tido ocasião de aproveitarem da verdade, a rejeitaram, e amaram a iniquidade. 


Já não se trata dos Pagãos, mas sim daqueles em cujo meio a verdade foi precedentemente anunciada (6). (Aqui indico apenas a relação entre o abandono do Cristianismo e o pregresso do Judaísmo apóstata, os quais estão unidos na rejeição do verdadeiro Cristo e na negação do pai e do Pai e do Filho. São estes dos traços dados na Primeira Epístola de João como características do Anticristo. 

E estou convencido de que quanto mais a Palavra de Deus foi examinada mais se verá, talvez com espanto, que este fato se confirma. Aliás, o retorno ao Judaísmo e a tendência para a Idolatria, pela introdução de outros mediadores e patronos, pelo esquecimento da nossa união com a Cabeça e também da nossa perfeição e libertação e libertação da lei em Cristo, têm sempre caracterizado o ministério de iniquidade e o princípio de apostasia. 


É o que apóstolo teve de combater incessantemente. Aquilo de que falamos mais acima é disso a plena manifestação).Não quiseram aceitar a Verdade e agora Deus envia-lhes na mentira e uma energia de erro, para que eles creiam na mentira. Faze-o em Julgamento. Fê-lo a respeito das nações (Romanas 1:24,26,28); fê-lo a respeito dos Judeus (Isaías 6:9-10); faze-o aqui a respeito dos cristãos nominais. Somente, esta passagem da Epístola aos Tessalonicenses aplica-se aos Judeus (considerados como nação) que rejeitaram a Verdade o testemunho do Espírito Santo (Atos 7) – mas ainda mais aos cristãos (de nome) e a todos aqueles a quem a Verdade tiver sido apresentada.

No caso dos cristãos nominais, o seu estado toma necessariamente o carácter de apostasia, ou, pelo menos, liga-se a essa apostasia e dela é a consequência, tal como o verso 3 no-lo ensina. Vem a apostasia e em seguida é revelado o homem de pecado.Em relação com o seu carácter de homem de pecado, ele apresenta-se insubordinado, como sendo Deus no templo de Deus (7). 


Em relação com o poder enganador de Satanás e o seu eficiente trabalho, apresenta-se sob o carácter de Cristo - é o Anticristo. Reveste, por conseguido, um caráter judaico. Não é só o orgulho do homem, erguendo-se contra Deus, mas também o poder de Satanás no homem, seduzindo os homens e em particular os Judeus, por meio de um falso Cristo, e isto de tal modo que, se fosse possível, os próprios eleitos seriam enganados. 

Podemos notar que todos os traços do carácter do Iníquo são precisamente o oposto de Cristo: Mentira em lugar de Verdade; iniquidade em lugar de Justiça; perdição em lugar de Salvação. E a um tal poder de mentira e de destruição que o homem, tendo abandonado o Cristianismo e tendo-se exaltado orgulhosamente contra Deus, será entregue. A apostasia (isto é, o abandono do Cristianismo) será a ocasião desse mal; a Judeia e os Judeus será a cena onde esse mal amadurecerá e se expandirá positivamente. 


O Anticristo negará o Pai e o Filho, quer dizer, o Cristianismo negará que Jesus seja o Cristo - é a incredulidade judaica. Tendo sobre ele o peso do pecado contra o Cristianismo, contra a graça e contra a presença do Espírito Santo, aliar-se-á com a incredulidade judaica para que não haja só toda a expressão do orgulho do homem, mas também por um tempo a influência satânica de um falso Cristo que firmará o trono de Satanás entre os Gentios, ocupado pela primeira Besta à qual foi dada a autoridade do dragão; e ele erguerá o seu próprio trono, subordinado ao da primeira Besta, no meio dos Judeus, apresentando-se como sendo o Messias, que a incredulidade deles espera. 

Ao mesmo tempo introduzirá a idolatria, o espírito impuro, saído há muito tempo, e que volta agora à sua casa, vazia de Deus.Quando à sua destruição, o Senhor Jesus o consumirá pelo sopro da Sua boca e o aniquilará pela manifestação da Sua presença ou da sua Vinda. O primeiro meio empregado pelo Senhor caracteriza o Julgamento; é a Palavra de Verdade aplicada em Julgamento, segundo o poder de Deus. A espada sai da Sua boca, diz o livro de Apocalipse. Aqui o Senhor não é apresentado sob o aspecto de um guerreiro, como no capítulo 19 de Apocalipse. "O sopro da Sua boca" é este poder interior e divino que inflame, que executa o Julgamento. Não é um instrumento, é a fonte divina de poder. Executa o Julgamento por uma palavra (ver Isaías 30:33). Mas há um outro aspecto desse Julgamento: O Senhor, o Homem Jesus volta. 


O Seu regresso tem duas partes: A chegada, para juntar a Si a Sua Igreja, e a manifestação pública, em glória, desse regresso.No primeiro verso deste capítulo lemos acerca da sua vinda e da nossa reunião com Ele, e agora, no verso 8, trata-se da manifestação pública da Sua presença na Criação. Quando tiver lugar essa manifestação pública da Sua vinda Ele aniquilará toda a obra e todo o poder do Iníquo. 

O Homem, outrora obediente sobre a Terra, exaltado por Deus, efeito Senhor de tudo, aniquila o homem insubordinado que se elevou a si mesmo acima de tudo e se fez Deus, em lugar de obedecer a Deus.Este mal, pelo que concerne à influência de Satanás, operava já no tempo do apóstolo; simplesmente, essa influência foi reprimida e contida até que. Aquele que a reprimia esteja fora de cena. Então o Iníquo será revelado.Em resumo, é preciso primeiramente que a Igreja seja arrebatada e que a apostasia se concretize; depois esse homem apresentar-se-á como um apóstata judeu, e o poder de Satanás desenvolver-se-á nele (8). 


 Não digo que o seu primeiro aparecimento seja a apostasia do Judaísmo; não o creio. Ele há-de apresentar-se aos Judeus como sendo o cristo, mas segundo as suas próprias esperanças e as suas próprias paixões. E depois será uma apostasia mesmo judaico, como já, embora parcialmente, tinha tido lugar nos dias dos Macabeus. No capítulo 11 de Daniel, o Espírito usa a apostasia, que se desenvolveu no tempo dos Macabeus, como uma imagem precursora do tempo do Anticristo. Este é, desde o seu início, incrédulo e inimigo de Deus, apóstata quanto à Igreja e negando que Jesus seja o Cristo. 

João ensina-nos de modo claro e inequívoco que a negação do Cristianismo e a incredulidade judaica se reuniam no Anticristo.Parece que a apostasia, quanto ao Cristianismo, e a incredulidade judaica se aliam entre si e caminham juntas. Depois a apostasia judaica e a rebelião aberta contra Deus produzem o grito do Remanescente - e o Senhor vem; tudo será então acabado. Ora, o apóstolo (capítulo 2:3-4) apresenta o quadro completo da iniquidade do homem desenvolvida a seguir à apostasia, quanto à graça do Evangelho (a saber, que o homem se eleva até se fazer Deus), sem tocar o lado judaico, nem o manifestado poder de Satanás. Os versos 3 e 4 apresentam-nos o homem de pecado e seguir à apostasia, que rebentará no seio da Cristandade. 


O verso 9 começa um ensinamento à parte, onde o apóstolo anuncia que a vinda desse Iníquo está também em relação imediata com um poderoso desenvolvimento da energia de Satanás, que seduz os homens por meio de sinais e pela eficácia do erro a que Deus os terá entregado, e de que já falamos. É o homem e Satanás que nos são especialmente apresentados nesta epístola, com elementos que bastam para nos mostrarem a ligação do Iníquo com o Judaísmo, nos últimos dias - como o ministério da iniquidade se ligava ao Judaísmo, no tempo do apóstolo, sem que a alusão a esses elementos seja a ocasião de dar pormenores acerca do progresso judaico do mal. 

É preciso procurar os pormenores noutro lado, onde eles estão no seu lugar, por exemplo no Livro de Daniel. O Apocalipse e a Primeira Epístola de João fornecem-nos os meios de que carecemos para juntarmos esse elementos humanos, judaicos e satânicos. Nós, aqui, apenas indicamos essa ligação.Ora, essa influência satânica exerce-se sobre aqueles que rejeitaram a Verdade. 


O apóstolo pensava de modo muito diferente acerca dos Tessalonicenses, aos quais ele tinha dado cabais explicações acerca do Dia que eles pensavam ter já chegado. Deus tinha, desde o princípio, escolhido esses "irmãos amados do Senhor" para a salvação na santidade do Espírito e na fé da Verdade, para que Ele nos tinha chamado pelo Evangelho de Paulo e dos seus companheiros, para que obtivessem a glória do Senhor Jesus.Que diferença entre este estado espiritual dos Tessalonicenses e a visita terrível do Dia do Senhor e as circunstâncias de que o apóstolo tinha falado! 

Nesse dia os Tessalonicenses serão do número dos companheiros do próprio Senhor Jesus. Não há nada de muito particular nas exortações do apóstolo. O que sobretudo lhe. interessava era dar-lhes a explicação que nós acabamos de considerar. Ele pede agora que Deus e o próprio Senhor Jesus, que tinham dado aos santos de Tessalônica as certas e eternas consolações do Evangelho, os consolassem e os confirmassem em toda a boa obra e em toda a boa palavra. 


1) Em 1ª João 2, vemos o duplo caráter do Anticristo em relação ao Cristianismo e ao Judaísmo. Nega o Pai e o Filho, rejeitando por isso o Cristianismo; nega que Jesus é o Cristo, o que implica a incredulidade judaica. O seu poder e a operação de Satanás, como vemos aqui. Como homem, arvora-se em Deus, de sorte que a sua impiedade é manifesta de toda a maneira. Como a questão dizer respeito de toda a maneira. Como a questão diz respeito sobretudo à Terra, Aquele que o julga é o Deus da Terra, que é ao mesmo tempo o Homem vindo do Céu. 

2) Repare-se no que nos é dito aqui. Tudo estava já pronto e completo no tempo do apóstolo, havendo apenas um travão. De igual modo Cristo estava pronto para julgar. Somente a paciência de Deus espera enquanto é o tempo agradável. 

3) Este princípio pode ser ativo num grande número de indivíduos, porque, em Ia de João 2, a apostasia tinha começado, mas a manifestação aberta e pública ainda está para vir. Judas fala da sua introdução furtiva entre os fiéis para produzir a corrupção. João fala da sua surtida no mundo como caracterizando o Anticristo. 

 4) Poderemos notar que a apostasia se desenvolve segundo as três formas sob as quais o homem tem estado em relação como Deus: Segundo a natureza ele é o homem de pecado, insubordinado, que se exalta; no Judaísmo - ele coloca-se como Deus no templo de Deus; pelo que respeita ao cristianismo - é a este que o termo "apostasia" se aplica diretamente nesta passagem. 

5) Somente a palavra para "milagre" ou "poder" está no plural em Atos 2. 

6) Dada a sua extensão, incluímos esta nota no texto, já a seguir, entre parêntesis. 

7) Este é o ponto culminante do seu carácter como apóstata que abandonou a graça. Os versos 9 e seguintes desenvolvem a sua atividade positiva e enganadora para ganhar os homens. Esta atividade explica a mistura (mistura que, de resto, se encontra mui vulgarmente) de ateísmo e de superstição. 

8) Também aqui, dada a sua extensão, incluímos esta nota no texto, já a seguir, mas entre parêntesis retos. 

 Por John Nelson Darby

4. As Bestas de Apocalipse 13

Este capítulo apresenta, de uma maneira distinta, o desenvolvimento completo do mal nos instrumentos de Satanás. Há dois: A besta que tem dez chifres e a que t em dois. O dragão, que arrastava com a cauda a terça parte das estrelas do céu, Satanás, sob a forma do Império Romano, dá à primeira besta o seu trono e um grande poder. (Não devemos, pois, admirar-nos se a Besta, no fim, tiver apenas um domínio local, embora originariamente Deus tenha dado às Bestas o império universal.Nós sabemos até onde ele se estendeu.) A segunda Besta não só exerce administrativamente o poder da primeira na sua presença, mas é também um poder ativo do mal para levar os homens a reconhecer na primeira Besta — e nela o dragão. A Besta é o Império Romano original, mas largamente modificado e sob uma nova forma. Nas suas formas de governo ou cabeças, ele tem a plenitude perfeita, mas compõe-se de dez reinos, indicando, sem dúvida, a imperfeição administrativa do seu conjunto. Não tem doze chifres; é. pois, incompleto.


Sete marcas uma plenitude de um gênero mais elevado. O cordeiro tem sete chifres; a mulher tem doze estrelas sobre a sua cabeça. Sete indica a perfeição em si mesma; doze é a perfeição administrativa no homem. Sete é o número primo mais elevado dos números dígitos; doze o mais perfeitamente divisível, composto dos mesmos elementos, mas multiplicados um pelo outro, e não reunidos pela adição. Quatro exprime a perfeição numa coisa finita; um quadrado, e ainda mais um cubo, é perfeitamente o mesmo de todas as maneiras, mas t em uma extensão limitada.A Besta traz sobre as suas cabeças nomes de blasfêmias. E o inimigo declarado de Deus e do Seu Cristo. Absorveu os impérios precedentes e representa-os. O dragão, o poder direto de Satanás sob a forma do Império Romano pagão, dá o seu trono e o seu poder a esta nova Besta. Ela não é de Deus. Agora que a Igreja já não está na Terra, Deus já ali não reconhece nenhum poder, até que Ele mesmo tome o Seu. A Terra está em guerra contra Ele.


Uma das cabeças da Besta, uma das formas do seu poder (sem dúvida o imperial), é vista como tendo sido ferida de morte, mas fora curada. A cabeça imperial é restabelecida e o mundo fica maravilhado.


Os habitantes da Terra adoram o dragão como tendo dado o seu poder à Besta. Aos seus olhos, nada iguala a Besta; Deus é completamente rejeitado sobre a Terra. E dado à Besta enunciar as mais altas pretensões e proferir ultrajes contra Deus. Blasfema Deus, blasfema o Seu Nome e a Sua habitação, blasfema os santos celestes — blasfema todo o Cristianismo e o Deus do Cristianismo. O dragão foi precipitado do Céu; os santos que têm parte do arrebatamento foram ali recebidos — e ele blasfema, mas já não pode fazer mais nada!


Quanto aos que habitam sobre a Terra (porque a distinção não é agora somente espiritual), todos adoram a Besta, exceto os eleitos — aqueles cujos nomes foram escritos desde e fundação do mundo no livro de vida do Cordeiro. Resistir humanamente pela força não será o caminho da obediência; se alguém matar à espada, à espada morrerá! A violência não é nunca o caminho de Cristo; o Seu caminho é a paciência que sofre e que de modo nenhum resiste. Mas a Besta que assim mata, também parecerá. Tal é, pois, o poder imperial, poder blasfemador, estabelecido por Satanás, ocupando o lugar do antigo Império Romano, poder que representa os quatro impérios, modificado quanto à forma, mas tendo restabelecida a cabeça imperial.

Mas há uma segunda Besta.

Não surge da massa confusa dos povos (o mar), para formar um império, mas sai da organização já formada, com a qual, como tal, Deus tem de tratar. Apresenta a forma do reino do Messias sobre a Terra: Tem dois chifres, como um cordeiro, mas é o agente direto do poder de Satanás. Aquele cujo ouvido recebeu o ensinamento divino, discerne imediatamente na sua voz a voz de Satanás. Esta segunda Besta exerce todo o poder da primeira, e na presença desta.


Com o seu poder, representa o papel de ministro da primeira, e faz com que a Terra e os seus habitantes a adorem (isto é o Império Romano restabelecido na pessoa do seu chefe). E o Anticristo, o falso Cristo de Satanás, que sujeita a Terra ao Satânico Império Romano. Este Anticristo opera grandes maravilhas, até dar aos homens provas idênticas, do direito da Besta sobre eles, àquelas que foram dadas por Elias acerca dos direitos de Jeová. Compare-se esta passagem com 2 Tessalonicenses 2, onde o homem de pecado produz os mesmos sinais, maravilhas e prodígios, embora mentirosos, que foram operados por Jesus, para demonstrar que ele era o Cristo. Seduz assim, pelas suas habilidades, os que habitam sobre a Terra, e leva-os a edificarem uma imagem à primeira Besta. Dá fôlego de vida a essa imagem, de sorte que ela fala, e manda matar todos aqueles que a não adorarem. Todos devem receber o selo ou a marca da sua submissão à Besta, no trabalho ou na profissão que exercem, e ninguém pode comerciar, comprar ou vender, se não tiver essa marca — o nome da Besta.


Tal é o poder que, na sua forma, tem o caráter do reino do Messias, que é animado de toda a energia de Satanás e que, reconhecendo o poder público que Satanás terá estabelecido no mundo, há de forçar todo o homem a submeter-se lhe, excluindo-o, se ele recusar, de toda a relação social necessária à sua existência. E todos, exceto os eleitos, curvarão a cabeça sob esse jogo. O poder antisacerdotal de Satanás, no Céu, terminou; restam-lhe a realeza e o lugar de profeta em oposição a Cristo, cuja segunda vinda ainda não teve lugar.


Satanás apodera-se dessas duas coisas, mas não põe de lado o poder dos Gentios; não pode fazê-lo (isso está reservado para Cristo), mas firma-o, como sendo o delegado; e, tal como os Judeus de outrora, também agora esse povo — exceto o Remanescente eleito — se curva perante o seu poder e se emprega em o servir. E assim que todo o poder de Satanás é exercido. Mas, ao estabelecer o seu Messias, é obrigado a seduzir. Não podendo pôr de lado o poder dos Gentios, mantêm-no pelos seus sinais enganadores. Sujeita desse modo os Judeus aos Gentios e arrasta-os para a Idolatria — e escraviza os próprios Gentios que habitam sobre a Terra àquele que é o depositário da autoridade de Satanás, a saber, a primeira Besta.


Que estranho estado de coisas! Quão longe está dos sentimentos judaicos e das esperanças das nações! Mas o impuro espírito de idolatria deve voltar à sua casa. Sinais — e não verdade — governarão o espírito supersticioso dos homens. Serão entregues a uma energia de erro para que creiam na mentira. Aqui, embora o falso profeta assuma o caráter de Cristo no Seu reino, fala-se sobretudo da sua ação sobre os Gentios; os Judeus são misturados com estes, como vemos em Isaías 66 e em Daniel. É um tempo de pensamentos liberais, como se diz; mas um tempo da mais extrema tirania e respeito de todos aqueles que não curvarem a cabeça sob o jugo de Satanás e não se submeterem às ordenanças que ele tiver estabelecido. O caráter desta época é a ausência da verdade.


Quanto ao número da Besta, creio bem que ele não deve ser simples de compreender pelos santos, quando a Besta ali estiver e o templo de o discernir espiritualmente tiver chegado.

Esse nome servirá então para guiar de maneira prática aqueles que tiverem de tratar com a Besta. Até lá, as especulações dos homens não terão grande valor. A opinião de Ireneu, que vê o número 666 na palavra grega LATEINOS (latim), é tão boa como qualquer outra. (Em Grego, as letras do alfabeto têm um valor numérico. Eis o cálculo para a palavra em questão: L = 30, A = 1; T = 300; E = 5; I = 10; N = 50; O = 70; S = 200, perfazendo 666!)

5. Jesus no monte da Transfiguração (Marcos 9)

No Evangelho Mateus vemos a transfiguração anunciada em termos que se referiam ao assunto desse Evangelho: O Cristo rejeitado tomando a Sua posição gloriosa de Filho do homem. Em todos os Evangelhos a transfiguração está em relação com o momento em que esta transição é claramente posta em evidência, mas com um carácter particular em cada um deles. 

Em Marcos temos visto o serviço humilde e dedicado de Cristo na proclamação do Reino, fosse qual fosse a glória divina que resplandecesse através da Sua humilhação. Por consequência, a manifestação da transição para a glória é anunciada aqui como a vinda do Reino em poder. 

Não há nada que distinga mais particularmente o relato que temos aqui daquele que se encontra em Mateus, exceto o isolamento de Jesus e dos Seus três discípulos nesse momento, que é mais fortemente acentuado no versículo 2, e que os feitos são relatados sem mais adicionamentos. Em seguida, o Senhor ordena-lhes que não digam nada a ninguém acerca do que tinham visto até Ele ser ressuscitado de entre os mortos.


Podemos observar aqui que é, com efeito, o Reino em poder que se manifesta — e não o poder do Espírito Santo pondo o pecador, como um membro santo do corpo, em relação com Cristo, a Cabeça, revelando-lhe a glória celeste de Cristo, tal como Ele está no Céu, à direita do Pai.

Cristo está na Terra. Está em relação com as grandes testemunhas da ordem judaica (a lei e a profecia), mas testemunhas que lhe cedem inteiramente o lugar, participando mesmo da glória do Reino com Ele. Cristo é manifestado em glória sobre a Terra: o homem na glória é reconhecido como Filho de Deus, do mesmo modo que é conhecido na nuvem, posto que revelando ali a Sua glória. Não é ainda a nossa posição sem véu; o véu, quanto à nossa relação com Deus, está rasgado de alto a baixo e temos plena liberdade de entrar nos lugares santos pelo sangue de Cristo.

Mas é um privilégio espiritual e não uma manifestação pública. Quanto a isso, o nosso véu, o nosso corpo, não está rasgado; mas está o ide Cristo, como privilégio de entrada. A entrada na nuvem não faz parte desta revelação. Encontramo-la em Lucas. A nuvem, para Israel, era o lugar onde Deus habita; era uma nuvem luminosa (Mateus 17).


Mas esta posição de glória não podia ser tomada pelo Senhor, nem estabelecer-se o reino glorioso, a não ser numa nova ordem de coisas: Cristo devia ressuscitar primeiro de entre os mortos, para depois a estabelecer. Esta nova ordem não se conciliava com a apresentação de Jesus como o Messias, tal como Ele estava então. Por isso ordena aos Seus discípulos que não digam a ninguém o que tinham visto, senão após a Sua ressurreição. Devia ser então uma confirmação poderosa da doutrina do Reino em glória.

Esta manifestação da glória confirmava a fé dos discípulos nesse tempo (do mesmo modo que o Getsêmani lhes patenteava a realidade dos Seus sofrimentos e dos Seus combates com o príncipe das trevas), e depois, quando o Cristo tivesse tomado a Sua nova posição, ela constituiria o tema e a confirmação do testemunho deles.


Em 2ª Pedro 1:19 podemos ver o carácter desta manifestação e as suas relações com o Reino terrestre de glória, de que os profetas tinham falado. Leiamos, pois, essa passagem: «E temos, mui firme, a palavra dos profetas». Os discípulos tinham parado no limiar da porta. Embora os seus olhos estivessem abertos, na realidade eles viam «homens como árvores que andavam». Que quereria dizer «ressuscitar de entre os mortos»? — perguntavam eles entre si (vers. 10). 

A ressurreição era-lhes conhecida. Toda a seita dos fariseus acreditava nela. Mas este poder, que libertava do estado onde o homem e mesmo os santos se encontravam, implicando também que outros ali existiam ainda abandonados, enquanto esse poder se exercia — eis o que eles ignoravam totalmente. De que havia uma ressurreição, na qual Deus ressuscitaria todos os mortos no último dia, eles não duvidavam. Mas que o Filho do homem fosse a ressurreição e a vida — o triunfo absoluto do último Adão sobre a morte, o Filho de Deus tendo a vida em Si mesmo, manifestado pela Sua ressurreição de entre os mortos (livremente que, a seu tempo, será também cumprido nos santos), eis o que eles não entendiam. Eles recebiam, sem dúvida, as palavras do Senhor como verdadeiras, como tendo autoridade.


Mas o que Ele queria dizer-lhes era incompreensível para eles.

Ora a incredulidade nunca deixa de encontrar objecções para se justificar aos seus próprios olhos, que se recusam a compreender as provas divinas da verdade—objecções assaz fortes na aparência e que podem perturbar o espírito daqueles que, pela graça do Senhor, estão dispostos a crer, ou que já creram, mas que ainda estão fracos na fé. Os profetas tinham dito que Elias viria primeiro. Os escribas insistiam nessa afirmação (vers. 11). 

Impressionados agora pela glória que confirmava de maneira incontestável as pretensões de Cristo, os discípulos falam-Lhe desta dificuldade. A convicção que a visão da glória trazia ao seu espírito levava-os a confessar a dificuldade acerca da qual eles se tinham calado anteriormente, não ousando falar dela. Mas agora a prova é suficientemente forte para lhes dar a coragem de que careciam para encararem de frente essa dificuldade.

Com efeito, a Palavra de Deus falava desta vinda, e Jesus aceita-a como sendo a própria verdade: Elias devia vir primeiro e restaurar todas as coisas. E ele virá de facto antes da manifestação da glória do Filho do homem. Mas é preciso que o Filho do homem sofra primeiramente e seja rejeitado. Isso também estava escrito, do mesmo modo que a missão de Elias. 

Aliás, antes desta manifestação de Cristo, que punha os Judeus à prova quanto às suas responsabilidades, Deus não tinha deixado de fornecer a este povo um testemunho segundo o poder e o espírito de Elias, — mas eles fizeram com ele tudo o que quiseram. "Estava escrito que o Filho do homem sofreria antes da Sua glória, tão certo como estava escrito que Elias viria. Na verdade, como acabamos de dizer, quanto ao testemunho para os Judeus, aquele que tomava moralmente o lugar de Elias já tinha vindo. E tinham-no tratado como iam agora tratar o Senhor, Paralelamente, João Baptista tinha dito que ele não era Elias, citando Isaías 40, que fala do testemunho; mas não cita nunca Malaquias 4, que se refere a Elias pessoalmente.


O Senhor (Mateus 11:10) faz uma aplicação de Malaquias 3:1; mas João Baptista cita Isaías. Quando Jesus desceu do monte, a multidão correu para Ele, espantada, ao que parece, da Sua misteriosa ausência, longe dos Seus discípulos. Saúda-0 com o respeito que toda a Sua vida lhe tinha inspirado. Mas o que tinha tido lugar, durante a Sua ausência, não fazia senão confirmar a solene verdade de que Jesus devia ir-se embora — verdade esta que acabava de ser posta em evidência por um testemunho mais glorioso. O próprio Remanescente, os que criam, não sabia aproveitar do poder que agora se encontrava sobre a Terra.A fé destes crentes não realizava a presença do Messias, o Poder de Jeová, o Salvador, o Médico de Israel. Para quê, pois, continuar ainda no meio do povo e dos discípulos?

6. As causas que corrompem o cristianismo (Judas)

Havia pensado escrever-lhes acerca da salvação comum a todos os crentes; mas achava necessário escrever-lhes para os exortar a manterem-se firmes, a combaterem pela fé que, uma vez, fora dada aos santos.

Queria fazê-lo porque já havia quem corrompesse esta fé pela negação dos direitos de Cristo a ser Senhor e Mestre; e assim, afrouxando o freio à vontade própria, abusavam da graça e mudavam-na num princípio de dissolução. Eis os dois elementos desse mal que os instrumentos de Satanás introduziam: a rejeição da autoridade de Cristo (não o Seu nome), e o abuso da graça para satisfazerem as suas cobiças. Nos dois casos, era a vontade do homem que libertavam de tudo o que a refreava. A expressão "Senhor Deus" indica este caráter de Deus. "Senhor", aqui, não é a palavra geralmente empregada em Grego; é "Mestre".


Em seguida, tendo assinalado o mal que se tinha insinuado secretamente entre os Cristãos, a Epístola revela-lhes que o Juízo de Deus é executado contra aqueles que não andam segundo a posição em que Deus os tinha primeiramente colocado.

O mal não consistia somente em certos homens se terem introduzido sorrateiramente no meio dos Cristãos — o que era já, por si só, um grande mal, porque a ação do Espírito Santo era assim entrava entre os Cristãos — mas também que, e em definitivo, o conjunto do testemunho perante Deus, o vaso que continha esse testemunho se corromperia (como tinha acontecido com os Judeus) a um tal ponto que chamaria sobre si o Juízo de Deus. E ele tinha-se corrompido!...


Encontramos, pois, aqui o grande princípio da queda do testemunho estabelecido por Deus no mundo, por meio da corrupção do vaso que o contém e que usa o Seu nome.

Assinalando a corrupção moral como caracterizando o estado dos professantes, Judas cita, como exemplo dessa queda e do seu julgamento, o caso de Israel, que caiu no deserto (à exceção de dois homens, Josué e Calebe), e o dos anjos que, não tendo guardado o seu primitivo estado, são reservados, na escuridão e em prisões eternas, até ao Juízo daquele grande dia (Judas v. 5-6).

Este último exemplo sugere um outro a Judas, a saber, o de Sodoma e Gomorra, apresentando a imoralidade e a corrupção como causa do Juízo.

O estado dessas cidades é um testemunho perpétuo do seu julgamento neste mundo.

Esses homens ímpios, tendo o nome de Cristãos, não passam de sonhadores, porque a verdade não está neles.


Desenvolvem-se neles os dois princípios que assinalamos, a saber, a impureza da carne e o desespero da autoridade. O último manifesta-se sob uma segunda forma, a saber, a licenciosidade da língua, a vontade própria que se manifesta nas injúrias contra as dignidades.

Ao passo que — diz o texto — o Arcanjo Miguel não ousara injuriar o próprio Diabo, chamando-o apenas, na gravidade de alguém que atua segundo Deus, ao julgamento do próprio Deus (Judas v. 8-9).

Em seguida, Judas resume os três gêneros aos caracteres do mal e do afastamento de Deus.

Em primeiro lugar, assinala o da natureza, a oposição da carne ao testemunho de Deus e ao Seu verdadeiro povo, o livre curso que esta inimizade dá à vontade da carne. Em segundo lugar, fala do mau eclesiástico, do ensino do erro por causa de uma recompensa, sabendo-se, no entanto, que este ensino é contrário à verdade e contra o povo de Deus. Em terceiro lugar, mostra a oposição aberta, a rebelião contra a autoridade de Deus, no Seu verdadeiro Rei e Sacerdote.


No tempo em que Judas escreveu a sua epistola, os que Satanás introduzia na Igreja para ali abafarem a vida espiritual e conduzirem ao resultado que o Espírito contempla profeticamente, permaneciam no meio dos santos e tomavam parte nos piedosos ágapes onde se assemelhavam em testemunho do seu amor fraternal. Esses homens eram manchas ou nódoas que caíam nessas santas refeições, pascendo sem temor nas pastagens dos fiéis. O Espírito Santo denuncia-os energicamente. Estavam duplamente mortos, por natureza e pela sua apostasia; sem fruto, ou trazendo fruto que se estragava, como se fora da estação própria: desarreigados, escumando por todo o lado as suas infâmias; estrelas errantes, reservadas para as trevas eternas. Havia longo tempo que o Espírito anunciara, pela boca de o que, o Julgamento que seria executado contra eles. Esta passagem apresenta um lado muito importante do ensinamento que é dado aqui, a saber, que o mal que se tinha insinuado no meio dos Cristãos havia de continuar e seria encontrado ainda quando o Senhor voltasse para o Julgamento.


O Senhor viria com miríades dos Seus santos para executar o Julgamento sobre todos os ímpios de entre eles, por causa dos seus atos de iniquidade e das palavras ímpias que eles tinham pronunciado contra o Senhor (Judas v. 14-15).

Haveria um sistema contínuo do mal, desde o tempo dos apóstolos, até que o Senhor voltasse. Este é um aviso solene do que há de acontecer entre os Cristãos.

É profundamente notável ver o escritor inspirado identificar os fomentadores de devassidões com os rebeldes que serão o objeto do Julgamento no último dia. E o mesmo espírito, a mesma obra do Inimigo, refreada de momento, que amadurecerá para o Juízo de Deus. Pobre Assembleia!...


Todavia, isto não é senão a marcha universal do homem.

Somente, tendo a graça revelado plenamente Deus libertado da lei, resulta daí agora, ou a santidade do coração e da alma e as delícias da obediência sob a perfeita lei da liberdade, ou a devassidão e a rebelião abertas.

Nisto, o provérbio é verdadeiro: a corrupção do que é mais excelente é a pior das corrupções.

E preciso acrescentar aqui que a admiração dos homens, para conseguir deles algum proveito pessoal, é um outro traço característico desses apóstatas. Não é, pois, a Deus que eles pertencem.

7. As 7 igreja do Apocalipse

Passemos agora às "coisas que são". As estrelas estão na mão de Cristo, e o Senhor fala delas em primeiro lugar; anda no meio das assembleias ou igrejas. Estas são as lâmpadas ou castiçais, quer dizer que eles representam as assembleias — ou a Igreja numa dada posição — e, como tal, vistas perante Deus. Não é aquilo em que o conjunto se tornou, mas o que a Igreja é a Seus olhos, precisamente como Israel era o Seu povo, fosse qual fosse o estado dos Israelitas. As estrelas são o que Cristo vê como devendo dar a luz e como tendo autoridade, como sendo aquilo que Ele considera responsável perante Si, quanto a esse fim.Num certo sentido, são todos aqueles que formam a Igreja e é assim que é dito muitas vezes nas cartas dirigidas às Igrejas, nas são-no mais especialmente aqueles que se encontram numa posição de responsabilidade, por causa da sua relação com Ele."As sete estrelas que estão na Sua mão direita" deviam brilhar, ter influência, e representá-Lo, cada uma no seu lugar, durante a noite. Que o clero tem gradualmente tomado esse lugar, e que, nesse sentido, seja responsável, é absolutamente verdade; mas, perante o Senhor, ele responderá por si próprio.


Todavia o Espírito não apresenta aqui a coisa desta maneira. O clero aspira a essa posição como a uma honra; deverá, portanto, a ela corresponder. Embora nunca, entre aqueles que o formam, alguém tenha sido chamado "anjo", é precisamente essa a sua pretensão — e o nome que eles tomaram foi tirado desta passagem. Já se não pode duvidar de que os condutores, os anciãos ou outros personagens, supondo que eles o fossem realmente, não ocupassem um lugar especial de responsabilidade, como se vê no capítulo 20 de Atos; mas, na passagem de que agora nos ocupamos, o Espírito não os reconhece assim. Cristo não Se dirige a anciãos, nem a bispos, segundo a aceitação moderna desta palavra, porque, de fato, não existiam nesse tempo — e nem estas cartas encerram o pensamento de uma diocese. (Exceto na América, aqueles que são chamados bispos são-no sempre de uma cidade. Isto mostra, historicamente, que as dioceses são um arranjo subsequente. Os anjos já não são os principais oficiantes nas sinagogas.)Nas Sagradas Escrituras não se fala de anciãos como sendo autoridades; eram sempre vários, e a expressão "anjo" não pode aplicar-se a arranjos humanos existentes nesse tempo. O que é então o anjo?


Propriamente dito, não é um símbolo. A estrela é um símbolo, e é vista aqui na mão de Cristo. O anjo é o representante místico de alguém que não está presentemente em cena. E assim que esta palavra é sempre empregada, quando não se trata, de uma maneira positiva, de um mensageiro celeste ou terrestre.Vemos isto nas expressões: O anjo do Eterno, os seus anjos (ao falar das criancinhas), o anjo de Pedro. Segundo a sua posição, os anciãos podem ter sido praticamente responsáveis; mas o anjo representa a assembleia, e, sobretudo, aqueles que Cristo tem sob o Seu olhar, quando contempla o estado da Igreja perante Si, por causa da sua proximidade e comunicação com Ele, ou por causa da sua responsabilidade de ser tal pela operação do Seu Espírito neles, para o Seu Serviço. Ninguém duvida de que a assembleia seja responsável, e, por conseguinte, o seu castiçal seja removido, quando ela se toma infiel, mas Cristo, pelo que concerne a esse estado de infidelidade, está em relação imediata com aqueles de que temos falado — pensamento solene para todos os que tomam a peito o bem da Igreja.


A maneira como os anjos e as igrejas são identificados, e certas distinções no grau ou no modo como o são, requer mais alguns pormenores. Que, ao dirigir-se aos anjos, o Senhor fala às igrejas na sua: responsabilidade geral é uma coisa evidente, porque nos é dito: "O que o Espírito diz às igrejas". Não se trata de uma comunicação particular feita a alguém que tem autoridade, a fim de o dirigir, como era o caso quando Paulo se dirigia a um Timóteo ou a um Tito, pois é às igrejas ou assembleias que o Espírito fala, e isto quer dizer que o anjo representa a responsabilidade delas.Encontramos isto claramente indicado nestas passagens: "O Diabo lançará alguns de vós na prisão"; "nada temas das coisas que há de padecer". E logo a seguir: "Mas umas poucas de coisas tenho contra ti: porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão..."; "minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós". E mais à frente: "Digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a saber, ao anjo da igreja de Tiatira". No entanto o anjo e a igreja são distintos: "Tirarei do seu lugar o teu castiçal"; "Toleras Jezabel"...


Mas esta distinção entre o anjo e a igreja não se encontra nas três últimas igrejas. E ao anjo que tudo é dirigido. A Sardes é simplesmente dito que Cristo tem as sete estrelas, e não como a Éfeso, que Ele as tem na Sua mão direita. Nas cartas dirigidas a Esmirna e a Filadélfia não há julgamento; os santos eram provados como fiéis, e Cristo encoraja-os. Quanto aos julgamentos, ou antes, quanto às ameaças dirigidas como advertências, no caso de Éfeso, que apresenta o fato geral do primeiro declínio da Igreja, é dito ao anjo que, se não se arrepender, o seu castiçal será tirado. A Igreja não se arrependeu; sabemo-lo pela Escritura e pelo próprio fato, e também considerando as sete igrejas como representando historicamente as sucessivas fases da Igreja. Em Pérgamo e em Tiatira são os que causam o mal que são especialmente julgados; no caso de Tiatira, devem abater-se terríveis julgamentos sobre Jezabel e sobre aqueles que estão em relação com ela. Jezabel tivera muito tempo para se arrepender, mas não o tinha feito. Todavia, para mudar a ordem das coisas é preciso esperar a vinda do Senhor.


Depois de tudo o que acabamos de fazer notar, os anjos são moralmente os representantes da Igreja. A advertência de Cristo é dirigida àqueles a quem Ele confia esta posição, e poderemos facilmente compreender que tal é o caso para todo aquele que toma a peito o interesse da Igreja; mas, além disso, vemos que o anjo é identificado com a assembleia, quando se trata de todos aqueles que a constituem, enquanto que Julgamentos particulares são anunciados às partes culpadas.Não podemos entrar agora no exame do que é dito mais particularmente a cada igreja, mas fá-lo-emos brevemente, em relação com o conjunto do livro, sem entrar em pormenores.O primeiro grande fato é que a Igreja, neste mundo, está sujeita ao Julgamento, e, como luz ou castiçal neste mundo, a sua existência e a sua posição perante Deus podem ser inteiramente postas de lado; em segundo lugar, aprendemos que Deus o fará, se ela abandonar a sua primeira energia espiritual.É um princípio de um imenso alcance. Deus estabeleceu a Igreja para ser uma testemunha fiel do que Ele manifestou em Jesus e de que agora Jesus está no Céu. 

Se a Igreja o não fizer, é uma falsa testemunha e será posta de lado. Deus pode ter paciência com ela — e bem o tem demonstrado! Pode exortá-la a voltar ao seu primeiro amor — e Ele o tem feito! Mas, se tal se não verificar, o seu castiçal tem de ser tirado, e a Igreja cessa de ser a lâmpada de Deus no mundo. O primeiro estado deve ser mantido; sem isso a glória de Deus é ofuscada e a verdade falseada, e, nesse caso, a criatura responsável deve ser posta de lado. Porém, nenhuma criatura, como tal considerada, pode, sem ser amparada, perseverar no seu primeiro estado. Ela falhará em tudo o que lhe for confiado, e tudo será julgado, exceto aquilo que estiver no Filho de Deus, o segundo Homem, ou por Ele é mantido.


Bem tinha Éfeso perseverado na sua constância, mas já não tinha o necessário desprendimento de si mesma nem o pensamento fixado unicamente em Cristo, que são os primeiros frutos da graça. Como fizemos notar, havia obras, trabalho e paciência, mas a fé, a esperança e o amor, na sua real energia, tinham desaparecido. Os efésios tinham rejeitado as pretensões dos falsos doutores, tinham suportado aflições e não se tinham cansado! Tudo o que Cristo pode dizer deles, para mostrar o seu amor, Ele o diz! Mostra que não os esquece, nem o bem que neles é manifestado, todavia, tinham perdido o seu primeiro amor, e, a não ser que se arrependessem e praticassem as primeiras obras, o Julgamento devia ser executado — "tirarei do seu lugar o teu castiçal".Encontramos aqui um outro princípio muito importante: Quando a assembleia se afastou da fidelidade, quando, coletivamente, deixou de ser a expressão do amor em que Deus visitou o mundo, Deus envia os indivíduos à Sua Palavra, que eles têm de aprender por eles mesmos: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas". 

A Igreja é julgada, e, por isso, não pode constituir uma segurança para a fé; neste caso o indivíduo é chamado a escutar o que o Espírito diz. A advertência que aqui é dada, a saber, que o castiçal seria tirado do seu lugar, é particularmente digna de ser notada, porque havia muitas coisas que o Senhor aprovava, e que encorajava, mostrando-lhas; mas, apesar de tudo isso, o castiçal devia ser tirado, se o primeiro amor fosse abandonado.Nesta epístola, o caráter de Cristo é geral, assim como a promessa feita ao vencedor, porque a igreja de Éfeso caracteriza todo o princípio sobre o qual a Igreja repousa. Cristo tem as sete estrelas na Sua mão direita e anda no meio dos castiçais de ouro; não é um caráter especial, aplicável a um estado particular, mas sim que exprime todo o alcance da Sua posição no meio das igrejas. Não é prometido nada à igreja, considerada como tendo abandonado o seu primeiro amor. Não pode dirigir um crente, quando ela própria cai sob o golpe da repreensão e do Julgamento. 

A promessa é, pois, feita ao vencedor, como indivíduo — princípio este da mais alta importância. A promessa é geral, e está em contraste com a ruína trazida sobre o homem por Adão; mas o que é prometido é mais excelente e mais elevado do que o bem de que Adão gozava e que perdeu. Aquele que vencer comerá da árvore da vida; não da árvore do paraíso do homem neste mundo, mas do Paraíso do próprio Deus! E preciso também notar que não se trata agora do primeiro Adão, que tinha de guardar, como individuo, o seu primeiro estado; atualmente, trata-se de vencer. E não é apenas o mundo e a sua hostilidade que temos de vencer, mas também o que se encontra na esfera da própria Igreja, uma vez que o convite é para escutar o que o Espírito diz às igrejas ou assembleias. É este convite que dá a ocasião de falar de vencer.Isto é algo de suma importância, considerando a pretensão assumida pela Igreja de ser ouvida como autoridade.A mensagem é dirigida à Igreja — e não por ela aos indivíduos!E é repreendida pela sua falta de fidelidade, enquanto que, individualmente, o santo é chamado para vencer.


A Palavra dirigida a Esmirna é curta. Fosse qual fosse a malícia e o poder de Satanás, o mais que ele podia fazer era, se lhe fosse permitido, exercer o poder da morte. Cristo é o primeiro e o último, tanto antes como depois da morte, porque Ele é o próprio Deus. Encontrou a morte, mas atravessou-a em poder; por isso os santos não tinham nada que temer. Satanás poderia agir, cirandá-los, lançá-los na prisão. 

Que fossem fiéis até ao limite máximo das suas forças, ou seja, até à morte, e receberiam de Cristo a coroa da vida! Tribulação, pobreza, desprezo da parte daqueles que pretendiam ter um direito legítimo e hereditário a serem o povo de Deus — mas sempre perseguidores, quer fossem Judeus ou Cristãos — tudo isso constituía a parte da Igreja neste mundo — e Deus o permitia. Na realidade, era uma graça da Sua parte para com a Igreja no seu declínio. 

A esperança dos santos estava colocada muito acima de todas essas coisas, quando Cristo lhes prometia a coroa da vida. A Igreja que, pelo abandono do seu primeiro amor, deslizava ou estava ao ponto de deslizar para o mundo, devia compreender que o mundo estava nas mãos de Satanás e não constituía o descanso dos santos. Mas se, por um lado, o Senhor permitia a tribulação, por outro lado, limitava-a. Tudo estava em Suas mãos. Não só tinha uma coroa para aqueles que sofriam, mas também a porção do vencedor estava assegurada; a segunda morte, a morte do Juízo, não poderia atingi-lo.


Em Pérgamo tornava-se necessário um julgamento mais direto. Cristo aparece como tendo uma espada agudo de dois fios, saindo da Sua boca.Notar-se-á que em Pérgamo, como em Esmirna, a um estado especial se aplica também um caráter especial de Cristo. Não há nada de geral quanto à igreja.Em Éfeso, vemos Cristo na posição de Juiz, no meio dos castiçais, e a igreja ameaçada de ser retirada da sua posição de testemunha sobre a Terra. Em Tiatira, Cristo toma o Seu lugar como Filho de Deus, Filho na Sua própria Casa; e, como as coisas no tocante à igreja reverteram para pior, Ele é apresentado como tendo a perspicácia perfeita e a firmeza imutável para executar o Juízo.Em seguida é prometida ao vencedor a plena bênção do novo estado de coisas. Em Pérgamo, reencontramos nos santos a fidelidade que já tinha sido vista em Esmirna — o Nome de Cristo e a fé mantidos firmemente, apesar da perseguição. 

Há uma certa diferença entre Pérgamo e Filadélfia: não nos é dito que a Sua Palavra seja mantida firme, como sendo a da "paciência" de Cristo; a igreja, no estado em que se encontrava em Pérgamo, não o fazia, mas mantinha a confissão de Cristo no meio da perseguição. Mas um outro gênero de mal. diferente do que se encontrava e Éfeso, se tinha introduzido ali: O arrastamento para os caminhos do mundo, devido a um mau ensino. Era a doutrina de Balaão, trazendo com ela a idolatria. Havia também dentro da congregação algumas seitas que ensinavam práticas nefandas, sob o véu de uma pretendida santidade. Mas o Senhor julgará todas essas coisas. 

Em Pérgamo, não era questão, como verdade geral, de tirar o castiçal do seu lugar, como era o caso, quando a congregação era chamada a guardar o seu primeiro amor; nem de julgamento inexorável, por a igreja se ter extraviado inteiramente, mas havia ali corruptores pelos quais os servos de Cristo estavam sendo arrastados para a idolatria e para o mal. 

A aprovação individual por Cristo, a comunhão com Ele próprio numa bênção ainda futura (mas já presente em espírito), comunhão com Ele, como tendo sido outrora humilhado e rejeitado (o que não sucedia à igreja); um nome dado por Cristo, um nome de ternura da Sua parte; uma união com Ele, somente conhecida por aquele que a possuía; num palavra, uma associação individual com Ele e uma bênção individual no gozo de uma felicidade secreta — tal era a promessa feita ao vencedor, quando a corrupção fazia progressos, embora ainda não reinasse na congregação.


Em Tiatira, a igreja vai até ao fim. No que Cristo reconhecia no meio do estado de coisas que caracteriza Tiatira, encontra-se uma dedicação crescente. Mas Jezabel era tolerada, e com ela, estando ela própria na igreja, a união com o mundo, a idolatria, e filhos por ela gerados — tudo devia ser julgado. Uma grande tribulação se abateria sobre Jezabel, e os seus filhos seriam mortos. Cristo sondava as mentes e os corações e aplicaria o Julgamento com rigorosa Justiça. 

Os fiéis dessa época, "vós", os "outros", como são designados aqueles os quais Cristo Se dirige I especialmente, não são senão um "resto", um Remanescente dedicado de uma maneira particular e crescente. O que está mais particularmente em vista, podemos notá-lo aqui, é o que são as igrejas para Cristo. A maneira como Jezabel atua para com os fiéis não é salientada. A vinda do Senhor é o tempo para o qual os olhares são dirigidos, e toda a bênção milenária é prometida ao que vencer: O Reino com Cristo, assim como o próprio Cristo, a Estrela da Manhã! 

A advertência: "Quem tem ouvidos ouça", é colocada, agora, após a promessa feita ao vencedor. Não é dada em relação com a igreja, mas sim com aqueles que, na congregação, vencerem. E isto o que caracteriza aquele estado. Tiatira pode ir até ao fim, mas não caracteriza o testemunho de Deus até ao fim, pois outros estados devem ser introduzidos nesse fim. Em Tiatira temos, sem dúvida, o papado na Idade Média, digamos até à Reforma; mas o próprio Romanismo vai até ao fim. 

O Juízo abatido sobre Jezabel é final. O Senhor deu-lhe tempo para se arrepender, mas ela não se arrependeu. Por isso será, forçosamente, associada com aqueles que seduziu, para a sua ruína comum. 

O Julgamento é aqui inteiramente caracterizado por uma penetração que sonda tudo de harmonia com a própria natureza e as exigências de Deus. A tribulação e o Julgamento têm um alcance particular, mas não a bênção; é a plena porção dos santos em tudo o que eles têm com Cristo, assim como a queda e o Julgamento são também completos, porque é o adultério e não somente o abandono do primeiro amor.Portanto, em Tiatira vemos o fim, até à vinda do Senhor.


Sardes começa uma nova fase colateral na História da Igreja.Exceto o fato de ter as sete estrelas, nenhum dos caracteres eclesiásticos de Cristo, nenhum dos traços sob os quais é visto como andando no meio das igrejas é mencionado aqui. 

No entanto, a Igreja, como tal, é nomeada — é ainda a sua História. Todavia, como foi feito menção da vinda do Senhor, todos os caracteres de Cristo tem relação com o que Ele terá no Reino. No entanto, há ainda sete estrelas — a autoridade suprema sobre a Igreja. Ele tem a autoridade sobre tudo e relativamente a tudo. É neste caráter que Ele tem algo a ver com Sardes. Ele tem os sete espíritos — a plenitude da perfeição na qual governará a Terra. Assim, é competente para abençoar na congregação, embora não tenha ali relação eclesiástica regular; tem o poder sobre todas as coisas e a plenitude do Espírito — possui estas duas coisas na perfeição. 

Seja a Igreja o que quer que seja, eis o que Ele é, Ele! A Igreja não pode falhar na sua posição de testemunha; falhando, revela uma falta de plenitude da graça em Cristo. E Ele não pode faltar àquele que tem ouvidos para ouvir.Mas o estado da igreja mostra que ela estava longe de aproveitar desses recursos.Tinha, é certo, o nome de que vivia; nas suas pretensões, era superior ao mal que campeava em Tiatira; em Sardes, não se encontrava Jezabel nem a corrupção, mas, praticamente, a morte estava lá. As suas obras não eram completas perante Deus. 

Não se tratava do mal, mas de falta de energia espiritual; e o resultado disso era que os indivíduos sujavam as suas vestes em contato com o mundo.Sardes era convidada a lembrar-se, não das suas primeiras obras, mas sim do que tinha recebido e ouvido, da verdade que lhe tinha sido confiada — o Evangelho e a Palavra de Deus. De outro modo, seria tratada como o mundo. O Senhor viria como um ladrão porque agora a vinda do Senhor está sempre iminente.De modo nenhum encontramos aqui a ameaça de tirar o castiçal. Isso era um assunto há arrumado. O Juízo tinha sido pronunciado, o pôr de lado da igreja era coisa assente. O corpo de professantes (em Sardes) devia ser tratado como o mundo, e não eclesiasticamente, como uma congregação corrompida (comparar com a 1 Tessalonicenses 5:1-3). No entanto, vemos que alguns guardam a sua integridade e são reconhecidos; andam com Cristo, como tendo praticado a Justiça. 

Também ali vemos a promessa: Confessaram o Nome de Cristo diante dos homens, diante do mundo, e o nome deles será confessado diante de Deus, quando a assembleia for tratada como o mundo. São verdadeiros Cristãos, no meio de uma assembleia mundana, e os seus nomes não terão apagados do registro, agora mal sustido sobre a Terra, mas que será retificado, de uma maneira infalível, pelo Julgamento celestial.

Notamos já que, quando a vinda do Senhor é introduzida, a advertência dirigida àqueles que têm ouvidos para ouvir vem depois dos vencedores terem sido distinguidos dos outros. E somente este Remanescente que o Senhor tem em vista. Não posso duvidar de que, em Sardes, temos o Protestantismo.


A igreja de Filadélfia apresenta um caráter particularmente interessante.Nada nos é dito das suas obras, a não ser que Cristo as conhece; mas o que é impressionante nela é a sua associação muito especial com o próprio Cristo. 

Tal como em Sardes e em Laodiceia, Cristo, em Filadélfia, não é visto sob os caracteres de que está revestido, quando anda no meio das igrejas, mas sim I sob um caráter que a fé reconhece, quando a organização eclesiástica se torna o foco da corrupção. Temos aqui o Seu caráter pessoal, o que está em sintonia Consigo mesmo, o Santo e o Verdadeiro, o que a Palavra manifesta e requer, e o que a Palavra de Deus e em si mesma — um caráter moral e a fidelidade. Na realidade, esta última palavra encerra tudo: A fidelidade a Deus, interior e exteriormente, de harmonia com o que é revelado; e a fidelidade para realizar tudo o que Ele declarou. Cristo é conhecido como o Santo. Portanto, as pretensões ou as associações eclesiásticas exteriores não servem para nada.

Deve haver o que convém à Sua natureza, e a conformidade fiel a esta Palavra, que Ele certamente cumprirá. Ao mesmo tempo, Ele tem na Sua mão a administração: Abre, e ninguém fecha; fecha, e ninguém abre. 

Vejamos qual foi o Seu caminho sobre a Terra: Tendo querido, na Sua graça, vir daquela maneira, era então simplesmente dependente, como nós próprios somos. Era Santo e Verdadeiro. Aos olhos do homem, tinha pouca força, mas guardava a Palavra e vivia de toda a palavra que saía da boa de Deus. Esperava pacientemente no Eterno, e era a Ele que o porteiro abria. Vivia os últimos dias de uma dispensação; Ele, o Santo e o Verdadeiro, era rejeitado, e, aos olhos da Humanidade, não obteve nenhum resultado do Seu trabalho junto daqueles que se diziam Judeus, mas que eram a sinagoga de Satanás. Em Filadélfia, sucede o mesmo com os santos: Andam num meio semelhante àquele em que Cristo Se encontrava; guardam a Sua Palavra, têm pouca força, não são distinguidos, como Paulo, pela energia do Espírito, mas não renegam o Seu Nome. 

É este o caráter e o móbil de todo o seu procedimento. Cristo é abertamente confessado. A Palavra é guardada, e o Nome de Cristo não é negado. Isto pode parecer pouca coisa, mas no declínio universal, no meio de tantas pretensões eclesiásticas, quando um grande número se perde nos raciocínios humanos, guardar a Palavra dAquele que é Santo e Verdadeiro, não renegar o Seu Nome, é tudo! Mas é mencionado ainda um outro elemento: Cristo o Santo é o Verdadeiro, espera! Aqui, na Terra, esperava pacientemente no Eterno. E o caráter de uma fé perfeita. A fé tem um duplo caráter: a energia que ultrapassa os obstáculos, e a paciência que espera em Deus e se confia a Ele (para o primeiro, ver Hebreus 11:23-24; para o segundo, ver os versículos 8 a 22). 

É este último caráter que temos aqui: a palavra de paciência é guardada. As promessas são feitas em relação com essas qualidades distintas de guardar a Palavra e de não negar o Nome de Cristo, embora tendo pouca força em presença das pretensões eclesiásticas e uma religião de sucessão estabelecida por Deus.Cristo forçará aqueles que pretendem uma sucessão divina, a virem e a reconhecerem que Ele tem amado os que guardam a Sua Palavra! No presente, era dada uma porta aberta a Filadélfia, e ninguém podia fechá-la, tal como o porteiro tinha aberto a Cristo, de sorte que nem os fariseus, nem os sacerdotes podiam entravá-la.

No porvir, aqueles que se dizem Judeus e não o são, esses pretendentes a uma ordem de sucessão divina, terão de se humilhar e de reconhecer que aqueles que seguiram a Palavra do Santo e do Verdadeiro eram os que Cristo amava. Esperando, a sua aprovação lhes bastava. Esta é a pedra-de-toque da fé: ficarmos satisfeitos com a aprovação, contentando-nos com a autoridade da Sua Palavra.Mas havia também uma promessa em relação com os Julgamentos que o Senhor deve executar sobre a Terra. 

Cristo espera até que os Seus inimigos sejam postos por escabelo de Seus pés, e nós devemos esperar esse momento para vermos o mundo posto em ordem. Por enquanto, temos de continuar a andar onde o deus deste mundo exerce o seu poder, embora sob controle divino. 

Crer que podemos manter os nossos direitos neste mundo é esquecer a Cruz e o Cristo. Não podemos pensar nos nossos direitos enquanto os Seus não forem plenamente reconhecidos, porque nós não temos outros direitos além de Cristo. O Juízo, depois que Pilatos entregou Cristo, para ser crucificado, ainda não veio. Até lá, Cristo espera à direita de Deus — e nós esperamos também. Filadélfia não tem, como Esmirna, de sofrer a perseguição e o martírio, mas tem, talvez, uma tarefa não menos difícil. Em todo o caso, eis a nossa tarefa de agora: Ser pacientes e estar satisfeitos com a nossa aprovação por Cristo, guardando a Sua Palavra e não renegando o Seu Nome.Mas há outros preciosos estímulos: Uma hora de tentação deve vir sobre toda a Terra para provar os que pertencem à Terra, que nela habitam como pertencendo-lhe. 

Alguns, vitoriosos da provação, poderão ser poupados; mas aqueles que guardam a palavra da paciência de Cristo serão guardados dessa hora. Ela virá sobre toda a Terra — e onde estarão eles então? 

Fora do mundo, ao qual não pertenciam quando ali estavam. Esperavam que Cristo tomasse o Seu poder; esperavam o tempo em que o mundo seria dEle!Pertenciam ao Céu, Aquele que ali está, e foram tomados para estarem com Ele, antes de esse tempo de terrível provação vir sobre o mundo. Haverá um tempo de excepcional angústia antes de Ele tomar o Seu poder; mas eles não só reinarão com Cristo quando o resultado final tiver sido alcançado, mas também serão guardados dessa hora, dela tendo a segurança no tempo da provação. 

E é por isso que o Senhor lhes mostra a Sua vinda como sendo a esperança deles, e não como uma advertência dada aqueles que não se arrependem, para lhes dizer que, quando da Sua aparição, eles serão tratados tal como o mundo. Cristo virá em breve, e os fiéis devem estar atentos, para que ninguém temo a sua coroa. Devem manter firme o que já possuem. São fracos, é verdade, mas, mesmo assim, estão espiritualmente associados a Cristo.

Agora nós temos a promessa que lhes é feita, promessa geral, cujo cumprimento está nos lugares celestiais, e é caracterizada pela associação especial com Cristo; são publicamente reconhecidos como possuindo aquilo que de modo nenhum pareciam possuir sobre a Terra. Os outros tinham a pretensão de serem o povo de Deus, a cidade de Deus, de terem um título religioso divino; eles tinham sido apenas fiéis à Sua Palavra, e esperavam Cristo. 

Agora, quando Cristo toma o Seu poder, e que as coisas são manifestadas na sua perfeita realidade, de harmonia com Ele em poder, tendo essa posição segundo Deus, são reconhecidos como sendo eles o povo de Deus, a cidade de Deus! Neste mundo tinham tido a cruz e o desprezo; no Céu, o Nome de Deus e da cidade celestial é o caráter impresso sobre eles! Examinemos agora a promessa feita aqui aos vencedores: Aquele que tinha pouca força é uma coluna no templo de Deus em Quem e por Quem é abençoado! Na Terra, talvez tivesse sido considerado como estando fora da unidade e da ordem eclesiásticas; no Céu, é uma coluna delas, e delas já não sairá! 

Sobre ele, que era apenas reconhecido para ter parte na graça, é impresso, na glória, o Nome do seu Deus Salvador rejeitado! Sobre ele também, que era apenas contado como pertencendo à cidade santa, é escrito o nome celeste dessa cidade, assim como o novo Nome de Cristo, nome desconhecido dos profetas e dos Judeus segundo a carne, mas que tomou como morto para e s t e mundo (no qual se estabeleceu a falsa igreja), e como ressuscitado e entrado na glória celestial. É impressionante ver o cuidado com que é indicada aqui a associação com Cristo; é o que dá à promessa o seu caráter. "O templo do meu Deus", diz Cristo; "o nome do meu Deus", o "da cidade do meu Deus"; "o meu novo Nome". O vencedor foi associado à própria paciência de Cristo, e Cristo confere-lhe o que o associa plenamente à Sua própria bênção com Deus. Isto é mui particularmente precioso e pleno de estímulo para nós.


Em seguida vem Laodicéia.A tepidez é o que caracteriza o último estado da profissão na Igreja, que tal se torna para Cristo, que deve vomitá-la da Sua boca. Não é a simples falta de poder, mas sim a falta de ânimo, que é o pior de todos os males. Esta ameaça, e absoluta, e não condicional. Supõe que a rejeição é irremediável. Com essa falta de coragem para Cristo e para o Seu serviço, vemos, nos de Laodicéia, muita pretensão à posse de recursos e de capacidades próprios: "Eu sou rico", dizem eles, mas não têm nada de Cristo. E a igreja professante dizendo-se rica, sem ter Cristo como riqueza de alma para a fé. 

E por isso que Ele os aconselha a comprarem dEle a verdadeira e aprovada Justiça, um vestido para cobrirem a sua nudez moral, e o que dá a vida espiritual, porque pelo que se refere ao que Cristo é e dá perante Deus, eles eram mui particularmente pobres, nus e miseráveis. Tal é o Juízo que Cristo lança sobre as suas pretensas riquezas, sobre o que eles imaginam ter adquirido segundo o homem. 

Todavia, enquanto a Igreja subsistir, Cristo continua a agir em graça: Está à porta e bate; insiste, da maneira mais premente, junto da consciência, para ser Ele mesmo recebido. Se, naquilo que Ele está ao ponto de vomitar da Sua boca, se encontrar ainda alguém que ouça a Sua voz e abra, admiti-lo-á para estar com Ele, e dar-lhe-á uma parte no Reino. Não se trata aqui da vinda do Senhor, como no caso do Julgamento de Jezabel. Praticamente, esta era Babilônia, que é julgada antes de Cristo vir. 

Laodicéia é vomitada da boca de Cristo, rejeitada como indigna, mas o conjunto do corpo é julgado como o mundo.A vinda do Senhor a Tiatira, como a Filadélfia, é para os santos. E somente assim que ela é considerada em relação com a Igreja. Sardes, se não se arrepender, é reduzida à condição do mundo, e como tal julgada. 

Quando chega o estado caracterizado por Laodicéia, a assembleia é reprovada e rejeitada por Cristo, nesse caráter, mas, para isso, não há necessidade da Sua vinda.Embora Tiatira vá até ao fim e termine eclesiasticamente a História da Igreja, não é senão nas três primeiras congregações que a Igreja, no seu conjunto, é tratada como tendo de se arrepender. 

Em Tiatira, foi dado tempo a Jezabel para se arrepender, mas ela não o fez. A cena fecha-se para a Igreja sobre a Terra e é substituída pelo Reino. Sob este aspecto, as últimas quatro igrejas vão juntas.Não há nenhuma perspectiva de arrependimento nem de restauração de toda a Igreja.Sardes é chamada ao arrependimento e a guardar; deve lembrar-se do que recebeu.Mas, se não vigiar, deve ser tratada como o mundo. 

E por isso que, como temos visto, a chamada a ouvir é dirigida aos vencedores, após a promessa. O caráter de Cristo, em relação a Laodicéia, não pode ser passado em silêncio.Manifesta a passagem dos diversos estados da Igreja à autoridade de Cristo sobre o mundo, acima e além da própria Igreja. Cristo, em Pessoa, retoma o que a Igreja deixou de ser. 

Ele é o Amém, Aquele em Quem se realizam e são tornadas verdadeiras todas a promessas; a Testemunha real e o revelador de Deus e da verdade, quando a Igreja o não é; o princípio da Criação de Deus—Cabeça sobre todas as coisas — e a glória e o testemunho do que é a nova Criação como sendo de Deus. A Igreja deveria ter manifestado o poder da nova Criação pelo Espírito Santo, porque, se alguém está em Cristo, nova criatura é, onde todas as coisas são de Deus. Nós, que dela somos as primícias, somos criados de novo nEle. A Igreja tem assim as coisas que permanecem (2 Coríntios 3).

Mas ela foi uma testemunha infiel; se ali tem uma parte, é porque Cristo possui todas as coisas. Ele é o verdadeiro princípio delas, como as tendo realmente manifestado. Tendo falhado a testemunha responsável por essas coisas (responsabilidade que lhe foi outorgada pelo Espírito Santo), Cristo as retoma e é introduzido para as manifestar de uma maneira efetiva.

8. Andar em Espírito

"Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne."


Não é nos colocando sob a lei que temos poder contra o pecado. O Espírito Santo, dado em virtude da ascensão de Cristo, nossa Justiça, à direita de Deus, é o poder do Cristão. Ora os dois poderes, a carne e o Espírito, estão em perpétuo antagonismo um com o outro: A carne procura impedir-nos de andarmos segundo o Espírito, quando quisermos fazê-lo; e o Espírito desiste aos movimentos da carne para a impedir de concretizar a sua vontade.

(Note-se que o sentido do fim de Gálatas 5.17 não é: «para que não façais», mas sim: «para que não pratiqueis»).


Mas, se somos conduzidos pelo Espírito, não estamos sob a lei (Gálatas 5.18). A santidade, a verdadeira santidade, é cumprida sem a lei, do mesmo modo como a Justiça, que não é fundada sobre ela. Mas não há dificuldade para julgarmos entre o que é da carne e o que é do Espírito.

O apóstolo enumera os tristes frutos da carne, juntando-lhes o testemunho certo de que aqueles que fazem semelhantes coisas não herdarão o Reino de Deus (Gálatas 5.19-21). Os frutos do Espírito são igualmente evidentes no seu carácter, e certamente contra tais coisas não há lei (Gálatas 5.22-23). 


Se andarmos segundo o Espírito, a lei não encontrará em nós nada para condenar. Os que são de Cristo crucificaram a carne e as suas concupiscências. É a sua característica, como verdadeiros Cristãos. Se os Gálatas realmente viviam, era pelo Espírito. 

Deviam, pois, andar em Espírito. Tal é a resposta àqueles que então procuravam e àqueles que ainda hoje procuram introduzir a lei como meio de santificação e como guia: O poder e a regra para a santidade estão no Espírito. 

A lei não dá o Espírito. Além disso (porque é evidente que essas pretensões de observar se tinham até afrouxado o freio ao orgulho da carne) os Cristãos não devem ser cobiçosos de vanglórias, provocando-se uns aos outras, invejando-se uns aos outros.

9. O Tribunal de Cristo e de Deus

Desconheço se esta expressão, "o tribunal de Deus", ou "o tribunal de Cristo", seja encontrada em mais alguma passagem além de Romanos 14 e 2 Coríntios 5; na primeira delas com vistas a prevenir-nos contra julgamentos individuais; na segunda com vistas a nos incitar à prática do bem. Este assunto é, em si mesmo, um dos mais solenes e benditos, e mais ainda quando o compreendemos corretamente.


Creio que cada ato de nossa vida será então manifestado, perante o tribunal, segundo a graça de Deus e Seus caminhos para conosco (em conexão com os nossos próprios atos) que serão conhecidos então. Lemos em Romanos 14:12 que "cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus"; e a palavra, nesta passagem, menciona o tribunal em conexão com a exortação aos irmãos para não julgarem uns aos outros por causa dos dias, de comidas, ou qualquer outra dessas coisas.


Sou inclinado a pensar que somente os atos estarão sujeitos à manifestação; porém, todos os atos privados de nossa vida dependem tão intimamente de nossos sentimentos interiores que é difícil distinguir, num certo sentido, os atos dos simples pensamentos. Os atos manifestam o poder dos pensamentos ou dos sentimentos. Acredito que todos os nossos atos serão ali detalhados, perante o tribunal. 

Todavia, não para nós, como se estivéssemos na carne - portanto não para a nossa condenação - mas para tornar evidente aos nossos próprios olhos a graça que se ocupou conosco - antes ou depois de termos sido regenerados. Nos conselhos de Deus, eu sou eleito desde antes da fundação do mundo; portanto, penso que a minha própria história será detalhada perante o tribunal, e, paralelamente, se manifestará a história da graça e da misericórdia de Deus para comigo. 


O porquê e como fizemos isto ou aquilo será manifestado então. Para nós a cena será declaratória, e não judicial. Não estamos na carne perante Deus; aos Seus olhos e pela Sua graça estamos mortos. Mas então, se tivermos andado segundo a carne, teremos que ver o quanto perdemos em bênçãos, e em que perda incorremos; e, por outro lado, os caminhos de Deus para conosco - todos eles de sabedoria, misericórdia e graça - serão, pela primeira vez, perfeitamente conhecidos e compreendidos por nós. A história de cada um será manifestada em perfeita transparência; será então visto como você fraquejou e como Ele o guardou; como escorregaram seus pés e como Ele ergueu-o novamente; como chegou perto do perigo e da vergonha, e como Ele Se interpôs com Seu próprio braço.


Creio que isto seja a noiva se aprontando, e considero o momento maravilhoso. Não haverá, então, carne para ser condenada, mas a nova natureza entrará no pleno conhecimento do cuidado e do amor que, em verdadeira santidade, justiça, e até mesmo em graça, nos seguiu passo a passo por todo o tempo de nossa carreira. 

Alguns períodos de nossa vida, até então inteiramente inexplicáveis, serão completamente desvendados e tornar-se-ão perfeitamente claros; algumas tendências de nossa natureza, que talvez não julguemos ser tão perniciosas e fatais, como o são de fato (e para a mortificação das quais talvez estejamos agora sujeitos à disciplina, a qual talvez não temos interpretado corretamente), serão então perfeitamente explicadas; e, ainda, as próprias quedas que hoje nos lançam em amarga angústia, serão vistas, então, como aquilo que Deus usou para nos preservar de algo mais terrível. Não creio que, até então, teremos jamais experimentado um tamanho conhecimento da maldade de nossa carne.


Quão bendito é para nós sabermos que então não somente estará tudo terminado quanto à carne, nos conselhos de Deus, mas que também a carne já não estará ligada a nós! Por outro lado, não tenho dúvida, a manifestação da graça de Deus para conosco individualmente será tão magnificente que, mesmo que o senso da perversidade da carne que tivemos pudesse ali entrar, seria de todo excluído pela grandiosidade da compreensão da bondade divina. Então, por que não negamos e mortificamos a carne quando pensamos naquela hora? Que o Senhor conceda fazermos sempre mais pela glória da Sua graça. 

O grandioso assunto do tribunal de Deus, leva a um bem pleno conhecimento de nossa posição individual.

10. Meditações em 1 Samuel 1 e 2

O que é dito de Elcana, que tinha duas esposas, parece apresentar um tipo de Cristo e das duas dispensações (Israel e igreja). 

Ana representaria os judeus com os quais Deus volta a tratar em misericórdia; Penina, os gentios que são deixados de lado. É isto o que podemos distinguir na canção profética de Ana. 

Vemos também a corrupção do sacerdócio e o juízo de Deus pronunciado contra a casa de Eli. O sacerdócio de Arão e de seus filhos era um tipo da igreja.


As circunstâncias do povo judeu sob Samuel, o profeta, sob Saul e Davi, até Salomão ter subido ao trono, são uma figura dos eventos preparatórios que introduzem o reino do Messias. Ou seja, essas circunstâncias apresentam, na forma de tipos, os principais fatos que ocorrerão da época em que Deus recomeçar a agir por Seu povo até Jesus vir para assentar-se no trono de Davi em Jerusalém.


A palavra de Deus pronunciada a Eli é o testemunho que Deus levanta contra seu sacerdócio antes de executar o Seu juízo. 

A igreja, que tem o discernimento do que irá acontecer, deve também levar o testemunho de que Deus está prestes a julgar e rejeitar o corpo gentio cristianizado; o juízo de Deus está para ser cumprido naqueles que compartilham da corrupção que foi introduzida na igreja (Judas 5).


É sob o sacerdócio de Eli e seus filhos que o juízo começa a tomar lugar contra tal ordem de coisas. Como sacerdote, Eli já não tinha mais o discernimento que lhe era requerido. Em uma condição assim o ouvido já não está atento o suficiente para a pessoa poder ser corrigida. 

Além disso, o que é notável é que o sinal, que é proposto a Eli, é o próprio juízo que Deus está prestes a aplicar. (1 Sm 2:34).


O juízo contra a casa de Eli tem sua execução completa apenas nos tempos de Salomão ser elevado ao trono (1 Rs 2:27-35). 

O sacerdócio estabelecido por Salomão é, de acordo com a palavra de Jeová, pronunciado a Eli pelo homem de Deus, "um sacerdote fiel, que... andará sempre diante do meu ungido" (1 Sm 2:35). 

A concretização dessa figura apresentada sob a realeza de Salomão irá ter lugar quando Cristo estiver assentado em Seu trono em Jerusalém; é o sacerdócio que é mencionado na descrição da ordem do templo em Ezequiel 44:15.


Aarão e seus filhos representavam o sacerdócio celestial no caráter e posição que Jesus assumiu por Sua ressurreição; a posição da igreja que é de Cristo, o Homem glorificado diante de Deus Pai. 

Aquilo que é indicado como substituindo o que foi rejeitado é a expressão "perante o seu ungido" (1 Sm 12:3). 

Trata-se de um sacerdócio em diferente posição. O primeiro é celestial, que é o que é prefigurado no tabernáculo, "exemplo e sombra das coisas celestiais" (Hb 9:23-24). 

O outro sacerdócio é na terra para o templo em Jerusalém, na época quando o Messias estiver assentado no trono de Davi. Este sacerdócio não acabará, e o mesmo vale para o povo judeu restaurado, pois Cristo terá assumido o governo em suas mãos. 

Aquilo que foi colocado nas mãos do homem sob sua responsabilidade fracassou em cada uma das dispensações; mas Deus, conforme a Sua graça, manteve Sua eleição. A Ele seja toda a glória.


Uma instrução da mais alta importância para nós gentios surge no capítulo 2:27-28 de 1 Samuel. Antes de executar o juízo sobre aquilo que está corrompido, Deus sempre traz à memória a natureza da Sua vocação em conformidade com Sua graça, no que diz respeito à bênção colocada nas mãos dos homens que foram os objetos de Sau bondade. 

Deus diz a Eli: "Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando eles ainda no Egito, na casa de Faraó? E eu o escolhi...". A casa de Aarão havia sido objeto de uma graça muito especial dentre as tribos de Israel. 

Mas eles haviam se esquecido dessa graça e, portanto, depois de haverem cessado de trazer à lembrança a bondade de Deus para com eles, haviam caído em um estado de completa corrupção. Como é de se esperar, o juízo é o último remédio que Deus aplica, seja para corrigir, seja para eliminar de vez.


O mesmo vale para a igreja. Ela também se esqueceu da bondade de Deus em conformidade com a vocação ou chamamento de Sua graça, por isso esta dispensação está prestes a ser irrevogavelmente interrompida pelo juízo final sobre Babilônia (Ap 18). 

Portanto, é da maior importância para o cristão não se esquecer da graça de Deus relacionada à sua vocação ou chamado inicial. Lembremo-nos de como Deus nos escolheu, a fim de escaparmos da consumação da ameaça feita por Jesus a Laodicéia: "Vomitar-te-ei da minha boca" (Ap 3:16).